TEOLOGIA EM FOCO: A ARCA DA ALIANÇA

quinta-feira, 30 de maio de 2019

A ARCA DA ALIANÇA



LEITURA BÍBLIA

Êxodo 25.10-22 “Também farão uma arca de madeira de cetim; o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura, de um côvado e meio, e de um côvado e meio, a sua altura. 11- E cobri-la-ás de ouro puro; por dentro e por fora a cobrirás; e farás sobre ela uma coroa de ouro ao redor; 12- e fundirás para ela quatro argolas de ouro e as porás nos quatro cantos dela: duas argolas num lado dela e duas argolas no outro lado dela. 13- E farás varas de madeira de cetim, e as cobrirás com ouro, 1 - e meterás as varas nas argolas, aos lados da arca, para se levar com elas a arca. 15- As varas estarão nas argolas da arca, e não se tirarão dela. 16- Depois, porás na arca o Testemunho, que eu te darei. 17- Também farás um propiciatório de ouro puro; o seu comprimento será de dois côvados e meio, e a sua largura, de um côvado e meio. 18- Farás também dois querubins de ouro; de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório. 19- Farás um querubim na extremidade de uma parte e o outro querubim na extremidade da outra parte; de uma só peça com o propiciatório fareis os querubins nas duas extremidades dele. 20- Os querubins estenderão as suas asas por cima, cobrindo com as suas asas o propiciatório; as faces deles, uma defronte da outra; as faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório. 21- E porás o propiciatório em cima da arca, depois que houveres posto na arca o Testemunho, que eu te darei. 22- E ali virei a ti e falarei contigo de cima do propiciatório, do meio dos dois querubins (que estão sobre a arca do Testemunho), tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel.”

INTRODUÇÃO.
Até aqui, analisamos de maneira compartimentada o espaço do Tabernáculo. Passamos pelo Pátio, pelo Lugar Santo e pelo Lugar Santíssimo. Agora, encontramo-nos no Lugar Santíssimo. Nesta lição, o nosso objeto de estudo é a Arca da Aliança que ficava no “Santo dos santos”. Veremos algumas lições espirituais que há de edificar nossas vidas.

Na sequência do estudo do tabernáculo, analisaremos a sua mais importante peça, a arca da aliança ou arca do concerto. - A arca da aliança, ou arca do concerto, é tipo de Cristo Jesus.

I. A DESCRIÇÃO DA ARCA DA ALIANÇA (ÊX 25.10)

1. Os nomes da arca.
É o que próprio Deus quem denomina a peça de “arca”, a palavra hebraica “’ārôn” (רוןָא.” (substantivo comum que significa uma caixa, cofre, casa de madeira, ou baú uma arca.

Nas Escrituras Sagradas, diferentes nomes identificam esse precioso objeto: “a Arca de Deus, a Arca do Senhor, a Arca da Aliança, a Arca do Testemunho” (1º Sm 4.11; Js 3.13; Nm 14.44; Nm 7.89). Era a peça mais valiosa e importante do Tabernáculo porque ocupava o primeiro lugar da vida espiritual de Israel.

E aqui vemos um segundo motivo para a arca ser a peça mais importante do tabernáculo onde se guardariam tesouros preciosos, como um cofre, tesouros estes que o Senhor chama de “testemunho” (Êx 25.16), que é a palavra hebraica “’ēdhûth” (הָעד”, (substantivo feminino que significa testemunho, preceito, sinal de advertência. Sempre usado em conexão com o testemunho de Deus e muitas vezes associado ao Tabernáculo (Êx 38.21; Nm 1.50,53).

2. A construção da arca (Êx 25.10,11).
A importância da arca fica evidenciada porque, assim que Deus manda Moisés coletar os materiais junto ao povo para a construção do tabernáculo, dizendo que ele teria de ser construído segundo o modelo que lhe seria mostrado, passa a ordenar que se construa a arca, ou seja, é a primeira peça que Deus revela a Moisés e que manda seja construída (Êx 25.10).

Objeto mais valioso e santo do Tabernáculo, a arca da aliança foi construída de maneira especial. Madeira de cetim (ou acácia) e revestimento com ouro puro, tanto por dentro quanto por fora, e teria uma coroa de ouro ao redor e nela deveria ser fundidas quatro argolas de ouro, a serem postas em seus quatro cantos, duas argolas de um lado e duas do outro, tendo também duas varas de madeira igualmente revestidas de ouro, para que, quando houvesse a sua locomoção, fosse a arca carregada nos ombros dos incumbidos de tal tarefa, sem que fosse tocada. As varas, aliás, deveriam ficar permanentemente nas argolas, o que não ocorria com nenhuma outra peça do tabernáculo, numa clara demonstração que jamais poderia ser ela tocada (Êx 25.11-15). Foram os materiais nobres usados para a construção da peça. Sua forma era retangular e suas medidas eram de 2,5 côvados de comprimento, 1,5 de largura e 1,5 de altura (1,25m de comprimento, 75cm de largura e 75cm de altura: estes são valores aproximados).

