LEITURA
BÍBLICA
Jó 32.1 “Então, aqueles três homens
cessaram de responder a Jó; porque era justo aos seus próprios olhos. 2 - E
acendeu-se a ira de Eliú, filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão;
contra Jó se acendeu a sua ira, porque se justificava a si mesmo, mais do que a
Deus. 3 - Também a sua ira se acendeu contra os seus três amigos; porque, não
achando que responder, todavia, condenavam a Jó. 4 - Eliú, porém, esperou para
falar a Jó, porquanto tinham mais idade do que ele.”
Jó 33.1 “Assim, na verdade, ó Jó, ouve as minhas razões e dá ouvidos a todas as minhas palavras. 2 - Eis que já abri a minha boca; já falou a minha língua debaixo do meu paladar. 3 - As minhas razões sairão da sinceridade do meu coração; e a pura ciência, dos meus lábios. 4 - O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida.”
Jó 34.1 “Respondeu mais Eliú e disse: 2 - Ouvi vós, sábios, as minhas razões; e vós, instruídos, inclinai os ouvidos para mim. 3 - Porque o ouvido prova as palavras como o paladar prova a comida. 4 - O que é direito escolhamos para nós; e conheçamos entre nós o que é bom. 5 - Porque Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o meu direito. 6 - Apesar do meu direito, sou considerado mentiroso; a minha ferida é incurável, embora eu esteja sem transgressão.”
Jó 36.1 Prosseguiu ainda Eliú e disse: 2 - Espera-me um pouco, e mostrar-te-ei que ainda há razões a favor de Deus. 3 - Desde longe repetirei a minha opinião; e ao meu Criador atribuirei a justiça. 4 - Porque, na verdade, as minhas palavras não serão falsas; contigo está um que é sincero na sua opinião. 5 - Eis que Deus é mui grande; contudo, a ninguém despreza; grande é em força de coração.”
INTRODUÇÃO
Veremos a teologia de Eliú exposta em
quatro grandes discursos teológicos (Jó 32 — 37). Esses discursos se contrapõem
ao que Jó e seus amigos proferiram. Para Eliú, os amigos de Jó falharam na
exposição de suas ideias ao patriarca. Este, por outro lado, se equivocar ao
apresentar o seu conceito de Deus para fundamentar sua defesa. Assim,
mostraremos que Eliú revela um Deus soberano que age segundo o seu conselho e
não está obrigado a dar respostas ao homem, além de não haver qualquer
injustiça em suas ações, pois, segundo o jovem amigo de Jó, o sofrimento é uma
ação pedagógica de Deus para corrigir o homem.
O sofrimento na vida do cristão deve ser
um meio pedagógico. Ele serve para esmagar a soberba humana, polir o caráter do
crente, prover crescimento e desenvolvimento ao cristão. Este o não é o mesmo
depois que passa pela “escola do sofrimento”. Não por acaso o apóstolo Paulo
pôde dizer: “Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda a maneira e
em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto
a ter abundância como a padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que
me fortalece” (Fp 4.12,13). Esse é o caminho que o Senhor nosso Deus quer que
atinjamos: ser experimentados, amadurecidos e crescidos. Que ouçamos a voz de
Deus no sofrimento! Então, poderemos dizer com convicção: “Posso tudo naquEle
que me fortalece”.
I. O SOFRIMENTO COMO UMA FORMA DE REVELAR DEUS
1.
Deus é soberano (33.14,15). Nesse primeiro discurso, Eliú destaca a queixa de Jó
porque Deus não lhe respondera. Para o jovem amigo do patriarca, este não leva
em conta a majestade divina que distingue o Criador de suas criaturas. Nesse
sentido, Jó havia ignorado que Deus é infinitamente maior do que o homem e não
precisa explicá-lo acerca suas ações nem de seu silêncio.
2. O orgulho do homem priva-o de ouvir Deus. Todavia, mesmo sendo um ser transcendente, Deus não deixa de se revelar ao homem quando julga necessário. Por isso, Eliú não aceita o argumento de Jó sobre o silêncio de Deus, pois Ele fala ao homem de várias maneiras, incluindo sonhos e visões (Jó 33.14,15). De acordo com Eliú, o problema não é o silêncio do Altíssimo, mas o orgulho humano que não lhe permite escutá-lo. O jovem acredita que mesmo o patriarca considerando-se moralmente puro, padece do pecado de orgulho (Jó 33.17). Na visão de Eliú, a revelação de Deus tem o propósito de livrar o homem da soberba que o conduziria à morte (Jó 33.17,18).
