A Bíblia ensina que boas obras são importantes, mas
comparadas a trapo de imundícia diante da graça de Deus (Is 64.6).
A Bíblia, por exemplo, conta a
história de um grande homem que zelava pelas boas obras, chamado Saulo de Tarso
- cumpria as tradições judaicas, fariseu e perseguidor dos cristãos, blasfemo e
insolente, chegando a consentir com assassinato de um cristão simples e
devotado chamado Estevão.
Saulo que depois da conversão
passou a ser chamado Paulo, escreveu para um jovem de nome Timóteo, explicando
sua mudança das boas obras para graça: “Sou grato para com aquele que me
fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me
para o ministério, a mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e
insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade.
Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com a fé e o amor que há em Cristo Jesus. Fiel
é a palavra e digna de toda a aceitação: que Cristo Jesus veio ao mundo para
salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por esta mesma razão,
me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse
Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a quantos
hão de crer nele para a vida eterna” (1ª Tm 1.12-16).
O Apóstolo dos Gentios destruiu
com suas doces palavras todo o argumento dos defensores das obras como condição
para a salvação. Ele afirmou, categoricamente, ser o maior dos pecadores. Além
disso, Paulo foi muito franco ao admitir que alcançou misericórdia por
intermédio de Cristo, em outras palavras, poderia ter dito: minhas boas obras
não me salvaram e sim Jesus com Sua maravilhosa graça.
Pensamos erroneamente que podemos conquistar a salvação por
meio daquilo que fazemos, mas, não é trabalhando, sendo religioso, através de
obras de caridade ou sociais, como querem alguns imitando o sistema desse
mundo, tão pouco, através de merecimento próprio alcançaremos salvação, como pensam
alguns cristãos A religião quer associar fé ao cumprimento de regras e leis. O
contraponto da religião que exige esforço é a proclamação da graça. Abraão
Almeida diferenciou dois tipos de religião:
1.Religião divina – é do “alto
para baixo”, ou seja, nela Deus faz, oferece ao homem a graça salvadora, por
reconhecer a incapacidade humana de produzir obras de justiça. É o plano de
Deus para salvar o homem caído.
2. Religião humana – é de “baixo
para cima”, ou seja, nela o homem faz, oferece a Deus o produto do seu esforço.
A graça de Deus não exige, não
cobra, capacita. Paulo nos afirma isso em sua carta aos Efésios: “Mas Deus,
sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e
estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo – pela
graça sois salvos – e juntamente com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos
lugares celestiais em
Cristo Jesus , para nos mostrar nos séculos vindouros a
suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco, em Cristo Jesus. Porque
pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus;
não de obras para que ninguém se glorie” (Ef 2.4-8).
Quando a graça de Deus não é reconhecida
e atribuímos ao nosso esforço ou obras o que Deus de graça nos deu, demonstramos
orgulho; surge o artificial, o teatral, o aparente, as máscaras.
A graça de Deus é a única
garantia de que somos aceitos em
Deus. No cristianismo, o amor não é dado aos que já são dignos,
ao contrário, a nós, os mais indignos, agrega grande valor: Sua graça.
O emaranhado de leis e regulamentos muitas vezes dificulta o
conhecimento de Deus e o alcance de Sua graça! O número de pessoas afastadas de
Deus, receosas de conhecê-lo e totalmente fragilizadas pela religiosidade
humana demonstra que o homem não tem aprendido o valor real da graça por não
conhecer a Bíblia.
O homem é salvo no momento que nasce de novo através da
graça de Cristo, por meio da fé que lhe é imputada quando ouve e aceita a
pregação do Evangelho da graça de Cristo, como está escrito em Romanos 10.17. Sabe
por que ocorre isto? É porque a salvação é um “DOM”, é um presente dado pelo
próprio Deus através da sua misericórdia a quem ele quer, como está escrito em
Romanos 9.18. Isto ele o faz independente do quem somos ou do que façamos, mas,
exclusivamente daquilo que Cristo fez na cruz do Calvário. Quando disse: “ESTÁ
CONSUMADO”. Por isso, que a salvação é pela graça, caso contrário estaríamos
anulando a graça e caindo no grande erro da religiosidade como nos adverte o
Apóstolo Paulo em Romanos 11.6, onde diz: “Mas se é pela graça, já não é pelas
obras; de outra maneira, a graça já não é graça”. E prossegue em Gálatas 2.21
com a mesma doutrina: “Não faço nula a graça de Deus; porque, se a justiça vem
mediante a lei, logo Cristo morreu em vão” (Gl 2.21).
Muitos reduzem a graça de Deus, sob o peso de um jugo de
regras; se achamos que teremos de passar por um caminho de obstáculos para
alcançar uma benção de Deus, ou se pensamos que nossa aceitação diante de Deus
depende de nossos dogmas e tradições, experimentamos algo diferente que não a
graça de Deus.
Além disso, Paulo também afirmou
que a sua salvação serviria de exemplo para todos os que haveriam de crer em Jesus Cristo. Afinal ,
se ele alcançou misericórdia e veio ao arrependimento, não há limites para a
salvação de todo aquele que crê no Filho de Deus.
