TEOLOGIA EM FOCO: O PROPÓSITO DA TENTAÇÃO

sexta-feira, 24 de julho de 2020

O PROPÓSITO DA TENTAÇÃO



TEXTO BÁSICO

Tiago 1.2-4,12-15 “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações, 3 - sabendo que a prova da vossa fé produz a paciência. 4 - Tenha, porém, a paciência a sua obra perfeita, para que sejais perfeitos e completos, sem faltar em coisa alguma. 12 - Bem-aventurado o varão que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam. 13 - Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. 14 - Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. 15 - Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.”

INTRODUÇÃO A lição desta semana é um resgate do ensino bíblico quanto ao valor do sofrimento por Cristo e da sua importância para o nosso crescimento espiritual.

Aprenderemos acerca da tentação, do sofrimento e da provação, não como consequência de uma vida de pecado ou de falta de fé, mas como o caminho delineado por Deus para o nosso aperfeiçoamento. Ninguém melhor do que Jesus Cristo, com seu exemplo de vida, para nos ensinar tal lição (Hb 5.8). O convite do Mestre é um chamado ao sofrimento por amor do seu nome:

Jo 16.33 “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.”

Existem jargões por exemplo: “Pare de sofrer”; “é tempo de vitória!”; é tempo de conquista; “você vai conquistar!”. Estas são frases de efeito bem conhecidas no meio evangélico. Nelas, está presente a ideia do não sofrimento.

A epístola de Tiago nos mostra que devemos nos alegrar na tentação, pois a partir desta reconhecemos a nossa inteira dependência de Deus. O sofrimento é uma realidade e não podemos fugir dele. Em Cristo, temos o privilégio de sofrermos para a honra do seu nome. A cruz de Cristo é a glória do Evangelho!

“Não nos deixes cair em tentação.” Foi a oração de JESUS ensinada aos discípulos. No tempo da provação, angústia, tristeza e sofrimento são realidades presentes na vida do discípulo de CRISTO. Infelizmente, e em nome de uma teologia, muitos desejam descartar da vida esta realidade humana e não dá ao seguidor do caminho o direito de sofrer. Não é isto que a Palavra de DEUS nos ensina! Pelo contrário, o sofrimento por CRISTO nos dá a oportunidade de mostrarmos a nossa fé e amor por Ele, como os mártires que não retrocederam na convicção do Evangelho.

Definitivamente, o homem moderno não está preparado para sofrer. Os membros de muitas igrejas evangélicas, através da Teologia da Prosperidade, têm se iludido com a filosofia enganosa do “não sofrimento”. O resultado é que quando o iludido sofre o infortúnio, perde a fé em “Deus”.
  
I. O FORTALECIMENTO PRODUZIDO PELAS TENTAÇÕES (Tg 1.2,12)

1. O que é tentação. O termo empregado na Bíblia tanto no hebraico, massah, quanto no grego, peirasmos, para tentação, significa “prova”, “provação” ou “teste”. A expressão pode estar relacionada também ao conflito moral, isto é, a uma incitação ao pecado.

1.1. Qual a diferença entre tentação e provação. Uma tentação é um convite para pecar, enquanto que uma provação é um teste à nossa fé. Deus permite provas e tentações, mas Ele nunca tenta ninguém para o pecado. Muitas vezes, a tentação faz parte da provação.

De fato, como mostram as Escrituras, a tentação é uma provação, uma espécie de teste. O pecado, por sua vez, já se trata de um ato imoral consumado. Por isso, a tentação não é, em si mesma, pecado, pois ninguém peca quando passa pelo processo “probatório”. A própria vida terrena do Senhor Jesus demonstra, com clareza, a distinção entre tentação e pecado.

Quando tentado, o crente é posto à prova para mostrar-se aprovado tal como Cristo, que foi conduzido ao deserto para ser tentado por Satanás e embora debilitado e provado espiritualmente, saiu do deserto vitorioso e fortalecido, tendo em seguida iniciado seu ministério terreno de pregação a respeito do Reino de Deus (Lc 4.1-13).

A Epístola aos Hebreus afirma que Jesus, o nosso Senhor, em tudo foi tentado. Ele foi provado e testado em todas as coisas. Todavia, o Mestre não pecou.

Hb 4.14-16 “Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. 15 - Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. 16 - Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno.”

Portanto, confiantes de que Jesus Cristo é o nosso Sumo Sacerdote perfeito, devemos nos aproximar, com fé, do trono da graça sabendo que Ele conhece as nossas tentações e pode nos dar a força necessária para resistirmos (1ª Co 10.13).

1.2. A Bíblia diz: “pôs Deus Abraão à prova” (Gn 22.1), o que pode dar a entender que Deus tivesse tentado a Abraão. Mas Jesus ensinou os Seus discípulos a orarem a Deus, dizendo: “não nos deixes cair em tentação” (Mt 6.13). Como então pode Tiago dizer, a respeito de Jesus: “Ele mesmo a ninguém tenta” (Tg 1.13)?