3. O mistério da redenção. Além de sonhos e visões, Eliú também destaca que Deus usa a enfermidade como um dos canais de comunicação entre Deus e o homem (Jó 33.19-22). Por causa dela, Ele pode enviar um anjo para anunciar a Jó o seu dever (Jó 33.23), dizer o que ele deve fazer e, também, interceder em favor da saúde do patriarca. Dessa forma, esse mensageiro anuncia o que é justo e bom a fim de recuperar o estado de justiça que Jó desfrutava antes da enfermidade.
As funções que são atribuídas a esse mensageiro-mediador fazem com que os intérpretes bíblicos vejam nesse ser celeste uma referência ao anjo do Senhor, uma teofania do Senhor Jesus Cristo (Gn 16.9; 22.11; Êx 3.2; Jz 6.11). Não há dúvidas de que esse mediador é a mesma testemunha celestial que Jó pedia que defendesse a sua causa (Jó 16.19) e o redentor que o justificasse depois de sua morte (Jó 19.25). Nesse sentido, conforme podemos atestar no livro, o ministério desse mensageiro é um ato decorrente inteiramente da graça de Deus em favor de Jó para mediar sua causa e resgatá-lo (33.24).
Para Eliú, o sofrimento revela um Deus
soberano que ataca a soberba do ser humano.
II. O SOFRIMENTO COMO MEIO DE REVELAR A JUSTIÇA E A SOBERANIA DE DEUS
1. A justiça de Deus demonstrada. Quando defende a justiça de Deus, Eliú faz coro com seus amigos na acusação contra Jó. Em sua perspectiva, os argumentos de Jó não passavam de insolência. Como pode o Todo-Poderoso agir com injustiça conforme Jó deixou subtender? Deus jamais age injustamente, pois isso contrariaria sua própria natureza (Jó 34.10,12).
2. O caráter justo de Deus. Para não haver dúvida, Eliú passa a descrever o caráter justo de Deus: (1) Ele age com justiça quando retribui ao homem o que ele merece (Jó 34.11); (2) Deus não precisa prestar contas de seus atos a ninguém, visto que não recebeu autoridade de nenhum outro ser criado (Jó 34.13); (3) como o provedor da vida humana, Ele tem todo o poder de manter ou não a humanidade (Jó 34.14,15); (4) o Todo-Poderoso não faz acepção de pessoas, quer sejam reis, nobres ou pobres (Jó 34.16-20); (5) Deus é onisciente e como tal conhece os passos e as intenções de todos os homens sem precisar inquiri-los em juízo (Jó 34.21-25); (6) Ele é justo para punir os maus (Jó 34.25-30).
3. A defesa da soberania de Deus. Atente para a seguinte pergunta: “Será que Deus deve recompensá-lo segundo o que você quer ou não quer?” (Jó 34.33 - NAA). Eliú encerra o capítulo mostrando a Jó que Deus, em sua soberania e livre vontade, não tem a obrigação de agir segundo o querer do homem. Sendo soberano, Ele não está sujeito a qualquer julgamento humano. Por todo o livro de Jó o autor destaca a soberania divina. Um exemplo disso está claro no uso da palavra “Todo-Poderoso” que ocorre 31 vezes. Para Eliú, portanto, por ser Soberano, Deus jamais age com injustiça como Jó dera a entender.
Todavia, é preciso destacar duas coisas sobre fala de Eliú. Primeiramente, ele, assim como seus amigos, erra por partir do princípio de que Jó havia cometido pecado. Em segundo lugar, Eliú exalta apenas a justiça de Deus e nada diz acerca de sua misericórdia. Para ele, o Altíssimo havia posto sua justiça soberana acima do seu amor, o que é um erro crasso. Deus, sem dúvida alguma, é justo; mas grandiosamente amoroso e misericordioso.
Para Eliú, o sofrimento revela o caráter
justo e soberano de Deus.
