LEITURA
BÍBLICA
Efésios
2.14-19
“14 - Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando
a parede de separação que estava no meio, 15 - na sua carne, desfez a
inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para
criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, 16 - e, pela cruz,
reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades. 17 - E,
vindo, ele evangelizou a paz a vós que estáveis longe e aos que estavam perto; 18
- porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito. 19 - Assim
que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos e da
família de Deus.”
INTRODUÇÃO
Se na lição anterior, analisamos o antigo
quadro desolador acerca dos gentios, em que o apóstolo Paulo descreveu
(2.11,12), nesta veremos que houve uma significativa mudança na sequência do
capítulo dois. No versículo 13 Paulo usa a expressão adversativa, “mas agora”
para indicar que algo aconteceu e alterou a situação dos gentios. Ele explica
que essa mudança repousa na Obra que Cristo realizou: “vós, que antes estáveis
longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto” (2.13).
I.
CRISTO DESFEZ A INIMIZADE ENTRE OS HOMENS
O exclusivismo religioso criou inimizade
entre judeus e gentios. Nesse ponto veremos o que Cristo fez para dar fim a
esse litígio entre os homens (2.14,15).
1. A
parede de separação entre os homens. Trata-se de uma analogia com as muralhas
do templo em Jerusalém. A estrutura da construção revela o exclusivismo religioso
do Judaísmo. Entre o santuário e o átrio dos gentios havia um muro de pedra com
a proibição de acesso aos estrangeiros. O extremismo judaico quanto a esse
aspecto levou Paulo à prisão quando ele foi acusado de permitir um grego
ultrapassar essa barreira (At 21.28-30).
2. A
derrubada da parede da separação. O apóstolo declara que em Cristo foi
derrubada “a parede de separação que estava no meio” (2.14b). Essa barreira era
tanto literal como espiritual, mas por mérito da cruz de Cristo a divisória foi
rompida. Assim, não somos mais forasteiros, mas somos da família de Deus, temos
acesso à presença do Pai (2.18) e, pelo sangue de Cristo, temos livre entrada
no santuário de Deus (Hb 10.19).
3. O
conceito da lei dos mandamentos. A compreensão desse conceito repousa na
visão tripartida da lei mosaica: a moral, a cerimonial e a civil, que na
verdade são três esferas da mesma lei. A lei civil diz respeito ao israelita
como cidadão. A lei moral permanece em vigor como padrão de conduta, mas não
como meio de salvação (2.8,9). A lei cerimonial é citada como sendo a
“circuncisão”, “sacrifícios”, “comida e bebida”, “dias de festas, lua nova e
sábados” (Cl 2.11,16). Esses ritos identificavam a posição do povo judeu diante
de Deus e demonstrava a hostilidade deles para com os gentios.
4. A
revogação da lei dos mandamentos. A eliminação das barreiras que dividiam
judeus e gentios se deu pela revogação da “lei dos mandamentos, que consistia
em ordenanças” (2.15b). Essa revelação não contradiz o que Jesus disse: “não
vim para revogar, mas cumprir a lei” (Mt 5.17 – NAA). Visto que, ao entregar
seu corpo para ser crucificado, Cristo cumpriu a Lei oferecendo-se como
sacrifício em favor de ambos os povos (Hb 7.27). Desse modo, a revogação aqui
aludida é a da lei cerimonial, que resultava em separação entre judeus e
gentios. O ato de Cristo, oferecido a Deus em cheiro suave, aboliu a
necessidade dessas ordenanças ritualísticas e assim a inimizade foi desfeita
(5.2).
II.
PELA PAZ, CRISTO FEZ UM “NOVO HOMEM”
A partir da expiação na cruz, a paz foi
proclamada e de ambos os povos, judeus e gentios, Cristo fez uma nova
humanidade (2.14-17).
1. O
conceito bíblico de paz. De forma geral, a paz é a descrição de boas relações
(At 24.2,3), do fim de um conflito (Lc 14.32), do estado de tranquilidade (1ª
Rs 4.24) e de uma qualidade espiritual (Gl 5.22). Na passagem em apreço, o
apóstolo ressalta a paz conferida por meio de Cristo. Sua morte na cruz desfez
a nossa inimizade com Deus e como os homens, tornando possível a reconciliação
entre ambos e, promovendo assim, a paz (Cl 1.20).
