Romanos 12.1-21. “Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. 2 E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. 3 Porque, pela graça que me é dada, digo a cada um dentre vós que não saiba mais do que convém saber, mas que saiba com temperança, conforme a medida da fé que Deus repartiu a cada um. 4 Porque assim como em um corpo temos muitos membros, e nem todos os membros têm a mesma operação, 5 assim nós, que somos muitos, somos um só corpo em Cristo, mas individualmente somos membros uns dos outros. 6 De modo que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos é dada: se é profecia, seja ela segundo a medida da fé; 7 se é ministério, seja em ministrar; se é ensinar, haja dedicação ao ensino; 8 ou o que exorta, use esse dom em exortar; o que reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria. O amor, o fervor, a humildade, a beneficência. 9 O amor seja não fingido. Aborrecei o mal e apegai-vos ao bem. 10 Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros. 11 Não sejais vagarosos no cuidado; sede fervorosos no espírito, servindo ao Senhor; 12 alegrai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação, perseverai na oração; 13 comunicai com os santos nas suas necessidades, segui a hospitalidade; 14 abençoai aos que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis. 15 Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram. 16 Sede unânimes entre vós; não ambicioneis coisas altas, mas acomodai-vos às humildes; não sejais sábios em vós mesmos. 17 A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas perante todos os homens. 18 Se for possível, quanto estiver em vós, tende paz com todos os homens. 19 Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira, porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor. 20 Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça. 21 Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.”
INTRODUÇÃO. A carta aos Romanos é dividida em duas partes. Uma parte doutrinária (capítulos 1 ao 12), e a segunda (capítulos 12 ao 16), tratando da parte prática. O capítulo 12, Paulo enfoca a aplicação prática da mensagem do evangelho em nossa vida diária. É um apelo a fim de que os cristãos vivam uma vida de consagração a Deus. Também contém lições sobre como viver para agradar a Deus, servir ao próximo e praticar a doutrina da justificação pela fé.
I. O CULTO DE ADORAÇÃO
1. “Rogo-vos”. A palavra rogo conforme aparece no original grego, traduz parakaleo, que vem de duas palavras “para” “ao lado de”; e kaleo, o verbo “chamar”, traduzido no Novo Testamento por “exortar, apelar, recomendar, solicitar”. Paulo inicia o capítulo 12, exortando os irmãos a viver uma vida de santificação.
2. “Apresenteis o vosso corpo (v. 1). Paulo exorta o crente a oferecer o seu corpo (que é o templo
do Espírito Santo (1ª Co 6.19)), como sacrifício ao Senhor. Isto significa que
o apóstolo está nos exortando a apresentar tudo de nós a Deus. “Nem, tampouco,
apresenteis os vossos membros ao pecado por instrumentos de iniquidade.” (Rm 6.13).
O corpo é o instrumento da alma e do espírito, é o elemento exterior, é o meio pelo qual revelamos o nosso interior (2ª Co 5.10). A vida espiritual não pode estar desassociada de seu corpo: “glorificai, pois, a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus.” (1ª Co 6.20). O mesmo corpo que no passado era instrumento para o pecado, agora é o templo do Espírito Santo (1ª Co 3.16,17), para servir à justiça (Rm 6.13).
3. “como sacrifício vivo.” (v. 1). Ele faz alusão ao culto levítico do Velho Testamento, onde o israelita escolhia o melhor para sacrifício e oferecia a Deus. Não se trata de sacrifícios de animais, pois Cristo os invalidou (Hb 10.4,9,10). Trata-se de uma ilustração (sacrifício de louvor (Hb 13.15; Sl 50.14) e ação de graças (Sl 95.2; 147.7). O apóstolo Paulo explica a importância dessa prática cristã. Ser um sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, é colocar tudo o que somos no altar do Senhor como uma adoração espiritual.
