TEOLOGIA EM FOCO

domingo, 20 de dezembro de 2020

A MARCA DA BESTA - CAPÍTULO VII

 


Apocalipse 13.15-18 “E foi-lhe concedido que desse espírito à imagem da besta, para que também a imagem da besta falasse, e fizesse que fossem mortos todos os que não adorassem a imagem da besta. 16 - E faz que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas. 17 -  Para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. 18 - Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.”

1. O significado da palavra marca. A palavra aqui traduzida como “marca” “charagma” – ocorre apenas em um lugar no Novo Testamento, exceto no Livro do Apocalipse Atos 17.29, onde é traduzido como “esculpido.” Em todos os outros lugares onde é encontrado (Ap 13.16-17; Ap 14.9; Ap 14.11; Ap 15.2; Ap 16.2; Ap 19.20; Ap 20.4), é traduzido como “marca” e é aplicado à mesma coisa – a “marca da besta”. A palavra significa apropriadamente “algo esculpido ou esculpido”; consequentemente:

a) Gravuras, esculturas, trabalhos esculpidos, como imagens ou ídolos;

(b) Amark cortado ou carimbado – como o carimbo de uma moeda;

“Pelos mortos não dareis golpes na vossa carne; nem fareis marca alguma sobre vós. Eu sou o Senhor.” (Lv 19.28)

No hebraico a palavra marca כְּתֹ֫בֶת que se pronuncia Katabah significa literalmente impressão, marca. Portanto o texto original fala de uma marca, uma impressão na pele, mas uma marca em relação ao quê?

No Egito antigo era mutilação utilizada pelas religiões pagãs para honrar os mortos e inclusive deuses pagãos. Percebemos então que os hebreus saíram do Egito, uma nação pagã que venerava o deus da morte “Seth” possivelmente teria práticas pagãs que envolveriam golpes nos corpos para prestar honras aos mortos e aos deuses e a única forma das pessoas provarem que honraram estas crenças era apresentarem marcas na pele do ritual que tinham feito.

“... vocês são filhos do SENHOR, nosso Deus. Portanto, quando chorarem a morte de alguém não se cortem, nem rapem a cabeça, como os outros povos fazem” (Dt 14.1 NTLH)

Estes sinais de luto pelos mortos, que eram praticados pelos cananeus como reconhecimento da divinização do falecido, foram estritamente proibidos para o povo de Deus. “Tanto os ricos como os pobres morrerão nesta terra, mas ninguém vai sepultá-los, nem chorar por eles. Ninguém se cortará, nem rapará a cabeça em sinal de tristeza” (Jr 16.6 NTLH). Era costume rapar-se a cabeça na parte frontal da testa.

Jr 41.5. “Corpo retalhado”: uma forma pagã de lamentação proibida ao povo de Deus. (1ª Reis 18.28, e Zc 13.6).

2. A marca era um sinal. No V.T., Deus estabeleceu a circuncisão quando fez Sua aliança com Abraão. Deus prometeu abençoar Abraão e ser seu Deus, se ele obedecesse aos Seus mandamentos (Gn 12.2,3).

Gênesis 17.9-11 “Disse mais Deus a Abraão: Tu, porém, guardarás a minha aliança, tu, e a tua descendência depois de ti, nas suas gerações. Esta é a minha aliança, que guardareis entre mim e vós, e a tua descendência depois de ti: Que todo o homem entre vós será circuncidado. E circuncidareis a carne do vosso prepúcio; e isto será por sinal da aliança entre mim e vós.

A circuncisão era um sinal uma marca que a pessoa era descendente de Abraão e também fazia parte da aliança (Gn 17.9-11).

Quando o menino judeu tinha oito dias de vida, era realizada uma cerimônia onde se retirava um pequeno pedaço de pele, chamado prepúcio, do órgão genital masculino. Esse procedimento não causava danos físicos (em alguns casos é até bom para a saúde) mas servia como sinal que a criança pertencia ao povo de Deus. Ficaria sempre uma marca no seu corpo para lhe lembrar (Gn 17.12-13).

A circuncisão fazia referência à aliança que Deus havia feito com o povo de Israel e mostrava que aquela criança estava inserida nesse propósito. O corte na carne não significava muito se aquela criança – que mais tarde se tornaria um adulto – não vivesse conforme as leis de Deus. A circuncisão era um ato que só faria sentido se houvesse a submissão aos mandamentos de Deus.

3. No Novo Testamento a circuncisão é no coração.  “Porque não é judeu quem o é apenas exteriormente, nem é circuncisão a que é somente na carne. Porém judeu é aquele que o é interiormente, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus” (Rm 2.28-29).

Quando Paulo fala de coração refere-se ao espírito onde está o controle do ser humano e a consciência. Paulo usa esta alegoria “coração” para mostrar que a salvação depende primeiramente da transformação do interior (espírito e mente) do homem.

O coração representa a força espiritual (Lm 3.41), como intimo da pessoa (Jr 17.10). Emprega a palavra para indicar a percepção (Jr 4.9); o pensamento (Ec 2.20); a memória (Sl 31.12) e a consciência (Jó 27.6).

O coração (consciência) é onde o homem toma todas as decisões da vida; o corpo é o invólucro da alma e do espírito, onde Paulo classifica como o “templo do Espírito Santo” (1ª Co 6.19; cf 1ª Co 3.16), e seremos julgados por meio do corpo, bem ou mal (2ª Co 5.10). Porém, nos dias de Jesus os fariseus se preocupavam mais com a exterioridade do que a pureza do coração (Mt 15.8-20). Portanto, exterioridade não é símbolo de salvação.

A Bíblia explica que o mais importante é a “circuncisão do coração”. Deus se preocupa com o interior, não com cerimônias exteriores. Quem tem o coração marcado pela presença de Jesus Cristo faz parte da Nova Aliança e é verdadeiramente circunciso (Fl 3.3). A aparência exterior não afeta o interior, mas o interior afeta a vida toda. Por isso o cristão não precisa nem deve se circuncidar.

“Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne. Bem que eu poderia confiar também na carne. Se qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais” (Fl 3.3-4).

Somos a circuncisão significa que pertencemos a Cristo. No N.T. adoração é uma marca que pertencemos a Cristo e esta marca é no coração através do novo nascimento. Por isso Jesus disse para mulher samaritana: “Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.” (Jo 4.23-24).

Desde a criação, o Senhor está buscando verdadeiros adoradores, ou seja, pessoas que o honrem, que o amem e pratiquem seus ensinamentos.

A verdadeira adoração é espiritual no interior (espirito humano e o Espírito de Deus). Por essa razão a circuncisão é espiritual no coração através do novo nascimento.

A circuncisão no prepúcio é um ato exterior, uma marca um sinal entre Deus e Seu povo na Antiga Aliança (Gn 17.7). Paulo repreende severamente os judeus de Roma dizendo que a salvação não é o exterior, mas a circuncisão no coração. Judeu verdadeiro é o que é no interior, circuncisão válida é a que é feita no coração. Qualquer rito, sinal ou obra que fizemos se não for resultado da operação da graça de Deus em nossa vida, não tem nenhuma validade.

Note que a circuncisão na Velha Aliança era no prepúcio do homem, ou seja, era na carne e era um sinal entre Deus e o homem. Da mesma forma a circuncisão no coração é um sinal uma aliança entre o servo e o Seu Senhor. Ninguém pode ver por que é no secreto do seu coração.

4. A marca da Besta. Apocalipse 20.4 está escrito: “E vi tronos; e assentaram-se sobre eles, e foi-lhes dado o poder de julgar; e vi as almas daqueles que foram degolados pelo testemunho de Jesus, e pela palavra de Deus, e que não adoraram a besta, nem a sua imagem, e não receberam o sinal em suas testas nem em suas mãos; e viveram, e reinaram com Cristo durante mil anos.

4.1. Foram decapitados. A palavra usada aqui “pelekizo” – não ocorre em nenhum outro lugar do Novo Testamento. Significa apropriadamente “axear”, isto é, cortar ou cortar com um machado.

4.2. Foram decapitados porquê?

A. Pelo o testemunho de Jesus. Como testemunhas de Jesus; ou prestando assim seu testemunho da verdade de sua fé em Cristo.

B. Pela Palavra de Deus. Foram mortos porque proclamaram a Palavra de Deus, o evangelho da Salvação.

Por enquanto, todos podem aceitar ou rejeitar essa mensagem em diferentes momentos da vida; alguns o fazem na infância, outros no início da fase adulta, outros na meia-idade, e alguns até na velhice. Mas, quando vier a tribulação nos últimos dias (perseguição), as pessoas terão que tomar essa decisão de forma imediata ou compulsória por causa da marca da besta, de modo que toda a humanidade será deliberadamente dividida em dois segmentos. O elemento polarizador será precisamente a marca da besta.

C. Que não tinha adorado a besta. Que permaneceram fiéis aos princípios da verdadeira doutrina bíblica e resistiram a todas as tentativas feitas para seduzi-los da fé, até às tentações e seduções pela besta. Apocalipse 13.4 “E adoraram o dragão que deu à besta o seu poder; e adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem poderá batalhar contra ela?”

O Anticristo e o falso profeta (Ap 13), exigirão adoração devida ao Pai e a Seu Filho Jesus Cristo.

D. Nem sua imagem. A besta recebeu seu poder do dragão, até dando nova vida ao poder perseguidor. O mundo admira tal poder e adora o dragão.

Também adoraram a besta: A própria besta, o governo romano, recebe a adoração do povo. “E adoraram-na todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.” (Ap 13.8).

Em contraposição, os santos, que são repetidamente visualizados multidão que louva a Deus, negam adoração à besta e rumam ao martírio (Ap 20.4). Essa visão, no entanto, também poderia ter a intenção de expressar que em todos os tempos as pessoas têm um tipo ou uma distorção de religião, que adoram e curvam-se e adoram a criatura em vez do Criador que Eterno e reina para sempre.

“E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida da espada e vivia.” (Ap 13.14).

A Bíblia ensina que o líder da campanha em defesa da marca da besta será o falso profeta, que está ligado à falsa religião (Ap 13.11-18). Apocalipse 13.15 deixa claro que o posto-chave em tudo isso é adorar “a imagem da besta”. A marca da besta é simplesmente um meio de forçar as pessoas a declararem do lado de quem estão: do Anticristo ou de Jesus Cristo. Todos terão que escolher um dos lados. Será impossível manter uma posição neutra ou ficar indeciso com relação a esse assunto. A Escritura é muito clara ao afirmar que os que não aceitarem a marca serão mortos.

