TEOLOGIA EM FOCO: A BELEZA E A GLÓRIA DO CULTO LEVÍTICO

segunda-feira, 2 de julho de 2018

A BELEZA E A GLÓRIA DO CULTO LEVÍTICO



†Subsídios EBD Lição 2, 3º Trimestre de 2018.

TEXTO ÁUREO
“Então, entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; depois, saíram e abençoaram o povo; e a glória do SENHOR apareceu a todo o povo.” (Lv. 9.23)

VERDADE PRÁTICA
O verdadeiro culto divino não se impõe pelo ritualismo nem por sua pompa, mas pelo quebrantamento de coração e pela integridade de espírito. A glória de Deus não pode faltar.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Levítico 9.15-24: “Depois fez chegar a oferta do povo, e tomou o bode da expiação do pecado, que era pelo povo, e o degolou, e o preparou por expiação do pecado, como o primeiro. 16 Fez também chegar o holocausto, e ofereceu-o segundo o rito. 17 E fez chegar a oferta de alimentos, e a sua mão encheu dela, e queimou-a sobre o altar, além do holocausto da manhã. 18 Depois degolou o boi e o carneiro em sacrifício pacífico, que era pelo povo; e os filhos de Arão entregaram-lhe o sangue, que espargiu sobre o altar em redor. 19 Como também a gordura do boi e do carneiro, a cauda, e o que cobre a fressura, e os rins, e o redenho do fígado. 20 E puseram a gordura sobre os peitos, e queimou a gordura sobre o altar; 21 Mas os peitos e a espádua direita Arão ofereceu por oferta movida perante o SENHOR, como Moisés tinha ordenado. 22 Depois Arão levantou as suas mãos ao povo e o abençoou; e desceu, havendo feito a expiação do pecado, e o holocausto, e a oferta pacífica. 23 Então entraram Moisés e Arão na tenda da congregação; depois saíram, e abençoaram ao povo; e a glória do SENHOR apareceu a todo o povo. 24 Porque o fogo saiu de diante do SENHOR, e consumiu o holocausto e a gordura, sobre o altar; o que vendo todo o povo, jubilaram e caíram sobre as suas faces.

OBJETIVO GERAL
Conscientizar de que o verdadeiro culto divino não se impõe pelo ritualismo, mas pelo quebrantamento de coração e pela integridade de espírito.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo i refere-se ao tópico l com os seus respectivos subtópicos.

I. Mostrar como era o culto no Antigo Testamento;
II. Elencar os elementos do culto levítico;
III. Explicar as finalidades do culto levítico.

No decorrer da aula, ressalte o cuidado que devemos ter para não cairmos no formalismo, pois Deus não está preocupado com a forma, mas com o coração daqueles que se achegam a Ele, é necessário que aqueles que desejam cultuar ao Senhor o faça em espírito e em verdade (Jo 4.24).

INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos a definição etimológica e exegética da palavra “culto”; pontuaremos a tipologia do culto levítico com a pessoa de Jesus; analisaremos os princípios de adoração no AT, e por fim, estudaremos as verdades espirituais das cinco ofertas do livro de Levítico na vida da Igreja.

I. O CULTO NO ANTIGO TESTAMENTO

1. Definição etimológica. Segundo Houaiss (2001, p. 887), a palavra “culto” deriva do Latim, “cultu”, e significa: “adoração ou homenagem a Deus”. Etimologicamente, o termo latino envolve em sua raiz a expressão “colo, colere”, que indica: “honrar, cultivar, reverenciar respeitosamente […], é o conjunto de atitudes e ritos pelos quais se adora uma divindade […] veneração, reverência, admiração, paixão externa para com alguém”. Os reformadores ortodoxos definiram culto como: “a maneira correta de honrar a Deus”. Ou seja, é: “uma tributação voluntária de louvores e honra ao Criador” (CLAUDIONOR, 2006, p. 127).

2. Definição exegética. Os principais termos que descrevem o ato de “culto” na Bíblia são “shachah” no hebraico significando: “inclinar-se, prostrar-se” (Is 66.22), e no grego existem duas expressões que são respectivamente “latréia” e “proskyneo” significando “baixar-se para beijar, prostrar-se para adorar; reverenciar, prestar obediência, render homenagem” (Jo 4.24; Ap. 4.3-11). O culto é o momento da adoração que tributamos a Deus o melhor que temos e marca o encontro do Senhor com os seus adoradores (Êx 25.8). Na prática cristã, o culto é o encontro do homem com Deus, que pode ser praticado individualmente ou de forma coletiva (Mt 6.6; 16.25; At 2.46; 5.42).

