Havia duas correntes antibíblicas no período apostólico que
procuravam contestar a doutrina da Graça: o legalismo e o antinomismo.
I.
LEGALISMO
Certamente os Judeus não entenderam o propósito de Deus ao
dar a Lei, lá no Sinai. Nós sabemos que Deus nunca teve como objetivo salvar o
homem através da Lei. Paulo entendeu isto quando afirmou:
“...porque, se dada
fosse uma lei que, pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela
lei. Mas a Escritura encerrou tudo debaixo do pecado, para que a promessa pela
fé em Jesus Cristo
fosse dada aos crentes. Mas, antes que a fé viesse, estávamos guardados debaixo
da lei...” (Gl 3.21-23).
Para Deus a Lei não era um fim, ma, apenas, um meio. Ela
seria o instrumento de Deus para revelar Sua “Graça Salvadora”. Mas, os Judeus
legalistas não entenderam a verdade de Deus e queriam alcançar a Salvação pelas
obras da Lei. Paulo, porém, foi enfático quando afirmou que a Salvação não é
pelas obras, mas pela Graça (Ef 2.8-9).
A lei opõe-se à
graça, não no sentido da origem, porque ambas provêm de Deus, mas, sim, no
sentido do efeito, das conseqüências produzidas: a lei faz abundar o pecado,
enquanto que a graça liberta do pecado e o eliminará por completo quando da
glorificação do homem. Por isso, quem quiser viver segundo a lei, ou seja, quem
quiser construir uma vida sobre aparências exteriores, sobre adesão ou
conformidade exterior a mandamentos e regras, fatalmente trará sobre si
maldição e condenação, porque tão só angariará condenação e morte, mas, quem
reconhecer seu imerecimento e clamar pela misericórdia divina, este, sim, será
alcançado pela graça, que tem o poder de libertá-lo do pecado.
Dentro de um sistema
legalista, as pessoas entendem que, ao cumprirem exteriormente o que mandam as
regras, há plena satisfação dos requisitos necessários para a sua justificação,
ou seja, crê-se que o homem é capaz de, por si só, alcançar merecimento para
ser salvo. Entretanto, mostra-nos o apóstolo, esta atitude não leva a situação
alguma a não ser a um aumento do pecado. De nada adianta cumprir exteriormente
os preceitos da lei se, no interior, o homem continua a desobedecer a Deus e a
se rebelar contra o Senhor. Aliás, a imagem do legalista foi-nos dada pelo
Senhor Jesus que, ao se referir aos maiores legalistas do Seu tempo, os
fariseus, disse que eles eram “sepulcros caiados”, que “…por fora realmente
parecem formosos, mas interiormente estão cheios de hipocrisia e de iniquidade”
(Mt.23.28b).
Obedecer a
regulamentos, leis e tradições do cristianismo não é suficiente para sermos
salvos. Mesmo que pudéssemos manter puros os nossos atos, estaríamos
condenados, porque nosso coração e nossa mente são perversos e rebeldes. Como
Paulo, não poderemos encontrar alívio na sinagoga ou na igreja se não
procurarmos o próprio Senhor Jesus Cristo para obter a salvação que Ele nos
concede gratuitamente. Quando realmente o buscamos, somos inundados de alívio e
gratidão.
O sistema religioso
judaico não foi capaz de justificar o homem perante Deus, é o que Paulo diz aos
romanos: “Nenhuma carne será justificada diante de Deus pelas obras da
lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20).
Paulo
ensina que as obras da lei em si mesmas jamais puderam, nem podem, nem poderão
justificar e salvar o homem. O homem tem sido sempre salvo pela graça de Deus,
por meio da fé (Ef 2:8-9). Nunca houve, nem há, nem haverá outro modo de ser
salvo. Este é um princípio fixo do qual Hebreus 11 testemunha repetidas vezes:
“é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados” (Hb 10.4).
II.
ANTINOMISMO
O termo significa “contrário a lei”. Os antinomianos
acreditavam que podiam viver no pecado e, ainda assim, estarem livres da
condenação eterna (Rm 6.1-7; 3.7; 4.1-25).
Paulo refuta esta distorção antinomiana da doutrina da graça, pondo em relevo
uma verdade fundamental: o verdadeiro crente demonstra estar ‘em Cristo’ por
estar morto para o pecado. Ele foi transportado da esfera do pecado para a esfera
da vida — com Cristo (vv. 2-12). Uma vez que o crente genuíno separou-se
definitivamente do pecado, não continuará a viver nele. Inversamente, quem vive
no pecado não é crente genuíno (cf. 1ª Jo 3.4-10). Em todo este capítulo, Paulo
enfatiza que não se pode ser servo do pecado e servo de Cristo a um só tempo
(vv. 11-13, 16-18). Se um crente torna-se servo do pecado, o resultado será a
condenação e a morte eternas.
Com a manifestação
da graça de Deus, conseguimos nos libertar do pecado. O pecado dominava sobre o
homem, mas Cristo veio e nos libertou do domínio do pecado. Quando cremos em
Cristo, somos libertos do pecado, pois o pecado é, sobretudo, incredulidade (Jo
16.9), pois é a incredulidade que nos impede de chegar à Terra Prometida (Hb 3.19).
Liberdade, porém, não se confunde com libertinagem e reside aqui um dos grandes
erros patrocinados pelo inimigo de nossas almas e que levam o homem à
escravidão do pecado, que é mantida quando se adota um comportamento como o
“antinomismo”.
Pr. Elias Ribas
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