Aí é predita reverência e adoração tanto à besta como ao poder por trás dela. Os seguidores de Cristo que rejeitam essa falsa adoração serão atacados. Mas as palavras de Jesus são muito confortadoras. O segredo da vitória sobre o poder da besta é dado em Apocalipse 22.11. “Eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e mesmo em faze da morte, não amaram a própria vida.”

“.... senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta....” Atualmente, o mundo está passando pela maior pandemia do século. O problema do coronavírus, que teve início no final de dezembro de 2019, está afetando todos os setores de todos os países.

Por se tratar de uma pandemia repentina e severa, o mundo está sofrendo enormes impactos provocados pela COVID-19. Além disso, no mês passado, o coronavírus provocou o fechamento de fronteiras em diversos países; Lei que torna obrigatório o uso de máscara.

Vacina obrigatória. O Supremo Tribunal Federal (STF) deu aval hoje (17/12/2020) para que os governos locais possam estabelecer medidas para vacinação compulsória da população contra a covid-19. Conforme o entendimento, a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios podem estabelecer medidas legais pela obrigatoriedade, mas não podem determinar a vacinação forçada.

Podemos ver que o cenário mundial está sendo preparado para o surgimento do Anticristo. O uso de a máscara e vacina obrigatória, em breve teremos a implantação do chip e também a marca da besta.

O número 666. Ap 13.18 “Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento, calcule o número da besta; porque é o número de um homem, e o seu número é seiscentos e sessenta e seis.”

O texto grego de Codex Alexandrinus do Novo testamento recita: “Ὧδε ἡ σοφία ἐστίν• ὁ ἔχων νοῦν ψηφισάτω τὸν ἀριθμὸν τοῦ θηρίου, ἀριθμὸς γὰρ ἀνθρώπου ἐστίν• καὶ ὁ ἀριθμὸς αὐτοῦ ἑξακόσιοι ἑξήκοντα ἕξι.”

Transliterado: “Hōde hē sophia estin; ho echōn noun psēphisatō ton arithmon tou thēriou, arithmos gar anthrōpou estin; kai ho arithmos autou hexakosioi hexēkonta hex.”

Os manuscritos gregos (na realidade cópias de um protótipo), foi escrito em hebraico) escrevem a frase como χξϛ´ (666 em forma numérica grega) ou algumas vezes ἑξακόσιοι ἑξήκοντα ἕξ (“seiscentos e sessenta e seis”, por extenso).

O “número da besta” - 666 - é, talvez, a referência mais famosa do Apocalipse. O trecho que o cita diz: “Quem tiver discernimento, calcule o número da besta...”.

A palavra traduzida por “calcular” é o verbo grego psephizo, que tem o sentido de “contar” e “calcular”, mas também de “descobrir”, “interpretar” e “vir a conhecer” [Léxico do N.T. Grego Portugues F.Wilbur Gingrich e Frederick W. Danker].

O contexto imediato deste texto começa no capítulo 12, e abrange a chamada “trindade satânica” que compreende o dragão (12.1-17), a primeira besta (13.1-10) e a segunda besta (13.11-18). Se você estranhou o nome “trindade” para nos referirmos a Satanás, lembre-se do que Paulo escreve aos coríntios: “E isso não é de admirar, pois até Satanás pode se disfarçar e ficar parecendo um anjo de luz (2ª Co 11.14 – NTLH)”.

Ter isso em mente é fundamental para entendermos o significado deste número. Sugiro que se faça uma leitura do início do capítulo 12 até aqui para que o leitor perceba a enorme quantidade de paralelos existentes entre a “trindade satânica” e a “trindade divina”. De modo semelhante, o selo da besta é a forma de Satanás imitar o selo que Deus pôs em seus filhos antes da grande Tribulação (Ap 7.3).

Era comum, na Antiguidade, usar números para disfarçar um nome. Nos alfabetos grego e hebraico, toda letra tem um número correspondente. Então, se você somasse todas as letras do seu nome, você tinha um código numérico.

As línguas hebraica e grega fazem uso de letras para indicar numerais correspondentes. A sugestão mais antiga é que o número “666” diga respeito ao imperador romano Nero César (54 a 68 d.C.) [2], uma vez que a transliteração de seu nome, em hebraico, somando-se o valor correspondente de cada letra totaliza 666.

Tendo isto em vista, toda tentativa de se atribuir valores numéricos ao nome de qualquer personagem contemporâneo ou associar a marca a qualquer artefato tecnológico da modernidade é perder de vista o simbolismo que João usou e que devia ser perfeitamente compreensível para seu público original.

Todavia, não há como ignorar o simbolismo de alguns números bastante utilizados por João no processo de escrita do Apocalipse. Um destes números é o número 7, considerado pelos judeus como o número da perfeição e, portanto, associado a Deus. Como o diabo tem a tendência de copiar e imitar a Deus, vemos no número 666 mais uma tentativa de ser como a trindade, mas sem nunca conseguir se igualar a ela por causa de sua completa imperfeição.

Por fim, o apóstolo João faz uma alerta, que deve servir para mim e para você nos dias que vivemos: “aqui está a sabedoria: aquele que tem entendimento calcule o número da besta”. Com isto João não está orientando e incentivando uma busca desenfreada por descobrir alguém que tenha as letras de seu nome somadas 666. A sabedoria consiste em discernir acerca do que é perfeito daquilo que é apenas uma cópia falsa e barata do que é verdadeiro. Portanto, o número 666 o apóstolo João pode estar se referindo a trindade satânica e não a soma de números de um nome, ou um código que é muito usado hodiernamente como o código de barras.

Na minha opinião o chip que contém o código de barras, que hoje está sendo implantado na humanidade, é uma identificação documentaria distinto em cada ser humano assim como o CPF. Todavia, em breve também será obrigatório. Porém, a marca “charagma” conforme já vimos será um sinal esculpido em seu corpo físico, uma aliança onde cada ser humano terá de decidir se aceita adorar e cultuar a besta ou decidir pelo testemunho de Cristo e manter-se fiel a Sua Palavra. Todavia, a marca da besta (Ap 13.16-18) é uma marca que está intimamente ligada à adoração à besta (13.12, 15; cf. 19.20; 20.4). Assim, a marca da besta é uma marca de lealdade e devoção à besta. E esta decisão decidirá a vida ou morte, ou seja, a vida se receber a marca da besta (uma aliança com a besta) ou a morte por decapitação se decidir por Cristo Jesus (Ap 20.4). Essa marca será usada como uma forma de controle pelo Anticristo, para identificar seus adoradores. Todos os homens deverão ser marcados. Quem não tiver a marca da besta e não adorar ao Anticristo como deus, não poderá comprar ou vender, sendo caçados para que sejam mortos. Cabe a você decidir.... qual sua escolha?

Pr. Elias Ribas Dr. Em teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

A VINDA DE JESUS SEGUNDO DANIEL - CAPÍTULO VIII


Em meio à descrição dos reinos humanos e Seu poder, abruptamente Deus leva Daniel a ver o que realmente está acontecendo, enquanto os reinos da terra se sucedem: Ele está no seu santo monte, Ele está no trono.

“Continuei olhando, até que foram postos uns tronos, e o Ancião de Dias se assentou; sua veste era branca como a neve, e os cabelos da cabeça, como a pura lã; o seu trono eram chamas de fogo, e suas rodas eram fogo ardente” (Dn 7.9).

1. “...foram postos uns tronos”. Esses tronos, no plural, indicam vários juízos aplicados nos dias da finas (Grande Tribulação). A partir do versículo 9, Daniel vê uma cena de juízo da parte de DEUS contra o quarto animal, ou seja, a quarta Besta que aparece na visão com um vislumbre escatológico para o anticristo (Dn 7. Deus não permitirá que estes opressivos reinos mundanos governem com injustiça para sempre. Ele estabeleceu um dia para julgamento. Quando este dia chegar, todos os governos do mundo e toda a opressão virá a um fim.

2. “Ancião de Dias”. É outra maneira de reconhecer que Deus é o Eterno, é aquele que Abraão reconhecia como “o Juiz de toda terra” (Gn 18.25). A descrição de Deus neste versículo também revela a Sua santidade (“Sua veste era branca como a neve”), Sua Majestade (“os cabelos da cabeça, como a pura lã) e a Sua justiça como fogo ardente (o seu trono eram chamas de fogo”).

As palavras hebraicas “atiz e yomin” que se traduz por “ancião de dias” é uma designação do ELOHIM o Todo poderoso como Juiz supremo, que derramará Seus juízos contra os reinos do mundo que tenham se associado com o Anticristo. Por isso, essa figura do “ancião de dias” é utilizada para identificar O ETERNO como aquele que tem autoridade e poder para julgar, especialmente, contra o personagem daquele “pequeno chifre” (Dn 7.8).

“Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião de Dias, e o fizeram chegar até ele. E foi-lhe dado o domínio, e a honra, e o reino, para que todos os povos, nações e línguas o servissem; o seu domínio é um domínio eterno, que não passará, e o seu reino tal, que não será destruído” (Dn 7.13-14).

3. “.... vinha nas nuvens um como o Filho do Homem ...” O Novo Testamento consagrou o uso desta expressão para se referir à Cristo. O próprio Jesus Cristo usou a passagem de Daniel para se referir a si próprio e ao dia de Sua segunda vinda: O Filho do homem virá nas nuvens. Daniel vira antecipadamente o Dia de Cristo e glória do Seu poder.

A expressão “Filho do Homem” é, antes de tudo, um título messiânico. A menção bíblica sobre este título não insinua que Jesus foi fruto de uma relação sexual entre José e Maria. José era pai legal e não biológico de Jesus. Nos lábios de Jesus, o título vai mais longe, identificando o Messias com a própria humanidade. O emprego da palavra “Filho” se caracteriza neste contexto como um hebraísmo, uma forma própria de expressão dos semitas que identifica as qualidades de uma pessoa. Por isso, uma série de expressões se empregada com a palavra “Filho”, como, por exemplo, “filhos do reino” (Mt 8.12); “filho da perdição” (Jo 17.12); “filhos da ressurreição” (Lc 20.36), e assim por diante.

Por meio do título “Filho do Homem”, o Filho de Deus se identificou com a humanidade de uma forma quase que completa, reservando-se somente Seu nascimento virginal e Sua vida imaculada.