3. As três dimensões do Culto.
Um adjetivo-chave, usado com frequência no Novo Testamento para descrever os atos apropriados de culto é a palavra aceitável. Todo adorador procura ofertar o que seja aceitável. As Escrituras especificam pelo menos três categorias de culto aceitável.

3.1. A dimensão externa.
Primeiro, a maneira de nos comportarmos com os outros pode refletir o culto. Romanos 14.18 afirma: 'Porque quem nisto serve [latreuo] a Cristo agradável [aceitável] é a Deus'. Qual é a oferta aceitável a Deus? O contexto revela que é ser sensível ao irmão mais fraco (v.13). Tratar companheiros cristãos com a devida sensibilidade é um culto aceitável.

3.2. A dimensão interior.
Uma segunda categoria de culto envolve comportamento pessoal. Efésios 5.8-10 afirma: 'Andai como filhos da luz (pois o fruto do Espírito está em toda bondade, justiça e verdade), aprovando o que é agradável ao Senhor'. A palavra agradável vem de uma palavra grega que significa 'aceitável'. Nesse contexto, Paulo refere-se à bondade, à justiça e à verdade, dizendo claramente que fazer o bem é um ato aceitável de culto a Deus (1ª Tm 2.2,3).

3.3. A dimensão superior.
O culto afeta todo o relacionamento com Deus. Hebreus 13.15,16 resume maravilhosamente esta dimensão superior.

4. Vejamos o que é o culto divino e o seu desenvolvimento na era patriarcal, no período de Moisés, no tempo de Davi e de Salomão, e após o Cativeiro babilónico.

4.1. Na era patriarcal.
O primeiro grande patriarca a prestar culto a Deus foi Noé (Gn 8.20). Abraão, Isaque e Jacó também construíram altares para adorar ao Senhor, que os chamara a constituir a nação profética, sacerdotal e real por excelência (Gn 12.7; 26.25; 35-1-7).

4.2. No período de Moisés.
Deus, através de Moisés, entregou ao seu povo leis e instruções para que o seu culto passasse da informalidade a uma etapa mais teológica, litúrgica e congregacional (Êx 12.21-26). A partir daí, estabeleceram-se as festividades sagradas como a Páscoa e o Dia da Expiação (Êx 12.14,20; Lv 23.27,28). Agora, não somente as famílias, mas todo o povo é intimado a cultuar ao Senhor.

4.3. No tempo de Davi e Salomão.
Até a ascensão de Davi, como rei de Israel, a música não era utilizada no culto divino. O cântico de Miriã e o de Débora constituíam manifestações espontâneas que precederam a inserção da música na liturgia do Santo Templo (Êx 15.20,21; Jz cap. 5). Mas, com o rei Davi, que também era profeta, salmista e músico, a celebração oficial ao Senhor foi enriquecida com a formação de coros e instrumentos musicais (lº Cr 15.16). Buscando sempre a excelência do culto divino, o rei Davi inventou e fabricou diversos instrumentos musicais (lº Cr 23.5; 2º Cr 7.6).

Salomão dedicou-se igualmente ao enriquecimento litúrgico e musical na adoração divina (2º Cr 5.1-14). No auge do Santo Templo, a Liturgia hebreia impressionava por sua beleza e arte (2º Cr 5.13). Ezequias também destaca-se pelo zelo ao culto do Senhor (2º Cr 29.26-28).

4.4. Após o cativeiro babilônico.
Em 586 a.C., os judeus foram levados em cativeiro à Babilónia, onde permaneceram 70 anos (Jr 25.11,12). Nesse período, pelo que inferimos do Salmo 137, a adoração divina foi praticamente esquecida. Mas, com o retorno a Jerusalém, os repatriados, incentivados por Esdras e Neemias, reavivaram o culto levítico (Ne 12.22-30).

II. OS ELEMENTOS DO CULTO LEVÍTICO

A fim de mostrarmos a beleza e a glória do culto divino no Antigo Testamento, tomemos como exemplo a consagração do Santo Templo, pelo rei Salomão, em Jerusalém.

