TEOLOGIA EM FOCO: A SALVAÇÃO OFERTADA POR JESUS CRISTO

sexta-feira, 5 de março de 2021

A SALVAÇÃO OFERTADA POR JESUS CRISTO



Texto Básico

João 3.1-7. “E havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. 2- Este foi ter de noite com Jesus e disse-lhe: Rabi, bem sabemos que és Mestre, vindo de Deus, porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não for com ele. 3- Jesus respondeu e disse-lhe: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus. 4- Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura, pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer? 5- Jesus respondeu: Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus. 6- O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. 7- Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo.”

INTRODUÇÃO

A promessa do descendente que seria capaz de desfazer as obras do Diabo cumpriu-se em Jesus de Nazaré. Mais relevante do que humilhar publicamente principados e potestades da maldade, foi o fato de Cristo ter restaurado o fluxo originário do plano de Deus para a humanidade, reaproximando-nos novamente de nossa vocação edênica e concedendo-nos a oportunidade de, outra vez, ter esperança na promessa do céu.

I. ELEIÇÃO 

1. A eleição como uma doutrina biblicamente fundamentada. A Bíblia Sagrada está repleta de textos que anunciam e discutem aquilo que denominamos de Doutrina da Eleição. Por eleição entenda-se a capacidade divina de ser o promotor da condição de salvação daqueles que serão salvos. Em outras palavras, através da eleição, como ato livre e incondicionado, o Altíssimo proporcionou à humanidade a possibilidade da salvação. A Escritura registra casos de eleições/escolhas individuais, coletivas e nacionais, os quais tanto estão ligados à salvação como a outras questões: a escolha/eleição de determinados indivíduos para missões específicas (1ª Sm 16.8-13).

1.1. Eleição dos filhos de Deus para salvação. Rm 8.31-34 “Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32- Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? 33- Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica.34- Quem é que condena? Pois é Cristo quem morreu, ou antes quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós.”

1.2. A eleição/escolha da Igreja para a salvação. Rm 11.7 “Pois quê? O que Israel buscava não o alcançou; mas os eleitos o alcançaram, e os outros foram endurecidos.

Ap 17.14 “Porque Deus tem posto em seus corações, que cumpram o seu intento, e tenham uma mesma ideia, e que deem à besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus.”

1.3. Existem anjos que são chamados de escolhidos/eleitos. 1ª Tm 5.21 “Conjuro-te diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, e dos anjos eleitos, que sem prevenção guardes estas coisas, nada fazendo por parcialidade.”

1.4. A eleição nacional dos israelitas como povo em quem Deus cumpriria suas promessas para abençoar todas as nações. Sl 105.6 “Vós, semente de Abraão, seu servo, vós, filhos de Jacó, seus escolhidos.

Is 41.8 “Porém tu, ó Israel, servo meu, tu Jacó, a quem elegi descendência de Abraão, meu amigo.”

A partir destas três dimensões do conceito de eleição, pode-se demonstrar que este conceito não está restrito à temática da salvação, e sim, da soberania divina. Pensemos então na questão da eleição a partir de duas perspectivas básicas, a divina e a humana, e por fim esclareçamos aquilo que não é eleição para que se evite uma apropriação errônea dessa importante doutrina bíblica.

2. A capacidade de Deus eleger, escolher, convocar determinados indivíduos para eventos específicos revela-nos alguns atributos divinos:

2.1. Presciência. Sendo diretamente associada a onisciência (a capacidade de saber de todas as coisas), a presciência é a faculdade de saber antecipadamente como tudo irá acontecer, ou seja, Deus tanto entende tudo sobre todas as coisas que estão acontecendo agora, como sabe todas as possibilidades e consequências antes que estes aconteçam.

1ª Pedro 1.2 “Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.” (Outra ref. 1º Sm 23.1-13).

2.2. Onibenevolência. O Senhor, por saber tudo, é capaz de fazer sempre a melhor escolha e por sempre ser bom, sua escolha nunca se inclinará para o maligno ou para a produção de malignidade. Por isso, tudo o que Deus deseja é bom, perfeito e agradável.

Rm 12.2 “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.”

Assim, a eleição não é um instrumento para estabelecimento das arbitrariedades de um deus que age sem levar em consideração nada ou ninguém, ao contrário, a doutrina da eleição é uma garantia que temos de que — naquilo que depender exclusivamente de Deus — sempre receberemos o melhor possível.

