TEOLOGIA EM FOCO: agosto 2020

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

OS FALSOS PROFETAS NOS DIAS DE NEEMIAS



LEITURA BÍBLICA

Neemias 6.10-14 “E, entrando eu em casa de Semaías, filho de Delaias, o filho de Meetabel (que estava encerrado), disse ele: Vamos juntamente à Casa de Deus, ao meio do templo, e fechemos as portas do templo; porque virão matar-te; sim, de noite virão matar-te. 11 - Porém eu disse: Um homem, como eu, fugiria? E quem há, como eu, que entre no templo e viva? De maneira nenhuma entrarei. 12 - E conheci que eis que não era Deus quem o enviara; mas essa profecia falou contra mim, porquanto Tobias e Sambalate o subornaram. 13 - Para isso o subornaram, para me atemorizar, e para que eu assim fizesse e pecasse, para que tivessem alguma causa a fim de me infamarem e assim me vituperarem. 14 - Lembra-te, meu Deus, de Tobias e de Sambalate, conforme estas suas obras, e também da profetisa Noadias e dos mais profetas que procuraram atemorizar-me.

1ª Tessalonicenses 5.20-21 “Não desprezeis as profecias. 21 - Examinai tudo. Retende o bem.”

1ª Coríntios 14.29 “E falem dois ou três profetas, e os outros julguem.”

INTRODUÇÃO

Nesta lição, veremos como se deu as estratégias dos inimigos do povo de Deus para bloquear a obra do Senhor; pontuaremos quais as respostas de Neemias as novas investidas dos inimigos; notaremos como saber se uma profecia é verdadeira ou falsa; e por fim, estudaremos a verdadeira função da profecia a luz da Bíblia.

Há espírito de erro atualmente. Ele se manifesta fragrantemente para desestabilizar a saúde espiritual da igreja local. Por isso carecemos do auxílio do Espírito Santo para reconhecer a verdadeira voz de Deus em diversas ocasiões em que participarmos. Devemos estar sempre em vigilância espiritual, não podemos ser levados pelas operações de erros, pois no mundo espiritual, isso pode ser um prejuízo fatal com implicações graves na vida material. Portanto, que estejamos em vigilância e oração. Que o Senhor Jesus, com o auxílio do seu Espírito Santo, nos ajude a estar atentos e despertados.

I. CUIDADO COM OS FALSOS PROFETAS!

1. Os samaritanos observaram que os judeus davam muito valor à palavra dos profetas. Lembravam-se dos profetas Ageu e Zacarias, os quais profetizavam com tanta graça que a construção do templo, que havia estado parada por quinze anos, recomeçou imediatamente, e continuou até a inauguração da casa de Deus. Por ocasião da construção do muro, a comunicação entre judeus e samaritanos estava interrompida. Os judeus recusavam as propostas de cooperação dos samaritanos e não aceitavam as visitas deles. Em vista das constantes recusas das suas ofertas de amizade, os samaritanos procuraram então influenciá-los por meio de profecias. Tobias e Sambalate conseguiram subornar alguns profetas, entre eles a profetisa Noadias, a fim de atemorizar Neemias, dizendo que ele estava em perigo de morte, e deveria fugir para dentro do templo, para assim salvar sua vida (Ne 6.10-14). O exemplo deixado por Balaão prova que qualquer profeta que aceita suborno, ou recebe dinheiro para profetizar, é um falso profeta. Devemos ter cuidado, a fim de que os falsos profetas não encontrem guarida em nossas igrejas.

2. Neemias tinha o dever de examinar a profecia recebida. E ele o fazia! Em primeiro lugar, estranhou a ordem para fugir: “Um homem como eu fugiria?”. Além disso, ele observou que não tinha o direito de entrar no templo, uma vez que não era sacerdote. Compreendeu facilmente que tudo não passava de um ardil de Tobias e Sambalate, para atemorizá-lo e seduzi-lo a pecar. Assim, concluído o exame da profecia, Neemias pôde dizer: “Conheci que não era de Deus” (Ne 6.12).

A palavra dos profetas era valorizada em Judá. Nesse sentido. Neemias tinha o dever de examinar a profecia recebida.

II. A BÍBLIA REVELA A EXISTÊNCIA DOS FALSOS PROFETAS

1. No Antigo Testamento.

1.1. O trágico exemplo relatado em 1º Reis 13. Um fervoroso homem de Deus, procedente de Judá, profetizou com muita coragem advertindo o ímpio rei de Israel, que estava junto do altar queimando incenso. Ele disse: “Altar, altar! Assim diz o SENHOR: Eis que um filho nascerá à casa de Davi, cujo nome será Josias, o qual sacrificará sobre ti os sacerdotes dos altos que queimam sobre ti incenso, e ossos de homens se queimarão sobre ti” (v. 2). E deu um sinal de que aquela palavra era do Senhor: “Eis que o altar se fenderá, e a cinza … se derramará” (1º Rs 13.3).

Ouvindo o rei aquela palavra, estendeu a sua mão sobre o altar ordenando que prendessem o homem de Deus. Todavia a mão que ele estendeu contra o profeta secou-se, e não a podia tornar a trazer a si. O altar se fendeu, e a cinza se derramou, como o profeta havia dito. A pedido do rei, o profeta orou a Deus e a mão lhe foi restituída sã. A ordem de Deus para o profeta era que não comesse pão e nem bebesse água naquele lugar, e que não voltasse pelo mesmo caminho (1º Rs 13.9). Havia, porém, naquele lugar um velho profeta, cujo filho lhe contou o que fizera o profeta vindo de Judá. O velho profeta foi ao encontro do homem de Deus, e convidou-o para comer pão. Ante a recusa do homem de Deus, o velho profeta argumentou que um anjo lhe havia falado; ordenando que convidasse o profeta de Judá a voltar, para comer pão em sua casa (1º Rs 13.11-15). O homem de Deus não discerniu a mentira e aceitou o convite do velho profeta. E sucedeu que quando ele estava comendo pão, Deus tomou o velho profeta em profecia e disse: “Visto que foste rebelde à boca do SENHOR, … antes, voltaste, e comeste pão, … o teu cadáver não entrará no sepulcro de teus pais” (1º Rs 13.21,22). Depois de ter comido pão, voltou, e no caminho um leão o matou, deixando-o prostrado na estrada (1º Rs 13.23,24). O velho profeta o recolheu, e sepultou-o no seu sepulcro, chorando lágrimas, certamente de fingimento (1º Rs 13.26-28).

1.2. Nos dias de Jeremias havia falsos profetas, os quais com suas profecias combatiam a palavra que Deus havia enviado a Israel, por meio de Jeremias (Jr 29.21-23).

1.3. Quando o rei Josafá, de Judá, visitou o rei Acabe, de Israel, este tinha um grande número de profetas que profetizavam segundo a vontade de Acabe. Então o rei Josafá perguntou: “Não há aqui ainda algum PROFETA DO SENHOR? E o rei Acabe respondeu que havia o profeta Micaías. Os que foram buscá-lo disseram-lhe: “Vês aqui que as palavras dos profetas, a uma voz, predizem coisas boas para o rei; seja, pois, a tua palavra como a palavra de um deles, e fala bem”. Então disse Micaías: “O que o Senhor me disser isto falarei”. Como Micaías profetizou, assim aconteceu: Acabe morreu na batalha (1º Rs 22.5-28,35-37).

1.4. Ainda nos dias de Jeremias, falsos profetas conseguiram influenciar alguns dos sacerdotes e enganar o povo, por meio deles (Jr 5.31). Dessa maneira, o povo desviava-se dos caminhos de Deus, e recusava-se a ouvir as verdadeiras anunciadas por Jeremias. Moisés, Jeremias e Ezequiel combateram tenazmente os falsos profetas e seus ensinos heréticos (Dt 13.1-18; 18.20-22; Jr 23.11-32; 28.6-17; Ez 13.1-18).

2. No Novo Testamento.

2.1. Jezabel. Jesus advertiu o anjo da Igreja em Tiatira, por este ter permitido que uma mulher, por nome Jezabel, falsa profetisa, ensinasse e enganasse os membros daquela igreja, prostituindo-os (Ap 2.20-23).

2.2. A Bíblia adverte que nos últimos tempos aparecerão falsos profetas (Mt 24.11,24). O espírito do Anticristo estará então operando grandemente (1ª Jo 2.18; 4.2,3), e fará esses falsos profetas operarem sinais e prodígios de mentira, com todo engano e injustiça (2ª Ts 2.9,10).

Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, a Bíblia revela a existência de falsos profetas. É preciso discernimento espiritual para não cair no engano.

III. DEVEMOS JULGAR AS PROFECIAS

1. Deus quer a sua Igreja revestida com todos os dons do Espírito Santo. A igreja em Corinto deve ser o nosso exemplo neste sentido: Paulo dirigiu-se a ela dizendo que nenhum dom lhe faltava (1ª Co 1.7). O conselho bíblico para nós é: “Segui o amor, e procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente o de profetizar” (1ª Co 14.1).

2. O despertamento renova os dons. Quando Deus renova o dom de profecia e os dons de variedade de línguas e interpretação, por meio de um despertamento espiritual, então se torna necessário que a igreja esteja bem doutrinada para saber como usar os dons espirituais, e também como se deve julgar as profecias, conforme a Palavra de Deus nos orienta! (1ª Ts 5.19). Nenhuma mensagem tida como profética está isenta de exame por parte da igreja. Conforme o ensino do apóstolo Paulo, na referência supracitada, temos o direito e o dever de julgar as profecias, para ver se elas estão de acordo com as Escrituras. Se não estiverem, são consideradas anátema, pois têm o objetivo de conduzir o povo de Deus ao erro. Fujamos das falsas profecias e dos falsos profetas.

Devemos julgar a mensagem profética, pois nenhuma está isenta de exame por parte da igreja.

3. Os dons são dados continuamente, segundo nossa medida de fé (e não uma vez por todas).

3.1. Devemos exercer o nosso ministério proporcionalmente à nossa fé.

3.2. Devemos manter atitudes certas: contribuir com generosidade, orientar com diligência e ter alegria em demonstrar misericórdia.

3.3. Embora exerçamos um dom até à sua próxima capacidade, tudo será fútil sem o amor. Evidentemente, temos apenas o conhecimento parcial, e é só o que conseguimos compartilhar.

Os dons devem ser testados; devem estar sujeitos aos mandamentos do Senhor. O enfoque é o amadurecimento da igreja, e não a grandeza do dom. Estas verdades devem nos levar à humildade, à estima por Deus e pelo próximo e à zelosa disposição de obedecer a Ele” [NORTON, Stanley (Ed.) Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. RJ: CPAD, 2006, pp.476,477].

IV. POR QUE DEVEMOS JULGAR AS PROFECIAS?

1. Porque a Palavra de Deus nos manda julgá-las (1ª Ts 5.19-21; 1ª Co 14.29).

2. Porque os que profetizam são sujeitos a falhas. Mesmo que a mensagem venha de Deus, pode acontecer que o instrumento esteja sem o fruto do Espírito na sua vida, e a transmissão da mensagem seja prejudicada por esta causa (1ª Co 13.1-3).

3. Porque pode haver conhecimento prévio dos fatos. Quando o que profetiza conhece os problemas da pessoa para quem está profetizando, pode haver o perigo de que a sua opinião pessoal venha a influenciar o conteúdo da mensagem. A Bíblia diz: “Que tem a palha com o trigo?” (Jr 23.28). A mensagem pode ser um produto da opinião daquele que profetiza. Temos na Bíblia um exemplo, quando o profeta Natã, entregou, por conta própria, uma “mensagem profética” ao rei Davi (2º Sm 7.2), porém Deus mandou que ele corrigisse a palavra dada (2º Sm 7.4-6).

4. Pode o profeta ser influenciado por um espírito maligno? Existe a possibilidade de que o “profeta”, ao enunciar a “mensagem profética”, esteja sendo influenciado por um espírito maligno, disseminador de mentiras. Lemos sobre isto em 1º Rs 22.7,11,19,21-23.

Devemos julgar as profecias porque a Palavra de Deus mostra que os que profetizam são sujeitos a falha, podem ter conhecimento prévios dos fatos ou estarem sob influência maligna.

V. COMO DEVEMOS JULGAR AS PROFECIAS?

1. Examinando as Escrituras. Uma profecia jamais pode estar em conflito com a Palavra de Deus. A Palavra de Deus é o PRUMO (Am 7.7,8). A Palavra de Deus é perfeita (Sl 19.7). Uma mensagem que estiver em desacordo com a Palavra de Deus, seja ela transmitida por quem for, até por um anjo do céu, está reprovada e deve ser rejeitada, pois é anátema (Gl 1.8).