1.3. Deus não tentou Abraão (nem a ninguém) a pecar. Deus provou Abraão, para ver se este pecaria ou se permaneceria fiel a Ele. Deus permite que Satanás nos tente (cf. Mt 4.1-10; Tg 4.7; 1ª Pe 5.8-9), mas Tiago está certo ao dizer que o próprio Deus nunca “a ninguém tenta.”

2. Fortalecimento após a tentação (v. 2). “Meus irmãos, tende grande gozo quando cairdes em várias tentações.”

Hebreus 12.6-8 “Porque o Senhor corrige o que ama, e açoita a qualquer que recebe por filho. 7 - Se suportais a correção, Deus vos trata como filhos; porque, que filho há a quem o pai não corrija? 8 - Mas, se estais sem disciplina, da qual todos são feitos participantes, sois então bastardos, e não filhos.”

A palavra corrige no grego é paideia, treino educação para a vida; castigo. A correção do Pai Eterno traz maturidade para o crente em Jesus.

“...todos são feitos participantes...”. A filiação inclui provação (At 14.22). Mas que não é filho é bastardo e não recebe disciplina d’Ele.

3. Purificados. 1ª Pe 1.7 “Para que a prova da vossa fé, muito mais preciosa do que o ouro que perece e é provado pelo fogo, se ache em louvor, e honra, e glória, na revelação de Jesus Cristo”.
Essas provações são para mostrar que a fé que vocês têm é verdadeira. Do mesmo modo que o ouro precisa do fogo para ser refinado ou purificado, o cristão passa pelas tentações para se aperfeiçoar no Reino de Deus. Da mesma maneira, a fé que vocês têm, que vale muito mais do que o ouro, precisa ser provada para que continue firme. E assim vocês receberão aprovação, glória e honra, no dia em que Jesus Cristo for revelado.

4. Felicidade pela tentação (v. 12). - À luz do exemplo de Cristo, compreendemos bem o que Tiago quer dizer quando exortamos a termos “grande gozo quando [cairmos] em várias tentações”. Tal conselho aponta para a certeza de que ao passar pela tentação, além de paciente e maduro, o crente se sentirá ainda mais fortalecido pela graça de Deus.

Quando o cristão é submetido às tentações há uma tendência de ele entregar-se à tristeza e à angústia. Mas atentemos para esta expressão:

1ª Pe 4.12-13 “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse; Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis.”

Mt 5.10-12 “Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus; 11 - Bem-aventurados sois vós, quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa. 12 - Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós.

Em outras palavras, como é feliz, realizado ou atingiu a felicidade aquele crente que é provado, não em uma, mas em várias tentações (v. 2). Ser participantes dos sofrimentos de Cristo e ao mesmo tempo felizes parece paradoxal.

5. O prêmio eterno para quem sofre e vence as tentações. O prêmio eterno do cristão que sofre e vence as provações já está garantido:

Tiago 1.12 “Bem-aventurado o homem que sofre a tentação; porque, quando for provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam.”

Vivemos sob a esperança de receber diretamente de Jesus a coroa da vida. Uma recompensa preparada de antemão pelo nosso Senhor para os que o amam. Você ama ao Senhor? É discípulo d’Ele? Então, não tema passar pela tentação. Há uma promessa: Você “receberá a coroa da vida, a qual o Senhor tem prometido aos que o amam”. Alegre-se e regozije-se em ser participante das aflições de Cristo, pois é justamente nessa condição de felicidade verdadeira, que Ele nos deixará por toda a eternidade quando da revelação da sua glória.

Está é a razão pela qual o cristão pode transformar suas provações em grandes alegrias: ele sabe que maior é o galardão daquele que, mesmo sendo muito provado, permanece firme em sua fé.

1ª Pe 2.20-21 “... se fazendo o bem, sois afligidos e o sofreis, isso é agradável a DEUS. Porque para isto sois chamados, pois também CRISTO padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas.”

II. A ORIGEM DAS TENTAÇÕES

1. Deus não tenta ninguém. Ninguém pode afirmar: Ninguém, sendo tentado, diga: De Deus sou tentado; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta (v. 13).

A afirmação de que Deus não pode ser tentado pelo mal salienta o caráter bondoso de Deus. A natureza santa de Deus é solidificada no bem, e o mal é incapaz de seduzi-Lo. Habacuque 1.13 revela que a bondade de Deus é inabalável, a ponto de Ele sequer poder olhar o mal. Tiago afirma no versículo 13 que “Deus não pode ser tentado pelo mal”.

1.2. Ele declara que elas não provêm de Deus (v. 14). “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.”

O apóstolo assevera que a tentação tem a sua origem, na verdade, no próprio ser humano, em sua natureza pecaminosa, ou seja, o mundo e o Diabo são apenas agentes indutores externos da tentação.

É importante frisar ainda que ser tentado não é pecado; pecado é ceder à tentação.

2. Deus não pode ser tentado. Deus não pode ser tentado pelo pecado, uma vez que Ele é absoluto e imutavelmente perfeito e santo (Mt 5.48; Hb 6.18), nem pode ele tentar ninguém a pecar (Tg 1.13). Quando nós, seres humanos sujeitos ao pecado, somos tentados, é porque nos permitimos ser levados pelos desejos da nossa cobiça (Tg 1.14-15). A origem da tentação procede de dentro de nós, não de fora. Procede do homem caído, não de um Deus sem pecado.

