TEOLOGIA EM FOCO: O PRIMEIRO PROJETO DE GLOBALISMO

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

O PRIMEIRO PROJETO DE GLOBALISMO



LEITURA BÍBLICA
Gênesis 11.1-9 “1 - E era toda a terra de uma mesma língua e de uma mesma fala.  2 - E aconteceu que, partindo eles do Oriente, acharam um vale na terra de Sinar; e habitaram ali. 3 - E disseram uns aos outros: Eia, façamos tijolos e queimemo-los bem. E foi-lhes o tijolo por pedra, e o betume, por cal. 4 - E disseram: Eia, edifiquemos nós uma cidade e uma torre cujo cume toque nos céus e façamo-nos um nome, para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra. 5 - Então, desceu o Senhor para ver a cidade e a torre que os filhos dos homens edificavam; 6 - e o Senhor disse: Eis que o povo é um, e todos têm uma mesma língua; e isto é o que começam a fazer; e, agora, não haverá restrição para tudo o que eles intentarem fazer.7 - Eia, desçamos e confundamos ali a sua língua, para que não entenda um a língua do outro. 8 - Assim, o Senhor os espalhou dali sobre a face de toda a terra; e cessaram de edificar a cidade. 9 - Por isso, se chamou o seu nome Babel, porquanto ali confundiu o Senhor a língua de toda a terra e dali os espalhou o Senhor sobre a face de toda a terra.

INTRODUÇÃO
Em Gênesis capítulo 11 o antagonismo entre o Reino de Deus e os reinos deste mundo está simbolizado.

E neste mesmo capítulo 11 de Gênesis a rebelião está concentrada numa cidade e na construção de uma torre, confrontando o plano de Deus de povoar abundantemente a Terra.

É a doutrina do globalismo na sua forma incipiente em três propostas falsas:

1. Falsa segurança – a torre alta para proteger-se, ainda com a lembrança do dilúvio na memória;

2. Falsa ambição – alcançar uma altura celestial e ter um nome grandioso com fundamentos frágeis: tijolos e argamassas;

3. Falsa unidade – “para que não sejamos espalhados sobre a face de toda a terra.”

Mas, sobretudo, o globalismo iniciante proposto por Babel quis substituir Deus como fundamento da sociedade por uma cultura mundana, que exclui a Deus!

Salmo 2.4 e 5 “Aquele que habita nos céus se rirá; o Senhor zombará deles. Então, lhes falará na sua ira e no seu furor os confundirá.”

I. A SEGUNDA CIVILIZAÇÃO HUMANA

1. A apostasia de Cam e de Canaã - Gênesis 9.20 a 27.
A palavra apostasia deriva-se do seguinte termo grego: (apóstasis). O sentido dessa palavra traz a ideia de abandono da fé outrora professada, profanação do sagrado dantes venerado, e rebeldia contumaz aos valores espirituais. Apostasia é repúdio (rejeição) e abandono deliberado da fé que a pessoa professou.
Hebreus 3.12 “Vede, irmãos, que nunca haja em qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo.”
Diferente da heresia, porque esta nega algum ponto da fé. Aquela troca a fé, porque quer fazer isso de vontade própria e consciente, por várias formas, mas sempre contrárias à vontade de Deus revelada nas Escrituras.

2. O Pecado de Cam - Gênesis 9. 18-23.
CAM (Strong Português) חם Cham
Cam = “quente” - segundo filho de Noé, pai de Canaã e de vários povos que vieram a ser habitantes das terras do sul.

CANAÃ (Strong Português) כנען K ̂ena Ìan,
Canaã = “terras baixas”;
1) o quarto filho de Cam e o progenitor dos fenícios e das várias nações que povoaram a costa marítima da Palestina
2) a região oeste do Jordão povoada pelos descendentes de Canaã e subsequentemente conquistada pelos israelitas sob a liderança de Josué

Cam, nome próprio, que segundo Strong é de derivação incerta, e segundo o Dicionário John D. Davis, talvez signifique ´pele escura´, ainda que também registre ser de significação incerta. Isto porque Cam, correspondente do vocábulo egípcio kam, ou seja, ´preto´, derivado da cor da camada de lodo que se acumula nas margens do rio Nilo, devido às enchentes. E seja o nome que, em estilo poético, se dá ao Egito nos Salmos 78, 106, 22 e outros. (John D. Davis, verbete).

Canaã (terra baixa – John D. Davis ou planície – Strong), foi o nome do quarto filho de Cam e neto de Noé (Gênesis 10.6 e versículos 15 a 20).