1. Sacrifícios.
O culto inaugural do Santo Templo, que teve início com a chegada da Arca Sagrada, foi marcado por uma grande quantidade de sacrifícios de animais (1º Rs 8.5) - Cf. Levítico cap. 1. De forma sem igual, o rei Salomão e todo o Israel demonstraram sua ação de graças ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó.

* Qual a diferença entre Sacrifícios e Ofertas.
Havia alguma diferença entre um sacrifício e uma oferta? Em Levítico, as palavras são trocadas. Um sacrifício especifico é chamado de oferta (oferta queimada [holocausto], oferta de manjares, oferta de paz), enquanto as ofertas geralmente são chamadas de sacrifícios. O fato é que cada pessoa oferecia um presente a Deus sacrificando-o no altar. No Antigo Testamento, o sacrifício era a única maneira de aproximar-se de Deus e restaurar o relacionamento com Ele. Havia mais de um tipo de oferta ou sacrifício, e esta variedade tornava-os mais significativos porque cada um estava relacionado a uma situação especifica da vida.
Os sacrifícios eram oferecidos em louvor, adoração e agradecimento, e também para perdão e comunhão. Os primeiros sete capítulos de Levítico descrevem uma variedade de ofertas e como deveriam ser praticadas.

A Lei mosaica prescrevia cinco categorias de sacrifícios e de outras ofertas:

1.1. A oferta queimada (Lv 1.1-17). Esta representa a consagração total, pois o adorador voluntariamente oferecia esta oferta e todo o animal que ele sacrificasse era consumido no altar. Tudo pertence a Deus, e devemos estar dispostos a dar tudo a ele. Paulo se refere a isso como um “sacrifício vivo” (Rm 12.1).

Tinham a finalidade de fazer a expiação e enfatizavam a total devoção ao Senhor.

* A marca distintiva do holocausto, ou oferta queimada (oferta preparada no fogo”) era o fato de ela ser inteiramente consumida no altar, enquanto nos outros sacrifícios animais apenas algumas partes eram queimadas.

* O propósito da oferta queimada era a propiciação ou a expiação, embora houvesse outra ideia ligada a ela — a total consagração do adorador ao Senhor. Nenhuma parte do animal era deixada para consumo humano, por isso o termo usado é “ofertas queimadas” (em inglês, “ofertas totalmente queimadas”; ver Sl 51.19).

* A oferta queimada era o sacrifício normal do israelita em seu adequado relacionamento com Deus - era o único sacrifício designado como prática regular do serviço do santuário.

* Era oferecida todos os dias, no período da manhã e novamente à tarde. Nos dias comuns, um cordeiro de um ano de idade era sacrificado, enquanto no sábado eram oferecidos dois cordeiros, de manhã e à tarde (Nm 28.9,10).

* Outros dias de festas especiais pediam um número maior de animais. Também havia ofertas queimadas quando um nazireu cumpria seus votos ou quando se tornava impuro (Nm 6), na consagração dos sacerdotes (Êx 29.15), na cura da lepra (Lv 14.9), na purificação da mulher (12.6) e em resposta a outras impurezas rituais (15.15,30). Era o único tipo de oferta em que se permitia a participação de um não israelita (17.8; 22.18,25).

1.2. A oferta de alimentos (Lv 2.1-16). Esta oferta era oferecida a Deus em gratidão por suas bênçãos. Esta deveria ser das primícias. Esta oferta ilustra a importância de retribuir a Deus com um coração de gratidão pela vida que Ele nos deu.

a. As ofertas de grãos. Expressavam uma petição individual para que Deus concedesse as bênçãos da aliança e também representavam a dedicação a Deus dos frutos do trabalho do homem ou da mulher.

b. A oferta de cereal (Lv 2.1-16; 6.14-18). Era constituída de farinha fina, pão sem fermento, bolos; ou então eram espigas de grãos tostados, sempre com sal e, exceto na oferta pelo pecado (Lv 4.1-35), com óleo de oliva (2.1,4,13,14; 5.11).

* Às vezes, eram acompanhadas de incenso. Apenas uma parte era consumida pelo fogo do altar; o restante era guardado pelos sacerdotes, que o comiam num lugar sagrado (6.16; 10.12,13).

* Com exceção da oferta pelo pecado, a oferta de cereais acompanhava todas as outras ofertas em ocasiões importantes (7.1; Nm 15). Sempre seguia as ofertas queimadas da manhã e da tarde. A ideia por trás da oferta de cereais parece estar relacionada com a alimentação: uma vez que a refeição normal do povo não consistia apenas de carne, seria errado oferecer a Deus somente carne.

