Bíblia afirma
claramente que a justificação é uma dádiva que só podemos obter mediante a fé
“Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça” (Rm 4.3).
“Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque” (Tg 2.21).
“Sabendo,
contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé
“Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (Tg 2.24).
Ao examinarmos os contextos veremos que cada escritor empregou as mesmas palavras: fé, obras e justificar, mas de maneiras diferente.
Paulo contempla o assunto conforme a necessidade dos seus leitores e afirma que somos justificados diante de Deus sem obra alguma de nossa parte; que é somente pelos méritos de Cristo, cuja obra redentora já foi completada na cruz.
1. Fé para salvação e fé professada.
Alguns têm suposto que a discussão ou a carta de Tiago do relacionamento entre fé e obras está em oposição à doutrina da justificação pela fé. A epístola de Tiago é uma das mais antigas. Ela certamente não foi escrita para responder a Epístola aos Romanos, que foi escrita alguns anos mais tarde. É certo então, que Romanos não foi escrita para contradizer a Epistola de Tiago.
Quando Paulo fala da fé que justifica, está falando somente da fé salvífica, ou seja, a fé é a condição de ter um relacionamento real com Cristo, baseado no amor, confiança, e a consagração da vida e vontade a Ele.
Tiago, no entanto, fala de uma confiança de fé, seja ela a fé que salva, ou meramente um assentimento à existência de Deus (o que também fazem os demônios, Tg 2.19). Note que o elemento da fé professa, é claramente denotado nas palavras “se alguém disser, e “mostrar”: “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, (mera confissão) mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” (Tg 2.14) “Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé” (Tg 2.18).
Tiago, também, contempla o assunto de fé e obras, mas conforme a necessidade dos leitores dele. A fé é a raiz e a árvore da qual as obras de fé são o fruto. Não somos salvos pela combinação de fé e obras, mas sim, por uma fé que produz obras. Se temos fé em Deus, as obras mostrarão. As obras são o resultado da fé. Somos salvos exclusivamente pela fé, mas por uma fé que não permanece isolada. Em Romanos vemos que a fé é o necessário para a nossa salvação; na epístola de Tiago vemos a demonstração de uma fé genuína que são as obras.
O propósito de Tiago não era de atacar a fé como meio de salvação, mas, sim, atacar a simples confissão de fé na existência de Deus, como meio de salvação. Por exemplo: Alguém apenas acredita em Deus, mas não obedece Sua Palavra. Ela apenas tem uma fé universal da existência de um Deus. No entanto, ela não pode ser declarada salva.
Paulo fala da
justificação como a declaração da parte de Deus de que um homem é justo por
causa da sua fé
“E se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus” (Tg 2.23).
“Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque” (Tg 2.21).
Note que no verso 23 Tiago está falado da justificação do homem, no verso 21 Tiago está falando da justificação ou prova da sua fé. O verso 23, que citado em Gn 15.6, refere-se à justificação inicial de Abraão, e o verso 21, é uma referência ao sacrifício de Isaque retratado em Gênesis 22 – aproximadamente 30 anos depois de Abraão ter sido declarado justo por causa da sua fé somente, isto é, à parte das obras.
A Bíblia vai dizer que Abraão chegou ao monte, amarrou Isaque e o colocou sobre o altar que construiu. Tirou então a faca para matar seu filho. Foi então que o anjo de Deus chamou: ‘Abraão, Abraão!’ E Abraão respondeu: ‘Estou aqui!’ Não faça mal ao rapaz’. ‘Agora sei que você tem fé em mim, porque não me negou seu único filho.’ (Gn 22.9-12).
Quão grande era a fé que Abraão tinha em Deus! Ele acreditava que nada era impossível a Jeová, e que Jeová até mesmo podia ressuscitar Isaque dentre os mortos. Mas Deus realmente não quis que Abraão matasse Isaque. Por isso, Deus fez que um carneiro ficasse preso em alguns arbustos ali perto, e mandou que Abraão o sacrificasse, no lugar de seu filho.
Deus usou a fé de Abraão como um exemplo de que fé é o único caminho a Deus. Gn 15.6 diz: “creu ele no SENHOR, e imputou-lhe isto por justiça”. Essa verdade é a base da fé Cristã, como confirmado por Romanos 4.3 e Tiago 2.23. A justiça que foi creditada a Abraão é a mesma justiça a nós creditada quando recebemos pela fé o sacrifício que Deus providenciou pelos nossos pecados – Jesus Cristo. “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2ª Co 5.21).
