TEOLOGIA EM FOCO: AS CAUSAS DA DESUNIÃO DEVEM SER ELIMINADAS

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

AS CAUSAS DA DESUNIÃO DEVEM SER ELIMINADAS


LEITURA BÍBLICA

Neemias 5.1,6-12 “Foi, porém, grande o clamor do povo e de suas mulheres contra os judeus, seus irmãos. 6 - Ouvindo eu, pois, o seu clamor e essas palavras, muito me enfadei. 7 - E considerei comigo mesmo no meu coração; depois, pelejei com os nobres e com os magistrados e disse-lhes: Usura tomais cada um de seu irmão. E ajuntei contra eles um grande ajuntamento. 8 - E disse-lhes: Nós resgatamos os judeus, nossos irmãos, que foram vendidos às gentes, segundo nossas posses; e vós outra vez venderíeis vossos irmãos ou vender-se-iam a nós? Então, se calaram e não acharam que responder. 9 - Disse mais: Não é bom o que fazeis: Porventura, não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos? 10 - Também eu, meus irmãos e meus moços, a juro, lhes temos dado dinheiro e trigo. Deixemos este ganho. 11 - Restituí-lhes hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do mosto e do azeite, que vós exigis deles. 12 - Então, disseram: Restituir-lho-emos e nada procuraremos deles; faremos assim como dizes. Então, chamei os sacerdotes e os fiz jurar que fariam conforme esta palavra.”

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos dos conflitos internos decorrentes das injustiças sociais e desordens que levavam o povo judeu a um nível de desunião e hostilidade. A avareza dos ricos trouxe diversos problemas internos, sendo a principal delas a inimizade intensa entre o povo. Evidentemente, os alimentos eram escassos e caros. A inflação, sem contar os tributos que os judeus eram obrigados a pagar ao rei, levara muitos à pobreza, de modo que o povo foi obrigado a pegar dinheiros emprestado dos mais abastados e hipotecar suas propriedades. Alguns foram obrigados inclusive a vender seus filhos e filhas como escravos. E, como suas terras pertenciam a outros, muitos ficaram sem recursos para comprar os filhos de volta. Neemias tinha um grande problema a tratar; não um problema externo, mas interno; não procedente dos inimigos, mas oriundo dos irmãos. Ele agora enfrenta o problema da usura, da injustiça social, da opressão econômica.

Egressos do exílio babilônico os judeus pensavam que encontrariam uma terra que manava leite e mel. Entretanto, eis que se depararam com uma terra prestes a devorá-los. Como se não bastasse as dificuldades decorrentes da relação complexa com os povos vizinhos, havia também muitas injustiças sociais e desordens que levavam o povo a um nível de desunião e hostilidade. Neemias foi usado por Deus para levar os judeus a manterem-se unidos em um só propósito. Semelhantemente, a Igreja nestes últimos dias precisa de ministros que conduzam o rebanho do Senhor à união e uniformidade para que a obra de Deus seja edificada e muitas vidas possam ser salvas.

Este foi o grande clamor do povo e de suas mulheres contra os judeus, seus irmãos. O povo não estava clamando por luxo, mas por pão; não estava clamando por conforto, mas por sobrevivência. Esse clamor é o triste choro da humanidade ao longo dos séculos.

Neemias foi usado por Deus para levar os judeus a manterem-se unidos em um só propósito. O sucesso da obra de Deus não pode ser construído em detrimento dos obreiros. Semelhantemente, a Igreja nestes últimos dias precisa de ministros que conduzam o rebanho do Senhor à união e uniformidade para que a obra de Deus seja edificada e muitas vidas possam ser salvas.

I. A UNIÃO CARACTERIZAVA OS JUDEUS LIBERTOS DO CATIVEIRO

No início, o povo que chegou do exílio era muito unido. Apesar da desolação que a cidade de Jerusalém apresentava, o povo estava ousado a fazer a obra de Deus. Apesar dos inimigos externos, que os afrontavam com grandes ameaças, eles estavam unidos. E essa união foi a força motriz que proporcionou a renovação do altar, da reconstrução do Templo, da restauração dos muros da cidade de Jerusalém e da restauração do culto a Deus conforme os ritos da lei. Todos eles experimentaram um fervoroso avivamento nacional e espiritual. Mas um obstáculo à obra da reedificação surgiu nos relacionamentos sociais entre os judeus. Com o decorrer do tempo, a miséria mostrou suas garras de forma impiedosa e a injustiça social fez surgir conflitos que chegou à beira da irreconciliação. Deus teve que levantar Neemias para trazer o povo de volta à união, à paz e à harmonia.

1. A União do povo de Deus, o vínculo da perfeição.

Ora, se existe um vínculo é porque existe uma ligação, algo que junta dois ou mais seres, ou seja, não se trata de um único ser, mas de um conjunto de seres. Somos o corpo de Cristo, mas, também, “seus membros em particular”, isto é, não perdemos a nossa individualidade, as nossas características próprias quando nos unimos ao Senhor e à sua Igreja.

Esta é uma das grandes riquezas do povo de Deus que, muitas vezes, é desprezada e até alvo de ataque por alguns menos avisados e que não conhecem bem a Palavra de Deus. O povo de Deus tem um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, mas é um povo formado por pessoas que são diferentes umas das outras, que têm grupos que se distinguem por causa de sua cultura, de seu modo de viver, de seus costumes, de sua maneira de servir a Deus.

