LEITURA
BÍBLICA
Daniel
1.2
“No ano terceiro do reinado de Jeoaquim, rei de Judá, veio Nabucodonosor, rei
de Babilônia, a Jerusalém e a sitiou. 2 - E o Senhor entregou nas suas mãos a
Jeoaquim, rei de Judá, e uma parte dos utensílios da Casa de Deus, e ele os
levou para a terra de Sinar, para a casa do seu deus, e pôs os utensílios na
casa do tesouro do seu deus.”
Daniel
7.1
“No primeiro ano de Belsazar, rei de Babilônia, teve Daniel, na sua cama, um
sonho e visões da sua cabeça; escreveu logo o sonho e relatou a suma das
coisas.”
Daniel
12.4
“E tu, Daniel, fecha estas palavras e sela este livro, até ao fim do tempo;
muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará.”
INTRODUÇÃO
O livro do profeta Daniel é um dos
preferidos das pessoas que gostam de estudar a escatologia bíblica. Aprendemos
com Daniel não somente acerca de assuntos escatológicos, pois o seu testemunho
é um exemplo de fidelidade a Deus e de integridade moral. Daniel viveu grande
parte dos seus anos como exilado em uma sociedade idólatra, servindo a reis
ímpios, todavia não se contaminou
Dada a importância do livro de Daniel, nós
o estudaremos sob a perspectiva da escatologia bíblica. Indiscutivelmente,
Daniel é um profeta bíblico que não ficou restrito ao passado. Ele é
contemporâneo! O seu nome, a sua vida e obra são um exemplo de perseverança em
Deus. Embora vivendo em circunstâncias adversas e numa cultura pagã, Daniel não
perdeu a fé no Deus Altíssimo e o vínculo com o seu povo.
O capítulo 24 do Evangelho de Mateus
revela um dos mais importantes discursos proféticos de Jesus. Ali, o Mestre de
Nazaré cita o profeta Daniel (v.15). Conquanto as profecias de Jesus nos
remetam ao contexto de Israel, as evidências proféticas descritas em Mateus 24
não se aplicam apenas à história do povo judeu, mas igualmente à todas as
etapas da história humana como descrita no livro de Daniel.
I. A
HISTÓRIA POR TRÁS DO LIVRO DE DANIEL
1. A
formação histórica de Israel. A história do povo judeu começa com
Abraão e Sara (Gn 12.1-3). Eles tiveram um filho chamado Isaque, o filho da
promessa de Deus (Gn 15.4; 17.18; 21.1-3). Isaque, por sua vez, gerou dois
filhos, Esaú e Jacó. Do segundo filho, Jacó, surgiu um clã de 12 filhos. O clã
cresceu e multiplicou-se e, posteriormente mudou-se para o Egito. Ali a família
de Jacó aumentou em número, tornando-se um povo altamente abundante em terra
estrangeira. A partir de então, formou-se Israel, a futura nação projetada por
Deus. Mas com o passar do tempo a família judaica perdeu as benesses que
desfrutava nos anos do rei egípcio que respeitava a liderança e a história de José
no Egito. Entretanto, através de uma intervenção divina, e sob a liderança de
Moisés, os israelitas saíram do Egito e peregrinaram pelo deserto até a terra
de Canaã por quarenta anos. A partir da libertação egípcia, Israel viveu sob a
égide de um governo teocrático, isto é, governado diretamente por Deus e
através de homens chamados por Ele para esta função.
2. O
governo teocrático.
Moisés morreu e o seu substituto foi Josué. Sob o seu comando, Israel
conquistou a terra de Canaã e instituiu um governo em que a autoridade
governamental vinha de Deus - a teocracia. Esse período perdurou
aproximadamente trezentos anos, incluindo o período dos juízes. Foi um tempo
difícil porque Israel afastou-se da direção divina e “cada um fazia o que
parecia reto aos seus olhos” (Jz 21.25).
3. O
governo monárquico.
O reino de Israel esteve sob a liderança de Saul, Davi e Salomão por cento e
vinte anos. O rei Salomão morreu em 931 a.C. marcando assim a decadência
política, moral e religiosa da monarquia. Roboão, o seu filho, assumiu o reino,
mas acabou dividindo-o em dois: o do Norte e o do Sul.
O reino do Norte constituía-se de dez
tribos. O do Sul, de apenas duas tribos, Judá e Benjamim. No ano de 722 a.C. o
Império Assírio dominou o reino do Norte e subjugou o seu rei, os príncipes e
todo o povo.
O reino do Sul teve momentos de glória,
mas igualmente de calamidades. Constituído por alguns reis piedosos e outros
ímpios, acabou por ser invadido pelo Império da Babilônia. Entre os anos 606
a.C. e 587 a.C., Nabucodonosor levou em cativeiro os nobres de Jerusalém:
príncipes, intelectuais e homens de guerra, etc., deixando em Judá apenas os
pobres e os deficientes. Toda esta história propiciou a intervenção divina na
vida de Israel para preservação do projeto original de Deus.