1.3. A oferta de sacrifício pacífico (Lv 3.1-17). Esta deveria ser colocada sobre as cinzas do holocausto. Ela repousava sobre o trabalho do sacrifício feito anteriormente. Podemos ter paz com Deus somente porque Jesus voluntariamente se entregou a Deus na cruz (Rm 5.1 comparar Is 53.7).

1.4. A oferta pelo pecado (Lv 4.1 - 5.13). Este era para o pecado que foi cometido na ignorância. Era para cobrir o pecado não intencional. Quando nos aproximamos de Deus, precisamos ser lembrados de que na melhor das hipóteses nós ainda somos pecadores diante de Deus e que a nossa única base para a aproximação com ele é através do sacrifício de Jesus Cristo (Hb 10.19,20).
As ofertas pelo pecado ou ofertas de purificação faziam a expiação dos pecados involuntários, como os cometidos por negligência e também pela impureza ritual.
As ofertas pelo pecado eram feitas por toda a congregação em todos os dias de festa, especialmente no Dia da Expiação (ver Lv 16). Com exceção dessas importantes ocasiões nacionais, as ofertas pelo pecado eram apresentadas apenas em circunstâncias especiais, que demandassem expiação de pecados.

1.5. A oferta pela culpa (Lv 5.14 - 6.7). Esta oferta era para pecados específicos que foram cometidos intencionalmente. A diferença entre esta e a oferta pelo pecado é que essa exigia a restituição. Não se pode, com razão, adorar se abrigamos pecado em nossa vida, ou mesmo pecado confessado que não foi feito corretamente.

* A oferta pela culpa ou ofertas de reparação faziam a expiação pelos pecados não intencionais cometidos contra as “coisas santas” e os mandamentos de Deus. Nessas ofertas obrigatórias, estava implícito o aspecto da restituição.

* A oferta pela culpa era um tipo especial de sacrifício pelas transgressões. Por meio dela, era possível fazer restituição e satisfazer a outras exigências legais. Quando os direitos de Deus ou de outras pessoas eram violados, era preciso reparar o erro, honrar a lei quebrada e expiar o pecado por meio da oferta pela culpa.

* A oferta, que era sempre de um cordeiro (Lv 14.12), era apresentada depois que as partes prejudicadas estavam satisfeitas. O ritual era o mesmo da oferta pelo pecado, exceto pelo fato de que o sangue não era aspergido, mas derramado sobre a superfície do altar.

* O propósito principal desse sacrifício era fazer a expiação pelas dívidas contraídas com Deus, como a negligência em pagar ao santuário o que era devido no tempo próprio e as dívidas contraídas com outras pessoas, como roubo, falta de devolução do bem em depósito, falso juramento sobre algo que foi perdido ou sedução de uma noiva escrava.
Em adição as ofertas que foram relacionadas acima, era ainda pedido aos israelitas dízimos e outras ofertas (Dt 14.22). Diferentes tipos de ofertas eram apresentadas sob diversas combinações em ocasiões diferentes, como a ordenação do sacerdote e a consagração de objetos sagrados (Lv 8 e 9; Nm 7), os sacrifícios diários (Lv 6.8-13), as festas anuais2 e os momentos marcantes da vida da família (Lv cap. 12).

* A eficácia dos Sacrifícios.
A eficácia do sistema sacrifical dependia não da oferta do animal em si (embora seguir os regulamentos fosse essencial, porque ensinavam os israelitas a se aproximar de Deus apenas nos termos dele), mas de Deus mesmo, que ordenara esses sacrifícios. Sem a imprescindível atitude de arrependimento, a observância mecânica dos rituais não tinha nenhum significado, fato repetidamente denunciado pelos profetas de Deus (1º Sm 15.22; Am 5.21-24; Mq 6.6-8; Sl 51.14-19). Levítico 17.11 indica com bastante clareza que o precioso sangue do animal sacrificado era a provisão de Deus para expiar o ofensor.

2. Cânticos (2º Cr 5.12,13).
Em seguida, os cantores e músicos puseram-se a louvar ao Senhor, entoando provavelmente os cânticos que Davi e outros salmistas haviam composto (2º Cr 5.12,13).