2.1. Cam era o segundo filho de Noé, preservado das águas do dilúvio: Os filhos de Noé, que saíram da arca, foram Sem, Cam e Jafé. Cam é o pai de Canaã, (Gn 9.18). É interessante observar que ao referir-se a Cam, o autor sagrado traz a informação de que este era pai de Canaã.

2.2. A maldição de Canaã. “... Maldito seja Canaã; servo dos servos será de seus irmãos.” (Gn 9.25).

Após o dilúvio, Noé lavrou a terra e plantou uma vinha. O fruto da videira foi transformado em vinho. Bebendo do vinho, embriagou-se e dormiu. O calor produzido pelo efeito da bebida fez com que Noé se descobrisse dentro de sua tenda.

Noé, o homem que antes do dilúvio foi descrito como um “homem justo e íntegro entre seus contemporâneos” (Gn 6.9) portou-se de modo impróprio, embora não houvesse má conduta de sua parte, além da indiscreta bebedeira e sua consequente nudez.

Cam, um dos filhos de Noé, entrou na tenda de seu pai e o viu nu. Ao sair da tenda contou a seus dois irmãos, Sem, e Jafé, os quais tomando uma capa cobriram a nudez de seu pai. Ao ficar sóbrio Noé soube o que seu filho mais moço fizera e disse: “Maldito seja Canaã servo dos servos será de seus irmãos. Ele disse: Bendito seja o Senhor, o Deus de Sem; e seja-lhe Canaã por servo. Alargue Deus a Jafé, e habite nas tendas de Sem; e seja-lhe Canaã por servo” (Gn 9:25-27.

2.3. Qual foi esse pecado terrível, que causou uma maldição?
Ele não cobriu a nudez de seu pai, mas antes a expôs. Após as narrativas que estabelecem a aliança de Deus com Noé e seus filhos, segue-se uma tragédia na família de Noé (Gn 9.20-29). Um resumo dos fatos sucedidos facilitará a compreensão da narrativa:
a) Noé se embriagou com o vinho da própria vinha (vs. 20,21);
b) Embriagado, apareceu nu dentro de sua própria tenda (v. 21);
c) Seu filho Cam e seu neto Canaã viram a nudez de seu pai e dele zombaram (v. 22);
d) Sem e Jafé ao tomarem conhecimento do fato, cobrem seu pai Noé, sem contemplar-lhe a nudez (v.23);
e) Noé ao acordar profetiza bênçãos e maldições sobre os seus três filhos baseado nos atos anteriores (vs.24-27).

O que houve foi a quebra de privacidade por Cam, que deveria permanecer do lado de fora da tenda de Noé. É provável que Canaã, o filho de Cam, talvez tenha sido o primeiro a ver a nudez de Noé e contado a Cam ou fez algo que desrespeitou o seu avô, porque Noé, ao despertar, o amaldiçoou (Dt 5:16). Cam nada fez para preservar a dignidade de seu pai. Ele não cuidou para que Noé fosse devidamente coberto. Em vez disso foi para fora descrever a seus irmãos o desatino cometido pelo pai. Cam se mostrou maldizente expondo Noé ao ridículo, colocando em risco sua honra e sua autoridade familiar. Mesmo que estivesse errado, Noé deveria ser respeitado. Como conseqüência de seu ato os descendentes de Cam foram amaldiçoados.

A posição exegética de que o pecado de Cam e Canaã tenha sido contemplar de modo desrespeitoso a nudez do pai, encontra sua confirmação no versículo 25 que atesta que Sem e Jafé, para não recair no mesmo erro: “tomaram uma capa, puseram-na sobre os próprios ombros de ambos e, andando de costas, rostos desviados, cobriram a nudez do pai, sem que a vissem”. O contexto de Deuteronômio 27.16 reforça simetricamente o conceito expendido: “Maldito quem desonrar o seu pai ou a sua mãe”.  Lembremos que na antiga sociedade hebraica, ver a nudez de pai ou mãe era considerado uma calamidade social grave, e um filho ou filha ver tal nudez propositadamente era um lapso sério da moralidade entre pais e filhos. Portanto, Cam errou gravemente, de acordo com os padrões de sua época. E não somente errou pessoalmente, mas também correu até seus irmãos, fazendo do incidente um motivo de zombaria.