Todos são santos, todos têm de ser separados do pecado, todos devem servir ao mesmo Senhor, ter a mesma fé, ter o mesmo batismo, ter o mesmo Pai. Todos são irmãos e, portanto, devem amar-se uns aos outros, não devem promover dissensões, lutas e pelejas entre si, porque produzem o fruto do Espírito e não as obras da carne, mas, nem por isso, são iguais. Deus, aliás, não fez uma pessoa igual ou idêntica a outra sobre a face da Terra e, como a Igreja é formada por seres humanos, naturalmente que será um grupo de pessoas que diferem entre si.

2. A bênção do Senhor depende da existência de um ambiente de união entre os irmãos.

O salmo 133 mostra com clareza esse fato:

“Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Arão, que desceu sobre a gola das suas vestes; como o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida para sempre” (Sl 133).

 

Este salmo revela que, somente num ambiente de união, o Espírito Santo atua plenamente. Somente num ambiente de união, cada membro em particular do corpo de Cristo (figurado por Arão, o escolhido para o sacerdócio) se deixa envolver plenamente pelo Espírito Santo (figurado pelo azeite).

Somente num ambiente de união, o refrigério do Espírito Santo pode nos consolar e nos permitir, mesmo neste mundo de sequidão e necessidade, termos a paz, a alegria e o amor divinos (figurados pelo orvalho de Hermom).

Somente num ambiente de união, a Igreja prossegue vitoriosa para se encontrar com o seu Senhor nos ares, cheia de vida espiritual e abençoada nos lugares celestiais em Cristo (Jo15.5,6; Ef 1.3), porque é no ambiente de união que “…o Senhor ordena a vida e a bênção para sempre”.

3. A União reflete a nossa concordância de propósitos.

Foi por causa da união que os judeus, numericamente inferiores aos seus inimigos, conseguiram reconstruir o Templo, e também os muros da cidade. Esta união é também o segredo da vitória da Igreja. Infelizmente, a união que deveria ser encontrada na Igreja nem sempre o é. As pessoas discordam e causam divisões por causa de assuntos sem importância. Alguns sentem prazer em causar tensão, depreciando e desacreditando outros. A união é importante porque:

Faz da Igreja um exemplo para o mundo e ajuda a aproximar as pessoas do Senhor;

Ajuda-nos a cooperar conforme a vontade de Deus, antecipando um pouco do gozo que teremos no Céu.

Todavia, viver em união não significa que concordaremos em tudo; haverá muitas opiniões, da mesma maneira que existem muitas notas em um acorde musical. Mas devemos concordar em nosso propósito na vida: trabalhar juntos para Deus. A união reflete a nossa concordância de propósitos.

4. A Igreja é um Corpo (1ª Co.12.12-31).

A Igreja é comparada com uma “família”, um “exército”, um “templo’, uma ‘noiva”. Mas, a figura predileta de Paulo para descrever a Igreja é o “corpo”. Um corpo tem interação, os órgãos se comunicam entre si. Cada parte é útil para o corpo como um todo, e há interdependência delas (Ef 4.16; Cl.2:19). A Igreja é um Corpo, cuja cabeça é Jesus Cristo. Ora, um corpo não pode subsistir sem que haja união entre seus membros, bem como entre os membros e a cabeça. Antes de existir comunhão precisa existir união. Uma é pré-requisito para a outra. Aceitar a Cristo é também aceitar fazer parte de seu Corpo.

II. A UNIÃO ENTRE OS JUDEUS ESTAVA AMEAÇADA

1. A causa da ameaça.

Neemias identificou quatro causas que estavam afligindo o povo oprimido de Jerusalém e que estavam ameaçando desfazer a união entre o povo de Deus:

1.1. A usura (Ne 5.7). Usura é não se contentar com o que se tem e querer o que é do outro. Usura é aproveitar um momento de infelicidade do outro para apropriar-se do que ele tem. Os nobres se beneficiaram com a crise. Sempre alguém lucra com a crise. A miséria do povo sempre beneficia os gananciosos e usurários. Os nobres estavam agindo como penhoristas, e ainda por cima severos, ao invés de agirem como irmãos (Ne 5.1). Estavam emprestando somente com a melhor garantia e com os piores motivos. O povo estava desesperado e fizeram um grande clamor contra os exploradores. O texto sagrado diz:

“Foi, porém, grande o clamor do povo e de suas mulheres, contra os judeus, seus irmãos” (Ne 5.1).

Por que houve esse clamor? Porque estava ocorrendo uma desmedida exploração dos mais pobres pelos mais ricos que, diante da fome que havia na terra, aproveitaram a ocasião para se enriquecer ainda mais, gerando um quadro de grande servidão por causa das dívidas contraídas pelos mais pobres para que pudessem sobreviver, alimentar-se do necessário. A situação era de calamidade social.

Com esse clamor, Neemias percebeu claramente que não poderia executar a obra da reedificação dos muros e portas de Jerusalém, visto que tal obra exigia a participação de todos, a união de todo o povo, algo imprescindível para se realizar a vontade de Deus. Havia ele conclamado todo o povo à obra e ali estava o povo todo a trabalhar, apesar das angústias vividas, mas esse clamor representava um enorme fator de risco para a continuidade da obra.

