TEOLOGIA EM FOCO: A GRANDEZA DO SERVIÇO CRISTÃO

quarta-feira, 11 de maio de 2022

A GRANDEZA DO SERVIÇO CRISTÃO

  


Texto Bíblico: Neemias 4.19, “Disse eu aos nobres, aos magistrados e ao resto do povo: Grande e extensa é a obra, e nós estamos no muro mui separados, longe uns dos outros”. 

INTRODUÇÃO

Muitos estão servindo ao Senhor como o primeiro trabalhador: sem a visão da grandiosidade do que está fazendo. Para estes, o trabalho de Deus não passa de uma atividade qualquer entre tantas outras que fazem, como por exemplo o trabalho secular, o cuidado da família, o curso escolar, etc. 

Se temos apenas uma visão míope, curta, sobre a extensão e grandiosidade da obra de Deus, certamente nossa disposição para o trabalho no reino será deficiente, faltosa, indiferente. Precisamos crer que servimos a um Deus grande, que tem um grande projeto para a salvação do homem. Tal é a grandiosidade deste projeto, que o Deus Todo-Poderoso investiu nele o que tinha de mais precioso, seu único Filho, Jesus Cristo. 

Quero analisar alguns aspectos que certamente estão envolvidos na grandeza do serviço cristão. 

I. A GRANDEZA DO SERVIÇO CRISTÃO SE MOSTRA NA ATITUDE DE SERVO 

1. Somos apenas servos nesta grande obra do Senhor. A visão de servo não contradiz a grandeza, porque servir ao Senhor é o maior privilégio de que podemos desfrutar em nossas vidas. A palavra “servo”, vem do termo grego “doulov” – doulos, e tem como significado “escravo”, “homem de condição servil”, “criado”. 

2. Não somos senhores da obra e nem os seus donos. Somos instrumentos nas mãos do Senhor para que ela seja realizada entre nós e através de nós. Vejamos algumas referências bíblicas de nosso “servir em Cristo”: 

2.1. Jesus, nosso exemplo de servo. Mc 10.45 “Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos”.

De acordo com este texto, podemos afirmar que o maior exemplo de que precisamos “servir”, está no próprio Senhor, cuja vinda ao mundo foi unicamente para dar a sua vida por nós. 

Muitos filhos de Deus, ao invés de se apresentarem como servos, se colocam na posição de “senhores absolutos”, frustrando o propósito de Deus em suas vidas. Deus não abençoará aqueles que usurpam uma posição que não é a deles. Como Filhos de Deus, nada somos além de servos, de escravos, etc... 

2.2. Como Jesus, devemos estar dispostos a servir. 1ª Pe 4.10 “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus”.

A palavra “servir” neste texto é “diakonew” – diakoneo, que quer dizer “ministrar”, “auxiliar”, “servir como provedor de determinada necessidade”. Isto significa “ministrar (servir) ao Senhor em favor de outros”. 

A igreja é serva do Senhor. Cada um de nós, como membros desta Igreja, somos servos de Deus. A igreja é plantada numa localidade para servir. É no serviço que está a grandeza da obra de Deus. Ninguém está no mundo para “se servir”, “para usufruir”. É no serviço que encontramos nossa verdadeira grandeza como crentes e reconhecemos a grandeza da obra de Deus. 

2.3. Devemos servir não de maneira fingida, mas com sinceridade. Ef 6.6-7 “Não servindo à vista, como para agradar a homens, mas como servos de Cristo, fazendo, de coração, a vontade de Deus; 7- servindo de boa vontade, como ao Senhor e não como a homens.”

De acordo com este texto, nosso servir deve obedecer a duas prerrogativas: 

A. Não devemos servir apenas na aparência. Existem muitos filhos de Deus que aparentemente se apresentam como servos, porém interiormente se mostram “senhores”, uma vez que suas atitudes denunciam que eles não são submissos a Deus. 

B. Devemos servir de coração, fazendo a vontade de Deus. Aqui está a excelência do verdadeiro servir, que é uma disposição que vem de dentro, do coração! E ainda, segundo a vontade de Deus! O verdadeiro servo procura agradar ao Senhor a quem presta serviço, e não tem como pretensão agradar a si mesmo! 

3. Precisamos aprender a servir e não almejarmos ser servidos! Jo 13.13-17 “Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. 14- Ora, se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, vós deveis também lavar os pés uns aos outros. 15- Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.16- Na verdade, na verdade vos digo que não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou. 17- Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes.” 