4. “A teologia da prova. Adiantando-se em seu discurso, exclama Eliú: ‘Pai meu! Provado seja Jó até ao fim’ (Jó 34.36a). Recorramos ao hebraico: Avi ybahen Yôb ad-netsah. O vocábulo ybahen comporta os seguintes sinônimos: provar, refinar como ouro, fundir como metal. Por conseguinte, deveria Jó, como o mais precioso dos metais, ser intensamente provado até que todas as impurezas e imperfeições lhe fossem tiradas. Observe que Eliú roga a Deus seja o patriarca provado até o fim. Se Jó tem de ser acrisolado, que lhe seja completo o crisol; até ao fim: ad-netsa. A provação haveria de perdurar enquanto fosse necessária. Não fora Jó suficientemente provado? Entretanto, teria ele de suportar toda a ardência daquele cadinho até que viesse a entender a soberania de Deus. Doutra forma, jamais chegaria à estatura de perfeito varão (Jó 34.36b)” [ANDRADE, Claudionor de. Jó: O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 168].
III. O SOFRIMENTO COMO UM INSTRUMENTO PEDAGÓGICO DE DEUS
1. O caráter pedagógico do sofrimento (36.7-15). Há uma diferença entre o pensamento teológico de Eliú e o de seus amigos. Elifaz, Bildade e Zofar acreditavam que o sofrimento de Jó era por causa de um pecado cometido por ele e sua recusa em reconhecê-lo. Eliú também crê dessa forma, mas vai além. Embora compreenda que, durante sua provação, Jó se comportou de forma pecaminosa, Eliú introduz a ideia de que o sofrimento tem um caráter pedagógico (Jó 36.15). O caráter pedagógico do sofrimento está na capacidade de nos fazer refletir e voltar para Deus. Dessa forma, os justos aprendem com o sofrimento.
2. Adorando a Deus na tormenta. No capítulo 36 e versículo 26, Eliú afirma que “Deus é grande, e nós o não compreendemos”. Para ilustrar o argumento da grandeza de Deus, ele faz uma explanação sobre a ação de Deus nas estações do ano: Outono, Inverno, Primavera e Verão. O argumento de Eliú tem por objetivo demonstrar a grandeza de Deus sobre a criação e como esse fato deve fazer com que Jó o reconheça como grande e o louve como tal (Jó 36.24-25). A fala de Eliú põe em destaque o argumento contraditório de Jó, que por um lado magnificava a majestade de Deus, mas por outro murmurava contra Ele. Nesse aspecto, Eliú acerta em mostrar que a adoração e a murmuração não podem coexistir, são atitudes excludentes.
Jó 37.6-13 ilustra de forma poética o pensamento do orador. É uma metáfora da situação do patriarca, que no meio da tormenta, em todo o seu impacto e estrondo, pode contemplar o caráter pedagógico do amor de Deus.
Segundo Eliú, o sofrimento é um
instrumento pedagógico para o cristão.
“Depois de meditar longamente sobre o propósito dó sofrimento do justo, declara H. Dieterlen: ‘Tudo depende do modo porque se sofre. Mas Deus sempre tem um pensamento de amor nas tristezas que nos envia’. Afinal, como enfatiza o apóstolo, todas as coisas concorrem juntamente para o bem daqueles que, sinceramente, amam a Deus.
3. A pedagogia da prova. O Senhor conduzia a Jó através das mais difíceis e inimagináveis provas, a fim de que ele viesse a tornar-se um instrumento ainda mais valioso e útil para o seu Reino. Quão maravilhosa é a pedagogia do sofrimento! Se incrédulos, ensina-nos a crer. Se intempestivos, disciplina-nos em um amor paciente e temperante. Se indiferentes, leva-nos a chorar com os que choram e a alegrar-se com os que se alegram. Sim, Deus educava Jó por intermédio do sofrimento. E o mesmo está Ele fazendo neste instante. Por isso, não se desespere! Este é o modo pelo qual o Senhor educa seus filhos” [ANDRADE, Claudionor de. Jó: O problema do sofrimento do justo e o seu propósito. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 168].
CONCLUSÃO
Vimos nessa lição três aspectos da teologia de Eliú. Primeiramente, o jovem amigo defende o direito de Deus ficar em silêncio mesmo quando achamos que ele deve falar. Acredita que Jó não consegue escutar a Deus devido ao seu orgulho. Entretanto, o equívoco de Eliú está no fato de associar o sofrimento de Jó ao pecado. Segundo, ele destaca que Deus tem todo o direito de ser soberano e como tal agir com justiça. Todavia, ele se equivoca em colocar essa soberania acima de seu amor, pois, primeiramente, Deus é amor. E, finalmente, Eliú vê no sofrimento um papel pedagógico.
GONÇALVES José. A fragilidade humana e a soberania divina Lições bíblicas 4º Trimestre de 2020. CPAD Rio de Janeiro RJ.
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