TEOLOGIA EM FOCO: março 2017

sexta-feira, 17 de março de 2017

A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO


I.         DEFINIÇÃO DA PALAVRA JUSTIFICAÇÃO

A palavra justificação no grego tem dois significados: dikaiosis”, é o ato de Deus que declara as pessoas livres de culpa e aceitáveis para Ele e “dikaioma”, sentença favorável pela qual ele absolve a humanidade e a declara aceitável em um ato ou feito justo. O substantivo dikaiosis se acha somente em dois lugares no NT, a saber, Rm 4.25; 5.18. Ele denota o ato de Deus declarar homens livres de culpa e aceitável a Ele. O estado resultante é denotado pela palavra dikaiosune.
A conversão é seguida pela justificação. Trata-se da declaração da parte de Deus de que o crente está legalmente justificado (isento de culpa). Esta justificação envolve dois atos: o cancelamento da dívida do pecado na “conta” do pecador, e o “lançamento”, em seu lugar, da justiça de Cristo.
A doutrina da justificação é uma doutrina mais importante da Bíblia. No curso da história ela se tornou grandemente pervertida. Foi a Reforma Protestante que restaurou a doutrina da justificação ao seu lugar correto.
A regeneração, o homem recebe uma nova vida e uma nova natureza; na justificação ele recebe uma nova posição. O réu está perante Deus, o Justo Juiz, porém, ao invés de receber sentença condenatória, ele recebe a sentença de absolvição.
A justificação pode ser definida como ato de Deus pelo qual Ele declara justo todo aquele que crê em Cristo. A justificação é um ato declarativo de Deus. Não é algo operado no homem, mas sim algo declarado no Homem.
Os que estão no mundo estão, naturalmente debaixo da condenação; os que estão em Jesus, porém estão livres, absolvidos. Assim diz A Bíblia: “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1).

II.      A POSIÇÃO DO HOMEM PECADOR DIANTE DA JUSTIÇA DE DEUS

1.      A Bíblia a firma.
1.1. Todos pecaram (Rm 3.23). Por natureza, o homem não somente é desviado, mas também um transgressor e criminoso (5.8; Cl 1.21; Tt 3.3).

1.2. Todos são culpados.Que concluiremos então? Estamos em posição de vantagem? Não! Já demonstramos que tanto judeus quanto gentios estão debaixo do pecado” (Rm 3.9).

1.3. Ninguém é justo.Como está escrito: “Não há nenhum justo, nem um sequer” (Rm 3.10).

1.4. Todos os pecados estão escritos no livro de Deus. “Vi também os mortos, grandes e pequenos, de pé diante do trono, e livros foram abertos. Outro livro foi aberto, o livro da vida. Os mortos foram julgados de acordo com o que tinham feito, segundo o que estava registrado nos livros” (Ap 20.12).

1.5. Todos os pecados estão escritos na consciência do homem. “O pecado de Judá está escrito com estilete de ferro, gravado com ponta de diamante, nas tábuas dos seus corações e nas pontas dos seus altares” (Jr 17.1).
“Pois mostram que as exigências da lei estão gravadas em seus corações. Disso dão testemunho também a consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os. Isso acontecerá no dia em que Deus julgar os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo, conforme o declara o meu evangelho” (Rm 2.15-16).

2.      Todos estão debaixo da condenação.
“Sabemos que tudo o que a lei diz, o diz àqueles que estão debaixo dela, para que toda boca se cale e todo o mundo esteja sob o juízo de Deus” (Rm 3.19).

Como Deus julga? Ele julga com justiça (v. 2), segundo as obras de cada pessoa (v. 6-10) e a partir do que cada uma conhece (v. 11-16).
Em Romanos 1.18-32, Paulo declarou que todas as pessoas injustas são inescusáveis. Aqui, ele demonstra que o farisaísmo também é inescusável, e assim revela os padrões pelos quais todo o mundo será julgado. O julgamento será: (1) de acordo com a verdade (v. 1-5); (2) de acordo com as obras (v. 6-11); e (3) de acordo com o conhecimento que se tinha da lei (v. 12-16).
“Sabemos que o juízo de Deus contra os que praticam tais coisas é conforme a verdade. Assim, quando você, um simples homem, os julga, mas pratica as mesmas coisas, pensa que escapará do juízo de Deus”? (Rm 2.2-3).
A verdade, no sentido utilizado nesse versículo, é distinta daquela apresentada em Romanos 1.18, 25, onde Paulo recorre à evidência de Deus na criação. Aqui, Paulo faz alusão à verdadeira condição da humanidade.
No verso 5 Paulo fala o sentido do termo ira. Este termo utilizado aqui é diferente da ira de Deus citada em Romanos 1.18. Em Romanos 1.18, a ira de Deus é a sua cólera atuante no tempo presente. Aqui, em Romanos 2.5, a palavra é uma menção à ira futura de Deus, que muitos consideram uma referência ao Dia do Juízo. Sendo assim, as pessoas que continuam em sua rebelião contra Deus estão acumulando a ira divina sobre sua própria cabeça.

3.      Nenhum homem tem condições para livrar-se da culpa.
“Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobrir-se” (Gn 3.7).
Adão e Eva procuraram fazer vestes de folhas de figueira para cobrir sua nudez, mas isso não resolveu o seu problema diante de Deus, pelo contrário, denunciou o seu problema diante de Deus (Gn 3.7-10). Boas obras de justiça não justificam o homem diante de Deus (Gn 2.16).
“Somos como o impuro — todos nós! Todos os nossos atos de justiça são como trapo imundo. Murchamos como folhas, e como o vento as nossas iniquidades nos levam para longe” (Is 64.6).

III.   A JUSTIFICAÇÃO E A LEI

Na lei do Velho Testamento havia duas exigências rígidas que tornava impossível a entrada do homem no céu. A primeira era a perfeita obediência à lei, e a segunda, a sentença do castigo eterno a que o homem estava sujeito se violasse apenas um dos seus mandamentos (Gl 1.10-13). Ninguém jamais foi salvo por sua obediência à lei. Ninguém poderia ter comunhão com Deus guardando a lei. Todos os homens estão aquém do padrão de Deus e, portanto, estamos condenados à morte.
A pergunta do homem caído nessa situação, é a pergunta de Jó:
“Mas como se justificaria o homem para com Deus?” (Jó 9.6). “Senhores que é necessário que eu faça para me salvar?” (At 16.30). Jó e o carcereiro Filipos fizeram a maior de todas as perguntas. Quem poderia justificar o homem. A justificação não se dá através das obras da lei, Paulo declara que ninguém é justificado diante de Deus (Rm 3.20; Gl 2.16). Mas, então qual a base da nossa justificação?
Somente Deus poderia resolver o problema insolúvel do homem. Mas, conforme Paulo explica, Deus não poderia simplesmente declarar justo o pecador inocente, nem podia alterar sua própria lei. Era mister que fosse “justo e justificador” simultaneamente: “Mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26).
A situação era tal que o amor de Deus não permitiria que ele abandonasse a humanidade, nem Sua justiça permitiria que ele quebrasse Sua própria lei. A única solução era enviar um substituto que pudesse satisfazer as exigências da lei, de tal forma que o homem tivesse comunhão com Deus.
O conceito da justificação sem violação da lei, pode ser ilustrado por meio da seguinte história:
Certo homem cometeu um crime, e foi trazido perante o tribunal. Mas, ali sentiu-se grandemente encorajado quando notou que o juiz era o seu melhor amigo. O culpado ficou certo de que o juiz “daria um jeito” na lei para ajudá-lo. O juiz, no entanto, não poderia abusar da justiça. Sentenciou seu amigo a pagar uma multa elevada o qual não teria condições de pagá-la. O culpado ficou em pé ali, desiludido e não querendo crer no que via, enquanto observava o juiz, que sem vacilar, levantava-se para deixar a sala do tribunal e caminhou em direção do guichê do tesoureiro do tribunal e pessoalmente pagou toda a multa do culpado. E sua tristeza transformou em grande alegria ao saber que o juiz já havia pago toda sua dívida.
Assim acontece conosco. Deus não poderia quebrar Sua própria lei para nos salvar, mas pôde providenciar o cumprimento da sentença, pagando pessoalmente a dívida que era contrária a nós, por meio do Seu Filho, Jesus.
“Sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.24-26).
A justificação do pecador, mediante o sacrifício vicário de Cristo, pode ser percebida por meio de várias profecias do Antigo Testamento (Is 53.1; 45.22-25; 61.10; Jr 23.6; 33.16; Sl 85.10; Gl 3.7). Em Gn 3.21, por exemplo, encontramos uma nítida figura do propósito divino neste sentido. Deus cobrira graciosamente a nudez de nossos primeiros pais, Adão e Eva, após terem pecado. Outro exemplo digno de nota é o de Abraão que foi justificado por Deus semente pela fé (Gn 15.6; fato transcendental que a Bíblia confirma em Romanos 4.3.
A lei mosaica não tinha intenção de alcançar a justiça pelo esforço humano, mas de revelar a justiça de Deus (Rm 8.4; 10.4, 10; At 10.39). Os sacrifícios não visaram retirar os pecados, mas cobri-los temporariamente até que Cristo viesse como sacrifício perfeito e substitutivo (Êx 12.1-23; Jo 1.29) As ordenanças, rituais, sacrifícios e princípios de vida piedosamente ensinados no Antigo Testamento, embora divinamente inspirados, não podiam quitar as “dividas” da humanidade, e muito menos, transformar o perdido pecador num justo.

IV.   DEUS UM JUSTO JUIZ


1.      A justiça vem de Deus.
“O Senhor Deus fez roupas de pele e com elas vestiu Adão e sua mulher” (G 3.21).
Não existe ser algum em todo o universo que tenha condição de justificar o homem diante de Deus. Por isso todas as religiões, em todo o mundo, que procuram justificar o homem diante de Deus por obras, são falhas, não produzem justificação. “A justiça vem do Senhor” (Is 54.17).