4. Culto. A palavra “culto” no grego é latreia e significa “serviço sagrado, adoração”, de onde vem a
palavra “liturgia”. O culto raciona é feito com entendimento, é a entrega total
do crente em adoração ao Senhor. É muito diferente do culto do Antigo
Testamento, onde se ofereciam criaturas irracionais.
A palavra racional no grego é logikos, derivado do logos, pode ser entendido como culto espiritual. Assim devemos oferecer a Deus um culto vivo e espiritual, isso significa que devemos servir a Deus com obediência e devoção.
II. O MUNDO NÃO É PADRÃO PARA A IGREJA
1. O cristão e o mundo (v. 2). O termo mundo no grego são kosmos e aion, que significa este século. O mundo é o sistema onde o “deus deste século” atua (2ª Co 4.4), pois é dito “que todo o mundo está no maligno (1ª Jo 5.19).
2. Renovação da mente e
discernimento da vontade de Deus (v. 2). Conformar no original grego é suschematizo que quer dizer: conformar-se
com a mente e caráter de alguém; ao padrão de outro; moldar-se de acordo com.
Paulo exorta a não formar ou
moldar na forma deste mundo onde o maligno atua. O cristão não deve ser moldado
pelos valores do mundo, mas é dito é dito transformai-vos, ou seja, eles devem
mudar pela renovação do entendimento.
A regeneração é obra do Espírito
Santo no interior do homem, ou seja, “no espírito da vossa mente.” A
regeneração do crente é uma mudança de pensamento ou uma mudança de opinião. E
só pode ser verdadeiro se tiver uma genuína conversão e um verdadeiro
arrependimento.
“Que, quanto ao trato passado,
vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano. E
vos renoveis no espírito da vossa mente. 24- E vos revistais do novo homem, que
segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” (Ef 4.22-32).
“.... quanto ao trato
passado...”. Refere se à sua conduta anterior ou hábitos de vida, deixe de
lado tudo o que pertence à natureza corrupta e decaída. Tudo o que procedeu do
pecado; todo hábito, costume e modo de falar e de conduta resultantes da
depravação devem ser deixados de lado.
“E vos revistais do novo
homem...”. O novo homem se refere
à natureza nova, ou nova criatura, ou a nova criação” (2ª Co 5.17), e refere-se
à condição depois que recebe um novo coração.
3. É uma mudança radical. Tudo se faz novo (2ª Co 5.17); nova vida (Jo 3.3-5); novidade de vida (Rm 6.4); novo alvo (Fp 3.14); novo testemunho (Gl 1.23-24); novo cântico (Sl 40.4); novo homem (Ef 2.15); novas bênçãos (At 3.19); nova incumbência (Lc 22.32).
4. A vontade de Deus. Paulo destaca nesta parte do versículo é para que você possa provar, boa, agradável e perfeita” a vontade de Deus. Ele prescreve o que é agradável a Ele, e provê um padrão que é eticamente santo” (Mt 5.48). A vontade de Deus é que as pessoas vivam de forma santa, e em obediência a Palavra de Deus. Se tua mente for renovado, então está apto para conhecer e fazer a vontade do Senhor, pois este tipo de coração e mente é o que vai entender e provar, a vontade de Deus.
II. O CORPO DE CRISTO (12.3-8).
1. Os dons (Vs. 3-8). A palavra dom no grego dõron significa
uma dádiva, um presente que nos é dado por Deus. Dõrea, presente grátis,
charisma.
Nos versículos 1 e 2, o apóstolo está fazendo um apelo à
consagração do cristão a Deus. Este é o assunto a respeito do qual o apóstolo
está falando, para entrar no assunto “dons”. Ele passa a demonstrar os
resultados práticos da mente renovada.
A humildade e a sobriedade de espírito convêm ao crente consagrado para poder exercer dos dons espirituais que o Senhor concedeu a cada um conforme a medida da fé.
