TEOLOGIA EM FOCO: A BATALHA ESPIRITUAL E AS ARMAS DO CRENTE

segunda-feira, 29 de junho de 2020

A BATALHA ESPIRITUAL E AS ARMAS DO CRENTE


LEITURA BÍBLICA

Efésios 6.10-20. “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. 11 - Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; 12 - porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. 13 - Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. 14 - Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça, 15 - e calçados os pés na preparação do evangelho da paz; 16 - tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. 17 - Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus, 18 - orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos 19 - e por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho, 20 - pelo qual sou embaixador em cadeias; para que possa falar dele livremente, como me convém falar.


INTRODUÇÃO
Ao finalizar a Epístola aos Efésios, o apóstolo convoca a Igreja para lutar e resistir aos inevitáveis conflitos contra as forças espirituais da maldade. Nessa batalha, a fim de suportar os ataques e se manter firme na marcha contra o mal, os soldados de Cristo precisam revestir-se de toda a armadura de Deus. É o que veremos na presente lição.

Quanto ao assunto batalha espiritual, infelizmente, alguns subestimam por completo os ataques do Inimigo e suas ciladas. Já outros enaltecem o poder do Inimigo e se esquecem de que Cristo já o derrotou na cruz do Calvário e que nos deu poder contra as serpentes e escorpiões (Lc 10.19). Assim como os anjos estão a serviço de Deus e do seu povo, os demônios servem a Satanás, o seu chefe, cuja missão neste mundo é matar, roubar e destruir (Jo 10.10). Mas nunca podemos nos esquecer de que maior é o que está conosco, Jesus Cristo.

I. O PREPARO ESPIRITUAL DO CRENTE PARA A BATALHA

1. Fortalecidos no poder do Senhor. A expressão na forma passiva “fortalecei-vos no Senhor” (6.10a) indica que não temos poder em nós mesmos. Esse excelso poder nos é conferido pela comunhão com Deus, em Cristo, por meio do Espírito Santo (Jo 15.7; 1ª Jo 1.3). Por isso precisamos estar fortalecidos por meio da “renovação da mente” (4.23), da “vida em santidade” (4.24) e “ser cheio do Espírito” (5.18). A vitória não pode ser alcançada por outro meio. Conhecer as Escrituras sem a devida obediência e frequentar os cultos sem a genuína conversão não são suficientes. Não obstante, o poder de Deus está disponível aos fiéis para “pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do Inimigo” (Lc 10.19).

2. Vigilantes em toda a oração e súplica. Paulo enfatiza a necessidade de uma vida cristã permeada pela prática da oração. Não é possível entrar em combate sem a cobertura de tão preciosa arma espiritual (Lc 21.36). A expressão “orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito” (6.18) significa clamar pelo favor divino em qualquer circunstância e oportunidades. Esse clamor deve estar acompanhado de vigilância (Is 59.1,2), pois esta preserva o crente das astutas ciladas do Inimigo (Sl 124.7). Vigiemos em oração e súplica!

SUBSÍDIO BÍBLICO - TEOLÓGICO

“A exortação apostólica: ‘fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder’ (Ef 6.10) diz que os crentes devem buscar essa força não neles mesmos, mas no Senhor Jesus; por essa razão, o apóstolo Paulo emprega o verbo grego na voz passiva, endynamosthe, ‘sede dotados de força em,  sede fortalecidos’, do verbo endynamoo, ‘fortalecer em’. Esse poder não vem de nós mesmos, mas de uma força externa, do próprio Deus, Jesus disse: ‘sem mim nada podereis fazer’ (Jo 15.5). A combinação pleonástica, ‘força do seu poder’, dá mais relevo ao pensamento, uma expressão que Paulo já havia usado na epístola (1.19). Ele está falando sobre força e poder no campo espiritual, não sobre força física (2ª Co 10.4). O Senhor Jesus capacitou os cristãos, pelo Espírito Santo, para vencer todo o mal e toda a tentação interna, os desejos da carne, e toda a tentação externa, tudo aquilo que vem diretamente do poder das trevas. Essa capacitação envolve o discernimento para compreender as astúcias malignas (2ª Co 2.11) e também o poder sobre os demônios (Lc 10.17,19)”. [SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. Batalha Espiritual: O Povo de Deus e a Guerra Contra as Potestades do Mal. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2018, p. 29].