De igual maneira, não podemos fazer a obra de Deus se não houver comunhão na Igreja. A Igreja tem de se caracterizar pela comunhão e pela união entre os irmãos, como nos deixa claro a descrição que Lucas faz da igreja primitiva em Jerusalém em At 2.42-47.

Não há como se realizar a contento a obra do Senhor se os relacionamentos sociais dos salvos não forem transformados pelo Evangelho. Por isso, o Senhor Jesus nos ensinou que devemos amar uns aos outros como Ele nos amou, amor esse que não envolveu apenas o aspecto da salvação, mas também a tomada de atitudes concretas para minorar o sofrimento e a carência do povo, inclusive no que respeita aos aspectos terrenos de nossa existência.

1.2. A falta de amor (Ne 5.5-7). “Agora, pois, a nossa carne é como a carne de nossos irmãos, e nossos filhos, como seus filhos; e eis que sujeitamos nossos filhos e nossas filhas para serem servos, e até algumas de nossas filhas são tão sujeitas, que já não estão no poder de nossas mãos; e outros têm as nossas terras e as nossas vinhas. E considerei comigo mesmo no meu coração; depois, pelejei com os nobres e com os magistrados e disse-lhes: Usura tomais cada um de seu irmão. E ajuntei contra eles um grande ajuntamento”.

Os opressores eram irmãos dos oprimidos. Os oprimidos estavam engajados na mesma obra dos opressores - a reconstrução dos muros. Aqueles que foram injustiçados estavam angustiados porque seus filhos eram iguais aos filhos dos exploradores (Ne 5.5): tinham vontade, sentimento, desejos, necessidades. Neemias diz que os nobres estavam explorando não inimigos e estranhos, mas seus “irmãos” (Ne 5.7). A lei de Deus era clara nesse sentido: "Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como credor que impõe juros” (Êx 22.25). Quem ama, não explora, mas dá e reparte (1ª Jo 3.17,18; Tg 2.14-17).

Nos dias hodiernos em que vivemos, de crescente desigualdade social apesar do progresso da tecnologia, a Igreja não poderá realizar a obra do Senhor se transferir para o seu interior o mesmo quadro de injustiça social que o mundo está a viver. Muitos, a exemplo do que ocorria nos dias de Neemias, estão se aproveitando de sua posição privilegiada na sociedade e, sem dó nem piedade, estão a se enriquecer às custas do próximo e, o que é mais grave, às custas dos próprios irmãos.

É triste verificarmos que, assim como ocorre no mundo, não são poucos os que fazem da Igreja um local para acumulação de riquezas, para o seu próprio enriquecimento, gerando as mesmas murmurações que foram ouvidas por Neemias junto ao povo e às suas mulheres que, por causa do pão de cada dia, estavam em situação deplorável, com a perda tanto de seu patrimônio quanto de seus familiares, que já se achavam escravizados pelos mais ricos.

1.3. A falta de temor a Deus (Ne 5.9). “Disse mais: Não é bom o que fazeis: Porventura, não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos?”.

Quem anda no temor de Deus não explora o próximo, não se aproveita da miséria alheia para enriquecer-se. Quando perdemos o temor de Deus, a vida perde os referenciais. A impiedade sempre desemboca na perversão. José não adulterou com a mulher de Potifar porque andava no temor de Deus. O que nos livra do pecado é o temor de Deus. Neemias não se rendeu à cultura do ganho ilícito porque ele temia a Deus. Hoje, muitos políticos e até líderes evangélicos capitulam diante do poder do dinheiro e vendem a consciência porque perderam o temor do Senhor.

A melhor forma pela qual a Igreja tem para debelar a extrema desigualdade social é através de uma vida de temor a Deus, de estrita obediência à Palavra de Deus. Não é papel da Igreja assumir filosofias, doutrinas ou pensamentos humanos para tentar criar condições para uma melhor vida sobre a face da Terra, mas lutar e pelejar para que, havendo temor a Deus, esta melhora se realize pela concretização do amor ao próximo.

A presença da injustiça social no meio da Igreja, como se tem verificada cada vez mais entre nós, é mais uma demonstração de que está faltando o temor a Deus entre os que cristãos se dizem ser. O temor a Deus não se apresenta apenas em uma maior devoção individual, mas, também, num relacionamento fraterno e amoroso para com o irmão, na ajuda aos necessitados, a começar pelos de nossa igreja local.

1.4. A falta de testemunho perante o mundo (Ne 5.9). O povo de Deus estava sendo observado pelos olhos críticos do mundo. Quando a Igreja age igual ao mundo, isso é um escândalo e o nome de Deus é blasfemado. Infelizmente, estamos vendo a Igreja evangélica brasileira sendo mais conhecida na mídia pelos seus escândalos do que por seu testemunho. Alguns políticos evangélicos elegem-se em nome de Deus e depois envergonham o evangelho, mancomunando-se com toda sorte de corrupção e roubalheira. O apóstolo Paulo diz que não devemos nos envergonhar do evangelho (Rm 1.16), mas há muitos crentes que são a vergonha do evangelho.

2. A natureza do problema que atingia a vida do povo e que ameaçava a união entre os judeus.

Neemias identificou seis problemas (Adaptado do Livro Neemias, de Hernandes Dias Lopes):

2.1. A fome (Ne 5.1-2). Os judeus estavam trabalhando no muro, mas a panela estava vazia. A fome era uma questão urgente, não dava para esperar. O povo não podia continuar investindo na reconstrução do muro de estômago vazio.