2. O cristão e o corpo de Cristo (vs. 4-5). O apóstolo nos ensina a importância da diversidade e da unidade dentro do corpo de Cristo. Ele faz alusão ao corpo humano que possui diversos membros com distintas funções e todos os membros formam um só corpo, “mas individualmente somos membros uns dos outros.” Isto é, a Igreja de Cristo é um corpo com diversidades de operações (1ª Co 12.6). Ele nos ensina que cada um de nós possui dons espirituais dados por Deus para edificação da Igreja. O Espírito Santo pode dar a uma pessoa fé, a outra o poder de curar, ou ainda o poder de fazer milagres ou de anunciar a mensagem de Deus. “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas essas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer.” (1ª Co 12.11).
3. Dons de serviço ou da graça (charismata) (vs. 3, 6). No vs. 6 ele diz: “tendo, porém, diferentes
dons segundo a graça que nos foi dada”. São os dons dados a Igreja, ao
corpo de Cristo, não a denominação, não exclusivamente à pessoa, mas ao corpo e
para edificação da mesma (Ef 4.11-15). São vocações, inclinação, dons natos.
São meios de cada personalidade e de cada temperamento.
A lista que Paulo escreve sobre os dons da graça devem ser um exemplário e não a totalidade deles, pois são inúmeros e não estão aqui sua totalidade. Neste capítulo de Romanos Paulo cita alguns dons de realizações incluindo alguns ministeriais.
3.1. Profecia. “se é
profecia, seja ela segundo a medida da fé” (v. 6). A palavra profecia no original
grego προφητεία prophetia, que significa capacidade de interpretar o
desejo dos deuses e é formada pela junção das palavras prophetes (à
frente) e phanai (falar).
Como dom do ministério, a profecia é concedida a apenas alguns crentes, os quais servem na Igreja como ministros profetas. O profeta portador da mensagem pode ser definido como a capacidade de receber e transmitir uma mensagem imediata de Deus por meio de uma palavra divinamente ungida para uma situação específica.
3.2. Ministério. “se
é ministério, seja em ministrar” (v. 7). Do grego diaconia. Significa:
“ministério, serviço”. A palavra diakonia aparece traduzida como
ministério em 2ª Co 4.1; 5.18; 1ª Tm 1.12. O diácono é aquele que tem capacidade
dada por Deus para ver as necessidades dos outros e supri-las. Assim como o
pastor, eles são chamados para servir à Igreja do Senhor.
A palavra de Deus diz em 1ª Pedro 4.10-11 “Servi uns aos
outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da
multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de
Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as
coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a
glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!”
A diaconia foi instituída para cuidar das necessidades físicas e logísticas da igreja, de modo que os presbíteros possam se concentrar no seu chamado da Palavra.
3.3. Ensino. “Se é ensinar, haja dedicação ao ensino” (v. 7).” A palavra ensino do grego didaquê. Daqui vem a palavra didático. É a capacidade dada por Deus para expormos com clareza e convicção as verdades do ensino de Cristo. O ensinador que a Bíblia chama de mestre é um dom ministerial (cf. Ef 4.11) e também podemos classificar como um dom natural. Natural porque tem que desenvolver as técnicas de didáticas, para que os que escutam possam assimilar o e aprender o seu ensino. Por isso podemos também enquadrar como dom natural.
3.4. Exortar. “O que exorta, use esse dom em exortar”
(v. 8). A palavra παράκλητος deriva do verbo παρακαλεω (parakaleu), que
literalmente quer dizer “chamar para o lado”; e segundo o dicionário Strong
significa: chamar para o (meu) lado, chamar, convocar, dirigir-se a, falar a
(recorrer a, apelar a), conforto, instruir, exortar, pedir, encorajar,
fortalecer e consolar.
A palavra exortar no latim Exhortationem significa: aconselhar; animar; encorajar. O verbo “exortar”, não significa repreender alguém ou reprimir. Antes de tudo, é o fortalecimento espiritual dos santos através da ministração de palavras de ânimo e encorajamento. Exortar é a disposição, capacidade e poder dados por Deus, para o crente proclamar a Palavra de Deus de maneira que ela atinja o coração, a consciência e a vontade dos ouvintes, estimule a fé e produza nas pessoas uma dedicação mais profunda a Cristo e uma separação completa do pecado.