2.        Deus julga de acordo com a verdade e a justiça.
Em muitos tribunais adota-se o princípio de que a sentença em qualquer caso seja de acordo com os fatos apresentados nos autos. Nenhum juiz tem o direito de perdoar o culpado ou condenar o inocente; e para que a justiça seja exercida, o julgamento deve estar de acordo com este princípio.
O princípio da lei que rege os negócios dos homens é também o princípio pelo qual Deus exerce justiça. Quando Deus, como Juiz santo e justo senta-se para julgar os homens, Seu julgamento deve ser feito de acordo com a verdade e a justiça. Deus precisa justificar o inocente e condenar o culpado. Nenhum juiz poderia administrar a justiça se tratasse os fatos de modo diferente do que são na realidade; e seria um juiz injusto se, por favoritismo, absolvesse o culpado e condenasse o inocente.
Portanto, quando Deus justo e verdadeiro, senta-se para julgar e exercer a justiça deve pronunciar todo mundo culpado (Rm 3.23), pois esta é a verdade dos fatos. Como então, pode Deus, que é amor e misericórdia e graça, pronunciar culpado todo mundo? O fato está na Sua justiça. O pecador arrependido e regenerado é transformado numa nova criatura, sendo assim Jesus o justifica perante o Pai (1ª Jo 2.1). Mas aqueles que seguem o seu próprio caminho, ou seja, um caminho de pecado e sem Deus, Jesus não pode justificar e o Pai declara condenado. Portanto, somos justificados ou condenados pela nossa própria decisão. Deus é onisciente e conhece todos nossos corações e pensamentos. Nada escapa de Seus olhos. Ele vê e conhece tudo.
Se um juiz terreno age com justiça baseando-se na lei humana, quanto mais um Deus justo e Criador. Você acha certo um homem que comete todo o tipo de maldade (estuprador, imoral, injusto roubador etc.), ser absolvido em um tribunal de justiça? Se você é ético vai dizer que não. Desta mesma forma Deus age conosco com base na Sua justiça. A Bíblia diz que um dia Ele irá julgar o mundo, justificando o pecador arrependido e condenando o pecador que não se arrepende.
“Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado” (Mc 16.16).

3.      A justiça de Deus é perfeita e imutável.
Deus jamais pode usar dois pesos e das medidas. Ele referia-se a Sua justiça, se perdoasse o pecador, sem meio eficaz de perdão porque disse:
“Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23).
“E o Senhor Deus ordenou ao homem: Coma livremente de qualquer árvore do jardim, mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá” (Gn 2.16-17).
A justificação é uma declaração de Deus, segundo a qual todos os processos da lei divina são plenamente satisfeitos, por meio da justiça de Cristo, em benefício do pecador que o recebe como salvador. Justificação significa mudança de posição espiritual diante de Deus: de condenados para justificados. Esta é a única maneira do homem com Deus, apresentando-se a Ele sem culpa.

V.       CRISTO É A NOSSA JUSTIÇA

1.      No Seu infinito amor providenciou o sacrifício de Seu próprio Filho.
“Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16).
A o meio da nossa justificação é a fé em Cristo Jesus como nosso único salvador. E não a salvação em um outro nome em cima no céu e embaixo da terra (At 4.12). Portanto não existe outro meio de justificação a não ser a Cristo.

2.      Jesus para mediador entre Deus e os homens, tinha de ser homem.
Filho de Deus deixou o céu, a glória, seu trono, e fez-se carne, fez-se homem, se encarnou. Aquele que em seu estado pré-encarnado é igual a Deus é a mesma Pessoa que se esvaziou. Ele pôs de lado sua majestade e glória (Jo 17.5), mas permaneceu Deus. Ele jamais deixou de ser o possuidor da natureza divina. Mesmo em seu estado de humilhação ele jamais se despojou de sua divindade. Para cumprir os desígnios de Deus, houve em Jesus, como base do seu ministério vitorioso, um princípio pleno de renúncia, sacrifício e devoção (Fl 2.6-9).

3.      Jesus tinha que tomar sobre si a culpa dos homens.
A imensa dívida do homem (impagável), diante de Deus, tinha que ser transferida para a conta de Jesus. Foi por isso que Jesus se tronou devedor diante da lei de Deus.
1.1.A Bíblia diz que Ele foi feito pecado por nós.
“Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2ª Co 5.21), ou seja, que Cristo foi tratado como pecador para que sejamos tratados como justos; que também sejamos feitos pessoalmente justos pela fé n’Ele; que herdemos e nos tornemos participantes da justiça de Deus conforme a que foi revelada em Cristo; que n’Ele e por Ele sejamos feitos justos como Deus é justo. A alma precisa, pela fé, abraçar e tomar posse da justiça de Deus trazida aos santos em Cristo pela expiação e pela habitação do Espírito.
1.2.Maldito por nós.
“Cristo nos redimiu da maldição da lei quando se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro” (Gl 3.13).
1.3.Jesus tomou o cálice da morte na cruz.
“Pai, se queres, afasta de mim este cálice; contudo, não seja feita a minha vontade, mas a tua” (Lc 22.42).
1.4. Jesus morreu cumprindo a sentença que nossos pecados mereciam. O justo morreu pelo injusto.
“Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito” 1ª Pe 3.18).
1.5. Ele levou nossas transgressões.
Isaías 53, fala do sofrimento de Jesus quando veio ao mundo para nos salvar. Ele foi oprimido, castigado e morto. Este trecho fala principalmente do sacrifício que Jesus fez pelos pecados dos homens: “Quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado...” (53.10); “...o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si” (53.11); “...contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu” (53.12).
No sentido de que o sofrimento entrou no mundo por causa do pecado (Gn 3.17-19), e até a morte física se tornou uma consequência secundária da transgressão do homem (1ª Co 15.21-22), Jesus dará uma vitória total sobre a dor desta vida. Mateus 8.16-17 usa as curas físicas realizadas por Jesus como evidências do seu papel como o verdadeiro Messias e Salvador. Jesus curava as enfermidades físicas para mostrar um sinal da sua capacidade de curar a nossa doença espiritual: “Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados – disse ao paralítico: Eu te mando: Levanta-te, toma o teu leito e vai para tua casa” (Marcos 2.10-11). Seria errado colocar a cura física acima da missão principal de Jesus.
“Se assim fosse, Cristo precisaria sofrer muitas vezes, desde o começo do mundo. Mas agora ele apareceu uma vez por todas no fim dos tempos, para aniquilar o pecado mediante o sacrifício de si mesmo” (Hb 9.26).

4.      Jesus tornou a nossa justiça.
Cristo é a nossa justiça porque tudo o que fez, fez por nós, em nosso favor, como nosso SUBSTITUTO diante de Deus e da lei. A Bíblia diz que por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação.
“Mas também para nós, a quem Deus creditará justiça, para nós, que cremos naquele que ressuscitou dos mortos a Jesus, nosso Senhor. Ele foi entregue à morte por nossos pecados e ressuscitado para nossa justificação” (Rm 4.24-25).
Quando Jesus morreu pelos pecados de todo o mundo (1ª Jo 2.2), cumpriu a afirmação de João Batista: “No dia seguinte João viu Jesus aproximando-se e disse: Vejam! É o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”! (Jo 1.29).
Deus então nos restaura ao favor por nos imputar a justiça de Cristo. Ou nas palavras da Bíblia “Vida Nova”. “Deus nos atribui ou imputa o sacrifício de retidão de Cristo, oferecido para todos os que nele creem, não cobrando nossa dívida de pecado” (ver Gl 3.6; Fp 3.8-9).
A pessoa justificada, então tem tido seus pecados perdoados e a penalidade dos seus pecados remitida, ele tem também sido restaurado ao favor de Deus. Ele não é ainda justo nele mesmo, mas ele é justo ou reto no sentido da transformação espiritual, ou seja, a regeneração.
“Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida” (Rm 5.18).
“Um só ato...”. Paulo está se referindo ao ato da crucificação e da morte de Cristo em nosso favor. Por este ato de fé somos justificados em Cristo Jesus.
O homem não é justificado pela sua justiça, pelos seus atos, dogmas e tradições. Também não podemos atribuir o ato de justificação a igreja nenhuma, seja qual for, pois ela não tem este objetivo de justificar ou condenar alguém. A justificação pertence unicamente a pessoa de Cristo e a ninguém mais.
Na cruz estavam incluídos os pecados de todos os crentes, que, no tempo do Velho Testamento, haviam crido em Deus e oferecido sacrifícios pelos pecados, conforme o mandato de Deus, estes haviam sido perdoados por Deus, mas os pecados deles não haviam sido tirados, “porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes, tire o pecado (Hb 10.4).