2. Através do dom de discernimento de espíritos. A Bíblia diz que “O que é espiritual discerne bem tudo”. Devemos buscar, incansavelmente, receber de Deus este dom (1ª Co 2.15; Jo 7.17; Fp 1.10; Lc 12.57).

Quando uma profecia é inspirada por Deus, aquele que tem discernimento logo a reconhece (1ª Jo 1.5). Todo aquele que “anda na luz, como Ele na luz está” conhece e pratica a sua Palavra, e tem comunhão uns com os outros (1ª Jo 1.7). Desse modo, o espírito de mentira não o engana com suas falsas profecias. O crente, que é uma ovelha do Senhor, conhece sempre a voz do seu pastor (Jo 10.4). A noiva conhece a voz do seu amado (Ct 2.8; 5.2).

3. A profecia se conhece pelo seu “sabor” (Jó 6.6,7; 12.11). Também o “sotaque” de quem fala, faz com que “o filho da terra” conheça quando um “estrangeiro” fala. Compare “sibolet” e “chibolet” (Jz 12.6). Finalmente, os que são perfeitos têm, em razão de costume, os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal (Hb 5.14).

Podemos julgar a profecia por meio das Escrituras Sagradas e do dom de discernimento de espíritos

4. Como era possível distinguir o verdadeiro do falso profeta no Antigo Testamento? O capítulo 8 de Deuteronômio foi um recurso revelado por Deus ao povo, por intermédio de Moisés, a fim de se estabelecer algumas diretrizes para identificar o falso profeta. Podemos aprender com elas também:

4.1. O verdadeiro profeta falava em nome do Senhor dos Exércitos. Aliás, era costume dos profetas em Israel iniciar suas mensagens desta forma: “Assim diz o Senhor dos Exércitos”. Embora nem sempre os verdadeiros profetas usassem esta fórmula, esta caracterizava o verdadeiro profeta. Daniel, por exemplo, não a usou; isto, porém, não lhe descaracteriza a profecia.

4.2. As palavras enunciadas pelos profetas deveriam estar em conformidade com a Palavra de Deus. Caso contrário, o mensageiro seria execrado da comunidade de Israel. Em Isaías 8.20, lemos que todos deveriam se ater à Lei e ao Testemunho. E, se não falassem de acordo com estas palavras jamais veriam a alva.

4.3. As profecias teriam que ter. necessariamente, um cabal cumprimento. Caso contrário: seriam descaracterizadas como palavras de Deus. Note bem: o cumprimento profético não poderia ter um cumprimento casuístico nem circunstancial, como acontece hoje em muitas igrejas. O cumprimento deveria ser atestado por todo o povo de Deus.

4.4. Se o profeta tentasse levar os israelitas ao erro, seria considerado imediatamente um impostor. E jamais haveria de achar lugar entre os eleitos. Alguns, de fato, mostravam-se seguidores de Jeová. No entanto, não passavam de filhos de Belial: não somente induziram os israelitas ao erro, como também nos levavam à derrocada nacional.

Embora vivamos noutra dispensação, as mesmas regras continuam válidas para aferirmos a autenticidade dos mensageiros do Senhor. Afinal, como afirma o apóstolo Paulo, tudo quanto foi escrito, para nossa instrução foi escrito. Se nos dedicarmos mais ao estudo das Sagradas Escrituras, não seremos tão facilmente enganados. Infelizmente, muitas igrejas, hoje, são ludibriadas porque não têm mais as Sagradas Escrituras como a sua única regra de fé e conduta [Texto adaptado da revista Lições Bíblicas: Maturidade Cristã, Jovem e Adultos (Professor). RJ, CPAD, 1993, pp. 3 2,33].

CONCLUSÃO

1. Quando as profecias são provadas, o conceito e a consideração dos dons espirituais são conservados. Deste modo, a sã doutrina é preservada de qualquer influência e erros humanos, e o Espírito Santo tem liberdade de usar os seus servos, conforme a sua soberana vontade.

2. Quando provamos as profecias, estamos em condições de corrigir e doutrinar a pessoa que usou erradamente o dom de profecias. Assim, doutra vez, ele dará lugar ao Espírito Santo e irá usar o dom profético de modo correto.

3. Quando provamos as profecias recebemos as bênçãos que Deus, por meio delas, quer nos dar. Ficamos com o bom e rejeitamos o que não veio de Deus (1ª Ts 5.21).

FONTE DE PESQUISA

1. APOLÔNIO José. Lições Bíblicas: Maturidade Cristã. CPAD, 1993. Rio de Janeiro RJ.

2. BERGSTÉN Eurico. Lições bíblicas 3° trimestre 2020. Como vencer as oposições à obra de Deus. CPAD – Rio de Janeiro RJ.

3. NORTON, Stanley (Ed.) Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. RJ: CPAD - 2006, Rio de Janeiro RJ.

PROVAI SE OS ESPÍRITOS SÃO DE DEUS

 


LEITURA BÍBLICA

Neemias 6.10-14 “E, entrando eu em casa de Semaías, filho de Delaias, o filho de Meetabel (que estava encerrado), disse ele: Vamos juntamente à Casa de Deus, ao meio do templo, e fechemos as portas do templo; porque virão matar-te; sim, de noite virão matar-te. 11 - Porém eu disse: Um homem, como eu, fugiria? E quem há, como eu, que entre no templo e viva? De maneira nenhuma entrarei. 12 - E conheci que eis que não era Deus quem o enviara; mas essa profecia falou contra mim, porquanto Tobias e Sambalate o subornaram. 13 - Para isso o subornaram, para me atemorizar, e para que eu assim fizesse e pecasse, para que tivessem alguma causa a fim de me infamarem e assim me vituperarem. 14 - Lembra-te, meu Deus, de Tobias e de Sambalate, conforme estas suas obras, e também da profetisa Noadias e dos mais profetas que procuraram atemorizar-me.

INTRODUÇÃO

Nesta lição, veremos como se deu as estratégias dos inimigos do povo de Deus para bloquear a obra do Senhor; pontuaremos quais as respostas de Neemias as novas investidas dos inimigos; notaremos como saber se uma profecia é verdadeira ou falsa; e por fim, estudaremos a verdadeira função da profecia a luz da Bíblia.

I. ESTRATÉGIAS DOS INIMIGOS DO POVO DE DEUS

Sob a liderança competente de Neemias, o povo completou a reconstrução dos muros (Ne 6.15). Restava apenas restaurar as portas e fortalecer a comunidade cercada pelos muros. Uma vez que Sambalate e seus amigos haviam fracassado completamente em suas tentativas de impedir que o povo trabalhasse (Ne 6.16), decidiram concentrar seus ataques em Neemias. Vejamos agora as novas estratégias dos inimigos do povo de Deus:

1. Falsidade (Ne 6.1-3). O convite de Sambalate para “congregar-se” com Neemias feria os princípios já estabelecido por Ele (Ne 2.20). Uma reforma espiritual estava a caminho, renunciar a este princípio destruiria o aspecto moral da reforma (Ne 9.2; 10.28; 13.3). Seu objetivo real era fazer mal a Neemias (v. 2b) e fazê-lo cair em contradição.

2. Insistência (Ne 6.4). A insistência em chamá-lo quatro vezes demonstra que eles estavam tentando minar a resistência de Neemias para tentá-lo a mudar de ideia.

3. Mentiras (Ne 6.5-9). É interessante observar como, em várias ocasiões, os inimigos usaram cartas em seus ataques às obras (Ne 6.5,17,19). Uma “carta aberta” para um governador real era, ao mesmo tempo, uma forma de intimidação e um insulto [WIERSBE, 2012, p. 646]. A carta cheia de acusações contra Neemias nos mostra o qual baixo o inimigo pode chegar para tentar minar a obra (Ne 6.8).

4. Ameaças de morte (Ne 6.10). Como usar de artimanhas não havia funcionado o projeto mudou para as ameaças. Um falso profeta por nome de Semaías tentou convencer Neemias a se esconder no templo, porque o plano do inimigo era matá-lo.

5. Profecias falsas que incentivavam ao erro (Ne 6.12-14). O convite do falso profeta era para que Neemias fosse se esconder no templo, algo que era proibido pela Lei: “O estranho que se aproximar morrerá” (Nm 18.7). Alguns séculos antes o rei Uzias havia feito isso e sofrerá grandes consequências (2º Cr 26.16-23).

II. AS RESPOSTAS DE NEEMIAS AS NOVAS INVESTIDAS DOS INIMIGOS

Podemos confiar em Deus para fazer a sua obra (Sl 21.7; Sl 125.1; Pv 29.25; Ne 1.7). Ele nos equipou com armas espirituais para vencer qualquer tipo de batalha: “Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue ...” (Ef 6.12). O povo de Deus é equipado com as armas de defesa e combate, e Neemias as usou com sabedoria. Vejamos agora as respostas de Neemias as novas investidas dos inimigos da obra de Deus:

1. Percepção espiritual (Ne 6.2). Neemias compreendeu que o convite tinha apenas um proposito; fazer-lhe mal. Que possamos pedir a Deus para enxergarmos além das palavras.

2. Responsabilidade com a obra (Ne 6.3). Neemias não se via fora de Jerusalém, o convite era para ir ao Vale de Ono, cerca de 32 quilômetros ao norte de Jerusalém, perto de Lida, ou Lode [KIDNER, 2011, p. 107]. Por que ir tão longe se o chamado era para restaurar Jerusalém? Neemias não desceu ao nível dos adversários, preferiu continuar fazendo a obra.

3. Consistência e coerência (Ne 6.4). Neemias possuía tanto discernimento quanto determinação; ele recusou-se a ser influenciado por suas ofertas repetidas (Ne 4.12). Se aquela oferta não era certa da primeira vez, continuaria sendo errada na quarta ou na quinta vez, e não havia motivo algum para reconsiderá-la. As decisões que se baseiam somente em opiniões podem ser reconsideradas, mas decisões que se baseiam em convicções devem ser mantidas [WIERSBE, 2012, p. 645].

4. Oração (Ne 6.9). Batalhas espiritais só podem ser vencidas através da oração (Mt 17.21). Neemias sabia disso, seu ministério baseava-se em oração desde o início (Ne 1.4; 2.4; 6.9). Que possamos ter em mente esse princípio, nossas guerras serão vencidas em oração. “O que a Igreja necessita não é de novos métodos [...] é de homens de oração, homens poderosos na oração” (BOUNDS, 2010, p. 8).

5. Conhecimento da Palavra (Ne 6.13). O seu conhecimento da Lei do Senhor, e do Senhor da Lei lhe deu condições de identificar uma falsa profecia (Pv 2.1-14; Ef 4.14,15). Neemias conhecia os riscos de se entrar na casa do Senhor sem ser comissionado para isso. Seu conhecimento da Palavra o livrou de pecar e de perder sua autoridade sobre seu povo. Precisamos cada vez mais conhecer a Deus e sua Palavra (Dt 6.6-9; Js 1.8; Sl 1.2; Sl 119.78; Os 6.3; 1ª Tm 4.15).

6. Temor a Deus e discernimento (Ne 6.13). Neemias ainda prosseguiu na sua resposta à Semaias, dizendo: “… E quem há, como eu, que entre no templo e viva? De maneira nenhuma entrarei” (Ne 6.13). Neemias desconfiou daquele falso profeta, pois sabia que o acesso ao templo era restrito aos levitas e sacerdotes. O agravante é que não era apenas um falso profeta, mas vários (Ne 6.14). Neemias estava rodeado de traidores, que se deixavam vender por dinheiro (Ne 6.12-14, 17-19). Eram profetas da qualidade de Balaão (Jd 11) e amigos da estirpe de Judas Iscariotes (Mt 26.14-16), mas Deus deu discernimento espiritual ao seu servo e ele não foi tragado pelos inimigos. Deus frustrara todas as investidas dos adversários de Neemias e da obra do Senhor. De igual modo, o Senhor haverá de frustrar toda e qualquer tentativa do Maligno contra a Igreja do Senhor (Mt 16.18) e contra os seus servos em particular, pois estamos munidos das armas espirituais (2ª Co 10.4; Ef 6.10-17).

III. COMO SABER SE UMA PROFECIA É VERDADEIRA OU FALSA

A Bíblia revela que há três procedências das profecias, a saber: o espírito imundo e mentiroso (Is 8.19; Mt 8.29; At 16.16-18); o espírito humano (1ª Cr 17.1-4; Jr 23.21,25,28; Ez 13.1-8); ou o Espírito Santo (1ª Co 12.7-11). Ou seja, as profecias podem vir de três fontes: de Deus, da mente humana, ou do diabo; obviamente, nem toda profecia vem de Deus, ou o apóstolo João não teria escrito: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito: antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo afora” (1ª Jo 4.1). A forma mais segura na avaliação de uma profecia consiste na coerência com os mandamentos bíblicos. As Escrituras nos mostram como se dá esta coerência.