3. Exposição da Palavra (2º Cr 6.1-13).
Logo após. Salomão dirigiu-se ao povo, fazendo uma síntese da História Sagrada até aquele instante. Ele mostra a clara intervenção de Deus em cada etapa da existência de Israel (2º Cr 6.1-13).
·         Leitura da Palavra Ne 8.1-8)).
Após o cativeiro babilónico, já no tempo de Esdras e Neemias, a Palavra de Deus começou a ser lida publicamente como parte da liturgia do culto (Ne S.1-8). Nesse período, os sacerdotes puseram-se também a explicar a Lei ao povo de Deus. Antes disso, a leitura das Escrituras limitava-se aos montes Gerizim e Ebal (Dt 29).

4. Oração (2º Cr 14.31).
O rei dirige-se, agora, a Deus em oração, agradecendo-o por aquele momento, e intercede não só por Israel, mas pelos gentios que, ouvindo acerca da intervenção divina na vida de seu povo, para ali acorreriam (2º Cr 6.32,33).

6. Bênção Sacerdotal (Nm 22.6).
O culto levítico era encerrado com a bênção araônica (Nm 6.22-26). Ao serem assim abençoados, os filhos de Israel conscientizavam-se de que eram propriedade particular do Senhor (Êx 19-5).

Esses elementos (Incluindo os sacrifícios) existiram no auge do culto divino do Antigo Testamento, porém isso não significa que todos esses elementos estivessem presentes em todas as celebrações.

III. FINALIDADES DO CULTO LEVÍTICO

O culto levítico, no Antigo Testamento, tinha quatro finalidades básicas: adorar a Deus, reafirmar as alianças divinas, professar o credo mosaico e aguardar o Messias. Era uma celebração teológica e messiânica.

1. Adorar ao Único e Verdadeiro Deus.
Ao reunir-se para adorar a Deus, a comunidade de Israel demonstrava duas coisas: a aceitação do Único e Verdadeiro Deus e a rejeição dos deuses pagãos (Lv 19-4; Sl 86.10; 97.9). Enfim, o culto afastava os israelitas da idolatria e aprofundava sua comunhão com o Senhor. Esse era o teor dos cânticos congregacionais do Santo Templo.

2. Reafirmar as alianças antigas.
No culto Levítico, os filhos de Israel professavam as alianças que o Senhor firmara com Abraão, Isaque, Jacó e Davi (Lv 26.9,45). Já em seus cânticos, reafirmavam a fé na presença de Deus em sua vida familiar e comunal (Sl 47.9), como mostra o Salmo 105.

3. Professar o credo divino.
Em seus cultos, os israelitas, guiados pelo ministério levítico, professavam o seu credo: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4). Nesta sentença resume-se toda a teologia do Antigo Testamento. Que a Igreja de Cristo recite a doutrina divina.

4. Aguardar o Messias.
No livro de Salmos, há uma elevada cristologia, que descreve a paixão, a morte, a ressurreição e a glorificação do Senhor Jesus Cristo como Rei dos reis (Sl 22.1-19; 16.10; 110.1-4; 2.1-8). Um israelita crente, e predisposto a servir a Deus, jamais seria surpreendido com a chegada do Messias, pois o culto Levítico era essencial e tipo-logicamente cristológico (Lc 2.25-35).

IV. PRINCÍPIOS DE ADORAÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO

É claro que a adoração do AT estava carregada de coisas que foram postas “até ao tempo oportuno da reforma” (Hb 9.10). “Quando, porém, veio Cristo como sumo sacerdote dos bens já realizados” (Hb 9.11), o que estava envelhecido e prestes a desaparecer, passou (Hb 8. 13), mas a tudo subjaz alguns princípios atemporais que queremos observar. Notemos:

1. A adoração deve ser verdadeira. No AT Deus devia ser adorado do mais profundo do coração (Abel e sua fé), e não religiosamente apenas (Caim e seus frutos). Os profetas condenavam veementemente o formalismo religioso (1º Sm 15.22). A aparência vazia é recusada (Dt 6.5; Is 1.10-17; 58; Ml 1.7,8), e a retidão do povo é exigida (Am 5. 24-27). O culto no AT era centralizado em Deus, que reivindica e espera isso de seu povo (Gn 8.20; 35.11, 14; Êx 3.18; 5.1; 2º Cr 7.3; Ne 8.6).