3.5. Contribuir. “O que reparte, faça-o com liberalidade” (v. 8). Do grego metadídomi, significa: “doar, compartilhar, investir”. É a capacidade dada por Deus para sabermos administrar bem nossas finanças e contribuir na obra de Deus. Todos nós devemos contribuir: “Cada um contribua…” (2ª Co 9.7), mas muitos têm este dom de contribuir (Rm 12.8) com liberalidade (com simplicidade) e de todo o seu coração.
3.6. Presidir. “O que preside, com cuidado” (v. 8). Do grego próistemi, significa “ficar de pé na frente”. Aqui Paulo se refere ao dom ministerial na Igreja, também mencionado em Ef 4.11. Presidir ou liderar é a disposição, capacidade e poder dados por Deus, para o obreiro pastorear, conduzir e administrar as várias atividades da Igreja, visando o bem espiritual de todos.
3.7. Misericórdia. “O que
exercita misericórdia, com alegria” (v. 8). Do grego έλεος éleos
da palavra hebraica hésèd. A palavra “misericórdia” tem origem latina e
é formada pela junção de “miserere” (ter compaixão) e “cordis”
(coração). A misericórdia, ou a compaixão, é aqui o amor profundo, a afeição de
uma mãe pelo seu filho (Is 49.15), a ternura de um pai pelos filhos (Sl 103.13),
um amor fraternal intenso (Gn 43.30). É a motivação de identificar-se
com, e de responder às carências de pessoas aflitas ou necessitadas. “Felizes
os misericordiosos porque alcançarão misericórdia” (Mt 5.7).
Sua particularidade é que este
dom revela o caráter de Deus. Deus é misericordioso. E nós, como seus filhos,
também devemos ser.
Mas muitos têm este dom em sua vida (Romanos 12). A parábola do bom samaritano demonstra com clareza o dom de misericórdia (Lucas 10.29-37). Jesus o bom Pastor tinha misericórdia, o evangelista Marcos relata que: “E Jesus, saindo, viu uma grande multidão, e teve compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor; e começou a ensinar-lhes muitas coisas.” (Mc 6.34)
III. O AMOR FRATERNAL EM AÇÃO
1. O amor sem hipocrisia (v. 9). A segunda parte de Romanos 12, Paulo trata do amor fraternal, profundo, sincero e prático, sem hipocrisia, que deve existir no corpo de Cristo, isto é, um amor sem máscara, sem falsidade. “Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade.” (1ª Jo 3.18). O amor é a principal qualidade do verdadeiro cristão. “De sorte que o cumprimento da lei é o amor (Rm 13.10). O amor é o maior mandamento: “E Jesus disse-lhe: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. 39 E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. 40 Desses dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas.” (Mt 22.37-40). Este mandamento é uma referência à Shemá Israel, que diz “Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor” (Dt 6.4-5).
2. A fraternidade (v. 10). Do gr. philadelphia, é a junção de duas palavras φίλος - philos significa “amor”, e αδελφός - adelphos, “irmão”. O termo descreve o vínculo estreito que deve existir entre os membros da Igreja de Cristo (1ª Ts 4.9; Hb 13.1; 1ª Pe 1.22; 2ª Pe 1.7). O amor no cuidado pelos necessitados e na hospitalidade que constituem-se no padrão para a família cristã. Todos seguidores de Cristo (judeus e gentios), que foram justificados pela graça, devem as suas vidas à misericórdia de Deus. Portanto, devemos viver como servos gratos, dedicando-nos ao amor fraternal.
3.O amor cordial e humilde (v. 10). “O temor do Senhor é a instrução da sabedoria, e diante da honra vai a humildade.” (Pv 15.33). Quão importante é a humildade para se obter honra. Você não obterá à verdadeira honra sem ela (Pv 11.2; 16.18; 18.12; 29.23). Quando você é humilde, você pensa antes de falar e você fala mansa e bondosamente, isto significa demonstrar apreço e consideração, com boa educação e gentileza. Filipenses 2.3 Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo.