2. A urgência da correspondência à dignidade da eleição. 1ª Pedro 1.9,10 “Alcançando o fim da vossa fé, a salvação das vossas almas.10- Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada.”

Pedro, exorta-nos a não desperdiçar a graça que nos foi concedida por meio da eleição em Cristo; antes, devemos viver de tal forma que aquilo que Jesus construiu em nós não seja destruído por nossas próprias ações tresloucadas (Hb 12.25-29). Há, desta forma, uma urgente necessidade de valorizarmos tudo o que vem de Deus para nossas vidas, cônscios de que o maligno deseja a todo custo afastar-nos da vocação de Cristo e que nós tanto podemos colaborar para que aqueles que ainda não compreenderam a riqueza da salvação de Deus possam percebê-la:

“Portanto, tudo sofro por amor dos escolhidos, para que também eles alcancem a salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna.” (2ª Tm 2.10).

Como devemos viver na expectativa da segunda vinda gloriosa do Mestre (Hb 9.28).

3. O que não é eleição. A Doutrina da Eleição não pode ser entendida como um instrumento perverso de Deus para selecionar alguns para a salvação eterna, enquanto outros serão aleatoriamente escolhidos para a condenação eterna. Como já dissemos anteriormente, Deus é um todo de bondade, jamais agiria de modo despótico. Por outro lado, a Eleição também não é um instrumento para justificar uma vida de pecados e descompromissada com Deus, pois fomos eleitos para a obediência e as boas obras: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” (Ef 2.10).

Assim, quem opta por uma existência de pecados e devassidão deve ser consciente das consequências eternas de suas escolhas:

Hb 6.4-6 “Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se fizeram participantes do Espírito Santo. 5- E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro. 6- E recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério.”

II. ARREPENDIMENTO E FÉ

1. O arrependimento como uma obra divina. Arrependimento, do grego metanoia — mudança de mentalidade — e do latim repoenitere — ter pesar de…, sentir muita mágoa por uma má ação —, é um dos conceitos centrais da fé cristã. Pode-se dizer que não existe relação com Cristo sem um prévio estabelecimento de um coração arrependido. A humanidade está terrivelmente afetada pelo pecado e pela desobediência (Tt 1.16). Desta forma, por si só, os filhos de Adão não conseguem compreender a graça de Deus que se manifestou em Cristo Jesus (Hb 2.10). A Bíblia Sagrada declara de maneira explícita que a fonte do arrependimento que implica a salvação é Deus (At 5.31; Rm 2.4; 2ª Tm 2.25). Desta maneira, como a salvação é um projeto divino oferecido para a humanidade (Tt 2.11), o arrependimento que é um pré-requisito para a salvação, também é uma possibilidade acessível a todos (At 17.30). Infelizmente, algumas pessoas, mesmo depois de experimentarem a vida transformada pela salvação garantida por Cristo no calvário e manifesta por meio do arrependimento, desprezam a graça e voltam a viver de modo cheio de vergonha e pecado (Hb 6.4-6).

2. A missão de Cristo: chamar pecadores ao arrependimento. Em inúmeras oportunidades Jesus de Nazaré declara que o objetivo central de seu ministério era levar pecadores ao arrependimento (Mt 9.13; Mc 2.17; Lc 15.7,10). É evidente que houve casos em que, apesar do chamado de Cristo, pecadores não se renderam (Jo 6.66). Não existe arrependimento automático, irreflexivo. A obra da salvação é divina, mas o pecado humano pode conduzir pessoas a estágios de desobediência tão grande que os levarão ao inferno (1ª Pe 4.17,18; 2ª Tm 3.2-5).

3. O conteúdo da mensagem evangélica. O grande problema da igreja contemporânea é o investimento de tempo, recursos e energia em atenção a situações e problemas que não são próprios de sua vocação. Nossa vocação é proclamativa (Mc 16.15)! Diante desta centralidade da pregação, uma outra pergunta surge naturalmente: qual deve ser o conteúdo de nossa evangelização? A resposta o próprio Senhor Jesus, já ressuscitado dá-nos em Lucas 24.47. O arrependimento não precisa ser apenas uma consequência de nossa pregação, mas também o próprio objeto de prática. Precisamos de menos pirotecnia gospel em nossos púlpitos, menos autoajuda ou pseudocoaching e mais Bíblia. Mais sermões sobre a necessidade de arrependimento e confissão de pecados, e menos discursos pré-fabricados que apenas procuram domesticar pecados.