Hoje, a fome é um problema que atinge quase 50% da população mundial. Enquanto uns morrem de fome, outros morrem de comer. Enquanto uns esbanjam, outros lutam desesperadamente para sobreviver. Enquanto uns ficam inquietos por causa de coisas supérfluas, outros se desesperam para ter pão dentro de casa. Há muitos homens, mulheres e crianças perambulando envergonhados pelas ruas das grandes cidades, disputando comida com os cães e porcos nos restos apodrecidos das feiras. Há milhões de crianças abandonadas que vivem sem teto, sem dignidade, sem identidade, perdidas nas ruas, estonteadas pela fome perversa. O problema não é só falta de amor, mas de amor, de solidariedade, de compaixão.

2.2. As dívidas (Ne 5.3). “Também havia quem dizia: As nossas terras, as nossas vinhas e as nossas casas empenhamos, para tomarmos trigo nesta fome”.

A dívida traz desespero mental, degradação social e ruína familiar. Algumas pessoas já tinham hipotecado suas casas e terras para comprar trigo. Não estavam fazendo negócios de investimento arriscado, estavam comprando o pão da sobrevivência. Os ricos aproveitaram o momento de crise, de fome, de aperto para fazerem bons e lucrativos negócios. Uma pessoa faminta, premida pela necessidade de sobrevivência, acaba fazendo negócios que só beneficiam os que querem se locupletar. Os agiotas se enriquecem aproveitando o desespero dos aflitos. Os agiotas não hesitavam em tomar as terras e até mesmo os filhos e as filhas dos pobres infelizes para receberem o seu dinheiro. Essa prática opressora estava em desacordo com a lei de Deus (Dt 23.19,20; 24.10-13). ela também feria o princípio do ano do jubileu (Lv 25.10,14-17,25-27).

A situação era tão aflitiva que o povo e as suas mulheres começaram a clamar não somente a Deus, mas, também, contra os judeus, seus irmãos, a nos revelar que, quando há insensibilidade por parte dos mais aquinhoados em relação ao clamor dos pobres, temos, também, um incentivo e estímulo ao desespero, o que poderá levar, inclusive, os pobres a pecar, deixando de simplesmente clamar para começar a murmurar. Este pecado não será, porém, apenas dos pobres, mas também dos que foram responsáveis por esta situação. Temos consciência disso?

2.3. Os impostos (Ne 5.4). “Também havia quem dizia: Tomamos dinheiro emprestado até para o tributo do rei, sobre as nossas terras e as nossas vinhas”.

Além da fome e das dívidas contraídas para terem o pão de cada dia, ainda tinham de pagar pesados tributos à Pérsia. O pouco que tinham precisava ser repartido para manter o luxo e o fausto dos poderosos.

No Brasil, a carga tributária é uma das mais pesadas do mundo. Cada quilo de produto da cesta básica que se compra no mercado é tributado, o pão que chega à nossa mesa é tributado. O que mais agride o pobre é que os impostos que paga não retornam a ele em benefícios. Na verdade, o pobre passa fome para manter o sistema, muitas vezes corrupto. Cada vez que se cria mais impostos, o dinheiro que deveria vir para ajudar os pobres, cai no ralo da corrupção. As ratazanas esfaimadas que circulam pelos corredores do poder, mordem sem piedade, não apenas o naco que pertence ao pobre, mas devoram os próprios pobres, porque estes, sem pão, sem teto, sem esperança, sucumbem impotentes diante de tamanha selvageria. Como sanguessugas, esses gananciosos insaciáveis, se alimentam do sangue do povo.

2.4. A perda dos bens (Ne 5.5). “No entanto, nós somos da mesma carne como eles, e nossos filhos são tão bons como os deles; e eis que sujeitamos nossos filhos e nossas filhas para serem escravos, algumas de nossas filhas já estão reduzidas à escravidão. Não está em nosso poder evitá-lo; pois os nossos campos e as nossas vinhas já são de outros”.

Os pobres perderam suas casas e suas terras e tornaram-se reféns dos poderosos. Eles trabalhavam, mas não desfrutavam. Eles calejavam as mãos, mas não usufruíam. Eram vítimas de uma injusta opressão econômica. Neemias percebeu que o âmago do problema era a exploração, por isso contendeu com os nobres e magistrados. Os sacerdotes eram os que deviam ter feito esse confronto, mas estavam mancomunados com a corrupção dos ricos (Ne 6.12,14; 13.4,7-9).

2.5. A escravidão, a perda da liberdade (Ne 5.5). Além de entregarem suas casas e propriedades, agora entregaram também seus filhos e filhas para saldarem dívidas. Os ricos passaram a ver pessoas como coisas e compraram seres humanos para serem seus escravos. O trabalho escravo era algo que feria o projeto de Deus. Era uma injustiça clamorosa. Observe a situação contraditória: enquanto Neemias e outros se esforçavam para resgatar os judeus vendidos como escravos aos vizinhos pagãos, a ganância dos ricos anulava esses esforços e forçava os judeus a voltarem à escravidão. O comércio escravagista é uma das páginas mais sombrias da história humana, um dos sinais mais notórios da maldade que tomou conta do homem movido pela ganância.