1. A profecia tem que estar de acordo com os preceitos bíblicos. Os frutos são conforme a espécie da árvore: “Por seus frutos os conhecereis. Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?” (Mt 7.16). Jesus está dizendo que a videira só pode dar uva, que a figueira só pode dar figo, e assim por diante. A igreja não deve ter como infalível toda profecia, porque muitos falsos profetas estarão na igreja (1ª Jo 4.1). Ela deverá enquadrar-se na Palavra de Deus (1ª Jo 4.1), e contribuir para a santidade de vida dos ouvintes e ser transmitida por alguém que de fato vive submisso e obediente a Cristo (1ª Co 12.3).

2. O cumprimento de uma profecia não é, por si só, suficiente para autenticá-la como de origem divina. Além da coerência e do cumprimento da profecia existem outros critérios para avaliação da profecia que merecem relevância. A profecia não pode: utilizar meios de adivinhação (Mq 5.12); envolver médiuns ou feiticeiros (Ml 3.5), negar a divindade de Cristo, e nem promover a imoralidade (Lv 19.2). “Quando o profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti e te der um sinal ou prodígio, e suceder ...” (Dt 13.2). Se o evento acontecer como foi profetizado e o profeta induzir o povo a adorar outros deuses, a recomendação do Senhor é: “…não ouvirás as palavras daquele profeta...” (Dt 13.3). Quando isto acontece, é Deus quem permite para provar se o povo d’Ele ama-O de todo coração.

IV. A VERDADEIRA FUNÇÃO DA PROFECIA A LUZ DA BÍBLIA

O engano produzido pelos falsos profetas do grego “pseudo prophetes” não é um assunto novo. A Bíblia tratou do assunto ao falar com os filhos de Israel (Dt 18 20-22; 1Sm 3.19; Jr 9.28-32; Dt 13.5). Os falsos profetas eram aqueles que rediziam paz, prosperidade, e segurança para o povo, quando este achava-se em pecado diante de Deus (Jr 15.15; 20.1-6; 26.8-11; Am 5.10). No Novo Testamento os profetas e a profecia podem ser julgados ou avaliados pela igreja (1ª Co 14.29,32; 1ª Ts 5.20,21). O propósito da profecia é “edificar, exortar e confortar” (1ª Co 14.3). Edificar é melhorar ou fortalecer, exortar é encorajar, e confortar é consolar, sendo assim a verdadeira profecia:

1. Produz liberdade, e não escravidão. Em Romanos 8.15 o apóstolo Paulo nos diz: “Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai” A verdadeira profecia trará liberdade, não escravidão. Qualquer forma de controle sobre outra pessoa por intimidação, manipulação, ou domínio não vem de Deus.

2. Produz um verdadeiro avivamento. Quando inspirada pelo Espírito Santo, a profecia traz vida espiritual à reunião dos crentes. Se uma profecia vem para transtornar a adoração, não é de Deus (2ª Ts 2.2). A mensagem profética pode desmascarar a condição do coração de uma pessoa (1ª Co 14.25), ou prover edificação, exortação, consolo, advertência e julgamento (1ª Co 14.3, 25,26, 31).

3. Tem o testemunho veraz do Espírito Santo. No AT existia o “ministério profético”, já no NT profetizar trata-se de um “dom” que capacita o crente a transmitir uma palavra ou revelação diretamente de Deus, sob o impulso do Espírito Santo (At 11.27,28; 1ª Co 12.10, 28,29; 14.24,25, 29-31). Tanto no AT, como no NT, profetizar não é primariamente predizer o futuro, mas proclamar a vontade de Deus, exortar e levar o seu povo à retidão, à fidelidade e à paciência (1ª Co 14.3). O apóstolo João nos mostra: “Este é aquele que veio por água e sangue, isto é, Jesus Cristo; não só por água, mas por água e por sangue. E o Espírito é o que testifica, porque o Espírito é a verdade” (1ª Jo 5.6-b).

4. A profecia manifesta-se segundo a vontade de Deus e não a do homem. Não há no NT um só texto mostrando que a igreja de então buscava revelação ou orientação através dos profetas. A mensagem profética ocorria na igreja somente quando Deus tomava o profeta para isso (1ª Co 12.11). Pode-se dizer que nenhuma “profecia” excederá aos limites da Palavra, mas pode contribuir bastante para interpretar tais verdades, além de abordar necessidades específicas da Igreja local, envolvendo questões de ensino e questões morais, que pessoas sem esse dom não saberiam resolver com sucesso.

CONCLUSÃO

Aprendemos nesta lição que todo aquele que foi chamado por Deus enfrentará grandes batalhas para levar a cabo a vontade de Deus e que para tal, precisará viver uma vida de discernimento espiritual. Sem sombras de dúvidas o Espirito Santo irá capacitá-lo para enfrentar tais adversidades, mas compete a cada um de nós uma vida de oração, conhecimento de Deus e vigilância para assim concluir a boa obra que Ele o Senhor nos entregou.

FONTE DE PESQUISA

1. ELLISEN, Stanley. Conheça Melhor o Antigo Testamento. VIDA.

2. KIDNER, Derek. Esdras e Neemias; introdução e comentário. VIDA NOVA

3. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

4. WIERSBE. Warren W. Comentário Bíblico Expositivo Vol. 2. GEOGRAFICA

Fonte: http://portal.rbc1.com.br/licoes-biblicas/index/ Acesso em 29 ago. 2020

COMO POSSO SER SALVO

 Sermão para pregação


I. RECONHECER QUE JESUS É O FILHO DE DEUS

Mt 16.15-17 “Mas vós continuou ele, quem dizeis que eu sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Então Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és tu Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus”.

II. HONRAR A CRISTO

Jesus tem direito à mesma honra que é prestada a Deus.

João 5.24 “... a fim de que todos honrem o Filho do modo porque honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou”.

III. CONHECER JESUS

João 8.19: “Então eles lhe perguntaram: Onde está teu Pai? Respondeu Jesus: Não me conheceis a mim nem a meu Pai; se conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai”.

IV. CRER EM JESUS

Jo 14.1: “Não se turbe o vosso coração; credes em deus, crede também em MIM”.

Jo 3.16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

At 16.31, Paulo e Silas proclamaram ao carcereiro: “Crê no Senhor Jesus, e serás salvo, tu e tua casa”.

V. ACEITAR JESUS NO CORAÇÃO

Ap 3.20: “Eis que estou à porta, e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo”.

VI. QUEM ME VÊ

João 14.9 “Disse-lhe Jesus: Filipe, a tanto tempo estou convosco, e não me tens conhecido Quem me vê a mim, vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?”.

VII. INVOCAR SEU NOME

Rm 10.13 “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”.

VIII. CONFESSAR A JESUS COMO SEU SALVADOR

Fp 2.9-11 “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, e na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai”.

IX. TER ESPERANÇA DA SUA VINDA

Tt 2.13 “Aguardando a bendita esperança e a manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”.

CONCLUSÃO. A benção está condicionada na fé e na obediência ao senhorio de Cristo e na Sua Palavra.

A importância desta Palavra é para que você conheça o poder que existe na pessoa de nosso Senhor Jesus Cristo.

O homem sem Jesus se encontra em pecado, e em pecado está morto espiritualmente e separado do Pai. Mas aqueles que estão olhando para Jesus e cumprindo Sua Palavra tem uma vida totalmente diferente, uma vida de paz e de segurança porque têm depositado sua confiança somente em Jesus que é ETERNO e CRIADOR.

Pr. Elias Ribas Dr. Em Teologia

Assembléia de Deus Blumenau SC

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

COMO VENCER AS OPOSIÇÕES À OBRA DE DEUS

LEITURA BÍBLICA
Neemias 4.8-20 “E ligaram-se entre si todos, para virem atacar Jerusalém e para os desviarem do seu intento. 9 - Porém nós oramos ao nosso Deus e pusemos uma guarda contra eles, de dia e de noite, por causa deles. 10 - Então, disse Judá: Já desfaleceram as forças dos acarretadores, e o pó é muito, e nós não poderemos edificar o muro. 11 - Disseram, porém, os nossos inimigos: Nada saberão disso, nem verão, até que entremos no meio deles e os matemos; assim, faremos cessar a obra. 12 - E sucedeu que, vindo os judeus que habitavam entre eles, dez vezes nos disseram que, de todos os lugares, tornavam a nós. 13 - Pelo que pus guardas nos lugares baixos por detrás do muro e nos altos; e pus o povo, pelas suas famílias, com as suas espadas, com as suas lanças e com os seus arcos. 14 - E olhei, e levantei-me, e disse aos nobres, e aos magistrados, e ao resto do povo: Não os temais; lembrai-vos do Senhor, grande e terrível, e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas mulheres e vossas casas. 15 - E sucedeu que, ouvindo os nossos inimigos que já o sabíamos e que Deus tinha dissipado o conselho deles, todos voltamos ao muro, cada um à sua obra. 16 - E sucedeu que, desde aquele dia, metade dos meus moços trabalhava na obra, e a outra metade deles tinha as lanças, os escudos, os arcos e as couraças; e os chefes estavam por detrás de toda a casa de Judá. 17 - Os que edificavam o muro, e os que traziam as cargas, e os que carregavam, cada um com uma mão fazia a obra e na outra tinha as armas. 18 - E os edificadores cada um trazia a sua espada cingida aos lombos, e edificavam; e o que tocava a trombeta estava junto comigo. 19 – E disse eu aos nobres, e aos magistrados, e ao resto do povo: Grande e extensa é a obra, e nós estamos apartados do muro, longe uns dos outros. 20 - No lugar onde ouvirdes o som da buzina, ali vos ajuntareis conosco; o nosso Deus pelejará por nós.”

1ª João 4.4 “Filhinhos, sois de Deus e já os tendes vencido, porque maior é o que está em vós do que o que está no mundo.”

1ª João 5.5 “Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?”

INTRODUÇÃO

Nesta lição veremos quais as oposições que Neemias enfrentou frente a obra de Deus; e por fim, notaremos como

Neemias reagiu para vencer as artimanhas dos inimigos da obra do Senhor para impedir a reconstrução dos muros da cidade.

I. QUAL A PROCEDÊNCIA DESTES ATAQUES?

1. A Bíblia revela a verdadeira força por trás destes ataques. Ela diz: “Não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6.12). Portanto, nossa luta é antes de tudo espiritual. Os inimigos visíveis são meramente instrumentos dos demônios, os quais nos atacam. Desde que Lúcifer caiu em pecado no céu e foi expulso de lá, ele tem sido o ADVERSÁRIO de Deus e de sua obra (1ª Pe 5.8).

2. Qual a orientação que a Bíblia dá diante desta luta? Ela diz: “Portanto tomai toda a armadura de Deus, para que possais:

a) RESISTIR NO DIA MAU;

b) TENDO FEITO TUDO;

c) FICAR FIRMES (Ef 6.13). Vemos, assim, que a Bíblia não aconselha fugir da luta, mas sim ficar firmes, resistir e vencer! (Tg 4.7)

3. Nesta luta contra o mundo invisível a arma mais eficaz é a fé. A Bíblia diz: “Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1ª Jo 5.5). Por isso a Bíblia aconselha: “Milita a boa milícia da fé, toma posse da vida eterna” (1ª Tm 6.12). Pela fé experimentamos a operação do Espírito Santo em nossa vida (Gl 3.2,5). Jamais devemos permitir que alguma coisa venha abalar a nossa fé, porque “sem fé é impossível agradar-lhe” (Hb 11.6). A fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (Rm 10.17) Devemos não temer, mas crer somente (Mc 5.38). “Não deis lugar ao Diabo!” (Ef 4.2).

4. Nesta luta as armas devem ser espirituais (2ª Co 10.4). Só as armas espirituais atingem e alcançam os reais inimigos, os demônios. As armas carnais só nos prejudicam, pois muitas vezes levam-nos a dar lugar ao inimigo.

A nossa luta é antes de tudo espiritual, os inimigos visíveis são meramente instrumentos dos demônios, os quais nos atacam. No entanto, as nossas armas também são espirituais, pois não lutamos contra carne e sangue.

O crente precisa conhecer e saber as armas espirituais da nossa milícia. Em Efésios 6.10-18, o apóstolo Paulo se refere à roupa usada pelo soldado. Ele combina a profecia de Isaías sobre a armadura de Deus (Is 59.16-17) com o que se sabe sobre o soldado romano.