3. A tentação é humana. V. 15 “Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.”

Paulo vai dizer em 1ª Coríntios 10.13 “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a tentação dará também o escape, para que a possais suportar.”

A tentação serve para por nossa fé e lealdade a prova. Porém, ela não vem acima de nossa estrutura humana e Deus é nosso protetor (1ª Co 1.9; 1ª Ts 5.24; Lm 3.23), para trazer o escape (Hb 4.16). Embora a tentação objetive provar o crente, as Escrituras afirmam que ela não vem da parte de Deus, mas da fragilidade humana (Tg 1.13).

Todavia, Deus não tenta ninguém ao pecado, Ele permite que sejamos tentados por Satanás e por nossas concupiscências. É claro, o seu propósito ao permitir (mas não ao produzir nem ao promover) o mal é fazer-nos mais perfeitos.

Deus permitiu que Satanás provasse a Jó, de forma que este pudesse dizer: Jó 23.10 “se ele me provasse, sairia eu como o ouro.”

Deus permitiu que o mal sobreviesse sobre José por meio das mãos de seus irmãos, mas no fim José pôde dizer a eles:  Gn 50.20 “Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem.”

3.1. Atração vem pela própria concupiscência. O texto bíblico é claro ao dizer que “cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (v.14). A tentação exterioriza o vício, os desejos, a malignidade da natureza humana, isto é, a concupiscência. Ser tentado é sentir-se aliciado pela própria malícia ou os sentimentos mais reclusos de nossa natureza má. Você tem ouvido o ressoar das suas malícias? Elas te atraem? Ouça a Epístola de Tiago! Não dê vazão às pulsões interiores, antes procure imitar Jesus afastando-se do pecado. Assim, não darás luz ao pecado e viverás.

III. A TENTAÇÃO TEM TRÊS ORIGENS OU FONTES

1. Da parte da carne.
1.1. Tentação humana. A Bíblia nos diz que “não veio sobre vós tentação, senão humana" (1ª Co 10.13). Neste texto, podemos entender que “tentação humana” quer dizer a que é própria da natureza carnal do homem (ver Rm 7.5-8; Gl 5.13,19). Ela tem seu aspecto mal, pernicioso, incitador ao pecado.

1.2. O significado da carne.
- A carne, é o “centro dos desejos pecaminosos” (Rm 13.14; Gl 5.16,24).
- Daí vem o pecado e suas paixões (Rm 7.5; Gl 5.17-21).
- Na carne não habita coisa boa (Rm 7.18).

2. Da parte do mundo. O mundo, como fonte de tentação, não é o mundo físico, criado por Deus. O Dicionário da Bíblia, de Davis, diz que “a palavra mundo emprega-se frequentemente para designar os seus habitantes” (Sl 9.8, Is 13.11 e Jo 3.16).

O Dicionário Teológico (CPAD), referindo-se ao mundo, diz que “No campo da teologia, porém, é o sistema que se opõe de forma persistente e sistemática ao Reino de Deus”.

João exorta a que não amemos “o mundo, nem o que no mundo há” (1ª Jo 2.15,16). Tudo isso é fonte de tentação.

3. Da parte do Diabo. É a fonte mais cruel da tentação. Seu caráter é sempre destrutivo.

3.1. Jesus foi tentado. É a fonte mais terrível e avassaladora da tentação. Dela, não escapou nem mes­mo nosso Senhor Jesus Cristo. Após o batismo em água, Ele foi conduzi­do “pelo Espírito para ser tentado pelo diabo” (Mt 4.1; Mc 1.13; Lc 4.2). Foi o único que não caiu em pecado (Hb 4.15).

3.2. Homens de Deus foram tentados. Homens de Deus, do porte de Abraão, Sansão, Davi, e tantos ou­tros, foram tentados pelo Adversá­rio (Satanás) a fazerem o que não era da vontade de Deus, com sérios pre­juízos para suas vidas.

3.3. Os homens comuns são tentados. Os homens são tentados a praticar toda espécie de males, crimes, violência, estupros, brigas, ciúmes, guer­ras, mentiras, calúnias, roubos, etc.

3.4. Os crentes são tentados. Até os crentes em Jesus são vítimas da ação do maligno, quando causam prejuízos à Igreja do Senhor, com escândalos, calúnias, invejas, divi­sões, rebeliões, busca pelo poder, politicagem religiosa, e tantas outras coisas ruins.

IV. OS ESTÁGIOS DA DO PECADO

Teologicamente o pecado pode atingir as três dimensões humanas: corpo, alma e o espírito.
O homem é formado de três partes distintas em um só (tricotomia). O pecado segundo a Bíblia é a transgressão da lei moral que fere por vez a santidade de Deus.

1ª João 2.16 “Porque tudo que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede de Pai, mas procede do mundo”.
A. Nos apetites malignos da carne a concupiscência da carne.
B. No materialismo avarento e transitório a concupiscência dos olhos.
C. No orgulho da vida sem Deus a soberba da vida.