2.6. A perda da esperança (Ne 5.5). “Não está em nosso poder evitá-lo...”. Os poderosos subornavam os sacerdotes e os juízes; portanto, eram inatingíveis. Os pobres não tinham vez nem voz. Estavam completamente sem forças e sem esperança. Os oprimidos não viam uma saída da caverna das dívidas.

A situação, entretanto, não parece ter sido percebida por Neemias logo de início, pois foi preciso que o povo clamasse insistentemente até o ponto em que “Neemias se enfadou” (Ne 5.6). É preciso ter perseverança, mesmo no clamor por causa da necessidade e da carência. Caso o povo e as suas mulheres tivessem, diante de uma aparente indiferença inicial de Neemias, cessado de clamar, não teria havido qualquer modificação na situação adversa que estavam a passar.

O clamor do pobre e do necessitado tem de ser ouvido pela Igreja que, não só no seu interior, mas também na sociedade, deve fazer com que haja uma perseverança, uma persistência neste clamor, até que haja o “enfado” de quem pode modificar a situação. Espelhemo-nos no exemplo da viúva da parábola do juiz iníquo (Lc 18.1-8) que, apesar de saber que o juiz não queria fazer justiça a pessoa alguma, não desanimou e perseverou em sua demanda, até que conseguiu que a justiça fosse feita.

Qual é a nossa situação diante da grande injustiça social que existe tanto dentro da Igreja quanto na sociedade em que vivemos? Será que somos como o juiz iníquo? Sensibilizemo-nos com o clamor do pobre e do aflito para que possamos também ser ouvidos pelo Senhor e pelos homens.

III. NEEMIAS SOLUCIONOU O PROBLEMA

Neemias 5.6-12: “Ouvindo eu, pois, o seu clamor e estas palavras, muito me aborreci. 7 - Depois de ter considerado comigo mesmo, repreendi os nobres e magistrados e lhes disse: Sois usurários, cada um para com seu irmão; e convoquei contra eles um grande ajuntamento. 8 - Disse-lhes: nós resgatamos os judeus, nossos irmãos, que foram vendidos às gentes, segundo nossas posses; e vós outra vez negociaríeis vossos irmãos, para que sejam vendidos a nós? 9 - Então, se calaram e não acharam o que responder. Disse mais: não é bom o que fazeis; porventura não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos? 10 - Também eu, meus irmãos e meus moços lhes demos dinheiro emprestado e trigo. Demos de mão a esse empréstimo. 11- Restituí-lhes hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do vinho e do azeite, que exigistes deles. 12 - Então, responderam: Restituir-lhes-emos e nada lhes pediremos; faremos assim como dizes. Então, chamei os sacerdotes e os fiz jurar que fariam segundo prometeram.

Para resolver o grave problema da injustiça social, que estava causando insatisfação ao extremo e desunião entre o povo, Neemias apontou cinco soluções:

1. Ele reagiu fortemente, aborreceu-se (Ne 5.6)

Neemias era um homem de Deus e, embora tenha resistido um pouco ao clamor do povo e de suas mulheres, “aborreceu-se”. Este aborrecimento foi uma bênção, visto que, por primeiro, foi uma conversão interior. O próprio Neemias afirma que “considerou consigo mesmo no seu coração” (Ne 5.7). Coisa boa é quando nos sensibilizamos por causa do clamor do pobre e do necessitado, quando sentimos compaixão pelo próximo, quando nos deixamos sensibilizar pela situação de injustiça por que passa a humanidade.

Neemias, então, não ficou passivo diante da injustiça social que imperava naquela época. Ele reagiu fortemente. Ele se aborreceu. Ele se encheu de ira. Neemias repreendeu os nobres e magistrados e lhes disse: “Sois usurários, cada um para com seu irmão” (Ne 5.7).

O conformismo com a injustiça é um grave pecado aos olhos de Deus. A ira em si não é pecado (Ef 4.26; Sl 7.11; Mc 3.5). A ira deve ser focada no mal e não contra quem pratica o mal. A ira é pecaminosa quando nós a despejamos sobre nossos filhos, cônjuge, irmãos ou quando nutrimos mágoa ou desejamos vingança. Fomos chamados de protestantes exatamente pela inconformação com o erro e com o pecado. Os desmandos no trato da coisa pública e a corrupção endêmica e sistêmica em nosso país deveriam fazer ferver o sangue em nossas veias.

2. Refletiu – “considerou consigo mesmo no seu coração” (Ne 5.7-ARC).

Neemias era um líder prudente. Em vez de fermentar ainda mais a situação, falando irrefletidamente, ponderou o assunto consigo mesmo, aconselhou-se consigo mesmo, ruminou a situação antes de tomar uma decisão pública. A Bíblia diz: “Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha” (Pv 18.13). Diz ainda: “O iracundo levanta contendas, e o furioso multiplica as transgressões” (Pv 29.22). A prudência e a discrição são marcas indispensáveis na vida de um líder. No muito falar abundam as transgressões.

Primeiramente, Neemias verificou se as reivindicações apresentadas estavam de acordo com a Palavra do Senhor. Sentiu, como homem de Deus que era, que o clamor era justo e legítimo e que a forma pela qual a elite judaica estava vivendo não correspondia à vontade de Deus. Não havendo a observância da vontade de Deus nos relacionamentos sociais, jamais o Deus do céu faria prosperar a obra de reedificação dos muros e portas de Jerusalém.

