TEOLOGIA EM FOCO: OS MINISTROS DO CULTO LEVÍTICO

segunda-feira, 9 de julho de 2018

OS MINISTROS DO CULTO LEVÍTICO



Texto Base: Levítico 8.1-13:
E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: 2 Fala a Arão, e dize-lhe: Quando acenderes as lâmpadas, as sete lâmpadas iluminarão o espaço em frente do candelabro. 3 E Arão fez assim: Acendeu as lâmpadas do candelabro para iluminar o espaço em frente, como o SENHOR ordenara a Moisés. 4 E era esta a obra do candelabro, obra de ouro batido; desde o seu pé até às suas flores era ele de ouro batido; conforme ao modelo que o SENHOR mostrara a Moisés, assim ele fez o candelabro. 5 E falou o SENHOR a Moisés, dizendo: 6 Toma os levitas do meio dos filhos de Israel e purifica-os; 7 E assim lhes farás, para os purificar: Esparge sobre eles a água da expiação; e sobre toda a sua carne farão passar a navalha, e lavarão as suas vestes, e se purificarão. 8 Então tomarão um novilho, com a sua oferta de alimentos de flor de farinha amassada com azeite; e tomarás tu outro novilho, para expiação do pecado. 9 E farás chegar os levitas perante a tenda da congregação e ajuntarás toda a congregação dos filhos de Israel. 10 Farás, pois, chegar os levitas perante o SENHOR; e os filhos de Israel porão as suas mãos sobre os levitas. 11 E Arão oferecerá os levitas por oferta movida, perante o SENHOR, pelos filhos de Israel; e serão para servirem no ministério do SENHOR. 12 E os levitas colocarão as suas mãos sobre a cabeça dos novilhos; então sacrifica tu, um para expiação do pecado, e o outro para holocausto ao SENHOR, para fazer expiação pelos levitas. 13 E porás os levitas perante Arão, e perante os seus filhos, e os oferecerá por oferta movida ao SENHOR.”

“Toma os levitas em lugar de todo primogênito entre os filhos de Israel e os animais dos levitas em lugar dos seus animais; porquanto os levitas serão meus. Eu sou o Senhor” (Nm 3.45).

INTRODUÇÃO
Nesta Aula, trataremos a respeito dos Ministros que conduziam a adoração e representavam o povo diante de Deus na Antiga Aliança. No Sinai, Deus escolheu e separou a tribo de Levi para que dela fossem vocacionados os sacerdotes e os levitas que ministrariam a adoração e o serviço no Tabernáculo. Ser escolhido para tal função era um privilégio, uma honra, mas também uma grande responsabilidade e abnegação, já que os descendentes de Levi não teriam herança como às demais tribos. O Senhor seria a herança deles e o sustento viria das outras tribos. Era preciso ter fé e viver dela. Por determinação de Deus, os sacerdotes deveriam ser descendentes de Arão, irmão de Moisés, e as suas esposas deveriam ser israelitas de sangue puro. Na Nova Aliança, graças ao sacrifico de Jesus Cristo, cada crente é um sacerdote santo, chamado para oferecer sacrifícios espirituais (1ª Pd 2.5). Atuamos como proclamadores do Evangelho e intercessores tanto pelos crentes quanto pelos que ainda não creem. À semelhança dos sacerdotes levitas, o chamamento divino exige separação, excelência e dedicação integral.

I. LEVI, A TRIBO SACERDOTAL
No momento da promulgação da lei, todo o povo israelita era formado de sacerdotes, uma vez que Moisés não só levantou doze monumentos, representando as doze tribos de Israel, como também convocou jovens de todas as tribos para oferecer sacrifícios (Êx cap.24). Tinha sido esta a proposta de Deus para Israel, ou seja, a de que eles se tornassem “reino sacerdotal e povo santo do Senhor” (Êx19.5,6). Mas, enquanto Moisés esteve ausente por quarenta dias e quarenta noites (Êx 24.18), o povo de Israel quebrou a lei, fazendo para si um bezerro de ouro, quebrando os dois primeiros mandamentos da lei. Ao retornar ao arraial, Moisés, indignado, quebrou as tábuas da lei. Depois, Moisés perguntou ao povo quem estava do lado do Senhor, e somente a tribo de Levi se manifestou (Êx 32.26); por esta razão, foi a tribo de Levi escolhida para exercer o sacerdócio entre os israelitas, porque, com a quebra da lei, Israel perdera a condição de ser “reino sacerdotal” (Dt 10.8).