3.1. A base do serviço cristão são os exemplos de Cristo. Jesus quis que ficasse bem esclarecida a sua atitude. Tanto que perguntou aos discípulos: “Vocês entendem o que lhes fiz?”. A atitude de Cristo de retirar sua vestimenta, assumir a postura de servo e lavar os pés dos discípulos, é um símbolo do seu esvaziamento para assumir a forma humana e purificar os pecados da humanidade com a sua morte na cruz. Na passagem do versículo 14 , Ele não estava se referindo à limpeza externa dos pés, mas estava ensinando a eles a importância de se humilharem e servirem uns aos outros, de não se considerarem superiores. Se Ele, sendo o Cristo, estava disposto a lavar-lhes os pés, nenhum serviço seria humilhante demais para eles. Observe que Cristo declarou: “Eu lhes dei exemplo, para que vocês façam como eu fiz” (v. 15). 

3.2. Aplicando a Palavra. Assim como foi necessário que Jesus se humilhasse, nós devemos nos humilhar antes de nos propormos obedecer à vontade de Cristo. Leia Filipenses 2:5. Para obtermos a vitória devemos primeiro nos humilhar, tornando-nos servos de Jesus Cristo. Devemos: 

3.3. Submeter a nossa vontade totalmente a Ele. Não considerar qualquer tarefa simples demais no serviço cristão.

Olhar primeiramente para Cristo antes de olhar nossos próprios desejos e interesses. Considerar que de agora em diante nossa vida pertence exclusivamente a Cristo – vivendo ou morrendo. Precisamos seguir o exemplo de humildade que Cristo nos deixou e, em assim fazendo, teremos à nossa disposição todos os recursos espirituais para conquistarmos nossas vitórias sobre o inimigo. 

II. A GRANDEZA DO SERVIÇO CRISTÃO NOS REVELA QUE TUDO VEM DO SENHOR 

1. Nada provém de nossa capacidade, inteligência ou estratégia. Tudo vem de Deus. O que temos, o que somos e tudo o que viermos a ser ou a ter, provém de Deus. Quem não entende que não passamos de "instrumentos", nas mãos de Deus, não estará apto para a obra. Lembre-se, o instrumento não toca sozinho, mas depende de alguém que o execute, para daí produzir a bela música! Novamente, não devemos deixar de analisar alguns versículos na Palavra de Deus: 

1.1. Nossa dependência na pregação da Palavra de Deus. 1ª Pe 4.11 “Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus; se alguém serve, faça-o na força que Deus supre, para que, em todas as coisas, seja Deus glorificado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos dos séculos. Amém!” Note a expressão: “fale como entregando oráculos de Deus”. A palavra "oráculos", vem do grego “logion” – logion, que tem como sentido: “as palavras ou expressões vocais de Deus”. Aquele que ministra deve entregar a Palavra de Deus e falar de acordo com o poder que Ele concede, mediante a ação do seu Espírito em nós. 

Lembre-se da pregação de Paulo: 1ª Co 2.1-5. “Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. 2- Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. 3- E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. 4- A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, 5- para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus.” 

1.2. Nossa dependência como vasos de Barro. Para ser completos com o poder de Deus, precisamos reconhecer que somos apenas vaso de barro. 2ª Co 4.7 “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós”. Note que aqui também, Paulo estava falando a respeito de sua pregação, 2 Co 4.5 “Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo Jesus como Senhor e a nós mesmos como vossos servos, por amor de Jesus”. Tudo vem do Senhor! Eis a grandeza da obra que realizamos. 

1.3. Nossa dependência como “ramos da Videira”. Jo 15.5, “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” 

Observe: O ramo não pode existir independente da videira! É através dela que ele, o ramo, recebe a seiva e os nutriente necessários para sua sobrevivência. Se comparativamente, a Videira é Deus e nós os ramos, está estabelecida uma relação de dependência vital para nós como filhos de Deus. Deus sobrevive sem nós, porém, nós não podemos viver sem Deus! É por esta razão que Jesus afirma: “... sem mim nada podeis fazer”. 

4. Não nos resta alternativa! Se queremos ser úteis precisamos depender inteiramente do Senhor! No evangelho de Lucas (23.46); o próprio Jesus mostrou dependência do pai (o Deus que criou os céus e a terra), crucificado na cruz ele clamou em alta voz, Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.

Quantas vezes nos gabamos daquilo que fazemos? Isso não agrada ao Senhor. O que agrada o coração de Deus é um coração quebrantado e contrito. 