Deus prova a fé de Abraão. “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito. Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar; daí também em figura ele o recobrou” (Hb 11.17-19); Jesus: “E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1ª Coríntios 15.4).
Mas aprendemos com Abraão que a fé em Deus requer ação e frutos. É para agir, e seguir em frente com fé quando Deus opera em mim, como Abraão fez quando ele dividiu a lenha necessária para sacrificar seu filho. Isso significará sacrifícios da minha parte; desistir da minha vontade para fazer a vontade de Deus. Abraão viu o sacrifício como uma condição de Deus para cumprir a fim de receber sua promessa. É o mesmo para nós.
Vamos seguir o exemplo de Abraão, cuja obediência fez dele “o pai de nossa fé” (Rm 4). Acredite nas promessas de Deus e seja rápido em cumprir as condições para que Deus possa abençoá-lo!
O que realmente o verso 23 afirma é que o homem é justificado pela fé somente; e a declaração do verso 21, que a “fé salvífica” nunca permanece só, sempre está acompanhada de obras de justiça que servem para demonstrar a eficácia da fé do crente.
A fé é o meio e a condição de sua salvação, ao passo que as obras são seu fruto e sua evidência. As obras são o produto e o fruto de fé e da salvação. A fé inicia, promove, controla e culmina a vida espiritual, enquanto as obras evidenciam, embelezam e coroam a mesma.
Paulo considera a questão do ponto de vista de Deus, e assevera que somos justificados, aos olhos de Deus, meritoriamente, sem qualquer obras de nossa parte. Tiago considera o assunto do ponto de vista do homem, e assevera, que somos justificados, a vista do homem, evidentemente, pelas obras e não exclusivamente pela fé.
Em Tiago a questão em foco é a demonstração de fé. Em Tiago 2, vemos que somos justificados pelas obras. Temos aqui a evidencia da justificação. Tiago pergunta: “Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?” (v. 21). “De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho?” (v. 25). Estas referências são de justificação perante os homens. Depois de alguém ter sido inocentado por Deus, irá manifestar sua absolvição perante os demais através da retidão produzida pela sua posição em Cristo. O homem não é justificado diante de Deus pelas obras, mas demonstra através delas sua justificação.
Há pessoas que dizem que nossa bondade pessoal ou excelência moral não for a base da nossa aceitação com Deus, então toda a necessidade de ser bom é negado, e todo o motivo para as boas obras é removida.
É verdade que nossa excelência não tem nada a ver com nossa justificação e que somos justificados somente na base daquilo que Cristo fez por nós. Mesmo assim, produzimos fruto para a justiça ou retidão. Ninguém partilha mérito da morte de Cristo que não se torne participante do poder da vida de Cristo.
E o próprio apóstolo Paulo fala tão claramente como Tiago contra a noção de uma fé que não produz obras: “Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados” (Rm 2.13). Paulo ensina que a possessão da verdade divina não vale nada sem sujeição e obediência. Ninguém será justificado por sacrifícios, leis, práticas e regras humanas, mas que praticar e não apenas ouvir é que o julgamento de Deus exige.
O forte tom ético de todo capítulo 2 de Romanos não contradiz a doutrina da justificação pela fé, mas protege esta doutrina, como a Epístola de Tiago faz contra antinomianismo, ou seja, o ensino de que não importa qual seja a conduta da pessoa, uma vez que creia.
“Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1ª Jo 3.7-9).
Portanto, não devemos desprezar as boas obras que é fruto do amor e que têm seu próprio lugar; e seu lugar não procede a justificação, mas antes segue-a. A fé que justifica é uma fé real que conduz à ação que é de conformidade com a verdade crida. Somos justificados pela fé, sem as obras. O homem que trabalha para conseguir a salvação não é um homem justificado, mas o homem justificado é o homem que trabalha. Enfim, a árvore demonstra sua vida por meio de seus frutos (Gl 5.22-23), mas já estava viva antes que os frutos ou mesmo as folhas tivessem aparecidos. Concluímos que fé e obras fazem parte da vida de um cristão verdadeiro.