SUBSÍDIO
BIBLIOLÓGICO
Subsídio
Hermenêutico
“Uma correta interpretação de Daniel
esclarece a revelação de que Deus tem um futuro para Israel. Um raciocínio
crítico acerca da mensagem profética de Daniel cria uma concepção fictícia da
importância do livro. Tamanho erro na interpretação exclui o significado das
profecias e torna o livro de Daniel em um conto de fadas.
O livro de Daniel é a chave de todas as
profecias bíblicas. Sem ele, remotas revelações escatológicas e seu escopo
profético são inexplicáveis. As grandes profecias do Senhor, no discurso do
monte das Oliveiras (Mt 24,25; Mc 13; Lc 21), bem como 2ª Tessalonicenses 2 e o
livro de Apocalipse (ambos mencionam o Anticristo de Daniel 11), só podem ser
compreendidas com a ajuda das profecias de Daniel” [LAHAYE, Tim. Enciclopédia
Popular de Profecia Bíblica. 5ª Edição. RJ: CPAD, 2013, p. 175].
II.
OS FATOS QUE PROPICIARAM O EXÍLIO NA BABILÔNIA
1. O
contexto político do reino de Judá. Em 606 a.C. Nabucodonosor
invadiu Jerusalém e, além da nobreza, tomou da cidade todos os utensílios do
Templo: ouro, prata e pedras preciosas. Jeoaquim, rei de Judá, não resistiu e
tornou-se tributário da Babilônia, perdendo o domínio do seu reino e também a
confiança dos seus valentes. Entre os cativos expatriados para Babilônia estava
o profeta Ezequiel (Ez 1.1-3). O exército de Nabucodonosor destruiu o Templo,
saqueou Jerusalém e arrasou política, moral e espiritualmente o reino de Judá.
Babilônia se impôs como império por mais de quatro décadas. Israel foi
humilhado, passando de nação próspera à tributária da Babilônia!
2.
Israel no exílio babilônico. Quando uma liderança perde a intimidade
com Deus e, por consequência, a credibilidade entre os homens, como aconteceu
com os últimos reis de Israel e de Judá, a tragédia espiritual e moral é
inevitável. O cativeiro de 70 anos na Babilônia, profetizado por Jeremias, foi
cabalmente cumprido (2º Cr 36.21). Por outro lado, Deus nos ensina a conhecer
os seus desígnios. Foi no exílio babilônico que Israel aprendeu a conhecer a
Deus e não aceitar outro deus em seu lugar. O cativeiro propiciou a volta do
povo de Deus à comunhão com o Altíssimo.
A partir desse panorama histórico
compreenderemos o livro do profeta Daniel. Para isto, precisamos igualmente
conhecer os aspectos gerais e a importância do livro e da pessoa do chamado
“profeta do cativeiro”.
SUBSÍDIO
BIBLIOLÓGICO
Subsídio
Hermenêutico
“Uma correta interpretação do livro de
Daniel
A fim de interpretar corretamente Daniel,
duas premissas são relevantes:
(1) O livro é genuíno e foi escrito pelo
profeta Daniel no século VI a.C. Muitos críticos afirmam que o livro de Daniel
faz parte daquilo que conhecemos como literatura apocalíptica, que veio a surgir
já no período helenístico. Eles sustentam que fraudes de autoria e data são
comuns neste gênero literário. Tais suposições racionalistas são, contudo,
inaceitáveis. A interpretação de qualquer livro considerado apocalíptico não
exige uma hermenêutica específica ou sistemas interpretativos especiais. Mudar
sua hermenêutica é separar a profecia bíblica de seu cumprimento histórico. É
uma tentativa liberal de se considerar a profecia como mito ou fantasia.
(2) Uma interpretação precisa depende do
fato de a profecia não ser apenas possível, mas também do fundamento dos
verdadeiros e genuínos escritos bíblicos apocalípticos. As profecias levaram
muitos supostos estudiosos a rejeitarem a genuinidade das visões de Daniel.
Muitos críticos rejeitaram de forma cabal o que é claramente uma profecia
predita. A única forma de explicarem a meticulosidade e a acurácia das
profecias de Daniel é relegando-as a uma época posterior e a um outro autor” [LAHAYE,
Tim. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica. 5ª Edição. RJ: CPAD, 2013, p. 175].
III.
DANIEL, O AUTOR E O LIVRO
1. O
homem Daniel.
Há pouca informação histórica sobre a família de Daniel, senão a de que ele era
da linhagem real de Israel (Dn 1.3). Levado para a Babilônia ainda muito jovem,
Daniel destacava-se como um judeu inteligente e bem instruído. Ele possuía
firmes convicções no Deus de Israel e era contemporâneo de dois importantes
profetas da nação israelita: Jeremias e Ezequiel. Certamente esses profetas
deixaram seus exemplos como legados para a vida do jovem Daniel. Em 597 a.C.,
Ezequiel havia sido levado para a Babilônia (Ez 43.6,7). Ali esse experiente
profeta chega a citá-lo em seu livro, descrevendo Daniel como um homem de
sabedoria e de justiça (Ez 14.14).
