Texto
Áureo
“E voltaram os setenta com alegria,
dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam.” (Lc 10.17)
Este texto áureo é importantíssimo,
porque encerra algumas verdades:
Nada podemos fazer contra as hostes
malignas, a não ser em nome de Jesus. Não há meio termo, prática, fórmula,
objeto sagrado que possa fazer isso por nós. É só através de seu nome. Do
contrário, podemos até ser envergonhados como os filhos de Ceva (At 19.14ss).
Em decorrência disso, a expulsão de
demônios não pode glorificar o homem. Ninguém pode se engradecer ou creditar
qualquer mérito a si mesmo, neste particular.
Jesus não reprovou a alegria por conta
da libertação de oprimidos. Isso é possível, só não podem se tornar alvo de
teatro ou chacota, muito menos de simonia (compra e venda do sagrado).
A sujeição de demônios ao poder de
Cristo é resultado da pregação da Palavra de Deus. Jesus não enviou, a priori,
os setenta para expulsar demônios. Leia os versículos iniciais do capítulo 10 e
entenderás isto. À medida que pregavam milagres ocorriam e demônios eram
expulsos. Não somos exorcistas profissionais.
O fato de que demônios são expulsos não
pode se sobrepor à salvação. O próprio Jesus disse que no último dia, muitos
dirão: “Em teu nome expulsamos demônios!”, mas não poderão entrar no reino de
Deus (Mateus 7.22,23).
Verdade
Prática
O relato do endemoninhado gadareno
mostra a soberania absoluta de Jesus Cristo sobre o Diabo e seus demônios.
Marcos
5.2-20
“E, saindo ele do barco, lhe saiu logo ao seu encontro, dos sepulcros, um homem
com espírito imundo, 3 o qual tinha a sua morada nos sepulcros, e nem ainda com
cadeias o podia alguém prender. 4 Porque, tendo sido muitas vezes preso com
grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões,
em migalhas, e ninguém o podia amansar. 5 E andava sempre, de dia e de noite,
clamando pelos montes e pelos sepulcros e ferindo-se com pedras. 6 E, quando
viu Jesus ao longe, correu e adorou-o. 7 E, clamando com grande voz, disse: Que
tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não
me atormentes. 8 (Porque lhe dizia: Sai deste homem, espírito imundo.) 9 E
perguntou-lhe: Qual é o teu nome? E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu
nome, porque somos muitos. 10 E rogava-lhe muito que os não enviasse para fora
daquela província. 11 E andava ali pastando no monte uma grande manada de
porcos. 12 E todos aqueles demônios lhe rogaram, dizendo: Manda-nos para
aqueles porcos, para que entremos neles. 13 E Jesus logo lho permitiu. E,
saindo aqueles espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada se precipitou
por um despenhadeiro no mar (eram quase dois mil) e afogou-se no mar. 14 Os que
tratavam dos porcos fugiram e foram anunciá-lo na cidade e pelos campos. Então
o povo saiu para ver o que tinha acontecido. 15 Aproximando-se de Jesus, viram
o endemoniado, o que antes estava dominado pela legião, assentado, vestido, em
perfeito juízo; e temeram. 16 Os que haviam presenciado os fatos contaram-lhes
o que tinha acontecido ao endemoniado e também falaram a respeito dos porcos. 17
E começaram a pedir com insistência que Jesus se retirasse da terra deles. 18 Quando
Jesus estava entrando no barco, aquele que antes estava possuído pelos demônios
pediu com insistência que Jesus o deixasse ficar com ele. 19 Jesus, porém, não
o permitiu; ao contrário, ordenou-lhe: — Vá para a sua casa, para os seus
parentes, e conte-lhes tudo o que o Senhor fez por você e como teve compaixão
de você. 20 Então ele foi e começou a proclamar em Decápolis tudo o que Jesus
lhe tinha feito; e todos se admiravam.”