1. Concupiscência da carne. Qualquer pecado da carne; desejo da carne: paixões carnais, imoralidades, glutonaria, bebedice, materialismo manifesto pelos prazeres extravagantes, pelos sentimentos, pelo endeusamento das gratificações mundanas e perversas.

2. Concupiscência dos olhos. Cobiça, avidez, ambição desenfreada por riquezas, desejo incontido por aquilo que vê, convicto que ficará plenamente satisfeito quando tiver o objeto da sua avareza, sendo isso um engano.

3. Soberba da vida. Arrogância de viver, orgulho, jactância, insolência, presunção; o homem que pensa e fala muito de si mesmo e seus bens e benefícios, suas riquezas, seus feitos, sendo estes quase sempre falatórios e exageros seus; um petulante convencido e vaidoso.

No grego clássico pleonexia, significa “uma ganância arrogante”, e o espírito que procura tirar proveito do seu próximo. O verbo correspondente, pleonektein, significa “defraudar” ou “burlar”.

V. O PROCESSO DA TENTAÇÃO

Segundo o texto de Tiago 2.14,15, a tentação se constitui num processo, que tem os seguintes passos:

1. Atração do desejo (v. 14a). “Mas cada um é tentado, quando atraído...” Primeiro, vem a atração pelos sentidos: visão (1ª Jo 2.16); audição (1ª Co 15.33); olfato; gosto, e tato (Pv 6.17).

2. Engodo (isca). A pessoa é atraída, seduza e “engodada pela própria concupiscência” (v.14b).

3. Concepção do desejo (da concupiscência). Na mente, nos pensamentos (cf. Mc 7.21-23), o desejo é concebido. Só se fez o que se pensa (v.15a). Nesse ponto, ainda se pode evitar o pecado.

4. O pecado é gerado. “Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado” (v.15). Ainda na mente, já nasce o pecado. Alguém pode adulterar só na mente (Mt 5.27,28).

5. A consumação do pecado (v. 15b). “...e o pecado, sendo consumado, gera a morte.” A morte, aqui, é espiritual. Nesse ponto, só há solução se houver arrependimento, ainda, em vida. É importante entendermos esse terrível processo, a fim de que nos resguardemos dele. Alguém já disse que ninguém pode impedir que um pássaro voe sobre sua cabeça, mas pode impedi-lo de fazer um ninho nela. Isso ilustra o processo da tentação. Esta, em si, não é pecado. Pecado é praticar o que a tentação sugere.

VI. QUEM SEDUZ O HOMEM A PECAR

1. O diabo é quem seduz ao pecado. É o agente da tentação. Gn 3.1-6 - “Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o SENHOR Deus tinha feito, disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? 2 - Respondeu-lhe a mulher: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, 3 - mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem tocareis nele, para que não morrais. 4 - Então, a serpente disse à mulher: É certo que não morrereis. 5 - Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal. 6 -Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer, agradável aos olhos e árvore desejável para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu também ao marido, e ele comeu”.

2. O ser humano é atraído por aquilo que deseja. A história de Adão e Eva nos mostra o primeiro casal sendo tentado por aquilo que lhe atraía (Gn 3.2-6). Mesmo sabendo que não poderiam tocar na árvore no centro do Jardim do Éden, depois de atraídos pelo desejo, Adão e Eva entregaram-se ao pecado (Gn 3.6-9). A Epístola de Tiago aplica o termo “gerar”, utilizado no versículo 15, à ideia de que ninguém peca sem desejar o pecado. Assim, antes de ser efetivamente consumada, a transgressão passa por um processo de gestação interior no ser humano. Portanto, a origem da tentação está nos desejos humanos e jamais no Altíssimo, “porque Deus [...] a ninguém tenta”.

3. O diabo é astuto. Além da fragilidade humana, o crente precisa perseverar porque o tentador procura nos derrubar.

A Bíblia nos alerta: 1ª Pe 5.8 “Sejam sóbrios e vigiem. O diabo, o inimigo de vocês, anda ao redor como leão, rugindo e procurando a quem possa devorar.”

Toda tentação é proveniente da própria natureza humana (1ª Co 10.13; Tg 1.13-15), todavia, o principal agente da tentação é Satanás (Mt 4.3; Lc 4.2; 1 Ts 3.5; Tg 4.7).

Precisamos estar vigilantes e fortalecermo-nos no Senhor a fim de vencer as batalhas espirituais, que somos submetidos (Ef 6.10-18).
  
VII. O PECADO ATINGIU AS TRÊS PARTES DO SER HUMANO.

1. Corpo, alma e espírito.
* No Corpo: “... a concupiscência da carne...”. “Vendo a mulher que a árvore era boa para se comer...”.
* Na alma: “... a concupiscência dos olhos...”. “... agradável aos olhos...”.
* No espírito: “... e a soberba da vida...”. “... e árvore desejável para dar entendimento...”.