II. CONHECENDO O CAMPO DA BATALHA ESPIRITUAL

1. As astutas ciladas do Diabo. A expressão “ciladas do diabo” (6.11) indica as “armadilhas” articuladas perversamente pelo reino das trevas. O líder desse reino é identificado como diábolos, que significa “caluniador” e “acusador” (Mt 4.1; Jo 8.44; 1ª Pe 5.8). Tomado de fúria e por meio do espírito do erro, ele prepara laços com o propósito de destruir a Igreja de Cristo. Algumas de suas astúcias são:
(1) Confundir a mentira com a verdade (Gn 3.4,5).
(2) Deturpar as Escrituras (Mt 4.6).
(3) Dissimular e induzir a dissimulação (2ª Co 11.13,14).
(4) Fazer falsos sinais (2ª Ts 2.9).
(5) Fazer acusações (Ap 12.10).
(6) Semear incredulidade (2ªCo 4.4).
(7) Promover ideologias anticristãs (2ª Ts 2.3,4).

Diante desse quadro, o texto sagrado ordena: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus!”.

2. O conflito contra o reino das trevas. Paulo enfatiza que esse conflito não é “contra carne e sangue” (6.12). Não se trata de lutar contra o ser humano, mas contra o reino das trevas nas “regiões celestes”. Essas declarações indicam que a batalha não é física, mas travada no mundo espiritual. O conflito é contra as hostes que, debaixo da autoridade do Diabo, mantêm os homens na escuridão (1ª Jo 5.19). Nessa metáfora, fica claro que o cenário do campo de batalha do soldado é espiritual (6.11,12), ao mesmo que se revela a natureza pessoal do conflito, pois essa luta se dá tanto na área individual quanto na área coletiva da igreja (1ª Pe 5.8,9).

3. As agências das potestades do ar. Paulo identifica as forças do mal que marcham contra a Igreja como “principados, potestades, príncipes das trevas deste século e hostes espirituais da maldade” (6.12). Esses seres são caracterizados por três aspectos:

3.1. Eles são poderosos. Os títulos “principados e potestades” indicam poder, primazia e autoridade para agir; “príncipes das trevas” são líderes de anjos decaídos, que sob o comando do Diabo exercem domínio;

3.2. Eles são malignos. Esses agentes formam “as hostes espirituais da maldade”. Refere-se a demônios que empregam seu poder destrutivamente para o mal;

3.3. Eles são astutos. São cheios de sutilezas e maquinam a queda da Igreja.

Apesar desse imenso império do mal, a Igreja é exortada a não temer. Somos incentivados a lutar e, sobretudo, a vencer, pois o Senhor da Igreja está elevado ao nível “acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio” (1.21).

SUBSÍDIO BÍBLICO - TEOLÓGICO

“O apóstolo Paulo emprega skotos para se referir ao reino satânico. Ele especifica os principais agentes no reino das trevas e conclui dizendo que eles formam ‘as hostes espirituais da maldade’ (Ef 6.12). Essa expressão refere-se aos ‘espíritos malignos’, um termo presente no pensamento judaico e também no Novo Testamento. Essas hostes são comandantes do exército de Satanás: principado, potestades e dominadores deste mundo tenebroso, contra quem temos de lutar fortalecidos no Senhor e na força do seu poder e revestidos da armadura completa de Deus (Ef 6.10-11).

