“Crescia o menino e se fortalecia,
enchendo-se de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele. Ora, anualmente
iam seus pais a Jerusalém, para a Festa da Páscoa. Quando ele atingiu os doze
anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa. Terminados os dias da
festa, ao regressarem, permaneceu o menino Jesus em Jerusalém, sem que seus
pais o soubessem. Pensando, porém, estar ele entre os companheiros de viagem,
foram caminho de um dia e, então, passaram a procurá-lo entre os parentes e os
conhecidos; e, não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém à sua procura. Três
dias depois, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e
interrogando-os. E todos os que o ouviam muito se admiravam da sua inteligência
e das suas respostas. Logo que seus pais o viram, ficaram maravilhados; e sua
mãe lhe disse: Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos,
estamos à tua procura. Ele lhes respondeu: Por que me procuráveis? Não sabíeis
que me cumpria estar na casa de meu Pai? Não compreenderam, porém, as palavras
que lhes dissera. E desceu com eles para
Nazaré; e era-lhes submisso. Sua mãe, porém, guardava todas estas coisas no
coração” (Lc 2.40-51).
1. O 1. Os Magos, Herodes e o Novo Rei (2.1-23)
1.1. Os 1.1. Os Magos Vão a Jerusalém (2.1,2). O primeiro acontecimento que Mateus
relata depois do nascimento de Jesus é os magos que chegam a Jerusalém,
perguntando o paradeiro do rei recém-nascido e contando que a estrela os tinha
alertado para este nascimento. Ardendo em ciúmes diante da sugestão de outro
“rei dos judeus”, o rei Herodes pergunta aos principais sacerdotes e escribas
da lei onde o Cristo, o Messias, nasceria. Ironicamente, estes líderes
religiosos, que mais tarde tornaram-se inimigos mortais de Jesus, foram os que
verificaram para Herodes que Belém era o lugar onde o Messias nasceria. O
estabelecimento de Belém como a localização do nascimento de Jesus é crucial
para Mateus, não só por causa do significado profético (vv. 5,6), mas também
porque atende ao tema frequente da monarquia de Jesus (Belém é a cidade de
Davi, o rei).
Na profecia que nomeou o local do nascimento do Messias, Miquéias
estava predizendo que Deus usaria mais uma vez a insignificante Belém para
guiar o povo de Israel depois que este fosse liberto do resultante julgamento
dos maldosos assírios e do posterior exílio na Babilônia (Mq 5.2-4). A esta
profecia Mateus inclui a referência ao “Guia que há de apascentar o meu povo de
Israel”. Miquéias 5.4 registra que “ele permanecerá e apascentará o povo na
força do SENHOR”, mas as palavras que Mateus insere ao término de sua citação
da profecia de Miquéias são provenientes da antiga profecia davídica: “Tu
apascentarás o meu povo de Israel e tu serás chefe sobre Israel” (2 Sm 5.2); de
maneira típica e enfática Mateus faz o vínculo com o rei Davi. É significativo
que dos escritores dos Evangelhos, só Mateus registre a narrativa dos magos e
seu cumprimento da profecia. Os temas do rei e seu cumprimento, que dominam sua
agenda teológica, motivaram-no a incluir este relato em seu Evangelho.
Mateus ajuda a estabelecer a data do nascimento de Jesus com a
expressão: “No tempo do rei Herodes” (Mt 2.1), cujo reinado como rei da Judéia
e áreas circunvizinhas durou de 37 a 4 a.C. Presumivelmente Jesus nasceu perto
do fim do reinado de Herodes, visto que Mateus nota que a morte do malvado rei
aconteceu antes que a família santa voltasse do Egito (v. 19). Isto significa
que Jesus nasceu de quatro a seis anos antes de Cristo, de acordo com o
calendário atualmente em uso! Herodes, o Grande, era um político
surpreendente; no tumultuoso século I ele, como um gato, sempre parecia cair
com os pés no chão, apesar do fato de ser pego em intrigas com pessoas
influentes e perigosas como César Augusto, Cássio, Marco Antônio e Cleópatra.
