TEOLOGIA EM FOCO: fevereiro 2014

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O BATISMO DE JESUS


“Naqueles dias, apareceu João Batista pregando no deserto da Judéia e dizia: 2 Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus. 3 Porque este é o referido por intermédio do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. 4 Usava João vestes de pelos de camelo e um cinto de couro; a sua alimentação eram gafanhotos e mel silvestre. 5 Então, saíam a ter com ele Jerusalém, toda a Judéia e toda a circunvizinhança do Jordão; 6 e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados” (Mateus 3.1-6). “Por esse tempo, dirigiu-se Jesus da Galiléia para o Jordão, a fim de que João o batizasse. 12 Ele, porém, o dissuadia, dizendo: Eu é que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim? 15 Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por enquanto, porque, assim, nos convém cumprir toda a justiça. Então, ele o admitiu. 16 Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. 17 E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.1-6, 13-17).

1. O Batismo de Jesus (3.13-17).
Quando Jesus foi batizado no rio Jordão, os céus se abriram, o Espírito Santo desceu sobre Ele como pomba e uma voz do céu confirmou que Ele é o Filho de Deus. Cada um dos Evangelhos Sinóticos registra esta informação; João menciona somente a descida do Espírito Santo, e não o próprio batismo de Jesus. Cada escritor dos Evangelhos apresenta este acontecimento-sinal para fazer certas declarações teológicas sobre Jesus. Marcos, por exemplo, o inclui porque oferece oportunidade para afirmar a razão de ele escrever — apresentar o “evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1.1). Lucas enfatiza a capacitação que Jesus teve em resultado da descida do Espírito Santo (cf. Lc 4.1,14,18).

 1.1. Jesus É Maior do que João Batista (3.13,14). 
Diferente de Lucas, Mateus ressalta o acontecimento do batismo de Jesus e chama atenção especial ao fato de que quando Jesus pediu para ser batizado por João Batista, este mostrou-se relutante em fazê-lo (vv. 13,14). O interesse de Mateus em escrever seu Evangelho inclui a cristologia, mas ele também deseja afirmar quem é Jesus em relação a João Batista. Lembre-se de que a audiência de Mateus era de orientação judaica, e talvez seus integrantes estivessem se perguntando: “Como pode Jesus ser maior do que João Batista se este o batizou?” (Note que a seita de João Batista perdurou por muito tempo depois dele e Jesus; veja At 19.1-4.) De acordo com Mateus, Jesus é maior do que João Batista; até o próprio João Batista reconheceu a superioridade de Jesus e estava renitente em consentir o pedido do Messias.

 1.2. Por que Jesus se Submeteu ao Batismo? (3.15). 
Há várias maneiras de responder. De acordo com Lucas, era necessário para que Jesus recebesse o poder do Espírito Santo a fim de cumprir sua chamada como Messias. Em Mateus, Jesus disse: “Assim nos convém cumprir toda a justiça” (v. 15). Ele carecia de purificação de pecados? Não, pois o Novo Testamento destaca que o entendimento que os primeiros cristãos tinham de sacrifício exigia um sacrifício sem mancha nem pecado, como nos sacrifícios judaicos. Jesus é apresentado como o Cordeiro imaculado de Deus e o sacrifício pascal (e.g., Mt 26.17-29; Jo 1.29; Ap 5.6-8). Paulo também entendeu que Jesus não tinha pecados (2 Co 5.21); portanto, a purificação de pecados não é o ponto de debate para Jesus.

O frequente tema de Mateus — cumprimento — afiança a resposta: para “cumprir toda a justiça”. A justiça para Mateus não é meramente guardar normas e regulamentos. É verdade que Jesus não põe de lado a ética de Deus, antes a intensifica (e.g., Mt 5.21-48). Contudo a verdadeira justiça está baseada numa relação com Deus, que está implícita no seu perdão misericordioso, e num recebedor arrependido que deseja cumprir a justiça de Deus — e não no próprio entendimento que a pessoa tenha disso (Mt 5.20; 6.33). Uma chave para cumprir a justiça de Deus é oferecer misericórdia quando ela não é merecida (Mt 5.38-42; 18.21-35). Note que o pai terreno de Jesus, sendo homem “justo”, não desejou expor Maria à vergonha pública quando ela achou-se grávida (Mt 1.19). Esta identificação misericordiosa com os necessitados de misericórdia, mitigada com um respeito ativo pela vontade de Deus, é característica da justiça de Jesus conforme a apresentação de Mateus (cf. Mt 18.35).

No batismo Jesus se identificou com os carentes de perdão, os quais, pela simples letra da lei, mereciam julgamento severo. Ele se identificou tanto com eles que entrou na água de banho suja deles e ficou com eles, apesar de Ele continuar pessoalmente limpo. Jesus cumpriu esta justiça surpreendente por obediência ao Pai. O batismo é o catalisador que aplica em nós a justiça misericordiosa de Deus, até os efeitos da cruz de Jesus e sua ressurreição que dá vida (Rm 6.3-7; 1 Pe 3.21). Os cristãos se unem com Jesus no batismo: Ele os encontra lá na água.

