LEITURA
BÍBLICA
Efésios
1.3,4, 9-14
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com
todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, 4 - Como também
nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e
irrepreensíveis diante dele em amor, 5 - e nos predestinou para filhos de
adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade, 6
- para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no
amado. 7 - Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas,
segundo as riquezas da sua garça, 8 - que Ele tornou abundante para conosco em
toda a sabedoria e prudência, 9 - descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo
o seu beneplácito, que propusera em si mesmo, 10 - de tornar a congregar em
Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que
estão nos céus como as que estão na terra; 11 - nele, digo, em que também fomos
feitos herança, havendo sido predestinados conforme conforme o propósito
daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho de sua vontade, 12 - com o
fim de sermos para louvor da sua glória, nós os que primeiro esperamos em
Cristo; 13 - em quem também vós estais, depois que ouviste a palavra da verdade
o evangelho da vossa salvação; e, tendo também nele crido, foste selados com o
Espírito Santo da promessa; 14 - o qual é o penhor da nossa herança, para
redenção da possessão de Deus, para louvor da sua glória.”
INTRODUÇÃO
Nesta lição vamos abordar a grandeza, a
excelência e a perfeição do projeto divino para conceder bênçãos espirituais
aos seus escolhidos. Desde a eternidade, aprouve a Deus executar um plano de
restauração e reconciliação com a humanidade caída. Por isso que, na Carta, o
apóstolo Paulo se mostra profundamente agradecido pela revelação do mistério
que estivera oculto desde todos os tempos. Ele nos convida a louvar e a
glorificar a Deus pela sua bondade e misericórdia para com todos os pecadores.
I. A
NOVA POSIÇÃO EM CRISTO
No passado estávamos perdidos e condenados
à morte eterna, mas por sua infinita graça, Deus nos outorgou em Cristo o
privilégio da salvação.
1. A
Doxologia.
“[Do gr. doxa, glória + logia, palavra] Manifestação de louvor e enaltecimento
a Deus através de expressões de exaltamentos (Deus seja louvado! Aleluia!) e
hinos. A doxologia não pode vir desassociada da verdadeira adoração. Ela exige
adoração” (Dicionário de Teologia, CPAD, p.152).
Após expor os versículos de abertura da
Epístola (1.1,2), o apóstolo Paulo apresenta uma sequência de texto que se
caracteriza pela verdadeira adoração e bondade ativa de Deus (1.3-14). Ele
começa pela frase “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (v. 3),
onde “bendito” significa “digno de louvor”. O apóstolo dá sequência até o
versículo 14 por meio de um maravilhoso tributo ao Eterno e suas muitas bênçãos
concedidas aos homens. Nesse trecho bíblico trata-se de um hino teológico de
gratidão, caracterizado pela repetição do seguinte refrão: “Para louvor e
glória da sua graça" (v. 6) ou “para louvor da sua glória” (vv. 12,14).
Aquele ao qual devemos adorar está identificado na expressão “Deus e Pai de
Jesus Cristo”, uma clara referência à Santíssima Trindade com ênfase na
natureza divina de Jesus, seu Filho.
2.
As bênçãos espirituais. Obviamente que as bênçãos espirituais não são materiais,
mas provenientes dos “lugares celestiais”, isto é, do reino espiritual. Essas
bênçãos são mencionadas na longa passagem de Efésios (1.3-14), tais como:
2.1. Deus nos elegeu para sermos santos
(1.4);
2.1. Predestinou-nos para sermos filhos
(1.5);
2.3. Nos fez agradáveis para si (1.6);
2.4. Remiu-nos por meio do sangue de
Cristo (1.7);
2.5. Acolheu-nos por sua vontade redentora
(1.8-12);
2.6. Revelou-nos a Palavra da verdade
(1.13a);
2.7. Selou-nos com o Espírito Santo da
promessa (1.13b);
2.8. Ainda garantiu a validade da promessa
(1.14).
Tais bênçãos provêm de Deus, que planejou
a redenção; do Filho, que a realizou; e do Espirito Santo, que a garante. Essas
bênçãos nos conduzem a exclamar como Paulo: “Bendito Seja Deus!”
Paulo ressalta, no introito da carta aos
efésios, que a salvação nos traz bênçãos espirituais. A salvação garante-nos
todas as bênçãos espirituais em Cristo. No entanto vemos hoje dentro de muitas
igrejas, o mercantilismo está sendo disseminado em larga escalas o qual foi
condenado por Jesus (Mt 21.13). Porém, certos líderes numa corrida desenfreada
pelas bênçãos materiais, aproveitam os incautos na fé e fazer da casa de Deus. O
mercantilismo religioso dentro de algumas igrejas chamadas evangélicas
sobrepõem-se às indulgências da idade média. A forma pela qual se utilizam da Palavra
de Deus para conseguirem benefícios financeiros é vergonhosa. São pessoas sem
temor a Deus que transformam a igreja numa empresa de negócios, colocando-a
numa dinastia. Esses escândalos se multiplicam no mundo inteiro, principalmente
no Brasil. Eles acumulam fortunas e formam verdadeiros impérios econômicos pela
exploração da fé. Esses fundadores se apegam ao dinheiro e ao poder, pregam falsas
doutrinas, falsas promessas (culta da benção, da vitória, da fé, da casa
própria, do carro novo etc), e enganam os seguidores com um falso evangelho.
Eles se infiltram no meio das igrejas para satisfazerem suas vaidades, e
usurpam escandalosamente as doutrinas de Deus. São pessoas desprovidas de
entendimento espiritual, analfabetas das escrituras. Oferecem migalhas aos
famintos de seus sonhos, visões e revelações.
Eles estão atrás de vaidade e riqueza, em
vez de buscarem a glória de Deus e a salvação dos perdidos.
Lamentavelmente, a igreja está sendo mais
conhecida na mídia pelos seus escândalos do que pela sua conversão espiritual.