Objetivos
Específicos
Abaixo, os objetivos específicos referem-se
ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I
refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.
1)
Destacar a possessão demoníaca e sua harmonização na narrativa bíblica.
É preciso enfatizar a realidade desta
possessão, destacando rapidamente as razões que levam à isso, tais como:
pecado, distanciamento de Deus, envolvimento com rituais espirituais
demoníacos, heresias, etc. Para Jesus aquele cenário era muito mais uma arena
de luta de que uma plácida discussão filosófica ou teológica.
2)
Conceituar legião demoníaca.
Enfatize que legião romana era um grupo
de até 6.000 soldados. Sendo que no tempo de Augustus (27 a.C. – 14 d.C) esse
número chegava a 6.826 homens. Sendo 6.100 soldados a pé e 726 montados em cavalos.
Esta formação favorecia o deslocamento do exército. A legião era a mais rápida
força de guerra de sua época, atuando com escudo e espadas curtas, a chamada
infantaria, e funcionava dividida em coortes (vide imagem abaixo).
Na frente iam os soldados mais jovens,
no meio os adultos e logo atrás os mais velhos. Para escapar das flechas os
soldados ensaiavam uma formação que unia todos os escudos, tornando-a
impenetrável ao exército inimigo, chamada testudo. Além das espadas levavam a
balista que atirava pedras e o scorpio que jogava flechas. Há duas palavras
chave para o sucesso da legião: disciplina e estratégia. A legião demoníaca,
por sua vez, possui um conjunto ilimitado de armas para atacar por todos os
lados.
Atenção! Isto não quer dizer que aquele
homem tinha 6.000 demônios. Qualquer grande quantidade de soldados era por
vezes chamada de legião.
3)
Expor o poder de Jesus sobre os demônios.
Exponha rapidamente (uma vez que será
desdobrado mais adiante) o poder de Cristo sobre os demônios. “Porque nele
foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e
invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades.
Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas
as coisas subsistem por ele” (Cl 1.16,17). Então, toda a criação está
subordinada voluntária ou involuntariamente a Cristo.
4)
Analisar o comportamento dos porqueiros e do povo.
Exponha rapidamente (uma vez que será
desdobrado mais adiante) o comportamento negativo dos porqueiros e do povo para
os quais era mais importante que aquele homem continuasse como escravo do
Diabo.
INTRODUÇÃO.
O
relato do endemoninhado gadareno encontra-se também em Mateus e Lucas, com
algumas variações. O fato revela informações sobre a possessão demoníaca e o
poder absoluto de Jesus sobre todo o reino das trevas. É o prenúncio da vitória
final de Cristo sobre Satanás e seus anjos. E não somente isso, mas também uma
prova viva de que podemos confiar em Jesus.
É indispensável contextualizar porque
Jesus havia chegado em Gadara. Lendo o capítulo 4 de Marcos vamos entender que
sua intenção inicial era atravessar o Mar da Galileia e chegar na outra margem.
Este mar está, em média, 210 m. abaixo do nível do mar Mediterrâneo. A maior
profundidade da sua água é de cerca de 48 m. De Norte a Sul, esta massa de água
tem o comprimento aproximado de 21 km, com uma largura máxima de 12 km.
Dependendo da estação, as águas cristalinas do mar da Galileia variam de cor,
desde o verde até o azul, e a temperatura média da água oscila entre 14°C em
fevereiro e 30°C em agosto. Sua fonte primária de alimentação é o rio Jordão.
Na Bíblia é chamada de lago de Genesaré, Quinerete ou mar de Tiberíades.
O mar da Galileia é praticamente cercado
por colinas e montes, exceto pelas planícies que beiram o Jordão. Sua região
norte é ocupada por uma massa de grandes rochedos de basalto. No Sul da cidade
de Tiberíades, na margem ocidental, existem fontes quentes de enxofre, há muito
famosas por suas propriedades medicinais. É navegável em toda sua extensão e há
muitos pescadores em suas águas. Como está numa região de depressão são comuns
tempestades e mudanças atmosféricas radicais. Foi o palco de grandes preleções
de Jesus e suas margens testemunharam grande parte de seu ministério terreno.
