TEOLOGIA EM FOCO: A ORIGEM DOS HEBREUS

terça-feira, 13 de julho de 2021

A ORIGEM DOS HEBREUS

 


I. COMO SURGIU A NAÇÃO DOS HEBREUS

1. O pai dos hebreus. Por volta de 2.000 a.C., em Ur dos caldeus, uma das mais prósperas cidades da Mesopotâmia, hoje sul do Iraque, teve início a intrigante e significativa história dos hebreus. Abraão, cujo nome significa pai de uma grande nação, foi chamado por Deus. Nesse chamado Deus disse: “Ora, o Senhor disse a Abrão: sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome e tu serás uma benção. E abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra.” (Gn 12.1-3).

Em Abraão se concentrará o plano glorioso da redenção da humanidade: “far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma benção”.

A história de Abraão, que faz parte da história da nação de Israel, foi significativa porque, dentro do plano elaborado por Deus para abençoar as outras nações, ela foi a principal ferramenta.

Pela disposição que Abraão teve em ouvir o Senhor e se envolver no projeto que lhe fora apresentado, Deus o teve na mais alta consideração, chamando-o de amigo (Tg 2.23). Essa amizade permitiu a Abraão falar com Deus, ser visitado por Ele, e ouvir, de primeira mão, planos especiais que o Senhor tinha consigo e com a sua descendência.

Do capítulo 12 ao 25 do livro de Gênesis, temos o relato dos principais fatos ligados à história do patriarca Abraão. Podemos ver como foi a sua chamada e suas primeiras peregrinações por Canaã (Gn 12); seu envolvimento solidário na defesa do território de Canaã e o seu encontro com o sacerdote e rei Melquisedeque (Gn 14); o recebimento dos anjos em sua casa e sua intercessão pelas cidades pecadoras, Sodoma e Gomorra (Gn 18); o cumprimento da promessa de recebimento de um filho, nascimento de Isaque (Gn 21) e sua resistência diante da prova de oferecer seu filho em sacrifício (Gn 22).

2. A origem do termo hebreu. A primeira vez nos livros de Moisés (Torá, para os judeus; Pentateuco, para os cristãos) em que o termo “hebreu” aparece é no livro de Gênesis 14:13, referindo-se, exatamente, ao pai deste povo, Abraão: Gênesis 14.13: “Então veio um, que escapara, e o contou a Abrão, o hebreu; ele habitava junto dos carvalhais de Manre, o amorreu, irmão de Escol, e irmão de Aner; eles eram confederados de Abrão.”

Embora a tradição judaica ofereça pelo menos duas correntes para explicar o nome, vamos considerar aquela que é mais aceita pela maioria dos teólogos. Ela se refere aos descendentes de Héber (עֵבֶר em hebraico). O livro de Gênesis, capítulo 10, a partir do versículo 21, fala dos descendentes de Noé e das nações que se formaram a partir deles. Noé teve três filhos: Sem, Cam e Jafé, além de outros mais que nasceram depois do dilúvio. Héber foi um dos trisnetos de Sem, filho de Noé.

O nome de Héber é importante porque, segundo a tradição judaica, foi graças a ele que a língua que eles falam foi preservada por Deus. Segundo a tradição judaica, Héber teria se recusado a participar da construção da Torre de Babel e, portanto, o idioma hebraico foi preservado e recebeu este nome em homenagem a Héber, e desta forma, deu também nome ao povo que falava Hebraico, o povo Hebreu.

Etimologicamente, a palavra “Hebreu” pode derivar do verbo “avar”, que em hebraico significa “ultrapassar”, “passar”, “ir além”. De “avar” vem “ivrì” (“passado além”). Muitos veem nessa raiz etimológica uma referência à viagem de Abraão, que, como nômade, deixou a Mesopotâmia para se estabelecer na região de Canaã.