Por baixo da armadura do soldado estava uma vestimenta básica para ‘ficarem firmes’, de modo que a armadura (casaco e saia de couro cobertos com placas de metal) pudesse ajustar-se por cima. Os soldados romanos tinham sandálias pregadas com tachas grandes que firmavam seus pés no chão. Paulo usa a descrição para dizer que o Diabo não poderá derrubar os cristãos se eles forem estritamente honestos, absolutamente justos em seus tratos e não se deixarem perturbar facilmente. Acrescente a isso uma salvação que os capacita a viver segundo o padrão de Deus, com acesso ao que Deus disse e confiança n’Ele, e o cristão estará bem protegido” [GOWER, Ralph. Novo Manual dos Usos e Costumes dos Tempos Bíblicos. 2. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p. 16].

4.1. Revesti-vos de toda a armadura de DEUS.

Armadura no grego ενδυοω enduo significa: “entrar numa (roupa), vestir, vestir-se”.

Revesti é vestir de novo. Para batalhar é preciso a roupa adequada. Ninguém vai para guerra de sandália de salto alto. É preciso da roupa certa.

4.2. Armadura inteira e completa. No grego πανοπλια panóplia significa: “inclui escudo, espada, lança, capacete, grevas (partes da armadura que recobriam as pernas, do joelho para baixo.), e peitoral.

4.3. O poder de Deus. Poder no grego δυναμαι dunamai: 1) É “ser capaz, ter poder quer pela virtude da habilidade e recursos próprios de alguém, ou de um estado de mente, ou através de circunstâncias favoráveis, ou pela permissão de lei ou costume. 2) Ser apto para fazer alguma coisa. 3) Ser competente, forte e poderoso. [Dicionário Strong Português].

II. AS OPOSIÇÕES QUE NEEMIAS ENFRENTOU NA OBRA DE DEUS

1. Zombaria. Uma das principais estratégias dos inimigos foi a zombaria contra Neemias, bem como dos judeus: “O que ouvindo Sambalate, o horonita, e Tobias, o servo amonita, e Gesém, o árabe, zombaram de nós...” (Ne 2.19-a; 4.3,4). Zombar significa: “mangar; debochar; ironizar”. A Bíblia descreve diversos exemplos de zombaria como: Agar que zombou de Sara (Gn 21.9); uns rapazes que zombaram de Eliseu (2º Rs 2.23); e os escribas, fariseus e sacerdotes que zombaram de Cristo (Mc 15.31; Lc 16.14; 22.63). A zombaria tem o objetivo de trazer desânimo ao coração do crente (Sl 35.15,16; Hb 11.36).

2. Desprezo. Um outro tipo de oposição que Neemias enfrentou foi o desprezo por parte dos inimigos: “… e desprezaram-nos, e disseram: Que é isto que fazeis?...” (Ne 2.19-b). Desprezar significa: “tratar com desdém” ou “desconsiderar”. Dentre os muitos exemplos de desprezo na Bíblia, destacamos alguns: Esaú, que desprezou a sua primogenitura (Gn 25.34); os filhos de Belial, que desprezaram a Saul (1º Sm 10.27); Davi, que foi desprezado por Golias (1Sm 17.42); e Jesus, que foi desprezado por Herodes (Lc 23.11) e pelos próprios judeus (Is 53.3; Jo 1.11).

3. Calúnia. Os inimigos de Neemias o acusaram de rebelião contra o rei da Pérsia, numa tentativa de fazer com que ele fosse punido pelo mesmo. Isto porque, todos que se rebelavam contra o rei eram sentenciados à morte: “Quereis rebelar-vos contra o rei?” (Ne 2.19-c). Acusar significa “culpar; incriminar; imputar falta, delito ou crime”. A calúnia é uma das principais armas usadas pelos inimigos do povo de Deus (Ed 4.1-16; Jó 1.9-11; 2.4,5; Mt 27.12; Mc 15.3; Lc 6.7; 11.54).

4. Difamação. Como Neemias não caíra ante as primeiras calúnias, Sambalate e Gesém iniciaram uma campanha de difamação contra o servo de Deus (Ne 6.5-7). Tudo isso era mentira (Ne 6.8), e Neemias tomou a atitude certa diante da difamação, pois apresentou ao Senhor aquela causa (Ne 6.9). Não ficou trocando farpas com os opositores, mas confiou naquele que haveria de justificá-lo. Como bem falou o apóstolo Paulo: “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica” (Rm 8.34). O diabo nos acusa insistentemente e diuturnamente diante de Deus (Ap 12.10), mas junto ao Senhor, nós também temos um Justo Advogado (1ª Jo 2.1). As acusações estão sempre presentes na caminhada cristã (Mt 5.11,12), devemos estar atentos para não desanimar por causa dessas armas satânicas (Mt 5.11,12).

5. Escárnio. Um outro tipo de oposição que Neemias enfrentou foi o escárnio: “E sucedeu que, ouvindo Sambalate que edificávamos o muro, ardeu em ira, e se indignou muito; e escarneceu dos judeus” (Ne 4.1). Escarnecer significa: “zombar; tratar com desprezo”. A Bíblia diz que não devemos assentar na roda dos escarnecedores (Sl 1.1); que Deus não se deixa escarnecer (Gl 6.7); e que nos últimos tempos surgirão escarnecedores (2ª Pd 3.3; Jd 1.18). Muitos servos de Deus foram alvos de escárnio, mas, nenhum deles foi tão escarnecido quanto o Senhor Jesus (Mt 27.41; Mc 10.34; Lc 23.11).

6. Desestímulo. Os inimigos da obra e de Neemias, ao perceberem o avanço da restauração dos muros, lançaram uma série de perguntas, pondo em dúvidas o avanço da obra. Seu objetivo era deter a reconstrução por intermédio do menosprezo: “E falou na presença de seus irmãos, e do exército de Samaria, e disse: Que fazem estes fracos judeus?” (Ne 4.2). Eles tentaram diminuir a autoestima do povo chamando-os de fracos. Devemos ter a postura de Josué e Calebe, e não ceder as investidas contra nosso ânimo (Nm 13.30; 14.9).

7. Desdém. Além de duvidar do avanço da obra, eles duvidaram também que a muralha permaneceria de pé. Era uma maneira de fazer com que os judeus desistissem de erguer os muros de Jerusalém: “E estava com ele Tobias, o amonita, e disse: Ainda que edifiquem, contudo, vindo uma raposa, derrubará facilmente o seu muro de pedra” (Ne 4.3). Se os judeus dessem ouvidos a estas palavras, com certeza, a reconstrução teria parado. Mas, eles não desistiram, continuaram a obra e, em cinquenta e dois dias os muros foram edificados (Ne 6.15). Podemos ver claramente qual era a intenção dos inimigos de Neemias: “E ligaram-se entre si todos, para virem guerrear contra Jerusalém, e para os desviarem do seu intento” (Ne 4.8).

8. Conspiração. Conspiração é a ação de construir um plano que prejudica alguém, geralmente um governante; é uma maquinação. Ato de quem busca prejudicar alguém, com a ajuda de outrem; conluio. É a combinação secreta com alguém, contra uma terceira pessoa; trama: “Ouvindo Sambalate e Tobias, e os arábios, os amonitas e os asdoditas, que ia avante a reparação dos muros de Jerusalém e que já as brechas se começavam a fechar, iraram-se sobremodo; e coligaram-se todos, para virem guerrear contra Jerusalém e fazer confusão ali.” (Ne 4.7,8).

9. Astúcia. Sambalate e Gesém, maliciosamente, convidaram Neemias para uma reunião em que supostamente fariam as pazes, se tornariam amigos e esqueceriam o passado e seriam todos irmãos, mas a intenção deles era a pior possível: “Sucedeu que, ouvindo Sambalate, Tobias e Gesém, o árabe, e o resto dos nossos inimigos que eu tinha edificado o muro … mandaram dizer-me: Vem, e congreguemo-nos juntamente nas aldeias ...” (Ne 4.11; 6.1,2). Parecia que estavam arrependidos de seus primeiros feitos, mas era tudo fingimento. O apóstolo Paulo nos preveniu acerca dos homens maus e perversos, que apenas tinham aparência de piedade (2ª Tm 3.1-5). O inimigo sempre procura falsas alianças com o povo de Deus, com o intento de infiltrar-se entre nós, para descobrir nossos segredos e estratégias (2º Rs 20.12-17).

O caráter de Neemias revela-se ilibado no material escrito disponível. Ele foi tão dotado e talentoso como qualquer homem dos tempos pós-exílios. Seu contagioso patriotismo era profundo e intenso e levava os homens a deixar suas colheitas a fim de viajar para Jerusalém e trabalhar na reconstrução do muro. Sua rígida integridade, associada a uma bondosa humildade, fazem com que ele se projete como um notável exemplo de liderança leiga. Sua abnegada prática de recusar qualquer recompensa pelos serviços (Ne 5.14-18) deve ter deixado uma impressão indelével nos pobres de Jerusalém. Sua intensa fé em Deus e genuína piedade eram evidenciadas pelo zelo que dispensava à ética e à parte cerimonial da religião. Acima de tudo, sua devoção ao dever, sua infatigável energia e determinada persistência impulsionaram um grupo de homens que nunca desistiam. Neemias era um homem de ação, não um homem que se sentava para esperar que Deus fizesse com que acontecesse algum evento sobrenatural. A desesperada condição de seu povo exigia, sem demora, que fossem tomadas medidas extremas. Analisando sua obra como um todo, Neemias realmente foi um homem preparado por Deus para agir naquela hora” [Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 1350].

III. QUAL O SEGREDO DA VITÓRIA DE NEEMIAS E DOS JUDEUS?

1. Os judeus venceram porque tinham certeza de que estavam na vontade de Deus. Neemias disse aos seus inimigos: “O Deus dos céus é o que nos fará prosperar” (Ne 2.20). Neemias sabia que o Senhor o havia enviado para Jerusalém, e que pelejava por eles. Esta certeza nos guarda de precipitações (Pv 29.20), e de falarmos palavras impensadas (Sl 106.33; Ec 7.9; Pv 25.11). Podemos assim governar o nosso espírito (Pv 16.32).

2. Os judeus venceram pela oração. Neemias era homem de oração. Com frequência lê-se sobre como Neemias orava: “Ouve, ó nosso Deus; Lembra-te de mim para o bem; Lembra-te, meu Deus, de Tobias e Sambalate” (Ne 4.4; 6.14; 13.29). Aquele que ora, coloca a sua dificuldade diante do Senhor que QUER e PODE RESOLVÊ-LA! O mesmo Deus que nos exortou a orar, também prometeu nos responder às orações (Jó 22.27; SI 50.15; 46.1; Mt 7.7,8,11).

3. Devemos também orar (1ª Ts 5.17). “Orai sem cessar…” Jesus deixou-nos o mesmo ensino. Falou-nos da necessidade de perseverarmos na oração, usando para isso uma parábola (Lc 18.1). Paulo exortou aos efésios a perseverarem em “oração e súplica no Espírito” (Ef 6.18) e aos colossenses ele escreveu: “Perseverai em oração” (Cl 4.2). O que é então, perseverança em oração?

3.1. É impedir que alguma coisa nos estorve a orar, encontrando-nos apenas na oração. Precisamos de uma espécie de autodisciplina, ou de controle sobre nós próprios. Marta não dispunha tempo para ficar aos pés de Jesus, porque estava ocupada (Lc 10.38-42). Quando começamos a orar aparecem muitos obstáculos, mas devemos ser vitoriosos. Temos que ter vitória também em nossos pensamentos, porque o Inimigo quer nos impedir de orar, fazendo-nos pensar em outras coisas.

3.2. É persistir em orar, ainda que o Diabo procure tornar pesada e difícil a oração. Daniel orou 21 dias, e veio a resposta! E, então, ele soube que a resposta demorara, porque os espíritos malignos tinham impedido a resposta (Dn 10.11-14). Jesus mostrou a mesma verdade na parábola sobre a viúva (Lc 18.1-6).

3.3. É orar até que venha a resposta! Devemos orar “até que…” (Is 62.8; Lc 24.49). Jesus orou três vezes sobre mesma coisa (Mt 26.44), e Paulo também orou três vezes, até que Deus lhe respondeu (2ª Co 12.8,9). Elias orou 7 vezes, para que chovesse, e choveu (1º Rs 18.43-45) E os discípulos perseveraram em oração até que o fogo caiu (At 1.14; 2.1-4).