A arca foi feita por Bezaleel (Êx 37.1) e esta afirmação bíblica bem revela a solenidade e a importância desta peça, visto que, pelo que se infere do texto, foi algo feito exclusivamente pelo principal dos artesãos, especificamente chamado pelo Senhor e capacitado por Ele para tal obra (Êx 35.30-33).

Somente alguém devidamente capacitado de forma sobrenatural poderia elaborar esta peça, que era réplica de uma arca que existe no céu, como se pode verificar de Ap 11.19. Alguns entendem que esta arca vista por João seria a arca construída por Bezaleel, já que a arca desapareceu quando foi destruído o Primeiro Templo, mas não nos parece ser esta a melhor interpretação, uma vez que o Senhor dissera a Moisés que o tabernáculo era um modelo, uma cópia de um santuário celestial, de modo que tudo o que foi construído era réplica de algo que já existia nos céus e a arca vista por João parece ser a arca do tabernáculo celeste, não fazendo sentido que a arca construída aqui tivesse sido transportada para o céu.

3. O símbolo das duas naturezas de Cristo.
O ouro simboliza a divindade de Jesus e a madeira, sua humanidade (Hb caps. 1 e 2). Símbolo da plenitude da presença de Deus entre o povo judeu, a arca aponta para uma verdade revelada no Novo Testamento acerca do nosso Salvador: “porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9). Ou seja, Cristo é o Emanuel, isto é, o “Deus conosco”, o verbo que se fez carne e habitou entre nós (Mt 1.23; Is 7.14; 9.6; Jo 1.14). O apóstolo Paulo ainda escreve: “E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne” (1ª Tm 3.16).

Como a madeira de acácia não ficava exposta, e o que se podia ver era o dourado da arca, a imagem faz uma perfeita tipologia das duas naturezas de Jesus Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus. Essa doutrina é uma das mais importantes da fé cristã.

A arca, por ser de madeira e revestida de ouro, fala-nos, uma vez mais, da dupla natureza de Jesus Cristo, o Deus que Se fez homem (Jo 1.1-3,14), o mesmo sendo figurado pelas varas que permitiam a locomoção da arca. Jesus, enquanto andou entre nós, neste mundo, era o Deus feito homem, jamais deixou de ser Deus, mas havia Se humanizado. As quatro argolas de ouro demonstram a Sua divindade, mas uma divindade que ficou “inativa” enquanto esteve Ele entre nós, pois como homem deveria vencer o mundo e o pecado.

É uma verdade consoladora saber que hoje temos, à destra de Deus, um Sumo Sacerdote que sabe o que se passa com a nossa vida, e ainda compadece-se por ela (Hb 4.15). Portanto, não hesite em chegar ao trono da graça com confiança (Hb 4.16).

A parte externa da arca fala-nos do corpo de Cristo, o Deus que Se fez homem, que Se entregou por nós. Jesus Se deu por nós (Jo 10.18), Seu corpo foi a oblação, a oferta pelos nossos pecados (Hb 10.5-10).

Esta propiciação pelo sangue de Cristo faz-nos ter acesso à glória de Deus e, por isso, pelo sangue de Jesus, podemos chegar ao trono da graça, podendo, assim, ser ajudados em tempo oportuno (Hb 4.16).

O fato de o propiciatório ser de ouro puro e a arca ser revestida de ouro por dentro e por fora, falamos, também da própria glorificação de Cristo, após o Seu sacrifício, sendo ressuscitado dos mortos em corpo glorioso, para nunca mais morrer, glorificação que será seguida por todos quantos crerem n’Ele e forem lavados e remidos por este mesmo sangue (At 3.15; Rm 6.4; 10.9; Gl 1.1; Rm 8.30; 1ª Co 15.51-54; Ap 22.14).

II. O PROPICIATÓRIO DA ARCA (Êx 25.17-21)

1. A tampa da arca.
A tampa de madeira de acácia que ficava sobre a arca era denominada “Propiciatório”. Era adornada com a figura de dois querubins de ouro - um em frente do outro. Suas asas permaneciam abertas e voltadas para o centro da arca. Era uma obra belíssima.