Seu pai, Antípater II, idumeu convertido ao judaísmo, apoiou o regente
hasmoneano Hircano II e subseqüentemente tornou-se o verdadeiro poder por trás
do trono em Jerusalém. Em conseqüência disso, Herodes alcançou altas posições
no governo judaico como também no romano Herodes fizera nome empreendendo
grandes construções e edificando cidades, inclusive Cesaréia, nome dado em
honra do imperador. Ele também construiu fortalezas e templos pagãos,
anfiteatros, hipódromos e outros lugares nos quais as atividades helenísticas
eram incentivadas. Sua prestimosidade às atividades pagãs não granjearam a
estima dos judeus conservadores, que as encaravam como abominações e uma violação
da lei de Deus. Quando reconstruiu, aumentou e embelezou o templo judaico em
Jerusalém, ele ganhou alguma simpatia dos súditos judeus. Seu reinado trouxe
muita prosperidade para a nação, acompanhada de um fardo enorme de imposto e
antagonismo.
Herodes demonstrou ser um déspota astucioso e sanguinário, e até
seus parentes tinham medo dele. Matou a esposa, filhos e parentes de quem
suspeitou que estivessem tramando contra ele. Seus súditos também tinham motivo
para temê-lo. Herodes executou quarenta e cinco dos aristocratas mais ricos que
tinham apoiado seu predecessor hasmoneano e confiscou-lhes as propriedades para
encher os cofres vazios. Execuções eram comuns. Esta descrição, dada pelo
historiador judeu Josefo, encaixa-se com o relato de Mateus sobre a intenção
dolosa de Herodes para com os magos, a raiva ao perceber que fora enganado, a
tentativa de matar o menino Jesus e a ordem insensível de executar todas as
crianças do sexo masculino nas redondezas de Belém.
1.2. A Reação de Herodes e de Jerusalém diante das Novas (2.3-8). Mateus nos conta que quando os magos
chegaram perguntando sobre o novo rei, não foi apenas Herodes que ficou
perturbado; toda a Jerusalém também ficou. O povo de Jerusalém tinha boas
razões para se preocupar; não só era frequente que a mudança de governo fosse
sangrenta, mas as pessoas sabiam que Herodes sacrificaria muitos para se manter
no poder. Ainda que a elite religiosa tenha respondido com facilidade a
pergunta de Herodes sobre o lugar do nascimento do Messias, não temos registro
de que eles tenham viajado alguns quilômetros para procurar o Messias — talvez
porque estivessem com a mente absorta no ministério complexo e detalhado no
templo (Hannom, The Peril of the Preoccupied and Other Sermons [O Perigo dos
Preocupados e Outros Sermões], 1942). Embora esta acusação não possa ser
comprovada, o relato do nascimento de Jesus indica que, excetuando-se algumas
pessoas pobres, não muitos foram ver o novo rei. A lição tem aplicação sensata
para o ministério da Igreja dos dias de hoje: Nós ministramos para adorar, ou
adoramos o ministério?
Herodes podia ser louco e paranoico, mas não era burro. Ele era
manhoso e falaz, com uma astúcia mortal e um fascínio que desarma. Sua sugestão
de que os magos o informassem para que ele prestasse homenagens ao bebê era uma
cortina de fumaça para encobrir suas intenções assassinas dirigidas ao novo
bebê. A referência à adoração (proskyneo nos vv. 2,8,11) diz respeito a uma
deidade ou ser humano de alta posição. Não podemos dizer com certeza o que os
magos pretendiam, embora seja provável que fosse o último. Herodes, é claro,
não pretendia nada. Mas dado o avanço da alça de mira de Mateus e sua
cristologia, ele considerou que a adoração divina é mais apropriada aqui, pois
Jesus deve ser adorado por judeus e gentios igualmente.
1.3. Os Magos Seguem a Estrela para o Novo Rei (2.9-12). A identidade dos magos (ou sábios) é
um mistério que durante séculos tem vexado exegetas e encantado clérigos.
Heródoto (século V a.C.) escreveu acerca de magos sacerdotais entre os medos,
que eram peritos em interpretar sonhos. O Livro de Daniel menciona magos junto
com mágicos, encantadores, adivinhos, feiticeiros, sábios e
astrólogos/astrônomos. Nesses dias, a linha entre magia e adivinhação, por um
lado, e ciência nascente, de outro, não era mantida com clareza. Não se pode
dizer com certeza o quanto de cientista e o quanto de mágico eles eram. É
bastante afirmar que Deus pode usar até antigas tradições e sabedorias pagãs
para fornecer uma testemunha cosmopolita do nascimento do Messias.