2. Jesus também foi tentado. Jesus sendo Deus também foi tentado NO ESPÍRITO, ALMA, E CORPO, mas venceu o pecado e o tentador. Compare a tentação de Jesus:
Lc 4.1-12: “Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi guiado pelo mesmo Espírito, no deserto, 2 durante quarenta dias, sendo tentado pelo diabo. Nada comeu naqueles dias, ao fim dos quais teve fome. 3 Disse-lhe, então, o diabo: Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão. 4 Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem. 5 E, elevando-o, mostrou-lhe, num momento, todos os reinos do mundo. 6 Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. 7 Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua. 8 Mas Jesus lhe respondeu: Está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele darás culto. 9 Então, o levou a Jerusalém, e o colocou sobre o pináculo do templo, e disse: Se és o Filho de Deus, atira-te daqui abaixo; 10 porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; 11 e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra. 12 Respondeu-lhe Jesus: Dito está: Não tentarás o Senhor, teu Deus.

2.1. Jesus foi tentado nas 3 áreas humana.
“Cobiça da carne” - Pedras em pães
“Concupiscência dos olhos” - Reinos da terra.
“Orgulho da vida” - Pináculo do templo.

3. O homem é tentado pela cobiça. Tiago 1.13-15; “Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta”. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz ao pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte”.

3.1. A concupiscência é a mãe do pecado. “A concupiscência havendo concebido, dá à luz o pecado”. Tiago está seguindo a mesma linha de raciocínio de Jesus. O mal procede do interior do homem. São os maus desejos do seu interior que o levam ao pecado. A força determinante não é nada mais que interior.

3.2. A concupiscência (cobiça). É o desejo da carne.

O pecado. “Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz ao pecado” (V. 15).
A morte. “... e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” (V. 15).
Romanos 6.23 “Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor.”

4. O pecado separa o homem de Deus.
Isaías 59:1-2 “Eis que a mão do SENHOR não está encolhida, para que não possa salvar; nem agravado o seu ouvido, para não poder ouvir. 2 - Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça.”

5. O pecado está ao nosso redor. Hb 12.1 “o pecado que tão de perto nos rodeia.”
- O pecado tira o homem do meio em que deve viver.
O pecado converte luz em trevas, a alegria em tristeza, a vida em morte.
O pecado é o maior e mais terrível inimigo do homem. Ele destrói as promessas, mata as esperanças, dá serpentes ao invés de peixes, pedra em lugar de pão, tormento em lugar de prazer.
O pecado sempre destrói e nunca edifica; promete e jamais cumpre a promessa. Como dizem as Escrituras:
“O salário do pecado é a morte” (Rm 6.23).

VIII. O PECADO TEOLOGICAMENTE

1. Concupiscência da carne - Gl 5.19-21: “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus”.

2. Concupiscência dos olhos. Mt 5.27-28: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela”.

O que levou o rei Davi pecar no seu palácio? No livro de 2º Samuel a Bíblia relata o pecado de Davi dizendo: “E aconteceu, à hora da tarde, que Davi se levantou do seu leito, e andava passeando no terraço da casa real, e viu do terraço a uma mulher que se estava lavando; e era esta mulher mui formosa à vista. E enviou Davi e perguntou por aquela mulher; e disseram: Porventura, não é esta Bate-Seba, filha de Eliã e mulher de Urias, o heteu? Então, enviou Davi mensageiros e a mandou trazer; e, entrando ela a ele, se deitou com ela (e já ela se tinha purificado da sua imundície); então, voltou ela para sua casa. E a mulher concebeu, e enviou, e fê-lo saber a Davi, e disse: Pesada estou” (2º Sam 11.1-5).

O que levou Davi ao pecado foi: A concupiscência dos olhos, a ociosidade e a concupiscência da carne. Davi era o rei de Israel, já era casado, mas quando olhou para a beleza da mulher, não se preocupou em saber como era sua vida se era casada ou não e sim em satisfazer o desejo de seus olhos e de sua carne; e fez com que ela viesse á sua presença e deitou com ela, e cometeu adultério.

O pecado de Adão e Eva; de Davi e do próprio Lúcifer e muitos outros que a Bíblia relata não são de usos e costumes, mas da concupiscência da carne, dos olhos e da soberba da vida.

3. Soberba da vida - pecado do espírito. O que levou Lúcifer a pecar contra Deus? O pecado da cobiça.

O pecado se originou no querubim Lúcifer. A Bíblia diz que Lúcifer estava num paraíso numa terra coberta de pedras preciosas e, era o ser mais perfeito em sabedoria, mas entrou no seu coração à soberba, o orgulho de querer ser Deus (Ez 28.19; Is 14.11-15), e foi lançado ao mundo dos mortos (Is 14.15).

Ezequiel 28.12-17: “Filho do homem, levanta uma lamentação sobre o rei de Tiro, e dize-lhe: Assim diz o Senhor DEUS: Tu eras o selo da medida, cheio de sabedoria e perfeito em formosura. Estiveste no Éden, jardim de Deus; de toda a pedra preciosa era a tua cobertura: sardônia, topázio, diamante, turquesa, ônix, jaspe, safira, carbúnculo, esmeralda e ouro; em ti se faziam os teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados. Tu eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que foste criado, até que se achou iniquidade em ti. Na multiplicação do teu comércio encheram o teu interior de violência, e pecaste; por isso te lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do meio das pedras afogueadas. Elevou-se o teu coração por causa da tua formosura, corrompeste a tua sabedoria por causa do teu resplendor; por terra te lancei, diante dos reis te pus, para que olhem para ti.

