TEOLOGIA EM FOCO: NÃO ESTUDE A BÍBLIA - A LETRA MATA

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

NÃO ESTUDE A BÍBLIA - A LETRA MATA

 

ESTUDO BÍBLICO

2ª Co 3.6-9, 11 “O qual nos fez também nos habilitou para sermos ministros de um novo testamento, não da letra, mas do espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica. 7- E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória, de maneira que os filhos de Israel não podiam fitar os olhos na face de Moisés, por causa da glória do seu rosto, a qual era transitória, 8- Como não será de maior glória o ministério do Espírito? 9- Porque, se o ministério da condenação foi glorioso, muito mais excederá em glória o ministério da justiça. 11- Porque, se o que era transitório foi para glória, muito mais é em glória o que permanece. 

INTRODUÇÃO

“A letra mata, mas o Espírito vivifica” é uma frase muito conhecida entre os cristãos. Ela é extraída de um texto escrito pelo apóstolo Paulo a igreja de Coríntios. Curiosamente muitas pessoas utilizam essa frase de forma completamente equivocada, especialmente para rejeitar o estudo teológico. 

I. O QUE PAULO QUIS DIZER COM “A LETRA MATA, MAS O ESPÍRITO VIVIFICA”? 

Para entendermos corretamente o significado da frase “a letra mata, mas o Espírito vivifica”, precisamos primeiramente saber em qual contexto o apóstolo Paulo escreveu essas palavras. Vejamos o que Jesus e Seus apóstolos nos ensinam: 

1. O significa A “Letra” neste versículo. Quando usamos um versículo fora do contexto, cometemos graves erros doutrinário. Segundo a exegese bíblica, para entendermos uma doutrina é necessário examinar o contexto exposto pelo escritor e também ao paralelismo das Escrituras. 

2.1. O qual nos fez também nos habilitou para sermos ministros de um novo testamento...” (v. 6). Nesse contexto, Paulo está falando da Nova Aliança, isto é, do Novo Concerto. Ele escreve de uma maneira clara para entendermos: “O qual nos habilitou para sermos ministros de uma Nova Aliança”. 

2.2. “E, se o ministério da morte, gravado com letras em pedras, veio em glória...” (v. 7). Quando o apóstolo utilizou as expressões “tábuas de pedra”, ele estava estabelecendo um contraste entre a Lei do Antigo Testamento e a Lei do Novo Testamento. Moisés deu aos israelitas a Lei em tábuas de pedra, e estes foram incapazes de guardá-la no coração conforme o Senhor ordenou (Dt 6.6; 9.10). 

Para entender isso, é necessário lembrar que a Lei que prescreveu as formas de adoração entre os judeus foi considerada pelo apóstolo como destituída dessa eficácia e poder na renovação do coração que ele atribuiu ao evangelho. Era um serviço que consistia em formas e cerimônias externas; na oferta de sacrifícios e de incenso, de acordo com os requisitos literais da Lei, em vez da oferta sincera do coração (2ª Co 3.6: “A letra mata; o espírito dá vida;” João 6.63 ; Hebreus 10.1-4 ; Hebreus 9.9-10). Não se pode negar que havia muitas pessoas santas sob a Lei e que havia muitas ofertas espirituais apresentadas, mas é ao mesmo tempo verdade que a grande massa do povo descansou na mera forma; e que o serviço oferecido era o mero serviço da Lei, e não da Lei do Espírito no coração. A ideia principal é que os serviços sob o evangelho são pura e inteiramente espirituais, a oferta do coração, e não o serviço prestado por formas e ritos externos. Portanto, a letra é uma referência clara de Paulo a Lei. No verso 6, Paulo chama a Lei de Moisés de “letra”, no verso 7, chama de “ministério da morte” e no verso 9 de “ministério da condenação.” O efeito disso foi meramente produzir condenação; produzir um sentimento de culpa e perigo, e não produzir perdão, alívio e alegria. A lei denunciou a morte; pecado condenado em todas as formas; e o efeito disso foi produzir um sentimento de culpa e condenação, mas a Lei do Espírito nos trouxe vida e paz. 

3. Circuncisão [...] no espírito, não na letra. O paralelismo bíblico, a letra refere-se a Lei, conforme o apóstolo Paulo prescreve em Romanos 2.27-29: “E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, não te julgará porventura a ti, que pela letra e circuncisão és transgressor da lei? 28- Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. 29- Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.”

“... que pela letra e circuncisão és transgressor da lei?” Este foi o rito especial pelo qual a relação com a aliança de Abraão foi reconhecida; ou pelo qual o direito a todos os privilégios de um membro da comunidade judaica foi reconhecido. Os judeus, é claro, atribuíram grande importância ao rito.

A circuncisão, ou ser chamado de judeu, não tem valor. Isso não o distinguirá daqueles que não são circuncidados. Você será tratado como pagão. Nenhuma vantagem externa, nenhum nome, rito ou cerimônia irá salvá-lo. Deus requer a obediência do coração e da vida. Onde há uma disposição para fazer isso, há uma vantagem em possuir os meios externos da graça. Onde isso está faltando, nenhum rito ou profissão pode salvar. Isso se aplica com tanta força àqueles que foram batizados na infância e àqueles que fizeram profissão de religião em uma igreja cristã quanto aos judeus. 

4. A caducidade da Lei. “Agora, porém, libertados da lei, estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos em novidade de espírito e não na caducidade da letra” (Rm 7.6). 

4.1. Literalmente, na velhice da letra”. Isso descreve a obediência legalista dos que tentam assegurar a salvação pelas obras da lei.