4. Entusiasmo divino (v. 11). A seara do Senhor é grande, os ceifeiros são poucos (Mt 9.37), precisamos trabalhar enquanto é dia antes que venha a noite (Jo 9.4). Não devemos, portanto, mostrar-nos lentos ou preguiçosos, para fazer a obra daquele que nos comissionou. O objetivo final do zelo capacitado pelo Espírito é servir ao Senhor.
5. Trabalhar com alegria (v. 12). O crente não deve ficar perturbado com as aflições da vida, isto não
pode ser empecilho para o trabalho cristão. O cristão deve trabalhar com animo
e alegria. Deve ser pacientes na tribulação e perseverante na oração porque
encontrará consolo, bem como de ajuda divina.
6. Praticai a hospitalidade (v. 13). O termo para hospitalidade é φιλοξενία philoxenia, que é uma combinação das palavras philos (amar alguém como a um amigo) e xenos (estrangeiro). A palavra philoxenia significa literalmente “amor a estranhos” e era um conceito muito importante para os antigos gregos, sendo considerada um princípio sagrado. No Novo Testamento, a hospitalidade é uma virtude ordenada e recomendada em toda a Escritura, e no Antigo Testamento foi especificamente ordenada por Deus. Hb 13.2 “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos”. Gn 18.1-16 (Abraão hospedou a anjos) 1º Rs 17.9-24 (Viúva hospedou Elias) Lc 24.13-33 (Caminho de Emaús, os discípulos não sabendo hospedaram Jesus).
IV. RESPOSTA CRISTÃ AS PROVOCAÇÕES
1. Abençoem os que vos perseguem (v.14). Abençoai, do grego εὐλογία
eulogia, que deu origem a palavra “elogio”, literalmente “falar
bem de” alguém. No hebraico, a palavra bênção é ברכה barakeh que
significa ajoelhar, abençoar, exaltar, louvar, agradecer, felicitar, saudar.
Tanto no hebraico quanto no grego (eulogia) apresenta um sentido de
concessão de alguma coisa material.
O homem carnal amaldiçoa, mas o crente em Jesus, abençoa, aqueles que nos prejudicam e nos fazem o mal. Em Lucas 6.28, Jesus nos ensina: “bendizei (eulogeó) aos que vos maldizem (kataraomai = amaldiçoar, execrar, condenar), orai pelos que vos caluniam”.
2. Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram (v. 15). É um convite a colocar-se na pele do outro como expressão de caridade verdadeira. Regozijar-se com a alegria de outra pessoa, se alegre quando ele receber uma benção. Quando você realmente se alegra com a irmão que está se regozijando, você declara ao mundo que você ama realmente este irmão. Chorar com aqueles que choram, isto significa participar da tristeza de nossos irmãos e ajudar a carregar seus fardos. O grande sábio Salomão disse: “há tempo de chorar e tempo de rir.” Ou seja, haverá um tempo em que as pessoas enfrentarão dificuldades, situações que podem trazê-las aflição e lágrimas. O que fazer então? Devemos em primeiro lugar orar juntos e também chorar juntos. Quando os três amigos de Jó foram vê-lo, eles rasgaram suas vestes e choraram com ele (Jó 2.11-13). Quando Jesus foi visitar a família de Lázaro, ele chorou (Jo 11.35).
3. Não sejam orgulhosos (v.16).
O apóstolo relata aos Corintos que: “O amor não se ufana, não se ensoberbece” (1ª
Co 13.4). A palavra ufana significa sentir-se ou tornar alguém orgulhoso,
envaidecido ou ufano. O verdadeiro cristão não se orgulha de ter feito o bem,
não fica contando seus feitos para todo mundo, não procura ser visto, mas
alegra-se pelo fato de ter exercido o mandamento do Senhor, sabendo que a
recompensa vem de cima. “E eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo
para dar a cada um segundo a sua obra.” (Ap 22.12).