Daniel conheceu o poder que o Filho do Homem recebeu do Pai (Ancião de Dias). Este ser majestoso apresenta-se diante de Deus Pai como uma pessoa separada e distinta dele, a fim de receber um reino eterno que jamais será dado a outros.

Precisamos nos lembrar de quem é aquele que hoje é o Senhor entronizado. A glória, o domínio, o reino.

4. “...o seu domínio é Eterno...”. O reino de Jesus não será destruído, mas permanecerá para sempre.

A visão que Deus deu a Daniel era assustadora no começo, mas depois reconfortante como ele percebeu que ela significava. É ainda mais reconfortante para nós que temos visto a maioria das previsões desta visão perfeitamente cumprido.

“E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão, e lhe obedecerão” (Dn 7.27).

É confortante saber que Deus está no controle. Deus tem um plano, e Seu plano continua a ser realizado, não importa como muitos tentam se opor. Jesus veio assim como os profetas anunciaram. Ele fez tudo que era necessário para pagar pelos nossos pecados. Ele viveu em nosso lugar, Ele morreu em nosso lugar, Ele ressuscitou dos mortos como as primícias de todos os que morreram, Ele subiu ao céu assentou a Destra de Deus Pai e quando o Pai lhe der o trono para julgar as nações, Ele voltará sobre as nuvens do céu pôr fim a este mundo que está infectado com o pecado.

Confiar nele. Permanecei firmes na fé, mesmo quando possa parecer que Deus não está no controle. Confiança que, quando Jesus aparecer nas nuvens do céu, Ele vai convidá-lo para viver no Seu reino de paz para todo o sempre, tudo por causa do que Ele fez por nós.

Pr. Elias Ribas

Assembleia de Deus

Blumenau SC

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

A QUEDA DO IMPÉRIO DO ANTICRISTO NO FIM DOS TEMPOS – CAPÍTULO IX

 


Daniel 2.44-45 “Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu levantará um reino que não será jamais destruído; e este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos esses reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre. Da maneira que viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro; o grande Deus fez saber ao rei o que há de ser depois disto. Certo é o sonho, e fiel a sua interpretação.”

1. O sonho de Nabucodonosor (Dn 2). O segundo capítulo do livro de Daniel revela o plano divino para o povo judeu e o gentílico. Deus revelou o seu projeto soberano para os governos mundiais e mais uma vez confirmou o reino messiânico. Ao estudarmos este capítulo, veremos o reino da Babilônia atuando como o “dono do mundo” e Nabucodonosor, como o seu executor. Porém, por volta de 604 a.C., no período do apogeu da Babilônia, o rei teve um sonho perturbador que o deixou insone. Por providência divina, Nabucodonosor esqueceu o sonho e, através do Espírito Santo, Daniel o desvendou.

A grande estátua do sonho do rei foi composta de quatro partes principais. Daniel as identifica como quatro reinos, começando com a própria Babilônia (a cabeça de ouro). Depois da Babilônia, teria uma sucessão de mais três reinos humanos. O próximo reino seria inferior à Babilônia, e foi representado pelo peito e os braços de prata. O terceiro seria maior, exercendo domínio “sobre toda a terra”. O mais forte dos quatro reinos seria o quatro, feito de ferro. Mas a mistura de barro mostra um reino dividido, com um lado frágil. Este reino seria esmiuçado pela grande pedra.

Ao dirigir-se ao rei Nabucodonosor, Daniel declarou que o Deus que está nos céus é o único que sabe; é o único que tem as respostas e o significado dos sonhos e das visões relacionados aos acontecimentos previstos para ocorrer no fim dos dias (Dn 2.28).

Este mesmo princípio aplica-se, literalmente - em sua maioria, às visões e revelações dadas a Daniel: muitas de suas profecias fazem referência a doutrina das últim

2. “A pedra cortada, sem ajuda de mãos” (2.45). Nabucodonosor viu, em seu sonho, uma Pedra vindo do céu e atingindo a estátua nos pés. Mas o que ela representa? O Reino de Deus, através de Jesus Cristo, que será implantado em breve, cuja capital será Jerusalém. Em várias partes da Bíblia Jesus é comparado a uma Rocha, uma Pedra para edificação e proteção do seu povo, mas também para destruição dos seus inimigos.

Esta “Pedra” representa o reino de Cristo intervindo nos reinos do mundo. Cristo é a Pedra cortada que desfará o poder mundial do Anticristo (Dn 2.45; Sl 118.22; Zc 12.3). A Pedra cortada vinda do monte significa, figuradamente, a vinda do Rei esmiuçando o domínio imperial e pagão deste século (Dn 2.44,45). Cristo é quem regerá as nações para sempre!

3. Este reino é proveniente do céu. O versículo 34 diz: “Uma pedra foi cortada sem auxílio de mãos”. No evangelho segundo Mateus 21.42-44, temos a explanação da profecia da Pedra, dada por Jesus, que é a própria Pedra. A Pedra rejeitada por Israel At 4.11: “Este Jesus é a pedra rejeitada por vós”. Pedro referindo-se aos judeus que crucificaram Jesus, pois os judeus não queriam que Jesus reinasse sobre eles; “Não queremos que este reine sobre nós” (Lc 19.14). Paulo em 1ª Co 10.4 também fala sobre Jesus com pedra dizendo: “E beberam todos duma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo” (rf. 1ª Pe 2.4). A Pedra angular da igreja, a pedra de esquina (Ef 2.20).

A Pedra cortada sem mãos representava o reino de Jesus Cristo, que será estabelecido no mundo na no fim da Grande Tribulação, e sobre as ruínas do império de Satanás nos reinos do mundo. Esta é a Pedra cortada do monte sem mãos, pois Ele não seria levantado nem apoiado pelo poder humano nem pela política humana. Nenhuma mão visível deveria agir no seu estabelecimento, mas isto deveria ser feito invisivelmente pelo Espírito do Senhor dos Exércitos. Essa foi a Pedra que os edificadores rejeitaram, porque não foi cortada pelas mãos deles, mas agora se tornou a Pedra fundamental, a Pedra de esquina.

4. A Pedra esmiuçará as nações (2.44). “.... aquele sobre quem ela cair ficará reduzido a pó”. Isto é futuro, e refere-se ao Senhor Jesus na Sua vinda em glória, com os santos e os anjos para esmiuçar (quebrar) as nações e estabelecer o Seu reino de paz.

O salmista já fazia suas predições dizendo: “Tu os esmigalharás com vara de ferro; tu os despedaçarás como a um vaso de oleiro. Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor” (Sl 2.9-11).

Uma montanha nada mais é do que barro e pedra sob diferentes formas. Isto fala de Jesus que nasceria como homem aqui na terra (Is 53.3), sem intervenção humana, isto é, sendo gerado pelo Espírito Santo (Lc 1.35), e não pelo homem. Algo idêntico ocorrerá quando o Reino de Deus for estabelecido aqui brevemente, ou seja, sem auxílio humano. Sua conquista não será efetuada por armas carnais:

“E então será revelado o iníquo (Anticristo), a quem o Senhor desfará pelo assopro da sua boca, e aniquilará pelo esplendor de sua vinda” (2ª Ts 2.8).

Quanto à expressão “sem o auxílio de mãos” quer dizer, sem o auxílio de mãos humanas (cf. Dn 8.25). A pedra bateu violentamente nos pés da estátua e esmiuçou-a. Quatro vezes está dito que a pedra esmiuçou a imagem (Dn 2.34, 40, 44, 45). Portanto, o mundo não findará convertido pela pregação do Evangelho, e sim destruído com violência sobrenatural na vinda de Jesus. Isto ocorrerá em Armagedom, no tempo do domínio mundial das nações confederadas sob o governo do Anticristo (Ap 17.11-13; 19.11-21).

A Pedra que é Jesus feriu a estátua nos pés, e em seguida destruiu a cabeça, o peito, o ventre e as pernas (2.34). Isto indica que todas as formas de governo representadas por estas partes da estátua, existirão sob a Besta, no futuro que será destruída por Cristo onde será implantado Seu governo por mil anos. Ainda que o Império Romano se reerga, Cristo o destruirá. Nosso Senhor é Aquela Pedra que, sem esforço humano, abateu-se sobre a estátua vista por Nabucodonosor.

A estátua começou como uma obra grandiosa e fina, e terminou em pó (2.35). A pedra começou com uma pedra diminuta, mas depois encheu o mundo inteiro: “encheu toda a terra”. Isto mostra a magnitude e poder de Cristo.

A profecia de Daniel afirma: “Então foi juntamente esmiuçado o ferro, o barro, o bronze, a prata e o ouro, os quais fizeram-se como a pragana das eiras no estio, e o vento os levou, e não se podia achar nenhum vestígio deles; a pedra, porém, que feriu a estátua tornou-se uma grande montanha, e encheu toda a terra” (Dn 2.35).

Os reinos do mundo (e todos os seus súditos) serão destruídos e soprados para muito longe, porém o reino da Pedra (e seus súditos) encherão a terra e reinarão para sempre.

O rei Nabucodonosor viu esta Pedra em seu sonho. A Pedra caiu do céu, atingia a grande estátua nos pés e transformava tudo em pó. Isto representa a Segunda Vinda de Cristo para estabelecer o Seu Reino na terra, após julgar e destruir seus inimigos.

O rei Nabucodonosor ficou estarrecido ao ouvir do profeta Daniel as revelações contidas em seu sonho. Tudo se cumpriu exatamente como Deus planejou. Cabe a cada pessoa receber a mensagem do Reino e permitir que ele se estabeleça em sua vida.

5. “Nos dias desses reis...”. Isto é, na época da unificação deste reino dividido, no tempo de formação deste último império, em outras palavras: em nossa própria época. O nosso tempo é a formação do reino dos dedos da estátua Dn 2). Isto já está acontecendo. Agora só falta a pedra.

No capítulo dois de Daniel, a pedra bateu violentamente nos pés da estátua e esmiuçou-a. Isto ocorrerá em Armagedom, no tempo do domínio mundial das nações confederadas sob o governo do Anticristo (Ap 17.11-13; 19.11-21), quando o império do Anticristo será destruído na vinda de Jesus em glória.

Daniel continua a descrever a ruína do Novo Império Romano, agora mostrado como aquele animal terrível: “Estive olhando até que o animal foi morto, e o seu corpo, desfeito e entregue para ser queimado pelo fogo” (Dn 7.11). Por quem o animal foi morto? Pelo Filho de Deus. E, assim, recebe o Senhor Jesus o poder, a glória e a majestade.