5.      Quem Deus justifica?
Todos os que agora, aceitam a Jesus como Seu salvador, e estão em Cristo:
“Portanto, agora já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). São declarados justo porque esta aceitação por Jesus, é a justiça: “Em seus dias Judá será salva, Israel viverá em segurança, e este é o nome pelo qual será chamado: O Senhor é a Nossa Justiça” (Jr 23.6).
Quando Deus olha para o crente através da pessoa de Jesus na qual somos feitos na justiça de Deus: “Deus tornou pecado por nós aquele que não tinha pecado, para que nele nos tornássemos justiça de Deus” (2ª Co 5.21).
Pela conta credora de Jesus (que não se esgota), foi feito o pagamento do nosso débito, que agora já não existe. Assim o crente pode, vestido do manto da justiça de Jesus:
“É grande o meu prazer no Senhor! Regozija-se a minha alma em meu Deus! Pois ele me vestiu com as vestes da salvação e sobre mim pôs o manto da justiça, qual noivo que adorna a cabeça como um sacerdote, qual noiva que se enfeita com joias” (Is 61.10), apresenta-se diante de Deus, justificado.
“Quando vocês estavam mortos em pecados e na incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou juntamente com Cristo. Ele nos perdoou todas as transgressões,14 e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz” (Cl 2.13-14).
A penalidade para o pecado é a morte, espiritual, física e eterna (Gn 2.16-17; Rm 5.12-14; 6.23). Se um homem há de ser salvo, esta penalidade precisa ser removida primeiro. Foi removida pela morte de Cristo que carregou a punição dos nossos pecados no seu próprio corpo na Cruz do Calvário (Is 53.5-6; 1ª Pe 2.24).
Sendo que Cristo carregou a penalidade do homem pelo pecado, Deus agora perdoa aquele que crê em Cristo (At 13.38-39; Rm 8.33-34; 2ª Co 5.21). Isto é o perdão de pecados (Rm 4.7; Ef 1.7; 4.32; Cl 2.13). A morte de Cristo fez possível perdão (Rm 5.18-19; Gl 2.17).
Em relação a este elemento ou aspecto da justificação, Deus justifica o pecador que crê em Cristo, declarando-o justo. Isto declara que as experiências da lei têm sido satisfeita com respeito ao pecador, e que agora ele está livre da condenação da lei (Rm 4.5; Jo 3.16; Rm 5.1). O perdão de Deus é o término da ira de Deus contra o pecador que se arrepende e o livramento da culpa do pecado que oprimia sua consciência, ou seja, é a remissão da punição do pecado, que era a morte eterna.
Num tribunal terrestre, não há justificação para aqueles que são transgressores comprovados; para tais somente convicção e punição. Mas no governo de Deus há remissão de punição para os que creem, ainda que fossem ofensores; em justificação, Deus declara esta remissão.
Devemos entender que a declaração de Deus de que o pecador não é mais exposto à penalidade da lei, tem sua base, não em nenhuma satisfação da exigência da lei da parte do próprio pecador, mas somente no carregar da penalidade por Cristo Jesus, a quem o pecador é unido pela fé (At 13.38-39; Rm 3.24-26; Ef 1.7).

VI.   CARACTERÍSTICAS DA JUSTIFICAÇÃO

1.      A justiça divina alcança a todos.
Assim como o pecador tornou-se universal, a justificação destina a todos quantos queiram ser salvos “Pois Deus revelou a sua graça para dar a salvação a todo” (Tt 2.2).
A expressão “para que todo aquele que nele crê não pereça” (Jo 3.16) abrange a todos indistintamente. Todos os que se arrependem de seus pecados e creem em Jesus como Salvador não perecerão, mas terão a vida eterna. E é tudo pela graça de Deus, conforme está escrito: “Onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5.20). Esta “multiforme graça” alcança de igual modo todas as pessoas de todas as raças, culturas, níveis sociais, idades e circunstancias (Jo 6.37). Ninguém é bom suficiente para se salvar, como também não é mau que não possa ser salvo por Jesus.

2.      A justiça de Deus é concedida gratuitamente mediante a graça.
“Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo” (Rm 5.17).
A fonte da justificação é a graça de Deus (Rm 3.24; Tt 3.4-7). A lei diz: paga tudo; mas a graça diz: tudo está pago. A lei representa uma obra a fazer; a graça é uma obra consumada. A lei representa uma obra a fazer; a graça é uma obra consumada. A lei restringe as ações; a graça transforma a natureza; a lei condena; a graça justifica; sob a lei a pessoa é servo assalariado; sob a graça é filho em gozo ilimitado.
A obediência vicária de Cristo torna o cristão justo diante de Deus. Os muitos se tornarão justos a medida que recebem a abundância da graça e o dom da justiça quando chegam a crer neste maravilhoso ato realizado por Cristo Jesus em favor da humanidade.
A justificação é a baseada no sangue derramado de Cristo e a na sua justiça. O apóstolo Paulo declara que somos “justificados, gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 5.9).
Somos unicamente justificados gratuitamente pela imensurável graça de Deus concedida aos pecadores, a fim de conferir-lhes aquilo que jamais poderíamos alcançar por seus próprios méritos, deixando de lado a sentença por eles merecida.
Portanto, desde que a justificação é uma posição legal que só pode ser concedida por Deus, e desde que ninguém merece esta posição, ou seja, a justificação é inteiramente pela graça de Deus.
O que Paulo quer dizer que somos justificados sem justa causa, ou seja, sem qualquer razão ligada a nós. Deus não nos justificou por possuirmos qualquer qualidade positiva ou qualquer traço de bondade, nem mesmo porque valesse a pena salvar-nos. Também Ele não estava obrigando de maneira alguma a nos justificar. Mas Ele nos justificou pela Sua graça infinita e incomparável.
Também, ser justificados gratuitamente por sua graça implica uma ação da parte de Deus completamente independentemente de mérito ou boa obra da parte do homem para merecê-la.
Através da base da justificação e sua causa eficiente, podemos ver com muita clareza que a justificação não é pelas obras da lei, inclusive as obras da lei não foi dada para salvar ou justificar quem quer que seja, mas para pôr ponto final nos argumentos e mostrar que todos são culpados: “Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus” (Rm 3.19), para dar conhecimento do pecado: “visto que ninguém será justificado diante dele por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” (Rm 3.20); para mostrar a excessiva pecaminosidade do pecado:
“Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno” (Rm 7.13); para conduzir o pecador a Jesus.
No tribunal de Deus, nenhum homem pode ser considerado justo aos olhos de Deus pela obediência à lei (Gl 2.16). Como meio de estabelecer corretas relações com Deus, a lei é totalmente insuficiente. A única coisa que a lei pode fazer é fechar a boca de todo o homem e declará-lo culpado perante Deus. É verdade que Jesus fez referência à lei ao jovem que lhe havia perguntado como herdar a vida eterna; mas é evidente que Jesus fez isso simplesmente para mostrar-lhe que a salvação é impossível de ser alcançada nessa base.

VII.A CONDIÇÃO DA JUSTIFICAÇÃO

1. Fé. Se a justificação é unicamente pela graça de Deus, como o próprio homem pode estar envolvido então no processo de ser justificado? As Escrituras Sagradas dizem que somos (gr. diá pisteos; ek pisteos ou pistei – dativo). A preposição dia (Rm 3.25; Gl 2.16; Fp 3.9), enfatiza o fato de que a fé é o instrumento pelo qual nos apropriamos de Cristo e de sua justiça. A preposição ek (Rm 3.26, 30; 5.1; Gl 3.8, 24) indica que a fé logicamente precede a nossa justificação pessoal, para isto que origina-se em fé. O dativo é usado em um sentido instrumental (Rm 3.28).

1.1. A fé a condição para sermos justificados. Contudo, a Escritura nunca indica que sejamos justificados (gr. dia tem pistin), por causa da nossa fé. Isto quer dizer que a fé nunca é representada como a base da nossa justificação. Como já temos notado, se isso fosse o caso, fé teria que ser considerada como obra meritória do homem. E isto seria a introdução da doutrinada da justificação pelas obras que o apóstolo opõe coerente ou constantemente (Rm 3.21, 27-28; 4.3-4; Gl 2.16, 21; 3.11).

1.2. A fé é a condição da nossa justificação e o sangue de Cristo é a base da nossa justificação. Podemos notar que somente o sacrifício de Cristo é o que nos justificação. Não é para fé que somos justificados, mas pela fé somente. A fé não é o preço da nossa justificação, mas o meio de apropriar-se dela. A fé é a aceitação de métodos divinos da justificação. A fé apropria daquilo que a graça fornece.
“Tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus. Onde, pois, a jactância? Foi de toda excluída. Por que lei? Das obras? Não; pelo contrário, pela lei da fé. Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, independente das obras da lei” (Rm 3.26-28).
Cristo ocupa uma posição única como o representante de Deus com o homem e do homem com Deus. O valor infinito da fé é derivado do seu objeto: Deus e sua manifestação. Crer é, portanto, agarrar de uma vez a perfeição de Deus.
Cristo sofreu a penalidade dos nossos pecados. Logo, os nossos pecados não foram desculpados ou ignorados; pelo contrário, a sua “conta” foi totalmente paga. Não somos inocentes quanto aos nossos pecados cometidos, mas Deus não nos julgará mais por eles, pois foram perdoados e pagos por Cristo.
“Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados” (1ª Pe 2.24).
“Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito” (1ª Pe 3.18).
Não somente somos perdoados de todos os pecados que nos separaria de Deus, mas, sim, pela justiça de Cristo, somos dignos de ter comunhão com Deus. Quando Deus olha para nós, não vê nossos pecados e fracassos; pelo contrário, apenas vê a santidade do Seu Filho, e Sua obediência e bondade; sendo justificado desta maneira temos paz com Deus e acesso a Ele (Rm 5.1-2).
“Justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem; porque não há distinção” (Rm 3.22). “Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé” (Gl 5.5). “Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10 4).
A fé salvífica é o único meio do homem tornar-se justo e permanecer neste estado. Os efeitos da justificação pela fé abrangem a totalidade da vida do crente. No passado a fé justificou-o, libertando-o inicialmente da condenação do pecado. No presente, a fé continua a justificá-lo, libertando da “pratica do pecado”. À medida que ele continua na fé em Cristo, a justificação do crente culminará na glorificação, libertando-o para todo o sempre da própria “presença do pecado”.