3. A
nova condição. A
expressão “em Cristo” significa que somos abençoados com toda bênção
espiritual, a partir de Sua pessoa e obra realizada no calvário (Jo 1.3; Hb
5.9; 9.12); relaciona-se ainda com a nossa experiência de conversão a Ele (2 Co
5.17). Essa nova vida é conferida somente para quem está “em Cristo”, isto é, o
oposto da antiga vida “em Adão” escravizada pelo pecado (Rm 5.11-15). Desse
modo, não andamos mais em trevas, mas como filhos da luz (Rm 5.8). Portanto,
nossa nova posição é caracterizada pela salvação “em Cristo” e, por isso,
desfrutamos de todos os benefícios advindos dessa redenção.
II.
AS BÊNÇÃOS ESPIRITUAIS DE DEUS, O PAI
- Dando continuidade ao estudo da carta de
Paulo aos efésios, estudaremos a passagem de Ef 1.3-14, em que temos um
verdadeiro hino que o apóstolo compõe para a Santíssima Trindade, em gratidão
pelas bênçãos espirituais decorrentes da salvação na pessoa de Jesus Cristo.
1. -
A objetivo do louvor.
Ao iniciar sua carta com um hino, que é uma composição literária em que se
louva alguém ou algo, o apóstolo mostra claramente que o resultado da salvação
é nos dar condições de adorar e louvar ao Senhor, que, afinal de contas, é o
que iremos fazer quando alcançarmos a glorificação, o último ato do processo da
salvação, como nos dá conta o texto de Ap 5.8-14.
- O hino se inicia com uma palavra de
enaltecimento de Deus, o Pai, o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, a nos
revelar, uma vez mais, como deixamos claro no término da primeira lição, que a
crença na Triunidade Divina é essencial para a salvação. Se a graça e a paz vêm
do Pai e do Filho, também aqui há um louvor dirigido ao Pai, que é bendito
porque nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em
Cristo (Ef 1.3).
- A obra salvífica de Jesus fez-nos voltar
a ter amizade com Deus, pôs-nos, novamente, em comunhão com o Criador, e, por
isso mesmo, agora somos alvos das bênçãos divinas. O pecado trouxe maldição (Gn
3.14-19), maldição que não pôde ser eliminada pela lei (Gl 3.10), mas, agora,
em virtude da obra consumada por Cristo Jesus, somos agora abençoados. Aleluia!
- Estamos em comunhão com o Senhor e, por
isso mesmo, somos atingidos pelas bênçãos, pois quem está com o Abençoador tem
pleno acesso às bênçãos. Eis uma realidade que, infelizmente, muitos não têm
ainda entendido.
- Muitos hoje estão atrás das bênçãos,
querendo apenas os benefícios do Evangelho, esquecendo-se de que as bênçãos vêm
do Abençoador e que, portanto, não há sentido algum em querer bênçãos e não ter
acesso ao Abençoador.
- Paulo deixa claro que Deus, o Pai nos
abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo, ou
seja, a bênção exige que tenhamos uma posição certa, que é estar em Cristo, por
meio do qual nós conseguimos a unidade com o Pai (Jo 17.20,21).
2.
Quando estamos em comunhão com o Abençoador, o acesso às bênçãos é pleno. Somos abençoados com
todas as bênçãos. Assim, embora seja claro que Deus abençoa a todos os homens,
por força daquilo que se denomina de “graça comum”, já que Deus faz que o sol
se levante sobre maus e bons e dá a chuva tanto para justos como para injustos
(Mt.5:44). Entretanto, quem está em Cristo, tem comunhão com Ele e, portanto,
acesso a todas as bênçãos espirituais.
- Bem se vê, pois, que o caminho traçado
pelo apóstolo é bem diferente do que muitos andam fazendo em nossos dias,
enganando e sendo enganados por homens maus (2ª Tm 3.13), achando que estão em
boa situação quando são alvo da graça e misericórdia divinas, recebendo algumas
bênçãos e, quase sempre, bênçãos materiais, agindo como aqueles nove leprosos
que, embora tenham sido curados, não obtiveram a salvação (Lc 17.11-19).
- E, por falar em qualidade das bênçãos, o
apóstolo também faz questão de nos informar que o Pai nos abençoa com todas as
bênçãos espirituais, ou seja, a prioridade da bênção divina diz respeito à vida
espiritual das pessoas, ao que diz respeito ao nosso relacionamento com o
Senhor e à vida eterna, não as coisas passageiras e corriqueiras desta vida,
desta nossa peregrinação terrena (1ª Pe 1.17).
3. A
salvação garante-nos todas as bênçãos espirituais. É verdade que a
salvação nos traz, também, bênçãos materiais, mas elas são secundárias e, o que
é muito importante, não há qualquer passagem bíblica que indique que elas estão
garantidas em virtude da salvação. A garantia dá-se única e exclusivamente com relação
às bênçãos espirituais e, mesmo assim, se houver, por parte dos salvos, desejo,
insistência e persistência no pedido por elas (Mt.7:7-11; Lc.11:9-13), bem como
fé para obtê-las (Tg.1:6).
- Estas bênçãos espirituais, como diz o
pastor Elienai Cabral, “…são as bênçãos da salvação que Deus preparou para a humanidade
antes de todos os séculos…” (Lições Bíblicas – jovens e adultos – 4º trim. 1999.
Efésios: a igreja nos lugares celestiais – aluno – p. 8).
4. A
primeira destas bênçãos é a eleição. O apóstolo Paulo diz que Deus, o Pai nos
elegeu em Cristo antes da fundação do mundo (Ef 1.3). Esta já é uma
demonstração de que a salvação tem origem divina e que, portanto, é eterna,
pois não está sujeita ao tempo, tempo que é uma característica deste universo
físico, da criação e, como a salvação é anterior ao próprio universo, temos que
é ela eterna, como, aliás, explicitamente dizem as Escrituras (Is 45.17; Hb 5.9).
- Na “eternidade passada”, o Senhor,
sabendo que o homem iria pecar, resolveu, dentro de Sua soberania, de Sua
condição de Ser supremo, salvar o homem, elaborando um plano para que isto se
fizesse, salvação que se daria por intermédio de Jesus Cristo, a Pessoa do
Filho, o Verbo por meio do qual tudo seria criado (Jo 1.1-3).