Está enraizada no coração do homem a ideia que ele tem que
fazer alguma coisa para tornar-se merecedor da salvação. À luz da Bíblia, não
se pode garantir a salvação ou santificação como recompensa, por fazer boas
obras, ou observar certos cerimoniais. A graça divina nos assegura a salvação
na obra que Deus fez por nós mediante a morte de Cristo, e não em alguma obra
ou atitude que a pessoa tenha feito para Deus. A graça divina afirma que tudo
já foi pago no Calvário (Cl 2.14). Deus
em sua misericórdia executou fielmente o seu plano, e Jesus veio até nós, pagou
o preço que o pecado exigia: a morte. Com Sua vida santa e sem pecado, e com
Sua morte em sacrifício, Jesus adquiriu o direito de salvar todos quantos
crerem no Seu nome.
Tudo o que Deus poderia fazer para salvar a humanidade da
condição de pecadores, Deus realizou. O sacrifício de Jesus foi perfeito e
completo. Sua ressurreição, e ascensão confirmam e provam isto.
Somente um amor inexplicável é capaz de executar este plano
maravilhoso e oferecer gratuitamente, sem que precisemos fazer absolutamente
nada, nós que fomos criados com a capacidade de escolher o que queremos para
nossa vida, poderemos ou não aceitar este precioso presente divino. Esta palavra
pastoral é completada ao lermos romanos 12: “Assim também nós, conquanto
muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros […] O amor seja
sem hipocrisia […] Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal,
preferindo-vos em honra uns aos outros […].
“Uma vida que se origina em regeneração é provida e
fortalecida em santificação se manifesta em boas obras. Jesus disse: “cada árvore
é conhecida pelo seu fruto próprio” (Lc 6.43-45). Quando falo de boas obras, não
estou falando de obras que têm valor inerente para nos dar direito a receber
vida eterna. Cristãos devem sua vida toda a Deus (Lc 17.9-10), e também só
podem realizar boas obras na força que Deus lhes dá dia-a-dia (1ª Co 15.10; Fp
2.13). Nem estou falando de obras objetivamente boas, pensando nos não regenerados
(Lc 6.33; Rm 2.14). Alimentar os pobres, vistos em relação à natureza do ato, é
uma obra boa. Vista em relação ao motivo que a induz, pode ser uma obra boa ou
má. Se for feita para ser vista pelos homens, é ofensiva perante Deus. Se feita
por benevolência natural, é um ato de moralidade natural. Se feita a um
discípulo em nome de um discípulo, é um ato de virtude cristã”.
Estou falando de obras que são essencialmente diferentes em
qualidade moral então das ações dos regenerados (ver At 9.36; Ef 2.10; 2ª Tm
3.17) e que são expressões de uma criatura em Cristo. Quando se
fala de “boas obras” há certas características de obras que são espiritualmente
boas:
1.
São os frutos de um coração regenerado, pois sem isso
ninguém pode ter disposição para obedecer a Deus e nem o motivo de glorificá-lo
que é exigido (Mt 12.33; 7.17-18; Ap 9.8).
2.
Não estão apenas em conformidade externa com a lei de
Deus, mas se originam do princípio ou motivo do amor por Deus e do desejo de
fazer a Sua vontade (Dt 6.2; Jo 15.10; Mc 12.33; 14.14.15, 21, 23).
3.
Seja qual for o alvo imediato, seu alvo ou mira final
não é o bem-estar do homem, mas a glória de Deus. (1ª Co 10.31; Cl 3.17-23; 1ª
Co 5.16; 1ª Pe 2.12; At 12.23).
Boas obras não podem ser consideradas como necessárias para
merecer a salvação, nem como um meio de reter a salvação, nem como o único
caminho que leva ao céu, pois crianças podem entrar na salvação sem ter feito
qualquer boa obra. Ao mesmo tempo, boas obras seguem a nossa salvação em Cristo.
“Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto” (Jo 15.5). Boas obras
são necessárias sendo exigidas por Deus (Rm 7.4; 8.12-13; Gl 6.2), como os frutos
da fé (Tg 2.14, 17, 20-22), expressões de gratidão (1ª Co 6.20), para
confirmação da fé (2ª Pe 1.5-10) e para a glória de Deus (Jo 15.8; 1ª Co
10.31).
“Infelizmente, muitos evangélicos têm deixado de confessar
de modo convicto essa verdade que está no coração do evangelho. Muitos líderes
e movimentos têm voltado a insistir na prática de certas ações ou na exibição
de determinadas virtudes como condição para que as pessoas sejam aceitas,
perdoadas e abençoadas por Deus. Volta-se, assim, ao sistema de salvação pelas
obras ou pelos méritos humanos contra o qual se insurgiram os reformadores. Com
isso exalta-se o ser humano, suas escolhas, decisões e iniciativas, e se
desvaloriza a Deus, sua graça, sua soberania, sua obra de expiação por meio de
Cristo. Tenhamos a coragem e a coerência bíblica de reafirmar a verdade solene
da justificação pela fé
somente, que é, no dizer dos
reformadores, o articulus stantis et cadentis ecclesiae, ‘o artigo pelo qual a
igreja se sustenta ou cai’”.
“Devemos deixar de lado todo senso de justiça própria e reconhecer
que não passamos de pobres pecadores. Deus nos salva não é porque somos bons,
mas porque Ele é bom e misericordioso.
Ao findarem a jornada aqui na terra, os pecadores
arrependidos irão diretamente para a presença do Senhor. Lá, encontrarão muitos
que a sociedade condenou, e que, ao serem questionados a respeito de como
chegaram à presença de Deus, dirão com alegria: “Estamos aqui simplesmente pela
graça”. Que o Senhor nos abençoe!”.
Pr. Elias Ribas