Neemias também ponderou que de nada adiantaria restabelecer Jerusalém como uma cidade, com muros, portas e segurança, caso não houvesse justiça e união entre os judeus, pois a estrutura social não existe por si só, mas, sim, para o homem, o que, aliás, o Senhor Jesus ensinaria ao dizer que o sábado foi feito para o homem e não o homem, para o sábado (Mc 2.27).

3. Neemias convocou um grande ajuntamento (Ne 5.7,8).

Neemias, após ter entendido que o clamor era justo e legítimo, tomou uma atitude firme e corajosa: ajuntou o povo num ajuntamento contra os nobres e os magistrados, a indicar que a resistência era grande para que se alterasse a situação; mostrou-lhes que eles haviam praticado usura (Ne 5.7).

Feito o ajuntamento, um ajuntamento pacífico e ordeiro, determinado por Neemias, que era o governador, ele denunciou a injustiça cometida, lembrando aos nobres e magistrados que todo o povo havia sido resgatado do cativeiro, que todos haviam readquirido a liberdade, por uma operação divina, e, portanto, como agora os próprios judeus estariam a escravizar os seus irmãos? Como dizer que se estava lutando pela manutenção da liberdade frente aos povos vizinhos, que queriam escravizá-los, se os próprios judeus escravizavam seus irmãos? (Ne 5.8).

O papel do líder do povo de Deus, ou mesmo do governante político secular, como se vê, é o de promover, de forma ordeira, justa e legítima, a cessação das atividades que geram a injustiça social, ficando sempre ao lado dos menos favorecidos, sem que, para tanto, venha a destruir os mais abastados. Faz-se preciso denunciar a injustiça e conscientizar os mais abastados a tomar medidas efetivas para que tal situação deixe de existir, diminuindo o abismo entre os estratos extremos da sociedade.

Neemias, em sua argumentação, não se utilizou de qualquer filosofia, ideologia ou doutrina humanas. Como homem de Deus, mostrou claramente aos nobres e magistrados que era necessário “andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos” (Ne 5.9). Sem o temor de Deus, não há como se realizar justiça social. Sem que estejamos obedientes ao Senhor, não há como vivermos de acordo com a Sua vontade no que respeita aos nossos relacionamentos sociais.

Neemias teve coragem para repreender o erro, ainda que na vida dos nobres, dos ricos, dos poderosos. Ele teve compromisso com a verdade e com a justiça, por isso, não se intimidou. Neemias não amaciou a situação. Ele chamou os nobres e magistrados de usurários. Ele colocou o dedo na ferida e desmascarou os nobres, denunciando sua conduta vergonhosa e injusta.

Neemias, em suas ponderações, observou claramente que este enriquecimento desmedido em detrimento dos menos favorecidos era usura, o que era expressamente vedado pela lei (Êx 22.25; Lv 25.36-37; Dt 23.19-20). “Usura” é a cobrança de juros excessivos sobre o empréstimo dado a alguém, uma verdadeira transferência do patrimônio para alguém sem que tenha havido qualquer trabalho por parte daquele que enriquece.

4. A exemplificação (Ne 5.8-10).

Neemias não era um líder que apenas tinha coragem, ele tinha vida. Ele não apenas falava, ele dava exemplo. Ele não subiu no palanque para ostentar elogios a si mesmo estando comprometido com os mesmos crimes que denunciava. Ele não era hipócrita. Neemias não ocupou a liderança para tirar vantagem. Ele era um homem que amava o povo e não o dinheiro.

Neemias resgatou judeus escravos dos estrangeiros (Ne 5.8); agora os líderes do povo estavam fazendo essas pessoas escravas novamente. Ele não apenas socorreu os necessitados, mas perdoou-lhes a dívida, visto que não puderam pagar a ele (Ne 5.10). O maior líder de todos os tempos, Jesus de Nazaré, disse que para você liderar precisa servir.

Neemias não foi um político demagogo, que simplesmente fez discursos e promessas ao povo que clamava, sem tomar qualquer iniciativa concreta. Não só assumiu a luta contra os nobres e magistrados, como fez o ajuntamento de todos contra eles, mas também confessou e deixou as suas próprias práticas usurárias, pois também ele, seus irmãos e seus moços haviam emprestado dinheiro para os mais necessitados. Num gesto exemplar, Neemias abandonou o ganho dos juros destes empréstimos, fazendo antes de exigir que os outros fizessem (Ne 5.9).

A injustiça social é um reflexo do pecado que campeia na humanidade, pois todo pecado é iniquidade, ou seja, injustiça (1ª Jo 3.4). Assim, consentir com a injustiça social, tirar proveito dela é consentir com o pecado e é digno de juízo divino tanto quem o pratica, quanto quem consente com a sua prática (Rm 1.32).

A injustiça social leva os homens à uma situação tanto de miséria quanto de grandeza que compromete a sua própria dignidade, tornando-se um fator de incentivo para a prática do pecado. O sábio Agur já ensinava que a situação de extrema injustiça social é uma janela escancarada para o pecado, seja para o pobre, que se tornará um furtador, seja para o rico, que se tornará um vaidoso e soberbo (Pv 30.8-9).