A tampa da a arca que o Senhor denominou de “propiciatório”, a palavra hebraica “kapōreth” (תֶ פרַכ), (substantivo que significa tampa, propiciação). Esta palavra se refere à tampa que cobria a Arca do Testemunho. Ela era feita de ouro de decorada com dois querubins. Deus repousava acima deste propiciatório (Êx 25.17-22).

Mas a arca tinha uma tampa, que o Senhor denominou de “propiciatório”, a palavra hebraica “kapōreth” (תֶ פרַכ.” , (substantivo que significa tampa, propiciação. Esta palavra se refere à tampa que cobria a Arca do Testemunho. Ela era feita de ouro de decorada com dois querubins. Deus repousava acima deste propiciatório (Ex.25:17-22).
A palavra “propiciação”, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, significa “ação ou ritual com que se procura agradar uma divindade, uma força sobrenatural ou da natureza etc., para conseguir seu perdão, seu favor ou sua boa vontade; sacrifício ou oferenda que se faz para aplacar a ira dos deuses.

Esta tampa, portanto, era o lugar onde o Senhor aplacaria a Sua ira em virtude dos pecados do povo, não sendo, pois, coincidência que se tratasse de uma palavra específica para a denominação deste local singular não só no tabernáculo mas em todo o mundo.

Esta singularidade fala-nos de que somente Cristo Jesus é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos, mas pelos de todo o mundo (1ª Jo 2.2). Foi Jesus quem pagou o preço pelos nossos pecados, satisfazendo a justiça divina. Por isso, na cruz do Calvário, disse “Está consumado” (Jo 19.30), expressão que, no original grego, tetelestai, que significa “está quitado”, “está pago”, afirmando, assim, que a dívida existente entre a humanidade e Deus por causa do pecado havia sido satisfeita.

Enquanto, porém, o Senhor Jesus não oferecia o Seu sacrifício perfeito, que, em uma única vez, tiraria o pecado do mundo (Hb 9.28; 10.10,12), necessário se fazia que, periodicamente, mais precisamente uma vez ao ano, a ira de Deus fosse aplacada, e isto se dava mediante a “cobertura” de sangue nesta tampa, o propiciatório, quando o pecado da humanidade era expiado, ou seja, coberto, e adiada a punição, visto que o salário do pecado é a morte (Rm 6.23).

Quem salva o homem é Deus. Deus revela aqui toda a Sua graça e a Sua misericórdia, tanto que o propiciatório era conhecido como sendo o “lugar da misericórdia”, nome pelo qual, aliás, se traduz a palavra hebraica “kaporeth” em algumas versões como, por exemplo, a Versão do Rei Tiago (King James Version), que traduz o termo por “mercy seat”, ou seja, “o lugar ou assento da misericórdia”.

2. A simbologia da tampa da arca (Êx 25.17,21,22).
O sentido simbólico da tampa era o de “cobrir” algo valioso; figura de proteção aos elementos que estavam no interior da Arca: as Tábuas da Lei, a vara que floresceu e um vaso com o maná do deserto. É preciso ressaltar que a palavra grega usada para “propiciação” em Hebreus tem o significado de “trono de misericórdia”. Logo, o propiciatório da arca remonta ao valor misericordioso do sangue da expiação oferecida pelo nosso Senhor, conforme o apóstolo Paulo escreveu: “sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus” (Rm 3.24,25).

3. A simbologia dos querubins alados sobre o propiciatório (Êx 25.18; Hb 9.5).
Os querubins representam simbolicamente a majestade divina e a deidade do Todo-Poderoso. São seres que também aparecem nas visões do profeta Ezequiel (Ez cap. 4) e nas visões do apóstolo João, na Ilha de Patmos (Ap cap. 1). A função básica deles é a de proteger o Trono de Deus. Por isso, a imagem dos querubins reflete um aspecto protetor, ressaltando o compromisso deles de guardarem a Lei de Deus. Assim, misericórdia, graça e fidelidade são virtudes presentes na arca, mostrando que Deus sempre se interessou em amar e proteger o seu povo (Êx 25.20; Sl 89.1,2).

Os querubins, portanto, estavam ali para lembrar que o acesso a Deus estava interrompido por causa do pecado, que faz divisão entre Deus e a humanidade (Is 59.2) e que não se poderia compartilhar da glória divina e, ainda, carecer da graça e misericórdia de Deus para que não fôssemos tragados por causa do pecado.