III. A GRANDEZA DO SERVIÇO CRISTÃO MANIFESTA A GRAÇA DE DEUS 

1. Servir o próximo. Pedro diz: “Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus” (1ª Pe 4.10).

A palavra “graça”, vem do termo “cariv” – “charis” e quer dizer: “favor”, “benefício”, “generosidade”, “presente imerecido”. Pela nossa condição de pecadores diante do Criador, nada merecemos dele! Portanto, tudo que Ele nos outorga é pela sua graça! 

2. A graça que manifesta de diversas e muitas formas. A obra de Deus não se encontra engessada a uma única manifestação. Ela é grande o suficiente para se manifestar em todos os contextos e de formas que nós nem sequer imaginamos. 

3. Coração e mente abertas. Quem serve ao Senhor deve estar com o coração e a mente abertos para sentir e ver como Deus age para alcançar e transformar as pessoas. O nosso compromisso é sermos “instrumentos da manifestação da graça de Deus” entre os homens. 

3. Devemos ter a mesma atitude que Barnabé teve quando chegou em Antioquia. Depois que se soube que ali muitos pregadores espontâneos haviam proclamado que “a mão do Senhor era com eles, e grande número creu e se converteu ao Senhor” (At 11.21). Ali chegando Barnabé, nos diz a Palavra que ele “viu a graça de Deus, e se alegrou, e exortava a todos a perseverarem no Senhor com firmeza de coração.” (At 11.23). 

4. Quando a graça de Deus se manifesta, ninguém pode opor resistência. A obra do Senhor é grande porque ela manifesta sua graça. Podemos observar como a graça se manifesta em nós, como já vimos, sobre tudo quanto nos vem de Deus. Vejamos alguns pontos, entre tantos outros onde a graça se manifesta: 

4.1. Somos o que somos pela graça. Paulo se considerava “ministro”, “servo”, somente pela graça de Deus, "Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo" (1ª Co 15.10). 

4.2. Somente a “superabundante” graça de Deus nos leva à contribuição em amor, tanto com nossas ofertas e contribuição monetária para sustento da Obra, como também na ajuda aos pobres e necessitados. 2ª Co 9.13-14, “Visto como, na prova desta ministração, glorificam a Deus pela obediência da vossa confissão quanto ao evangelho de Cristo e pela liberalidade com que contribuís para eles e para todos, 14 enquanto oram eles a vosso favor, com grande afeto, em virtude da superabundante graça de Deus que há em vós”. 

4.3. Não podemos viver sem a graça de Deus. Na carta aos Hebreus temos: “...atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados” (Hb 12.15).

4. Por mais que queiramos ser independentes, há uma grande carência da manifestação da graça de Deus em nós! 

IV. A GRANDEZA DO SERVIÇO CRISTÃO GLORIFICA A DEUS 

1. Fazer dando graças ao Pai. Paulo disse que “tudo quanto fizerdes por palavras ou por obras, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Cl 3.17). 

2. A verdadeira obra é aquela que glorifica a Deus. Jesus ensinou: “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (Jo 15.8).

Daí resulta também sua grandeza. Ela não é para glória pessoal de ninguém. infelizmente, muitos se autopromovem dizendo que fazem para a glória de Deus. Não é a pessoa que vai dizer isso; os frutos irão provar se realmente é para a glória de Deus que ela trabalha. 

3. Estamos vivendo um tempo de puro farisaísmo na vida de muitos que dizem servir a Deus, mas servem a si mesmos. O trabalho destes que deveria glorificar a Deus acaba sendo motivo de autoglorificação. No dizer de Paulo: 

3.1. Acabam servindo ao seu próprio ventre. Romanos 16.18, “porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos.” 

3.2. Porém, serão punidos severamente. Fp 3.19 “O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua infâmia, visto que só se preocupam com as coisas terrenas.” 

3.3. Devemos trabalhar no reino objetivando a exaltação e a glorificação do nome de Jesus, o Dono legítimo da Obra. 

CONCLUSÃO

Concluímos com as palavras de Neemias, diante das investidas dos seus inimigos que punham obstáculos ao que ele estava realizando: “Estou fazendo uma grande obra, de modo que poderei descer. Por que cessaria esta obra, enquanto eu a deixasse e fosse ter convosco?” (Ne 6.3).

No contexto do presente versículo notamos Sambalate, Tobias, Gésem, o arábio e muitos outros inimigos do povo de Deus naquele tempo, em suas tentativas frustradas de parar a construção dos muros de Jerusalém. Agora intentam um plano sinistro para matar Neemias. Armam-lhe uma cilada, convidando-o para vir ao vale de Ono, onde seria assassinado. Porém ele diz: Como poderei cessar esta obra? Sua convicção e presteza o livrou!

Pr. Elias Ribas

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