Quando Noé recobrou da bebedice do vinho, ele soube desse ato, e então amaldiçoou a seu NETO CANAÃ: filho Cam. De imediato, parece estranho que Noé tenha amaldiçoado a seu filho menor. Porque Noé falhou. Noé errou ao embebedar-se, e assim embriagado, despiu-se vergonhosamente, ainda que dentro de sua tenda.

Seu filho Cam entra na tenda, vê a nudez de seu pai, e saindo, conta e expõe isso a seus irmãos. Diferentemente dele, seus dois irmãos, Sem e Jafé, entram na tenda de costas, virados para trás, segurando uma capa em cada ponta, e assim cobriram a nudez de seu pai Noé com aquele manto e, tendo os rostos virados, não viram a sua nudez. Antes, portanto, cobriram-na. 

A narrativa de Gênesis 9.18-29 mostra que o pecado continua no mundo. O dito de Noé foi abusivamente interpretado na história como maldição da raça negra. Mas é impossível ver qualquer implicação desta passagem para a subjugação dos povos negros da terra. Cam não foi amaldiçoado nesta passagem, mas Canaã. Canaã não foi o pai dos povos negros, mas dos cananeus que viveram na Palestina e que ameaçavam os Israelitas. Os cananeus desapareceram há muito tempo, a maldição, portanto, não se pode aplicar a qualquer pessoa hoje.

2.4. Por que Noé o amaldiçoou? Porque ele era a autoridade representativa de Deus. O líder falhou, sim, de fato, mas a falha do líder é um teste para nós. Se estamos em espírito de submissão ou de rebeldia interior, diante da autoridade delegada por Deus. O líder que falha dará contas a Deus, que lhe outorgou autoridade representativa.

Noé não julgou a seu filho caçula de acordo com o terreno conceito humano, mas de acordo com a perspectiva celestial do governo divino.

Então devemos encobrir o erro do líder? Não! Certamente há lideranças auxiliares e superiores,  que podem tratar de cada caso. A observação aqui é quanto ao espírito interior daquele que sai a divulgar, a expor a falha da liderança, e então confronta diretamente a autoridade de Deus.

Repito: a eventual falha do líder é sempre um teste para nós. Se estamos submissos à autoridade de Deus ou não. Ou se temos no coração o espírito de rebeldia latente e contido. Expondo a todos, divulgando a todos a falha da liderança, nós nos pomos debaixo da maldição e não da bênção.

Sem e Jafé também entraram na tenda. Noé continuava falhando na embriaguez e na nudez. Mas Sem e Jafé não entraram ali para ver a falha, mas para cobri-la. Deus trataria com Noé, no caso. Sem e Jafé foram abençoados.

Não é bênção ver e divulgar aqui e ali a falha dos outros. Sabem donde vem a fofoca? Vem do ver e do ouvir.
1ª Coríntios 15.33 “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes.”

Observem como a apostasia de Cam a longo prazo trouxe tantos malefícios aos povos.

Os habitantes originais do litoral sírio-palestino eram os descendentes de Canaã – Gênesis 10.15 a 18. Canaã incluía os jebuseus, amorreus, heveus e girgaseus. Estes descendentes amaldiçoados por Noé, tornaram-se idolatras, adoradores dos falsos deuses El – a que consideravam o deus supremo – e a Asera, chamada de esposa de El. A adoração a Baal teve origem entre esse povo. E adoravam a deusa Astarote, de baixíssimo padrão moral. Eles foram maus. Sacrificavam as suas crianças. Não tinham leis, e cada um fazia o que bem entendia. Os seus cultos com teor sexualista e de erotismo, tinham grande aceitação entre os descendentes de Cam, justamente pelo seu teor, ou seja, de ofertas corporais de conteúdo sexual.
Se podemos graduar a apostasia, então a de Cam e sua geração canaanita foi extrema!

II. O GLOBALISMO DE BABEL

Naquele estágio, a civilização iniciada por Noé dispunha de todos os fatores, para criar uma sociedade ímpia e globalista: uma só língua, um só povo e uma só cultura. Levemos em conta, igualmente, a ascensão de Ninrode e a tecnologia já acumulada para se construir a cidade e a torre de Babel.

1. Uma só língua e um só povo. Até aquele momento, como já vimos, a humanidade falava um só idioma e constituía-se num único povo (Gn 11.1). Pelo que inferimos do texto sagrado, não havia sequer dialetos ou sotaques; a unidade linguística era absoluta. Aliás, o mesmo se pode dizer de sua cultura.