Mas agora retornemos a Marcos 4. Jesus
está cansado e dorme, quando no Mar da Galileia levanta-se um grande temporal.
As águas revoltas ameaçam inundar o barco e os discípulos, boa parte deles
homens experimentados na pesca, estão atemorizados. Gritam por Jesus para que
os socorra. O Mestre primeiro os repreende pela falta de fé, depois ordena que
o mar se aquiete e o vento se cale. O termo grego para a bonança que se seguiu
– galênê (Marcos 4.39) – descreve um mar tão calmo que se podia olhar em suas
águas como um espelho!
Essa calma, porém, lhes levou para o
lado sudeste do lago. Observem! Não era para onde Jesus queria ir. Tanto que
mal tocou na praia e liberto o endemoninhado, fez-se ao mar e foi pra outro
lugar. Ele queria passar ali somente para libertar aquele homem e torná-lo um
missionário! O primeiro a evangelizar o que hoje é a Jordânia!
I.
A POSSESSÃO MALIGNA
1.
Harmonização nas narrativas. Mateus afirma que foram dois
endemoninhados (Mt 8.28). Mas Marcos e Lucas registram apenas um (Mc 5.2; Lc
8.27). Os pormenores descritos em Marcos são de um só, razão pela qual a
narrativa está concentrada nele. Marcos e Lucas registraram apenas o mais
violento e o mais feroz deles. O outro detalhe é que Mateus apresentou apenas
um resumo do episódio, pois a sua ênfase é a autoridade de Jesus sobre os
espíritos malignos. Mateus omite o fato de o porta-voz dos demônios se identificar
como “legião” e também o desejo de o gadareno, após sua libertação, seguir a
Jesus.
Muitas explicações já foram tentadas
para harmonizar estas narrativas. Nos casos desta natureza devemos sempre levar
em conta a perspectiva do narrador. Cada um dos evangelistas escreve com um
objetivo, um destinatário, um estilo. A inspiração plenária das Escrituras (2ª
Tm 3.16) não exclui a personalidade do escritor e sua cosmovisão (1ª Co 7.12). A
partir desta premissa o escritor escolhe o que deseja enfatizar na narrativa ou
até omiti-la. Mateus escolheu os dois endemoninhados, enquanto Marcos e Lucas
enfatizam o mais agressivo e interativo.
Mas não só isso: escolheu encolher seu
relato! Enquanto usa seis versículos para descrevê-lo, Marcos usa 19 e Lucas
14. João nem a menciona! O famoso diálogo de Jesus com o gadareno é
notavelmente omitido por Mateus. Isso não o desmerece. É fruto da sua intenção
de destacar o relato para os judeus. A ênfase, portanto, deve ser na história
como um todo.
Muitos críticos da Palavra de Deus
adoram dar relevo a tais discrepâncias. Eles esquecem que estas aparentes
disparidades conferem autenticidade ao texto sagrado, pois mostram que houve
total espontaneidade dos escritores em relatar a história como a compreendiam.
Norman Geisler relata em seu livro Não tenho fé suficiente para ser ateu, que o
Novo Testamento possui cerca de 5.700 manuscritos e mais de 9.000 outros
materiais em línguas antigas, além de fragmentos dos mais diversos. Já Josh
McDowell em suas palestras relata encontrar fragmentos de Marcos datados por
volta do ano 150 d.C., em máscaras mortuárias egípcias, exatamente com o texto
que temos hoje.
2.
A opressão.
Os demônios aparecem como agentes de Satanás causadores de males, dando às suas
vítimas características típicas, como força sobre-humana (Mt 8.28; 17.15; At
19.16), poder de adivinhar (At 16.16) e conhecimento sobrenatural (v.7). Eles
atacam suas vítimas e, ao possuí-las, dominam suas faculdades mentais,
levando-as à demência (Mt 4.24; 17.15) e às vezes incapacitando-as de falar e
de ver (Mt 9.32; 12.22).
Confesso nunca ter percebido que Mt 12.22
fala de um home cego pela ação demoníaca. Acrescentei esse conhecimento com a
lição. Mais uma vez entra em cena o famoso ensinando e aprendendo… Assim, além
da cegueira mental e espiritual, historicamente observada pela ação maligna no
mundo (2ª Co 4.4), temos um caso de cegueira física. Isso mostra que na
progressão da possessão não sofrem somente a alma e o espírito, mas o corpo.
Não à toa vemos, por exemplo, verdadeiros zumbis na prostituição e nos vícios
em geral, destruindo a criação divina. Afinal, o inimigo veio para roubar,
matar e destruir (João 10:10). O outro lado da questão é quão real é a opressão
e a possessão no mundo!? Não obstante a atmosfera religiosa de Israel, ela
estava por toda parte.
3.
Um quadro estarrecedor. O endemoninhado gadareno vivia nos sepulcros,
desnudo, e era tão violento que nem mesmo os grilhões e as cadeias podiam
detê-lo. Corria pelos montes e desertos e se feria com pedras. O fato de procurar
viver nos sepulcros já era uma demonstração de sua total anomalia. O
comportamento violento e sobrenatural do gadareno, para sua própria destruição,
e para a perturbação de seus vizinhos, revela a natureza destruidora de
Satanás.
II.
A LEGIÃO DEMONÍACA
Como já falamos, o termo legião não quer
dizer, a priori, que o endemoninhado tinha 6.000 demônios. Esta explicação está
no próprio texto – “porque somos muitos”. Infelizmente, alguns expositores
insistem em dramatizar essa conta… Outro senão é que demônios são seguidores do
pai da mentira (Jo 8:44), logo não é impossível que na ocasião tenha afetado
poder se referindo a um número elevado com a finalidade de impressionar.
Quanto à organização Paulo utiliza mais
um termo de guerra quando fala dos dominadores deste mundo tenebroso: kosmokratóras (Ef 6.12). Ele tomou a
palavra emprestada das mesas de estratégia do império, nas quais os generais se
reuniam para decidir os rumos das batalhas.
2.
Expulsar e não dialogar. Alguns procuram estabelecer diálogo com os demônios
porque Jesus perguntou ao espírito imundo qual era o seu nome. Isso é visto com
frequência nos movimentos neopentecostais pela mídia televisiva. “Expulsai os
demônios” (Mt 10.8). Esta é a ordem que recebemos do Senhor, e não de manter
diálogo com eles. O Diabo é o pai da mentira (Jo 8.44). Ninguém deve acreditar
nem ficar impressionado com as declarações dos demônios, porque eles são
mentirosos. Isso ocorreu porque o demônio era obrigado a confessar publicamente
quem era o responsável pela miséria do gadareno.
É deplorável o teatro em torno das
expulsões de demônios como já falamos. Igrejas neopentecostais e até
pentecostais abusam de rituais e entrevistas com demônios e toda uma
parafernália para dar visibilidade a tais situações. Além de ser um verdadeiro
show de horrores ainda tripudiam sobre a escravidão espiritual das pessoas. É
um comportamento que deve ser veementemente repudiado por líderes sérios.
3.
A presença de Jesus.
O poder e a presença de Jesus incomodam o reino das trevas. O espírito imundo
perguntou: “Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mt 8.29). Isto mostra
que a presença de Jesus é um tormento para o reino das trevas e também que esse
encontro serviu como prenúncio da condenação final do Diabo e seus anjos (Mt
25.41).
III.
O PODER DE JESUS
Causa-nos verdadeiro espanto o
tratamento dos demônios neste episódio a Jesus. Tanto Marcos quanto Lucas
registram que o endemoninhado veio e adorou a Cristo. Não só isso reconheceram
que tem poder para fazê-los perecer no Inferno onde serão atormentados dia e
noite. Vieste nos atormentar antes da hora? Foi a expressão de pavor diante de
Jesus! Por outro lado, é simplesmente terrível que demônios reconheçam sua
autoridade enquanto seres humanos o ignorem!
2.
A soberania de Jesus.
Nessa passagem, vemos que aqueles demônios, ou pelo menos o porta-voz deles,
suplicando, pediram três coisas: que Jesus não os mandasse para outra região
(v.10), que não os mandasse para o abismo antes do tempo (Mt 8.29), e que lhes
permitisse entrar na manada de porcos que passava pelo local na ocasião
(vv. 11,12). Os demônios não são nada diante do Senhor Jesus. Marcos parece
mostrar Satanás e seus demônios como inconvenientes, e não como seres
todo-poderosos diante de Jesus (Mc 1.23-26, 34; 3.11). O inimigo de nossa alma
não pode fazer o que quer (Jó 1.12; 2.4-5). Os demônios fizeram esses pedidos
porque não podiam resistir ao poder de Jesus.
Neste ponto cabe-nos chamar a atenção
para uma distinção entre a vontade diretiva de Deus e sua vontade permissiva.
Na primeira ele determina e as coisas acontecem. Na segunda ele permite que
suas criaturas exerçam seu livre arbítrio ainda que isso contrarie sua vontade.
Entretanto, ao final de tudo sua vontade diretiva entrará em ação.
Não podemos imaginar que Jesus tenha
condescendido com o mal. Há ainda situações em que males permitidos redundam em
glória a Deus. Foi nesta intenção que os demônios infestaram a manada de
porcos.
Preste atenção a outro detalhe: eram
dois mil porcos. Como foi a divisão (se é que existiu)? 6.000 demônios / 2.000
porcos = 3 demônios pra cada porco? Essas contas não se sustentam à luz da
lógica. Portanto, devemos relevá-las e não perder tempo com elas. Assim como um
só anjo feriu 185.000 assírios para cumprir uma determinação divina, um só
demônio poderia pôr a perder aquela manada.
Por fim, lembre-se que os porcos não
permaneceram vivos. O cálculo de Jesus é que estariam perdendo de qualquer
forma.
3.
A libertação do oprimido. A extraordinária libertação do gadareno logo chamou
a atenção do povo. Muita gente se reuniu para ver o que havia acontecido, pois
a cura repentina do endemoninhado era algo espantoso. Encontraram o homem em
perfeito juízo, vestido e junto com Jesus (Lc 8.34-36). Glorificamos a Deus
quando vemos pessoas oprimidas pelo maligno sendo libertadas pelo poder de
Jesus. Ele nos delegou essa tarefa (Mt 10.8; Lc 10.19,20).
No Novo Testamento endemoninhados são
curados, não apenas libertos. Jesus promovia uma reabilitação completa. Geralmente,
pessoas que estão possessas se alheiam da família, da vida, do trabalho, da
convivência rotineira com as outras pessoas. Precisam retornar a isso. Tanto
Marcos quanto Lucas revelam os detalhes dessa reabilitação: a) Estava assentado
tranquilamente; b) Vestido como os demais e c) Em perfeito juízo (Mc 5.15; Lc
8.35). Logo em seguida, ele pede para seguir Jesus, mas este lhe recomenda
voltar e reencontrar os seus.
Por vezes, as igrejas promovem
libertações, mas as dores da alma permanecem. Noutras os libertos nem trataram
seus antigos laços e já estão dando testemunho pra lá e pra cá. Tais pessoas
precisam de acompanhamento, de discipulado e desfazer completamente as
circunstâncias que ocasionaram sua possessão.
IV.
OS PORQUEIROS
O texto traz a palavra chôran, que significa região, distrito,
portanto engloba toda a área onde Jesus estava. Há uma outra localidade mais
favorável ao relato do despenhadeiro. É a moderna Kursi. O único lugar com uma
parede rochosa íngreme ao longo da costa oriental do Mar da Galileia.
Recentemente foi encontrada uma placa em hebraico que denuncia a presença
judaica na região desde tempos remotos. Ainda que na época de Jesus era uma
população mista que ali habitava.
2.
Sobre a manada de porcos. A população de Decápolis era mista, composta por
judeus e gentios. A criação de porcos não era permitida aos judeus; por isso, é
provável que o porqueiro fosse gentio. O prejuízo foi grande, já que eram dois
mil porcos (v.13). Os porcos não resistiram à opressão e se precipitaram por um
despenhadeiro, afogando-se no lago (Lc 8.33). A tradição judaica dizia que
demônios e porcos são uma boa combinação. Os judeus consideravam os demônios e
os porcos como pertencentes à mesma ordem, e os porcos eram considerados o lar
dos espíritos imundos. Essa tradição parece ser expressa quando os demônios
pediram para entrar na manada de porcos.
3.
O estranho pedido do povo. Jesus foi convidado a se retirar da terra dos
gadarenos por causa do prejuízo dos porqueiros (Mc 5.16,17). Os porcos valiam
mais que a vida humana, na concepção daquela gente. Essa estranha recepção
causa-nos tristeza e espanto: como o herói é convidado a se retirar? Hoje não é
diferente. Há os que substituem Jesus por qualquer coisa. É muito comum
“coisificar” as pessoas e personificar as coisas. Para alguns hoje em dia, os
animais valem muito mais do que o ser humano. Os noticiários mostram
diariamente como muitos governantes tratam os imigrantes de modo inferior aos
animais. Esse espírito já existia nos tempos do Novo Testamento (Lc 13.15,16).
Na passagem que estudamos, aquela população rejeitou Jesus.
É comum a pregação do Evangelho trazer
prejuízo aos interesses alheios. Os leitores já devem ter ouvido falar de queda
no consumo de álcool e drogas. Dia desses ouve um crítica ao fato de que
pessoas estavam se convertendo e os passistas de determinada escola de samba
estavam rareando. Em Atos 16 uma moça que adivinhava foi liberta e deu um
enorme prejuízo a seus manipuladores. Mais adiante vamos encontrar os ourives
de Éfeso preocupados com a queda na venda de ídolos (At 19.24).
Uma linha de interpretação é que os
endemoninhados eram parte da mentalidade gadarena. Personificavam o pecado da
região e eram o alter ego dos demais. Também eram tidos como um problema
insolúvel, que consumira o investimento em grilhões, sem sucesso. Até que a
liberdade proporcionada por Cristo bateu-lhes a porta e mudou-lhes
completamente a História.
CONCLUSÃO.
A
possessão demoníaca é um fenômeno estarrecedor que só pode ser contido pelo
poder de Jesus. O Senhor Jesus manifestou seu poder sobre toda a natureza,
sobre o vento, sobre o mar, sobre a morte, sobre as enfermidades, sobre o poder
das trevas. Os demônios estremecem diante dEle. O poder de Satanás é muito
limitado diante do poder de Jesus. Todos nós precisamos de Jesus, da comunhão
com Ele, para dEle receber poder e assim expulsar os demônios, pois Ele nos deu
essa autoridade (Lc 10.19,20).
Panoplian é o termo
utilizado para a armadura de Deus em Efésios 6.11. Haviam dois tipos de
armadura a elekoi, usada pela maioria
dos soldados e a panoplian usada
pelos oficiais. E por que Paulo usa especificamente esse termo? Essa armadura
continha o brasão do império romano. Levantar contra um oficial significava não
apenas ir contra ele, mas contra César e, por conseguinte, contra todo o
império.
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