Is 14.12-15: “Como caíste desde o céu, ó Lúcifer, filho da alva! Como foste cortado por terra, tu que debilitavas as nações! E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo. E, contudo, levado serás ao inferno, ao mais profundo do abismo”.

IX. VERDADES SOBRE A NATUREZA DA TENTAÇÃO (Tg 1.13-14)

1. Inevitável. As principais versões da Bíblia em língua portuguesa indicam que to­dos passarão por tentações (Tg 1.13). A questão não é “se”, mas “quando” vamos ser tentados. Nem uma tradução portuguesa cogita como possibilidade, elas afirmam “quando for tentado”. O nosso primeiro desafio em relação à tentação é entender que estamos sujeitos a ela a todo momento. Precisamos prestar atenção continuamente. Ninguém pode dizer que não passa por tentação, pois é naturalmente humana. “Não vos sobreveio tentação que não fosse humana” (cf. 1ª Co 10.13). “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (cf. 1ª Co 10.12).

2. A tentação é maligna. O Diabo é o “tentador” (Mt 4.3; 1ª Ts 3.5). Ele é a origem externa da tentação, sempre pronto a nos induzir ao pecado. A tentação, sendo o caminho do mal, é totalmente contrária à natureza de Deus.

Entendamos que, ainda que o diabo tente uma pessoa, ela só cairá se ceder. A tentação surge da cobiça, e isso é inviável para Deus. DEUS é o Dono de tudo (cf. Sl 24.1), de forma que não há o que cobiçar. Além disso, o décimo mandamento de Deus diz: “Não cobiçarás” (Êx 20.17), e Deus não pode negar a Si mesmo (cf. 2ª Tm 2.13). A tentação, sendo o caminho do mal, é totalmente contrária à natureza de Deus.

3. A tentação é humana. Deus não é o responsável pela tentação; Ele não tenta ninguém (Tg 1.13). A tentação tem por objetivo fazer pecar, induzir ao erro. Não lemos na Palavra que Deus é o tentador, mas o diabo é assim chamado (cf. Mt 4.3 e 1ª Ts 3.5). Esse papel é do diabo, não de Deus. Imaginar que Deus nos induz ao mal é contrariar a natureza divina Dele. Deus é bom (cf. Sl 136.1).

3.1. A tentação entre os homens é um problema universal. Tanto salvos quanto não salvos, crianças ou adultos, ricos ou pobres, elegantes ou brutos sabem o que é tentação. A realidade diz: sendo da raça humana, automaticamente, conhece a tentação (“Não veio sobre vós tentação, senão humana”.

3.2. Quando alguém for tentado... (Tg 1.13).
O ponto principal não é “se for tentado”, a Bíblia diz “quando for tentado” ou “ao ser tentado” ou “sendo tentado”. Todos nós estamos sujeitos a tentação a todo momento, pois ela é naturalmente humana:

1ª Co 10.12-13 “Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia! Não sobreveio a vocês tentação que não fosse comum aos homens.

Mateus 4.3 “E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães.”

Embora o diabo seja chamado de tentador, a Bíblia atribui o problema à cobiça humana e não à tentação diabólica (Tg 1.14). Nenhum efeito teria a tentação diabólica se não houvesse a cobiça humana, pois, como vimos antes, não nos vem tentação que não seja humana e cada um é tentado pela própria cobiça.

Pois Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo não tenta ninguém. Mas as pessoas são tentadas quando são atraídas e enganadas pelos seus próprios maus desejos (Tg 1.13,14 - NTLH).

A tentação tem por objetivo fazer pecar, induzir ao erro. Esse papel é do diabo, não de Deus. Para nos livrar da culpa do pecado, cometemos erro de atribuir ao diabo todas as nossas culpas. Mas a Bíblia atribui o problema à cobiça humana e não à tentação diabólica. A fonte interna da tentação, a “carne” ou “velho homem”. Nenhum efeito teria a tentação diabólica se não houvesse a cobiça humana, pois não nos vem tentação que não seja humana e cada um é tentado pela própria cobiça.

4. Identificável. Hb 12.1 “o pecado que tão de perto nos rodeia.”
Embora o nome de “tentador” seja atribuído ao diabo, vimos que o maior problema da tentação não é o diabo, e sim os nossos desejos. Conforme Douglas J. Moo, em seu comentário sobre o livro de Tiago, a ideia de “atrair e seduzir” é “caçar e pescar”. É preciso atrair o animal para a armadilha, seduzir o peixe com a isca. Lembremo-nos de que o animal vai até a arma­dilha, e o peixe vai até o anzol atraído por uma necessidade legítima de se alimentar. Assim também, alguns desejos nossos têm fundamentos legítimos como o desejo de comer, beber, descansar, mas que podem se tornar pecaminosos se nos atraírem e nos seduzirem.

Tiago ainda mostra que a palavra “cobiça”, traduzida algumas vezes como concupiscência, vem do grego epithymia e pode algumas vezes significar um desejo legítimo como em Lucas 22.15 e Filipenses 1.23. Por isso, é importante exercitar o fruto do Espírito (Gl 5.23), que inclui o domínio próprio. Lembre-se de que as piores tentações são aquelas que estão ligadas às necessidades legítimas.