1. Os levitas. Eram descendentes de Levi, filho de Jacó e Lia (Gn 29.34). Levi foi pai de três filhos: Gérson, Coate e Merari (Gn 46.8-11). No Egito, durante a sua estada, a família de Levi aumentou e passou a ser uma tribo, e as famílias dos três filhos se tornaram divisões tribais. Arão, Miriã e Moisés nasceram na divisão coatita da tribo (Êx 2.4; 6.16-20; 15.20). Quando o Tabernáculo foi removido, os coatitas levaram a mobília, os gersonitas, as cortinas e seus pertences, e os meratitas transportaram e instalaram o Tabernáculo propriamente dito (Nm 3.35-37; 4.29-33).
Por haverem sido resgatados da morte, por ocasião da primeira Páscoa (Êx 11.5; 12.12,13), os primogênitos das famílias hebraicas pertenciam a Deus, mas os levitas, por seu zelo espiritual, foram escolhidos por Deus como substitutos dos filhos mais velhos de cada família (Nm 3.12,45; 8.17-19). Conforme Números 3.41-45, os levitas agiram como substitutos dos primogênitos de toda casa de Israel.
Por serem separados para o serviço de Deus, não se esperava que fossem à guerra (Nm 1.3,49) ou plantassem seus próprios alimentos numa área tribal. Eles deviam espalhar-se por toda a Terra Prometida e viver entre o povo (Nm 35.1-8), e deviam ser sustentados com os dízimos do povo (Nm 18.21).
Os levitas, dados a Arão e a seus filhos, eram os ajudantes dos sacerdotes. Eles assistiam os sacerdotes em seus deveres e transportavam o tabernáculo e cuidavam dele (Nm 1.50,51; 8.19-22).

2. O zelo dos levitas. Uma das características dos descendentes de Levi, os levitas, era a sua devoção a Deus e a sua postura zelosa em relação aos padrões morais de Deus estabelecidos para o seu povo. Quando os hebreus adoraram o bezerro de ouro no sopé do Monte Sinai, foram os levitas que se uniram a Moisés contra a idolatria. Sua devoção a Deus se evidenciou publicamente nesse ato. Por causa de sua obediência e consagração a Deus, eles receberiam uma bênção (Êx 30.29). A bênção que receberam foi o fato de terem sido escolhidos como a tribo dedicada ao serviço de Deus (Nm 3.6-13). Nesta ocasião, Deus usou esses escolhidos para cumprir a tarefa sacerdotal de executar os julgamentos divinos (Êx 32.27,28). Os serviços do tabernáculo eram executados somente por eles (Nm 1.50-51). Eram bastante zelosos no exercício sacerdotal, chegando até mesmo resistir com firmeza ao rei Uzias quando este queria usurpar os serviços que apenas a eles eram permitidos executar (cf.2º Cr 26.16-18); Deus castigou este rei com lepra pela infringência cometida (2º Cr 26.19-21).