2.
Cristo é o motivo da nossa paz. Paulo declara que Cristo “é a nossa paz”
(2.14b). Essa expressão aponta para uma conotação mais profunda, pois Cristo
não é apenas o “autor da paz”, mas literalmente “a nossa paz”. Isso implica o
conceito de “comunhão espiritual”, ou seja, Cristo habita em nós sendo Ele
mesmo a nossa paz: Jo 14.23-27 Jesus
respondeu, e disse-lhe: Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o
amará, e viremos para ele, e faremos nele morada. 24 - Quem não me ama não
guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes não é minha, mas do Pai
que me enviou. 25 - Tenho-vos dito isto, estando convosco. 26 - Mas aquele
Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará
todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. 27 - Deixo-vos
a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o
vosso coração, nem se atemorize.”
- Desse modo, essa paz repousa na igreja,
entre o crente e Deus e entre judeus e gentios, agora um único povo em Cristo
Jesus (2.14.b).
3. A
nova humanidade formada pela paz. Cristo uniu os povos que outrora se
hostilizavam, para criar “em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz”
(2.15c). Essa unidade não foi o resultado de algum acordo firmado entre os
homens. Ela foi realizada “em si mesmo”, ou seja, o único modo possível era “em
Cristo” e “por meio de Cristo”. A partir desse ato surge uma nova humanidade: a
Igreja, “onde não há circuncisão e nem incircuncisão” (Cl 3.11). Foi Cristo
quem criou esse novo povo “fazendo a paz” (2.15c). Nele, as desigualdades foram
eliminadas, a acepção de pessoas desfeita, a etnia e a classe social
desapareceram (Rm 2.11; Gl 3.28).
4. A
restauração da paz. Embora
o resultado da queda fosse a destruição da paz e do bem-estar para a raça
humana, e até mesmo para a totalidade do mundo criado, Deus planejou a
restauração do shalom; logo, a história
da reconquista da paz é a história da redenção em Cristo.
4.1. Tendo em vista que Satanás deu início
à destruição da paz no mundo, o restabelecimento da paz deve envolver a
destruição de Satanás e do seu poder. Por isso, muitas promessas do AT a respeito
da vinda do Messias era promessas da vitória e paz vindouras. Davi profetizou
que o Filho de Deus governaria as nações (Sl 2.8,9; cf. Ap 2.26,27; 19.15).
Isaías vaticinou que o Messias reinaria como o Príncipe da Paz (Is 9.6).
Ezequiel predisse que o novo concerto que Deus se propôs estabelecer através do
Messias seria um concerto de paz (Ez 34.25; 37.26). E Miqueias, ao profetizar o
nascimento em Belém do rei vindouro, declarou: ‘E este será a nossa paz’ (Mq
5.5).
4.2. Por ocasião do nascimento de Jesus,
os anjos proclamaram que a paz de Deus acabara de chegar à terra (Lc 2.14). O
próprio Jesus veio para destruir as obras do diabo (1ª Jo 3.8) e para romper
todas as barreiras de conflito que tomasse parte da vida a fim de fazer a paz
(Ef 2.12-17). Jesus deu aos discípulos a sua paz como herança perpétua antes de
ir à cruz (Jo 4.27; 16.33). Mediante a sua morte e ressurreição, Jesus desarmou
os principados e potestades hostis, e assim possibilitou a paz (Cl 1.20;
2.14,15; cf. Is 53.4,5). Por isso, quando se crê em Jesus Cristo, se é
justificado mediante a fé e se tem paz com Deus (Rm 5.1). A mensagem que os
cristãos proclamam são as boas-novas da paz (At 10.36; cf. Is 52.7)” (STAMPS,
Donald (Ed.). Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, pp.1120-21).
*Sobre a Paz
“eirene,
paz. Ocorre em cada um dos livros do Novo Testamento, salvo em 1ª João. O termo
descreve paz como: relações harmoniosas entre homens, entre nações; amizade; as
relações harmonizadas enre Deus e os
homens, satisfeitas pelo Evangelho; sensação de descanso e satisfação que lhe é
consequente.” [Dicionário Vine, CPAD, pp. 856-57].