3. A origem da língua hebraica. Enquanto o termo “hebreu”, refere-se a uma nacionalidade, ou seja, especificamente aos antigos israelitas, a língua hebraica clássica, uma das mais antigas do mundo, pode ser considerada como abrangendo também os idiomas falados por povos vizinhos, como os fenícios e os cananeus. De facto, o hebraico e o moabita são considerados por muitos, dialetos da mesma língua.

O hebraico assemelha-se fortemente ao aramaico e, embora menos, ao árabe e seus diversos dialetos, partilhando muitas características linguísticas com eles.

O hebraico bíblico (também chamado de hebraico clássico) é a forma antiga do hebraico, na qual a Bíblia hebraica e diversas inscrições israelitas foram escritas.

Nos dias de hoje, não é falado em sua forma “pura”, embora seja estudado com bastante frequência por judeus, teólogos cristãos, linguistas e arqueólogos israelenses como forma de adquirir uma maior compreensão da Bíblia hebraica e da filologia dos idiomas semitas. Atualmente o hebraico clássico costuma ser ensinado nas escolas públicas de Israel.

O hebraico bíblico e o hebraico moderno são diferentes em sua gramática, vocabulário e fonologia. Embora as regras gramaticais das duas variantes tenham muitas divergências, o hebraico bíblico costuma ser empregado na literatura hebraica atual, de maneira paralela ao uso de construções clássicas e bíblicas que costuma ser feito na literatura moderna de língua inglesa.

O hebraico antigo (linguística) língua extinta falada pelos judeus entre os séculos X a.C. e IV d.C., em que acredita-se ter sido usada para escrever a Torá no 3.300 a. C, por Moisés.

II. A DIFERENÇA ENTRE ISRAELITA, HEBREU E JUDEU

Como já vimos, o termo hebreu designa a língua que o povo semita fala.

1. Israel. O termo Israel (ישׁראל, em hebraico), é a versão em português do termo “filhos de Israel” (Bnei Yisrael), que aparece várias vezes na Bíblia (são 608 vezes em traduções como a Almeida). O nome “Israel”, que no hebraico significa “lutar com Deus”, foi atribuído a Jacó quando atravessava o vale de Jaboque:

Gênesis 35.10 “E disse-lhe Deus: O teu nome é Jacó; não te chamarás mais Jacó, mas Israel será o teu nome. E chamou-lhe Israel.”

Jacó é filho mais novo de Isaque. Seu nome, em hebraico, é Yakoov e significa “Deus protege”. Ele integra a lista dos três patriarcas hebreus, que marcaram a história de Israel: Abraão, Isaque e Jacó. Sua história foi pontilhada de episódios dramáticos desde o seu nascimento. Deus ouviu as orações de Isaque, pois Rebeca era estéril (Gn 25.21). O texto diz que, no ventre, havia uma luta entre os bebês (Gn 25.22). Jacó nasceu agarrado ao calcanhar do seu irmão. Diante disso, o seu nome passou a ter o significado de “aquele que segura pelo calcanhar” ou “suplantador”.

“Era o terceiro no plano de DEUS para iniciar uma nação descendente de Abraão para daí nascer Jesus (Gl 3.16). O sucesso deste plano se deu mais 'apesar de' do que 'em razão da vida de Jacó. Antes de Jacó nascer, DEUS prometera que seu plano se desenvolveria através dele, e não de seu irmão gêmeo, Esaú. Embora os métodos de Jacó nem sempre fossem respeitáveis, suas habilidades, determinação e paciência tinham de ser reconhecidas. Ao acompanharmos sua vida desde o nascimento até à morte, vemos a mão de DEUS trabalhando.” [Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal, CPAD, p. 46].

O nome de “Jacó” teve origem na maneira em que se deu o seu nascimento. (cap. 25.26). “Jacó, o suplantador”, pelo fato de nascer segurando o calcanhar de seu irmão. Teve em Rebeca, uma mãe parcial, isto é, que o favorecia. Então Rebeca concentrou seu amor, seus cuidados ao seu filho Jacó.