3. A vocação sacerdotal dos levitas. Tendo em vista o caráter santo e distintivo da tribo de Levi, aprouve a Deus separá-la para o sacerdócio (Nm 3.45). Deus instituiu Arão e seus filhos como os primeiros sacerdotes de Israel (Êx. cap.28). Depois disso, a única forma de se tornar sacerdote era nascendo na tribo e na família sacerdotal. Na Sua presciência, Ele já havia, no Monte Sinai, dito a Moisés que escolhera a Arão e a seus filhos para exercerem o ofício sacerdotal (Êx 28.1). Essa escolha divina foi confirmada mediante a unção, que seguiu um rito todo especial, determinado pelo próprio Deus (cf. Levítico cap. 8).
O sacerdote era um mediador que ensinava a lei, mas principalmente oficiava os cultos religiosos dos israelitas (Êx 28.43). Eles só podiam vir da tribo de Levi.  No entanto, o simples fato de alguém ser levita não fazia dele um sacerdote. Para atuar como sacerdote, era necessário o chamado de Deus - “Ninguém, pois, toma esta honra para si mesmo, senão quando chamado por Deus, como aconteceu com Arão” (Hb 5.4).  Então, ser sacerdote era uma honra especial, e os que desempenhavam essa função eram diretamente chamados por Deus.
Os sacerdotes da ordem levítica eram consagrados ou separados por Deus para esse trabalho especial (Êx 28.1-4). Isso significa que eram santos, não devendo ser consideradas pessoas comuns. Os demais levitas, embora desempenhassem trabalhos importantes na vida religiosa de Israel, não eram sacerdotes.
Além disso, para que alguém fosse sacerdote, essa pessoa precisava não só ser da tribo de Levi, ser chamada por Deus para o trabalho e ser consagrada, mas tinha de estar isenta de deformidades físicas e de outras contaminações (Lv 21.16-21). Ainda que uma pessoa preenchesse alguns dos outros requisitos, se fosse cega, coxa ou de algum modo deformada, não podia atuar como sacerdote. Devia se casar com uma mulher de caráter exemplar. Não devia contaminar-se com costumes pagãos nem tocar em coisas imundas.
A santidade divina exige daqueles que se aproximam de Deus um estado habitual de pureza, incompatível com a vida comum dos homens. Então, vemos que os que eram sacerdotes no sistema do Antigo Testamento eram especiais, santos e sem deficiências. Isso apontava para o Sumo Sacerdote da Nova Aliança, Jesus Cristo (Hb 6.20), que é perfeito e seu sacrifício por nós foi único, completo e aceito pelo Pai.
A instituição do sacerdócio levítico era mais um “remédio”, uma medida paliativa que se criava até a vinda do Messias, que redimiria a humanidade e que se tornaria o Sumo Sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 5.10; Hb 6.20), instituindo, então, um verdadeiro “reino sacerdotal” (1ª Pd 2.9; Ap 1.5,6), que é a Sua Igreja.
Com a vinda de Cristo, porém, não há que se falar mais em necessidade de que parte do povo de Deus, a Igreja, seja constituída por “sacerdotes”, pois todo o povo de Deus é agora formado de sacerdotes, vez que o pecado foi tirado e há livre acesso à presença de Deus.
O sacerdócio levítico encerrou-se pouco antes da morte de Cristo na cruz do Calvário, quando o sumo sacerdote Anás, quebrando norma da lei (Lv 21.10), rasgou suas vestes durante o julgamento de Jesus pelo Sinédrio (Mt 26.65; Mc 14.63).
Logo em seguida, com Sua morte na cruz, Jesus instituiu o sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque (Sl 110.4; Hb 7.17,21), oferecendo-se pelo pecado da humanidade, sacrifício único e que efetuou eterna redenção (Hb 7.27; 9.12).
Na Igreja, portanto, a única forma de se tornar sacerdote é por meio do Novo Nascimento (Ap 1.5,6). É muita presunção querer ordenar sacerdotes por meios humanos. Na Nova Aliança, só há um mediador entre Deus e homem: Jesus Cristo, homem (1ªTm 2.05). Jesus é o nosso sublime e perfeito Sumo Sacerdote (Hb 7.26-27). Portanto, não mais necessitamos de intermediários humanos para nos achegarmos a Deus; não há mais a figura humana do sacerdote; é errado, portanto, chamar os pastores de sacerdotes, pois não existe mais a atividade de intermediação, como existia no Antigo Testamento; cada crente é um sacerdote - “vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo” (1ª Pd 2.5). Agora, qualquer um de nós pode adentrar ao trono da graça de Deus para suplicar, interceder, e oferecer culto e sacrifício de louvor ao Senhor.

II. O SUMO SACERDOTE
O sumo sacerdote era o principal representante do culto divino no Antigo Testamento (Êx 28.1). O povo de Deus somente poderia chegar à presença do Senhor através de pessoas especialmente designadas para isto. O sacerdócio veio como uma continuação da mediação que, iniciada por Moisés, deveria prosseguir até que viesse outro profeta como Moisés (Dt 18.15; At 7.37), que, então, estabelecesse uma nova ordem, um novo regime de sacerdócio.

1. Arão, da tribo de Levi, foi o primeiro sumo sacerdote. Arão foi o primeiro sumo sacerdote da história de Israel (Êx 28.1-3), cuja função era, primordialmente, a de interceder a Deus por todo o povo, notadamente no dia da expiação (Lv 16; 23.26-32).
Somente ele usava roupas especiais (Lv.16:2), interpretava o lançamento das sortes sagradas (Urim e Tumim – Êx 28.30; Lv 8.8) que eram mantidas em seu peitoral.
Somente ele entrava uma vez por ano no lugar santíssimo para expiar os pecados da nação israelita (Lv 16.29); no lugar santíssimo, depois de ter feito sacrifício antes por si mesmo, oferecia um sacrifício em nome de todo o povo, ocasião em que Deus aplacava a sua ira e diferia, por mais um ano, a punição pelos pecados cometidos.
Somente ele aspergia sangue sobre o propiciatório - como era chamada a tampa de ouro da arca do concerto -, que ficava dentro do lugar santíssimo, e este sangue trazia favor ao povo de Israel, pois, por causa deste sangue, o pecado do povo era coberto e Deus se mostrava favorável, não castigando o povo pelo pecado cometido.
Somente ele usava o peitoral com os nomes das doze tribos de Israel e atuava como mediador entre toda a nação e Deus.
Somente ele tinha o direito de consultar ao Senhor mediante Urim e Tumim, que ficava dentro do peitoral, os quais significavam “luzes e perfeições”. Segundo se crê, era duas pedrinhas, uma indicando resposta negativa e a outra, resposta positiva. Não se sabe como eram usadas, mas é provável que, em situações difíceis, fossem retiradas de algum lugar ou lançadas ao acaso, ao fazer-se uma consulta propondo uma alternativa: “farei isto ou aquilo?” E, segundo saísse Urim ou Tumim, interpretava-se a resposta, segundo a vontade de Deus (Nm 27.21; Ed 2.63; 1º Sm 14.36-42; 2º Sm 5.19).
Embora o sacerdote em alguns aspectos prefigure o cristão, o sumo sacerdote simbolizava Jesus Cristo (ver 1ª Pd 2.5,9; Hb 2.17; 4.14).
Restrições: Por ser tão honrosa e de muita responsabilidade, a função do sumo sacerdote era cercado de uma série de restrições, muito superiores a de qualquer outro israelita. Assim, por exemplo: não podia descobrir a sua cabeça; não podia rasgar os seus vestidos (Lv 21.10); não podia se chegar a qualquer cadáver, nem mesmo de seus pais (Lv 21.11); tinha que casar com mulher virgem, sendo-lhe vedado casar com mulher repudiada ou, mesmo, viúva (Lv 21.13,14).

2. Ungido para o ofício (Lv 8.10-12). Moisés tomou o azeite da unção, conforme estipulado em Êx 30.22-33, e derramou-o sobre a cabeça de Arão e ungiu-o, para santificá-lo (Lv 8.12). A unção de Arão simboliza a separação do sacerdote para Deus e a investidura com poder divino (charisma) necessário para o exercício do ministério santo. No Antigo Testamento, o profeta (1ª Rs 19.16), o rei (1º Sm 9.16; 10:1) e o sacerdote eram ungidos dessa maneira. Em hebraico, o verbo “ungir” (mashach) é o radical do qual se deriva a palavra Messias (“o ungido”). O Messias tinha de ser ungido não apenas com óleo, mas com o Espírito Santo (Is 11.2; 42.1; Lc 3.22).
O Senhor determinou que o sumo sacerdote Arão fosse ungido a fim de dignificá-lo como ministro extraordinário do culto divino (Êx 28.41; 29.1-7). A primeira etapa na consagração de Arão como sumo sacerdote foi lavá-lo com água diante da porta da tenda da congregação (Ex.29:4); em seguida, Arão vestiu as roupas descritas em Êxodo 28.5,6; em seguida, recebeu a unção com óleo (Êx 29.7) – “e tomarás o azeite da unção e o derramarás sobre a sua cabeça; assim, o ungirás”.
O azeite sobre a cabeça de Arão simbolizava a unção do Espírito Santo. Os dons e a influência divina são indispensáveis ao exercício do ministério. No Salmo 133.2 indica-se a abundância do óleo com o qual foi ungido Arão; é um belíssimo simbolismo do Espirito Santo derramado sem medida sobre o Senhor Jesus Cristo (Sl 45.6,7; Jo 3.34), nosso magnifico Sumo Sacerdote.
Moisés espargiu a santa unção sobre Arão e seus filhos. Assim é a presença e o poder do Espírito Santo para o "sacerdócio real" dos crentes a fim de que ministrem com poder e eficácia.
Assim como os sacerdotes do Antigo Testamento, os ministros de Cristo precisam ser ungidos com o Espirito Santo, afim de que o culto tenha a qualidade desejada pelo Senhor, sendo, assim, aceitável diante d’Ele. Além disso, a vida do ministro deve ser coerente com o culto ou serviço que prestam a Deus.

3. Cargo vitalício - Êx 28:43: “E estarão sobre Arão e sobre seus filhos, quando entrarem na tenda da congregação, ou quando chegarem ao altar para ministrar no santuário, para que não levem iniquidade e morram; isto será estatuto perpétuo para ele e para a sua semente depois dele”.
O sumo sacerdócio era um cargo vitalício, dado ao primogênito do vigente sumo sacerdote, com exceção dos casos de enfermidade ou mutilação previstos pela Lei (Nm 3.1-13; Lv 21.16-23), de modo que eles podiam transmitir a seus filhos as leis detalhadas relacionadas com o culto e com as numerosas regras às quais os sacerdotes viviam sujeitos a fim de manterem a pureza legal que lhes permitisse aproximar-se de Deus. Como os filhos de Arão, Nadabe e Abiú, foram mortos por levarem fogo estranho diante de Deus, Eleazar sucedeu o sumo sacerdócio, e foi mantido em sua família (Nm 20.25,26).
Segundo Ralph Gower, em alguma época da história de Israel, o sumo sacerdócio foi assumido pela família de Itamar, o quarto filho de Arão, mas Salomão fez novamente retornar à família de Eleazar, colocando Zadoque na posição de sumo sacerdote. Essa posição foi mantida na família dele até que seu descendente veio a ser deposto por Antíoco Epifânio (rei da Síria) nos dias dos macabeus. Nesse período posterior, os sumos sacerdotes eram indicados pelo poder reinante (exemplo: Anás foi deposto pelos romanos e substituído por Caifás - cf. Lc 3.2; Jo 11.49-51; 18.13-24), mas quando eles se tornaram forte o bastante para resistir às autoridades, adotaram seu próprio estilo de soberania. Ao que tudo indica, havia um rodízio entre os principais membros da família de Arão (Lc 3.2).
Na Nova Aliança, não há mais linhagens de sumo sacerdotes, porque o nosso único e definitivo Sumo Sacerdote é Cristo, que através do seu sacrifício acabou com a necessidade de novas ofertas e sacrifícios (Hb 7.1-8). Todos os cristãos são sacerdotes diante de Deus (1ª Pd 2.5-9; Ap 1.5,6; 5.9-10). Portanto, todo o povo de Deus da Nova Aliança pode se apresentar diretamente a Deus para oferecer-lhe sua adoração (Hb 10.19-23; 13.15). Por isso, devemos ter uma vida exemplar, quer em atitudes quer em palavras.

III. DIREITOS E DEVERES
Eram direitos e deveres dos descendentes de Levi, principalmente os da casa de Arão: viver do altar, santificar-se ao Senhor e ser uma referência moral, ética e espiritual.

1. Viver do altar (Lv 7.35). Nem os levitas nem os sacerdotes receberam terra quando Josué repartiu Canaã porque o Senhor havia de ser sua parte e herança (Nm 18.20). Os levitas que cuidavam do tabernáculo e o transpor­tavam recebiam o dízimo das outras tribos. Por sua vez, davam seus dízimos aos sacerdotes (Nm 18.28). Além disso, os sacerdotes recebiam a carne de determinados sacrifícios, as primícias, parte consagrada dos votos e os primogênitos dos animais – “Esta é a porção de Arão e a porção de seus filhos, das ofertas queimadas do SENHOR, no dia em que os apresentou para administrar o sacerdócio ao SENHOR” (Lv 7.35).
Assim expressa o apóstolo Paulo ilustrando este princípio: “Não sabeis vós que os que administram o que é sagrado comem do que é do templo? .... Assim ordenou também o Senhor aos que anunciam o evangelho, que vivam do evangelho” (1ª Co 9.13-14). E o ministro deve ter a atitude do Salmista: “O Senhor é a porção da minha herança e do meu cálice; tu sustentas a minha sorte” (Sl 16.5).

2. Santificar-se ao Senhor. Em virtude de seu ofício, os sacerdotes deveriam erguer-se, em Israel, como referência de santidade e pureza. Eles eram a personificação de Israel e sempre era seu dever trazer à memória de seu povo a santidade de Deus. O sumo sacerdote, por exemplo, tinha de ostentar uma faixa de ouro, em seu turbante (mitra), no qual estava colocada uma lâmina de ouro puro com as palavras "Santidade ao Senhor", gravadas sobre ela (Êx 28.36). Os sacerdotes proclamavam que a santidade é a essência da natureza de Deus e indispensável a todo o verdadeiro culto prestado a Ele.
No culto divino, tudo o que eles empregavam tinham de ser consagrados ao serviço divino. Portanto, Arão e seus filhos tinham de estar devidamente limpos e ataviados e deviam ter expiado seus pecados antes de assumirem os deveres sacerdotais.

3. Tornar-se uma referência espiritual e moral. Por ser o mediador entre Deus e o povo de Israel, os sacerdotes tinham o dever de se apresentarem como uma referência espiritual e moral. Caso contrário, seriam punidos exemplarmente, como aconteceu com os filhos de Eli, Hofni e Finéias. Estes, em consequência de seu proceder, tornaram-se um péssimo exemplo para o povo de Israel. A Bíblia diz que o Senhor queria matá-los por se comportarem de forma imoral perante o povo de Israel (1º Sm 2.22-25). Eles endureceram o coração e pecaram abertamente e sem constrangimento. Eli os advertiu, mas a advertência de Eli não teve efeito moral sobre eles. Deus os entregou à sua própria sorte. Para eles, já se passara o dia da salvação, estando, pois, destinados por Deus à condenação e à morte, à semelhança daqueles referidos em Rm 1.21-32. Iam morrer como resultado da sua própria e insolente desobediência e da sua recusa de arrepender-se.
À época de Malaquias, também, os sacerdotes se comportavam muito mal diante de Deus e do povo de Israel; estavam totalmente corrompidos. Por isso, o Senhor os havia tornado desprezíveis e indignos diante de todo o povo. A irreverencia deles era tão pútrida que Deus pediu que eles não fizessem mais culto a Ele no templo de Deus, que fechassem as portas do Templo – “Quem há também entre vós que feche as portas e não acenda debalde o fogo do meu altar? Eu não tenho prazer em vós, diz o SENHOR dos Exércitos, nem aceitarei da vossa mão a oblação” (Ml 1.10). Por causa disso, Deus os advertiu de que sofreriam uma condenação terrível caso não se arrependessem e mudassem de atitude.
Na Nova Aliança, também, Deus exige que o seu povo ande em santidade e pureza diante d’Ele, como exorta o apóstolo Pedro: “mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver” (1ª Pd 1.15).

CONCLUSÃO
O sacerdócio levítico era glorioso; seus membros eram considerados príncipes de Deus (Zc 3.8). Todavia, o sacerdote não era perfeito, e por causa disto devia estar sempre disposto a reconhecer seus pecados, abandoná-los e oferecer o sacrifício correspondente. Os sacerdotes eram apenas sombras do perfeito Sumo Sacerdote, o Senhor Jesus Cristo. Ele, como Sumo Sacerdote, foi designado e escolhido por Deus (Hb 5.5); Ele não tem pecado (Hb 7.26); o Seu sacerdócio é inalterável (Hb 7.23-24); o Seu oferecimento é perfeito e definitivo (Hb 9.25-28); Ele intercede continuamente (Hb 7.24-25); Ele é o único Mediador (1ª Tm 2.5); Ele já ofereceu o sacrifico definitivo. O que precisamos, então, é de uma apropriação pela fé dos méritos do Calvário, que nos limpam e nos colocam em condições de entrarmos no santuário de Deus.

Fonte. ANDRADE, Claudionor Correia de, Lições Bíblicas 3° Trimestre de 2018, CPAD, Rio de Janeiro, RJ.

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