5. A restituição (Ne 5.11,12,13).

Neemias, após dar o exemplo, determinou que os nobres e magistrados restituíssem aos pobres as propriedades tomadas com usura e também restituíssem parte dos juros cobrados sobre o empréstimo de dinheiro, trigo, vinho e azeite. Observe que a taxa de juros que era cobrado pelo dinheiro, trigo, mosto e azeite correspondia ao “centésimo”, ou seja, 1% (um por cento) (cf. Ne 5.10,11), taxa bem inferior ao que vemos em nosso país, que é conhecido como “o paraíso dos juros” em nosso planeta.

A proposta de Neemias foi acatada, e a elite judaica também se sensibilizou com o clamor dos pobres e necessitados, restituindo o que haviam tomado dos mais necessitados, como também deixando de exigir os juros que estavam a cobrar, compromisso que foi solenemente firmado, tendo, inclusive, havido juramento perante os sacerdotes (Ne 5.12), bem como o gesto simbólico do sacudir do regaço (Ne 5.13). Por meio de um gesto, Neemias advertiu: aqueles que quebrassem a promessa seria “sacudido” da terra como quem sacode o pó das vestes. Assim, a paz voltou a reinar entre os judeus.

A consequência de se ter conquistado a justiça social, com o fim da desigualdade social gritante, foi o louvor a Deus (Ne 5.13). A justiça social é uma boa obra e, com ela, o nome do Senhor é glorificado. Que bom será quando isto se der no interior de cada igreja local!

IV. A CONDUTA IMPOLUTA E ÍNTEGRA DE NEEMIAS COMO LÍDER DO POVO DE DEUS (Ne 5.13-19)

No texto de Neemias 5.1-12 vimos como Neemias teve coragem para confrontar os nobres acerca da usura. Eles haviam se aproveitado da crise econômica para enriquecer. Eles emprestaram dinheiro com juros altos aos seus irmãos e acabaram tomando suas casas, vinhas, terras e filhos. Mas não bastou apenas coragem a Neemias. Ele precisou também de exemplo e vida. As pessoas aceitam o líder, depois os seus planos. Eles têm confiança na visão, quando têm confiança no líder. Agora, Neemias dá o seu testemunho de conduta impoluta e íntegra como governador de Jerusalém.

Em Neemias 5.3-19 vemos algumas qualidades do caráter de Neemias que marcaram a sua integridade como um líder do povo de Deus em Jerusalém {Adaptado do Livro Neemias de Hernandes Dias Lopes].

1. Neemias transformou crises em oportunidades.

Ne 5.13,14 “Também sacudi o meu regaço e disse: Assim o faça Deus, sacuda de sua casa e de seu trabalho a todo homem que não cumprir esta promessa; seja sacudido e despojado. E toda a congregação respondeu: Amém! E louvaram o Senhor; e o povo fez segundo a sua promessa. 14 -Também desde o dia em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão devido ao governador.”

O líder é alguém que lida com tensão. O campo de ação do líder é uma arena de muitas pelejas. A crise é sua agenda diária. Mas a crise é uma encruzilhada que leva os fracos ao fracasso e os fortes a consagradoras vitórias. A crise denuncia os covardes e descobre os heróis. Vejamos como Neemias transformou crises em oportunidades:

Primeiro, ele transformou clamor em louvor. O povo começou com um clamor cheio de dor por causa da opressão e terminou louvando a Deus cheio de alegria. A crise é uma encruzilhada que a uns abate, a outros exalta. Uns olham o problema, outros a oportunidade. Uns veem as dificuldades, outros a solução. O clamor tornou-se uma reunião festiva de louvor. Por quê? Porque Neemias teve capacidade de se indignar, confrontar, exemplificar, pedir restituição e dar exemplo.

Segundo, ele transformou opressão em solidariedade. Os nobres não apenas cancelaram a dívida dos pobres, mas restituíram suas vinhas, suas terras e seus filhos.

Terceiro, ele transformou a situação de usura em oportunidade para confronto (Ne 5.13). Neemias pediu aos nobres para restituir, chamou os seus sacerdotes e também pessoalmente os fez assumir um compromisso público. O verdadeiro líder nunca foge do problema nem o adia, antes enfrenta-o corajosa e firmemente.

Quarto, ele transformou uma revolta humana num ato de compromisso e adoração a Deus. O clima era de tensão, revolta, dor, angústia. Neemias levou os nobres a um compromisso de restituição diante de Deus e o povo celebrou com alegria louvores ao Senhor.

2. Neemias deu mais valor ao bem público do que à remuneração pessoal.

5.14,18 “Também desde o dia em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão devido ao governador. 18 - O que se preparava para cada dia era um boi e seis ovelhas escolhidas; também à minha custa eram preparadas aves e, de dez em dez dias, muito vinho de todas as espécies; nem por isso exigi o pão devido ao governador, porquanto a servidão deste povo era grande.

Neemias abriu mão de seus direitos garantidos e legítimos a favor do povo. Seu posto de governador é uma plataforma de serviço e não de privilégios. Em vez de enriquecer-se e engordar sua conta bancária, ele abriu mão do seu próprio salário para socorrer o povo em tempo de aflição.

Hoje, vemos nossos legisladores, seja no âmbito estadual ou nacional, buscando sofregamente aumentar seus salários de forma abusiva. Além de majorar seus salários, muitos, ainda, se mancomunam com perversos esquemas de corrupção, recebendo vultosas somas de fontes escusas. Assistimos com tristeza e repúdio a multiplicação de políticos desonestos e a escassez de exemplos dignos de serem imitados. Precisamos, com urgência, de líderes íntegros como Neemias!