Assim a benção da primogenitura, que por direito pertencia a Esaú, foi passada para Jacó. Sua mãe tudo planejou e executou rapidamente.

Eis o perigo do favoritismo dos pais em relação aos filhos. A destruição da unidade da família. O texto revela na mãe parcial, àquela que ensina o predileto a mentir, mais do que isto, mentir ao próprio pai. Nota-se ainda o filho desrespeitoso para com o pai já velho e cego.

Por aquele ato a mesma mãe desperta no filho ofendido o ódio e o desejo de vingança. Quadro desolador esse, se bem que os acontecimentos posteriores em torno da família de Isaque, demonstram que no controle superior de Deus, até mesmo esse acontecimento foi convertido para o desenvolvimento do seu propósito.

1.2. Jacó no vale Jaboque. Jacó deixa sua família, os servos e os animais. “Jacó, porém, ficou só” (Gn 32.24) no vale Jaboque, que é um ribeiro que corre numa profunda fenda das montanhas de Gileade, em direção ao Jordão. Ali, sozinho, durante toda a noite ele lutou com um varão. “… Não te deixarei ir, se não me abençoares.” (Gn 32.26). Ele não queria perder aquela oportunidade, precisava de benção de Deus.

A. O desesperado Jacó clamou: “… Não te deixarei ir, se não me abençoares.” (v. 26) e o grito do desesperado pela benção transformou Jacó num novo homem, com um novo nome. (v. 28). Ele de fato tinha “prevalecido,” pois essa é a maneira de agir do Deus infinito em misericórdia: ele não pode ser derrotado pela nossa força, mas sempre é vencido pelo nosso clamor. E, assim o Jacó sem esperança saiu mancando, agora como Israel, pois “tinha visto a face de Deus.”

B. Deus muda seu nome. Jacó alcançou a sua benção: “… Não se chamará mais o teu nome Jacó, mas Israel…” (v. 28). Agora, não mais seria chamado como enganador ou suplantador, mas como “Campeão com Deus,” “Príncipe com Deus.” (2ª Co 5.17).

2. O termo “judeu”. A Bíblia hebraica, o termo israelitas é usado de forma intercambiável com o termo Doze Tribos de Israel. Embora relacionados, os termos hebreus, israelitas e judeus não são intercambiáveis em todas as instâncias.

O termo Judeu (יְהוּדִי em hebraico), está ligado ao nome Judá a um dos filhos de Jacó, mas não quer dizer que ele se refira apenas ao povo desta tribo. Judeus foi o nome dado as duas tribos, uma sendo de Judá e outra de Benjamin. Esse termo era, inicialmente, usado para designar os habitantes da Judeia, que era uma antiga região do Oriente Médio. Portanto, o termo “judeu” se refere ao povo de todas as 12 tribos. Vamos ver o porquê disso.

2.1. A divisão dos reinos. Com o descontentamento constante das tribos, sob o domínio de Salomão, o reino se divide em duas partes sob o governo do filho de Salomão, Roboão. Dez tribos se rebelam contra impostos cobrados por Salomão e reivindicam a Roboão negociá-las. Diante da negativa do jovem rei Roboão, dez tribos se rebelam formando um reino à parte. Assim, duas tribos ficam com Roboão, continuando Jerusalém como sede do reino de Judá (1º Reis 12) e o reino de Israel, tendo Samaria como sede e Jeroboão, como rei. Jeroboão era filho de Nebate, efrateu de Zereda, servo de Salomão (1º Reis 11.26; 12.19-20). Diversas crises políticas e religiosas acabam levando à decadência dos dois reinos: o reino de Israel é destruído pelos assírios, enquanto o reino de Judá é levado para o cativeiro babilônico que durou 70 anos.

No exílio, o povo israelita começa a tomar consciência do seu papel no “Plano de Deus”. Após alguns anos, retornam para sua terra e reconstroem o Templo, reorganizando suas Escrituras. Com estes fatos, encerra-se a história do período das Escrituras Hebraicas.