1.       O sangue é a base da justificação.
A justificação é a baseada no sangue derramado de Cristo e a na Sua justiça. O apóstolo Paulo declara que somos “justificados, gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 5.9). Em romanos 5.9 ele diz: “Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira”.
O sangue de Cristo é a base da nossa justificação, pelo qual a perfeita justiça de Cristo é imputada ao pecador. Sem o sacrifício de Cristo não seria possível a nossa justificação. Deus planejou nossa justificação e providenciou também o modo como seria realizado; unicamente através do sangue derramado por Jesus Cristo.
Temos redenção pelo sangue (Rm 3.24); temos propiciação pelo sangue; temos a remissão dos pecados, tudo através de seu sangue. O sangue é o fundamento da justificação porque as Escrituras revelam que a vida está no sangue. E quando Jesus Cristo derramou Seu sangue, entregou Sua vida, a vida dele em substituição à nossa. A morte dele em lugar da nossa morte, para que nós pudéssemos receber a remissão de pecados através do sangue de Cristo.
Por ter Cristo suportado o castigo de nossos pecados em seu próprio corpo, Deus revogou a pena e nos restabeleceu a Seu favor.
Na justificação os nossos pecados não são desculpados, mas punidos na pessoa de Cristo, nosso substituto. “O qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação” (Rm 4.25).
A base da nossa justificação é unicamente o sangue de Cristo, pelo qual a perfeita justiça de Jesus é imputada ao pecador. Sem o sacrifício de Cristo não seria possível a justificação.
Deus planejou nossa justificação e providenciou também o modo como seria realizada; unicamente através do sangue derramado por Cristo Jesus.
Quando Jesus verteu o Seu sangue nesse sacrifício inigualável, abriu-se a fonte da graça para a justificação de todo aquele que n’Ele crer.
“Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda seremos salvos da ira de Deus por meio dele”! (Rm 5.9).

3. A justificação concede uma nova posição em relação à lei de Deus. A lei de Deus exigia perfeita obediência para se obter a vida eterna (Mt 19.17). Evidentemente, ninguém pode cumprir perfeitamente esta exigência. A solução divina não foi abolir a Lei, mas, sim fazer que Cristo “cumprisse” a Lei por nós, pois Ele pôde obedecer à Lei de modo perfeito.
Justificação é um termo legal (que se refere à maneira correta de se apresentar diante de Deus). Esse estado não pode ser obtido pelos méritos humanos, mas pela redenção em Cristo Jesus.
Redenção é o ato que propicia a liberdade ao escravo por meio da fé em Cristo, ou seja, pecadores são libertos da escravidão do pecado (Jo 8.32).
Propiciação do grego hilasterion, carrega a ideia de apaziguar ou satisfazer. Portanto, propiciação se refere à obra de Cristo na cruz. Por meio da propiciação, Cristo satisfez ambas as demandas da justiça de Deus e cancelou a culpa dos pecadores. A fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador é a única condição do homem ser justificado diante de Deus.

VIII.      AS BÊNÇÃOS QUE FLUEM DA JUSTIFICAÇÃO

1. A remissão dos pecados. Cuja pena de morte espiritual, física e eterna (Gn 2.16; Rm 5.12-14; 6.23). Esta punição foi revogada pela morte de Cristo, que sofreu o castigo que nos estava reservado (Is 53.5-6; 1ª Pe 2.24).

2. A restauração do favor divino. Além de incorrer no castigo, o pecador também perdeu o favor de Deus, pois o Senhor Deus não tem comunhão com o pecado (Jo 3.36; Rm 1.18; 5.9).  A justificação assegura a restauração ao favor e à comunhão com o Pai Celestial (Gl 3.26).

3. A imputação da justiça. O pecador precisa não apenas ser perdoado por seus pecados cometidos, mas também receber uma justiça antes de poder ter comunhão com Deus. E esta necessidade é satisfeita na imputação da justiça de Cristo ao crente.
3.1. Imputar é debitar alguém. O apóstolo Paulo disse: “Assim também declara bem-aventurado o homem a quem Deus imputa a justiça sem as obras” (Rm 4.6; Sl 32.1, 2).
3.2. Deus imputa ao crente a justiça de Cristo (1ª Co 1.30; 2ª Co 5.21).
Deste modo, a pessoa justificada tem os seus pecados perdoados e a punição dos seus pecados foi revogada; foi também restaurada ao favor de Deus pela imputação da justiça de Cristo (Gl 2.16).

IX.    A JUSTIFICAÇÃO, A FÉ E AS OBRAS

Bíblia afirma claramente que a justificação é uma dádiva que só podemos obter mediante a fé em Jesus Cristo. No entanto, há vários versículos que parecem contradizer este fato. Sabemos que a Bíblia não se contradiz, portanto, vamos estudar estas aparentes contradições para vermos o que o texto bíblico realmente quer dizer.
“Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça” (Rm 4.3).
“Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque” (Tg 2.21).
“Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado” (Gl 2.16).
“Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (Tg 2.24).
Ao examinarmos os contextos veremos que cada escritor empregou as mesmas palavras: fé, obras e justificar, mas de maneiras diferente.
Paulo contempla o assunto conforme a necessidade dos seus leitores e afirma que somos justificados diante de Deus sem obra alguma de nossa parte; que é somente pelos méritos de Cristo, cuja obra redentora já foi completada na cruz.

1.      Fé para salvação e fé professada.
Alguns têm suposto que a discussão ou a carta de Tiago do relacionamento entre fé e obras está em oposição à doutrina da justificação pela fé. A epístola de Tiago é uma das mais antigas. Ela certamente não foi escrita para responder a Epístola aos Romanos, que foi escrita alguns anos mais tarde. É certo então, que Romanos não foi escrita para contradizer a Epistola de Tiago.
Quando Paulo fala da fé que justifica, está falando somente da fé salvífica, como um relacionamento real com Cristo, baseado no amor, confiança, e a consagração da vida e vontade a Ele.
Tiago, no entanto, fala de uma confiança de fé, seja ela a fé que salva, ou meramente um assentimento à existência de Deus (o que também fazem os demônios, Tg 2.19). Note que o elemento da fé professa, é claramente denotado nas palavras “se alguém disser, e “mostrar”.
“Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, (mera confissão) mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” (Tg 2.14)
“Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé” (Tg 2.18).
Tiago, também, contempla o assunto de fé e obras, mas conforme a necessidade dos leitores dele. A fé é a raiz e a árvore da qual as obras de fé são o fruto. Não somos salvos pela combinação de fé e obras, mas sim, por uma fé que produz obras. Se temos fé em Deus, as obras mostrarão. As obras são o resultado da fé. Somos salvos exclusivamente pela fé, mas por uma fé que não permanece isolada. Em Romanos vemos que a fé é o necessário para a nossa salvação; na epístola de Tiago vemos a demonstração de uma fé genuína que são as obras.
O propósito de Tiago não era de atacar a fé como meio de salvação, mas, sim, atacar a simples confissão de fé na existência de Deus, como meio de salvação. Por exemplo: Alguém apenas acredita em Deus, mas não obedece Sua Palavra. Ela apenas tem uma fé universal da existência de um Deus. No entanto, ela não pode ser declarada salva.
Paulo fala da justificação como a declaração da parte de Deus de que um homem é justo por causa da sua fé em Cristo Jesus. Tiago enfatiza a declaração dos homens de que a fé da pessoa é legitima quando comprovada por obras de amor e de dedicação ao reino de Deus.
“E se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus” (Tg 2.23).
“Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque” (Tg 2.21).
Note que no verso 23 Tiago está falado da justificação do homem, no verso 21 Tiago está falando da justificação ou prova da sua fé. O verso 23, que citado em Gn 15.6, refere-se à justificação inicial de Abraão, e o verso 21, é uma referência ao sacrifício de Isaque retratado em Gênesis 22 – aproximadamente 30 anos depois de Abraão ter sido declarado justo por causa da sua fé somente, isto é, à parte das obras.
O que realmente o verso 23 afirma é que o homem é justificado pela fé somente; e a declaração do verso 21, que a “fé salvífica” nunca permanece só, sempre está acompanhada de obras de justiça que servem para demonstrar a eficácia da fé do crente.
A fé é o meio e a condição de sua salvação, ao passo que as obras são seu fruto e sua evidência. As obras são o produto e o fruto de fé e da salvação. A fé inicia, promove, controla e culmina a vida espiritual, enquanto as obras evidenciam, embelezam e coroam a mesma.
Paulo considera a questão do ponto de vista de Deus, e assevera que somos justificados, aos olhos de Deus, meritoriamente, sem qualquer obras de nossa parte. Tiago considera o assunto do ponto de vista do homem, e assevera, que somos justificados, a vista do homem, evidentemente, pelas obras e não exclusivamente pela fé.
Em Tiago a questão em foco é a demonstração de fé. Em Tiago 2, vemos que somos justificados pelas obras. Temos aqui a evidencia da justificação. Tiago pergunta: “Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?” (vv.21). “De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho?” (vv.25). Estas referências são de justificação perante os homens. Depois de alguém ter sido inocentado por Deus, irá manifestar sua absolvição perante os demais através da retidão produzida pela sua posição em Cristo. O homem não é justificado diante de Deus pelas obras, mas demonstra através delas sua justificação.
Há pessoas que dizem que nossa bondade pessoal ou excelência moral não for a base da nossa aceitação com Deus, então toda a necessidade de ser bom é negado, e todo o motivo para as boas obras é removida.
É verdade que nossa excelência não tem nada a ver com nossa justificação e que somos justificados somente na base daquilo que Cristo fez por nós. Mesmo assim, produzimos fruto para a justiça ou retidão. Ninguém partilha mérito da morte de Cristo que não se torne participante do poder da vida de Cristo.
E o próprio apóstolo Paulo fala tão claramente como Tiago contra a noção de uma fé que não produz obras: “Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados” (Rm 2.13). Paulo ensina que a possessão da verdade divina não vale nada sem sujeição e obediência. Ninguém será justificado por sacrifícios, leis, práticas e regras humanas, mas que praticar e não apenas ouvir é que o julgamento de Deus exige.
O forte tom ético de todo capítulo 2 de Romanos não contradiz a doutrina da justificação pela fé, mas protege esta doutrina, como a Epístola de Tiago faz contra antinomianismo, ou seja o ensino de que não importa qual seja a conduta da pessoa, uma vez que creia.
“Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1ª Jo 3.7-9).
Portanto, não devemos desprezar as boas obras que é fruto do amor e que têm seu próprio lugar; e seu lugar não procede a justificação, mas antes segue-a. A fé que justifica é uma fé real que conduz à ação que é de conformidade com a verdade crida. Somos justificados pela fé, sem as obras. O homem que trabalha para conseguir a salvação não é um homem justificado, mas o homem justificado é o homem que trabalha. Enfim, a árvore demonstra sua vida por meio de seus frutos (Gl 5.22-23), mas já estava viva antes que os frutos ou mesmo as folhas tivessem aparecidos.

