LEITURA BÍBLICA
Jó 29.1-5 “E, prosseguindo Jó em sua parábola, disse: 2 - Ah! Quem me dera ser como eu fui nos meses passados, como nos dias em que Deus me guardava! 3 - Quando fazia resplandecer a sua candeia sobre a minha cabeça, e eu, com a sua luz, caminhava pelas trevas; 4 - como era nos dias da minha mocidade, quando o segredo de Deus estava sobre a minha tenda; 5 - quando o Todo-Poderoso ainda estava comigo, e os meus meninos, em redor de mim.”
Jó 30.1-5 “Mas agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho. 2 - De que também me serviria a força das suas mãos, força de homens cuja velhice esgotou-lhes o vigor? 3 - De míngua e fome se debilitaram; e recolhiam-se para os lugares secos, tenebrosos, assolados e desertos. 4 - Apanhavam malvas junto aos arbustos, e o seu mantimento eram raízes dos zimbros. 5 - Do meio dos homens eram expulsos (gritava-se contra eles como contra um ladrão).”
Jó 31.1-5 “Fiz concerto com os meus olhos;
como, pois, os fixaria numa virgem? 2 - Porque qual seria a parte de Deus vinda
de cima, ou a herança do Todo-Poderoso desde as alturas? 3 - Porventura, não é
a perdição para o perverso, e o desastre, para os que praticam iniquidade? 4 -
Ou não vê ele os meus caminhos e não conta todos os meus passos? 5 - Se andei
com vaidade, e se o meu pé se apressou para o engano.”
INTRODUÇÃO
Nesta lição perceberemos que Jó faz uma
retrospectiva de sua vida. Ele pôde ver o quanto foi abençoado, embora o
momento presente contrariasse todo o seu passado. Infelizmente, o “presente” de
Jó teve mais força para embaçar o seu passado. Ele não conseguia recuperar a
esperança.
É muito importante fazermos esse exercício
retrospectivo, mas sem, contudo, perder a esperança. O que Deus fez em nosso
passado deve-nos trazer a esperança para o presente. Tudo isso só é possível
uma vez que estamos em Cristo. Do ponto de vista humano é impossível recuperar
a esperança diante da tragédia. Todavia, na força do Espírito Santo, podemos
recuperá-la.
O capítulo 31 encerra da seguinte forma:
“Acabaram-se as palavras de Jó” (Jó 31.40). Trata-se de uma retrospectiva
nostálgica do passado Jó (Jó 31.29-31). Por isso, nesta lição, veremos a
lembrança de Jó acerca de sua prosperidade material e espiritual, de sua
adoração a Deus e das bênçãos que o Todo-Poderoso concedeu à sua casa; mas,
agora, em oposição ao momento de escárnio e vergonha que ele passa no presente.
Nesse sentido, Jó não aceita que as coisas terminem assim e, portanto, ele
deseja se apresentar diante de Deus para defender a sua causa.
Conforme Deus fez no passado, Ele pode
fazer algo novo.
I. JÓ RELEMBRA SEU PASSADO DE GLÓRIA
1.
Prosperidade material e espiritual (29.1-11). Jó demonstra um sentimento
nostálgico com relação a seu passado. A primeira coisa que se lembrou desse
passado glorioso foi a comunhão que ele desfrutou com Deus (Jó 29.2,4). Eram
lembranças de um passado que não mais existia. Ele lembra que Deus o protegia
(Jó 29.2); suas bênçãos sobre ele e sua família (Jó 29.3); sua orientação em
meio às dificuldades (Jó 29.3); e a presença real de Deus na vida dele (Jó
29.5). Jó, portanto, havia sido um homem grandemente abençoado por Deus.
2. Reconhecimento social (29.14-25). Jó também se lembra de sua antiga condição social, quando exercia a função de um respeitado juiz de sua cidade (Jó 29.7). Tanto os jovens como os velhos o procuravam para serem orientados (29.8). Talvez isso explique a linguagem jurídica que aparece com frequência nos diálogos do livro. Isso demonstra que ele exercia um importante papel social na sua comunidade. Ele ajudava o desvalido, dava orientação de forma sábia e agia com justiça (Jó 29.14-25). Na sua busca pela justiça social, Jó protegia os pobres e punia os opressores (Jó 29.17). Seu amor e defesa pela justiça eram-lhe como uma vestimenta e adorno (Jó 29.14). Ele dava apoio social aos menos favorecidos e era como se fosse os “olhos” do cego. Até mesmo com os estrangeiros ele se preocupava (Jó 29.15,16). Tendo agido com justiça e equidade, nada mais natural que esperasse que seus dias terminassem em paz ao lado de sua esposa e filhos (Jó 29.18). O contrário disso não estava em sua agenda: terminar a vida sem saúde, sem honra e sem paz com Deus.
