“Assim que, daqui por diante, a ninguém conhecemos segundo a carne; e,
ainda que também tenhamos conhecido a Cristo segundo a carne, contudo, já não o
conhecemos desse modo. Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as
coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”. (2ª Coríntios 5.16-17).
O versículo 17, fala sobre transformação, que é a essência do Evangelho,
mas não aparece na Bíblia como um texto isolado; ele está intimamente ligado ao
versículo 16, que fala sobre conhecer a Cristo. Acredito que os dois assuntos
estão vinculados entre si. Toda transformação experimentada pelo crente vem em
função do conhecimento que ele tem de Jesus Cristo. Há dois diferentes níveis
de conhecimento mencionados pelo apóstolo Paulo no versículo 16:
1. O conhecimento “segundo a
carne”, que pertence à dimensão natural.
2. O conhecimento “de um
outro modo”, que por ser diferente do primeiro, e mencionado em outros lugares
da Bíblia, denominamos como “conhecimento espiritual”, ou ainda de “revelação”.
Paulo declara que a forma correta de se conhecer a Cristo é esta segunda.
E depois de ter feito esta afirmação é que ele fala sobre o ser nova criatura,
porque isto é uma consequência de se conhecer a Cristo “de um outro modo”.
I. CONHECIMENTO SEM TRANSFORMAÇÃO
Há pessoas que conheceram a Jesus de perto, até mesmo de forma íntima, e
nunca chegaram a provar o seu poder transformador. Um exemplo claro disto é
Judas Iscariotes, que depois de passar anos andando com Cristo, ainda assim o
traiu. E seu pecado não foi somente no momento da traição, senão poderíamos até
concluir que ele falhou somente nesta hora; mas João declarou em seu evangelho
que Judas era ladrão e roubava o que era lançado na bolsa (Jo 12.6); e esta
informação demonstra que ele nunca foi transformado de fato.
Alguém pode chegar a conhecer muita coisa sobre Cristo sem nunca ter
conhecido a Cristo! As igrejas evangélicas estão cheias de gente religiosa, que
foi bem ensinada sobre como ser um “bom cristão”, mas que não manifestam
transformação alguma em suas vidas! São sempre as mesmas, e não há evidências
de mudança genuína. Isto se deve à falta de revelação que acompanha uma
verdadeira experiência com Cristo.
Quando Paulo escreveu a Timóteo, seu filho na fé, falou acerca de algumas
pessoas que estavam vivendo uma vida “não transformada”:
“Elas estão sempre aprendendo, e jamais conseguem chegar ao pleno
conhecimento da verdade”. (2ª Timóteo 3.7).
II. OS IRMÃOS DE JESUS
Outro exemplo de conhecimento sem transformação (segundo a carne) pode
ser visto nos irmãos de Jesus. Muitos de nós temos dificuldade de enxergar isto
por causa da herança católica que recebemos de que Maria foi sempre virgem, mas
este não é o ensino bíblico. A Palavra de Deus declara que José e Maria não se
envolveram fisicamente enquanto Jesus não nasceu. Veja o que diz a Escritura Sagrada:
“E José, despertando do sonho, fez o como o anjo do Senhor lhe ordenara,
e recebeu a sua mulher, e não a conheceu até que deu à luz seu filho, o
primogênito; e pôs-lhe o
nome de Jesus”. (Mateus 1.24-25).
Um outro texto bíblico menciona os nomes dos irmãos de Jesus:
“Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, e de José, e
de Judas, e de Simão? E não estão aqui conosco suas irmãs? E escandalizavam-se
nele”. (Marcos 6.3).
A tradição católica afirma tratar-se de uma outra Maria, e que a palavra
“irmão” neste texto não deveria ser entendida literalmente, mas o contexto do
versículo é indiscutível: Jesus estava em Nazaré, sua cidade, no meio de
conhecidos e familiares, portanto não há dúvida alguma de o reconheceram (com
sua família) de fato.
Não temos os nomes de suas irmãs, mas quatro de seus irmãos são
mencionados, o que nos faz saber que sua família era grande. E a Bíblia declara
que seus irmãos não criam nele:
“Disseram-lhe, pois, seus irmãos: Sai daqui e vai para Judéia, para que
também os seus discípulos vejam as obras que fazes. Porque não há ninguém que
procure ser conhecido que faça coisa alguma em oculto. Se fazes essas coisas,
manifesta-te ao mundo. Porque nem mesmo seus irmãos criam nele”. (João 7.3-5).