Paulo ensina que o amor é um conjunto de características a saber: “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, 5 não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (1ª Co 13.4-7). Onde há respeito há amor, onde as qualidades descritas acima estão presentes, há amor, e onde há esse tipo de amor há Deus.
4. Não paguem mal por mal (v. 17). A Bíblia diz que toda a humanidade nasce com uma natureza pecaminosa por causa da desobediência de Adão e Eva e todos tem esta tendência de fazer o mal. Quando alguém faz o mal é comum termos a vontade de pagar com o mal. Embora a vontade de se vingar tenha raízes profundas, os verdadeiros cristãos resistem a ela.
5. Façam o possível para
ter paz com todos (v. 18). Existem pessoas nervosas e atribuladas
que fazem uma tormenta com um copo de água. Porém o cristão deve manter a paz e
a sobriedade, porque a paz é fruto do Espírito.
O ensinamento do apóstolo para nós é para garantir que qualquer conflito contínuo em nossa vida, o cristão não deve perder o equilíbrio, mas fazer tudo que puder para manter a paz. Se a humanidade agir de acordo com os princípios do evangelho, o mundo logo estará em paz.
6. Se tiver com fome, dê comida a ele (v. 20). Este versículo é retirado quase literalmente de Provérbios 25.21-22. Se seu inimigo é carente, tenha fome e sede, faça-o bem e supra suas necessidades, pois é mandamento do Senhor Jesus: “Faça o bem aos que te odeiam.” (Mt 5.44). Paulo ensina que os irmãos não devem se vingar de quem lhes fez algum mal, a quem ele chama de “inimigo”, mas pagar o mal com o bem.
“amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça.” A linguagem figurada, de acordo com os comentários da Bíblia de Estudo Shedd, quer dizer “fazer o inimigo reconhecer o seu pecado, ficar envergonhado e, por fim, arrepender-se”. A Bíblia na versão “Nova Tradução na Linguagem de Hoje” traz um termo ainda mais esclarecedor para a metáfora: “porque assim você fará o inimigo ‘queimar’ de remorso e vergonha”. Portanto, agindo assim, estarás amontoando brasas de fogo sobre a cabeça dele. Retribuir o bem pelo mal (12.21) é a vingança do verdadeiro cristão; destrói o seu inimigo, fazendo com que ele se arrependa da sua maldade.
7. “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem” (v. 21). Este versículo segue exortações como “abençoai os que vos perseguem” (v. 14) e “não torneis a ninguém mal por mal” (v. 17). Jesus foi o exemplo perfeito de vencer o mal com o bem: “... pois ele, quando ultrajado, não revidava com ultraje; quando maltratado, não fazia ameaças, mas entregava-se àquele que julga retamente” (1ª Pd 2.23). Jesus foi acusado de ser um homem sedicioso; falado como um enganador; acusado de estar em aliança com Belzebu, o “príncipe dos demônios” e condenado como blasfemador contra Deus, Ele não insultou aqueles que o censuraram, Ele não ameaçou punição, Ele não invocou a ira do céu. Ele nem sequer previu que eles seriam punidos; ele não expressou desejo de que fossem. Porém Jesus disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). A vingança não é um sinal de força, mas de fraqueza. O teu bem faz com que o inimigo, constrangido, deixe de agir malignamente contra ti e se torne teu amigo.
CONCLUSÃO. Quando experimentamos a bondade e a misericórdia de
Deus, a culpa é substituída pela graça abundante e a força do pecado pelo poder
do Espírito Santo.
Vivemos no mundo sem ser do
mundo, temos que ser “sal e luz”, de maneira que Jesus seja visto em nós e
glorificado. E mais do que isso, com o nosso testemunho de fidelidade ao
Senhor, conquistarmos os não-crentes para Cristo.
Pr. Elias Ribas Dr. em Teologia
Assembleia de Deus
Blumenau - SC