O problema não era a unidade, mas a unificação que se estava formando. Certamente, o Anticristo se aproveitará de uma situação semelhante, a fim de implantar o seu reino logo após o arrebatamento da Igreja (Ap 13.6-8).

A ordem de Jesus é que o Evangelho não se concentre em Jerusalém, mas que alcance os confins da Terra (At 1.8).

2. A construção de Babel. Os filhos de Noé não eram ignorantes nem careciam de tecnologia, pois haviam sido capazes de executar o projeto da arca (Gn 6.14-16). E, de tal forma a construíram, que o grande barco resistiu aos ímpetos do Dilúvio. Por conseguinte, a construção de uma cidade, em cujo epicentro havia um arranha-céu, era apenas uma questão de tempo.

III. A INTERVENÇÃO DE DEUS EM BABEL

Para salvar a humanidade de si mesma, Deus interveio, confundindo-lhe a língua. Em seguida, dispersou os descendentes de Noé, para que povoassem as mais distantes ilhas e continentes. Em seguida, o Senhor chamou Abraão para ser o pai, na fé, de todas as famílias da Terra.

1. A confusão das línguas. Visando colocar um ponto final naquele projeto, o Senhor Deus desce à Terra, e, ali, em Sinear, confunde a língua daquela civilização (Gn 11.5-7). Desentendendo-se, os filhos de Noé reagrupam-se de acordo com sua nova realidade linguística, e espalham-se por toda a terra.

A rebelião daqueles homens fora realmente grande. Mas como Deus havia prometido não mais destruir a humanidade (Gn 9.11), decide espalhá-la para que os homens, separados uns dos outros, tivessem mais oportunidade de sobreviver numa terra contaminada pela apostasia.

2. O efetivo povoamento da Terra. Sabemos que Deus forçou os descendentes de Noé aos confins do mundo (Gn 11.9). Caso isso não tivesse acontecido, aquela geração teria o mesmo destino dos pré-diluvianos.

Assim como aquela geração chegou aos confins do mundo, o Senhor Jesus ordena-nos a levar o Evangelho até que todos os povos e nações venham a ouvir as Boas Novas (Mt 28.18-20). Quando isso acontecer, então virá o fim (Mt 24.14).

3. A eleição de Sem. A história de Abraão começa logo após a dispersão de Babel (Gn 11.26-30). Com a eleição de Sem, delineia-se mais claramente o período messiânico, que haveria de culminar em Jesus Cristo, o Filho de Deus (Gn 9.26; Lc 3.23-38).

Em sua infinita sabedoria, fez o Senhor duas coisas por ocasião da torre de Babel: dispersou os filhos de Noé e, em seguida, chamou Abraão, para dar continuidade à linhagem messiânica, da qual sairia Jesus, o Cristo, Verdadeiro Homem e Verdadeiro Deus.

SUBSÍDIO BÍBLICO-TEOLÓGICO
“O paganismo estava indiretamente envolvido nesta história, pois havia um ímpeto construtivo em direção ao céu e o único verdadeiro Deus foi definitivamente omitido de todo o planejamento e de todas as metas. Mas Deus não estava inativo. Ele observava o que estava acontecendo e logo mostrou sua avaliação da situação. O homem não foi criado como ser independente de Deus. Ser 'à nossa imagem' (1.26) significava que o homem estava dotado de grandes poderes e que era totalmente dependente de Deus para sua essência de vida e razão de ser. [...] O julgamento de Deus logo manifestou estas ilusões. Para demonstrar que a unidade humana era superficial sem Deus, Ele introduziu confusão de som na língua humana. Imediatamente estabeleceu-se o caos. O grande projeto foi abandonado e a sociedade unida, mas sem temor de Deus, foi despedaçada em segmentos confusos. Em hebraico, um jogo de palavras no versículo 9 é pungente. Babel (9) significa 'confusão' e a diversidade de línguas resultou em balbucios ou fala ininteligível” (Comentário Bíblico Beacon: Gênesis a Deuteronômio. Rio de janeiro: CPAD, p.55).

CONCLUSÃO
A fim de preservar a sua obra, o Senhor Deus promulgou duas ordenanças quanto à sua criação. Em primeiro lugar, a povoação de toda a Terra (Gn 9.7). E, por último, a Grande Comissão, através de Jesus Cristo: "É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém!" (Mt 28.18-20).

Contra o globalismo, cuja missão é submeter o mundo aos caprichos de Satanás, só mesmo a obediência aos termos da Grande Comissão. Evangelização e missões, já. Maranata, ora vem, Senhor Jesus.

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