2.      Obras que salvam e obras de amor.
Paulo e Tiago também tratam de dois tipos diferentes de obras. Paulo condena as obras como esforço arrogante do homem procurando merecer a sua própria salvação: “E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé” (Gl 3.11; Rm 3.20). Contratando isso, ao referir-se as obras, Tiago fala dessas expressões de fé como resultado natural da justificação.
Poderíamos chamar as obras mencionadas por Paulo como sendo “as obras da lei” e as de Tiago como sendo “as obras da fé”.
Portanto, quando Tiago diz que a fé sem as obras é morta, o que na realidade ele está dizendo é que uma profissão de fé que não resulta em obras de justiça, não é uma profissão veraz; é insuficiente para salvar. Mas uma profissão de fé completamente por obras de justiça comprova que aquela fé viva que realmente salva.

3.      As obras e seu julgamento.
O julgamento de Deus é segundo a sua verdade, justiça e santidade (Rm 2.2; 3.4; 9.14; Sl 96.13; Dt 32.4; Ap 16.7). Entretanto, Deus não deseja a ruína do pecador, mas a sua salvação (Ez 18.23, 32; Is 55.7; Tg 2.13; Hb 3.7-8; Ap 22.17). E a única maneira de escaparmos do juízo de Deus é termos a Cristo como Salvador e Senhor (Hb 22.4; Lc 13.3, 5).
As obras do crente são decorrentes da salvação já operada, pela graça de Deus (Ef 2.8-9). Ou seja: nós fomos salvos pela fé para a práticas das boas obras (Tg 2.14-20, 26; Ef 2.10).

4.      Justificação do homem e a justificação da sua fé.
Paulo pregava que a justiça do crente começa com a fé; é mantida pela fé e termina com a fé. “Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm 1.17).
Pedro também ensinava que a fé era o continuo catalisador da salvação até ao exato momento da passagem da vida física para a eterna.
“Que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma”. (1ª Pe 1.5, 9).
A fé que salva o homem é uma fé “presente”. Não somente é o ponto de partida da vida do crente, mas também é o princípio característico que deve ser a base continua da vida espiritual (Gl 2.20).
A fé não deve ser limitada à experiência inicial da salvação no passado, mas, sim deve ser mantida no decurso da vida do cristão no presente. É uma virtude continua, que deve ser demonstrada diariamente através de um relacionamento de dedicação a Cristo e confiança n’Ele até o fim. Assim ela também assegura o futuro do cristão.
“Agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro” (Cl 1.22-23).
Já temos falado e demonstrado que as obras não são a base da nossa justificação -quer dizer obras rituais ou cerimoniais, quer obras feitas antes da regeneração, quer obediência perfeita requerida pela lei, quer qualquer tipo de obras (tudo que foi feito por nós). Não podemos ser justificado por qualquer espécie que façamos.
Aqui Paulo nos diz que: “se vós permanecerdes na fé”. Caso contrário, vocês vão perder todas as bênçãos que vocês já começaram a desfrutar. E não pode ser removido da esperança do Evangelho a gloriosa esperança do amor perfeito. Que é pregado e já começou a ser pregado a toda criatura debaixo do céu.
Em Filipenses Paulo rejeita qualquer base de confiança na sua “justiça própria”, isto é, a sua própria excelência, quer habitual ou atual. Ele censura os judeus, porque eles procuravam estabelecer sua própria justiça e não queria submeter a justiça divina.
“Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (Rm 10.3).
A Bíblia fala da natureza gratuita da nossa justificação. Graça e obras são opostos ou contrários:
“Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras” (Rm 4.4-6).
Quando a base positiva da justificação é citada nas Escrituras, é sempre declarado que nada é feito por nós ou realizado em nós, mas o que foi feito por nós (Rm 5.9, 18-19).
Quando Paulo fala de achar graça só pela fé, é sempre em oposição à possibilidade de achá-la palas obras. A doutrina da justificação não poderia ser entendida sem esta antítese. Ela se dirige contra a concepção fundamental do judaísmo e do cristianismo judaizante, segundo a qual o homem acha graça de Deus pelo cumprimento da vontade divina. O próprio Paulo considerava as coisas assim até o momento em que Cristo lhe apareceu no caminho de Damasco: somente este instante é que lhe abriu os olhos para a ilusão que o fazia crer que um homem poderia manter-se diante de Deus por sua própria força. É por isso que depois de Damasco, ele opõe à tese dos judaizantes, que pretendem que a lei seja o caminho da salvação, esta antítese: o caminho da graça de Deus não está nas obras (ritos), mas na fé (Gl 2.16; 3.8, 24; Rm 28.30; 4.5). Esta fé é a única maneira de obter graça junto de Deus. A salvação de Deus lhe é concedida “a título gracioso” (Rm 4.4; 5.17), como um dom gratuito (Rm 3.24).

X.      OS RESULTADOS DA JUSTIFICAÇÃO

A justificação traz muitos benefícios à vida do crente em Cristo Jesus, por exemplo:

1.      Um novo relacionamento com Deus.
“E a vós outros, que estáveis mortos pelas vossas transgressões e pela incircuncisão da vossa carne, vos deu vida juntamente com ele, perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu- o inteiramente, encravando-o na cruz” (Cl 2.13-14).
Paulo fez uma ilustração do cancelamento da dívida do pecado, em Colossenses 2.23-24. Ali, ele compara nossos pecados com o registro de uma cobrança, escrito num pergaminho. Nos dias de Paulo, era costume pregar o pergaminho de uma dívida na porta da casa do devedor. Quando a dívida era saldada, o pergaminho (isto é, a conta) era mergulhado numa solução química que apagava todo o escrito, deixando, assim, o pergaminho totalmente limpo e pronto para ser usado de novo.
Da mesma maneira, Paulo diz que nossa dívida não foi pregada à porta da nossa vida, mas, sim, na cruz de Cristo, onde Ele pagou por nós. Tomou o nosso lugar como devedor. Tendo pago a dívida, devolveu-nos o “pergaminho” (o escrito da dívida) das nossas vidas, completamente purificado pelo Seu sangue. Uma vez que a dívida está paga, a Lei não tem nenhum direito sobre a vida do crente, não havendo mais qualquer empecilho à comunhão com Deus.

2.      A Remissão da punição.
Não existindo mais condenação e há paz com Deus (Rm 4.7-8; 5.1; 8.1, 33, 34; 2ª Co 5.19). Quando alguém se arrepende do seu pecado e se volta para Deus, com fé, toda e qualquer culpa do pecado é apagada. A solução para eliminar o pecado ou fracasso, e crer, sem questionar, nem duvidar na sua mente, que Cristo pagou a dívida daquele pecado e que Deus nos contempla somente na justiça de Cristo, isto é, limpos e livres de dívidas! Tendo o próprio Deus justificado o crente, ninguém mais tem o direito de condená-lo, nem se quer seu próprio coração, pois ele está em Cristo.
“Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus quem morreu ou, antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós” (Rm 8.33-34).

3.      O Restabelecimento do Favor de Deus: (Rm 4.6; 2ª Co 5.21).
O homem estava separado de Deus pelos seus pecados, mas mediante a fé no sacrifício de Seu Filho Jesus, somos perdoados, justificados e a nossa comunhão com o Pai é estabelecida através de Cristo Jesus.

4.      Estamos Cobertos pela justiça de Cristo.
Com a imputação da Justiça de Cristo, o crente está agora coberto por uma justiça que não é sua, mas provida por Cristo, e é aceito na comunhão de Deus (Is 61.10; Rm 4.7).

5.      Uma nova concepção do futuro.
A justificação nos liberta tanto dos pecados do passado, quanto nos temores do futuro. Porque uma vez justificado por Deus, e podemos ter a certeza que somos salvo. O crente salvo por Jesus tem a certeza que poderá entrar na presença de Deus purificados dos seus pecados e vestido com vestes brancas da justiça de Cristo.
“Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5.9).
“E para aguardardes dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura” (1ª Ts 1.10).
“A fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna” (Tt 3.7).

O homem justificado tem certeza de que será poupado da ira vindoura.

Pr. Elias Ribas

domingo, 5 de março de 2017

A DOUTRINA DA SANTIFICAÇÃO


Salvação e santificação são a obra redentora realizada por Jesus no homem integral: espírito, alma e corpo. A Bíblia afirma que fomos eleitos “desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito” (2ª Ts 2.13). Esta verdade está implícita no evangelho de João 19.34, que diz que do lado ferido do corpo de Jesus fluíram, a um só tempo, sangue e água. Isto é, sangue poderoso de Cristo nos redime de todo o pecado, mas a água também nos lava de nossas impurezas pecaminosas. Cristo morreu “para nos remir de toda iniquidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso e de boas obras” (Tt 2.14). Portanto, para que alcancemos a salvação é necessário ter uma vida santificada.