- Como ensina o pastor Elienai Cabral,
consultor teológico da Casa Publicadora das Assembleias de Deus: “…A palavra
‘elegeu’ indica que Deus, por Sua presciência, elegeu ou escolheu um povo
especial para pôr em prática o Seu propósito no mundo. (…). Sua escolha ou
eleição não tem nada a ver com discriminação. Não significa que Deus não queira
que todos se salvem. O propósito da salvação é universal mas Deus sabia que nem
todos se salvariam, uma vez que o ser humano é dotado de livre escolha quanto
ao seu destino…” (op.cit., p. 8).
- Usando de Sua soberania, Deus, antes
mesmo de criar o mundo, resolveu que salvaria o homem que haveria de criar à
Sua imagem e semelhança. Assim, escolheu Ele quem iria salvar (o ser humano) e
como iria salvar, ou seja, por meio de Jesus Cristo, o Verbo Divino, que Se
faria humano e assumiria o lugar do homem, pagando a justiça de Deus e, assim,
demonstrando a todos, em especial ao homem, que Deus é amor.
- É este o real significado da eleição e
não, como ensinam equivocadamente os calvinistas, de que a eleição é a escolha
por Deus de indivíduos que serão salvos, enquanto outros já estarão previamente
destinados à condenação.
- Este pensamento trazido pelos
calvinistas não tem respaldo bíblico. A prévia escolha de Deus para salvar uns
e não outros contraria o fato de que Deus não faz acepção de pessoas, algo que é
repetido em diversas passagens bíblicas: Dt 10.17; 2º Cr 19.7; Jó 34.19; Is 47.3;
At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; Cl 3.25; 1ª Pe 1.17.
- Como se isto fosse pouco, a Bíblia
Sagrada considera que a acepção de pessoas é pecado (Ml 2.9; Tg 2.1,9), de modo
que quem considera que a eleição é a prévia escolha de indivíduos para a
salvação ou para a perdição está imputado a Deus um pecado, o que é um rotundo
absurdo!
- Também há de se verificar que, se a
eleição fosse a prévia escolha de alguns para salvação e outros para perdição
se teria a constatação de que Deus não quis salvar todos os homens, mas é
exatamente o oposto que ensina a Palavra de Deus. É claríssimo que Deus ama a
todos os homens (Jo 3.16) e que quer que todos eles se salvem (Ez 18.23; 33.11; 1ª Tm 2:4).
- Deus escolheu todos os homens para serem
salvos, mas, como lhes deu o livre-arbítrio, cabe a cada ser humano escolher
entre se salvar ou não (Dt 30.19; Js 24.15; Mt 16.24; Mc 8.34; Tg 4.4; Ap 22.17),
de modo que nem todos se salvam (Rm 10.16), sendo verdadeiro que são poucos os
que salvam (Lc 13.23,24), mas não porque Deus assim tenha querido, mas por
opção do próprio ser humano.
- Deus escolheu salvar o homem, mas isto
não significa, como equivocadamente ensinam os chamados “universalistas”, que
todos serão salvos. Acabamos de ver a Bíblia dizendo que haverá os que se
perderão, e que, inclusive, serão a maioria. Isto porque, a eleição é
condicional, ou seja, é necessário que a pessoa creia em Cristo para alcançar a
salvação querida por Deus, pois Deus não escolheu apenas salvar o homem, mas que
a salvação dependeria da fé em Jesus. Como afirma o teólogo Henry Clarence
Thiessen (1883-1947): “Por eleição, entendemos aquele ato soberano de Deus em
graça, pelo qual Ele escolheu em Jesus Cristo para salvação todos aqueles que
de antemão sabia que O aceitariam…” (Palestras introdutórias à Teologia Sistemática,
p.261 apud TITILLO, Thiago. Eleição condicional, p.18).
- Como ensina o saudoso pastor Antonio
Gilberto: “…Eleição divina é, pois, a nossa escolha para a salvação, feita por
Deus. Nós, pecadores por natureza, não sabemos escolher, mas o Senhor nos
escolhe (Jo 15.16). (…). E claro que a eleição, em si, não implica salvação (1ª
Ts 2.13; 1ª Pe 1.2). (…). A escolha divina ocorre da maneira como é descrita em
1ª Tessalonicenses 1.4-10. Ela se dá pelo recebimento do evangelho, pela fé, e
permanência em Cristo, mediante a santificação daqueles que se convertem dos
ídolos ao Deus vivo e verdadeiro, a fim de servi-lo “e esperar dos céus a seu
Filho, a quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira
futura’ (v. 10). Deus não elege uns para a salvação, e outros, para a perdição.
O homem é capaz de fazer a livre-escolha. E a graça de Deus não é irresistível,
como muitos ensinam, valendo-se do falacioso chavão ‘Uma vez salvo, salvo para
sempre’. (Teologia sistemática pentecostal, pp. 366-7).
- A Declaração de Fé das Assembleias de
Deus afirma que “…Deus elegeu a Igreja desde a eternidade, antes da fundação do
mundo [Ef 1.4], segundo a Sua presciência [1ª Pe 1.2; 2ª Ts 2.13]. O Senhor
estabeleceu um plano de salvação para toda a humanidade: ‘em esperança da vida
eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos
séculos’ (Tt 1.2); pois essa é a Sua vontade [1ª Tm 2.3,4]. Assim como Deus não
elegeu uma nação já existente, mas preferiu criar uma nova a partir do
patriarca Abraão[Gn 12.2], o Senhor Jesus Cristo, da mesma
forma, criou um novo povo formado por judeus e gentios: ‘o qual de ambos os povos
fez um’ (Ef 2.14)…” (cap.XI.3, p.121).