Quando esses reis estiverem competindo uns com os outros, e em todas as lutas em que cada uma das partes em conflito quiser encontrar a sua própria razão, Deus fará a Sua própria obra e cumprirá os Seus próprios conselhos. Todos esses reis são inimigos do reino de Cristo. No entanto, Ele será estabelecido, o que constitui um desafio a todos eles. Esse é um reino que não conhece declínio, não corre o risco de ser destruído, e não admitirá qualquer sucessão ou revolução. Ele nunca será destruído por alguma força estrangeira invasora, como ocorre com muitos outros reinos. O fogo e a espada não podem consumi-lo. Os poderes conjuntos da terra e do inferno não podem privar os súditos do seu Príncipe ou o Príncipe dos seus súditos. Esse reino não será deixado para outros povos, como acontece com os reinos desta terra. Assim como Cristo é um monarca que não tem sucessor (porque Ele mesmo reinará para sempre), o Seu reino também é uma monarquia que não está sujeita a nenhuma revolução. O reino de Deus foi certamente tirado dos judeus e entregue aos gentios (Mt 21.43), mas ainda assim foi o cristianismo que governou, sim, o reino do Messias. A Igreja cristã ainda é a mesma. Ela está edificada sobre a rocha, enfrentando muita oposição. Mas as portas do inferno jamais prevalecerão contra ela. É um reino que será vitorioso sobre toda a oposição. Ele despedaçará e consumirá todos esses reinos, assim como a pedra cortada do monte sem mãos esmiuçará a imagem (Dn 2.44,45). O reino de Cristo assolará todos os outros reinos, sobreviverá a eles, e florescerá quando eles afundarem com o seu próprio peso. Eles ficarão tão destruídos, que não se conhecerá mais o seu lugar. Todos os reinos que aparecerem contra o reino de Cristo serão quebrados com uma vara de ferro, como um vaso de oleiro (Sl 2.9). E nos reinos que se sujeitarem ao reino de Cristo, a tirania, a idolatria, e tudo o que for reprovado neles, até onde o Evangelho de Cristo se estender, serão quebrados. Está chegando o dia em que Jesus Cristo abaterá todo governo, principado, e potestade, e colocará todos os seus inimigos debaixo dos seus pés. E então essa profecia terá o seu pleno cumprimento no momento preparado pelo Senhor Deus, e não antes (1ª Co 15.24,25). O nosso Salvador parece se referir a isso (Mt 21.44), quando, falando de si mesmo como a pedra rejeitada pelos edificadores judeus, Ele diz que aquele sobre quem esta pedra cair ficará reduzido a pó.

Por mais poderosos que se mostrem os reinos deste mundo, não subsistirão ante a soberania Divina. Roma dominou nações e reinos; pisou os mais aguerridos povos e humilhou os mais altivos soberanos. Mas nada poderá fazer contra o Senhor Jesus. Ele é o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. Nada tarda o dia em que o Império Romano, base do governo do Anticristo, haverá de prestar contas a Deus por todos os seus pecados e iniquidades. Ainda que renascidos não subsistirá.

Senhor Jesus, quem poderá subsistir ante teu poder? Que a honra, a força e a glória sejam-te tributadas para todo o sempre.

Portanto, desde Babilônia, está sendo cumprido hoje e será justamente neste período que se levantará o Anticristo (6 é o número do homem rebelde). O 8.º período (O verdadeiro reino de Jesus Cristo) está aproximando-se velozmente. A Profecia é perfeita e a Matemática de Deus também.

6. Ele será um reino eterno. Aqueles reinos da terra que haviam despedaçado todos ao seu redor vieram, em sua vez, a ser despedaçados da mesma maneira. Mas o reino de Cristo despedaçará outros reinos e permanecerá para sempre. O Seu trono será como os dias do céu. A Sua semente e os Seus súditos serão como as estrelas do céu, não só inumeráveis, mas imutáveis. Do aumento do governo de Cristo, e da paz de Cristo, não haverá fim. O Senhor reinará para sempre, não só até o fim dos tempos, mas quando o tempo e os dias não mais existirem. E Deus será tudo em todos por toda a eternidade.

As profecias de Daniel acerca do reino ocorreram em um tempo crítico da história da antiga Israel. Os israelitas tinham perdido a sua soberania por causa do cativeiro. Contudo, em meio da sua calamidade e ruína, Deus lhes revelou, através de Seus profetas, que uma restauração do povo e da nação de Israel iria ocorrer sob o governo do Messias (Jr 23.5-8).

Pr. Elias Ribas

Assembleia de Deus

Blumenau SC

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

QUANDO SERÁ O FIM DO MUNDO?

 

Ezequiel 7.6 “Vem o fim, o fim vem, despertou-se contra ti; eis que vem.”

I. O QUE É O FIM DOS TEMPOS?

O fim dos tempos refere-se aos eventos que antecedem à segunda vinda de Jesus Cristo. E nós vemos que toda a Bíblia é escrita em torno do Senhor Jesus, o verdadeiro Messias e seu reinado. Sabemos que Deus revelou aos profetas do Velho Testamento os adventos tanto da primeira quanto da segunda vinda de Jesus Cristo e os finais dos tempos.

Há ainda outras expressões ao longo da Bíblia que também fazem menção a este mesmo período, por exemplo:

O fim - Mateus 24.14 “E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim”.

Últimos tempos – Judas 18 “Os quais vos diziam que nos últimos tempos haveria escarnecedores, que procuram gratificar seus próprios desejos irreverentes, que andariam segundo as suas ímpias concupiscências”.

O tempo do fim - Daniel 12.9 “E ele disse: Vai, Daniel, porque estas palavras estão fechadas e seladas até o tempo do fim”.

Última hora – 1ª João 2.18 “Filhinhos, é já a última hora, o fim desta era; e, como ouvistes que vem o anticristo, aquele que se oporá a Cristo disfarçando-se de Cristo, também agora muitos se têm feito anticristos, por onde conhecemos que é já a última hora (o fim)”.

A última hora mencionada por João é todo o período entre a primeira vinda de Cristo e o seu retorno. O prefixo “anti” aqui significa “oposto” a Cristo.

Os anticristos são mencionados por João como um anúncio da chegada do Anticristo. Os anticristos que o precedem são todos aqueles que se opõem à verdade, pregando o contrário de Cristo, distorcendo Suas palavras, mesmo estando no meio dos que se dizem cristãos. Todo aquele que prega heresias é um anticristo (2.19; 2ª Jo 7).

Há ainda, inúmeras outras referências dentro da Palavra de Deus acerca deste mesmo período. Só a carta de João denota aqueles que simulam e se opõe a Cristo (cf. 2ª Ts 2).

I. QUANDO SERÁ O FIM DO MUNDO? O QUE ISTO SIGNIFICA?

Há uma questão que está causando enorme constrangimento para muitos estudiosos sinceros da Palavra de Deus. Até quando conviverão juntos o joio e o trigo, ou seja, os bons e os ruins? (Mat 13.24-30).

Para a maioria dos cristãos, os justos serão separados dos ímpios na volta de nosso Senhor Jesus Cristo. No entanto, de acordo com as Sagradas Escrituras, a existência do joio e do trigo em nosso planeta estender-se-á até o “FIM DO MUNDO”, termo este utilizado em algumas versões bíblicas. Em outras versões é mencionado “CONSUMAÇÃO DOS SÉCULOS” ou “FIM DESTA ERA”.

O termo “fim do mundo” não significa a destruição literal da Terra ou do universo, mas apenas o fim da presente era do pecado e da morte. A parábola do joio e do trigo nos traz esta preciosa informação:

Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo. Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa escândalo, e os que cometem iniquidade. E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes. (Mat 13.40-42).

O mesmo fato é relatado na parábola que trata sobre a rede lançada ao mar:

“Igualmente, o reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar, e que apanhou toda espécie de peixes. E, quando cheia, puxaram-na para a praia; e, sentando-se, puseram os bons em cestos; os ruins, porém, lançaram fora. ASSIM SERÁ NO FIM DO MUNDO; sairão os anjos, e separarão os maus dentre os justos, e lança-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá choro e ranger de dentes.” Mateus 13:47-50.

II. AO RETORNAR, O MESSIAS ESTABELECERÁ O SEU REINO NA TERRA

Ele reinará durante mil anos e com Ele reinarão todos aqueles que foram por ele comprados com o seu sangue, de toda a tribo, língua, povo e nação (Ap 5.9-10; 14.1-5; 20.4). Durante o milênio não haverá intercessor, pois o Messias estará governando na qualidade de Rei e Ele “julgará com justiça os pobres, e decidirá com equidade em defesa dos mansos da terra; e ferirá a terra com a vara de sua boca, e com o sopro dos seus lábios matará o ímpio.” (Is 11.4).

No reinado milenar de Cristo existirão nações que continuarão procriando e povoando a Terra, identificadas pela Palavra de Deus como sendo SOBREVIVENTES da grande batalha do Armagedom: “O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor. E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como disse o Senhor, e entre os sobreviventes, aqueles que o Senhor chamar.” (Joel 2.31-32). Estas nações serão regidas com vara de ferro pelo próprio Messias (ver Apocalipse 19-15) e por aqueles que participarão da primeira ressurreição (ver Apocalipse 2.26-27). Pessoas boas e más farão parte do reinado milenar de Cristo, por uma razão muito lógica: o pecado e a morte continuarão existindo (ver Isaías 65.20). Satanás estará preso e será lançado no abismo para que não mais engane estas nações.

No final do milênio Satanás será solto da sua prisão por um pouco de tempo e sairá a enganar as nações que ainda não tinham sido provadas por ele, para ajuntá-las para a batalha contra a Jerusalém terrestre. Todos os enganados por Satanás serão destruídos pelo fogo que descerá do Céu (ver Apocalipse 20.3; 7-9). Esta é apenas uma parte do joio que será destruída. Por que se diz que uma parte apenas do joio estará sendo destruída? Porque até então todos os ímpios mortos ainda não foram ressuscitados e nem julgados, pois as palavras proféticas dizem claramente que “os outros mortos não reviveram, até que os mil anos se acabaram.” (Ap 20.5). De acordo com este texto e tomando-se como base todo o seu contexto, entende-se que, além dos ímpios mortos, parte dos justos mortos que não participaram da primeira ressurreição serão finalmente ressuscitados para serem julgados no juízo final.