Em outras palavras, poderíamos dizer que os irmãos de Jesus lhe diziam
algo assim: - “Você não é o bom? Não quer aparecer? Então vá fazer seus sinais
onde a multidão está reunida!” Posso deduzir que havia muito sarcasmo e cinismo
por trás desta afirmação dos irmãos do Senhor.
Um outro texto bíblico nos revela que houve uma ocasião em que os irmãos
de Cristo quiseram até mesmo prendê-lo por achar que ele estava louco:
“E foram para casa. E afluiu outra vez a multidão, de tal maneira que nem
sequer podiam comer pão. E quando seus parentes ouviram isso, saíram para o
prender, porque diziam: Está fora de si... Chegaram, então, seus irmãos e sua
mãe; e, estando de fora, mandaram-no chamar”. (Mc 3.20-21 e 31).
Imagino que se houve pessoas que puderam conhecer bem a Cristo (segundo a
carne), foram justamente seus irmãos. Mas só o conhecimento natural não foi
suficiente para transforma-los. Em Nazaré muitos também o conheceram sem provar
transformação.
III. REVELAÇÃO
O verdadeiro conhecimento de Jesus Cristo só se atinge por revelação, não
é transmitido segundo a carne. O próprio Jesus afirmou que o apóstolo Pedro só
chegou a conhece-lo devido à uma revelação:
“E, chegando Jesus às partes de Cesaréia de Filipe, interrogou os seus
discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do Homem? E eles
disseram: Uns, João batista; outros, Elias, e outros, Jeremias ou um dos
profetas. Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro,
respondendo disse-lhe: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus,
respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi
carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus”. (Mateus 16.13-17).
O que Paulo não conseguiu entender com sua mente mudou quando Jesus
apareceu a ele! Há muitos exemplos bíblicos e também à nossa volta que
confirmam isto. Sem uma revelação acerca de Jesus alguém pode crescer dentro de
uma igreja, receber toda uma formação religiosa e até saber tudo acerca de Jesus,
e mesmo assim, nunca ser transformado.
IV. TRANSFORMAÇÃO POR UM “NOVO”
CONHECIMENTO
Porém, quando esta pessoa consegue sair da dimensão de mero conhecimento
intelectual e entrar numa dimensão de revelação, sua vida será drasticamente
mudada. Penso que esta é uma das maiores necessidades da igreja de nossos dias.
Tiago, o irmão do Senhor (Gl 1.19) é um exemplo disto. Tanto ele como
seus irmãos, não criam em Jesus. Até o momento da morte de Jesus eles
sustentaram esta posição, pois não os vemos mencionados nos Evangelhos como
estando por lá. E ainda reforça esta ideia o fato de que Maria estava sozinha,
razão pela qual Jesus confiou o cuidado dela a João (Jo 19.26).
Só que algo aconteceu depois da morte e ressurreição de Jesus. Não temos
um relato detalhado, só a menção do que houve. Mas sabemos que algo aconteceu,
e que isto mudou para sempre a vida de Tiago:
“Depois foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos”. (1ª
Coríntios 15.7).
E aquele Tiago cínico que provocava Jesus, que quis prendê-lo, que não
cria nele, mudou completamente. Não mudou pelo conhecimento segundo a carne de
toda uma vida fisicamente próximo de Jesus, mas quando provou uma revelação do
Cristo ressurreto, tudo mudou! Acredito que esta revelação foi o marco desta
mudança, pois ele já passou a ser mencionado entre os que estavam reunidos no
Cenáculo (At 1.14) por ocasião do Pentecostes. E Tiago se tornou uma das
colunas da Igreja em Jerusalém, mencionado antes mesmo de Pedro e João:
“E conhecendo Tiago, Cefas e João, que eram considerados como as colunas,
a graça que se me havia dado, deram-nos as destras, em comunhão comigo e
Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios e eles, à circuncisão”. (Gálatas 2.9).
Por ocasião do Concílio de Jerusalém, vemos todos falando sobre o motivo
da controvérsia da circuncisão ser aplicada ou não aos gentios. Pedro fala, até
Paulo se levanta com Barnabé e também falam, mas é quando Tiago se levanta e
fala que o assunto se dá por encerrado e concluído. Que diferença entre o irmão
de Jesus visto nos Evangelhos e este grande líder que ele veio a ser!