- Esta eleição, ademais, tem um propósito,
qual seja, a de sermos santos e irrepreensíveis diante d’Ele em amor. Deus quer
nos salvar porque quer que sejamos santos, ou seja, vivamos separados do pecado
e em comunhão com Ele, tendo uma vida irrepreensível, ou seja, que não seja
censurada nem reprovada nem pelo Senhor nem pelos homens, exercendo o amor a
Deus e o amor ao próximo.
- Veja, pois, que o objetivo da eleição é
a santidade e o amor, não se podendo, pois, desprender eleição de santidade ou
eleição da prática do amor. Se alguém não vive em santidade ou não pratica o
amor não pode se considerar um salvo, porque o propósito da escolha é que se
alcance santidade e amor. Bem aí se vê que não faz sentido algum dizer que
alguém pode pecar à vontade pois, se “é eleito”, no final alcançará a salvação.
Ora, como poderia Deus escolher salvar para que alguém seja santo e
irrepreensível diante d’Ele em amor e permitir que alguém seja um devasso
durante toda a sua peregrinação terrena e, mesmo assim, tenha a vida eterna?
Seria, então, Deus contraditório? Evidentemente que não!
- A segunda bênção da salvação dada pelo
Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo é a predestinação. O apóstolo diz que Deus, o
Pai nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo para Si mesmo,
segundo o beneplácito de Sua vontade, para louvor e glória da Sua graça, pela
qual nos fez agradáveis a Si no Amado (Ef 1.5,6).
- Temos aqui mais um motivo de
controvérsia entre os estudiosos das Escrituras. Predestinação “…é o nosso predestino.
(…). A salvação não é um decreto divino, pois isso seria um fatalismo cego e
impróprio atribuído a Deus. (…) um exame atento e livre de preconceito da
Palavra de Deus mostra que, através da obra redentora de Jesus, Deus destinou
de antemão (predestinou) todos os homens à salvação: “quem quiser, tome de
graça da água da vida” (Ap 22.17; Is 45.22; 55.1; Mt 11.28,29; 2ª Co 6.2; 1ª Tm
2.4). De acordo com João 12.32, todos podem ser atraídos a Cristo. Mas nem
todos querem seguir a Cristo. (…). O Senhor predestinou à salvação todo aquele
que aceitar a Jesus. A própria aceitação já é um dom de Deus, para que ninguém
se glorie julgando que assim contribuiu para a sua salvação.…” (op.cit., pp. 368-71).
- A predestinação, portanto, é condicional
à nossa escolha e esta escolha é possível ao homem, não porque tenha ele
vontade livre, pois está morto em seus delitos e pecados (Ef 2.1), mas porque
Deus dá a Sua graça para nos permitir fazer esta escolha, a chamada “graça
preventiva” ou, ainda, “graça suficiente”.
A graça suficiente é como um carro que
saiu da concessionária com combustível suficiente apenas para chegar ao posto
de gasolina, mas não até o destino final, portanto, apenas para iniciar o
caminho de conversão, mas não para chegar à santidade. A graça suficiente age
no homem para realizar a conversão do filho pródigo narrada no Evangelho de São
Lucas, capítulo 15. Ele pensa: “pequei contra Deus e contra o meu pai, vou
voltar para casa.” A partir dessa tomada de consciência, da graça suficiente
que toca o coração humano, ele deve pedir, suplicar, implorar pela graça
eficaz, aquela que é capaz de agir em seu coração, capacitando-o a vencer o
pecado no dia a dia.…” (AZEVEDO JÚNIOR, Paulo Ricardo de. O que é o
pelagianismo? Disponível em: https://padrepauloricardo.org/episodios/o-que-e-o-pelagianismo
Acesso em 30 jan. 2020).
- A predestinação, assim como a eleição,
tem um propósito, qual seja, fazer-nos filhos de Deus por adoção, tornando-nos,
assim, irmãos de Jesus Cristo. Isto implica que, para chegarmos aos céus, que é
o destino daqueles que creem em Jesus, temos de nos conformar à imagem de
Cristo (Rm 8.29,30), pois passamos a ser Seus irmãos e, como tal, participantes
de Sua natureza, semelhantes a Ele. A predestinação, pois, também exige a
santificação. Lembre-se, este navio está nos levando aos céus e, a cada dia,
mais próximos do destino temos de estar…
- Assim, não há como se entender que
alguém que seja predestinado à salvação possa ter uma vida toda de pecado e, no
último instante da vida, obtenha a salvação por causa de um “decreto divino”,
decreto este que permita que alguém jamais se pareça com Cristo durante a sua
peregrinação terrena, possa morar nas mansões celestiais...
- Esta predestinação também tem como
propósito o louvor e a glória da graça de Deus, pois é a Sua graça que nos faz
agradáveis a Si em Cristo, ou seja, fica aqui evidente que esta eleição e
predestinação é um favor imerecido que o Pai dá aos seres humanos, não tem
relação alguma com méritos ou obras humanas. É a graça de Deus que nos faz
agradáveis a Ele e em Cristo, no Amado.
- Sobre a eleição e predestinação,
haveremos de nos deter um pouco mais na próxima lição, já que muito se tem
discutido a respeito, notadamente em virtude de uma verdadeira “invasão calvinista”
que se tem verificado em meio a nossas igrejas locais ultimamente.
III.
AS BÊNÇÃOS ESPIRITUAIS DE DEUS, O FILHO
- Como afirma o pastor presbiteriano
Hernandes Dias Lopes: “…O apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, fala
da procedência trinitariana das bênçãos que a igreja recebe. Curtis Vaughan diz
que, no texto grego, os versículos 3-14 constituem um sublime período, cujos
elementos são entrelaçados e habilmente reunidos. A fim de auxiliar o leitor a
não perder a conexão do pensamento, a versão King James põe um ponto final
depois dos versículos 6, 12 e 14. De acordo com essa pontuação, lê-se em três
estrofes o inspirado hino de Paulo. A primeira (v. 3-6)
relaciona-se com o passado, tendo o misericordioso plano do Pai como centro. A
segunda (v. 7-12) relaciona-se com o presente e gira em torno da obra redentora
de Cristo. A terceira (13-14) aponta para a futura consumação da redenção e
exalta o ministério do Espírito Santo…” (Efésios: Igreja, a noiva gloriosa de
Cristo, pp. 16-7).