Na transição de poder dos medos para o império persa, os magos
continuaram com suas atividades, e relatórios de suas práticas aparecem durante
a era romana. A referência a “Oriente” levou muitos a considerar a Pérsia/Partia
como sendo o país de origem dos visitantes estrangeiros de Jesus. Nos dias de
Jesus eles podem ter sido os sacerdotes zoroástricos. As dádivas dos magos —
incenso, ouro e mirra — eram produtos associados com a Arábia. É possível que
eles sejam os judeus da Dispersão, que foram espalhados ao longo dos impérios
romano e parto. Há amplas evidências arqueológicas entre as ruínas das
sinagogas dessa era e nos escritos rabínicos que a comunidade judaica se
interessava por astrologia.
A identidade e origem dos magos fica mais obscurecida quando
notamos que a expressão “do Oriente [anatole, lit., “nascente, que sobe”]” pode
se referir ao nascimento da estrela que sempre ocorria no leste por causa da
rotação da terra, e é o padrão do trajeto planetário no céu. Considerando o destaque
dado à estrela, o forte destes magos é a astronomia primordial do dia.
Assim como a identidade dos sábios, a natureza exata do fenômeno
que veio a ser conhecido por “a estrela de Belém” permanece um mistério. Mateus
é atraído para a história da estrela e dos magos que a seguiram não somente
porque confirma a realeza de Jesus, mas também porque contrasta com muita
vividez a devoção dos não determinados estrangeiros com a injustiça da elite de
Israel. Ao longo dos anos os comentaristas procuram explicar a estrela como uma
parte natural do universo. Trata-se de esforço apropriado e louvável, pois Deus
usa meios comuns para expressar sua mensagem sobrenatural. Contudo, nenhuma
explanação astronômica comum (um cometa, uma supernova, o alinhamento dos planetas
que teria a aparência de um corpo celeste [uma conjunção de Júpiter e Saturno
ocorreu em 7 a.C.], um asteroide brincalhão) atesta inteiramente o conjunto da
evidência. Nem o cinismo de uma suposta cosmo visão “iluminada” que presume que
o relato é invencionice do evangelista, explica o fenômeno ou apreende a
totalidade do significado da mensagem de Mateus.
Se a referência a “Oriente” (anatole) é figurativa de
“nascimento”, então o texto não pode estar dizendo que os magos seguiram a
estrela até Jerusalém. “Antes, tendo visto o nascimento da estrela que eles
associam com o Rei dos judeus, eles vão à capital dos judeus em busca de mais
informação. Só no versículo 9 está claro que a estrela serviu como guia de
Jerusalém para Belém” (Brown, 1977, p. 174). É precisamente aqui que as
sugestões citadas acima são deficientes, já que os fenômenos astronômicos não
podem explicar como os magos foram conduzidos a Belém, oito quilômetros ao sul
de Jerusalém. Talvez o entendimento de Mateus sobre a natureza e movimento da
estrela seja mais dependente do sobrenatural do que do natural.
A questão mais importante e respondível é: Qual é o significado do
aparecimento da estrela no Evangelho de Mateus e no plano global de Deus na
história de salvação? O que mais importa é que atesta o papel de Jesus como
Rei. Assim como se dá com a genealogia terrena no contexto prévio do capítulo
1, a estrela fornece testemunho celestial da realeza de Jesus. O testemunho dos
magos não deixa lugar para especulação quanto ao seu significado: “Onde está
aquele que é nascido rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e
viemos a adorá-lo” (v. 2a).
Uma estrela já havia sido associada com o advento do Messias.
Números 24.17, parte da profecia que Balaão entregou quando os israelitas estavam
prestes a dar início à conquista da Terra Prometida, diz: “Uma estrela
procederá de Jacó, e um cetro subirá de Israel”. A maioria dos estudiosos
identifica esta profecia estelar com o rei Davi, pois os versículos seguintes,
com a referência à conquista das nações circunjacentes, foram distintamente
cumpridos nas suas campanhas militares. Os contemporâneos de Mateus entenderam
que a passagem é messiânica, fato demonstrado na obra pseudoepigráfica O
Testamento dos Doze Patriarcas, que associa uma figura messiânica levita e
sacerdotal “com sua estrela [...] [que] subirá no céu como rei” (Testemunho de
Levi 18.3). É interessante observar que tanto Balaão quanto os magos eram
estrangeiros, e ambos profetizaram sobre o Messias hebraico (veja Brown, 1977,
pp. 193-196, para mais comparações). Isto também contribui para o programa
geral de Mateus de apresentar Jesus, o Rei, não só dos judeus mas de todos os
povos.