3.4. É uma prova de que o Espírito de oração opera em nós (Zc 12.10; Rm 8.26; Ef 6.18; Jd 20). O Espírito Santo ora, em nós, enquanto trabalhamos; enquanto nos ocupamos de nossas tarefas diárias. O Espírito Santo não se preocupa acerca da posição de nosso corpo, isto é, se estamos ajoelhados, deitados ou em pé. Isto é o segredo de estarmos sempre orando! Dá liberdade ao Espírito – e Ele levar-te-á para esta gloriosa vida de oração. Aleluia. A VITÓRIA É NOSSA, PELO SANGUE DE JESUS. Amém.

Neemias sabia que o Senhor o havia enviado para Jerusalém, e que pelejava por eles. Esta certeza, acompanhada do compromisso com a oração foram importantes para que o servo do Senhor alcançasse êxito na sua missão.

4. Deus se comprometeu a ouvir e responder as orações de seu povo. Somos informados uma vez após a outra - e Jesus nos lembra - que o que Deus quer fazer em nós e por nós, de alguma maneira, depende de pedirmos a Ele que faça isso (Mt 7.7,8; Tg 4.2). A oração é o meio concedido por Deus de admiti-lo em nossa vida e necessidades. Em sua palavra, Ele nos fez inúmeras promessas e comprometeu-se a cumpri-las quando as levamos a sério (por exemplo, 2ª Cr 7.14; Sl 50.15; Jr 33.3). A verdadeira oração começa quando começamos a aceitar a Deus em sua Palavra.

Jesus não só nos chama a desfrutar suas bênçãos, mas também nos envolve em uma batalha espiritual para a qual precisamos de uma armadura e de armas. A oração é uma das armas (Ef 6.14-20). Observamos como ela funciona quando os cristãos primitivos, no livro de Atos, reagiram aos ataques do Diabo com oração (4.23,24; 12.54). É por meio da oração que colaboramos com o Senhor na execução de seus planos para o mundo. Assim, a oração não é apenas um passatempo prazeroso; ela também funciona e combate” (Guia Cristão de Leitura da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p.591).

IV. COMO NEEMIAS REAGIU PARA VENCER AS OPOSIÇÕES À OBRA DE DEUS

1. Neemias orou a Deus. A oração é indispensável à vida cristã, principalmente quando estamos fazendo a obra de Deus em meio às oposições: “Porém, nós oramos ao nosso Deus” (Ne 4.9-a). Além das grandes lições que aprendemos com Neemias sobre administração, liderança e planejamento, ele nos ensina também que devemos orar, antes, durante e depois da realização da obra de Deus (Ne 1.4-11; 2.4; 4.4,9; 5.19; 6.9,14; 13.14,22,29,31). A Bíblia está repleta de promessas e de exemplos de respostas às orações (1º Sm 1.9-20; 2Rs 19.15-20; Jr 33.3; Sl 50.15; Mt 21.22; At 12.5; Tg 5.16).

2. Neemias confiou em Deus. Neemias sabia que estava no centro da vontade de Deus, e que o Senhor era com ele. Por isso, tinha a convicção de que seu objetivo seria alcançado: “Então lhes respondi, e disse: O Deus dos céus é o que nos fará prosperar” (Ne 2.20-a). A confiança inabalável em Deus é fundamental para quem está à frente da obra, principalmente em meio às oposições. Deus quer que confiemos n’Ele em toda e qualquer circunstância (Sl 23.4; 27.4; 46.1-11; Hb 11.1). Depois que a obra foi concluída, até os inimigos reconheceram que Deus estava com eles (Ne 6.15,16).

3. Neemias continuou trabalhando. Além da confiança em Deus, Neemias motivou o povo a continuar trabalhando. Se eles fossem dar ouvidos aos opositores, ou desviar a atenção da reconstrução dos muros, com certeza, a obra não iria adiante: “… e nós, seus servos, nos levantaremos e edificaremos ...” (Ne 2.20-b). Assim, Neemias nos ensina que, jamais devemos permitir que as oposições impeçam a continuidade da obra que o Senhor nos confiou. Enquanto os inimigos se levantam, continuemos, pois, trabalhando: “Porém edificamos o muro, e todo o muro se fechou até sua metade; porque o coração do povo se inclinava a trabalhar” (Ne 4.6). Manter-se animado deve ser o propósito de todo crente em relação ao trabalho do Senhor (1ª Co 15.58). O ânimo nos leva a prosseguir, a permanecer e aceitar novos desafios de Deus (Ne 2.5,17,18).

4. Neemias preparou-se para a batalha. Neemias entendeu que era necessário aumentar a segurança: “… e pusemos uma guarda contra eles ...” (Ne 4.9-b,13). Os inimigos dos judeus estavam tão dispostos a deter a obra que intentaram armar ciladas para tirar-lhes a vida (Ne 4.11). Neemias tomou algumas atitudes neste sentido: “Então pus guardas nos lugares baixos por detrás do muro e nos altos; e pus ao povo pelas suas famílias com as suas espadas, com as suas lanças, e com os seus arcos” (Ne 4.13). Neemias mostrou que é preciso ser vigilante contra os inimigos (Ne 4.16-18; 21-23).

5. Neemias animou o povo. O coração do povo não se inclinou a ouvir a zombaria, escárnio e desprezo. O povo tapou os ouvidos ao inimigo e concentrou suas energias físicas, mentais e emocionais na edificação do muro. Se quisermos vencer, temos que tapar os ouvidos a todo comentário que instila desânimo, incredulidade e fracasso: “Assim edificamos o muro, e todo o muro se completou até a metade da sua altura; porque o coração do povo se inclinava a trabalhar” (Ne 4.6).

Neemias conscientizou aos judeus que a vida de seus familiares também estava em perigo; e, por isso, eles teriam que pelejar também por eles: “… e pelejai pelos vossos irmãos, vossos filhos, vossas mulheres e vossas casas” (Ne 4.14). Esta atitude de Neemias nos faz lembrar que o diabo, o nosso maior inimigo, peleja não apenas contra nós e contra a obra de Deus, mas também contra nossa família desejando destruí-la. Por isso, devemos ser sóbrios e vigilantes (Mt 26.41; Tg 4.7; 1ª Pd 5.8) e, acima de tudo, “pelejar” por eles (Dt 6.5-9; Jó 1.5; Pv 22.6).

6. Neemias teve coragem. Quando Semaías convidou Neemias para fugir dos inimigos, a resposta foi contundente: “… um homem, como eu, fugiria”? (Ne 6.11). A coragem de Neemias procedia da fé no Senhor dos Exércitos. A fé sempre foi uma marca obrigatória na vida dos personagens bíblicos que demonstraram coragem e valor diante dos perigos e das ameaças (Gn 14.12-17; Dt 7.1,2; Jz 6.5; 2º Sm 23.8-39; 2º Rs 6.14-17). Espalhar medo no meio do povo de Deus sempre foi uma estratégia do maligno (Ne 4.7-13). Devemos, no entanto, estar firmes no propósito de confiar em Deus e permanecer executando suas determinações (Nm 14.1-9).

7. Neemias teve temor a Deus e discernimento. Neemias ainda prosseguiu na sua resposta à Semaias, dizendo: “E quem há, como eu, que entre no templo e viva? De maneira nenhuma entrarei” (Ne 6.13). Neemias desconfiou daquele falso profeta, pois sabia que o acesso ao templo era restrito aos levitas e sacerdotes. O seu conhecimento da Lei do Senhor, e do Senhor da Lei lhe deu condições de identificar uma falsa profecia (Pv 2.1-14; Ef 4.14,15). O agravante é que não era apenas um falso profeta, mas vários (Ne 6.14). Neemias estava rodeado de traidores, que se deixavam vender por dinheiro (Ne 6.12-14, 17-19). Eram profetas da qualidade de Balaão (Jd 11) e amigos da estirpe de Judas Iscariotes (Mt 26.14-16), mas Deus deu discernimento espiritual ao seu servo e ele não foi tragado pelos inimigos. De igual modo, o Senhor haverá de frustrar toda e qualquer tentativa do Maligno contra a Igreja do Senhor (Mt 16.18) pois estamos munidos das armas espirituais (2ª Co 10.4; Ef 6.10-17).

CONCLUSÃO

Todos nós estamos sujeitos à enfrentar algum tipo de oposição, principalmente quando estamos exercendo alguma função de liderança. Somente com uma vida pautada na dependência de Deus e compromissados com sua Palavra é que conseguiremos vencer os grandes desafios que nos deparamos diariamente. Neemias é o exemplo de um líder abnegado, compromissado, intercessor e acima de tudo obediente ao chamado e aos propósitos de Deus.

 

FONTE DE PESQUISA

1. BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. Rio de Janeiro: Vida. 2010.

2. BERGSTÉN Eurico. Lições bíblicas 3° trimestre 2020. Como vencer as oposições à obra de Deus. CPAD – Rio de Janeiro RJ.

3. RENOVATO, Elinaldo. Livro de Neemias, Integridade e Coragem em Tempos de Crise. Rio de Janeiro: CPAD. 2011.

4. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD. 2010.

5. LOPES, Hernandes Dias. Neemias o líder que restaurou uma nação. São Paulo: Hagnos, 2006.

6. PACKER, J. I. Neemias paixão pela fidelidade. Rio de Janeiro: CPAD, 2010.

7. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD. 1997.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

AS CAUSAS DA DESUNIÃO DEVEM SER ELIMINADAS


LEITURA BÍBLICA

Neemias 5.1,6-12 “Foi, porém, grande o clamor do povo e de suas mulheres contra os judeus, seus irmãos. 6 - Ouvindo eu, pois, o seu clamor e essas palavras, muito me enfadei. 7 - E considerei comigo mesmo no meu coração; depois, pelejei com os nobres e com os magistrados e disse-lhes: Usura tomais cada um de seu irmão. E ajuntei contra eles um grande ajuntamento. 8 - E disse-lhes: Nós resgatamos os judeus, nossos irmãos, que foram vendidos às gentes, segundo nossas posses; e vós outra vez venderíeis vossos irmãos ou vender-se-iam a nós? Então, se calaram e não acharam que responder. 9 - Disse mais: Não é bom o que fazeis: Porventura, não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos? 10 - Também eu, meus irmãos e meus moços, a juro, lhes temos dado dinheiro e trigo. Deixemos este ganho. 11 - Restituí-lhes hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do mosto e do azeite, que vós exigis deles. 12 - Então, disseram: Restituir-lho-emos e nada procuraremos deles; faremos assim como dizes. Então, chamei os sacerdotes e os fiz jurar que fariam conforme esta palavra.”

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos dos conflitos internos decorrentes das injustiças sociais e desordens que levavam o povo judeu a um nível de desunião e hostilidade. A avareza dos ricos trouxe diversos problemas internos, sendo a principal delas a inimizade intensa entre o povo. Evidentemente, os alimentos eram escassos e caros. A inflação, sem contar os tributos que os judeus eram obrigados a pagar ao rei, levara muitos à pobreza, de modo que o povo foi obrigado a pegar dinheiros emprestado dos mais abastados e hipotecar suas propriedades. Alguns foram obrigados inclusive a vender seus filhos e filhas como escravos. E, como suas terras pertenciam a outros, muitos ficaram sem recursos para comprar os filhos de volta. Neemias tinha um grande problema a tratar; não um problema externo, mas interno; não procedente dos inimigos, mas oriundo dos irmãos. Ele agora enfrenta o problema da usura, da injustiça social, da opressão econômica.

Egressos do exílio babilônico os judeus pensavam que encontrariam uma terra que manava leite e mel. Entretanto, eis que se depararam com uma terra prestes a devorá-los. Como se não bastasse as dificuldades decorrentes da relação complexa com os povos vizinhos, havia também muitas injustiças sociais e desordens que levavam o povo a um nível de desunião e hostilidade. Neemias foi usado por Deus para levar os judeus a manterem-se unidos em um só propósito. Semelhantemente, a Igreja nestes últimos dias precisa de ministros que conduzam o rebanho do Senhor à união e uniformidade para que a obra de Deus seja edificada e muitas vidas possam ser salvas.

Este foi o grande clamor do povo e de suas mulheres contra os judeus, seus irmãos. O povo não estava clamando por luxo, mas por pão; não estava clamando por conforto, mas por sobrevivência. Esse clamor é o triste choro da humanidade ao longo dos séculos.

Neemias foi usado por Deus para levar os judeus a manterem-se unidos em um só propósito. O sucesso da obra de Deus não pode ser construído em detrimento dos obreiros. Semelhantemente, a Igreja nestes últimos dias precisa de ministros que conduzam o rebanho do Senhor à união e uniformidade para que a obra de Deus seja edificada e muitas vidas possam ser salvas.