1.3. O Testemunho Divino no Rio Jordão (3.16,17). 
Três coisas principais aconteceram neste evento: os céus se abriram, o Espírito Santo desceu e uma voz do céu proclamou que Jesus é o Filho de Deus. Cada um destes fatos reveladores merecem atenção.

Os céus foram rasgados (cf. Mc 1.10). A palavra “abriram” expressa a ideia de revelação. A experiência de Jesus é rememorativa à chamada do profeta Ezequiel, que estava de pé ao lado do rio Quebar quando os céus se abriram; ele teve visões de Deus e o Espírito de Deus entrou nele (Ez 1.1; 2.2).

A pomba desceu. A associação do Espírito Santo com uma pomba era rara nas escrituras hebraicas e judaicas até o tempo de Jesus. O símbolo da pomba tornou-se imagem frequente no cristianismo. Em Gênesis 1.2, o Espírito pairou sobre as águas, o que pode ser alusão a uma pomba, como John Milton presume tão eloquentemente na sua obra Paraíso Perdido:

Tu dos primeiros
Estavas presente, e com grandiosas           asas abertas
Como pomba sentaste a chocar o vasto abismo
E o tornaste grávido.

O Espírito Santo capacitou os profetas do Antigo Testamento (e.g., Ez 2.2; Mq 3.8; Zc 7.12), e as profecias relativas ao Messias prediziam uma acompanhante dotação do Espírito (e.g., Is 42.1,5; 61.1-3). Assim Jesus recebe uma unção e capacitação especiais do Espírito Santo para proclamar a mensagem de Deus e fazer maravilhas. A vinda do Espírito sobre Ele é sinal de que Ele é o Messias, o Cristo (lit., “o Ungido”). Isto não significa que esta é a primeira vez que Jesus foi envolvido com o poder do Espírito; Ele foi concebido do Espírito Santo (Mt 1.20; Lc 1.35) e obviamente foi guiado pelo Espírito ao ministrar no templo quando era menino (Lc 2.46-52). Nem significa que Jesus foi “adotado” pelo Espírito no batismo e nesse momento tornou-se Messias, pois Ele era o Filho de Deus antes do batismo (Mt 1.20; 2.15; Lc 1.35; 2.49; Jo 1.1,14,18; 3.16).

A voz do céu falou:Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17; em Mc 1.11 lemos: “Tu és o meu Filho amado, em quem me comprazo”; em Lc 3.22: “Tu és meu Filho amado; em ti me tenho comprazido” [ênfases minhas]). Esta mensagem reflete duas passagens do Antigo Testamento: “Tu és meu Filho; eu hoje te gerei” (Sl 2.7), e: “Eis aqui o meu Servo, a quem sustenho, o meu Eleito, em quem se compraz a minha alma; pus o meu Espírito sobre ele” (Is 42.1). O Salmo 2 descreve a entronização do rei Davi. No antigo Oriente Próximo, quando o rei assumia o trono, era considerado o filho do deus nacional, e assim o poder da deidade era investido no rei. Em sua coroação ele era considerado “gerado” do deus. Israel também considerava que o seu rei estava investido com o poder de Javé, o Deus deles.

A segunda parte da declaração da voz do céu alude a Isaías 42.1: “Meu Servo/Filho, Meu Eleito/Amado, em quem minha Alma se deleita” (tradução minha; veja também Gn 22.2). As palavras “servo”, “criança”, “filho” (todas traduções do termo grego pais) assume sentido messiânico em Isaías. “Amado” era usado como título messiânico nos círculos cristãos (cf Mt 17.5; Mc 1.11; 9.7; Lc 3.22; 2 Pe 1.17). A tradução do termo grego ho agapetos (lit., “o Amado”) pela expressão “a quem eu amo”, ainda que leitura possível, não trata a expressão como título messiânico. A palavra agapetos às vezes se refere a um único filho ou filha (e.g., Gn 22.2,12,16; Jz 11.34; Mc 12.6; Lc 20.13).

A combinação de um salmo de entronização de Davi, que identifica o rei como filho de Deus, e o uso do título “Amado, com quem Deus se compraz”, acompanhado pela descida do Espírito Santo, mostra aos leitores de Mateus que Jesus é o Filho messiânico de Davi, o Filho de Deus capacitado pelo Espírito Santo para inaugurar o reinado de Deus e falar as suas palavras.

O uso de Mateus de “Este é o meu Filho” em vez de “Tu és o meu Filho amado” levanta uma questão: Jesus foi o único que ouviu a voz, ou João Batista e/ou as pessoas também a ouviram? Não podemos saber com certeza. Se a leitura “este” é original, então muitas pessoas a teriam ouvido, e a ideia de que Jesus era o Messias teria se espalhado; contudo, tal não foi o caso na primeira parte do seu ministério. De fato, durante algum tempo Jesus a considerou informação confidencial. É inevitável que o ministério de milagres de Jesus tivesse levado alguns a considerar a possibilidade de messiado. É possível que a voz disse “este”, e os circunstantes a ouviram; para Jesus teria tido o significado de “tu”, visto que dizia respeito a Ele diretamente. Se a voz tratasse Jesus por “tu” e houvesse espectadores que a ouvissem, então eles teriam tido a força de testemunhas concernentes a Jesus.