I.     A DEFINIÇÃO DA PALAVRA SANTO

A palavra santo no grego hagios e no heb. Kadosh, quer dizer separado. Santo então é separar do mundo e aparatar-se do pecado, consagrar a fim de termos ampla comunhão com Deus e servi-lo com alegria. É aquele que se separa do mal, e dedica-se ao serviço de Deus, é o ato de santificar; tornar sagrado; dedicado exclusivamente para Deus; ter uma vida de santificação, ou seja, ter qualidades específicas que nos mantenham ou nos levem à separação das pessoas pecadoras que vivem longe da presença de Deus.
Santo do Lat. Sanctitatem, significa perfeição moral; estado de quem se destaca pela natureza.
Ambas as palavras no original representam um indivíduo que pela fé crê no sacrifício de Jesus, e separa-se do mundo e de tudo que no mundo há.

II.      SER SANTO SIGNIFICA UMA SEPARAÇÃO DO PECADO

“Mas a vós outros vos tenho dito: em herança possuireis a sua terra, e eu vo-la darei para a possuirdes, terra que mana leite e mel. Eu sou o SENHOR, vosso Deus, que vos separei dos povos. 26. Ser-me-eis santos, porque eu, o SENHOR, sou santo e separei-vos dos povos, para serdes meus” (Lv 20.24,26).
Deus escolheu Abraão, separando de outros povos e prometeu ser o pai de uma grande nação. Abraão seria pai de um povo de quem Jeová seria Deus (Gênesis 17.7) e por meio do qual Deus viria ao mundo. A nação resultante de Israel prenunciava um povo espiritual e ideal no qual Deus teria o que desejava.
Assim Deus queria que viesse agir Israel, que foi libertada dos laços de Faraó para habitar na terra que mana leite e mel, mas na terra havia outros povos que não conheciam a Deus e viviam em práticas pagãs, o que levou Deus a todo momento a adverti-los para que viessem a guardar os seus mandamentos e se separarem para o uso exclusivo de Deus, para não caírem no laço das outras Nações, pois Deus sabe que a palavra é um meio de santificação, separação (Jo 17.17). Mas o povo tinha a velha natureza, o velho homem, que dificultou muito o povo e tem dificultado os cristãos de hoje em dia a se livrarem dos maus hábitos.
“...vos separei dos povos...”. A palavra é usada para distinguir entre o santo e o profano, entre o especial e o vulgar: “Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve” (Ml 3.18).
Santo significa uma retidão moral de um caráter imaculado, demonstrada na pureza do crente diante de Deus, na obediência à sua Palavra e na inculpabilidade desse crente diante do mundo (Fp 2.14-15; Cl 1.22; 1ª Ts 2.10).
“Retirar-vos, retirar-vos, saí de lá, não toqueis coisas imundas; saí do meio dela, purificai-vos, vós que levais os utensílios do Senhor” (Is 52.11).
O cristão é chamado por Deus para viver uma vida irrepreensível, correta e pura perante o Senhor Deus, e separada do mundo.
“A fim de que seja o vosso coração confirmado em santidade, isento de culpa, na presença de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso Senhor Jesus, com todos os seus santos” (1ª Ts 3.13).

Santificação. O substantivo hagiasmos, o mesmo que santificação é usado em alusão a total separação do homem para com Deus (1ª Co 1.30, 2ª Ts 2.13, 1ª Pe 1.2), e ao curso de vida adequado aos que são separados (1ª Ts 4.3, 4-7; Rm 6.19-22; 1ª Tm 2.15).
A santificação envolve: a separação ao mundo e a sua completa dedicação ao serviço de Deus: “Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra” (2ª Tm 2.21).
Santo é o crente que vive separado do pecado e das práticas mundanas pecaminosas, para o domínio e uso exclusivo de Deus. É exatamente o contrário do crente que se mistura com as coisas tenebrosas do pecado.
Santificação é um processo pelo qual a condição moral da pessoa é elevada à conformidade com seu estado legal perante Deus. Santificação é um ato subsequente a regeneração, pelo qual os crentes são libertos do pecado original e de suas depravações, e trazidos num estado de inteira devoção a Deus, e a obediência santa de amor perfeito.
Santificação no sentido próprio da palavra é uma libertação instantânea de todo o pecado, e inclui poder instantâneo, dado sempre para manter-se fiel a Deus.
O ser santificado não é nada mais ou menos do que uma completa remoção do coração, daquilo que é inimizade contra Deus.
Segundo o NT, a santificação não é descrita como um processo lento, de abandonar o pecado pouco a pouco. Pelo contrário, é apresentada como um ato definitivo mediante o qual, o crente, pela graça, é liberto da escravidão de Satanás e rompe totalmente com o pecado a fim de viver para a Deus (Rm 6.18; 2ª Co 5.17; Ef 2.4-6; Cl 3.1-3).
O cristão, pela graça que Deus lhe deu, morreu com Cristo e foi liberto do poder e domínio do pecado (Rm 6.18); por isso, não precisa nem deve pecar. E sim obter a necessária vitória no Seu Salvador, Jesus Cristo. Mediante o Espírito Santo, temos a capacidade para não pecar (1ª Jo 3.6), embora nunca cheguemos à condição de estarmos livres da tentação e da possibilidade do pecado.
No mesmo tempo, no entanto, a santificação é descrita como um processo vitalício mediante o qual continuamos a mortificar os desejos pecaminosos da carne (Rm 8.1-17), somos progressivamente transformados pelo Espírito à semelhança de Cristo (2ª Co 3.18), crescemos na graça (2ª Pe 3.18), e devotamos maior amor a Deus e ao próximo (Mt 22.37-39; 1ª Jo 4.10-12, 17-21).
A nossa santificação é realmente mediante a renúncia ao pecado e a o seguir a santidade. Mediante a rendição total da própria vida (Rm 12.1; 6.12-13, 19). Uma rendição que é voluntária, completa e definitiva (final) é uma ação necessária para que o crente possa experimentar inteira santificação. Uma entrega definitiva da vida para Deus constitui a condição suprema para a santificação prática. Se o homem que ser santo, ele deve oferecer a si mesmo a Deus, para que este possa realizar esta obra nele.

III.   POR QUE SER SANTO

1.      Porque Deus é santo.
“Disse o Senhor a Moisés: Fala a toda congregação dos filhos de Israel e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo” (Lv 19.1-2).
A Bíblia diz que nosso Deus é santíssimo: “Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos” (Is 6.3; AP 4.8). A santidade de Deus é intrínseca, absoluta e perfeita (Ap 15.2; Lv 19.2). É o atributo que melhor expressa sua natureza. No cristão, porém, a santificação não é um estado absoluto, é relativo assim como a lua, que não tendo luz própria, reflete a luz do sol (Hb 12.10; Lv 21.8).

2.      Santidade é uma ordem divina.
“Sede santo, por que eu sou santo” (1ª Pe 1.16; Lv 11.44; Lv 19.1, 2). “Santos serão a seu Deus e não profanarão o nome do seu Deus, porque oferecem as ofertas queimadas do SENHOR, o pão de seu Deus; portanto, serão santos” (Lv 20.6).
A Bíblia afirma que temos dentro de nós a “lei do pecado” (Rm 7.23; 8.2). Daí, ela ordena que sejamos santos (1ª Pe 1.16; Lv 11.44; AP 22.111), Pois o Senhor habita somente em lugar santo (Is 57.15; 1ª Co 3.17).
Sendo Deus Santo exige dos Seus filhos a santificação. A ideia principal de santidade é a separação dos modos ímpios do mundo e dedicação a Deus, por amor, para o seu serviço e adoração. Santidade é o alvo e o propósito da nossa eleição em Cristo (Ef 1.4); significa ser semelhante a Deus, ser dedicado a Deus e viver para agradar a Deus (Rm 12. Ef 1.4; 2.10), é ficar perto de Deus, e, de todo coração, buscar sua presença, sua justiça e sua comunhão.
Seria zombaria para Deus exigir o que Ele não proveria. Santidade seria impossível se não fosse pela graça de Deus, (Sl 51.10; Mt 5). A perfeita obra de Deus realiza uma santidade real que conforma ao padrão de Deus (Rm 8.3-4; 1ª Pe 1.15-16). O poder do Espírito na obra da santificação é operação capacitadora do Espírito Santo na vida do crente.

3.      Santidade sempre foi a prioridade de Deus para Seu povo.

“Se é que, de fato, o tendes ouvido e nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos removais no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef 4. 21-24).

Porque é à vontade de Deus.
A santificação no AT. foi a vontade de Deus para o povo israelita; eles tinham o dever de levar uma vida santificada, separada da maneira de viver dos povos à sua volta: “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel” (Êx 19.5-6).
Como parte do propósito de Deus para os israelitas ao tirá-los do Egito, eles deviam ser um reino sacerdotal (separados e consagrados ao serviço de Deus) e uma nação santa. Da mesma forma os crentes do NT, devem ser um reino de sacerdotes (1ª Pe 2.5-9). Um povo santo, separado do modo ímpio de vida do mundo e que anda nos caminhos justos de Deus e na Sua santa vontade.
“Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que vos abstenhais da prostituição; que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e honra, não com o desejo de lascívia, como os gentios que não conhecem a Deus” (1ª Ts 4.3-5).
Santificação envolve a morte do velho homem, isto é, a pessoa que você era antes da sua salvação, para que nosso corpo, que era o instrumento do poder do pecado, fosse feito ineficaz e inativo para com o mau e para que não mais sejamos escravos do rei do pecado. Mediante a obra sobrenatural de Deus, a pessoa é liberta do poder do pecado que dominava sua vida. A nova pessoa que somos em Cristo Jesus, vive em novidade de vida.
Santificação foi um quesito que Deus sempre exigiu de Seu povo, tanto no VT, quanto no NT. Alguém acha que por estarmos vivendo num período de graça, Deus tem a obrigação de tolerar um amontoado de imundícias que vem tomando conta da Sua Igreja, está muito equivocado. À vontade de Deus para Sua Igreja é que haja uma separação das coisas e maneiras más. (1ª Ts 4.3).
Santificação envolve o homem todo: espírito, alma e corpo (1ª Ts 5.23). Santificação ocorre na vida interior do homem, no seu coração; e, sendo que o homem interior está liberto e mudado, haverá mudança também na sua vida diária. O corpo é o órgão ou instrumento da alma, pelo qual as inclinações, hábitos e paixões pecaminosas se expressam. Santificação do corpo envolve o emprego dos membros como implementos de volição santas (Rm 6.12.13; Cl 3.5). Também aparece nas Escrituras que santificação afeta todo os poderes ou faculdades da alma: o entendimento (Ef 4.13; Rm 12.2; Cl 3.1-2; Jo6.45)), a vontade (Ez 36.25-27; Fp 2.13), as paixões (Gl 5.24) e no espírito, a consciência (Tt 1.15; Hb 9.14; 2ª Co 7.1).