I. A UNIÃO CARACTERIZAVA OS JUDEUS LIBERTOS DO CATIVEIRO

No início, o povo que chegou do exílio era muito unido. Apesar da desolação que a cidade de Jerusalém apresentava, o povo estava ousado a fazer a obra de Deus. Apesar dos inimigos externos, que os afrontavam com grandes ameaças, eles estavam unidos. E essa união foi a força motriz que proporcionou a renovação do altar, da reconstrução do Templo, da restauração dos muros da cidade de Jerusalém e da restauração do culto a Deus conforme os ritos da lei. Todos eles experimentaram um fervoroso avivamento nacional e espiritual. Mas um obstáculo à obra da reedificação surgiu nos relacionamentos sociais entre os judeus. Com o decorrer do tempo, a miséria mostrou suas garras de forma impiedosa e a injustiça social fez surgir conflitos que chegou à beira da irreconciliação. Deus teve que levantar Neemias para trazer o povo de volta à união, à paz e à harmonia.

1. A União do povo de Deus, o vínculo da perfeição.

Ora, se existe um vínculo é porque existe uma ligação, algo que junta dois ou mais seres, ou seja, não se trata de um único ser, mas de um conjunto de seres. Somos o corpo de Cristo, mas, também, “seus membros em particular”, isto é, não perdemos a nossa individualidade, as nossas características próprias quando nos unimos ao Senhor e à sua Igreja.

Esta é uma das grandes riquezas do povo de Deus que, muitas vezes, é desprezada e até alvo de ataque por alguns menos avisados e que não conhecem bem a Palavra de Deus. O povo de Deus tem um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, mas é um povo formado por pessoas que são diferentes umas das outras, que têm grupos que se distinguem por causa de sua cultura, de seu modo de viver, de seus costumes, de sua maneira de servir a Deus.

Todos são santos, todos têm de ser separados do pecado, todos devem servir ao mesmo Senhor, ter a mesma fé, ter o mesmo batismo, ter o mesmo Pai. Todos são irmãos e, portanto, devem amar-se uns aos outros, não devem promover dissensões, lutas e pelejas entre si, porque produzem o fruto do Espírito e não as obras da carne, mas, nem por isso, são iguais. Deus, aliás, não fez uma pessoa igual ou idêntica a outra sobre a face da Terra e, como a Igreja é formada por seres humanos, naturalmente que será um grupo de pessoas que diferem entre si.

2. A bênção do Senhor depende da existência de um ambiente de união entre os irmãos.

O salmo 133 mostra com clareza esse fato:

“Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Arão, que desceu sobre a gola das suas vestes; como o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida para sempre” (Sl 133).

 

Este salmo revela que, somente num ambiente de união, o Espírito Santo atua plenamente. Somente num ambiente de união, cada membro em particular do corpo de Cristo (figurado por Arão, o escolhido para o sacerdócio) se deixa envolver plenamente pelo Espírito Santo (figurado pelo azeite).

Somente num ambiente de união, o refrigério do Espírito Santo pode nos consolar e nos permitir, mesmo neste mundo de sequidão e necessidade, termos a paz, a alegria e o amor divinos (figurados pelo orvalho de Hermom).

Somente num ambiente de união, a Igreja prossegue vitoriosa para se encontrar com o seu Senhor nos ares, cheia de vida espiritual e abençoada nos lugares celestiais em Cristo (Jo15.5,6; Ef 1.3), porque é no ambiente de união que “…o Senhor ordena a vida e a bênção para sempre”.

3. A União reflete a nossa concordância de propósitos.

Foi por causa da união que os judeus, numericamente inferiores aos seus inimigos, conseguiram reconstruir o Templo, e também os muros da cidade. Esta união é também o segredo da vitória da Igreja. Infelizmente, a união que deveria ser encontrada na Igreja nem sempre o é. As pessoas discordam e causam divisões por causa de assuntos sem importância. Alguns sentem prazer em causar tensão, depreciando e desacreditando outros. A união é importante porque:

Faz da Igreja um exemplo para o mundo e ajuda a aproximar as pessoas do Senhor;

Ajuda-nos a cooperar conforme a vontade de Deus, antecipando um pouco do gozo que teremos no Céu.

Todavia, viver em união não significa que concordaremos em tudo; haverá muitas opiniões, da mesma maneira que existem muitas notas em um acorde musical. Mas devemos concordar em nosso propósito na vida: trabalhar juntos para Deus. A união reflete a nossa concordância de propósitos.

4. A Igreja é um Corpo (1ª Co.12.12-31).

A Igreja é comparada com uma “família”, um “exército”, um “templo’, uma ‘noiva”. Mas, a figura predileta de Paulo para descrever a Igreja é o “corpo”. Um corpo tem interação, os órgãos se comunicam entre si. Cada parte é útil para o corpo como um todo, e há interdependência delas (Ef 4.16; Cl.2:19). A Igreja é um Corpo, cuja cabeça é Jesus Cristo. Ora, um corpo não pode subsistir sem que haja união entre seus membros, bem como entre os membros e a cabeça. Antes de existir comunhão precisa existir união. Uma é pré-requisito para a outra. Aceitar a Cristo é também aceitar fazer parte de seu Corpo.

II. A UNIÃO ENTRE OS JUDEUS ESTAVA AMEAÇADA

1. A causa da ameaça.

Neemias identificou quatro causas que estavam afligindo o povo oprimido de Jerusalém e que estavam ameaçando desfazer a união entre o povo de Deus:

1.1. A usura (Ne 5.7). Usura é não se contentar com o que se tem e querer o que é do outro. Usura é aproveitar um momento de infelicidade do outro para apropriar-se do que ele tem. Os nobres se beneficiaram com a crise. Sempre alguém lucra com a crise. A miséria do povo sempre beneficia os gananciosos e usurários. Os nobres estavam agindo como penhoristas, e ainda por cima severos, ao invés de agirem como irmãos (Ne 5.1). Estavam emprestando somente com a melhor garantia e com os piores motivos. O povo estava desesperado e fizeram um grande clamor contra os exploradores. O texto sagrado diz:

“Foi, porém, grande o clamor do povo e de suas mulheres, contra os judeus, seus irmãos” (Ne 5.1).

Por que houve esse clamor? Porque estava ocorrendo uma desmedida exploração dos mais pobres pelos mais ricos que, diante da fome que havia na terra, aproveitaram a ocasião para se enriquecer ainda mais, gerando um quadro de grande servidão por causa das dívidas contraídas pelos mais pobres para que pudessem sobreviver, alimentar-se do necessário. A situação era de calamidade social.

Com esse clamor, Neemias percebeu claramente que não poderia executar a obra da reedificação dos muros e portas de Jerusalém, visto que tal obra exigia a participação de todos, a união de todo o povo, algo imprescindível para se realizar a vontade de Deus. Havia ele conclamado todo o povo à obra e ali estava o povo todo a trabalhar, apesar das angústias vividas, mas esse clamor representava um enorme fator de risco para a continuidade da obra.

De igual maneira, não podemos fazer a obra de Deus se não houver comunhão na Igreja. A Igreja tem de se caracterizar pela comunhão e pela união entre os irmãos, como nos deixa claro a descrição que Lucas faz da igreja primitiva em Jerusalém em At 2.42-47.

Não há como se realizar a contento a obra do Senhor se os relacionamentos sociais dos salvos não forem transformados pelo Evangelho. Por isso, o Senhor Jesus nos ensinou que devemos amar uns aos outros como Ele nos amou, amor esse que não envolveu apenas o aspecto da salvação, mas também a tomada de atitudes concretas para minorar o sofrimento e a carência do povo, inclusive no que respeita aos aspectos terrenos de nossa existência.

1.2. A falta de amor (Ne 5.5-7). “Agora, pois, a nossa carne é como a carne de nossos irmãos, e nossos filhos, como seus filhos; e eis que sujeitamos nossos filhos e nossas filhas para serem servos, e até algumas de nossas filhas são tão sujeitas, que já não estão no poder de nossas mãos; e outros têm as nossas terras e as nossas vinhas. E considerei comigo mesmo no meu coração; depois, pelejei com os nobres e com os magistrados e disse-lhes: Usura tomais cada um de seu irmão. E ajuntei contra eles um grande ajuntamento”.

Os opressores eram irmãos dos oprimidos. Os oprimidos estavam engajados na mesma obra dos opressores - a reconstrução dos muros. Aqueles que foram injustiçados estavam angustiados porque seus filhos eram iguais aos filhos dos exploradores (Ne 5.5): tinham vontade, sentimento, desejos, necessidades. Neemias diz que os nobres estavam explorando não inimigos e estranhos, mas seus “irmãos” (Ne 5.7). A lei de Deus era clara nesse sentido: "Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como credor que impõe juros” (Êx 22.25). Quem ama, não explora, mas dá e reparte (1ª Jo 3.17,18; Tg 2.14-17).

Nos dias hodiernos em que vivemos, de crescente desigualdade social apesar do progresso da tecnologia, a Igreja não poderá realizar a obra do Senhor se transferir para o seu interior o mesmo quadro de injustiça social que o mundo está a viver. Muitos, a exemplo do que ocorria nos dias de Neemias, estão se aproveitando de sua posição privilegiada na sociedade e, sem dó nem piedade, estão a se enriquecer às custas do próximo e, o que é mais grave, às custas dos próprios irmãos.

É triste verificarmos que, assim como ocorre no mundo, não são poucos os que fazem da Igreja um local para acumulação de riquezas, para o seu próprio enriquecimento, gerando as mesmas murmurações que foram ouvidas por Neemias junto ao povo e às suas mulheres que, por causa do pão de cada dia, estavam em situação deplorável, com a perda tanto de seu patrimônio quanto de seus familiares, que já se achavam escravizados pelos mais ricos.

1.3. A falta de temor a Deus (Ne 5.9). “Disse mais: Não é bom o que fazeis: Porventura, não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos?”.

Quem anda no temor de Deus não explora o próximo, não se aproveita da miséria alheia para enriquecer-se. Quando perdemos o temor de Deus, a vida perde os referenciais. A impiedade sempre desemboca na perversão. José não adulterou com a mulher de Potifar porque andava no temor de Deus. O que nos livra do pecado é o temor de Deus. Neemias não se rendeu à cultura do ganho ilícito porque ele temia a Deus. Hoje, muitos políticos e até líderes evangélicos capitulam diante do poder do dinheiro e vendem a consciência porque perderam o temor do Senhor.

A melhor forma pela qual a Igreja tem para debelar a extrema desigualdade social é através de uma vida de temor a Deus, de estrita obediência à Palavra de Deus. Não é papel da Igreja assumir filosofias, doutrinas ou pensamentos humanos para tentar criar condições para uma melhor vida sobre a face da Terra, mas lutar e pelejar para que, havendo temor a Deus, esta melhora se realize pela concretização do amor ao próximo.

A presença da injustiça social no meio da Igreja, como se tem verificada cada vez mais entre nós, é mais uma demonstração de que está faltando o temor a Deus entre os que cristãos se dizem ser. O temor a Deus não se apresenta apenas em uma maior devoção individual, mas, também, num relacionamento fraterno e amoroso para com o irmão, na ajuda aos necessitados, a começar pelos de nossa igreja local.

1.4. A falta de testemunho perante o mundo (Ne 5.9). O povo de Deus estava sendo observado pelos olhos críticos do mundo. Quando a Igreja age igual ao mundo, isso é um escândalo e o nome de Deus é blasfemado. Infelizmente, estamos vendo a Igreja evangélica brasileira sendo mais conhecida na mídia pelos seus escândalos do que por seu testemunho. Alguns políticos evangélicos elegem-se em nome de Deus e depois envergonham o evangelho, mancomunando-se com toda sorte de corrupção e roubalheira. O apóstolo Paulo diz que não devemos nos envergonhar do evangelho (Rm 1.16), mas há muitos crentes que são a vergonha do evangelho.

2. A natureza do problema que atingia a vida do povo e que ameaçava a união entre os judeus.

Neemias identificou seis problemas (Adaptado do Livro Neemias, de Hernandes Dias Lopes):

2.1. A fome (Ne 5.1-2). Os judeus estavam trabalhando no muro, mas a panela estava vazia. A fome era uma questão urgente, não dava para esperar. O povo não podia continuar investindo na reconstrução do muro de estômago vazio.