3. Uma ponderação importante. Não há dúvida de que Jó, conforme a Bíblia mostra, era um modelo de justiça social. Todavia, devemos ter o cuidado de não transportar para dentro do texto bíblico nenhuma teoria moderna de justiça social firmada em valores materialistas contrários aos defendidos nas Escrituras. De fato, ele era um homem que defendia a justiça social, mas nem de longe se pode classificá-lo como um socialista nos termos modernos. Isso seria forçar o texto, ir além do que está escrito e sobrepor o pensamento político na Bíblia.
Jó relembra seu passado de prosperidade
material e espiritual, bem como a sua atuação social.
II. JÓ LAMENTA SEU ESTADO PRESENTE
1.
Desprezo por parte dos jovens e das classes menos favorecidas (30.1-23). Após lembrar com
tristeza da sua antiga condição social próspera, Jó lamenta o ponto que havia
chegado sua miséria. No Antigo Oriente, os mais velhos eram objetos de grande
estima (Pv 20.29). Por isso, quando gozava de sua prosperidade, ele era
respeitado não apenas pelos mais velhos, mas também pelos mais jovens.
Entretanto, Jó lembra que “agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e
cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho” (Jó 30.1). De
homem respeitado, ele passou a ser visto como uma escória social (Jó 30.1-8).
Jó, portanto, lamentava estar no fundo do poço.
2. Abatimento físico e emocional (30.16-31). O patriarca se sente um homem abandonado por Deus, por isso, essa lembrança o lança numa profunda tristeza e produz em sua vida um grande sofrimento que, além de físico, era também de natureza emocional. Como o salmista, Jó lamenta suas dores (Sl 42.4). Nas suas vestes, ele via uma prova real de seu sofrimento (Jó 30.18). Nesse sentido, no versículo 18 aparece a palavra “desfigurou”. Alguns intérpretes acreditam que a palavra melhor traduzida é “manchada”. Ou seja, as feridas abertas de Jó haviam manchado suas vestes. Ele imagina que Deus está por trás de todo esse sofrimento (Jó 30.19) e que, mesmo depois de clamar, o Altíssimo lhe ignora. O homem de Uz sente-se caçado como um animal selvagem e atormentado por um furacão (Jó 3.21,22).
3. Deus teria abandonado Jó? O sofrimento emocional de Jó refletia a sua crença de que havia sido abandonado por Deus (Jó 30.16-23). Todavia, era também um reflexo de ter sido abandonado pelos homens (30.24-31). Junto a isso, ele observou que o seu clamor foi totalmente desconsiderado. Doía saber que havia ajudado muitas pessoas carentes e necessitadas de socorro (Jó 30.25), mas agora o seu clamor por socorro ser totalmente ignorado. Em vez de ajudado, ele era repelido como uma escória social (Jó 30.26). Quantas pessoas não passam por esse sentimento? Quantas vezes um sentimento de injustiça não assola-nos à alma? Cheguemo-nos diante de Deus e entreguemos tudo em seu altar.
O estado presente de Jó é marcado pelo
desprezo dos jovens, das classes necessitadas e pelo abatimento
físico-emocional.
4. “Este capítulo [30] contrasta com o capítulo 29. No lugar que Jó desfrutava do respeito e honra dos anciãos da cidade e das pessoas importantes, ele agora é desprezado pelas pessoas mais vis da sociedade. Mas agora (1) introduz a mudança de como era o passado para o que é no presente. O capítulo 29 terminou com Jó lembrando de como em épocas passadas ele era semelhante a um rei entre os homens. Agora, mesmo homens mais jovens, cujos pais Jó não consideraria aptos para serem os cães do seu rebanho, o menosprezam. Essa classe de homens era tão miserável que eram magros devido à fome (3). O único alimento que eles podiam obter era a produção escassa das áreas desertas. Eles eram forçados a comer as folhas das malvas (4), um arbusto raquítico que cresce nos brejos salgados da Palestina, e raízes de zimbros, semelhantes a arbustos do deserto (giesta) em vez da árvore de zimbro. Esses infelizes eram expulsos (5) da sociedade como se fossem ladrões e eram, portanto, forçados a viver nas cavernas e entre as rochas (6). Bramavam entre os arbustos (7), vivendo como asno e comendo a comida de asnos silvestres. Assim, eles eram filhos de doidos (8), literalmente, ‘filhos de desprezíveis’. Como filhos de gente sem nome, eles eram expulsos da terra (‘da terra são escorraçados’, ARA). Mas agora (9) Jó é alvo do seu escárnio! Ele é como um provérbio para eles. A repugnância deles é tão grande que cospem no seu rosto (10). Porque Deus oprimiu (11) Jó, eles são incontidos em sua hostilidade contra ele. Moços o empurram (12) para o lado e obstruem seu caminho (13) e, dessa forma, promovem a sua miséria. A ação desses párias não é acidental. Ela vem contra Jó como por uma grande brecha (14). Eles os apavoram com seus abusos persistentes até que sua honra (dignidade) evapora como uma nuvem (15)” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 77).
