TEOLOGIA EM FOCO: A OFERTA DE MANJARES

quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

A OFERTA DE MANJARES

 


Levítico 2.1-3 “E, quando alguma pessoa oferecer oferta de manjares ao Senhor, a sua oferta será de flor de farinha; nela, deitará azeite e porá o incenso sobre ela. 2- E a trará aos filhos de Arão, os sacerdotes, um dos quais tomará dela um punhado da flor de farinha e do seu azeite com todo o seu incenso; e o sacerdote queimará este memorial sobre o altar; oferta queimada é, de cheiro suave ao Senhor. 3- E o que sobejar da oferta de manjares será de Arão e de seus filhos; coisa santíssima é, de ofertas queimadas ao Senhor”. 

A oferta de manjares era voluntária e fazia parte do ritual de adoração da nação israelita. Essa oferta tinha o propósito de conduzir o povo até a presença do Senhor e de abençoar o sacerdote.

I. OFERTA DE MANJARES (Lv 2.1-16). 

(ARA; NVI: oferta de cereal). Mais precisamente, apresentar “uma oferta de cereal no hebraico minhah como uma oferta (qorban, ver Lv 1.2). A segunda oferta voluntária era a oferta dos manjares, na qual o fruto do campo era oferecido na forma de um bolo ou pão assado feito de grãos, farinha fina, azeite e sal. A menor dessas ofertas de cereais compunha-se de uma dízima do efa ou seja, 2,2 litros. A oferta dos manjares era um dos sacrifícios acompanhados por uma oferta de bebida de um quarto de him (cerca de um litro) de vinho, o qual era derramado no fogo sobre o altar (Nm 15.4–5). O propósito dessa oferta era expressar gratidão em reconhecimento da provisão de Deus e boa vontade imerecida para com a pessoa fazendo o sacrifício. Os sacerdotes recebiam uma parte dessa oferta, mas ela precisava ser comida dentro da corte do tabernáculo. 

II. OS INGREDIENTES DA OFERTA 

Na oferta de manjares não havia derramamento de sangue. Ela representa o ministério terreno de Jesus em toda a perfeição de atitudes e palavras que Ele proferiu durante o Seu ministério nesta terra. Quando lemos os evangelhos, aprendemos com Jesus, o homem perfeito. Vemos Seu relacionamento com os pecadores, Sua atenção para com os que lhe procuravam com um coração sincero e também as palavras duras para os que se aproximavam d’Ele com hipocrisia. 

1. Flor de farinha. A flor de farinha era o trigo passado em peneira muito fina e nos dias do patriarca Abraão era utilizado para a fabricação de bolo (Gn 18.6). Essa farinha feita do trigo tem como característica ser bem fina, com os grãos apresentando a uniformidade, o que representa muito bem o ministério terreno de Jesus Cristo, em quem não encontramos acepção de pessoas nem injustiça no relacionamento com os homens. 

A humanidade pura e perfeita de nosso Senhor Jesus é um tema que encanta e nos inspira a procurar imitá-Lo como Seus servos. Observemos como Jesus agiu diante de indecisão de João Batista quando enviou os discípulos até ele (Mt 11.3), como suportou a indiferença “desta geração” (Mt 11.16-17) as impenitentes cidades da Galileia (Mt 11.20), as multidões sem discernimento (Mt 13.13-15), a incredulidade do povo que ouvia o seu ensinamento (Mt 13.58), a inflexibilidade dos religiosos da sua época (Mt 16.1). Jesus sempre agiu conforme as Sagradas Escrituras e essa é a proteção contra qualquer tipo de erro. 

2. Azeite. O azeite na oferta de manjares é símbolo do Espírito Santo. A flor de farinha era amassada com azeite (Lv 2.5), simbolizando a concepção de Jesus no ventre de Maria (Lc 1.35). O Verbo se fez carne (Jo 1.14), através da ação do Espírito Santo no ventre de Maria! A concepção da humanidade de Jesus Cristo, pelo Espírito Santo no ventre de Maria, é um dos profundos mistérios que nos revela a Palavra de Deus (1ª Tm 3.16). 

Na preparação da oferta de manjares a flor de farinha, sem fermento era amassada e depois untada com azeite (Lv 2.4). Esse ato tipifica o momento que Jesus foi ungido com o Espírito Santo antes do início do Seu Ministério. Quando Jesus foi batizado, o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma de pomba (Mt 3.16). Quando iniciou o Seu ministério em Nazaré, num sábado, estando Ele na sinagoga, tomou o livro e disse que o Espírito do Senhor era sobre Ele para cumprir o ministério que lhe havia sido concedido (Lc 4.16-19). É importante notar o fato do Senhor Jesus ter sido ungido pelo Espírito Santo antes da Sua entrada no ministério público. 