Hoje, a fome é um problema que atinge quase 50% da população mundial. Enquanto uns morrem de fome, outros morrem de comer. Enquanto uns esbanjam, outros lutam desesperadamente para sobreviver. Enquanto uns ficam inquietos por causa de coisas supérfluas, outros se desesperam para ter pão dentro de casa. Há muitos homens, mulheres e crianças perambulando envergonhados pelas ruas das grandes cidades, disputando comida com os cães e porcos nos restos apodrecidos das feiras. Há milhões de crianças abandonadas que vivem sem teto, sem dignidade, sem identidade, perdidas nas ruas, estonteadas pela fome perversa. O problema não é só falta de amor, mas de amor, de solidariedade, de compaixão.

2.2. As dívidas (Ne 5.3). “Também havia quem dizia: As nossas terras, as nossas vinhas e as nossas casas empenhamos, para tomarmos trigo nesta fome”.

A dívida traz desespero mental, degradação social e ruína familiar. Algumas pessoas já tinham hipotecado suas casas e terras para comprar trigo. Não estavam fazendo negócios de investimento arriscado, estavam comprando o pão da sobrevivência. Os ricos aproveitaram o momento de crise, de fome, de aperto para fazerem bons e lucrativos negócios. Uma pessoa faminta, premida pela necessidade de sobrevivência, acaba fazendo negócios que só beneficiam os que querem se locupletar. Os agiotas se enriquecem aproveitando o desespero dos aflitos. Os agiotas não hesitavam em tomar as terras e até mesmo os filhos e as filhas dos pobres infelizes para receberem o seu dinheiro. Essa prática opressora estava em desacordo com a lei de Deus (Dt 23.19,20; 24.10-13). ela também feria o princípio do ano do jubileu (Lv 25.10,14-17,25-27).

A situação era tão aflitiva que o povo e as suas mulheres começaram a clamar não somente a Deus, mas, também, contra os judeus, seus irmãos, a nos revelar que, quando há insensibilidade por parte dos mais aquinhoados em relação ao clamor dos pobres, temos, também, um incentivo e estímulo ao desespero, o que poderá levar, inclusive, os pobres a pecar, deixando de simplesmente clamar para começar a murmurar. Este pecado não será, porém, apenas dos pobres, mas também dos que foram responsáveis por esta situação. Temos consciência disso?

2.3. Os impostos (Ne 5.4). “Também havia quem dizia: Tomamos dinheiro emprestado até para o tributo do rei, sobre as nossas terras e as nossas vinhas”.

Além da fome e das dívidas contraídas para terem o pão de cada dia, ainda tinham de pagar pesados tributos à Pérsia. O pouco que tinham precisava ser repartido para manter o luxo e o fausto dos poderosos.

No Brasil, a carga tributária é uma das mais pesadas do mundo. Cada quilo de produto da cesta básica que se compra no mercado é tributado, o pão que chega à nossa mesa é tributado. O que mais agride o pobre é que os impostos que paga não retornam a ele em benefícios. Na verdade, o pobre passa fome para manter o sistema, muitas vezes corrupto. Cada vez que se cria mais impostos, o dinheiro que deveria vir para ajudar os pobres, cai no ralo da corrupção. As ratazanas esfaimadas que circulam pelos corredores do poder, mordem sem piedade, não apenas o naco que pertence ao pobre, mas devoram os próprios pobres, porque estes, sem pão, sem teto, sem esperança, sucumbem impotentes diante de tamanha selvageria. Como sanguessugas, esses gananciosos insaciáveis, se alimentam do sangue do povo.

2.4. A perda dos bens (Ne 5.5). “No entanto, nós somos da mesma carne como eles, e nossos filhos são tão bons como os deles; e eis que sujeitamos nossos filhos e nossas filhas para serem escravos, algumas de nossas filhas já estão reduzidas à escravidão. Não está em nosso poder evitá-lo; pois os nossos campos e as nossas vinhas já são de outros”.

Os pobres perderam suas casas e suas terras e tornaram-se reféns dos poderosos. Eles trabalhavam, mas não desfrutavam. Eles calejavam as mãos, mas não usufruíam. Eram vítimas de uma injusta opressão econômica. Neemias percebeu que o âmago do problema era a exploração, por isso contendeu com os nobres e magistrados. Os sacerdotes eram os que deviam ter feito esse confronto, mas estavam mancomunados com a corrupção dos ricos (Ne 6.12,14; 13.4,7-9).

2.5. A escravidão, a perda da liberdade (Ne 5.5). Além de entregarem suas casas e propriedades, agora entregaram também seus filhos e filhas para saldarem dívidas. Os ricos passaram a ver pessoas como coisas e compraram seres humanos para serem seus escravos. O trabalho escravo era algo que feria o projeto de Deus. Era uma injustiça clamorosa. Observe a situação contraditória: enquanto Neemias e outros se esforçavam para resgatar os judeus vendidos como escravos aos vizinhos pagãos, a ganância dos ricos anulava esses esforços e forçava os judeus a voltarem à escravidão. O comércio escravagista é uma das páginas mais sombrias da história humana, um dos sinais mais notórios da maldade que tomou conta do homem movido pela ganância.

2.6. A perda da esperança (Ne 5.5). “Não está em nosso poder evitá-lo...”. Os poderosos subornavam os sacerdotes e os juízes; portanto, eram inatingíveis. Os pobres não tinham vez nem voz. Estavam completamente sem forças e sem esperança. Os oprimidos não viam uma saída da caverna das dívidas.

A situação, entretanto, não parece ter sido percebida por Neemias logo de início, pois foi preciso que o povo clamasse insistentemente até o ponto em que “Neemias se enfadou” (Ne 5.6). É preciso ter perseverança, mesmo no clamor por causa da necessidade e da carência. Caso o povo e as suas mulheres tivessem, diante de uma aparente indiferença inicial de Neemias, cessado de clamar, não teria havido qualquer modificação na situação adversa que estavam a passar.

O clamor do pobre e do necessitado tem de ser ouvido pela Igreja que, não só no seu interior, mas também na sociedade, deve fazer com que haja uma perseverança, uma persistência neste clamor, até que haja o “enfado” de quem pode modificar a situação. Espelhemo-nos no exemplo da viúva da parábola do juiz iníquo (Lc 18.1-8) que, apesar de saber que o juiz não queria fazer justiça a pessoa alguma, não desanimou e perseverou em sua demanda, até que conseguiu que a justiça fosse feita.

Qual é a nossa situação diante da grande injustiça social que existe tanto dentro da Igreja quanto na sociedade em que vivemos? Será que somos como o juiz iníquo? Sensibilizemo-nos com o clamor do pobre e do aflito para que possamos também ser ouvidos pelo Senhor e pelos homens.

III. NEEMIAS SOLUCIONOU O PROBLEMA

Neemias 5.6-12: “Ouvindo eu, pois, o seu clamor e estas palavras, muito me aborreci. 7 - Depois de ter considerado comigo mesmo, repreendi os nobres e magistrados e lhes disse: Sois usurários, cada um para com seu irmão; e convoquei contra eles um grande ajuntamento. 8 - Disse-lhes: nós resgatamos os judeus, nossos irmãos, que foram vendidos às gentes, segundo nossas posses; e vós outra vez negociaríeis vossos irmãos, para que sejam vendidos a nós? 9 - Então, se calaram e não acharam o que responder. Disse mais: não é bom o que fazeis; porventura não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos? 10 - Também eu, meus irmãos e meus moços lhes demos dinheiro emprestado e trigo. Demos de mão a esse empréstimo. 11- Restituí-lhes hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do vinho e do azeite, que exigistes deles. 12 - Então, responderam: Restituir-lhes-emos e nada lhes pediremos; faremos assim como dizes. Então, chamei os sacerdotes e os fiz jurar que fariam segundo prometeram.

Para resolver o grave problema da injustiça social, que estava causando insatisfação ao extremo e desunião entre o povo, Neemias apontou cinco soluções:

1. Ele reagiu fortemente, aborreceu-se (Ne 5.6)

Neemias era um homem de Deus e, embora tenha resistido um pouco ao clamor do povo e de suas mulheres, “aborreceu-se”. Este aborrecimento foi uma bênção, visto que, por primeiro, foi uma conversão interior. O próprio Neemias afirma que “considerou consigo mesmo no seu coração” (Ne 5.7). Coisa boa é quando nos sensibilizamos por causa do clamor do pobre e do necessitado, quando sentimos compaixão pelo próximo, quando nos deixamos sensibilizar pela situação de injustiça por que passa a humanidade.

Neemias, então, não ficou passivo diante da injustiça social que imperava naquela época. Ele reagiu fortemente. Ele se aborreceu. Ele se encheu de ira. Neemias repreendeu os nobres e magistrados e lhes disse: “Sois usurários, cada um para com seu irmão” (Ne 5.7).

O conformismo com a injustiça é um grave pecado aos olhos de Deus. A ira em si não é pecado (Ef 4.26; Sl 7.11; Mc 3.5). A ira deve ser focada no mal e não contra quem pratica o mal. A ira é pecaminosa quando nós a despejamos sobre nossos filhos, cônjuge, irmãos ou quando nutrimos mágoa ou desejamos vingança. Fomos chamados de protestantes exatamente pela inconformação com o erro e com o pecado. Os desmandos no trato da coisa pública e a corrupção endêmica e sistêmica em nosso país deveriam fazer ferver o sangue em nossas veias.

2. Refletiu – “considerou consigo mesmo no seu coração” (Ne 5.7-ARC).

Neemias era um líder prudente. Em vez de fermentar ainda mais a situação, falando irrefletidamente, ponderou o assunto consigo mesmo, aconselhou-se consigo mesmo, ruminou a situação antes de tomar uma decisão pública. A Bíblia diz: “Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha” (Pv 18.13). Diz ainda: “O iracundo levanta contendas, e o furioso multiplica as transgressões” (Pv 29.22). A prudência e a discrição são marcas indispensáveis na vida de um líder. No muito falar abundam as transgressões.

Primeiramente, Neemias verificou se as reivindicações apresentadas estavam de acordo com a Palavra do Senhor. Sentiu, como homem de Deus que era, que o clamor era justo e legítimo e que a forma pela qual a elite judaica estava vivendo não correspondia à vontade de Deus. Não havendo a observância da vontade de Deus nos relacionamentos sociais, jamais o Deus do céu faria prosperar a obra de reedificação dos muros e portas de Jerusalém.

Neemias também ponderou que de nada adiantaria restabelecer Jerusalém como uma cidade, com muros, portas e segurança, caso não houvesse justiça e união entre os judeus, pois a estrutura social não existe por si só, mas, sim, para o homem, o que, aliás, o Senhor Jesus ensinaria ao dizer que o sábado foi feito para o homem e não o homem, para o sábado (Mc 2.27).

3. Neemias convocou um grande ajuntamento (Ne 5.7,8).

Neemias, após ter entendido que o clamor era justo e legítimo, tomou uma atitude firme e corajosa: ajuntou o povo num ajuntamento contra os nobres e os magistrados, a indicar que a resistência era grande para que se alterasse a situação; mostrou-lhes que eles haviam praticado usura (Ne 5.7).

Feito o ajuntamento, um ajuntamento pacífico e ordeiro, determinado por Neemias, que era o governador, ele denunciou a injustiça cometida, lembrando aos nobres e magistrados que todo o povo havia sido resgatado do cativeiro, que todos haviam readquirido a liberdade, por uma operação divina, e, portanto, como agora os próprios judeus estariam a escravizar os seus irmãos? Como dizer que se estava lutando pela manutenção da liberdade frente aos povos vizinhos, que queriam escravizá-los, se os próprios judeus escravizavam seus irmãos? (Ne 5.8).

O papel do líder do povo de Deus, ou mesmo do governante político secular, como se vê, é o de promover, de forma ordeira, justa e legítima, a cessação das atividades que geram a injustiça social, ficando sempre ao lado dos menos favorecidos, sem que, para tanto, venha a destruir os mais abastados. Faz-se preciso denunciar a injustiça e conscientizar os mais abastados a tomar medidas efetivas para que tal situação deixe de existir, diminuindo o abismo entre os estratos extremos da sociedade.

Neemias, em sua argumentação, não se utilizou de qualquer filosofia, ideologia ou doutrina humanas. Como homem de Deus, mostrou claramente aos nobres e magistrados que era necessário “andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos” (Ne 5.9). Sem o temor de Deus, não há como se realizar justiça social. Sem que estejamos obedientes ao Senhor, não há como vivermos de acordo com a Sua vontade no que respeita aos nossos relacionamentos sociais.

Neemias teve coragem para repreender o erro, ainda que na vida dos nobres, dos ricos, dos poderosos. Ele teve compromisso com a verdade e com a justiça, por isso, não se intimidou. Neemias não amaciou a situação. Ele chamou os nobres e magistrados de usurários. Ele colocou o dedo na ferida e desmascarou os nobres, denunciando sua conduta vergonhosa e injusta.