- Assim, ao falar da salvação, o apóstolo
faz questão de atribuir a cada uma das Pessoas Divinas algumas das bênçãos
espirituais, mostrando, mais uma vez, que a Triunidade Divina é uma realidade
expressa nas Escrituras e que a salvação, obra da Santíssima Trindade, exige o
reconhecimento deste mistério divino.
- Tendo atribuído ao Pai as bênçãos da
eleição e da predestinação, Paulo diz que a primeira bênção trazida pelo Filho,
o Amado, é a redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as
riquezas da Sua graça (Ef 1.7).
- A redenção é a compra da nossa salvação,
o pagamento do preço dos nossos pecados por meio do derramamento do sangue de
Jesus Cristo na cruz do Calvário. A figura da redenção é a figura do pagamento
de um preço para aquisição de um escravo, a fim de que possa libertá-lo.
OBS: Como ensina o pastor Antonio Gilberto
(1927-2018): “…Nos dias bíblicos, redenção é a libertação de um escravo,
mediante um resgate - gr. lytron
(este termo aparece em Mateus 20.28) —, além de retirar esse escravo do mercado
de escravos, para não mais ficar exposto à venda. Redenção sempre requer o
preço a ser pago para garantir a liberdade do escravo.…” (Teologia sistemática
pentecostal, p. 354).
- Diante do pecado, os homens estavam
perdidos, pois nem todos os bens existentes no universo físico podem pagar o
preço de uma só pessoa (Sl 49.6-8). Mas, o Senhor Jesus, ao morrer por nós,
pagou este preço, tanto que exclamou na cruz: “Está consumado” (Jo.19:30), cujo
significado outro não é que “Está quitado”, “Está pago”.
- Ao morrer por nós na cruz, Jesus nos
comprou. Paulo diz que fomos comprados por bom preço (1ª Co.6.20; 7.23), preço
altíssimo, que foi o preço do sangue de Cristo (1ª Pe 1.18-20). Por isso, o
salvo é propriedade de Jesus (1ª Co 130)., não podendo, pois, fazer o quer, mas
apenas o que manda o seu Senhor. Não pode se fazer servo dos homens, muito
menos de suas próprias vontades. Como afirma a Declaração de Fé das Assembleias
de Deus, “…o propósito da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo ao mundo foi a
redenção de todos os pecadores [1ª Tm 1.15]…” (IV.4,
p. 52), “…Sem a Sua morte, não haveria redenção: ‘E, sendo Ele consumado, veio
a ser a causa de eterna salvação para todos os que Lhe obedecem’ (Hb 5.9)…” (V,
p. 59).
- É importante observar que, em Cristo,
obtemos a remissão das ofensas, isto é, o perdão dos pecados, não por méritos
que tenhamos, mas pela Sua graça. Assim sendo, a obra redentora de Jesus é
suficiente para o perdão dos nossos pecados. Seu sacrifício é perfeito
(Hb.10:10-14), de modo que não há porque crermos que algo precise ser feito,
fora de Cristo, para termos a salvação, como, por exemplo, indulgências para
que seja retirada a “pena temporal” dos pecados, ou seja necessária a remoção
de “maldições hereditárias”. A remissão das ofensas é uma bênçãos espiritual
que alcança aquele que está em Cristo, que se torna nova criatura (2ª Co 5.17).
- A redenção permite que passemos a
desfrutar da graça de Deus, de forma abundante, em toda a sabedoria e prudência.
A graça de Deus não é mesquinha, não é dada de conta-gotas, mas, sim, é
abundantemente concedida a todos que passam a estar espiritualmente nos lugares
celestiais em Cristo.
- O apóstolo, mesmo, em outro texto,
afirma que, onde abundou o pecado, a graça superabundou (Rm 5.20). Temos,
portanto, com a graça de Deus a vida abundante prometida pelo Senhor Jesus aos
Seus discípulos (Jo 10.10). Esta superabundância da graça é acompanhada pela fé
e pelo amor que há em Jesus Cristo (1ª Tm 1.14).
- Bem se vê, portanto, que a vida
abundante decorrente da graça que, por sua vez, proporcionou a nossa redenção,
muito pouco tem a ver com aspectos materiais e, menos ainda,
econômico-financeiros, como tem sido propalado, em nossos dias, pelos
pregadores das famigeradas teologias da prosperidade e da confissão positiva.
- É realidade que, como afirma a
Declaração de Fé das Assembleias de Deus, “…A Bíblia mostra que a obra redentora
de Cristo incluiu também o corpo: ”Gememos em nós mesmos, esperando a adoração,
a saber, a redenção do nosso corpo’ (Rm 8.23)…” (XXI, p. 179), mas isto não
significa em absoluto que haja preponderância deste aspecto no conceito de
“vida abundante” que é, de forma muito feliz, descrita pelo poeta sacro
traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão, no hino 374 da Harpa Cristã como
sendo “vida de pureza e santidade para amarmos a Deus em verdade pela graça que
Ele nos deu”, “vida de amor que o Pai nos tem dado em Jesus, o Seu Filho amado,
cuja vida por nós derramou”, “vida de Jesus, a veraz fortaleza, que nos dá do
perdão a certeza e nos enche de consolação”.
- A graça que nos é dada abundantemente
faz-nos agir com sabedoria e prudência. Jesus foi feito sabedoria para nós por
Deus (1ª Co 1.30) e não é por outro motivo que o temor do Senhor é o princípio
da sabedoria (Sl 111.10; Pv 9.10). Tendo atendido ao convite do Senhor e
iniciado o caminho da salvação, somos envolvidos pela sabedoria e pela
prudência, que outra coisa não é senão a ciência do Santo (Pv 9.10). Não é por
outro motivo, aliás, que, no livro de Provérbios, o sábio não é nada mais, nada
menos que o próprio servo de Deus, o salvo.