2. Obras que salvam e obras de amor.
Paulo e Tiago também tratam de dois tipos diferentes de obras. Paulo condena as obras como esforço arrogante do homem procurando merecer a sua própria salvação: “E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé” (Gl 3.11; Rm 3.20). Contratando isso, ao referir-se as obras, Tiago fala dessas expressões de fé como resultado natural da justificação.
Poderíamos chamar as obras mencionadas por Paulo como sendo “as obras da lei” e as de Tiago como sendo “as obras da fé”.
Portanto, quando Tiago diz que a fé sem as obras é morta, o que na realidade ele está dizendo é que uma profissão de fé que não resulta em obras de justiça, não é uma profissão veraz; é insuficiente para salvar. Mas uma profissão de fé completamente por obras de justiça comprova que aquela fé viva que realmente salva.
3. As obras e seu julgamento.
O julgamento de Deus é segundo a sua verdade, justiça e santidade (Rm 2.2; 3.4; 9.14; Sl 96.13; Dt 32.4; Ap 16.7). Entretanto, Deus não deseja a ruína do pecador, mas a sua salvação (Ez 18.23, 32; Is 55.7; Tg 2.13; Hb 3.7-8; Ap 22.17). E a única maneira de escaparmos do juízo de Deus é termos a Cristo como Salvador e Senhor (Hb 22.4; Lc 13.3, 5).
As obras do crente são decorrentes da salvação já operada, pela graça de Deus (Ef 2.8-9). Ou seja: nós fomos salvos pela fé para a práticas das boas obras (Tg 2.14-20, 26; Ef 2.10).
4. Justificação do homem e a justificação da sua fé.
Paulo pregava que a justiça do crente começa com a fé; é mantida pela fé e termina com a fé. “Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm 1.17).
Pedro também ensinava que a fé era o continuo catalisador da salvação até ao exato momento da passagem da vida física para a eterna: “Que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma”. (1ª Pe 1.5, 9).
A fé que salva o homem é uma fé “presente”. Não somente é o ponto de partida da vida do crente, mas também é o princípio característico que deve ser a base continua da vida espiritual (Gl 2.20).
A fé não deve ser limitada à experiência inicial da salvação no passado, mas, sim deve ser mantida no decurso da vida do cristão no presente. É uma virtude continua, que deve ser demonstrada diariamente através de um relacionamento de dedicação a Cristo e confiança n’Ele até o fim. Assim ela também assegura o futuro do cristão: “Agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro” (Cl 1.22-23).
Já temos falado e demonstrado que as obras não são a base da nossa justificação -quer dizer obras rituais ou cerimoniais, quer obras feitas antes da regeneração, quer obediência perfeita requerida pela lei, quer qualquer tipo de obras (tudo que foi feito por nós). Não podemos ser justificado por qualquer espécie que façamos.
Aqui Paulo nos diz que: “se vós permanecerdes na fé”. Caso contrário, vocês vão perder todas as bênçãos que vocês já começaram a desfrutar. E não pode ser removido da esperança do Evangelho a gloriosa esperança do amor perfeito. Que é pregado e já começou a ser pregado a toda criatura debaixo do céu.
Em Filipenses Paulo rejeita qualquer base de confiança na sua “justiça própria”, isto é, a sua própria excelência, quer habitual ou atual. Ele censura os judeus, porque eles procuravam estabelecer sua própria justiça e não queria submeter a justiça divina: “Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (Rm 10.3).
A Bíblia fala da natureza gratuita da nossa justificação. Graça e obras são opostos ou contrários: “Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras” (Rm 4.4-6).
Quando a base positiva da justificação é citada nas Escrituras, é sempre declarado que nada é feito por nós ou realizado em nós, mas o que foi feito por nós (Rm 5.9, 18-19).
Quando Paulo fala de achar graça só pela fé,
é sempre em oposição à possibilidade de achá-la palas obras. A doutrina da
justificação não poderia ser entendida sem esta antítese. Ela se dirige contra
a concepção fundamental do judaísmo e do cristianismo judaizante, segundo a
qual o homem acha graça de Deus pelo cumprimento da vontade divina. O próprio
Paulo considerava as coisas assim até o momento
Pr. Elias Ribas
Assembleia de Deus
Blumenau - SC