2. A Adoração deve ser só a Deus. O texto áureo do povo de Israel, os Dez Mandamentos, começa com a ordem expressa: “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3). A idolatria, o ato de colocar qualquer coisa no lugar, ou ao lado de Deus é expressamente condenada (Êx 20.4-6; 1º Rs 13.1; 14.7;18; Am 4.15; Os 8.1; Mq 5.13).

3. A adoração deve ser sacrificial. O princípio do sacrifício: substituição pelo pecado, ou oferta pacifica está estabelecido no culto do AT. Ninguém se aproximava de Deus a seu bel prazer, o sacerdote era o intermediário para oferecer sacrifícios pelos pecados do povo, bem como ofertas de adoração (Lv 1-6). O grande cume da adoração nacional era o Dia da Expiação nacional (Lv 16), onde o sumo sacerdote entrava no Santo dos Santos, oferecendo um sacrifício por ele, e depois no Propiciatório (a tampa da Arca da Aliança), oferecia um sacrifício pelo pecado nacional. O caminho entre o altar do holocausto e o altar do incenso (adoração) era salpicado com o sangue do sacrifício. Sem o sangue do holocausto ninguém chegaria ao altar do incenso. Este belo símbolo mostra que a adoração tem que ser sacrificial. Deus só aceita adoração de quem já foi lavado (Hb 10.22).

4. A adoração deve ser reverente. Moisés quando teve uma visão de Deus na sarça foi advertido que até as sandálias tirasse (Êx 3.1-5). No Sinai, o povo na presença de Deus não podia se aproximar do monte, e o temor tomou conta de todos (Êx 19. 16-25; 20.18-19). No Tabernáculo e no Templo só os sacerdotes oficiavam e o manuseio dos objetos era para ser feito com o máximo de cuidado. A presença de Deus sempre resulta em temor e prostração (1º Rs 18. 38-39; 2º Cr 7.1-3; Sl 95. 6; Is 6. 1-5). O adorador ao aproximar-se da Majestade divina deve fazer sabendo onde está pisando, ali é lugar sagrado (Ec 5. 1-20).

5. A adoração deve ser alegre. A reverência não exclui alegria. Não se pode confundir reverência com morte, formalismo, frieza. O culto no Antigo Testamento tinha muita movimentação, festa. O povo tocava, cantava, e se alegrava na presença de Deus (2Sm 6; Sl 95. 1-7; 100; 150). Os Levitas eram encarregados da execução do canto e de tocar os instrumentos (1º Cr 15.16; 16.4-6; 2º Cr 5.12-14). O culto deve ser celebrativo, e exultante.

6. A adoração deve ser respeitada. Todo povo tinha o dever de atender as “santas convocações” de Deus para coletivamente se unirem em adoração (Lv 23). Do mesmo jeito que a adoração particular tinha importância na vida deles, a adoração coletiva, no Tabernáculo ou Templo, não poderia ser descuidada. Uma não eliminava a outra. Quanto mais contrito com sua família o homem fosse, mais deveria se unir aos outros na adoração.

V. A TIPOLOGIA DO CULTO LEVÍTICO COM A PESSOA DE JESUS

A tipologia de Jesus no livro de Levítico está nas cinco ofertas que aparecem neste livro: a) holocausto (Lv 1.1-17; 6.8-13); b) oferta de manjares (Lv 2.1-16 e 6.14-23); c) oferta pacífica (Lv 3.1-17; 7.11-34); d) oferta pelo pecado (Lv 4.1-35); e e) oferta pela culpa (Lv 5.14-19).
Ali, Deus, deu as instruções sobre o cerimonial de Levítico que representa todos os detalhes da obra de Jesus Cristo na cruz. As cinco ofertas são descritas nos capítulos 1 a 7 de Levítico e explicam tudo que foi realizado no Calvário. Há quem diga que não existe nenhum livro do AT que nos faça melhor compreender o NT que o de Levítico. Não há em toda a Bíblia nenhum livro que nos conduza mais diretamente à cruz que o de Levítico. Ele é chamado por alguns de o “Evangelho do Antigo Testamento”. Vejamos a tipologia com o sacrifício de Cristo:

1. A oferta de holocausto tipificava o sacrifício de Cristo. A primeira oferta descrita em Levítico é o holocausto (Lv 1.3-5). O termo hebraico é “Olah”, que significa “fazer subir”. O sentido geral da oferta é que ela subia para Deus como cheiro suave e era totalmente queimada. Em Levítico 1.3-5 observa-se: “sacrifício queimado e voluntário” para que fosse aceito. As exigências de Deus quanto aos animais que eram aceitos para os sacrifícios estão reiteradas em Levítico 22.18-20-25 e indicam que estes sacrifícios deveriam ser “fisicamente perfeitos” apontando para perfeição de Cristo. Em Levítico 1.8-9, fala das ofertas queimadas de aroma agradável. São assim chamadas porque tipificam Cristo em Suas próprias perfeições e em Sua devoção afetuosa para com a vontade do Pai.