Agora, mortos para essa lei que nos mantinha sujeitos, dela nos temos libertado, e nosso serviço realiza-se conforme a renovação do Espírito e não mais sob a autoridade envelhecida da letra.

O serviço “na caducidade da letra” só pode conduzir ao pecado e à morte (Rm 7.5). Mas o evangelho traz o oferecimento de Deus para capacitar as pessoas a prestar serviço espiritual de coração. O novo nascimento do Espírito Santo significa a criação de um coração puro e a renovação de um espírito reto (ver Sl 51:10), de modo que, a partir de então, o crente não mais serve a Deus por um sentimento de escravidão legal e por medo, mas em um novo espírito de liberdade e amor (cf. Jo 4.23; 6.63; 2ª Co 3:6). 

4.2. Pela conversão, a pessoa morre para a Lei (v. 4). O resultado disso é que agora ela está apta a andar com Deus e servir a Ele em novidade de vida (Rm 6.4). Eles têm uma nova vida no Espírito Santo, não na velhice da letra — o velho modo de tentar ganhar a vida eterna por meio da observância da Lei. 

4.3. O Espírito vivifica. Em outras palavras, a letra mata, mas o Espírito vivifica porque não é a letra que muda o coração da pessoa, mas, sim, o Espírito Santo. Sem Ele, o homem só poderá obedecer a Lei superficialmente e exteriormente. Mas com o Espírito, o homem é capacitado a cumpri-la em uma genuína obediência interior. 

II. SE A LETRA MATA, POR QUE ESTUDAR A BÍBLIA? 

De acordo com o dicionário de nossa língua, estudar é aplicar o raciocínio, a percepção, memória para aprender. Todos os Cristãos têm muitos motivos para estudar a Palavra de Deus. Vejamos alguns desses motivos: 

1. Porque precisamos crescer no conhecimento de Jesus Cristo. 1ª Pe 3.18 “Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade”. 

2. Porque devemos manejar bem a Palavra de Deus. 2ª Tm 2.15Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade”. 

3. Porque a Palavra de Deus é proveitosa para nos ensinar. 2ª Tm 3.16 Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça”. 

4. Porque devemos ser aptos para ensinar. Como podemos ensinar alguém o que não conhecemos?

2ª Tm 2.24 “E ao servo do Senhor não convém contender, mas sim, ser manso para com todos, apto para ensinar, sofredor”. 

5. Porque Jesus e Seus apóstolos deixaram o ministério do ensino. 

5.1. Ensino é um ministério. Ef 4.11 “E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores”.

O ensino bíblico Jesus muito ensinou e ordenou aos seus discípulos a exercerem o ministério do ensino. 

5.2. E para se exercer o ministério do ensino é preciso dedicação, ser ter aluno, alguém que queira aprender. Rm 12.7 “Se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino”. 

5.3. No ministério terreno de Jesus, Ele sempre se dedicou ao ensino. Lc 5.3 E, entrando num dos barcos, que era o de Simão, pediu-lhe que o afastasse um pouco da terra; e, assentando-se, ensinava do barco a multidão”.

Mt 13.54 “E, chegando à sua pátria, ensinava-os na sinagoga deles, de sorte que se maravilhavam, e diziam: De onde veio a este a sabedoria, e estas maravilhas”?

Mc 1.22 “E maravilharam-se da sua doutrina, porque os ensinava como tendo autoridade, e não como os escribas”. 

5.4. O ensino é uma ordenança. João 5.39 “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam.” 

Mt 28.19-20 Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações.... Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado...”. 

5.4. As palavras da bíblia não matam ninguém. Ela mesma é viva e eficaz. Hb 4.12Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração”.

Só a Palavra através do ensino pode penetrar no coração do homem. 

5.5. Os que negligenciam o ensino são errantes e enganados. Mateus 22.29 “Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus.” 

III. QUATRO PRINCIPIOS TANTO PARA QUEM ENSINA QUANTO PARA QUEM APRENDE 

1. Não acrescentar nada a Palavra de Deus. Pv 30.6 Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso”. 

2. Não subtrair nada da Palavra de Deus. Ap 22.18-19Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; 19- E, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro”. 

3. Falar segundo as Palavras de Deus. 1ª Pe 4.11Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus; se alguém administrar, administre segundo o poder que Deus dá; para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo, a quem pertence a glória e poder para todo o sempre. Amém”. 

4. Ser cumpridor da Palavra. Tg 1.22E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos”. 

CONCLUSÃO Vejamos de que letra a Bíblia está falando em 2ª Coríntios 3.6 “Deus nos qualificou para sermos administradores de uma nova aliança, a qual não se baseia em uma lei escrita, mas no Espírito. Pois a lei escrita traz a morte, mas o Espírito dá a vida”. Está claro que o texto está falando lei. A lei de Moisés, a lei judaica.

Que Jesus tenha misericórdia daqueles que tentam esconder a sua negligencia e desobediência a traz da falsa justificativa de que a letra mata.

Quem pensa que não deve estudar a Bíblia por que a letra mata, não pode ter uma Bíblia, pois ela está cheia de letras! 

Todavia, a frase “a letra mata, mas o Espírito vivifica”, como pudemos ver, em nada sustenta esse pensamento equivocado. É claro que precisamos sempre orar para que o Espírito Santo ilumine o nosso entendimento a fim de que possamos compreender as verdades das Escrituras. Mas ao mesmo tempo, devemos estudá-la e examiná-la diligentemente.

Pr. Elias Ribas

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