Os três tesouros dos magos — incenso, ouro e mirra — eram dádivas
associadas com a realeza, e este era o entendimento e intento de Mateus (v.
11). A Igreja mais tarde associou o ouro com Jesus como Rei, o incenso com
Jesus como Sacerdote e a mirra como especiaria usada para embalsamento,
relacionado-a com a morte e sepultamento de Jesus. Antes de os magos partirem,
eles foram instruídos em sonho para não retornarem a Herodes, mas voltarem para
casa por uma rota diferente pela qual vieram (v. 12).
1.4. A Fuga para o Egito (2.13-15). Depois da partida dos magos, José
tem um sonho, entregue pelo “anjo do Senhor” (v. 13), advertindo-o a fugir para
o Egito. Na Bíblia os anjos aparecem às vezes como seres humanos (e.g., Jz
13.16); outras vezes como criaturas brilhantes e que inspiram medo, cuja
aparição e palavras os seres humanos mal podem suportar (e.g., Êx 3.2; Jz
13.6,19-21; 1 Cr 31.12; Dn 8.17). Não nos é informado que forma o anjo tomou no
sonho de José. As gramáticas grega e hebraica sugerem que a expressão “o Anjo
do Senhor” é tradução legítima. Às vezes no Antigo Testamento, o Anjo do Senhor
não pode ser distinguido do próprio Deus e deve ser considerado como o próprio
Senhor que aparece e fala (e.g., Gn 16.11-13; Jz 6.12-14). Se esta
interpretação é a intenção de Mateus, então José tem uma revelação especial
diretamente de Deus, uma experiência amedrontadora e magnífica, uma revelação
especial para um homem especial, a fim de realizar a tarefa especial e mais
urgente de salvar o menino Jesus.
A força do particípio do aoristo (egertheis, “levanta-te”) junto
com o aspecto aoristo do imperativo do verbo principal (paralabe, “toma”)
conota grande pressa e urgência. Em outras palavras: “Levanta-te da cama, sai
daqui agora, e começa a fuga para o Egito, pois Herodes está a ponto de iniciar
uma busca do menino Jesus”. Note que José pega Maria e Jesus de noite para
evitar que eles sejam descobertos pelos agentes do rei ou por outras
testemunhas.
Havia uma grande comunidade judaica no Egito, sobretudo na cidade
de Alexandria, mas onde a família santa ficou e se José encontrou ou não
trabalho não nos é dito. Há os que sugerem que os presentes preciosos que os
magos lhes deram os sustentaram no exílio. Lá, eles ficaram até a morte do rei
Herodes. O fato de Jesus e seus pais sofrerem o exílio com paciência numa terra
estrangeira deve promover a compaixão cristã pelos refugiados de perto e de
longe.
Mateus vê o retorno de José, Maria e Jesus do Egito como um
cumprimento geográfico de profecia e uma reencenação dos eventos históricos e
tipos teológicos já anteriormente ocorridos nos procedimentos de Deus para com
os hebreus (veja comentários sobre Mt 1.22,23). “Do Egito chamei o meu Filho” é
de Oséias 11.1, onde o profeta descreve a prometida volta do exílio na
Mesopotâmia nos termos da libertação da escravidão do Egito. Estes dois
acontecimentos são vistos como atos salvadores de Deus. Mateus considera a
viagem da família santa do Egito para a Terra Santa como um cumprimento até
maior do primeiro Êxodo, visto que o próprio Salvador está voltando à terra do
seu nascimento. Esta referência ao Êxodo pressagia o destaque que Mateus dá a
Jesus como o novo Moisés, ponto que ele desenvolverá mais quando apresentar o
ensino de Jesus.
1.5. A Matança dos Inocentes (2.16-18). Quando os magos não voltaram para
revelar a localização do rival ao trono, Herodes ficou enfurecido. Ele considerou
a desobediência deles como escárnio; a palavra traduzida por “iludido” é depois
usada em Mateus para descrever o escárnio suportado por Jesus na narrativa da
paixão (Mt 27.29,31,41). Levando-se em conta seu reinado de terror (veja
comentários sobre Mt 2.1,2), o assassinato de Herodes de todos os meninos de
dois anos para baixo não está fora de seu caráter. O cômputo das vítimas,
baseado na população provável, é de vinte a trinta crianças.