Ele ganhou muito respeito e admiração não por ter sido irmão do Senhor,
mas certamente pela vida que vivia em Deus. Pela linguagem adotada em sua
epístola, percebemos que Tiago era um homem de liderança forte e que não
poupava confrontos. O motivo pelo qual Pedro foi repreendido por Paulo em
Antioquia foi mudar de comportamento quando chegaram alguns da parte de Tiago:
“E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era
repreensível. Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago,
comia com os gentios; mas, depois, que chegaram, se foi se retirando e se
apartou deles, temendo os que eram da circuncisão”. (Gálatas 2.11-12).
Porque Pedro temeria os da parte de Tiago? Certamente pela sua liderança
e influência que veio a ter entre os crentes de Jerusalém, Pedro preferia
evitar confrontos com ele. Isto tudo indica o homem de Deus que Tiago passou a
ser depois de ter recebido sua revelação do Cristo ressurreto.
V. TRANSFORMAÇÃO ESTAGNADA
Diferentemente do primeiro grupo mencionado, que nunca teve uma
transformação, há muitos dentro das igrejas que tiveram uma experiência inicial
de transformação. Contudo, de alguma forma, com o passar do tempo, estagnaram
na fé e na experiência e não percebem mais diferença alguma em suas vidas. O
que os impediu de continuarem provando a transformação?
Certamente não foi por não conhece-la, pois estas pessoas são justamente
aquelas que se encontram insatisfeitas, desejosas de mudança, uma vez que já
provaram-na um dia. E é preciso ressaltar que, sob circunstância alguma podemos
admitir a ausência do processo de transformação, uma vez que “a vereda dos
justos é como a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia
perfeito” (Pv 4.18). Ninguém é transformado instantaneamente. Algumas áreas de
nossa vida podem ser impactadas e mudadas mais rapidamente, porém não será
assim em todas as áreas. Se o processo de transformação estagnou, é porque a
revelação de Cristo em nossa vida também estagnou.
Precisamos retomar a busca pelo conhecimento revelado em nossas vidas,
pois somente assim avançaremos no processo de transformação. A palavra grega
traduzida por revelação, do grego “appocalipse”,
significa: “remover o véu”. Indica a remoção de um empecilho à visão que, em
nosso caso, é a dificuldade de entender as coisas espirituais.
“Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque
para ele são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente”. (1ª Coríntios 2.14).
Somente pela ação do Espírito Santo em nossas vidas podemos penetrar esta
dimensão de entendimento. Foi o que aconteceu conosco quando nos convertemos ao
Senhor Jesus:
“Mas o entendimento lhes ficou endurecido. Pois até o dia de hoje, à
leitura do velho pacto, permanece o mesmo véu, não lhes sendo revelado que em
Cristo é ele abolido; sim, até o dia de hoje, sempre que Moisés é lido, um véu
está posto sobre o coração deles. Contudo, convertendo-se um deles ao Senhor,
é-lhe tirado o véu”. (2ª Co 3.14-16).
Só que, com o passar do tempo, muitos de nós nos inclinamos a uma busca
de entendimento meramente intelectual (segundo a carne), e isto nos rouba o
processo de transformação, que não se dá só por aquisição de informação, mas
pelo impacto do Espírito Santo em nosso íntimo. Não podemos parar. Não podemos
estagnar na revelação de Cristo!
VI. CONHECIMENTO PROGRESSIVO
A Bíblia nos exorta em avançar no pleno conhecimento de Deus:
“Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor...” (Oséias 6.3).
Conhecer a Deus é um ato progressivo e contínuo. Veja o que Paulo
declarou depois de anos de comunhão e intimidade com Cristo:
“Sim, na verdade, tenho também como perda todas as coisas pela excelência
do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; pelo qual sofri a perda de todas
as coisas, para que possa ganhar a Cristo... para conhecê-lo, e o poder da sua
ressurreição e a participação dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na
sua morte, para ver se de alguma forma consigo chegar à ressurreição dentre os
mortos. Não que já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas vou
prosseguindo, para ver se poderei alcançar aquilo para o que fui alcançado por
Cristo Jesus”. (Filipenses 3.8,10-12).
Se pararmos de avançar, não alcançaremos o propósito de Deus para nossa
existência. Devemos crescer até a plenitude do conhecimento de Cristo:
“Para que os seus corações sejam animados, estando unidos em amor, e
enriquecidos da plenitude do entendimento para o pleno conhecimento do mistério
de Deus – Cristo, no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e da
ciência”. (Colossenses 2.2-3).
Que o Pai Celeste nos ajude a prosseguir na revelação de seu Filho Jesus!
Pr. Luciano Subirá – Ministério Orvalho
Estudo extraído do site www.orvalho.com
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