Subsídios extras para a lição Jesus Cristo Verdadeiro homem Verdadeiro Deus 1º trimestre/2008
Produzidos pelo Setor de Educação Cristã

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A PROMESSA DA SALVAÇÃO

No dia da queda do homem Deus prometeu enviar um salvador. Ele disse a respeito da mulher: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3.15).

Na plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher (Gl 4.4). A promessa se cumpriu literalmente. Foi uma expressão de seu amor (Jo 3.16).

Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo (2ª Co 5.19). Se a morte na cruz foi tremenda para Jesus, também foi para o pai. Foi o Seu grande amor que pagou o sacrifício e foi Sua justiça que recebeu o preço pago por Jesus (Hb 9.24-26). A obra propiciatória de Jesus Cristo nosso Senhor é a maior revelação do grande propósito de Deus no plano da redenção em salvar a humanidade.

I.          O PROPÓSITO DE DEUS

A soteriologia trata da previsão de salvação através de Cristo e sua aplicação através do Espírito Santo. A salvação é a grande obra espiritual de Deus com relação ao homem. Através de sua presciência, Deus estava ciente da queda do homem, por causa disso, Ele planejou uma maneira de resgatá-lo. O propósito de Deus de providenciar salvação para a raça humana está relatado nas Sagradas Escrituras, começando em Gn 3.1.5. 
As aparições de Deus a Moisés e, às vezes, a todos os judeus acampados, serviram para confirmar e desenvolver a fé em um Deus pessoal. As exigências da lei mosaica com as suas punições para os que não as cumprissem, serviram para despertar uma convicção de culpa e um temor das conseqüências do pecado (Rm 3.20). O estabelecimento de um sistema de sacrifício e sacerdócio para ministrá-lo, indicam a necessidade de algum método para remover a culpa do homem. E finalmente, pela voz profética, Deus anunciou Seu propósito. A vinda do Salvador é claramente prevista pelos profetas, e muitos falam da Sua humilhação com o propósito de nos livrar do pecado (Is 53.1-12; 59.20; 63.8; Jr 23.6; Os 13.4; Zc 9.9,16). O apóstolo Paulo diz que o Senhor Deus nos desvendou “o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu como as da terra” (Ef 1.9,10-ARA) e fala do “eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus nosso Senhor” (Ef 3.11-ARA). Não resta a menor sombra de dúvida de Deus ter um propósito bem definido de salvar a humanidade.

II.       O ALCANCE DA SALVAÇÃO

A encarnação e a propiciação de Jesus constituem a maior prova da boa vontade de Deus. As Sagradas Escrituras ensinam que Deus providenciou salvação na pessoa e obra de seu Filho. Este Filho teve que encarnar, morrer em nosso lugar, ressurgir dos mortos, subir até o Pai, receber o lugar de poder à mão direita de Deus e interceder perante Deus em favor do crente. Esta obra realizada pelo Filho de Deus foi feita com o propósito de nos salvar da culpa, do castigo e do domínio do pecado. A Salvação foi providenciada para o mundo inteiro, pois, “Ele é a propiciação pelos nossos pecados, e , não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro” (1ª Jo 2.2-ARA). Apesar do Senhor Jesus ter morrido pelos pecados do mundo inteiro, a salvação é para aqueles que crêem em Cristo e que andam em Seus caminhos. A salvação depende da reconciliação do homem com Deus (2ª Co 5.18-20; Jó 1.29; 3.15-18; Rm 5.18; 2ª Co 5.14,15; 2ª Tm 2.4,6; 4.10; Hb 2.9,10; 2ª Pe3.9; 1ª Jo 4.14).



III.    A CONDIÇÃO DO HOMEM PERANTE DEUS

Não se pode compreender perfeitamente a doutrina da salvação sem saber-se qual a condição do homem perante o Deus Santo. O homem, apesar de criado com todas as tendências para o bem, caiu, e não só perdeu a sua justiça original, como também corrompeu a própria natureza. Isto aconteceu com Adão quando a raça se resumia nele, isto é, quando a raça humana se compunha apenas de duas pessoas: Adão e Eva. O apóstolo Paulo ensina que “como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram" (Rm 5.12-ARC). Desta afirmação de Paulo se vê claramente que a condição do homem é a de morto, isto é, o ser humano está morto em seus pecados (Rm7.12,13; 6.23; Ef 2.1-10). A Bíblia deixa bem claro que todas as pessoas pecaram e precisam de um Salvador e que elas não podem salvar a si mesmas (2ª Tm 1.9,10; Tt 2.11-14).

Assim sendo, a origem da salvação e sua manifestação está em Deus e não no homem. Se Ele não tivesse tomado tão sublime decisão primordial na salvação da criatura, ninguém seria salvo. Assim este ato criador de Deus, não é apenas uma manifestação da sua vontade, mas também, a sua satisfação, pois Ele é amor e, como tal, ama e deseja o bem estar de todos.


Pr. Elias Ribas

pr.eliasribas2013@gmail.com.br