III.
PELA CRUZ, RECONCILIADOS COM DEUS NUM CORPO
O ministério da reconciliação desfez a
inimizade entre o homem e Deus, bem como entre os homens. Essas dádivas foram
possíveis por causa da cruz de Cristo.
1.
Cristo se fez maldição por nós. Ser condenado à morte de cruz era um
sinal de maldição e de profunda humilhação (Hb 12.2). O réu era açoitado por um
chicote de várias tiras de couro, acompanhado de chumbo ou ossos nas pontas (Mc
15.15). Em seguida, era obrigado a carregar publicamente sua cruz até ao local
da execução (Jo 19.7). Por essas razões a cruz era escândalo para os judeus e
loucura para os gentios (1ª Co 1.23). Apesar disso, Cristo suportou a afronta,
levou a nossa culpa, entregou seu corpo para a crucificação e se fez maldição
em nosso lugar (Gl 3.13).
2.
Reconciliados pela cruz de Cristo. Foi o sacrifício vicário de Cristo na
cruz e sua consequente vitória sobre a morte que possibilitaram nossa
reconciliação com Deus e com os homens (Cl 1.20). Nessa perspectiva que Cristo
“é a nossa paz” (2.14), que pela sua carne um novo homem foi criado “fazendo a
paz” (2.15) e que também “evangelizou a paz a vós”, proclamando ao mundo as
boas novas da cruz (2.17). A mensagem da cruz apregoa a paz entre Deus e os
homens, isto é, o ministério da reconciliação (2ª Co 5.18-20).
3.
Reconciliados na cruz em um corpo. O apóstolo Paulo reforça que o propósito
de Cristo foi o de “reconciliar ambos [judeus e gentios] com Deus em um corpo”
(2.16b). A ênfase aqui recai sobre a inimizade existente na vertical, isto é,
entre os homens e Deus. No versículo 14, o destaque era a inimizade horizontal,
quer dizer, entre os judeus e os gentios. De forma que a reconciliação deve ser
duplamente compreendida. As duas inimizades foram desfeitas quando Cristo levou
nossos pecados no madeiro (1ª Pe 2.24). A ira de Deus, que por causa dos
pecados estava sobre nós, foi cravada na cruz (Cl 2.13,14). Assim, a
reconciliação foi concretizada pela cruz, gerando um novo povo, num único
corpo: a “família de Deus”; a “Igreja de Cristo” (2.19; 3.6; 4.4; 5.23,30).
- O ministério da reconciliação ao
restaurar a comunhão estabeleceu a Igreja, a nova família de Deus.
“A paz e a unidade entre judeus e gentios
exigia que ambos fossem reconciliados ‘pela cruz… com Deus em um corpo (2.16).
Isso pressupõe que tanto judeus como gentios eram pecadores separados de Deus
(2.3) e necessitavam da morte expiatória de Cristo a fim de serem reconciliados
com Deus (2.17,18). Sua ‘inimizade (2.16), que foi condenada à morte na cruz,
era tanto horizontal como vertical – isto é, uma hostilidade entre povos não regenerados
e Deus (Rm 5.10), e entre grupos hostis, tais como judeus e gentios. O milagre
da reconciliação resultou em uma nova entidade espiritual chamada ‘um corpo’ de
Cristo (2.16). Esse assunto tornar-se o foco de Paulo 2.19-22” (ARRINGTON,
French L.; STRONSTAD, Roger (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento. Vol.2. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, pp. 417-18).
CONCLUSÃO
Em obediência ao plano divino, Cristo
cumpriu as demandas da lei na cruz. Em seu sacrifício derrubou as barreiras e
aboliu as ordenanças cerimoniais que serviam de divisão. Por meio da paz
conquistada no madeiro desfez a inimizade, criou uma nova humanidade e a
reconciliou com Deus. A partir dela, formou um novo povo: a Igreja, o Corpo de
Cristo.
FONTE
DE PESQUISA
1. BAPTISTA Douglas, Lições Bíblicas 2º
Trimestre de 2020, CPAD RJ.
2. Comentário Bíblico Pentecostal Novo
Testamento. Vol.2. Rio de Janeiro: CPAD, 2017, CPAD RJ.
3. Dicionário Vine, CPAD RJ.
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