O arrependimento é o único caminho para a manutenção de relacionamentos saudáveis; já que somos pecadores cheios de falhas, nossos relacionamentos estariam fadados ao fracasso, não fosse nossa capacidade de arrependermo-nos. Logo, para o desenvolvimento de uma vida comunitária feliz, o arrependimento precisa ser uma postura praticada e que tenha credibilidade. Da parte daquele que age de modo precipitado e fere a outros, exige-se a capacidade de mudança de atitude, isto é, a prática do arrependimento (At 2.38; 3.19). Já com relação àqueles que foram vítimas de ações desacertadas dos outros, o Senhor Jesus exorta-nos a perdoá-los, diante de seu genuíno arrependimento, ainda que seja necessário fazer isso inúmeras vezes num mesmo dia (Lc 17.3-5). Ser cristão é algo muito sério, não é algo para pessoas infantilizadas que só pensam em sua própria satisfação carnal.

III. REGENERAÇÃO

1. O que é regeneração. A palavra regeneração significa literalmente gerar algo que seja novo. Não é apenas um recomeço para aquilo/aqueles que já existem, e sim, uma nova oportunidade que o Criador concede a todos os seus filhos, através de Jesus Cristo. Refletir sobre essa poderosa obra de Deus em nosso favor leva-nos a um nível maior de compreensão do amor do Pai.

2. Características da regeneração na vida de uma pessoa. A compreensão daquilo que é a regeneração torna-se mais fácil de captar a partir do diálogo de Jesus com o erudito fariseu, Nicodemos, em João 3.1-12. Nesse texto, testemunhamos a dúvida do interlocutor de Jesus, que seria a de qualquer um de nós. Quando Jesus fala sobre a necessidade da regeneração (vv. 3,7) Ele utiliza-se da expressão “nascer de novo” que poderia ser traduzida como “nascer de cima”, numa tradução livre, “nascer noutro nível, num nível mais elevado”. Mas o que significaria exatamente isso? Nas palavras de Jesus, é muito mais que assumir uma série de comportamentos ou atitudes sociais, tem a ver com uma transformação radical que atinge a espiritualidade de uma pessoa (v. 6).

A regeneração não é aquilo que uma instituição faz na vida de uma pessoa, ou que a influência de outros indivíduos constrói em nossas opiniões e hábitos, a regeneração é a manifestação da salvação no interior de cada um de nós, operando em nosso ser — e tendo como exclusivas testemunhas nós mesmos (1ª Jo 5.18). Logo, a causa da regeneração é única: a ação do Eterno no interior daquele que teve o privilégio de conhecer a Cristo (1ª Pe 1.23). Somos novamente gerados, nascidos para outro nível de espiritualidade por meio da graça (Gl 4.24,28,31).

Apesar de a regeneração ser uma obra que ocorre no interior do nascido de novo, é possível apontar alguns elementos fundamentais que caracterizam essa operação de Deus em nossas vidas:

2.1. Quem passou pela experiência da regeneração vive na perspectiva do Espírito, por isso, consegue perceber e entender acontecimentos sob uma ótica que os não-regenerados, isto é, aqueles que vivem uma “vida natural” não conseguem atingir (Jo 3.8; 1ª Co 2.11-16).

2.2. O regenerado em Cristo reconhece a paternidade de Deus, por isso, identifica-se com as coisas que são do Criador e com tudo o que é do céu, isto é, de cima; assim ele vive como um morto entre os que vivem em pecado e como um vivo entre os que estão mortos em suas transgressões e delitos (Mt 10.39; Rm 14.8);

2.3. O regenerado consegue, porque vive a experiência da salvação; viver de modo absolutamente diferente (2ª Co 5.17). Neste texto, a prova da nova criação não é algo físico, e sim, um conjunto de consequências espirituais que, naturalmente, tem repercussões materiais.

CONCLUSÃO.

Estudar sobre a obra da salvação realizada por Jesus em nossas vidas é de extrema importância, pois ao pensarmos sobre como as ações de Deus foram previamente projetadas, podemos notar o quão maravilhoso é o amor de Salvador. Tendo recebido do Senhor o presente da salvação, cabe-nos a tarefa de afastar-nos todos os dias do caminho da maldade e desta forma, arrependimento não é apenas uma atitude, mas um estilo de vida para cada um de nós. Viva uma nova vida, viva a salvação!

Comentarista: Thiago Brazil. A salvação ofertada por Jesus Cristo. 1º Trimestre de 2020. CPAD, Rio De Janeiro RJ.


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