- A redenção permite-nos conhecer e saber
das coisas espirituais e, assim, descobrimos que a vontade de Deus é tornar a
congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, ou
seja, restaurar a unidade que havia entre as dimensões espiritual e física
antes que houvesse a entrada do pecado na humanidade.
- A segunda bênção espiritual relacionada
ao Filho é a herança. Em Cristo, somos feitos herança, havendo sido
predestinados conforme o propósito d’Aquele que faz todas as coisas, segundo o
conselho da Sua vontade, com o fim de sermos para louvor da Sua glória, nós os
que primeiro esperamos em Cristo, em quem também nós estamos, depois que
ouvimos a palavra da verdade, o evangelho da nossa salvação (Ef 1.11,12).
- Nós agora somos “herança”. Esta unidade
que Cristo proporcionará, reunindo em Si todas as coisas, já é sentida pelo
salvo, pois ele, a um só tempo, é feito herança de Deus e, também, é herdeiro
de Deus e coerdeiro de Cristo (Rm 8.17). Assim, como nos diz Pedro, cada salvo tem
uma herança incorruptível, incontaminável e que não se pode murchar, guardada
nos céus para nós (1ª Pe 1.4), o que fez, por exemplo, o comentarista bíblico
Matthew Henry (1662-1714), afirmar, ao comentar Ef 1.11: “…O céu é visto como uma
herança, como um presente do Pai para os Seus filhos…” (Comentário bíblico
completo – Novo Testamento: Atos a Apocalipse. Trad. de Luiz Aron, Valdemar
Kroker e Haroldo Janzen, pp.579-80).
- No entanto, Paulo aqui ressalta que nós
mesmo somos feitos herança e é bem por isso que o próprio Cristo nos
apresentará ao Pai, dizendo sermos nós os filhos que Lhe foram dados (Hb.2:13),
o que nos permite concluir que teremos acesso, pelo triunfo de Cristo, à Sua
posição nos céus (Ap 3.21), pois seremos semelhantes a Ele e como Ele é o
veremos (1ª Jo 3.1,2).
- Jesus, embora tenha nos comprado e Se
tornado Nosso Senhor, levar-nos-á a uma condição de Seu consorte, de Seu
cônjuge, pois a Igreja será a Sua mulher we, por isso, será ela revestida de
glória para estar para sempre com o Senhor, num grande mistério (Ef 5.25-27,32).
- Ser herança é o predestino daquele que
crê em Jesus Cristo. Novamente, aqui, o apóstolo fala em predestinação,
predestinação esta que é antecedida pelo fato de termos ouvido o Evangelho da
salvação, a Palavra da verdade (Ef 1.13).
- Notamos, pois, que não há como se
alcançar a salvação sem que se creia no Evangelho. Foi o que disse o Senhor
Jesus ao iniciar a Sua pregação durante o Seu ministério terreno:
Arrependei-vos e crede no Evangelho (Mc 1.15).
- Se é verdade que tudo se faz pela graça
de Deus, não é menos verdadeiro que esta salvação somente chegará aos homens se
houver a pregação do Evangelho: “…E como crerão n’Aquele de quem não ouviram? E
como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10.14).
- Somos fomos feitos herança porque
ouvimos e cremos no Evangelho. Não se pode admitir, portanto, que um salvo
genuíno seja alguém que não dê importância à evangelização. A vontade de Deus é
que todos se salvem e a salvação depende da pregação do Evangelho. Como alguém
pode se dizer participante da natureza divina se não se preocupa com a
evangelização? Se não participa da evangelização?
- Muitos estão a se enganar por aí dizendo
que a “evangelização” é um “dom”. Não há coisa alguma nas Escrituras que afirme
algo como isto. Pelo contrário, quando o Senhor Jesus determinou que fôssemos
Suas testemunhas desde Jerusalém até os confins da Terra, fê-lo quando estava
reunida toda a Igreja (At 1.8; 1ª Co 15.6).
- Tanto assim é que, após a dispersão dos
discípulos com a perseguição que se seguiu à morte de Estêvão, os discípulos em
geral, e não os apóstolos, é que propagaram a mensagem do Evangelho na Judeia,
Galileia e Samaria, e, posteriormente, em outros lugares (At 8.4; 11.19-21).
- Muitos, na atualidade, estão muito
preocupados em envolver as igrejas locais em movimentos sociais, políticos e
culturais, a fim de que, com a perspectiva de melhoria das condições de vida,
se tenha um ambiente favorável à evangelização. Entretanto, cumpre-nos observar
que tal comportamento é completamente equivocado. O que devemos fazer é levar o
Evangelho da salvação, a Palavra da verdade ao conhecimento daqueles que esperam
a salvação.
- Muitos querem ter multidões em seus
templos, em seus ministérios, em suas organizações, e, para isso, buscam, a
todo instante, criar motivos para que haja a aglomeração de pessoas mas não é
este o propósito de Cristo para nossas vidas. Ele quer nos fazer herança e
somente seremos herança se ouvirmos o Evangelho da salvação, a Palavra da
verdade.
- Os missionários pioneiros das
Assembleias de Deus no Brasil tinham plenamente esta consciência, tanto que a
primeira mensagem que pregavam era a de que “Jesus salva”. Por isso, deram
nascimento àquela que, mais de 100 anos depois, ainda é a maior denominação
evangélica de nosso país.
- No entanto, é nítido vermos que esse
impulso evangelístico está hoje perdendo o seu vigor de forma preocupante. É
tempo de acordarmos, porque estamos na última hora e é dos trabalhadores deste
período final que o Senhor aguarda maior comprometimento.
- O apóstolo também mostra que a Palavra
da verdade é o Evangelho da salvação. Este evangelho tem sido também deixado de
lado em muitas igrejas locais, para vergonha nossa. Hoje, estão muitos a pregar
outros evangelhos, que não são o Evangelho, como bem explica o apóstolo Paulo
em Gl 1.6,7.