4.      Santo significa um revestimento da plenitude de Cristo.

“Para que sejais cheios de toda a plenitude de Cristo” (Ef 3.19). A maior motivação para sermos santo é a esperança da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. A mesma vida que foi separada do mundo e entregue a Deus. A santificação plena tem de acontecer nesta vida.
Paulo ordena a Igreja em Éfeso que se tornem perfeitos e cheguem “à medida da estatura completa de Cristo” (Ef 4.13).
Na carta de Paulo aos efésios capítulo 4 verso 13, Paulo ora pela santificação plena dos crentes nesta vida. Está implícito em estarmos “arraigados e fundados em amor” e “cheios de toda a plenitude de Deus” que somos tão perfeitos em nossa medida e de acordo com nossa capacidade, segundo Deus é. Se nos mostrarmos cheios da plenitude de Deus implica em um estado de santificação plena.

5.        Porque era o propósito de Cristo.
A santidade foi o propósito de Cristo para Seu povo quando Ele veio a esta terra (Mt 1.21; 1ª Co 1.2, 30).
“Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef 5.25-27).

6.      Porque já estava nos planos de Deus.
A santidade foi o propósito de Deus para Seu povo quando Ele planejou sua salvação. “...como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fossemos santos, irrepreensíveis diante dele em caridade” (Ef 1.4).

5. Porque fomos chamados para ser santos. “À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados para ser santo, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1ª Co 1.2).

IV.   A FASE OU O ATO DA SANTIFICAÇÃO

De acordo com a Bíblia, a santificação do crente é tríplice: Posicional, progressiva e futura.
Esta fase de santificação é instantânea e tem duplo aspecto: posicional e prático ou experimental. É simultânea com nossa aceitação de Cristo como Salvador e Senhor. Os dois aspectos da santificação que estão incluídos nesta fase são muito semelhantes.

1.      Santificação posicional.
A santificação posicional, referente à posição moral, santa e perfeita em Cristo e é Deus que faz. As Escrituras ensinam que no momento em que o homem crê em Cristo, ele é “santificado”. Isto fica claro pelo fato que crentes são chamados “santos” no Novo Testamento, (1ª Co 1.2; Ef 1.1; 6.8; Cl 1.2; Hb 10.9-10, 14; Jd 3). Dos Coríntios, Paulo, explicitamente diz que “fostes santificados” (1ª Co 6.11). Em efésios ele fala do “aperfeiçoamento dos santos” (Ef 4.12), e exorta seus leitores a andar “como convém a santos” (Ef 5.3). Há certo sentido, por conseguinte, em que cada verdadeiro crente já está santificado. Mediante a oferta do corpo de Jesus Cristo, feita “uma vez por todas”, fomos separados do pecado e para Deus – “aperfeiçoados para sempre” (Hb 10.10, 14), no que concerne nossa posição perante Deus. No momento que o homem crê em Jesus como Salvador, ele é santificado posicionalmente. Envolve um ato declaratório que pronuncia a alma santa, acompanhada pela graça concomitante que liberta do poder do pecado. O mesmo ato que introduz no estado de justificação, coloca-o imediatamente na posição de santificação.

2.        Santificação progressiva.
É a santificação prática e experimental, aplicada ao viver diário do crente. Nesse aspecto, a santificação do crente pode ser aperfeiçoada (2ª Co 7.1), como o novo nascimento é exigido para o começo da vida cristã (Jo 3.3). Os crentes mencionados em Hebreus 10.10 já haviam sido santificados, e continuavam sendo santificados (vv. 10-14).
Deus quer cresçamos “na graça e no conhecimento do nosso Salvador Jesus Cristo” (2ª Pe 3.18); que cresçamos e aumentemos “no amor uns para com os outros e para com todos” (1ª Ts 3.12); e prossigamos para conquistar aquilo para o que também fomos conquistados (Fp 3.12); e como diz Paulo: “Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2ª Co 7.1); e como 2ª Co 3.18 e Ef 4.11-15 que diz: ser transformados na imagem de Cristo.
A santificação realmente é progressiva porque somos exortados a continuar progredindo cada vez mais (1ª Ts 3.12; 4.1, 9-10), nas graças da vida cristã. Existe realmente, o “aperfeiçoamento da santificação”, Os dons ministeriais à Igreja, de apóstolo, profeta, evangelista, pastores e mestres, tem o propósito de aperfeiçoar os santos na semelhança de Cristo até que, finalmente, atinjam o padrão divino (Ef 4.11-15).

3.      Santificação futura.
É Deus é quem santifica: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensível para vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1ª Ts 5.23).
Trata-se da santificação completa e final (1ª Jo 3.2) A santificação tem início no começo da salvação do crente, é progressiva com sua vida nesta terra, e atingirá o seu clímax e perfeição quando Cristo voltar buscar os Seus (conf. 1ª Ts 4.16-17). Como cristãos somos salvos da culpa e da penalidade do pecado, podemos ser libertos do poder do pecado, podemos ser aperfeiçoados em santidade aqui, mas o tempo chegará quando seremos salvos da presença do pecado. A nossa salvação da presença do pecado acontecerá (Ap 21.27), quando virmos o Senhor, ou na morte ou na Sua vinda (Hb 9.27; Jd 24; 1ª Ts 3.12-13; 1ª Jo 3.2). Não haverá mais possibilidade de pecar depois disso (Ap 2.7; 22.11). O corpo do crente também está glorificado (Fp 3.20-21; Rm 8.23-24).
A decisão determina caráter e caráter determina o destino. Se as advertências bíblicas não são suficientes, não há nada mais que Deus possa fazer. “Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se. E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras” (Ap 22.11- 12).
A escolha deliberada que os homens fazem nesta vida, fixa o destino inalterável das pessoas para a eternidade. Céu ou inferno. O caráter designará o seu destino.
Jesus exige de seus discípulos e aos homens a serem “perfeitos, como é perfeito o vosso Pai” (Mt 5.48) e a serem santos em “todo o vosso espírito, e alma, e corpo” (1ª Ts 5.23).
A igreja precisa entender que a consagração plena significa algo menos que a santificação plena ou a perfeição cristã.

V.      A SANTIFICAÇÃO É UMA OBRA DO DEUS TRINO

1. Deus Pai santifica o crente, concedendo-lhe a santificação de Cristo. “Mas vós sois dele, em Cristo Jesus, o qual se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1ª Co 1.30). Deus mostra Sua sabedoria por meio da justiça, santificação e redenção que temos em Cristo.

2. Cristo santifica o crente por ter dado sua vida por Ele. O Filho a comprou (Hb 10.10, 14; 13.12; Ef 5.25-27) e produz santidade nele (2ª Co 4.11; Jo 17.18-19; Hb 13.12; Ef 5.15-27; 1ª Jo 1.7-9).
“E a favor deles eu me santificou a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade” (Jo 17.19).

3. O Espírito Santo santifica o crente, libertando-o da “lei do pecado e da morte” (Rm 8.2); ajudando o crente a fazer morrer os feitos do corpo (Rm 8.13), e produzindo o “fruto do Espírito” (Gl 5.22-23).
Podemos ver, então, uma definição de cada Pessoa da Trindade em nossa santificação. É nosso Deus que consagra o crente para Si mesmo e o separa do pecado. Quem faz isso é o Deus Trino: Pai, Filho e Espírito Santo; cada Pessoa se incumbe com Seu papel respectivo. Resumindo, Deus Pai planejou a santificação; Deus Filho providenciou-a; Deus Espírito realiza-a.
O homem em si mesmo não pode fazer nada para se santificar (2ª Co 3.5; 5.17-18). E embora o homem seja privilegiado em cooperar com o Espírito de Deus, vamos lembrar que ele pode fazer isso somente em virtude da graça e força que o Espírito partilha com ele dia-a-dia. O desenvolvimento espiritual do homem não é então uma realização humana, mas uma obra da graça divina. O homem porém na santificação dependendo de Deus, isto é, ele trabalha porquê e porquanto o Espírito Santo trabalha nele (Rm 8.13-14; Gl 5.16-19). Portanto, cada novo impulso espiritual que o crente tem, e cada nova boa obra, é impulsionado e executado nele mediante o gracioso poder do Espírito Santo (Fp 1.6; 2.13). Embora a ação na santificação seja sobrenatural, e a habitação e operação do Espírito Santo são requeridas, não apenas para iniciar, mas para continuar o crescimento na graça, mesmo assim, Ele opera normalmente por vários meios. O homem não merece crédito nenhum porque tudo quanto ele contribui à sua santificação é ser apenas instrumento nas mãos de Deus. Paulo diz aos filipenses: “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2.13).