Prova-se através estas citações bíblicas que o FIM DA ERA DO PECADO E DA MORTE não se dará no momento da volta de Cristo, mas no final do milênio. Até lá o joio e o trigo estarão presentes. De acordo com a Palavra de Deus, o FIM DESTA ERA ocorrerá no final do milênio, quando definitivamente a morte será destruída (ver Ap 2014).

Cristo reinará até que sejam postos debaixo de seus pés todos os inimigos e o último inimigo a ser destruído será a morte. O apóstolo Paulo apresenta mais detalhes a esse respeito:

“ENTÃO VIRÁ O FIM quando ele (Cristo) entregar o reino a Deus, o Pai, quando houver destruído todo domínio, e toda autoridade e todo poder. Pois é necessário que ele (Cristo) reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés. Ora, o último inimigo a ser destruído é a morte.” (1ª Co 15.24-26).

Assim, o reinado de Cristo se estenderá por mil anos (ver Apocalipse 20.4 e 6). É o tempo necessário para regenerar o planeta Terra e no seu final destruir todos os inimigos, inclusive a morte (ver Ap 20.7-15).

Nesta ocasião todos os ímpios mortos e parte dos justos mortos que não participaram da primeira ressurreição, serão ressuscitados para serem julgados. Diz a Palavra de Deus que “todo aquele que não foi achado inscrito no livro da vida, foi lançado no lago de fogo.” (Ap 20.1).

Ao se completarem os mil anos, com o fim da era do pecado e da morte, Cristo entregará o reino a Deus, o Pai. Apenas sob esta exclusiva condição, ou seja, somente após o planeta Terra ser totalmente regenerado, não mais existindo o pecado e a morte, é que a Santa Cidade, a Nova Jerusalém descerá do Céu.

Eis uma das mais estupendas mensagens encontradas nas Escrituras Sagradas, que descreve a nova fase a ser vivida pelos remidos:

Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o Seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Ele enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas. ...Aquele que vencer herdará estas coisas; e Eu serei Seu Deus, e ele será Meu filho.” (Ap 21.3, 4 e7).

Pr. Elias Ribas

Assembleia de Deus

Blumenau SC

 

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

A TEOLOGIA DE ELIÚ: O SOFRIMENTO É UMA CORREÇÃO DIVINA?

 


LEITURA BÍBLICA

Jó 32.1 “Então, aqueles três homens cessaram de responder a Jó; porque era justo aos seus próprios olhos. 2 - E acendeu-se a ira de Eliú, filho de Baraquel, o buzita, da família de Rão; contra Jó se acendeu a sua ira, porque se justificava a si mesmo, mais do que a Deus. 3 - Também a sua ira se acendeu contra os seus três amigos; porque, não achando que responder, todavia, condenavam a Jó. 4 - Eliú, porém, esperou para falar a Jó, porquanto tinham mais idade do que ele.”

Jó 33.1 “Assim, na verdade, ó Jó, ouve as minhas razões e dá ouvidos a todas as minhas palavras. 2 - Eis que já abri a minha boca; já falou a minha língua debaixo do meu paladar. 3 - As minhas razões sairão da sinceridade do meu coração; e a pura ciência, dos meus lábios. 4 - O Espírito de Deus me fez; e a inspiração do Todo-Poderoso me deu vida.”

Jó 34.1 “Respondeu mais Eliú e disse: 2 - Ouvi vós, sábios, as minhas razões; e vós, instruídos, inclinai os ouvidos para mim. 3 - Porque o ouvido prova as palavras como o paladar prova a comida. 4 - O que é direito escolhamos para nós; e conheçamos entre nós o que é bom.  5 - Porque Jó disse: Sou justo, e Deus tirou o meu direito. 6 - Apesar do meu direito, sou considerado mentiroso; a minha ferida é incurável, embora eu esteja sem transgressão.”

Jó 36.1 Prosseguiu ainda Eliú e disse: 2 - Espera-me um pouco, e mostrar-te-ei que ainda há razões a favor de Deus. 3 - Desde longe repetirei a minha opinião; e ao meu Criador atribuirei a justiça. 4 - Porque, na verdade, as minhas palavras não serão falsas; contigo está um que é sincero na sua opinião. 5 - Eis que Deus é mui grande; contudo, a ninguém despreza; grande é em força de coração.”

INTRODUÇÃO

Veremos a teologia de Eliú exposta em quatro grandes discursos teológicos (Jó 32 — 37). Esses discursos se contrapõem ao que Jó e seus amigos proferiram. Para Eliú, os amigos de Jó falharam na exposição de suas ideias ao patriarca. Este, por outro lado, se equivocar ao apresentar o seu conceito de Deus para fundamentar sua defesa. Assim, mostraremos que Eliú revela um Deus soberano que age segundo o seu conselho e não está obrigado a dar respostas ao homem, além de não haver qualquer injustiça em suas ações, pois, segundo o jovem amigo de Jó, o sofrimento é uma ação pedagógica de Deus para corrigir o homem.

O sofrimento na vida do cristão deve ser um meio pedagógico. Ele serve para esmagar a soberba humana, polir o caráter do crente, prover crescimento e desenvolvimento ao cristão. Este o não é o mesmo depois que passa pela “escola do sofrimento”. Não por acaso o apóstolo Paulo pôde dizer: “Sei estar abatido e sei também ter abundância; em toda a maneira e em todas as coisas, estou instruído, tanto a ter fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade. Posso todas as coisas naquele que me fortalece” (Fp 4.12,13). Esse é o caminho que o Senhor nosso Deus quer que atinjamos: ser experimentados, amadurecidos e crescidos. Que ouçamos a voz de Deus no sofrimento! Então, poderemos dizer com convicção: “Posso tudo naquEle que me fortalece”.

I. O SOFRIMENTO COMO UMA FORMA DE REVELAR DEUS

1. Deus é soberano (33.14,15). Nesse primeiro discurso, Eliú destaca a queixa de Jó porque Deus não lhe respondera. Para o jovem amigo do patriarca, este não leva em conta a majestade divina que distingue o Criador de suas criaturas. Nesse sentido, Jó havia ignorado que Deus é infinitamente maior do que o homem e não precisa explicá-lo acerca suas ações nem de seu silêncio.

2. O orgulho do homem priva-o de ouvir Deus. Todavia, mesmo sendo um ser transcendente, Deus não deixa de se revelar ao homem quando julga necessário. Por isso, Eliú não aceita o argumento de Jó sobre o silêncio de Deus, pois Ele fala ao homem de várias maneiras, incluindo sonhos e visões (Jó 33.14,15). De acordo com Eliú, o problema não é o silêncio do Altíssimo, mas o orgulho humano que não lhe permite escutá-lo. O jovem acredita que mesmo o patriarca considerando-se moralmente puro, padece do pecado de orgulho (Jó 33.17). Na visão de Eliú, a revelação de Deus tem o propósito de livrar o homem da soberba que o conduziria à morte (Jó 33.17,18).

3. O mistério da redenção. Além de sonhos e visões, Eliú também destaca que Deus usa a enfermidade como um dos canais de comunicação entre Deus e o homem (Jó 33.19-22). Por causa dela, Ele pode enviar um anjo para anunciar a Jó o seu dever (Jó 33.23), dizer o que ele deve fazer e, também, interceder em favor da saúde do patriarca. Dessa forma, esse mensageiro anuncia o que é justo e bom a fim de recuperar o estado de justiça que Jó desfrutava antes da enfermidade.

As funções que são atribuídas a esse mensageiro-mediador fazem com que os intérpretes bíblicos vejam nesse ser celeste uma referência ao anjo do Senhor, uma teofania do Senhor Jesus Cristo (Gn 16.9; 22.11; Êx 3.2; Jz 6.11). Não há dúvidas de que esse mediador é a mesma testemunha celestial que Jó pedia que defendesse a sua causa (Jó 16.19) e o redentor que o justificasse depois de sua morte (Jó 19.25). Nesse sentido, conforme podemos atestar no livro, o ministério desse mensageiro é um ato decorrente inteiramente da graça de Deus em favor de Jó para mediar sua causa e resgatá-lo (33.24).

Para Eliú, o sofrimento revela um Deus soberano que ataca a soberba do ser humano.

II. O SOFRIMENTO COMO MEIO DE REVELAR A JUSTIÇA E A SOBERANIA DE DEUS

1. A justiça de Deus demonstrada. Quando defende a justiça de Deus, Eliú faz coro com seus amigos na acusação contra Jó. Em sua perspectiva, os argumentos de Jó não passavam de insolência. Como pode o Todo-Poderoso agir com injustiça conforme Jó deixou subtender? Deus jamais age injustamente, pois isso contrariaria sua própria natureza (Jó 34.10,12).

2. O caráter justo de Deus. Para não haver dúvida, Eliú passa a descrever o caráter justo de Deus: (1) Ele age com justiça quando retribui ao homem o que ele merece (Jó 34.11); (2) Deus não precisa prestar contas de seus atos a ninguém, visto que não recebeu autoridade de nenhum outro ser criado (Jó 34.13); (3) como o provedor da vida humana, Ele tem todo o poder de manter ou não a humanidade (Jó 34.14,15); (4) o Todo-Poderoso não faz acepção de pessoas, quer sejam reis, nobres ou pobres (Jó 34.16-20); (5) Deus é onisciente e como tal conhece os passos e as intenções de todos os homens sem precisar inquiri-los em juízo (Jó 34.21-25); (6) Ele é justo para punir os maus (Jó 34.25-30).

3. A defesa da soberania de Deus. Atente para a seguinte pergunta: “Será que Deus deve recompensá-lo segundo o que você quer ou não quer?” (Jó 34.33 - NAA). Eliú encerra o capítulo mostrando a Jó que Deus, em sua soberania e livre vontade, não tem a obrigação de agir segundo o querer do homem. Sendo soberano, Ele não está sujeito a qualquer julgamento humano. Por todo o livro de Jó o autor destaca a soberania divina. Um exemplo disso está claro no uso da palavra “Todo-Poderoso” que ocorre 31 vezes. Para Eliú, portanto, por ser Soberano, Deus jamais age com injustiça como Jó dera a entender.

Todavia, é preciso destacar duas coisas sobre fala de Eliú. Primeiramente, ele, assim como seus amigos, erra por partir do princípio de que Jó havia cometido pecado. Em segundo lugar, Eliú exalta apenas a justiça de Deus e nada diz acerca de sua misericórdia. Para ele, o Altíssimo havia posto sua justiça soberana acima do seu amor, o que é um erro crasso. Deus, sem dúvida alguma, é justo; mas grandiosamente amoroso e misericordioso.