- Em vez do Evangelho da salvação, estão a
pregar, como bem ensina o pastor Ciro Sanches Zibordi em sua obra “Evangelhos
que Paulo jamais pregaria”, o “evangelho empirista”, evangelho focado em
sinais; o “evangelho antropocêntrico”, aquele focado no ser humano; o
“evangelho da prosperidade”, o evangelho focado nos bens materiais; o
“evangelho ecumênico”, o evangelho focado em buscar a simpatia do mundo e que adota uma “linguagem politicamente
correta”; o “evangelho teologicoêntrico”, focado nos pensamentos teológicos em
detrimento das Escrituras; o “evangelho filosófico”, o evangelho racionalista,
materialista e naturalista; o “evangelho farisaico”, focado em dogmas humanos e
o “evangelho do entretenimento”, focado em diversões e momentos de catarse
emocional.
- Somos feitos herança quando é pregado o
Evangelho da salvação, a Palavra da verdade. Todos os demais evangelhos,
pregados por gente que o apóstolo Paulo diz serem anátemas, ou seja, pessoas amaldiçoadas,
jamais poderão trazer bênçãos espirituais a quem os ouve e neles creem. Pensemos
nisto!
IV.
AS BÊNÇÃOS ESPIRITUAIS DE DEUS, O ESPÍRITO SANTO
- O Pai deu-nos a eleição e a
predestinação; o Filho, a redenção e a herança. Quais as bênçãos espirituais proporcionadas
pelo Espírito Santo?
- A primeira bênção espiritual mencionada por
Paulo e atribuída à Pessoa do Espírito Santo é o selo. Diz o apóstolo que, por
termos crido em Jesus, somos selados com o Espírito Santo da promessa (Ef 1.13).
- Notemos, de pronto, que o selo do
Espírito Santo da promessa é consequência direta de nossa fé em Jesus, ou seja,
está relacionada com a salvação e nada tem que ver com o batismo com o Espírito
Santo, com o revestimento de poder.
- Quando somos salvos, recebemos o
Espírito Santo. João deixa-nos claro isto ao dizer que, quando Jesus afirmou,
no último daquela Festa dos Tabernáculos, que quem tivesse sede viesse a Ele e
bebesse, porque quem cresse n’Ele rios de água viva correriam de seu ventre,
disse a respeito do Espírito Santo que haviam de receber os que n’Ele cressem,
o que só podia ocorrer quando Ele fosse glorificado (Jo 7.37-39), o que, efetivamente,
ocorreu na tarde do domingo da ressurreição, quando o Senhor Jesus soprou sobre
os discípulos e disse que eles estavam a receber o Santo Espírito (Jo 20.19-22).
- Portanto, quem crê em Jesus Cristo, quem
é salvo recebe, “ipso facto”, o Espírito Santo, passa a ser estar em nós,
habitar conosco (Jo 14.17). Nós nos tornamos “templo do Espírito Santo” (1ª Co
6.19) e, em virtude disso, não somos mais de nós mesmos, mas passamos a
pertencer ao Senhor.
- Este selo, aliás, nada mais é que a
“marca da propriedade” de Deus em nós. Quem tem o Espírito Santo, por ter crido
em Cristo, passa a ser propriedade do Senhor e, por isso mesmo, não mais vive,
mas é Cristo que vive nele (Gl 2.20), tanto é assim que passa a produzir um
outro fruto, não mais as obras da carne (Gl 5.19-21), que eram realizadas antes
da salvação, resultado da natureza pecaminosa e maligna que existia, mas,
agora, produz o fruto do Espírito (Gl 5.22), pois nasceu de novo (Jo 3.3,5), é
uma nova criatura (2ª Co 5.17).
- A habitação do Espírito Santo é o grande
diferencial entre o que é salvo e o que não no é. Jesus disse que quem é do
mundo não pode receber o Espírito Santo (Jo 14.17). Para que o Espírito Santo
venha ao ser humano, necessário se faz que os pecados sejam retirados e isto
somente ocorre na vida daquele que Jesus é Senhor e Salvador. Por isso, é bem
possível que, no meio da igreja local, do grupo social, haja pessoas que se
introduziram no meio dos salvos, mas não têm o Espírito (Jd 17-19) ou pessoas
que, já tendo recebido o Espírito Santo, por apostatarem da fé, deixam de ser
habitação do Espírito, que deles se retira (2ª Pe 2.1-3). Este será o grande
diferencial no dia do arrebatamento da Igreja: subirão com o Senhor somente
aqueles que têm o Espírito Santo, que, por serem habitação do Consolador, serão
como que atraídos por um ímã por este mesmo Espírito, enquanto que os que não
têm o Espírito, ficarão aqui para as agruras da Grande Tribulação.
- Alguns confundem que o selo seja o
revestimento de poder, o batismo com o Espírito Santo, porque o apóstolo Paulo
fala do “Espírito Santo da promessa” e, por causa disso, vinculam esta passagem
bíblica com Lc 24.49, quando o Senhor Jesus fala da descida do Espírito Santo
no dia de Pentecostes como “a promessa do Pai”.
- No entanto, não podemos nos esquecer de
que Jesus prometeu que os n’Ele cressem teriam o Espírito Santo, como dissemos,
naquele último dia da Festa dos Tabernáculos, como também, nas Suas últimas instruções,
prometeu enviar o Espírito Santo aos discípulos para ser o “outro Consolador”
(Jo 14.16), promessa que foi cumprida na tarde do domingo da ressurreição.
- É de se ver que “selo” é, como vimos,
“marca de propriedade” e tal marca se dá no instante da redenção, não num
momento posterior e, mais, o Senhor Jesus disse que, não muito depois de Sua ascensão,
haveria o “revestimento de poder”, ou seja, somente se pode “revestir” o que já
tem vestido e o homem é espiritualmente vestido quando é salvo (Is 61.10).