Quais áreas da sua vida você acredita serem inofensivas? Até mesmo as vontades do dia a dia podem ser ciladas para o pecado: namorar; divertir-se; ter dinheiro, amigos; sair; passear; viajar; ser popular. Na maioria das vezes, nós armamos essas ciladas para nós mesmos. Você sabe qual é a natureza de seus desejos, portanto, esteja alerta! Não subestime uma tentação!

X. O PROPÓSITO DAS TENTAÇÕES (Tg 1.3,4,12)

1. Para provar a nossa fé (v. 3). Na época de Tiago, os cristãos estavam desanimados por passarem duras provas de perseguição. No versículo três, o meio-irmão do Senhor utiliza então o termo “sabendo”, o qual se deriva do verbo grego ginosko e significa saber, reconhecer ou compreender, para encorajá-los a compreenderem o propósito das lutas enfrentadas na lida cristã: Deus prova a nossa fé (Tg 1.12). À semelhança do aluno que estuda e pesquisa para submeter-se a uma prova e, em seguida, ser aprovado e diplomado, os filhos de Deus são testados para amadurecer a fé uma vez dada aos santos (Jo 16.33; Jd 3). O capítulo 11 da epístola aos Hebreus lista inúmeras pessoas que tiveram sua fé provada, porém, terminaram vitoriosas e aprovadas. Por isso o referido texto bíblico é conhecido como a “galeria dos heróis da fé”.

2. Produzir a paciência (v. 3,4). No grego, “paciência” deriva de hupomone e denota a capacidade de perseverar, ser constante, ser firme, suportar as circunstâncias difíceis. A palavra aparece em o Novo Testamento ao lado de “tribulações” (Rm 5.3), aflições (2Co 6.4) e perseguições (2ª Ts 1.4). Mas também está ligada à esperança (Rm 5.3-5; 15.4,5; 1ª Ts 1.3), à alegria (Cl 1.11) e, frequentemente, à vida eterna (Lc 21.19; Rm 2.7; Hb 10.36). O termo ilustra a capacidade de uma pessoa permanecer firme em meio à alguma pressão, pois quem é portador da paciência bíblica não desiste facilmente, mesmo sob as circunstâncias das provas extremas (Jó 1.13-22; 2.10). Tiago encoraja-nos então a alegrarmo-nos diante do enfrentamento das várias tentações (v.1), pois a paciência é resultado da prova da nossa fé.

A Bíblia, porém, orienta-nos a que nos alegremos em Deus porque a tribulação produz a paciência, e esta, a experiência que, finalmente, culmina na esperança:

Rm 5.3-5 “ E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, 4 - E a paciência a experiência, e a experiência a esperança. 5 - E a esperança não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”

3. Chegar à perfeição. A habilidade de perseverar ou desenvolver a paciência não acontece da noite para o dia. Envolve tempo, experiência e maturidade. O meio-irmão do Senhor destaca na epístola a paciência para que o leitor seja estimulado a chegar à perfeição e, consequentemente, à completude da vida cristã, que se dará na eternidade. A expressão “obra perfeita” traz a ideia de algo gradual, em desenvolvimento constante, com vistas à maturidade espiritual. O motivo pelo qual o cristão é provado não é outro senão para que persevere na vida cristã e atinja o modelo de perfeição segundo Cristo Jesus (Sl 119.67; Hb 5.8; Ef 4.13).

XI. COMO VENCER AS TENTAÇÕES

Para vencer as tentações temos que eliminá-la já em seu primeiro estágio de atuação: a atração. E a Bíblia nos traz algumas orientações sobre como nos manter imunes à atração do pecado:

1. Saber utilizar a Palavra de Deus. Nosso Senhor Jesus Cristo, quando foi tentado, não deu chance ao Diabo para conversar muito com Ele. A cada insinuação do maligno, ele usava a “espada do Espírito, que é a Palavra de Deus” (Ef 6.17b), di­zendo: “Está escrito...” (Mt 4.4b, 7a, 10b). Por isso, é preciso ler a Bíblia, para usar a Palavra na hora certa.

2ª Timóteo 3.14-17 “Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus. Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.”

2ª Timóteo 2.15 “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.”

João 5.39 “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam.”

2. Através da oração e vigilância. Jesus nos mandou orar para não cairmos em tentação Lucas 22.40 “E quando chegou àquele lugar, disse-lhes: Orai, para que não entreis em tentação.”

Jesus enfatizou a importância da vigilância para não cairmos em tentação.
Mt 26.41 “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.”

Paulo nos mandou orar sem cessar (1ª Ts 5.17). A maioria dos crentes, hoje, não ora. Certo pregador disse: “O Diabo ri da nossa sabedoria, zomba das nossas pregações, mas treme diante de nossas orações”.

3. Através da disciplina pessoal. Falando sobre o “atleta cristão”, Paulo diz que “aquele que luta, de tudo se abstém” (1ª Co 9.25a). Em seguida, afirma: “Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (1ª Co 9.27). Muitos caem, por exemplo, na tentação do sexo, porque não sabem controlar seus instintos.