Com o retorno de algumas comunidades judaicas para a Judeia, uma renovação religiosa levou a diversos eventos que seriam fundamentais para o surgimento do Judaísmo como uma religião mundial. Entre estes eventos, podemos mencionar a unificação das doutrinas mosaicas, o estabelecimento de um cânon, a reconstrução do Templo de Jerusalém e a adoção da noção do “povo judeu” como povo escolhido, através do qual seria redimida toda a humanidade.

Nos tempos de Jesus os descendentes de Abraão eram chamados de judeus. Por sua origem e hábitos culturais Jesus era um judeu, a religião praticada pelos judeus posteriormente passou a ser chamada de judaísmo, por conta de Jesus ser visto por seus seguidores como o Cristo, seus discípulos foram denominados de cristãos. Embora Moisés seja conhecido como hebreu e Jesus tenha sido um judeu, eles são a continuidade de uma mesma aliança feita por Deus com Abraão, e ambos foram incumbidos da mesma missão conduzir as pessoas a Deus e a Terra prometida.

Com o passar do tempo as palavras “hebreu” e “judeu” passaram a ser tomadas como sinônimos, mas na verdade não o são. Em português (também em inglês, francês, alemão...) normalmente usamos o termo “hebreu” para indicar a língua e o povo da antiguidade, antes do exílio em Babilônia e a palavra correspondente a “judeu” para definir a cultura, a religião e o povo depois do exílio.

III. A ORIGEM DA LÍNGUA HEBRAICA

O Hebraico (escrito em caracteres hebraicos עברית, “ivrit”, ou também chamada de לשון הקודש Lĕshôn Ha-Qôdesh Língua Sagrada, devido ao fato de ser a língua em que foi escrita a Torá) é uma língua que pertence ao ramo das línguas semíticas, ao qual pertencem o árabe , o aramaico e o síriaco, sendo que os estudiosos creem que sejam todas originadas de um mesmo idioma-raiz conhecido como paleo-semítico, que teria existido cerca de quatro mil anos atrás. O hebraico seria uma ramificação desta raiz, desenvolvido entre o povo hebreu, e cuja história pode ser dividida em dois estágios principais:

1. Ivrit ou Hebraico Antigo, língua falada pelo antigo povo de Israel desde a época dos patriarcas, tendo uma forte influência canaanita-egípcia. Sua escrita era efetuada no antigo alfabeto hebraico, ainda utilizado atualmente pelos samaritanos. Esta língua perduraria até o Cativeiro em Babilônia.

2. Ashuri, ou hebraico moderno. Essa língua adotada pelos judeus após o retorno de Babilônia, derivada do aramaico, possuindo um alfabeto quadrado. Com a adoção da língua aramaica também o antigo hebraico passou a ser escrito com este alfabeto (o mesmo que se utiliza desde então, até nossos dias no hebraico moderno). A adoção da escrita hebraica com caracteres aramaicos é atribuída a Ezra, o escriba. Esta língua continuará sofrendo influências de outros idiomas através da história judaica, e serve de base para o que conhecemos como o Hebraico Moderno. De acordo com os religiosos judeus o Hebraico é a língua original do ser humano, a única que teria se mantida não-corrompida após a dispersão de línguas ocorridas durante os eventos relacionados à Torre de Babel, e que teria sido transmitida pelo patriarca Abraão aos seus descendentes.

Pr. Elias Ribas

Assembleia de Deus

Blumenau - SC

2 comentários:

  1. Tem algumas coisas interessantes no texto. Mas teologia coloca o Criador no mesmo patamar de um dente(odontologia). O Criador não é um objeto, ou cobaia, pra ser estudada. Nenhum personagem da Bíblia precisou de "teologia", nem hermenêutica, ou exegese, ...

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  2. A paz do senhor meu querido! estou escrevendo um livro, e esse conteúdo tem o que eu preciso, quero sua permissão para colocar esse artigo no meu livro, sobre a origem dos hebreus. entre em contato comigo! meu WhatsApp: (11)972095423

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