2. A oferta de animais tipificava a obediência perfeita de Cristo. O novilho que é um “tipo” de Cristo como servo paciente e sofredor (Hb 12.2,3), obediente até a morte (Is 53.1-7; At 8.32-35), as aves são naturalmente símbolos da inocência (Is 38.14, 59.11, Mt 23.37, Hb 7.26), e estão associados com a pobreza (Lv 5.7; 12.8), pois Ele por amor a nós se tornou pobre (Lc 9.58). Esse caminho voluntário para a pobreza começou quando se esvaziou de Sua glória e terminou no sacrifício através do qual nos tornamos ricos (2Co 8.9; Fp 2.6-8, Jo 17.5).

3. A oferta de manjares tipificava o sofrimento perfeito de Cristo. Muitas são as características dessas ofertas (Lv 2.1-16; 6.14,23). Para se obter uma farinha de qualidade, era necessário um esmagamento do trigo. Isto faz lembrar o sofrimento de Jesus na cruz. O fogo usado nesta oferta descreve a prova de seu sofrimento até a morte (Mt 27.45,46, Hb 2.18) e o incenso aponta para a fragrância de sua vida diante de Deus. A ausência de fermento neste sacrifício tem a ver com sua atitude para com a verdade (Jo 14.6). O azeite que era colocado por cima aponta para unção do Espírito Santo (Jo 1.1-32, 6.27), e o sal explicita a pungência da verdade de Deus àquilo que impede a ação do fermento e simboliza a eterna e incorrupta aliança com Deus.

4. A oferta pacíficas tipificava a paz de Cristo. O termo “pacífico” traduzido é “shelami” do verbo “shalom” e significa “ser completo, estar em paz, fazer paz”. Por outro lado, podia reafirmar a comunhão com Deus. Era a festa de comunhão daqueles que andavam em harmonia com o Senhor, e com o próximo. Em Cristo, Deus e o pecador se encontram em paz. Toda a obra de Cristo em relação a paz do crente está aqui tipificada (Lv 3.1-17, 7.11-33). A oferta pacífica representa a comunhão com Deus, pois Cristo trouxe a paz (Cl 1.20), proclamou a paz (Ef 2.17), e Ele é a própria paz do cristão (Ef 2.14).

5. A oferta pelo pecado tipificava a substituição de Cristo. A oferta pelo pecado simboliza Cristo levando o pecado do homem (Lv 4.1-35), isto é, Cristo ocupando absolutamente o lugar do pecador (Is 53; Sl 22, Mt 26.28, 1ª Pe 2.24), Ele foi “feito pecado pelo pecador”. As ofertas pelo pecado são expiatórias, substitutivas e eficazes (Lv 4.12,29,35). A oferta pelo pecado é queimada fora do arraial e tipifica o aspecto da morte de Cristo fora da cidade.

CONCLUSÃO
O Antigo Testamento mostra o povo de Deus adorando a Deus por um reconhecimento de seu pecado, uma confiança em Sua graça, e uma apreciação por Sua bondade, e isso retrata como a nossa adoração deve ser hoje.
Os filhos de Israel não souberam cultuar a Deus como Ele o requer de cada um de nós. Por isso, deixaram-se contaminar pelo formalismo. Apesar de sua rica e significativa liturgia, adoravam a Deus apenas com os lábios, pois o seu coração achava-se distante do Deus de Abraão (Is 29.13). Então, adoremos a Deus em espírito e em verdade (Jo 4.24). Apresentemos ao Senhor o nosso culto racional (Rm 12.1-3).
Quando cultuamos verdadeiramente a Deus, sua glória jamais nos faltará (Lv 9.23,24).

FONTE DE PESQUISA

1.      ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
2.      ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Lições Bíblicas, 3º Trimestre de 2018, CPAD.
3.      CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
4.      HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
5.      STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
6.      KESSLER, N. O culto e suas formas. CPAD.


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