Para Eliú, o sofrimento revela o caráter justo e soberano de Deus.

4. “A teologia da prova. Adiantando-se em seu discurso, exclama Eliú: ‘Pai meu! Provado seja Jó até ao fim’ (Jó 34.36a). Recorramos ao hebraico: Avi ybahen Yôb ad-netsah. O vocábulo ybahen comporta os seguintes sinônimos: provar, refinar como ouro, fundir como metal. Por conseguinte, deveria Jó, como o mais precioso dos metais, ser intensamente provado até que todas as impurezas e imperfeições lhe fossem tiradas. Observe que Eliú roga a Deus seja o patriarca provado até o fim. Se Jó tem de ser acrisolado, que lhe seja completo o crisol; até ao fim: ad-netsa. A provação haveria de perdurar enquanto fosse necessária. Não fora Jó suficientemente provado? Entretanto, teria ele de suportar toda a ardência daquele cadinho até que viesse a entender a soberania de Deus. Doutra forma, jamais chegaria à estatura de perfeito varão (Jó 34.36b)” [ANDRADE, Claudionor de. Jó: O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 168].

III. O SOFRIMENTO COMO UM INSTRUMENTO PEDAGÓGICO DE DEUS

1. O caráter pedagógico do sofrimento (36.7-15). Há uma diferença entre o pensamento teológico de Eliú e o de seus amigos. Elifaz, Bildade e Zofar acreditavam que o sofrimento de Jó era por causa de um pecado cometido por ele e sua recusa em reconhecê-lo. Eliú também crê dessa forma, mas vai além. Embora compreenda que, durante sua provação, Jó se comportou de forma pecaminosa, Eliú introduz a ideia de que o sofrimento tem um caráter pedagógico (Jó 36.15). O caráter pedagógico do sofrimento está na capacidade de nos fazer refletir e voltar para Deus. Dessa forma, os justos aprendem com o sofrimento.

2. Adorando a Deus na tormenta. No capítulo 36 e versículo 26, Eliú afirma que “Deus é grande, e nós o não compreendemos”. Para ilustrar o argumento da grandeza de Deus, ele faz uma explanação sobre a ação de Deus nas estações do ano: Outono, Inverno, Primavera e Verão. O argumento de Eliú tem por objetivo demonstrar a grandeza de Deus sobre a criação e como esse fato deve fazer com que Jó o reconheça como grande e o louve como tal (Jó 36.24-25). A fala de Eliú põe em destaque o argumento contraditório de Jó, que por um lado magnificava a majestade de Deus, mas por outro murmurava contra Ele. Nesse aspecto, Eliú acerta em mostrar que a adoração e a murmuração não podem coexistir, são atitudes excludentes.

Jó 37.6-13 ilustra de forma poética o pensamento do orador. É uma metáfora da situação do patriarca, que no meio da tormenta, em todo o seu impacto e estrondo, pode contemplar o caráter pedagógico do amor de Deus.

Segundo Eliú, o sofrimento é um instrumento pedagógico para o cristão.

“Depois de meditar longamente sobre o propósito dó sofrimento do justo, declara H. Dieterlen: ‘Tudo depende do modo porque se sofre. Mas Deus sempre tem um pensamento de amor nas tristezas que nos envia’. Afinal, como enfatiza o apóstolo, todas as coisas concorrem juntamente para o bem daqueles que, sinceramente, amam a Deus.

3. A pedagogia da prova. O Senhor conduzia a Jó através das mais difíceis e inimagináveis provas, a fim de que ele viesse a tornar-se um instrumento ainda mais valioso e útil para o seu Reino. Quão maravilhosa é a pedagogia do sofrimento! Se incrédulos, ensina-nos a crer. Se intempestivos, disciplina-nos em um amor paciente e temperante. Se indiferentes, leva-nos a chorar com os que choram e a alegrar-se com os que se alegram. Sim, Deus educava Jó por intermédio do sofrimento. E o mesmo está Ele fazendo neste instante. Por isso, não se desespere! Este é o modo pelo qual o Senhor educa seus filhos” [ANDRADE, Claudionor de. Jó: O problema do sofrimento do justo e o seu propósito. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 168].

CONCLUSÃO

Vimos nessa lição três aspectos da teologia de Eliú. Primeiramente, o jovem amigo defende o direito de Deus ficar em silêncio mesmo quando achamos que ele deve falar. Acredita que Jó não consegue escutar a Deus devido ao seu orgulho. Entretanto, o equívoco de Eliú está no fato de associar o sofrimento de Jó ao pecado. Segundo, ele destaca que Deus tem todo o direito de ser soberano e como tal agir com justiça. Todavia, ele se equivoca em colocar essa soberania acima de seu amor, pois, primeiramente, Deus é amor. E, finalmente, Eliú vê no sofrimento um papel pedagógico.

GONÇALVES José. A fragilidade humana e a soberania divina Lições bíblicas 4º Trimestre de 2020. CPAD Rio de Janeiro RJ.

A ÚLTIMA DEFESA DE JÓ

 


LEITURA BÍBLICA

Jó 29.1-5 “E, prosseguindo Jó em sua parábola, disse: 2 - Ah! Quem me dera ser como eu fui nos meses passados, como nos dias em que Deus me guardava! 3 - Quando fazia resplandecer a sua candeia sobre a minha cabeça, e eu, com a sua luz, caminhava pelas trevas; 4 - como era nos dias da minha mocidade, quando o segredo de Deus estava sobre a minha tenda; 5 - quando o Todo-Poderoso ainda estava comigo, e os meus meninos, em redor de mim.”

Jó 30.1-5 “Mas agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho. 2 - De que também me serviria a força das suas mãos, força de homens cuja velhice esgotou-lhes o vigor? 3 - De míngua e fome se debilitaram; e recolhiam-se para os lugares secos, tenebrosos, assolados e desertos. 4 - Apanhavam malvas junto aos arbustos, e o seu mantimento eram raízes dos zimbros. 5 - Do meio dos homens eram expulsos (gritava-se contra eles como contra um ladrão).”

Jó 31.1-5 “Fiz concerto com os meus olhos; como, pois, os fixaria numa virgem? 2 - Porque qual seria a parte de Deus vinda de cima, ou a herança do Todo-Poderoso desde as alturas? 3 - Porventura, não é a perdição para o perverso, e o desastre, para os que praticam iniquidade? 4 - Ou não vê ele os meus caminhos e não conta todos os meus passos? 5 - Se andei com vaidade, e se o meu pé se apressou para o engano.”

INTRODUÇÃO

Nesta lição perceberemos que Jó faz uma retrospectiva de sua vida. Ele pôde ver o quanto foi abençoado, embora o momento presente contrariasse todo o seu passado. Infelizmente, o “presente” de Jó teve mais força para embaçar o seu passado. Ele não conseguia recuperar a esperança.

É muito importante fazermos esse exercício retrospectivo, mas sem, contudo, perder a esperança. O que Deus fez em nosso passado deve-nos trazer a esperança para o presente. Tudo isso só é possível uma vez que estamos em Cristo. Do ponto de vista humano é impossível recuperar a esperança diante da tragédia. Todavia, na força do Espírito Santo, podemos recuperá-la.

O capítulo 31 encerra da seguinte forma: “Acabaram-se as palavras de Jó” (Jó 31.40). Trata-se de uma retrospectiva nostálgica do passado Jó (Jó 31.29-31). Por isso, nesta lição, veremos a lembrança de Jó acerca de sua prosperidade material e espiritual, de sua adoração a Deus e das bênçãos que o Todo-Poderoso concedeu à sua casa; mas, agora, em oposição ao momento de escárnio e vergonha que ele passa no presente. Nesse sentido, Jó não aceita que as coisas terminem assim e, portanto, ele deseja se apresentar diante de Deus para defender a sua causa.

Conforme Deus fez no passado, Ele pode fazer algo novo.

I. JÓ RELEMBRA SEU PASSADO DE GLÓRIA

1. Prosperidade material e espiritual (29.1-11). Jó demonstra um sentimento nostálgico com relação a seu passado. A primeira coisa que se lembrou desse passado glorioso foi a comunhão que ele desfrutou com Deus (Jó 29.2,4). Eram lembranças de um passado que não mais existia. Ele lembra que Deus o protegia (Jó 29.2); suas bênçãos sobre ele e sua família (Jó 29.3); sua orientação em meio às dificuldades (Jó 29.3); e a presença real de Deus na vida dele (Jó 29.5). Jó, portanto, havia sido um homem grandemente abençoado por Deus.

2. Reconhecimento social (29.14-25). Jó também se lembra de sua antiga condição social, quando exercia a função de um respeitado juiz de sua cidade (Jó 29.7). Tanto os jovens como os velhos o procuravam para serem orientados (29.8). Talvez isso explique a linguagem jurídica que aparece com frequência nos diálogos do livro. Isso demonstra que ele exercia um importante papel social na sua comunidade. Ele ajudava o desvalido, dava orientação de forma sábia e agia com justiça (Jó 29.14-25). Na sua busca pela justiça social, Jó protegia os pobres e punia os opressores (Jó 29.17). Seu amor e defesa pela justiça eram-lhe como uma vestimenta e adorno (Jó 29.14). Ele dava apoio social aos menos favorecidos e era como se fosse os “olhos” do cego. Até mesmo com os estrangeiros ele se preocupava (Jó 29.15,16). Tendo agido com justiça e equidade, nada mais natural que esperasse que seus dias terminassem em paz ao lado de sua esposa e filhos (Jó 29.18). O contrário disso não estava em sua agenda: terminar a vida sem saúde, sem honra e sem paz com Deus.

3. Uma ponderação importante. Não há dúvida de que Jó, conforme a Bíblia mostra, era um modelo de justiça social. Todavia, devemos ter o cuidado de não transportar para dentro do texto bíblico nenhuma teoria moderna de justiça social firmada em valores materialistas contrários aos defendidos nas Escrituras. De fato, ele era um homem que defendia a justiça social, mas nem de longe se pode classificá-lo como um socialista nos termos modernos. Isso seria forçar o texto, ir além do que está escrito e sobrepor o pensamento político na Bíblia.

Jó relembra seu passado de prosperidade material e espiritual, bem como a sua atuação social.