- Assim afirma a Declaração de Fé das
Assembleias de Deus: “…Quando o Consolador desceu sobre os discípulos no dia de
Pentecostes, eles já tinham o Espírito Santo, Jesus disse-lhes: ‘Recebei o
Espírito Santo’ (Jo 20.22). Na experiência da salvação, o Espírito Santo passa
a habitar no novo crente [1ª Co 3.16; Gl.4:6]. Todos os crentes em Jesus já têm
o Espírito Santo [Gl 3.2,3], pois Ele mesmo é quem conduz o pecador a Cristo
[Jo.16:7,8].…” (XIX.1, p.166).
- A segunda bênção é o penhor da nossa
herança, para redenção da possessão de Deus para louvor da Sua glória (Ef 1.14).
“…A palavra ‘penhor’ significa garantia, segurança, prova de aquisição e posse
de algo. No tempo de Paulo, a palavra ‘penhor’ era empregada para uso legal e
comercial quando alguém comprava alguma coisa e desejava garantir a sua compra.
As pessoas adiantavam uma quantia inicial como penhor (2ª Co 1.22; 5.5). Jesus
nos deu o Espírito Santo como penhor pelo resgate de nossas almas (1ª Pe 2.9).
Na verdade, somos do Senhor e o que garante
essa possessão é a presença do Espírito Santo em nossa vida…” (CABRAL, Elienai.
op.cit., pp. 10-1).
- O penhor é um bem móvel que é dado em
garantia de um negócio jurídico, um contrato ou qualquer outra espécie de ato
jurídico. Um exemplo muito corriqueiro que temos é o penhor de joias pela Caixa
Econômica Federal, em que pessoas assumem empréstimos naquela instituição
(originariamente criada para dar crédito aos mais carentes), dando em garanti
as joias que têm, que ficam em poder do credor até que a dívida seja paga ou,
em caso de inadimplência, o bem é vendido para quitação da obrigação não
cumprida.
- O penhor, portanto, é um objeto que fica
em poder do credor até que haja o pagamento da dívida. Aqui, o apóstolo está a
nos dizer que o Espírito Santo fica conosco até que tenha o “pagamento”, ou
seja, até que se terminem os dias em que temos de passar por esta Terra. Ele é
a garantia de que o Senhor Jesus há de cumprir a Sua promessa de nos glorificar
e nos levar para que estejamos para sempre com Ele (Jo 14.1-3).
- A presença do Espírito Santo é a confirmação
desta garantia que nos dá o Senhor Jesus. Por isso, quando estamos com Ele e
Ele está em nós, Ele nos ensina todas as coisas, faz-nos lembrar dos ditos de
Jesus (Jo 14.25), guia-nos em toda a verdade, diz tudo que tem ouvido,
anuncia-nos o que há de vir (Jo 16.13), glorifica a Cristo, anuncia o que
recebe de Cristo (Jo.16:14), enche-nos d’Ele (At 2.4), reparte particularmente
os dons espirituais a cada um como quer (1ª Co 12.11).
- Na lei de Moisés, era proibido ao credor
que ficasse com o penhor de objetos essenciais à subsistência do devedor, como
também de suas vestes (Dt 24.12,13,17), ou seja, somente se devolvia o penhor
de quem era pobre e necessitado. Ora, quando o apóstolo nos lembra que o
Espírito Santo é o nosso penhor, faz-Se nosso penhor, está a dizer que
“devolvê-l’O” é considerá-l’O um pobre, um necessitado, é desconsiderar toda a majestade
divina, todas as riquezas da graça de Deus (Ef.1:7), o que é altamente
reprovável. Tomemos, pois, cuidado com o que fazemos com este penhor. Pensemos
nisto!
- Tal procedimento, aliás, faz-nos lembrar
do conceito de “graça barata”, criado pelo grande teólogo alemão Dietrich
Bonhoeffer (1906-1945), que morreu por ordem de Adolf Hitler por causa de sua
fé em Cristo, que assim afirma: “…A graça barata é a graça que nós dispensamos
a nós próprios. A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o
batismo sem a disciplina de uma congregação, é a Ceia do Senhor sem confissão
dos pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem
discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado.…” (A
graça. Disponível em: http://vivoporti.com/bonhoeffer-a-graca-4239 Acesso em 30
jan. 2020). Quem assim está agindo, está a “devolver o penhor”, a desprezar
esta rica bênção espiritual e, deste modo, a selar a sua condenação eterna.
- Este selo e penhor têm por objetivo nos
levar à “redenção da possessão de Deus”, ao “louvor da Sua glória”, que nada
mais é que a glorificação, o mesmo objetivo que está presente nas bênçãos
espirituais do Pai (eleição e predestinação – Ef 1.6) e do Filho (redenção e
herança – Ef 1.12), a nos revelar como estamos diante de um só Deus, embora em
três Pessoas distintas, numa perfeita comunhão e unidade. Quando o Senhor Jesus
vem ao nosso coração, o Seu Espírito concede-nos o selo e penhor, já que
recebemos de Cristo a certeza do céu, como bem afirmou o poeta sacro
traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão na terceira estrofe do hino 111 da
Harpa Cristã.
- Todas estas bênçãos espirituais são-nos
dadas quando alcançamos a salvação e, então, passamos a habitar os “lugares
celestiais em Cristo”, expressão que, como bem afirma o pastor presbiteriano Hernandes
Dias Lopes, “…não se refere a uma localização física, mas a uma esfera de realidade
espiritual à qual o crente foi elevado em Cristo, o que quer dizer se tratar
não do céu futuro, mas do céu que existe no cristão e em tomo dele no presente.
Os crentes, na realidade, pertencem a dois mundos (Fp 3.20). Da perspectiva
temporal, pertencem à terra, mas espiritualmente vivem em comunhão com Cristo
e, por conseguinte, pertencem à esfera
celestial…” (op.cit., p. 16).
- Eis a privilegiada posição que desfruta
aquele que foi salvo por Jesus Cristo, aquele que pertence à Igreja. Eis a
posição da Igreja e, em virtude desta posição, que Paulo continuará sua
epístola, dizendo o que pede a Deus em favor deste povo, como veremos na lição
4, pois, na próxima lição, deter-nos-emos mais aprofundadamente na questão da
eleição e predestinação.
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