É importante, ademais, embora já dito em outra oportunidade, que se aproveita a ocasião para se rechaçar argumento trazido por romanistas a respeito do uso de imagens. Defende o romanismo o uso de imagens, algo, inclusive, que foi estabelecido no Segundo Concílio de Niceia, ocorrido em 787. Um dos argumentos usados pelos romanistas é, precisamente, a existência destes querubins no tabernáculo, uma “prova” de que Deus permite e até determina o uso de imagens no culto

 Cabe observar, por primeiro, que estes querubins faziam parte do propiciatório, a tampa da arca, arca que NUNCA era vista pelo povo de Israel. Ora, a arca ficava no lugar santíssimo, separado do lugar santo por um véu e que somente era frequentado pelo sumo sacerdote uma vez ao ano, o que impedia que a arca pudesse ser vista por alguém, o que, por si só, já desmonta a ideia do uso de imagens no culto, pois estas imagens nem sequer eram vistas pelas pessoas, que dirá ser veneradas ou honradas, como fazem os romanistas.

Mesmo na locomoção do tabernáculo, a ordem divina era de que, quando fosse o caso de partirem, Arão e seus filhos viriam e tirariam o véu que separava o lugar santo do lugar santíssimo e com ele cobririam a arca da aliança (Nm 4.5), ou seja, ninguém teria sequer a oportunidade de ver tanto a arca quanto o propiciatório. Em seguida, deveriam pôr a coberta de texugo, que era a quarta e mais externa das camadas da cobertura do tabernáculo e sobre ela estenderiam um pano todo azul e, assim, carregariam a arca com os varais que sempre estavam nas argolas (Nm 4.5,6) e isto seria feito pelos coatitas (Nm 4.4). Que objeto de culto é este que nem sequer é visto ou tocado?

Como se isto fosse pouco, lembremos o episódio que envolveu Uzá, que ousou tocar na arca, que era levada, muito provavelmente coberta, de Quiriate-Jearim, onde fora deixada depois de sua devolução pelos filisteus, ainda nos dias de Samuel, Uzá que foi imediatamente morto por Deus por causa daquela imprudência (2º Sm 6.7; 1º Cr 13.10), a palavra hebraica (לַ ש...” , (substantivo masculino que significa pecado, erro). Este substantivo é usado apenas uma vez no Antigo Testamento, em 2º Samuel 6.7, entretanto, por este uso podemos perceber que o erro descrito por esta palavra é grande e grave. O contexto é o de Uzá, a quem Deus matou porque havia tocado a arca; este erro foi o motivo de sua morte. Este vocábulo conota um grande pecado ou erro que merece a morte.”

Mesmo quando houve a construção do templo, Salomão fez dois querubins de madeira, que cobriu de ouro, e colocou no lugar santíssimo, mas tais querubins, também, ficavam completamente fora da visão dos sacerdotes, pois eram de dez côvados de altura, quando o lugar santíssimo tinha vinte côvados de altura, e suas asas, de cada um dos querubins, ocupavam dez côvados de comprimento, num total de vinte côvados, indo de parede a parede do lugar santíssimo, que tinha vinte côvados e era separado por um véu do lugar santo (1º Rs 6.19-28), o que, também, retira o argumento e que estes querubins, que não faziam parte da arca, podiam ser objeto de veneração, já que nem sequer eram vistos e apenas reforçaram o aspecto da simbologia da separação entre Deus e os homens por causa do pecado.

Esta simbologia, aliás, é mais um argumento contra o uso de imagens. Com o sacrifício de Cristo, o véu foi rasgado de alto a baixo (Mt 27.51; Mc 15.38; Lc 23.45), abrindo-se um novo e vivo caminho entre Deus e os homens por Cristo (Hb 10.19-24), de sorte que o que representavam os querubins não mais existe, pois, o sacrifício único de Cristo tirou os nossos pecados (Hb 9.12,26,28) e, diante disto, não há mais qualquer obstáculo entre nós e Deus. Por que, então, haveríamos de usar querubins ou quaisquer outras imagens, se temos livre acesso a Deus por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo? (1ª Tm 2.5).

O fato de os querubins estarem voltados um defronte do outro, para o propiciatório e olhando para ele, é mais um reforço no sentido de que eles estavam ali única e exclusivamente para representar a divisão entre Deus e os homens por causa do pecado. E o sangue era posto justamente ali, no propiciatório, para onde os querubins olhavam, para mostrar que Deus ali aplacava a Sua ira, mediante o derramamento do sangue, pois, sem derramamento de sangue, não há remissão (Hb 9.22). No Sl 9.12, Davi, em um salmo que é um canto fúnebre, mostra que “Deus inquire do derramamento de sangue”, e a palavra hebraica traduzida por “inquire” é “dārāš” (שָ רָ ד), (propriamente) pisar ou frequentar; (usualmente) seguir (para perseguição ou busca); (por implicação) buscar ou perguntar; (especificamente) adorar: - perguntar, x de alguma maneira cuidar, ter cuidado, x diligentemente, inquirir.