VI.   PARA QUE SER SANTO

1. Para ver a Deus. A santificação é para todo o crente em Cristo. As Escrituras declaram que sem a santificação ninguém verá a Deus (Hb 12.14).
Deus é santo e exige de seus filhos a santidade como Ele na verdade é santo. E sem esta santidade ninguém O verá. A santificação é o ato de preparar-se para ver a Deus. Acima de todas as coisas, a santidade é a prioridade de Deus para os Seus seguidores (Ef 4.21-22).
A palavra “seguir”, quer dizer: “procurar”, “perseguir”, como Paulo de Tarso persegui e segui os cristão. Não podemos ser relaxados em ser santos. A santidade de Deus requer a nossa santificação (1ª Pe 1.15-16).
Uma criatura não santa não tem lugar no favor e no seio de Deus santo. Santificação é o que Deus espera do crente (Rm 6.15; 1ª Co 15.3-4; 1ª Jo 2.1; 3.6; Sl 119.1-4,11; Ju 24).

2. Para ser um vaso de honra, santificado e idôneo: Para ser útil a Deus. Sem santidade, ninguém poderá ser útil a Deus: “Ora, numa grande casa não há somente utensílios de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém, para desonra. Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparado para toda boa obra” (2ª Tm 2.20-21).

3. Para anunciar as virtudes de Cristo. “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1ª Pe 2.9).
Somos uma geração eleita por Deus com a finalidade de anunciar Sua excelência, bem como seguir Seus passos e Seus exemplos deixados por Cristo Jesus.

4. Para ter intimidade com Deus. Sem santidade, ninguém terá intimidade nem comunhão com Deus: “Quem, SENHOR, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? O que vive com integridade, e pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade” (Sl 15.1-2).

VII.COMO PODEMOS OBTER A SANTIFICAÇÃO

O pecado original não é erradicado da carne, por si mesma (pois não haveria morte), nem pode ser libertar por observância de regras e regulamentos (pois a lei não santifica - Legalismo) e não pode tentar subjugar a carne por privações e sofrimentos. A santificação somente acontece após o novo nascimento.

1. É Deus é quem santifica. “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensível para vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1ª Ts 5.23).

2. Somos santificados observando a Palavra de Deus. “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). “Para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra” (Ef 5.26). “Vós já estais limpo pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15.3).
A santificação só é possível mediante a obediência integra a Santa Palavra do Senhor.

3. Somos santificados pela Palavra e a oração. “Porque pela palavra de Deus e pela oração é santificado” (1ª Tm 4.5).
A Palavra de Deus serve para nos orientar o caminho certo, nos purificar, lavar e santificar o nosso espírito, alma e corpo para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.
A santificação não vem pelos sacrifícios, mas unicamente pela Palavra. Nem mesmo o jejum tem este poder.
A verdade em si mesma, certamente não tem nenhuma eficiência adequada para santificar o crente, mas o Espírito Santo pode usá-la em nossas vidas. As Escrituras revelam o estado do coração e mostram o remédio para as falhas. As Escrituras servem para incentivar a atividade espiritual por apresentar motivos e dar direção através de proibições, exortações e exemplos.
Mediante o conhecimento da verdade e uma entrega definitiva da vida para Deus constitui a condição suprema para a santificação prática. É Deus que precisa fazer o homem santo. Se o homem quer ser santo, ele deve oferecer a si mesmo a Deus, para que este possa realizar esta obra nele.

4. Somos santificados pelo sangue de Jesus. “Por isso, foi que também Jesus, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta” (Hb 13.12).

5. Somos santificados pelo poder regenerador do Espírito Santo. “Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas” (1ª Pe 1.2). “...porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito Santo” (2ª Ts b).
Somos eleitos, ou seja, escolhido por Deus para vivermos uma vida santifica no Espírito. Fomos lavados, santificados e justificados, em nome de Jesus Cristo e no Espírito Santo de Deus, (1ª Co 6.11). Pregando a Palavra de Deus, seremos agradáveis e santificados pelo Espírito Santo de Deus, (Rm 15.16). É o Espírito Santo de Deus que realiza em nós a santificação, que purifica do pecado nossa alma e nosso espírito, que renova em nós a imagem de Cristo e que nos capacita, pela comunicação da graça, a obedecer a Deus segundo a Sua Palavra (Gl 5.16, 22, 23, 25).

6. Os filhos de Deus são Santificados mediante a fé.
Fé na obra redentora de Cristo é a causa mediadora ou condicional de santificação. Aquele que crê em Cristo é santificado posicionalmente, pois Cristo é naquele momento feito para ele santificação (1ª Co 1.30). Mas também é mediante a fé que o crente torna-se na experiência e na prática separado do poder do pecado para Deus (At 26.18; 15.9; Hb 13.12-13; Gl 6.14; Cl 2.12). Devemos lembrar que o objeto da nossa fé é Cristo Jesus. Santificação não começa olhando por dentro, mas por estar em Cristo e olhando para Ele.
O homem não se torna santificado em experiência nem cresce em santificação por fazer esforço para experimentar ou crescer, mas colocar a si mesmo nas condições de crescimento, por viver e permanecer em Cristo. A lua não faz esforço para brilhar, nem poder em si mesma para brilhar. Ela brilha somente por refletir a luz do sol. À medida que permanecemos em Cristo, reconhecemos o que temos nele e confiando nele, refletimos Cristo em nossa vida.
A Bíblia não ensina que um grau mais alto de fé é necessário para santificação do que justificação. A fé envolve temor a Deus e a Sua Palavra sem duvidar ou raciocinar. É fé independente de todo o sentimento e desapegado de qualquer outra dependência senão só de Cristo.
Na comissão divina do apóstolo Paulo extraímos um grande exemplo de santificação pela fé: “Para lhes abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus, a fim de que recebam eles remissão de pecados e herança entre os que são santificados pela fé em mim” (At 26.18).
Este versículo é uma declaração típica feita pelo Senhor Jesus daquilo que Ele quer realizar através da pregação do Evangelho.
Jesus veio a este mundo “para abrir os olhos dos cegos”. Satanás cegou a mente dos perdidos para não verem a realidade da sua condição de perdidos que perecem, nem a verdade de Cristo Jesus, no poder do Espírito Santo, seu entendimento será aberto (2ª Co 4.5; Ef 1.18).

6.1. “Os converteres...”. Satanás é o governante deste mundo, e todos que não têm Cristo estão sujeitos ao controle de Satanás e escravizados pelo seu poder. O espírito de Satanás age em todos os pecadores, ou seja, nos filhos da desobediência (Ef 2.2). A proclamação do evangelho, no poder do Espírito Santo, libertará homens e mulheres do poder de Satanás e os colocará no reino de Cristo (Cl 1.13; 1ª Pe 2.9). “A fim de que recebam a remissão dos pecados”. O perdão de Deus vem mediante a fé em Cristo, firmada nos méritos da Sua morte sacrificial na cruz.

6.2. “Santificados pela fé”. Aquele que é perdoado, liberto do domínio do pecado e de Satanás, está separado do mundo e agora vive para Deus, na comunhão com todos os demais salvos pela fé em Cristo.

VIII.       ESTORVOS À SANTIFICAÇÃO DO CRENTE

Estorvos são embaraços que impedem o cristão de viver em santidade. Vejamos alguns:
1.      Desobediência.
Desobedecer de modo consciente, continuo e obstinadamente à conhecida vontade do Senhor (Êx 19.5-6).

2.      Comunhão com as trevas.
Comungar com as obras infrutíferas das trevas (Rm 13.12); com os ímpios, seus costumes mundanos e suas falsas doutrinas (Ef 5.3; 2ª Co 6.14-17).

3.      Erros a respeito da santificação.
O pecador não percebe sua necessidade de santificação. Sua culpa e condenação no começo ocupam sua atenção, somente mais tarde ele vem a ver sua necessidade. Mas se o pecador convertido não tiver um discipulado eficiente, poderá portanto, mais tarde, caracterizar sua santificação com as tradições e regaras humanas. Erros a respeito da santificação, poderão portanto, confundir qualquer cristão imaturo e com isto vir a cair da graça (Gl 1.6-7). O próprio Pedro enganou-se a respeito da santificação (At 10.10-15). Vejamos o que não é santificação bíblica:

3.1. Exterioridade (Mt 23.25-28). Usos, práticas e costumes. Este último, quando bom, deve ser o efeito da santificação, e não a causa (Ef 2.10).
Grande parte dos pentecostais atribuem tradições legadas dos pais (usos e costumes), como meio de santificação. Há líderes que ensinam sua igreja dizendo que pecar é transgredir as tradições e regras da igreja. Portanto o próprio Jesus combateu estes ensinos (Mt 15.1-8). Os costumes são hábitos criados pelos homens, podendo ser mau ou bom dependendo como ele usa.
As diferenças no ensino de hoje, faz necessário também que olhemos cuidadosamente o ensino das Escrituras concernentes a esta doutrina. Não devemos adaptar a doutrina à luz de nossa vida, mas sim, ajustar nossa vida à doutrina.
Santificação é uma obra sobrenatural de Deus realizada por Sua graça e amor para com aquele que buscam um dia estar com Deus. Ela não é portanto, uma mera reforma moral feita por motivo de consciência, da opinião dos outros, nem de auto interesse, nem de autodisciplina, nem de auto esforço, nem poder da vontade nem pelos recursos humanos. Esta reforma externa simplesmente deixa o caráter interior, diante de Deus, inalterado. É Deus o autor da obra sobre natural de santificação e não o homem. É algo feito por Ele, não algo que nós fazemos (Ef 5.26; Tt 2,14).


3.2. Maturidade cristã. Não pelo tempo que algo se torna limpo, mas pela ação continua da limpeza. A maturidade cristã varia, como se vê em 1ª Jo 2.12-13: “Filhinhos”; “pais”; “jovens”.

Pr. Elias Ribas