Neemias, em suas ponderações, observou claramente que este enriquecimento desmedido em detrimento dos menos favorecidos era usura, o que era expressamente vedado pela lei (Êx 22.25; Lv 25.36-37; Dt 23.19-20). “Usura” é a cobrança de juros excessivos sobre o empréstimo dado a alguém, uma verdadeira transferência do patrimônio para alguém sem que tenha havido qualquer trabalho por parte daquele que enriquece.

4. A exemplificação (Ne 5.8-10).

Neemias não era um líder que apenas tinha coragem, ele tinha vida. Ele não apenas falava, ele dava exemplo. Ele não subiu no palanque para ostentar elogios a si mesmo estando comprometido com os mesmos crimes que denunciava. Ele não era hipócrita. Neemias não ocupou a liderança para tirar vantagem. Ele era um homem que amava o povo e não o dinheiro.

Neemias resgatou judeus escravos dos estrangeiros (Ne 5.8); agora os líderes do povo estavam fazendo essas pessoas escravas novamente. Ele não apenas socorreu os necessitados, mas perdoou-lhes a dívida, visto que não puderam pagar a ele (Ne 5.10). O maior líder de todos os tempos, Jesus de Nazaré, disse que para você liderar precisa servir.

Neemias não foi um político demagogo, que simplesmente fez discursos e promessas ao povo que clamava, sem tomar qualquer iniciativa concreta. Não só assumiu a luta contra os nobres e magistrados, como fez o ajuntamento de todos contra eles, mas também confessou e deixou as suas próprias práticas usurárias, pois também ele, seus irmãos e seus moços haviam emprestado dinheiro para os mais necessitados. Num gesto exemplar, Neemias abandonou o ganho dos juros destes empréstimos, fazendo antes de exigir que os outros fizessem (Ne 5.9).

A injustiça social é um reflexo do pecado que campeia na humanidade, pois todo pecado é iniquidade, ou seja, injustiça (1ª Jo 3.4). Assim, consentir com a injustiça social, tirar proveito dela é consentir com o pecado e é digno de juízo divino tanto quem o pratica, quanto quem consente com a sua prática (Rm 1.32).

A injustiça social leva os homens à uma situação tanto de miséria quanto de grandeza que compromete a sua própria dignidade, tornando-se um fator de incentivo para a prática do pecado. O sábio Agur já ensinava que a situação de extrema injustiça social é uma janela escancarada para o pecado, seja para o pobre, que se tornará um furtador, seja para o rico, que se tornará um vaidoso e soberbo (Pv 30.8-9).

5. A restituição (Ne 5.11,12,13).

Neemias, após dar o exemplo, determinou que os nobres e magistrados restituíssem aos pobres as propriedades tomadas com usura e também restituíssem parte dos juros cobrados sobre o empréstimo de dinheiro, trigo, vinho e azeite. Observe que a taxa de juros que era cobrado pelo dinheiro, trigo, mosto e azeite correspondia ao “centésimo”, ou seja, 1% (um por cento) (cf. Ne 5.10,11), taxa bem inferior ao que vemos em nosso país, que é conhecido como “o paraíso dos juros” em nosso planeta.

A proposta de Neemias foi acatada, e a elite judaica também se sensibilizou com o clamor dos pobres e necessitados, restituindo o que haviam tomado dos mais necessitados, como também deixando de exigir os juros que estavam a cobrar, compromisso que foi solenemente firmado, tendo, inclusive, havido juramento perante os sacerdotes (Ne 5.12), bem como o gesto simbólico do sacudir do regaço (Ne 5.13). Por meio de um gesto, Neemias advertiu: aqueles que quebrassem a promessa seria “sacudido” da terra como quem sacode o pó das vestes. Assim, a paz voltou a reinar entre os judeus.

A consequência de se ter conquistado a justiça social, com o fim da desigualdade social gritante, foi o louvor a Deus (Ne 5.13). A justiça social é uma boa obra e, com ela, o nome do Senhor é glorificado. Que bom será quando isto se der no interior de cada igreja local!

IV. A CONDUTA IMPOLUTA E ÍNTEGRA DE NEEMIAS COMO LÍDER DO POVO DE DEUS (Ne 5.13-19)

No texto de Neemias 5.1-12 vimos como Neemias teve coragem para confrontar os nobres acerca da usura. Eles haviam se aproveitado da crise econômica para enriquecer. Eles emprestaram dinheiro com juros altos aos seus irmãos e acabaram tomando suas casas, vinhas, terras e filhos. Mas não bastou apenas coragem a Neemias. Ele precisou também de exemplo e vida. As pessoas aceitam o líder, depois os seus planos. Eles têm confiança na visão, quando têm confiança no líder. Agora, Neemias dá o seu testemunho de conduta impoluta e íntegra como governador de Jerusalém.

Em Neemias 5.3-19 vemos algumas qualidades do caráter de Neemias que marcaram a sua integridade como um líder do povo de Deus em Jerusalém {Adaptado do Livro Neemias de Hernandes Dias Lopes].

1. Neemias transformou crises em oportunidades.

Ne 5.13,14 “Também sacudi o meu regaço e disse: Assim o faça Deus, sacuda de sua casa e de seu trabalho a todo homem que não cumprir esta promessa; seja sacudido e despojado. E toda a congregação respondeu: Amém! E louvaram o Senhor; e o povo fez segundo a sua promessa. 14 -Também desde o dia em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão devido ao governador.”

O líder é alguém que lida com tensão. O campo de ação do líder é uma arena de muitas pelejas. A crise é sua agenda diária. Mas a crise é uma encruzilhada que leva os fracos ao fracasso e os fortes a consagradoras vitórias. A crise denuncia os covardes e descobre os heróis. Vejamos como Neemias transformou crises em oportunidades:

Primeiro, ele transformou clamor em louvor. O povo começou com um clamor cheio de dor por causa da opressão e terminou louvando a Deus cheio de alegria. A crise é uma encruzilhada que a uns abate, a outros exalta. Uns olham o problema, outros a oportunidade. Uns veem as dificuldades, outros a solução. O clamor tornou-se uma reunião festiva de louvor. Por quê? Porque Neemias teve capacidade de se indignar, confrontar, exemplificar, pedir restituição e dar exemplo.

Segundo, ele transformou opressão em solidariedade. Os nobres não apenas cancelaram a dívida dos pobres, mas restituíram suas vinhas, suas terras e seus filhos.

Terceiro, ele transformou a situação de usura em oportunidade para confronto (Ne 5.13). Neemias pediu aos nobres para restituir, chamou os seus sacerdotes e também pessoalmente os fez assumir um compromisso público. O verdadeiro líder nunca foge do problema nem o adia, antes enfrenta-o corajosa e firmemente.

Quarto, ele transformou uma revolta humana num ato de compromisso e adoração a Deus. O clima era de tensão, revolta, dor, angústia. Neemias levou os nobres a um compromisso de restituição diante de Deus e o povo celebrou com alegria louvores ao Senhor.

2. Neemias deu mais valor ao bem público do que à remuneração pessoal.

5.14,18 “Também desde o dia em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão devido ao governador. 18 - O que se preparava para cada dia era um boi e seis ovelhas escolhidas; também à minha custa eram preparadas aves e, de dez em dez dias, muito vinho de todas as espécies; nem por isso exigi o pão devido ao governador, porquanto a servidão deste povo era grande.

Neemias abriu mão de seus direitos garantidos e legítimos a favor do povo. Seu posto de governador é uma plataforma de serviço e não de privilégios. Em vez de enriquecer-se e engordar sua conta bancária, ele abriu mão do seu próprio salário para socorrer o povo em tempo de aflição.

Hoje, vemos nossos legisladores, seja no âmbito estadual ou nacional, buscando sofregamente aumentar seus salários de forma abusiva. Além de majorar seus salários, muitos, ainda, se mancomunam com perversos esquemas de corrupção, recebendo vultosas somas de fontes escusas. Assistimos com tristeza e repúdio a multiplicação de políticos desonestos e a escassez de exemplos dignos de serem imitados. Precisamos, com urgência, de líderes íntegros como Neemias!

3. Neemias deu mais valor ao trabalho do que à indolência luxuosa.

Ne 5.16 “Antes, também na obra deste muro fiz reparação, e terra nenhuma compramos; e todos os meus moços se ajuntaram ali para a obra”.

Os outros governadores viram o cargo como uma porta aberta para o benefício pessoal, para o enriquecimento rápido, para o favorecimento dos seus aliados. Neemias não viveu na indolência, nababescamente, às custas do povo, mas ele e seus moços trabalharam na obra. Ele era um homem que liderava o povo, que estava junto do povo, que defendia o povo, que trabalhava com o povo e pelo povo. Precisamos resgatar o exemplo de políticos da fibra de Neemias, gente séria, abnegada e trabalhadora.

Quando um líder está mais interessado em si mesmo e em seus investimentos e aventuras pessoais do que no seu trabalho, os seus subordinados logo perceberão. Neemias realizou um trabalho pessoal e também de equipe; um trabalho contínuo, abnegado e eficaz.

4. Neemias deu mais valor à benevolência do que à política do levar vantagem em tudo.

Ne 5.18 “O que se preparava para cada dia era um boi e seis ovelhas escolhidas; também à minha custa eram preparadas aves e, de dez em dez dias, muito vinho de todas as espécies; nem por isso exigi o pão devido ao governador, porquanto a servidão deste povo era grande.”

Neemias em vez de explorar o povo, ajudava o povo. Ele comprou judeus escravos para resgatá-los. Neemias demonstrou amor às pessoas e o amor não era apenas o que ele sentia, mas sobretudo o que ele fazia. Neemias emprestou e perdoou a dívida dos pobres. Ele abriu sua casa e sustentou os trabalhadores na obra às suas custas para não sobrecarregar o povo já empobrecido. Ele abriu mão de seus direitos garantidos: “Nem por isso exigi o pão devido ao governador”.

5. Neemias deu mais valor à integridade do que a vantagens pessoais.

Ne 5.14 “Também desde o dia em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão devido ao governador”.

Neemias foi um homem que manteve sua integridade intocável durante todo o seu mandato de doze anos. A integridade faz parte da vida do líder. Um líder que não é íntegro em sua vida pessoal não é um verdadeiro líder. Para que um líder seja íntegro, ele deve ser sincero, e esta sinceridade é verificada em seu viver diário: nas conversações, no agir, nas finanças, no serviço.

Nenhum sacrifício era demasiado grande e nenhuma tarefa era difícil demais para Neemias, quando tinha a certeza de qual era a vontade de Deus. Ele estava disposto a adotar quaisquer medidas para colocar em prática aquilo que tinha a certeza de ser a vontade de Deus. Em alguns momentos agiu de forma austera: ele admoestou, repreendeu, protestou, contendeu, amaldiçoou, e até mesmo arrancou os cabelos de alguns (Ne 13.25). Enfim, tornou muito difícil a vida dos impiedosos! Era um homem corajoso e um general astuto em sua luta contra o mal. Além disso, era um trabalhador incansável e um grande restaurador das coisas de Deus. Ele trabalhou duramente a favor da justiça, porem mantinha o coração terno diante do Senhor. Era um homem honesto, íntegro, convicto e piedoso. Sem dúvida, ele foi um magnífico exemplo de liderança.

CONCLUSÃO

O segredo da vitória de Neemias frente aos desafios que enfrentara, foi a sua “integridade”. O verdadeiro líder do povo de Deus deve ter como característica principal a integridade, ou seja, estar inteiramente moldado pelo Senhor. É a sinceridade (“sem cera”, sem qualquer trinco em seu caráter), que nos permitirá vencer o mal e alcançar a vida eterna. Será que podemos repetir as palavras do apóstolo Paulo: “sede meus imitadores, como eu sou de Cristo?” (1ª Co 11.1). Não nos esqueçamos de que nosso Deus conhece o íntimo do homem (1º Sm 16.7; Jo 2.23-25). Assim, não adianta participarmos dos cultos e demais reuniões se não formos sinceros, íntegros e tementes a Deus.

FONTE DE PESQUISA

1. BERGSTÉN Eurico. As causas da desunião devem ser eliminadas. Lições bíblicas – 3º trimestre 2020 CPAD Rio de Janeiro RJ.

2. Bíblia de Estudo Pentecostal.

3. Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

4. Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

5. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.

6. Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

7. Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

8. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.

9. FARIA Cleverson de Abreu. Princípios para uma boa liderança.

10. Hernandes Dias Lopes. Neemias – O líder que restaurou uma nação.

11. Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC Disponível no Blog: h https://luloure.blogspot.com/2020/?m=0 – Acesso 19/08/2020.