III. OS TRÊS ELEMENTOS SAGRADOS DENTRO DA ARCA


Como mencionamos anteriormente, três principais objetos estavam no interior da arca:
As tabuas da Lei; o vaso com o maná e a vara de Arão.




 1. As tábuas da Lei (Êx 25.16,21; Dt 10.1-5).
Pelo poder divino, Deus esculpiu em duas tábuas a sua Lei para Israel. Aqui, estamos nos referindo às segundas tábuas da Lei (cf. Dt 10.1-5), pois as primeiras foram quebradas por Moisés depois de o povo israelita praticar a idolatria com o Bezerro de Ouro (Êx 32.19,20). Entretanto, as tábuas guardadas na arca foram uma segunda cópia produzida pelo próprio Deus. Assim, elas estariam protegidas e seus princípios norteariam o povo.

Na arca, coberta pelo propiciatório, deveria ser posto o “Testemunho”, que, como já vimos, era uma espécie de “tesouro”, de preceito, sinal de advertência. É interessante notar que, quando o Senhor manda a Moisés que deveria construir a arca, não diz a ele, de imediato, que “testemunho” ali seria posto (Êx 25.16). Era algo que seria revelado posteriormente.

Dentro da arca, portanto, deveria ser posto o “testemunho”, algo que serviria como “sinal de advertência” para o povo de Israel, algo que como que complementaria a simbologia tanto dos querubins quanto do sangue que deveria ser posto sobre o propiciatório uma vez ao ano para aplacar a ira de Deus.

A existência de um “testemunho” na arca mostra-nos que, em nossa comunhão com o Senhor, que é estabelecida pelo sangue de Jesus, deve haver uma “vigilância”. Por isso, o Senhor Jesus é sempre enfático ao dizer a Seus discípulos que eles deveriam vigiar para não entrar em tentação (Mt 26.41; Mc 14.38), vigiar para não perder a salvação (Mt 24.42; 25.13; Mc 13.33,35,37; Lc 21.36).

Deus mandou que Moisés pusesse na arca o “testemunho”, que eram as duas tábuas de pedra em que o Senhor escrevera, pela segunda vez, as palavras que proferira no monte Sinai, os “dez mandamentos” (Êx 34.1,4,28,29; Dt 10.1-5).

Eram as “segundas tábuas da lei”, que se encontravam dentro da arca, como “testemunho”, como “sinal de advertência”, ou seja, o Senhor lembrava continuamente Israel do pacto que havia firmado com eles no Sinai, sendo que a lei estava ali não para salvar o povo, mas, antes, para apontar o pecado do povo e mostrar a necessidade de alguém que viesse cumprir a lei e pagar o preço pelos pecados, apontados mas nunca tirados pela lei.

Estas “segundas tábuas da lei” são conhecidas como as “tábuas da misericórdia”, porque foi a demonstração de uma “segunda chance” dada por Deus aos filhos de Israel, pois, com o episódio do bezerro de ouro, a destruição do povo era certa, tanto que Moisés subiu ao monte para aplacar a ira de Deus contra os israelitas (Êx 32.30-32).

Quando o Senhor deu novas tábuas ao povo de Israel, revelou que não iria destruí-lo e, assim, permitir que os israelitas aguardassem o novo profeta que viria e que resolveria a problemática do pecado e traria a comunhão perfeita que a lei não poderia dar, ante a incredulidade dos israelitas.

Ao mandar que estas tábuas fossem inseridas dentro da arca, tinha-se a certeza de que Deus era misericordioso, grandioso em perdoar (Is 55.7) e que, apesar do pecado, havia esperança e o Senhor continuava querendo ter um relacionamento com Israel, que deveria, então, observar os mandamentos que lhe havia sido dado por Deus, esperando a vinda do profeta a quem eles deveriam ouvir.

As segundas tábuas foram talhadas por Moisés, embora, como as primeiras, tivessem sido escritas por Deus (Êx 34.1). Isto mostra a existência de um esforço humano para o cumprimento da Palavra, um comprometimento que deve existir na vida daquele que quer servir a Deus.

A participação humana nas segundas tábuas representa o esforço humano na santificação progressiva, é o nosso amoldar à vontade de Deus, e, mais, demonstra a própria humanidade de Cristo, que, como homem, venceu o pecado e o mundo para nos dar a salvação. Enquanto as primeiras tábuas eram fruto único e exclusivo de Deus, a tipificar a iniciativa humana no processo da salvação, as segundas tábuas revelam esta cumplicidade que passa o povo de Deus a ter com seu Senhor na continuidade da santificação até o dia da glorificação, glorificação que somente será possível precisamente porque os glorificados guardaram a Palavra do Senhor (Ap 3.10).

A presença das segundas tábuas da lei na arca, também, revela que a Palavra de Deus é extremamente necessária para que tenhamos a presença de Deus em nós, para que entremos em comunhão com o Senhor. A arca tipifica Cristo, Cristo que está além do véu, o Cristo com quem convivemos com quem temos unidade uma vez nos arrependendo de nossos pecados e alcançando o perdão, a justificação, a regeneração, a conversão, a adoção de filhos e a santificação (Jo 17.20,21; Rm 8.16,17,29,30). Quando guardamos a Palavra, tornamo-nos morada do Pai e do Filho (Jo 14.23) e, por isso, haveremos de morar eternamente com o Senhor na glória (Ap 3.10).

Como ensina o pastor Abraão de Almeida: “…Como as tábuas da Lei representavam a vontade de Deus para com o povo de Israel, elas apontavam para Jesus, que tinha a vontade de Deus no seu coração…” (O tabernáculo e a Igreja, p.26). Não só no Seu coração, mas o Senhor Jesus tinha em cumprir a vontade do Senhor a sua própria razão de ser, tanto que disse ser isto a Sua comida (Jo 4.34).

2. Um vaso com o maná do deserto (Êx 16.33-35).

Dentro da arca, também, foi determinado que se pusesse uma porção de maná (Êx 16.33), que deveria servir de guarda para as gerações, ou seja, como uma lembrança de que Deus os havia sustentado com maná durante a peregrinação no deserto (Dt 8.3,16).

Originalmente, quando o maná ficava de um dia para o outro, apodrecia (Êx 16.19,20). Porém, o maná contido na arca da aliança não sofria qualquer tipo de deterioração. Isso sinalizava a provisão do Deus Altíssimo para o seu povo. Da mesma forma, essa imagem aponta para o Senhor Jesus como o maná celestial, o “pão vivo” que nutre e sustenta a sua Igreja. O nosso Senhor foi quem disse: “Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome” (Jo 6.35). Portanto, “coma” desse pão e alimente-se da verdadeira vida!

Aqui temos a tipificação de Cristo como o pão da vida, como o Deus da provisão, como o próprio Jesus haveria de explanar em um discurso dirigido aos judeus na sinagoga de Cafarnaum (Jo 6.22-59).

Não há como mantermos a comunhão com o Senhor se d’Ele não nos alimentarmos, se não comermos da Sua carne e bebermos do Seu sangue, como o próprio Senhor Jesus nos ensina na passagem já aludida do evangelho segundo João. Comer da Sua carne e beber do Seu sangue não é apenas participar da ceia do Senhor, como ensinam os romanistas, que, a propósito, procuram extrair dessa passagem respaldo para sua equivocada doutrina da transubstanciação, mas, sim, uma vida de união com o Senhor, de renúncia de si mesmo e de prática da vontade de Deus, o que o apóstolo Paulo chama de viver para Deus, de não mais viver, mas Cristo viver em nós (Rm 6.1-11; Gl 2.20; Fp 1.21).

O maná também não estava na arca quando da inauguração do templo, porque o maná foi temporário, não era o verdadeiro pão do céu, algo que cessou (Js 5.12) e que foi substituído pelo fruto da terra, igualmente dado pelo Senhor (Sl 65), mas cuja abundância dependeria da fidelidade do povo ao Senhor (Dt 28; Ml 3.8- 12). Mas, Cristo, o pão da vida, o verdadeiro pão do céu, o maná escondido, para sempre nos alimentará, dando-nos do maná escondido (Ap 2.17).


3. A vara de Arão que floresceu (Nm 17.1-10).

Além das segundas tábuas da lei, que sempre permaneceram no interior da arca (1º Rs 8.9), também o Senhor mandou que se pusesse dentro da arca a vara de Arão que florescera e frutificara, quando da prova que Deus mandou que se fizesse para que se calasse o questionamento quanto à autoridade espiritual de Arão, questionamento surgido com a rebelião de Coré, Datã e Abirão (Nm 16.17). Essa vara serviria de uma memória ao povo de Israel quanto à escolha de Deus ao ministério sacerdotal. Esse milagre mostra, com clareza, que o Altíssimo é quem designa seus ministros para uma grande obra. Ele é o dono de tudo e age segundo o seu maravilhoso propósito (Rm 8.28-30; 1ª Co 1.26,27).

Logo após a cessação da praga que vitimou quatorze mil e setecentas pessoas depois da morte dos envolvidos diretamente com a rebelião, o Senhor mandou que se tomasse uma vara para cada casa paterna de Israel e que se escrevesse o nome de Arão em vez de Levi na vara referente a esta tribo e que se deixassem as varas na tenda da congregação diante da arca e que, no dia seguinte, vindo o Senhor, a vara daquele a quem Ele escolhera floresceria e frutificaria. E, no dia seguinte, quando Moisés entrou na tenda da congregação, a vara de Arão tinha florescido, e dado amêndoas, e isto foi mostrado ao povo, como prova de que o Senhor escolhera Arão para o sacerdócio. Foi, então, mandado que esta vara fosse colocada dentro da arca (Nm 17.10). A vara seria como “sinal para os filhos rebeldes”, o que poria fim às murmurações e o povo não morreria por causa disso.

A vara de Arão, prova de sua chamada sacerdotal, tipifica Cristo como o Sumo Sacerdote, Aquele que ofereceu o único e perfeito sacrifício que tirou o pecado do mundo. O sacerdócio que floresceu e frutificou e fez surgir um povo santo, especial e zeloso de boas obras, o grão de trigo que morreu e, por ter morrido, frutificou (Jo 12.24).

Mas, também, a vara de Arão representa a autoridade de Deus, pois, com ela, o Senhor mostrou que tinha o poder de escolher quem Ele quisesse para exercer o sacerdócio e que ninguém poderia questionar a Sua soberania. Vara fala de autoridade, tanto que o Senhor Jesus é apresentado como aquele que terá a vara e regerá as nações durante o Seu reino milenial (Ap 2.27; 19.15).

Nossa comunhão com Deus só é possível diante da mediação de Jesus Cristo, o único mediador entre Deus e os homens (1ª Tm 2.5). Não há outro meio pelo qual possamos nos chegar a Deus (Jo.14.6).

A vara de Arão já não mais estava na arca quando da inauguração do templo, como uma demonstração: primeiro, que o povo havia deixado de lado esta advertência para não murmurar, deixando de lado a própria autoridade divina, tanto que haviam pedido um rei, não querendo mais que o Senhor reinasse sobre eles (1º Sm 8.7); segundo, porque o sacerdócio levítico, ressaltado nesta vara, não era permanente, haveria de terminar e dar lugar ao sacerdócio de Cristo, este, sim, o sacerdócio perfeito e eterno (Hb 8).

IV. PECULIARIDADES SOBRE A ARCA DA ALIANÇA OU ARCA DO CONCERTO

Não resta dúvida, como já vimos, da grande importância da arca da aliança ou arca do concerto para o tabernáculo.

Sua importância era tal que a sua retirada do tabernáculo, nos dias de Eli, para que fosse levada ao campo de batalha na guerra contra os filisteus representou a própria destruição do tabernáculo de Siló.

Nos terríveis dias de Eli, os israelitas desvirtuaram o papel da arca da aliança, passando a considera-la um amuleto. Assim, acharam que a simples presença dela no campo de batalha garantiria a vitória de Israel sobre os filisteus (1º Sm 4.3-10).
 “…Uma arca era uma mobília religiosa comum naquela época no Oriente Médio, mas essa arca era diferente. Na maioria das religiões pagãs, o baú continha uma estátua da divindade sendo adorada. Neste caso, a arca continha três itens que mostravam como Deus se relacionava com o seu povo: as tábuas com os dez mandamentos (a orientação de Deus), a vara de Arão (a autoridade de Deus) e uma jarra de maná (a provisão de Deus para necessidades diárias do Seu povo).…” (AQUINO, Hugo. Tabernáculo, lugar de adoração. Disponível em: https://www.slideshare.net/392766/tabernculo-64413086 Slide 66. Acesso em 18 fev. 2019).

Como nos mostra Hugo Aquino, os israelitas achavam que a arca poderia ser o próprio Deus atuando em favor deles no campo de batalha, diminuindo, assim, o Senhor a apenas uma peça que O representava. No entanto, apesar de toda a festa que fizeram no arraial, os israelitas foram fragorosamente derrotados, porque haviam tornado a glória do Deus incorruptível em algo criado.

Não só os israelitas foram derrotados, como a arca foi tomada e os filisteus, dentro da mesma mentalidade dos israelitas, acharam que haviam “conquistado” o Deus de Israel. Aprenderam, também, que Deus é maior do que a arca e tiveram de reconhecer a soberania divina (1ªº Sm 5.1; 6.12).

Devolveram a arca a Israel mas, a partir daí, a arca nunca mais voltou a Siló, que deixou de ser a sede do tabernáculo, por expressa vontade do Senhor, como até sinal da Sua desaprovação para com a atitude tomada pelos anciãos em relação a arca, que foi o ponto culminante de toda uma série de transgressões e desobediências (Sl 78.56-60), ficando, deste modo, como sinal de advertência para futuras rebeldias (Jr 7.12,14; 26.6,9).

Quando a arca retornou a Israel, por causa da irreverência com que a acolheram, foram mortos cinquenta mil e setenta homens, pois, os israelitas foram ver o que havia dentro da arca (1 Sm 6.19), onde, provavelmente, foram tirados da arca a varão de Arão e o pote de maná, motivo por que foi ela levada a Quiriate-Jearim, onde foi posta na casa de Abinadabe, onde ficou até os dias de Davi (1º Sm 7.1; 1º Cr 13.1-3).

Nos dias de Davi, a arca foi levada até Jerusalém (2º Sm 6.12; 7.2), onde ficou numa tenda até a construção do templo por Salomão, quando foi levada para o lugar santíssimo do templo, tendo, então, apenas as tábuas da lei (1º Rs 8.4-9).

Pelo que se verifica, até pelo temor de ser a arca tomada quando havia alguma guerra ou invasão estrangeira em Jerusalém, a arca era removida do lugar santíssimo nessas ocasiões, tendo o rei Josias dito que não teriam mais que se preocupar com isso (2º Cr 35.3).

- Entretanto, não se sabe se neste suposto costume de remoção da arca quando dos sítios dos inimigos na cidade, ou por Providência Divina, o fato é que, apesar do minucioso relato dos escritores sagrados sobre o que foi levado pelos babilônios para sua terra quando da destruição do templo, a arca, a peça mais importante, não é sequer mencionada (2º Rs 25.13-17; 2º Cr 36.19; Ed 1.9-11; Dn 5.3).

A arca desapareceu, não se sabendo o seu paradeiro. Quando da construção do Segundo Templo, não foi feita nova arca, de forma que o Segundo Templo não a possuiu. E por que não teve o Segundo Templo uma arca? Porque a glória da segunda casa seria maior do que a primeira (Ag 2.9) e este templo não veria a arca, tipo de Cristo, mas o próprio Cristo, o próprio antítipo. Jesus esteve no templo e se pôde ver a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade (Jo 1.14), Aquele que, ao morrer, fez rasgar o véu de alto a baixo, abrindo um novo e vivo caminho para Deus, permitindo a entrada ao santíssimo de todos os que cressem n’Ele, tornando cada um de Seus servos morada de Deus no Espírito (Ef 2.22).

Por isso, é abominável aos olhos do Senhor o que se tem visto nos últimos tempos, com vários que cristãos se dizem ser reproduzirem a arca da aliança e, mais do que isto, colocarem a arca no centro do culto a Deus. Trata-se de uma atitude assaz preocupante, de substituir Cristo por um tipo que, inclusive, deixou de ser utilizado desde o início do Segundo Templo, há cerca de 2.500 anos atrás.

Observemos, ademais, que, em Jr 3.16, o profeta diz que, quando viesse o tempo em que o Senhor daria “pastor segundo o Seu coração que apascentassem Israel com ciência e com inteligência”, ou seja, quando viesse o “novo concerto” (Cf. Jr 31.31-34), “nunca mais se diria: a arca do concerto do Senhor! Nem lhes virá ao coração, nem dela se lembrarão, nem a visitarão, isso não se fará mais”. Ou seja, o texto sagrado é explícito ao dizer da desnecessidade da arca do Senhor na nova aliança estatuída pelo sangue de Cristo.

Tornar a fazer a arca do concerto, transformá-la em objeto de culto é nada mais nada menos do que uma forma de estar perigosamente muito próximo de pisar o Filho de Deus e ter por profano o sangue do testamento com foi santificado e fazer agravo ao Espírito da graça, conduta que é praticamente uma blasfêmia contra o Espírito Santo, o pecado voluntário que está além do perdão, como nos indica o escritor aos hebreus (Hb 10.26-31).

Não podemos, em absoluto, utilizar da arca da aliança como objeto de culto ou como referência ao nosso culto. Temos o antítipo da arca, Cristo Jesus, que mora em nós e que vive em nós. Tomemos, pois, muito cuidado com isso, amados irmãos!

CONCLUSÃO.
Nesta lição, vimos que arca da aliança era um grande símbolo da presença de Deus entre o seu povo, e que nos aponta para a obra completa de Jesus Cristo para sua Igreja. Nestes últimos dias, o Senhor nos deixou o Consolador. Não precisamos mais carregar uma arca para desfrutar da presença de Deus, pois o Espírito Santo habita em nós.

Lições Bíblicas do 2° trimestre de 2019 - CPAD

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