A expressão ‘lugares celestiais’ ou ‘regiões celestiais’ no presente contexto nos chama atenção, pois parece indicar o céu o lugar onde Cristo habita, a morada dos crentes. No entanto, o apóstolo escreve: ‘contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais’, termo que aparece cinco vezes em Efésios e em nenhum outro lugar no Novo Testamento (1.3,20; 2.6; 3.10; 6.12). No mundo antigo, as pessoas acreditavam que o céu tinha diferentes níveis ocupados por uma diversidade de seres espirituais. No nível mais elevado, habitava Deus com os seres mais puros. Ou seja, as ‘regiões celestiais’ podem significar onde Deus está ou onde estão os poderes espirituais. O sentido dessas palavras depende do contexto onde elas aparecem” [SOARES, Esequias; SOARES, Daniele. Batalha Espiritual: O Povo de Deus e a Guerra Contra as Potestades do Mal. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2018, pp. 33,34].

III. AS ARMAS ESPIRITUAIS INDISPENSÁVEIS AO CRENTE

1. A armadura completa de Deus. A imagem que o apóstolo usa é a de uma linguagem retirada do contexto militar romano. A expressão “toda a armadura” traduz o termo grego panóplia, que significa “a armadura completa de um soldado fortemente armado” (6.11,13). Na Carta, a orientação não é para usar armas próprias, mas tomar o equipamento dado por Deus, resistir bravamente e marchar contra as potestades do ar.

2. As armas indispensáveis de defesa. Vejamos aqui uma lista de armas espirituais disponíveis aos soldados do Senhor:

2.1. Cingidos os vossos lombos com a verdade (v. 14). Retrata a peça usada para dar mobilidade ao soldado no combate. Nesse sentido, faz referência à verdade da doutrina de Cristo e à integridade do soldado (2ª Co 13.8).

2.2. Vestida a couraça da justiça (6.14). Trata-se de uma malha impenetrável de proteção aos órgãos vitais. Refere-se à justiça de Cristo e à retidão do soldado no campo de batalha (Rm 5.1; 2ª Co 6.7).

2.3. Calçados os pés na preparação do evangelho da paz (6.15). Confeccionada em couro, a “meia bota” tinha solas cravejadas para dar estabilidade. Refere-se à firmeza que o Evangelho proporciona e à prontidão do soldado em testemunhar de Cristo (Rm 1.16).

2.4. Tomando, sobretudo, o escudo da fé (6.16). Longo, retangular, feito de madeira e couro, o escudo protege o corpo inteiro dos dardos incendiários. Refere-se à fé inabalável em Deus, que detém a eficácia das calúnias, dúvidas e rebeliões disparadas pelo Diabo (Pv 30.5).

2.5. O capacete da salvação (6.17). Pesado, resistente e fabricado com bronze ou ferro, o capacete serve de proteção para a cabeça. Refere-se à certeza da salvação que já recebemos em Cristo e a convicção da plena salvação no último dia (1ª Ts 5.8,9).

3. A imprescindível arma ofensiva. Finalmente, “a espada do Espírito” (6.17), a única arma disponível tanto para a defesa quanto para o ataque. O termo grego para ela é machaira, identificada como espada curta. Isso significa que o combate é pessoal, o enfrentamento é diário e acontece “corpo a corpo”. A espada do Espírito é identificada como sendo a “Palavra de Deus” inspirada e penetrante (2ª Tm 3.16; Hb 4.12). Ela deve ser usada tanto para resistir às ciladas do Diabo (Mt 4.1-10) quanto para derrubar as fortalezas de Satanás (Mt 10.19,20; 2ª Co 10.4).

CONCLUSÃO
A vitória da Igreja de Cristo contra as forças do mal é garantida pela sobre-excelente grandeza do poder de Deus (1.19). Os ardis de Satanás não podem ser subestimados, porém, o reino das trevas não deve amedrontar o cristão. A Escritura convoca o salvo a combater e a vencer as potestades do ar, revestido com a armadura de Deus (6.11).

BAPTISTA, Douglas. Lições Bíblicas do 2° trimestre de 2020 – CPAD – RJ.

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