2. A
importância do livro.
O livro de Daniel possui dois conteúdos: o histórico e o profético. No plano
geral da revelação divina, o livro de Daniel ocupa um lugar de suma
importância. Do capítulo 1 ao 6 o conteúdo é histórico, e do 7 ao 12,
profético.
O conteúdo histórico do livro contém
experiências que revelam a soberania e o cuidado de Deus para com aqueles que
lhe são fiéis. Já o conteúdo profético traz predições escatológicas, em sua
maioria, ainda não cumpridas. Por este último conteúdo cremos na
“contemporaneidade” de Daniel.
3. A
autoria e as características do livro. Indiscutivelmente, foi o próprio Daniel
quem escreveu o livro entre os anos 606 e 536 a.C. Ele iniciou sua obra
escrevendo na Babilônia e, posteriormente, encerrou-a no palácio de Susã (Dn
8.2). O livro contém doze capítulos, majoritariamente escrito em hebraico,
excetuando a seção 2.4 até 7.28, que foi escrita em dialeto aramaico.
Além de histórico, o livro de Daniel
contém revelações proféticas cumpridas e outras que ainda vão se cumprir no
futuro. São revelações concernentes ao povo de Israel e aos gentios. Deus
revelou a Daniel o futuro das nações através da linguagem alegórica. Portanto,
pode-se classificar o livro de Daniel como gênero apocalíptico porque desvenda
o futuro do mundo trazendo esperança para o povo de Deus, pois ali, Israel é o
ponto convergente dos fatos futuros.
CONCLUSÃO
O livro de Daniel nos mostra o compromisso
de um homem que se dispõe a servir a Deus, mantendo a sua integridade moral e
espiritual sem fazer concessões ao sistema idólatra e opressor da Babilônia.
Aprendemos igualmente que a história humana não é casual, mas dirigida pelo
Deus soberano, que faz todas as coisas contribuírem para o bem daqueles que
amam ao Senhor.
SUBSÍDIOS
ENSINADOR CRISTÃO
O livro de Daniel foi (e talvez ainda
seja) objeto de algumas controvérsias entre os teólogos. Não por acaso, um
crente batista, Willian Miller (ou Guilherme Miller), no ano de 1831, através
de uma série de cálculos, popularizou a interpretação de Daniel 8.14 cujo
resultado previa a volta de Jesus em 22 de Outubro de 1844. Miller errou na
interpretação e até hoje o nosso Senhor não veio!
Anteriores a Willian Miller, outros
intérpretes chegaram às conclusões semelhantes: o Jesuíta Manuel Lacunza
(1731-1801); o jurista mexicano, Gutierry de Rozas (1835); Adam Burwell,
missionário canadense da sociedade para propagação do Evangelho (1835); R.
Scott, padre anglicano e, em seguida, pastor Batista (1834); o missionário
inglês, Joseph Wolff (1829). Por que um livro bíblico, a Palavra de Deus,
traria tantas discrepâncias?
O problema não está na Bíblia, mas em quem
a interpreta. Por isso, devemos considerar algumas informações ao iniciar o
nosso estudo em Daniel:
Um
relato histórico.
O conceito conversador e tradicional de que o livro de Daniel é histórico e
remonta os próprios dias do profeta era unânime até aparecer a crítica moderna
da Bíblia. Ainda assim, não temos razões para mudar este conceito hoje.
O
livro.
O texto foi escrito em hebraico, entretanto, os capítulos da seção 2.4 a 7.28
foram redigidos em aramaico. Derivado da Caldeia, o aramaico era um idioma
popular das relações internacionais do período imperial babilônico.
O
Esboço.
Este nos ajuda a compreender a unidade literária do livro de Daniel. A estrutura
da obra bíblica consta assim: (I) História [1-6] e (II) Profecia [7-12].
1. História. Daniel na
Babilônia; as duas imagens - o sonho e a estátua de Nabucodonosor [2 e 3]; Dois
reis sob disciplina - o orgulho de Nabudonosor e a profanação de Belsazar [4 e
5]; O decreto de Dario [6].
2.
Profecia.
As duas visões dos animais-impérios - os quatro animais / o bode e o carneiro
[7 e 8]; A explicação das duas profecias - os 70 anos de Jeremias e os
acontecimentos dos Últimos tempos [9-12].
Propósito. Revelar o escape
de Deus para o Seu povo, apesar das injustiças promovidas pelos impérios
pagãos. O profeta Daniel mostra que o Senhor julgará os poderes políticos do mundo
que institucionalizam a injustiça. Quando entendemos a unidade literária de
Daniel os símbolos e as figuras apresentadas no livro tornam-se complementos do
assunto central: a Soberania de Deus.
Integridade Moral e Espiritual. O legado
do livro de Daniel para a Igreja hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário