TEOLOGIA EM FOCO: POSSESSÃO DEMONÍACA E A AUTORIDADE DO NOME DE JESUS

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

POSSESSÃO DEMONÍACA E A AUTORIDADE DO NOME DE JESUS




Texto Áureo
“E voltaram os setenta com alegria, dizendo: Senhor, pelo teu nome, até os demônios se nos sujeitam.” (Lc 10.17)

Este texto áureo é importantíssimo, porque encerra algumas verdades:

Nada podemos fazer contra as hostes malignas, a não ser em nome de Jesus. Não há meio termo, prática, fórmula, objeto sagrado que possa fazer isso por nós. É só através de seu nome. Do contrário, podemos até ser envergonhados como os filhos de Ceva (At 19.14ss).

Em decorrência disso, a expulsão de demônios não pode glorificar o homem. Ninguém pode se engradecer ou creditar qualquer mérito a si mesmo, neste particular.

Jesus não reprovou a alegria por conta da libertação de oprimidos. Isso é possível, só não podem se tornar alvo de teatro ou chacota, muito menos de simonia (compra e venda do sagrado).

A sujeição de demônios ao poder de Cristo é resultado da pregação da Palavra de Deus. Jesus não enviou, a priori, os setenta para expulsar demônios. Leia os versículos iniciais do capítulo 10 e entenderás isto. À medida que pregavam milagres ocorriam e demônios eram expulsos. Não somos exorcistas profissionais.

O fato de que demônios são expulsos não pode se sobrepor à salvação. O próprio Jesus disse que no último dia, muitos dirão: “Em teu nome expulsamos demônios!”, mas não poderão entrar no reino de Deus (Mateus 7.22,23).

Verdade Prática
O relato do endemoninhado gadareno mostra a soberania absoluta de Jesus Cristo sobre o Diabo e seus demônios.

Marcos 5.2-20 “E, saindo ele do barco, lhe saiu logo ao seu encontro, dos sepulcros, um homem com espírito imundo, 3 o qual tinha a sua morada nos sepulcros, e nem ainda com cadeias o podia alguém prender. 4 Porque, tendo sido muitas vezes preso com grilhões e cadeias, as cadeias foram por ele feitas em pedaços, e os grilhões, em migalhas, e ninguém o podia amansar. 5 E andava sempre, de dia e de noite, clamando pelos montes e pelos sepulcros e ferindo-se com pedras. 6 E, quando viu Jesus ao longe, correu e adorou-o. 7 E, clamando com grande voz, disse: Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes. 8 (Porque lhe dizia: Sai deste homem, espírito imundo.) 9 E perguntou-lhe: Qual é o teu nome? E lhe respondeu, dizendo: Legião é o meu nome, porque somos muitos. 10 E rogava-lhe muito que os não enviasse para fora daquela província. 11 E andava ali pastando no monte uma grande manada de porcos. 12 E todos aqueles demônios lhe rogaram, dizendo: Manda-nos para aqueles porcos, para que entremos neles. 13 E Jesus logo lho permitiu. E, saindo aqueles espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada se precipitou por um despenhadeiro no mar (eram quase dois mil) e afogou-se no mar. 14 Os que tratavam dos porcos fugiram e foram anunciá-lo na cidade e pelos campos. Então o povo saiu para ver o que tinha acontecido. 15 Aproximando-se de Jesus, viram o endemoniado, o que antes estava dominado pela legião, assentado, vestido, em perfeito juízo; e temeram. 16 Os que haviam presenciado os fatos contaram-lhes o que tinha acontecido ao endemoniado e também falaram a respeito dos porcos. 17 E começaram a pedir com insistência que Jesus se retirasse da terra deles. 18 Quando Jesus estava entrando no barco, aquele que antes estava possuído pelos demônios pediu com insistência que Jesus o deixasse ficar com ele. 19 Jesus, porém, não o permitiu; ao contrário, ordenou-lhe: — Vá para a sua casa, para os seus parentes, e conte-lhes tudo o que o Senhor fez por você e como teve compaixão de você. 20 Então ele foi e começou a proclamar em Decápolis tudo o que Jesus lhe tinha feito; e todos se admiravam.”

Objetivos Específicos
Abaixo, os objetivos específicos referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.

1) Destacar a possessão demoníaca e sua harmonização na narrativa bíblica.

É preciso enfatizar a realidade desta possessão, destacando rapidamente as razões que levam à isso, tais como: pecado, distanciamento de Deus, envolvimento com rituais espirituais demoníacos, heresias, etc. Para Jesus aquele cenário era muito mais uma arena de luta de que uma plácida discussão filosófica ou teológica.

2) Conceituar legião demoníaca.

Enfatize que legião romana era um grupo de até 6.000 soldados. Sendo que no tempo de Augustus (27 a.C. – 14 d.C) esse número chegava a 6.826 homens. Sendo 6.100 soldados a pé e 726 montados em cavalos. Esta formação favorecia o deslocamento do exército. A legião era a mais rápida força de guerra de sua época, atuando com escudo e espadas curtas, a chamada infantaria, e funcionava dividida em coortes (vide imagem abaixo).

Na frente iam os soldados mais jovens, no meio os adultos e logo atrás os mais velhos. Para escapar das flechas os soldados ensaiavam uma formação que unia todos os escudos, tornando-a impenetrável ao exército inimigo, chamada testudo. Além das espadas levavam a balista que atirava pedras e o scorpio que jogava flechas. Há duas palavras chave para o sucesso da legião: disciplina e estratégia. A legião demoníaca, por sua vez, possui um conjunto ilimitado de armas para atacar por todos os lados.

Atenção! Isto não quer dizer que aquele homem tinha 6.000 demônios. Qualquer grande quantidade de soldados era por vezes chamada de legião.

3) Expor o poder de Jesus sobre os demônios.

Exponha rapidamente (uma vez que será desdobrado mais adiante) o poder de Cristo sobre os demônios. “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” (Cl 1.16,17). Então, toda a criação está subordinada voluntária ou involuntariamente a Cristo.

4) Analisar o comportamento dos porqueiros e do povo.

Exponha rapidamente (uma vez que será desdobrado mais adiante) o comportamento negativo dos porqueiros e do povo para os quais era mais importante que aquele homem continuasse como escravo do Diabo.

INTRODUÇÃO. O relato do endemoninhado gadareno encontra-se também em Mateus e Lucas, com algumas variações. O fato revela informações sobre a possessão demoníaca e o poder absoluto de Jesus sobre todo o reino das trevas. É o prenúncio da vitória final de Cristo sobre Satanás e seus anjos. E não somente isso, mas também uma prova viva de que podemos confiar em Jesus.

É indispensável contextualizar porque Jesus havia chegado em Gadara. Lendo o capítulo 4 de Marcos vamos entender que sua intenção inicial era atravessar o Mar da Galileia e chegar na outra margem. Este mar está, em média, 210 m. abaixo do nível do mar Mediterrâneo. A maior profundidade da sua água é de cerca de 48 m. De Norte a Sul, esta massa de água tem o comprimento aproximado de 21 km, com uma largura máxima de 12 km. Dependendo da estação, as águas cristalinas do mar da Galileia variam de cor, desde o verde até o azul, e a temperatura média da água oscila entre 14°C em fevereiro e 30°C em agosto. Sua fonte primária de alimentação é o rio Jordão. Na Bíblia é chamada de lago de Genesaré, Quinerete ou mar de Tiberíades.

O mar da Galileia é praticamente cercado por colinas e montes, exceto pelas planícies que beiram o Jordão. Sua região norte é ocupada por uma massa de grandes rochedos de basalto. No Sul da cidade de Tiberíades, na margem ocidental, existem fontes quentes de enxofre, há muito famosas por suas propriedades medicinais. É navegável em toda sua extensão e há muitos pescadores em suas águas. Como está numa região de depressão são comuns tempestades e mudanças atmosféricas radicais. Foi o palco de grandes preleções de Jesus e suas margens testemunharam grande parte de seu ministério terreno.

Mas agora retornemos a Marcos 4. Jesus está cansado e dorme, quando no Mar da Galileia levanta-se um grande temporal. As águas revoltas ameaçam inundar o barco e os discípulos, boa parte deles homens experimentados na pesca, estão atemorizados. Gritam por Jesus para que os socorra. O Mestre primeiro os repreende pela falta de fé, depois ordena que o mar se aquiete e o vento se cale. O termo grego para a bonança que se seguiu – galênê (Marcos 4.39) – descreve um mar tão calmo que se podia olhar em suas águas como um espelho!

Essa calma, porém, lhes levou para o lado sudeste do lago. Observem! Não era para onde Jesus queria ir. Tanto que mal tocou na praia e liberto o endemoninhado, fez-se ao mar e foi pra outro lugar. Ele queria passar ali somente para libertar aquele homem e torná-lo um missionário! O primeiro a evangelizar o que hoje é a Jordânia!

I. A POSSESSÃO MALIGNA
1. Harmonização nas narrativas. Mateus afirma que foram dois endemoninhados (Mt 8.28). Mas Marcos e Lucas registram apenas um (Mc 5.2; Lc 8.27). Os pormenores descritos em Marcos são de um só, razão pela qual a narrativa está concentrada nele. Marcos e Lucas registraram apenas o mais violento e o mais feroz deles. O outro detalhe é que Mateus apresentou apenas um resumo do episódio, pois a sua ênfase é a autoridade de Jesus sobre os espíritos malignos. Mateus omite o fato de o porta-voz dos demônios se identificar como “legião” e também o desejo de o gadareno, após sua libertação, seguir a Jesus.

Muitas explicações já foram tentadas para harmonizar estas narrativas. Nos casos desta natureza devemos sempre levar em conta a perspectiva do narrador. Cada um dos evangelistas escreve com um objetivo, um destinatário, um estilo. A inspiração plenária das Escrituras (2ª Tm 3.16) não exclui a personalidade do escritor e sua cosmovisão (1ª Co 7.12). A partir desta premissa o escritor escolhe o que deseja enfatizar na narrativa ou até omiti-la. Mateus escolheu os dois endemoninhados, enquanto Marcos e Lucas enfatizam o mais agressivo e interativo.

Mas não só isso: escolheu encolher seu relato! Enquanto usa seis versículos para descrevê-lo, Marcos usa 19 e Lucas 14. João nem a menciona! O famoso diálogo de Jesus com o gadareno é notavelmente omitido por Mateus. Isso não o desmerece. É fruto da sua intenção de destacar o relato para os judeus. A ênfase, portanto, deve ser na história como um todo.

Muitos críticos da Palavra de Deus adoram dar relevo a tais discrepâncias. Eles esquecem que estas aparentes disparidades conferem autenticidade ao texto sagrado, pois mostram que houve total espontaneidade dos escritores em relatar a história como a compreendiam. Norman Geisler relata em seu livro Não tenho fé suficiente para ser ateu, que o Novo Testamento possui cerca de 5.700 manuscritos e mais de 9.000 outros materiais em línguas antigas, além de fragmentos dos mais diversos. Já Josh McDowell em suas palestras relata encontrar fragmentos de Marcos datados por volta do ano 150 d.C., em máscaras mortuárias egípcias, exatamente com o texto que temos hoje.

2. A opressão. Os demônios aparecem como agentes de Satanás causadores de males, dando às suas vítimas características típicas, como força sobre-humana (Mt 8.28; 17.15; At 19.16), poder de adivinhar (At 16.16) e conhecimento sobrenatural (v.7). Eles atacam suas vítimas e, ao possuí-las, dominam suas faculdades mentais, levando-as à demência (Mt 4.24; 17.15) e às vezes incapacitando-as de falar e de ver (Mt 9.32; 12.22).

Confesso nunca ter percebido que Mt 12.22 fala de um home cego pela ação demoníaca. Acrescentei esse conhecimento com a lição. Mais uma vez entra em cena o famoso ensinando e aprendendo… Assim, além da cegueira mental e espiritual, historicamente observada pela ação maligna no mundo (2ª Co 4.4), temos um caso de cegueira física. Isso mostra que na progressão da possessão não sofrem somente a alma e o espírito, mas o corpo. Não à toa vemos, por exemplo, verdadeiros zumbis na prostituição e nos vícios em geral, destruindo a criação divina. Afinal, o inimigo veio para roubar, matar e destruir (João 10:10). O outro lado da questão é quão real é a opressão e a possessão no mundo!? Não obstante a atmosfera religiosa de Israel, ela estava por toda parte.

3. Um quadro estarrecedor. O endemoninhado gadareno vivia nos sepulcros, desnudo, e era tão violento que nem mesmo os grilhões e as cadeias podiam detê-lo. Corria pelos montes e desertos e se feria com pedras. O fato de procurar viver nos sepulcros já era uma demonstração de sua total anomalia. O comportamento violento e sobrenatural do gadareno, para sua própria destruição, e para a perturbação de seus vizinhos, revela a natureza destruidora de Satanás.

II. A LEGIÃO DEMONÍACA
 1. Uma legião. Jesus perguntou como o espírito imundo se chamava, ao que ele respondeu: “Legião é o meu nome, porque somos muitos” (v.9). Uma legião romana era constituída por 6.000 soldados. Ainda que o número de demônios não seja exato, ou que Legião seja uma identidade, eles eram muitos. Eles são numerosos e poderosos, organizados e batalham sob uma mesma bandeira, a de Satanás.

Como já falamos, o termo legião não quer dizer, a priori, que o endemoninhado tinha 6.000 demônios. Esta explicação está no próprio texto – “porque somos muitos”. Infelizmente, alguns expositores insistem em dramatizar essa conta… Outro senão é que demônios são seguidores do pai da mentira (Jo 8:44), logo não é impossível que na ocasião tenha afetado poder se referindo a um número elevado com a finalidade de impressionar.

Quanto à organização Paulo utiliza mais um termo de guerra quando fala dos dominadores deste mundo tenebroso: kosmokratóras (Ef 6.12). Ele tomou a palavra emprestada das mesas de estratégia do império, nas quais os generais se reuniam para decidir os rumos das batalhas.

2. Expulsar e não dialogar. Alguns procuram estabelecer diálogo com os demônios porque Jesus perguntou ao espírito imundo qual era o seu nome. Isso é visto com frequência nos movimentos neopentecostais pela mídia televisiva. “Expulsai os demônios” (Mt 10.8). Esta é a ordem que recebemos do Senhor, e não de manter diálogo com eles. O Diabo é o pai da mentira (Jo 8.44). Ninguém deve acreditar nem ficar impressionado com as declarações dos demônios, porque eles são mentirosos. Isso ocorreu porque o demônio era obrigado a confessar publicamente quem era o responsável pela miséria do gadareno.

É deplorável o teatro em torno das expulsões de demônios como já falamos. Igrejas neopentecostais e até pentecostais abusam de rituais e entrevistas com demônios e toda uma parafernália para dar visibilidade a tais situações. Além de ser um verdadeiro show de horrores ainda tripudiam sobre a escravidão espiritual das pessoas. É um comportamento que deve ser veementemente repudiado por líderes sérios.

3. A presença de Jesus. O poder e a presença de Jesus incomodam o reino das trevas. O espírito imundo perguntou: “Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?” (Mt 8.29). Isto mostra que a presença de Jesus é um tormento para o reino das trevas e também que esse encontro serviu como prenúncio da condenação final do Diabo e seus anjos (Mt 25.41).

III. O PODER DE JESUS
 1. Os demônios sabem quem é Jesus. O relato da possessão do gadareno e de sua libertação é uma amostra do poder absoluto de Jesus até sobre todo o reino das trevas. Os próprios demônios sabem quem é Jesus (At 19.15) e conhecem a sua procedência: “Que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus” (Mc 1.24). Eles têm medo de Jesus e estremecem diante dEle (Tg 2.19). Jesus veio para desfazer as obras do Diabo (1ª Jo 3.8). Os demônios sabem que há um tempo determinado para o juízo divino sobre as hostes infernais e temem por isso.

Causa-nos verdadeiro espanto o tratamento dos demônios neste episódio a Jesus. Tanto Marcos quanto Lucas registram que o endemoninhado veio e adorou a Cristo. Não só isso reconheceram que tem poder para fazê-los perecer no Inferno onde serão atormentados dia e noite. Vieste nos atormentar antes da hora? Foi a expressão de pavor diante de Jesus! Por outro lado, é simplesmente terrível que demônios reconheçam sua autoridade enquanto seres humanos o ignorem!

2. A soberania de Jesus. Nessa passagem, vemos que aqueles demônios, ou pelo menos o porta-voz deles, suplicando, pediram três coisas: que Jesus não os mandasse para outra região (v.10), que não os mandasse para o abismo antes do tempo (Mt 8.29), e que lhes permitisse entrar na manada de porcos que passava pelo local na ocasião (vv. 11,12). Os demônios não são nada diante do Senhor Jesus. Marcos parece mostrar Satanás e seus demônios como inconvenientes, e não como seres todo-poderosos diante de Jesus (Mc 1.23-26, 34; 3.11). O inimigo de nossa alma não pode fazer o que quer (Jó 1.12; 2.4-5). Os demônios fizeram esses pedidos porque não podiam resistir ao poder de Jesus.

Neste ponto cabe-nos chamar a atenção para uma distinção entre a vontade diretiva de Deus e sua vontade permissiva. Na primeira ele determina e as coisas acontecem. Na segunda ele permite que suas criaturas exerçam seu livre arbítrio ainda que isso contrarie sua vontade. Entretanto, ao final de tudo sua vontade diretiva entrará em ação.

Não podemos imaginar que Jesus tenha condescendido com o mal. Há ainda situações em que males permitidos redundam em glória a Deus. Foi nesta intenção que os demônios infestaram a manada de porcos.

Preste atenção a outro detalhe: eram dois mil porcos. Como foi a divisão (se é que existiu)? 6.000 demônios / 2.000 porcos = 3 demônios pra cada porco? Essas contas não se sustentam à luz da lógica. Portanto, devemos relevá-las e não perder tempo com elas. Assim como um só anjo feriu 185.000 assírios para cumprir uma determinação divina, um só demônio poderia pôr a perder aquela manada.

Por fim, lembre-se que os porcos não permaneceram vivos. O cálculo de Jesus é que estariam perdendo de qualquer forma.

3. A libertação do oprimido. A extraordinária libertação do gadareno logo chamou a atenção do povo. Muita gente se reuniu para ver o que havia acontecido, pois a cura repentina do endemoninhado era algo espantoso. Encontraram o homem em perfeito juízo, vestido e junto com Jesus (Lc 8.34-36). Glorificamos a Deus quando vemos pessoas oprimidas pelo maligno sendo libertadas pelo poder de Jesus. Ele nos delegou essa tarefa (Mt 10.8; Lc 10.19,20).

No Novo Testamento endemoninhados são curados, não apenas libertos. Jesus promovia uma reabilitação completa. Geralmente, pessoas que estão possessas se alheiam da família, da vida, do trabalho, da convivência rotineira com as outras pessoas. Precisam retornar a isso. Tanto Marcos quanto Lucas revelam os detalhes dessa reabilitação: a) Estava assentado tranquilamente; b) Vestido como os demais e c) Em perfeito juízo (Mc 5.15; Lc 8.35). Logo em seguida, ele pede para seguir Jesus, mas este lhe recomenda voltar e reencontrar os seus.

Por vezes, as igrejas promovem libertações, mas as dores da alma permanecem. Noutras os libertos nem trataram seus antigos laços e já estão dando testemunho pra lá e pra cá. Tais pessoas precisam de acompanhamento, de discipulado e desfazer completamente as circunstâncias que ocasionaram sua possessão.

IV. OS PORQUEIROS
 1. O local do acontecimento. Segundo Mateus, o fato aconteceu na “província dos gadarenos” (Mt 8.28); no entanto, Marcos e Lucas falam da província ou terra “dos gerasenos” (Mc 5.1; Lc 8.26, Nova Almeida Atualizada). Gadara situava-se a oito quilômetros do lago de Genesaré, nome alternativo do mar da Galileia; e Gerasa, a atual Jeras, na Jordânia, ficava a cerca de 50 quilômetros. Ambos os territórios faziam parte da região de Decápolis, a leste da Galileia (Mc 5.20). Segundo o historiador Josefo, o território de Gadara se estendia até o lago da Galileia. Moedas daquele tempo trazem o nome de Gadara com o desenho de um barco impresso.

O texto traz a palavra chôran, que significa região, distrito, portanto engloba toda a área onde Jesus estava. Há uma outra localidade mais favorável ao relato do despenhadeiro. É a moderna Kursi. O único lugar com uma parede rochosa íngreme ao longo da costa oriental do Mar da Galileia. Recentemente foi encontrada uma placa em hebraico que denuncia a presença judaica na região desde tempos remotos. Ainda que na época de Jesus era uma população mista que ali habitava.

2. Sobre a manada de porcos. A população de Decápolis era mista, composta por judeus e gentios. A criação de porcos não era permitida aos judeus; por isso, é provável que o porqueiro fosse gentio. O prejuízo foi grande, já que eram dois mil porcos (v.13). Os porcos não resistiram à opressão e se precipitaram por um despenhadeiro, afogando-se no lago (Lc 8.33). A tradição judaica dizia que demônios e porcos são uma boa combinação. Os judeus consideravam os demônios e os porcos como pertencentes à mesma ordem, e os porcos eram considerados o lar dos espíritos imundos. Essa tradição parece ser expressa quando os demônios pediram para entrar na manada de porcos.

3. O estranho pedido do povo. Jesus foi convidado a se retirar da terra dos gadarenos por causa do prejuízo dos porqueiros (Mc 5.16,17). Os porcos valiam mais que a vida humana, na concepção daquela gente. Essa estranha recepção causa-nos tristeza e espanto: como o herói é convidado a se retirar? Hoje não é diferente. Há os que substituem Jesus por qualquer coisa. É muito comum “coisificar” as pessoas e personificar as coisas. Para alguns hoje em dia, os animais valem muito mais do que o ser humano. Os noticiários mostram diariamente como muitos governantes tratam os imigrantes de modo inferior aos animais. Esse espírito já existia nos tempos do Novo Testamento (Lc 13.15,16). Na passagem que estudamos, aquela população rejeitou Jesus.

É comum a pregação do Evangelho trazer prejuízo aos interesses alheios. Os leitores já devem ter ouvido falar de queda no consumo de álcool e drogas. Dia desses ouve um crítica ao fato de que pessoas estavam se convertendo e os passistas de determinada escola de samba estavam rareando. Em Atos 16 uma moça que adivinhava foi liberta e deu um enorme prejuízo a seus manipuladores. Mais adiante vamos encontrar os ourives de Éfeso preocupados com a queda na venda de ídolos (At 19.24).

Uma linha de interpretação é que os endemoninhados eram parte da mentalidade gadarena. Personificavam o pecado da região e eram o alter ego dos demais. Também eram tidos como um problema insolúvel, que consumira o investimento em grilhões, sem sucesso. Até que a liberdade proporcionada por Cristo bateu-lhes a porta e mudou-lhes completamente a História.

CONCLUSÃO. A possessão demoníaca é um fenômeno estarrecedor que só pode ser contido pelo poder de Jesus. O Senhor Jesus manifestou seu poder sobre toda a natureza, sobre o vento, sobre o mar, sobre a morte, sobre as enfermidades, sobre o poder das trevas. Os demônios estremecem diante dEle. O poder de Satanás é muito limitado diante do poder de Jesus. Todos nós precisamos de Jesus, da comunhão com Ele, para dEle receber poder e assim expulsar os demônios, pois Ele nos deu essa autoridade (Lc 10.19,20).

Panoplian é o termo utilizado para a armadura de Deus em Efésios 6.11. Haviam dois tipos de armadura a elekoi, usada pela maioria dos soldados e a panoplian usada pelos oficiais. E por que Paulo usa especificamente esse termo? Essa armadura continha o brasão do império romano. Levantar contra um oficial significava não apenas ir contra ele, mas contra César e, por conseguinte, contra todo o império.

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