4. Submeter-se a Deus e resistir ao diabo. O inimigo sabe qual é o ponto fraco de cada crente. Mas, com determinação e resistência, no Espírito, é possível ser vitorioso (cf. 1ª Pe 5.8,9; Tg 5.17). José, jovem hebreu, mesmo pagando terrível preço, não se deixou vencer pelo pecado do adultério. Foi vencedor e exaltado por Deus.

Os jovens na Babilônia não se contaminaram com as iguarias do rei (Dn 1).
1ª Pedro 5.8-9 “Sede sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar; Ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo.”
Tiago 4.7 “Sujeitai-vos, pois, a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.”

5. Buscando a santificação. É preciso que o crente viva a separa­ção integral para Deus (Hb 12.14; 1ª Pe 1.15).

6. Ocupando a mente com as coisas espirituais. Isso se consegue através da oração, jejum, estudo da Bíblia e leitura de bons livros; ser­vindo, evangelizando, louvando, participando da obra do Senhor, santificando a mente, a vida e o corpo (ver 1ª Ts 4.3-7).

A tentação, no seu sentido mais comum, é um processo terrível, da parte do homem, do mundo e do Di­abo, cuja finalidade é destruir a fé, a santidade, a comunhão com Deus, levando o crente a pecar. Para ven­cer, é preciso fazer como Jesus, que usou a “Espada do Espírito” a Palavra. É preciso usar as armas que Deus colocou à disposição de Seus servos. Em Cristo, “somos mais que vencedores” (Rm 8.37).

7. Andar em espírito. Gálatas 5.16 “Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne.”

8. Desviar-se do mal (proteção passiva). Jó 1.1 e 8 “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal. 8 E disse o Senhor a Satanás: Observaste tu a meu servo Jó? Porque ninguém há na terra semelhante a ele, homem íntegro e reto, temente a Deus, e que se desvia do mal.”

Provérbios 16.17 “Os retos fazem o seu caminho desviar-se do mal; o que guarda o seu caminho preserva a sua alma.”

9. Fugir do pecado (proteção ativa).
1ª Coríntios 6.18-19 “Fugi da fornicação. Todo o pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que fornica peca contra o seu próprio corpo. 19 - Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?”

2ª Timóteo 2.22 “Foge também das paixões da mocidade; e segue a justiça, a fé, o amor, e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor.”

CONCLUSÃO
Sabemos que todo cristão passa por aflições e tentações ao longo da vida. Talvez você esteja vivendo tal situação. Lembre-se de que o nosso Senhor Jesus passou por inúmeras tribulações e tentações, mas venceu todas, tornando-se o maior exemplo de vida para os seus seguidores. Cada tentação vencida pelo crente significa um avanço rumo ao amadurecimento espiritual. Um dia ele atingirá a estatura de varão perfeito à medida da estatura de Cristo (Ef 4.13). Este é o nosso objetivo na jornada cristã! Deus nos recompensará! Estejamos firmes no Senhor Jesus, pois Ele já venceu por nós e por isso somos mais que vencedores.

Temos um Sumo Sacerdote que em tudo foi tentado, mas sem pecado: Jesus Cristo. Este é a mediação entre Deus e o homem e, por isso, podemos ir ao Pai com confiança (Hb 4.15,16).

A tentação é um problema provocado por nós e não por Deus. O diabo é o tentador, mas está em nós cair na tentação e pecar. O desafio é reconhecer nossa vulnerabilidade, nossa fraqueza, e vencê-la. Não temos condições de enfrentar a tentação, pois somos fracos diante de nossos próprios desejos. Portanto, a única forma de vencer a tentação é fugir dela.

Mas fugir do que nos atrai exige força espiritual. Por isso precisamos buscar forças no único que foi tentado, mas nunca pecou: Jesus Cristo (cf. Hb 4.15). Alimentemo-nos da pa­lavra de Deus e cuidemos (cf. 1Tm.4.16), pois o mal que o tentador sugerir só terá efeito se nos deixarmos levar por ele!

FONTE DE PESQUISA

1. Carta de Tiago. O cristão e as tentações. Editora Kaleo. Assembleia de Deus Blumenau SC.
2. CORREA Claudionor de Andrade. O Dicionário Teológico – CPAD. Rio de Janeiro - RJ.
3. GINGRICH F Wilbur. Revisado Frederick W. Danker. 1ª edição 1984. Lèxico do N.T. Grego/Português. Edições Vida Nova. São Paulo SP.
4. LIMA RENOVATO DE. Lições bíblicas a prática da vida 1º trimestre de 1999. CPAD Rio de Janeiro - RJ.
5. LIRA Eliezer Silva. Lições bíblicas 3º Trimestre de 2014. Título: Fé e Obras. CPAD - RJ.
6. PFEIFFER, Charles F.; VOS, Howard, F. Dicionário Bíblico Wycliffe. RJ: CPAD, 2009.
7. RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1 ed., RJ: CPAD, 2007.
8. SILVA Eliezer de Lira. O propósito da tentação. Lições Bíblicas 13 de Julho de 2014. CPAD RJ.

Montado e elaborado pelo:
Pastor Elias Ribas – Dr. em teologia
Blumenau SC.

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