3. Neemias deu mais valor ao trabalho do que à indolência luxuosa.

Ne 5.16 “Antes, também na obra deste muro fiz reparação, e terra nenhuma compramos; e todos os meus moços se ajuntaram ali para a obra”.

Os outros governadores viram o cargo como uma porta aberta para o benefício pessoal, para o enriquecimento rápido, para o favorecimento dos seus aliados. Neemias não viveu na indolência, nababescamente, às custas do povo, mas ele e seus moços trabalharam na obra. Ele era um homem que liderava o povo, que estava junto do povo, que defendia o povo, que trabalhava com o povo e pelo povo. Precisamos resgatar o exemplo de políticos da fibra de Neemias, gente séria, abnegada e trabalhadora.

Quando um líder está mais interessado em si mesmo e em seus investimentos e aventuras pessoais do que no seu trabalho, os seus subordinados logo perceberão. Neemias realizou um trabalho pessoal e também de equipe; um trabalho contínuo, abnegado e eficaz.

4. Neemias deu mais valor à benevolência do que à política do levar vantagem em tudo.

Ne 5.18 “O que se preparava para cada dia era um boi e seis ovelhas escolhidas; também à minha custa eram preparadas aves e, de dez em dez dias, muito vinho de todas as espécies; nem por isso exigi o pão devido ao governador, porquanto a servidão deste povo era grande.”

Neemias em vez de explorar o povo, ajudava o povo. Ele comprou judeus escravos para resgatá-los. Neemias demonstrou amor às pessoas e o amor não era apenas o que ele sentia, mas sobretudo o que ele fazia. Neemias emprestou e perdoou a dívida dos pobres. Ele abriu sua casa e sustentou os trabalhadores na obra às suas custas para não sobrecarregar o povo já empobrecido. Ele abriu mão de seus direitos garantidos: “Nem por isso exigi o pão devido ao governador”.

5. Neemias deu mais valor à integridade do que a vantagens pessoais.

Ne 5.14 “Também desde o dia em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão devido ao governador”.

Neemias foi um homem que manteve sua integridade intocável durante todo o seu mandato de doze anos. A integridade faz parte da vida do líder. Um líder que não é íntegro em sua vida pessoal não é um verdadeiro líder. Para que um líder seja íntegro, ele deve ser sincero, e esta sinceridade é verificada em seu viver diário: nas conversações, no agir, nas finanças, no serviço.

Nenhum sacrifício era demasiado grande e nenhuma tarefa era difícil demais para Neemias, quando tinha a certeza de qual era a vontade de Deus. Ele estava disposto a adotar quaisquer medidas para colocar em prática aquilo que tinha a certeza de ser a vontade de Deus. Em alguns momentos agiu de forma austera: ele admoestou, repreendeu, protestou, contendeu, amaldiçoou, e até mesmo arrancou os cabelos de alguns (Ne 13.25). Enfim, tornou muito difícil a vida dos impiedosos! Era um homem corajoso e um general astuto em sua luta contra o mal. Além disso, era um trabalhador incansável e um grande restaurador das coisas de Deus. Ele trabalhou duramente a favor da justiça, porem mantinha o coração terno diante do Senhor. Era um homem honesto, íntegro, convicto e piedoso. Sem dúvida, ele foi um magnífico exemplo de liderança.

CONCLUSÃO

O segredo da vitória de Neemias frente aos desafios que enfrentara, foi a sua “integridade”. O verdadeiro líder do povo de Deus deve ter como característica principal a integridade, ou seja, estar inteiramente moldado pelo Senhor. É a sinceridade (“sem cera”, sem qualquer trinco em seu caráter), que nos permitirá vencer o mal e alcançar a vida eterna. Será que podemos repetir as palavras do apóstolo Paulo: “sede meus imitadores, como eu sou de Cristo?” (1ª Co 11.1). Não nos esqueçamos de que nosso Deus conhece o íntimo do homem (1º Sm 16.7; Jo 2.23-25). Assim, não adianta participarmos dos cultos e demais reuniões se não formos sinceros, íntegros e tementes a Deus.

FONTE DE PESQUISA

1. BERGSTÉN Eurico. As causas da desunião devem ser eliminadas. Lições bíblicas – 3º trimestre 2020 CPAD Rio de Janeiro RJ.

2. Bíblia de Estudo Pentecostal.

3. Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

4. Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

5. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.

6. Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

7. Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

8. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.

9. FARIA Cleverson de Abreu. Princípios para uma boa liderança.

10. Hernandes Dias Lopes. Neemias – O líder que restaurou uma nação.

11. Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC Disponível no Blog: h https://luloure.blogspot.com/2020/?m=0 – Acesso 19/08/2020.

Um comentário:

  1. Muito bom esse estudo apontando as mostrando claramente todos os erros do povo naquele momento de dificuladdes, trazendo o lider a reflexao e finalmente a decisao certa. A igreja de hoje precisa ver que esta andando em circulos, sem sair do lugar.Reconhecer seus erros e ter a graca de Deus sobre ela(IGREJA). Que o Senhor possa estar trabalhando em todos nos. No precioso nome de Jesus Cristo.

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