III. O FUTURO EM ABERTO DE JÓ
1. Jó em defesa de sua ética sexual (31.1-4). Seus amigos silenciaram, Jó sabe que nada está resolvido, o futuro ainda está em aberto e se mostra incerto. Haverá alguma resposta? Ao querer mostrar a sua inocência, Jó ainda sente a necessidade de se defender. A primeira defesa dele é em relação ao comportamento ético-sexual, dizendo que sempre se comportou com integridade em todas as esferas da sua vida. Nos versículos 1-4 do capítulo 31, ele mostra, por exemplo, que jamais permitiu desvios de seu comportamento sexual, fazendo uma aliança com os próprios olhos para evitar a luxúria e a impureza quando olhasse para uma donzela. Segundo o ensino do Novo Testamento, somos estimulados também a fazer um concerto com os próprios olhos (Mt 5.27-30).
2. Jó em defesa de sua ética social (31.16-23). Jó também faz uma defesa de sua ética social. Ele já havia mostrado que a justiça social marcou sua forma de agir. Todavia, ele lembra que isso só foi possível porque procurou conduzir-se sempre por princípios de uma ética social. Por exemplo, ele sempre tratou o órfão e a viúva com humanidade; os escravos, mesmo sendo sua propriedade, tinham liberdade para o procurarem e apresentarem-lhe suas queixas. O seu comportamento ético-social o habilitou a agir como tribuno dos desvalidos (Jó 31.13-23). Lembremo-nos da verdadeira religião, como bem Tiago afirmou: “Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” (1.27). Eis um dos fundamentos de nossa ética social.
3. Jó busca a resposta de Deus (31.35-37). Agora Jó se dirige a Deus na forma exclamativa: “Ah! Quem me dera um que me ouvisse!” (v.35). Ele já havia feito uma viagem retrospectiva sobre o seu passado, agora ele faz uma análise sobre sua situação presente, mas seu olhar está no futuro. Ele quer se apresentar diante de Deus porque está consciente de sua inocência. Sua confiança é de um príncipe que se apresenta diante de um tribunal (Jó 31.37). Ele confia de que será inocentado.
Como podemos nos apresentar diante de Deus
e justificar os nossos atos? Pela graça divina, por meio de Jesus Cristo, o
Filho de Deus, Ele mesmo nos justifica (Rm 8.31-33).
Jó faz uma defesa de sua ética sexual,
social e busca resposta de Deus.
4. Jó acha que é inocente de qualquer ação má. “Jó revê várias categorias de pecado que poderiam ter sido a causa da sua desgraça e jura solenemente que ele é inocente de qualquer ação má. Ocasionalmente, junto com seu protesto de inocência, ele inclui uma declaração do porquê ele ter decidido ser virtuoso. Ele também inclui uma maldição sobre si mesmo, caso tenha deixado de falar a verdade. Primeiro Jó nega que seja culpado de pecados sensuais que são tão comuns entre homens. Ele fez um concerto (acordo) com os seus olhos, para que desejasse uma virgem (uma moça, 1). Aqui Jó reconhece que a tentação vem por meio da observação daquilo que pode ser desejável. Ele tem um acordo com os seus olhos para que não o desviem. Qual seria a parte (2) que ele teria com Deus se ele fosse culpado desse tipo de crime? Certamente Deus castiga o perverso e aqueles que praticam a iniquidade (3). Não só isso, mas Jó pergunta: Não vê ele? (4). Ele é enfático, ressaltando a ideia de que Deus observa de perto o homem e castiga sua vaidade e engano (5). Os versículos 6-8 são um juramento de inocência e uma maldição por qualquer falsidade que Jó possa ter falado nos versículos precedentes” (CHAPMAN, Milo L; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 78).
CONCLUSÃO
Nesta lição, vimos que Jó se lembrou de
seu passado abençoado e de como agiu com integridade e humanidade com o
próximo. Nunca havia agido de forma injusta com ninguém nem tampouco cometido
pecados que o desonrassem moralmente. Sua integridade estava intacta. Assim,
ele acredita que chegou o grande momento de se apresentar diante de Deus e
receber dEle o veredito de que é um homem injustiçado e inocente.
GONÇALVES José. A fragilidade humana e a
soberania divina Lições bíblicas 4º Trimestre de 2020. CPAD Rio de Janeiro RJ.
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