Há os que questionam a historicidade do acontecimento, visto que
parece estranho que o plano e trama de Herodes permitissem que os magos e Jesus
escapassem da rede de espionagem. Ademais, a demora de sua reação, às vezes
calculada em um ano ou mais, parece igualmente inverossímil. Mas não podemos
presumir que Herodes tenha mandado seguir os magos; mesmo que o fizesse, não há
como prever que sua organização de inteligência fosse infalível. Outrossim
Mateus acredita que a providência divina teve parte na fuga dos magos e de
Jesus. O período de tempo entre a chegada dos magos a Jerusalém e à corte de
Herodes e a partida deles de Belém pode ter sido pequeno. O limite de idade que
Herodes escolheu para matar os bebês foi provavelmente averiguado pela
determinação de quando a estrela apareceu a primeira vez. Os magos podem ter
levado muito tempo para decidir responder ao sinal celestial e eventualmente
percorrer o caminho à Terra Santa em busca do bebê nascido para ser rei. O
texto deixa a impressão que assim que os magos saíram, a família santa também
deixou Belém.
Mateus percebe mais uma vez o cumprimento de profecia na matança
dos inocentes, baseado na localização da tragédia: “Raquel chora seus filhos”
(Jr 31.15). Jeremias clamou que Raquel, que morreu na era dos patriarcas e foi
enterrada em Efrata (também chamada Belém, cf. Gn 35.19), choraria séculos
depois quando seus descendentes seriam forçados a marchar para o cativeiro na
Babilônia do ponto de organização próximo de Ramá. Efrata está a cerca de
dezessete quilômetros ao norte de Jerusalém e ao sul de Betel, na área de
Benjamim e perto de Ramá. Esta não deve ser confundida geograficamente com
Belém de Judá, que fica a oito quilômetros ao sul de Jerusalém. Mais tarde
alguns benjamitas do clã de Efrata migraram para a área de Belém de Judá; por
conseguinte as cidades estavam estreitamente associadas.
O entendimento que Mateus tem sobre a profecia de Jeremias é que
se Raquel chorou por sua morte na ocasião do exílio de Judá, que matou muitos
dos seus descendentes no século VI a.C., então ela chorou novamente quando as
vítimas infantis de Herodes foram sacrificadas no século I d.C. Mateus
demonstra mais uma vez que o cumprimento maior da profecia ocorre em eventos
associados com a vida de Jesus. Ele também se refere aos meninos assassinados a
fim de unir a vida de Jesus com a de Moisés, cujo papel Jesus completará como o
novo Legislador, pois Moisés também foi salvo da guerra de um déspota no caso
das crianças hebreias no antigo Egito (Êx 2.1-10).
1.6. A Volta do Egito para Nazaré (2.19-23). Pela terceira vez José recebe instruções
do anjo do Senhor num sonho. A família santa volta para sua pátria visto que
Herodes, o Grande, está morto e já não procura a vida da criança. Avisado em
outro sonho, José evita prudentemente estabelecer-se no território de Judá
regido pelo filho e sucessor de Herodes, Arquelau, e fixa residência em Nazaré,
na Galiléia, governada por Herodes Antipas, outro dos filhos de Herodes.
Arquelau foi inumano ao suprimir uma insurreição, matando mais de três mil dos
peregrinos que subiam para a Festa da Páscoa em Jerusalém. Ele se casou com a
esposa do seu meio-irmão, fato que não lhe granjeou a afeição dos seus súditos
mais piedosos. Seu reinado sofreu tamanho abalo que uma delegação de judeus e
samaritanos, inimigos jurados, dirigiu-se a Roma e foi bem-sucedida ao
solicitar que o governo fosse retirado das mãos dele. Ele foi exilado subsequentemente na província romana da Gália. Herodes Antipas demonstrou ser
um regente mais benigno na Galiléia.
Para Mateus a chegada da família santa a Nazaré cumpriu outra predição
feita “pelos profetas”: “Ele será chamado Nazareno”. Não está claro a qual obra
profética Mateus se refere. Talvez ele esteja citando uma obra que já não
existente e que não foi incluída nem no cânon judaico ou no cristão. Também foi
sugerido que Mateus esteja fazendo um jogo de palavras, unindo “Nazareno”
(nazoraios) a Isaías 11.1, onde o profeta diz que o Messias virá de um
“rebento” (netser) que “brotará [...] do tronco de Jessé”. Os termos nazoraios
e netser têm sons semelhantes, embora não sejam do mesmo radical semítico.
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