3. Incenso. O Senhor Deus revelou a Moisés como o incenso deveria ser feito, quais os elementos que fariam parte de sua composição e a quantidade exata desses elementos. O Senhor também disse a Moisés que ninguém poderia fazê-lo para seu próprio uso, mas somente para oferecer ao Senhor Deus (Êx 30.34-38), pois era algo santíssimo. O incenso nessa oferta demonstra que em todo o Seu ministério terreno Jesus nunca fez nada para Sua própria glória, mas sempre para a gloria de Deus (Jo 7.18). 

O azeite e o incenso eram dois ingredientes de suma importância na preparação da oferta e também com um grande ensinamento espiritual. O azeite simboliza o poder do ministério de Jesus e o incenso o objetivo desse ministério, nos ensinando tudo que Ele fez foi feito pelo poder do Espírito Santo e tudo foi feito para a glória de Deus. Este deve ser o fundamento dos que querem servir e agradar a Deus: oferecer a Deus todo o nosso ser, buscar n’Ele a capacitação necessária e ter como objetivo a glória de Deus. 

III. TRAZENDO A OFERTA AOS SACERDOTES 

Deus nos ensina na Sua Palavra que devemos ofertar ao Senhor em gratidão pelas bênçãos que Ele nos concede por Sua infinita bondade, para a Sua casa. Os israelitas foram ensinados a levarem dos seus bens para o Senhor. Desse modo, os sacerdotes eram também abençoados. Pela Palavra de Deus vemos que, sempre que o povo assim procedia, a bênção do Senhor era abundante sobre o Seu povo. 

1. Entregue aos filhos de Arão. O que era trazido como oferta de manjares ao Senhor era entregue nas mãos dos filhos de Arão (Lv 2.2). Este sacrifício nos ensina que devemos trazer nossas ofertas para serem entregues nas mãos daqueles que estão com essa responsabilidade na casa do Senhor. Como foi agradável ao Senhor que assim fosse com a nação de Israel, também é agradável a Deus que este mesmo princípio hoje seja um fundamento em Sua Igreja. Assim como Deus abençoou o Seu povo no passado, Ele também abençoa o Seu povo hoje. 

Vivemos dias em que pessoas deixam de observar o que diz a Palavra de Deus e passam a agir segundo seus próprios conceitos e entendimento. A bênção consiste em fazer o que Deus estabelece através da Sua Palavra. É muito importante que tenhamos esse pleno entendimento para que as bênçãos de Deus sobre a nossa vida não sejam impedidas por atitudes erradas que venhamos a tomar; ou que outras pessoas venham a interferir no que podemos fazer para Deus em cumprimento da Sua Palavra. Deus simplesmente diz: “E a trará” (Lv 2.2). 

2. Parte da oferta era queimada. É importante observarmos este trecho da Palavra de Deus: “e o sacerdote queimará este memorial sobre o altar; oferta queimada é, de cheiro suave ao Senhor.” (Lv 2.2). Tudo o que fazemos para Deus deve ser como essa oferta queimada sobre o altar. Nada pode impedir ou tirar o galardão pelo que fazemos para o Senhor. O serviço do salvo feito para o Senhor nesta vida está diante de Deus. As orações, os jejuns, a evangelização, a contribuição, tudo está sobre o altar e terá a sua perfeita recompensa, o galardão que está nas mãos do Senhor, para dar a cada um segundo as suas obras (Ap 22.12). 

Para todo aquele que tem a experiência do novo nascimento, servir a Deus é um deleite e não um peso; obedecer a doutrina da Palavra de Deus é um prazer e o faz com alegria porque na verdade está fazendo por agradecimento a quem fez tudo por nós. Para aqueles que não nasceram de novo, tudo se torna um fardo, tudo é motivo para murmuração. O que é queimado deixa de ser visto, por isso, nada deve ser feito para ser ovacionado pelos homens; não devemos esperar aplausos e elogios, pois Jesus condenou os que assim o fazem (Mt 6.1). O cristão tem que ter fé para saber o que é oferecido ao Senhor não nos torna mais pobre, muito pelo contrário só nos enriquece. 

3. Parte da oferta era dos sacerdotes. Não era tudo para os sacerdotes, mas somente o que lhes era permitido pelo Senhor (Lv 2.3). Assim como existe a responsabilidade do ofertante, também existe a do sacerdote em atentar para o que diz o ritual do sacrifício, pois a oferta não pode ser profanada. Aprendemos com isso que tudo deve ser feito conforme estabelecido pelo Senhor, para que seja sempre para a Sua glória. O texto de Levítico 2.3 diz: “E o que sobejar...”, porque tudo é oferecido primeiramente para o Senhor. No entanto, aqueles que O servem também são abençoados. Assim, aprendemos que o sacerdote come do que é oferecido no altar (1ª Co 9.13). 