II. JÓ LAMENTA SEU ESTADO PRESENTE

1. Desprezo por parte dos jovens e das classes menos favorecidas (30.1-23). Após lembrar com tristeza da sua antiga condição social próspera, Jó lamenta o ponto que havia chegado sua miséria. No Antigo Oriente, os mais velhos eram objetos de grande estima (Pv 20.29). Por isso, quando gozava de sua prosperidade, ele era respeitado não apenas pelos mais velhos, mas também pelos mais jovens. Entretanto, Jó lembra que “agora se riem de mim os de menos idade do que eu, e cujos pais eu teria desdenhado de pôr com os cães do meu rebanho” (Jó 30.1). De homem respeitado, ele passou a ser visto como uma escória social (Jó 30.1-8). Jó, portanto, lamentava estar no fundo do poço.

2. Abatimento físico e emocional (30.16-31). O patriarca se sente um homem abandonado por Deus, por isso, essa lembrança o lança numa profunda tristeza e produz em sua vida um grande sofrimento que, além de físico, era também de natureza emocional. Como o salmista, Jó lamenta suas dores (Sl 42.4). Nas suas vestes, ele via uma prova real de seu sofrimento (Jó 30.18). Nesse sentido, no versículo 18 aparece a palavra “desfigurou”. Alguns intérpretes acreditam que a palavra melhor traduzida é “manchada”. Ou seja, as feridas abertas de Jó haviam manchado suas vestes. Ele imagina que Deus está por trás de todo esse sofrimento (Jó 30.19) e que, mesmo depois de clamar, o Altíssimo lhe ignora. O homem de Uz sente-se caçado como um animal selvagem e atormentado por um furacão (Jó 3.21,22).

3. Deus teria abandonado Jó? O sofrimento emocional de Jó refletia a sua crença de que havia sido abandonado por Deus (Jó 30.16-23). Todavia, era também um reflexo de ter sido abandonado pelos homens (30.24-31). Junto a isso, ele observou que o seu clamor foi totalmente desconsiderado. Doía saber que havia ajudado muitas pessoas carentes e necessitadas de socorro (Jó 30.25), mas agora o seu clamor por socorro ser totalmente ignorado. Em vez de ajudado, ele era repelido como uma escória social (Jó 30.26). Quantas pessoas não passam por esse sentimento? Quantas vezes um sentimento de injustiça não assola-nos à alma? Cheguemo-nos diante de Deus e entreguemos tudo em seu altar.

O estado presente de Jó é marcado pelo desprezo dos jovens, das classes necessitadas e pelo abatimento físico-emocional.

4. “Este capítulo [30] contrasta com o capítulo 29. No lugar que Jó desfrutava do respeito e honra dos anciãos da cidade e das pessoas importantes, ele agora é desprezado pelas pessoas mais vis da sociedade. Mas agora (1) introduz a mudança de como era o passado para o que é no presente. O capítulo 29 terminou com Jó lembrando de como em épocas passadas ele era semelhante a um rei entre os homens. Agora, mesmo homens mais jovens, cujos pais Jó não consideraria aptos para serem os cães do seu rebanho, o menosprezam. Essa classe de homens era tão miserável que eram magros devido à fome (3). O único alimento que eles podiam obter era a produção escassa das áreas desertas. Eles eram forçados a comer as folhas das malvas (4), um arbusto raquítico que cresce nos brejos salgados da Palestina, e raízes de zimbros, semelhantes a arbustos do deserto (giesta) em vez da árvore de zimbro. Esses infelizes eram expulsos (5) da sociedade como se fossem ladrões e eram, portanto, forçados a viver nas cavernas e entre as rochas (6). Bramavam entre os arbustos (7), vivendo como asno e comendo a comida de asnos silvestres. Assim, eles eram filhos de doidos (8), literalmente, ‘filhos de desprezíveis’. Como filhos de gente sem nome, eles eram expulsos da terra (‘da terra são escorraçados’, ARA). Mas agora (9) Jó é alvo do seu escárnio! Ele é como um provérbio para eles. A repugnância deles é tão grande que cospem no seu rosto (10). Porque Deus oprimiu (11) Jó, eles são incontidos em sua hostilidade contra ele. Moços o empurram (12) para o lado e obstruem seu caminho (13) e, dessa forma, promovem a sua miséria. A ação desses párias não é acidental. Ela vem contra Jó como por uma grande brecha (14). Eles os apavoram com seus abusos persistentes até que sua honra (dignidade) evapora como uma nuvem (15)” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 77).

III. O FUTURO EM ABERTO DE JÓ

1. Jó em defesa de sua ética sexual (31.1-4). Seus amigos silenciaram, Jó sabe que nada está resolvido, o futuro ainda está em aberto e se mostra incerto. Haverá alguma resposta? Ao querer mostrar a sua inocência, Jó ainda sente a necessidade de se defender. A primeira defesa dele é em relação ao comportamento ético-sexual, dizendo que sempre se comportou com integridade em todas as esferas da sua vida. Nos versículos 1-4 do capítulo 31, ele mostra, por exemplo, que jamais permitiu desvios de seu comportamento sexual, fazendo uma aliança com os próprios olhos para evitar a luxúria e a impureza quando olhasse para uma donzela. Segundo o ensino do Novo Testamento, somos estimulados também a fazer um concerto com os próprios olhos (Mt 5.27-30).

2. Jó em defesa de sua ética social (31.16-23). Jó também faz uma defesa de sua ética social. Ele já havia mostrado que a justiça social marcou sua forma de agir. Todavia, ele lembra que isso só foi possível porque procurou conduzir-se sempre por princípios de uma ética social. Por exemplo, ele sempre tratou o órfão e a viúva com humanidade; os escravos, mesmo sendo sua propriedade, tinham liberdade para o procurarem e apresentarem-lhe suas queixas. O seu comportamento ético-social o habilitou a agir como tribuno dos desvalidos (Jó 31.13-23). Lembremo-nos da verdadeira religião, como bem Tiago afirmou: “Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e guardar-se da corrupção do mundo” (1.27). Eis um dos fundamentos de nossa ética social.

3. Jó busca a resposta de Deus (31.35-37). Agora Jó se dirige a Deus na forma exclamativa: “Ah! Quem me dera um que me ouvisse!” (v.35). Ele já havia feito uma viagem retrospectiva sobre o seu passado, agora ele faz uma análise sobre sua situação presente, mas seu olhar está no futuro. Ele quer se apresentar diante de Deus porque está consciente de sua inocência. Sua confiança é de um príncipe que se apresenta diante de um tribunal (Jó 31.37). Ele confia de que será inocentado.

Como podemos nos apresentar diante de Deus e justificar os nossos atos? Pela graça divina, por meio de Jesus Cristo, o Filho de Deus, Ele mesmo nos justifica (Rm 8.31-33).

Jó faz uma defesa de sua ética sexual, social e busca resposta de Deus.

4. Jó acha que é inocente de qualquer ação má. “Jó revê várias categorias de pecado que poderiam ter sido a causa da sua desgraça e jura solenemente que ele é inocente de qualquer ação má. Ocasionalmente, junto com seu protesto de inocência, ele inclui uma declaração do porquê ele ter decidido ser virtuoso. Ele também inclui uma maldição sobre si mesmo, caso tenha deixado de falar a verdade. Primeiro Jó nega que seja culpado de pecados sensuais que são tão comuns entre homens. Ele fez um concerto (acordo) com os seus olhos, para que desejasse uma virgem (uma moça, 1). Aqui Jó reconhece que a tentação vem por meio da observação daquilo que pode ser desejável. Ele tem um acordo com os seus olhos para que não o desviem. Qual seria a parte (2) que ele teria com Deus se ele fosse culpado desse tipo de crime? Certamente Deus castiga o perverso e aqueles que praticam a iniquidade (3). Não só isso, mas Jó pergunta: Não vê ele? (4). Ele é enfático, ressaltando a ideia de que Deus observa de perto o homem e castiga sua vaidade e engano (5). Os versículos 6-8 são um juramento de inocência e uma maldição por qualquer falsidade que Jó possa ter falado nos versículos precedentes” (CHAPMAN, Milo L; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 78).

CONCLUSÃO

Nesta lição, vimos que Jó se lembrou de seu passado abençoado e de como agiu com integridade e humanidade com o próximo. Nunca havia agido de forma injusta com ninguém nem tampouco cometido pecados que o desonrassem moralmente. Sua integridade estava intacta. Assim, ele acredita que chegou o grande momento de se apresentar diante de Deus e receber dEle o veredito de que é um homem injustiçado e inocente.

 

GONÇALVES José. A fragilidade humana e a soberania divina Lições bíblicas 4º Trimestre de 2020. CPAD Rio de Janeiro RJ.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

JÓ E A INESCRUTÁVEL SABEDORIA DE DEUS

 


LEITURA BÍBLICA

Jó 28.1-28. “Na verdade, há veios de onde se extrai a prata, e, para o ouro, lugar em que o derretem. 2 - O ferro tira-se da terra, e da pedra se funde o metal. 3 - O homem pôs fim às trevas e até à extremidade ele esquadrinha, procurando as pedras na escuridão e na sombra da morte. 4 - Trasborda o ribeiro até ao que junto dele habita, de maneira que se não pode passar a pé; então, intervém o homem, e as águas se vão. 5 - A terra, de onde procede o pão, embaixo é revolvida como por fogo. 6 - As suas pedras são o lugar da safira e têm pós de ouro. 7 - Essa vereda, a ignora a ave de rapina, e não a viram os olhos da gralha. 8 - Nunca a pisaram filhos de animais altivos, nem o feroz leão passou por ela. 9 - Ele estende a sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as suas raízes. 10 - Dos rochedos faz sair rios, e o seu olho descobre todas as coisas preciosas. 11 - Os rios tapa, e nem uma gota sai deles, e tira para a luz o que estava escondido. 12 - Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência? 13 - O homem não lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes. 14 - O abismo diz: Não está em mim; e o mar diz: Ela não está comigo. 15 - Não se dará por ela ouro fino, nem se pesará prata em câmbio dela. 16 - Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira. 17 - Com ela se não pode comparar o ouro ou o cristal; nem se trocará por joia de ouro fino. 18 - Ela faz esquecer o coral e as pérolas; porque a aquisição da sabedoria é melhor que a dos rubis. 19 - Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode comprar por ouro puro. 20 - De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência? 21 - Porque está encoberta aos olhos de todo vivente e oculta às aves do céu. 22 - A perdição e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama. 23 - Deus entende o seu caminho, e ele sabe o seu lugar. 24 - Porque ele vê as extremidades da terra; e vê tudo o que há debaixo dos céus. 25 - Quando deu peso ao vento e tomou a medida das águas; 26 - quando prescreveu uma lei para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões, 27 - então, a viu e a manifestou; estabeleceu-a e também a esquadrinhou. 28 - Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência.”