Arão e seus filhos estão junto ao altar ministrando o sacrifício conforme o mandamento do Senhor, tipificando Cristo e Sua Igreja ministrando para engrandecimento do Senhor. Assim como parte da oferta também pertencia aos filhos de Arão, do mesmo modo a Igreja deve em tudo procurar ter o ministério como teve o Senhor Jesus. Sabemos da impossibilidade de sermos iguais ao nosso Mestre, mas devemos nos esforçar para fazer o melhor para Deus. À Igreja são concedidos dons e ministério para o seu crescimento (Ef 4.11-12). Tudo deve ser feito para edificação do Corpo e não para promoção pessoal, como alguns pensam. 

IV. PREPARANDO A OFERTA 

A oferta devia ser preparada em casa e levada aos sacerdotes, ensinando-nos que o culto começa em casa, junto com a nossa família, mas Deus tem um lugar escolhido por Ele onde devemos levar as nossas ofertas. No Antigo Testamento era o tabernáculo; mais tarde, no templo de Salomão. Hoje a Igreja tem os seus locais de culto e o cristão tem o dever e a obrigação de estar presente para adorar ao Senhor. 

1. Uma oferta sem fermento e mel. O fermento, juntamente com o mel, não era permitido na oferta de manjares (Lv 2.11). Não deveria haver nada que azedasse, nada que fizesse a massa levedar. O fermento tem a capacidade de fazer a massa crescer, deixando a inchada. O fermento é símbolo da corrupção (apodrecimento). Jesus alertou os Seus discípulos a que se guardassem do fermento dos fariseus e dos saduceus (Mt 16.6). A Igreja também deve se resguardar de toda a influência que o fermento possa produzir (1ª Co 5.8). O mel, do mesmo modo que o fermento, era usado para levedar, especialmente na preparação do vinagre. Os intérpretes associam, geralmente, o mel aos desejos da carne, que podem, de fato, ser prazerosos, mas contêm em si elementos de corrupção e são destrutivos à vida espiritual. 

Essa oferta simbolizava o homem perfeito, Jesus Cristo, em Seu ministério terreno. Em Cristo não há sabor de azedume. Em Seus ensinos, nos milagres por Ele realizados, no convívio com os pecadores, nada n’Ele demonstra algo susceptível de fazer inchar. A Sua Palavra podia, por vezes, ser enérgica e penetrante, mas nunca era áspera, o Seu caráter e o Seu comportamento mostraram sempre a realidade de quem andava na presença de Deus. 

2. A oferta cozida no forno ou na caçoula. A oferta podia ser cozida de três maneiras: no forno, na caçoula e na sertã. Esses três modos de cozer sugerem os tipos de sofrimento que Jesus enfrentou durante o Seu ministério, como também as experiências que o salvo enfrenta durante a sua vida. Essa é uma oferta que agrada a Deus e é chamada “cheiro suave”, porque eu ministério terreno e suportou todo tipo de sofrimento, enfrentando oposição, perseguição e incompreensão por sempre fazer a vontade do Pai. 

Jesus suportou dois tipos de sofrimento neste mundo: interno e externo. Esses sofrimentos são simbolizados pelo bolo sendo preparado no forno, que se encontra fora do olhar humano, e o bolo na caçoula e na sertã, que por todos é visto. Quando disseram que Ele expulsava demônios por Belzebu, foi um sofrimento que Ele sentiu em Seu âmago. Quando lhe esbofetearam, foi um sofrimento visto por todos. O bolo no forno é aquecido a uma temperatura maior do que na caçoula ou na sertã. Os sofrimentos do coração são mais duros de suportar do que os externos. Tudo isso Jesus enfrentou e nós de uma ou de outra maneira iremos experimentar. 

2.1. Forno. É uma construção de tijolo, pedra ou de metal, em forma de câmara e com uma abertura ou porta, cujo interior é aquecido com matérias combustíveis (carvão, lenha etc.) e que se destina a cozer pães ou carnes.

2.2. Caçoula. É um recipiente, geralmente de barro ou metal, mais largo que alto, usado para cozinhar alimentos; sertã: é uma assadeira de ferro ou de barro que destina para assar. 

3. A oferta com sal. O sal era obrigatório na oferta de manjares (Lv 2.13). O sal tem muitos símbolos na Bíblia. Era considerado uma preciosidade entre as nações da região do Oriente da Antiguidade. Proporcionava sabor às oferendas, que em parte seriam dadas aos sacerdotes; preserva da corrupção; símbolo da perpetuidade (“aliança de sal” Nm 18.19; 1ª Cr 13.5). 

Portanto, ao ofertarmos a Deus, devemos fazê-lo reconhecendo que nossa comunhão com o Senhor não é ocasional e temporária, mas eterna e incorruptível. Sua presença na oferta de manjares aponta para a santidade de Cristo, indicando a reconciliação concedida por Deus ao homem na morte de Cristo (Lv 2.13). 

Que ofereçamos, constantemente, o nosso melhor a Deus, sempre com um coração grato e acompanhado de louvor e oração, como resultado de uma vida purificada pelo sangue de Jesus Cristo, pela Palavra de Deus e ação do Espírito Santo.

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