INTRODUÇÃO

Nesta lição veremos uma das mais belas exposições bíblicas sobre a sabedoria. O capítulo 28 foi propositadamente colocado pelo autor para delimitar o fim dos longos discursos dos amigos do homem de Uz. O seu propósito é contrastar a sabedoria meramente humana com a sabedoria revelada, que é de origem divina. Assim, temos o objetivo de declarar que somente Deus é a fonte da verdadeira sabedoria. Essa divina sabedoria se manifesta na vida dos homens de forma prática através do temor do Senhor.

Quem é o sábio segundo as Escrituras? É o que fala diversos idiomas? O que lê mais de 60 livros por ano? O que conhece muito de filosofia? O que conhece muito de teologia? O que tem profundo conhecimento da literatura mundial e nacional? Quem é o sábio segundo as Escrituras?

Aqui não há nenhuma reprovação às atividades contidas nas indagações acima. Pelo contrário, como seria bom que cada vez mais cristãos tivessem uma compreensão profunda, segundo a cosmovisão cristã, acerca de todos esses temos. Mas o que queremos mostrar é que a verdadeira sabedoria, da qual fala o Palavra de Deus fala, tem como fundamento o “temor do Senhor”.

 I. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM NATURAL

1. O empenho na busca da sabedoria. Neste capítulo (28) Jó faz um contraste entre a busca do homem por minérios naturais e a sabedoria. Primeiramente, o patriarca descreve a habilidade do homem na exploração dos minérios naturais (vs. 1-11). Então, ele contrasta o trabalho nas minas com a busca do homem pela sabedoria. Da mesma forma que desde os primórdios o homem usa diligentemente a tecnologia na busca de metais preciosos, assim também ele tem empreendido um grande esforço para encontrar a sabedoria. Para ser encontrado, primeiramente, o minério precisa ser garimpado; a sabedoria igualmente. O minério existe, mas está enterrado; a sabedoria existe, mas está oculta.

2. Como quem explora o minério, assim o homem faz com a sabedoria. No trabalho de mineração requer-se habilidade, diligência, persistência e muita técnica na execução; a busca da sabedoria também demanda tais características. As minas geralmente são locais de difícil acesso e de pouca iluminação, por isso, há a necessidade de se abrir caminho e colocar luz artificial (vs. 3,4). Assim também ocorre no empreendimento do homem pela busca pela sabedoria, mas apesar de todo o esforço nessa procura, Jó crê que isso tem sido feito sem sucesso.

3. De onde vem a sabedoria? Jó demonstra que o homem tem sido exitoso no seu trabalho junto às minas, todavia, incapacitado na “escavação da sabedoria”. Tem procurado, mas não tem encontrado. O homem descrito por Jó é capaz de desviar o curso das águas, a fim de evitar a inundação das minas (v. 12), mas não é capaz encontrar a sabedoria. A sabedoria dos sábios e da academia estava disponível para ser alcançada. Todavia, a sabedoria retratada por Jó não era fruto da tradição nem podia ser obtida pelo método acadêmico. Embora os metais preciosos pudessem ser encontrados na terra escavada, a verdadeira sabedoria não podia ser obtida pelo simples esforço humano. Isso justificava o conflito que havia entre a teoria teológica dos amigos de Jó e a vivência concreta do patriarca. Portanto, a verdadeira sabedoria não era propriedade dos sábios, mas uma dádiva de Deus. Tiago nos lembra de que “se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada” (1.5).

Jó descreve o contraste entre a busca do homem por minérios naturais e a sabedoria.

II. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM COMERCIAL

1. O preço da sabedoria. Podemos ver um paralelo entre a sabedoria exposta por Jó neste capítulo (vs. 12-19) com a descrita no livro de Provérbios. Esse livro, por exemplo, contém várias exortações para se adquirir a sabedoria. Todavia, há uma diferença entre o que Jó ensina e o que Salomão ensinou sobre a sabedoria em Provérbios. Em Salomão, a sabedoria tem um custo e pode ser encontrada, se buscada com diligência e entendimento. Ela tem seu preço e pode ser passada de pai para filho (Pv 4.5,7,23). Por outro lado, para Jó a sabedoria está em outro patamar. Ela tem valor, mas não preço. Como bem destacam estudiosos, a sabedoria em Jó é incomparável, não se pode comprar ou trocar com todos os outros tesouros. É patrimônio exclusivo de Deus; não é possessão dos mestres, por isso, não pode ser transmitida (cf. Tg 1.5).

2. O valor da sabedoria. Sobre o valor da sabedoria vale a pena recordar o que disse certo pregador londrino: “A sabedoria é o uso correto do conhecimento. Conhecer não é ser sábio. Muitos homens têm extensos conhecimentos e, justamente por isso, são os mais tolos. Não há tolo maior do que o tolo instruído. Mas saber como usar o conhecimento é ter sabedoria”. Assim, em Jó, vemos que o homem ainda não aprendeu o verdadeiro preço da sabedoria nem onde encontrá-la (Jó 28.13) e que, por isso, acredita ser fácil adquiri-la.

 3. A sabedoria não é um bem comercial. O patriarca não nega que a sabedoria exista ou que ela pode ser encontrada, mas o que ele diz é que a sabedoria não é um bem comercial. Ela não pode ser encontrada em toda parte, nem mesmo nas mais poderosas forças da natureza primitiva - o abismo (hb. tehon ) e o mar (hb. yam ). A sabedoria é de valor inestimável e só quem pode concedê-la é Deus.

A sabedoria não tem preço, mas tem um valor que remonta ao temor do Senhor.

4. “A Excelência da Sabedoria (vs. 14-19). Tendo falado sobre a riqueza do mundo, que os homens valorizam tanto, e que se esforçam tanto por obter, Jó aqui fala de outra joia mais valiosa, que é a sabedoria e o entendimento, conhecer e ter prazer, em Deus e em nós mesmos. Os que descobriam todos os caminhos e meios para enriquecer se julgam muito sábios; mas Jó não considera que tenham sabedoria. Eles supõem que eles conseguiram o seu objetivo, e trouxeram à luz aquilo que buscavam (v. 11), mas pergunta: ‘Mas onde se achará a sabedoria?’ pois ela não está aqui. Este seu caminho é a sua loucura. Devemos, portanto, buscá-la em outro lugar; e ela não será encontrada em outra parte, senão nos princípios e nas práticas da religião. Há mais conhecimento verdadeiro, satisfação e felicidade na divindade genuína, que nos mostra o caminho para as alegrias do céu, do que na filosofia natural ou na matemática, e que podem nos ajudar a encontrar o caminho para as entranhas da terra” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó o Cantares de Salomão. Rio de Janeiro CPAD, 2010, p. 136).

III. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM ESPIRITUAL

1. Uma verdade revelada. No versículo 20, Jó faz a importante pergunta: “De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?”. Anteriormente, Jó fez um contraste entre o trabalho de um minerador e o de quem procura a sabedoria. Nele, os homens, semelhantes a um mineiro, têm garimpado à procura da sabedoria, mas, mesmo assim, não têm achado. Toda diligência, técnica e determinação não têm sido suficientes para que ele a encontre. A sabedoria não está no centro da terra, nem com os sábios, de forma que possa ser passada pela simples via da tradição. Ela está oculta. Todos os esforços humanos revelam-se inúteis na sua aquisição.

A sabedoria está em Deus e somente Ele pode outorgá-la. Deus é a fonte da sabedoria e somente Ele pode revelá-la.

2. Uma verdade prática. A sabedoria vem de Deus. Ela está em Deus e é Ele quem a revela. A sabedoria divina não é uma verdade a ser apenas contemplada, mas a ser vivida. Ela é prática. Jó diz que a sabedoria está no “temor do Senhor” (Jó 28.28). O temor do Senhor aproxima o homem de Deus e o afasta do mal. A sabedoria, portanto, é relacional. Esse foi um testemunho que o próprio Deus já havia dado sobre Jó. Ao contrário de seus amigos, ele vivia a sabedoria divina. Não apenas a sabedoria contemplativa, tradicional, transmitida pela tradição. A sua sabedoria era uma verdade revelada, por isso, convertia-se em ação prática e relacionamento duradouro.

A sabedoria é uma verdade revelada e tem implicações práticas.

3. “Não podemos alcançar a verdadeira sabedoria, senão pela revelação divina. ‘O Senhor dá a sabedoria’ (Pv 2.6). Entretanto, ela não é encontrada nos segredos da natureza ou da providência, mas nas regras para o nosso próprio proceder. Ao homem, Ele não disse, ‘Suba ao céu, para encontrar ali a felicidade’, nem ‘Desça às profundezas, para encontrá-la ali’. Não, a ‘palavra está mui perto de ti’ (Dt 30.14). Ele te mostrou, ó homem, não o que é grande, mas o que é bom; não o que o Senhor teu Deus deseja fazer contigo, mas o que Ele pede de ti (Mq 6.8). ‘A vós, ó homens, clamo’ (Pv 8.4). Senhor, o que é o homem, para que seja assim visitado! Veja, perceba isto, aquele que tem ouvidos, que ouça o que o Deus do céu diz aos filhos dos homens: O temor do Senhor, isto é a sabedoria. Aqui temos: 1. A descrição da verdadeira religião, a religião pura e imaculada; é temer o Senhor e afastar-se do mal, o que está de acordo com a descrição que Deus faz de Jó (1.1). O temor do Senhor é a fonte e o resumo de toda a religião” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 138).

CONCLUSÃO

Vimos que mesmo com empenho na busca da sabedoria, os resultados não são satisfatórios. A sabedoria não é alcançada. A sabedoria é um bem valioso e caro; ela não tem apenas preço, mas, sobretudo, valor. Ela não pode ser comprada ou comercializada, nem mesmo pode ser herdada. Ela é uma verdade revelada. Somente Deus é a fonte legítima da sabedoria. Ela se materializa no temor do Senhor. Quem teme ao Senhor é um sábio.

GONÇALVES José. A fragilidade humana e a soberania divina Lições bíblicas 4º Trimestre de 2020. CPAD Rio de Janeiro RJ.