TEOLOGIA EM FOCO

quarta-feira, 6 de março de 2019

PODER DO ALTO CONTRA AS HOSTES DA MALDADE



TEXTO ÁUREO
“Eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lc 24.49)

VERDADE PRÁTICA
As obras das trevas são demolidas pelo poder de Deus no trabalho de pregação do Evangelho de Cristo.


LEITURA BÍBLICA

Atos 8.5-13,18-21 “E, descendo Filipe à cidade de Somaria, lhes pregava a Cristo.
6- E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia, 7- pois que os espíritos imundos saíam de muitos que os tinham, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos eram curados. 8- E havia grande alegria naquela cidade. 9- E estava ali um certo homem chamado Simão, que anteriormente exercera naquela cidade a arte mágica e tinha iludido a gente de Samaria, dizendo que era uma grande personagem; 10- ao qual todos atendiam, desde o mais pequeno até ao maior, dizendo: Esta é a grande virtude de Deus. 11- E atendiam-no a ele, porque já desde muito tempo os havia iludido com artes mágicas. 12- Mas, como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres. 13- E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou, de contínuo, com Filipe e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito. 18- E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro, 19- dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo. 20- Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. 21- Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus.

INTRODUÇÃO. A Bíblia não somente fala da realidade da batalha espiritual, bem como nos ensina sobre o que devemos fazer para prevalecermos na luta contra Satanás e os demônios – “fortalecer-se no Senhor e na força do Seu poder” (Ef 6.10). Nesta lição, falaremos sobre a necessidade do poder espiritual para a nossa caminhada cristã; destacaremos a importância de termos o Espírito em nós e sobre nós; veremos porque o poder de Deus é necessário; e, por fim, pontuaremos que uma vida cheia do Espírito Santo é uma condição vital para nos mantermos de pé espiritualmente.

I. A IMPORTÂNCIA DO PODER DE DEUS NA VIDA CRISTÃ

Após trazer diversas recomendações práticas aos cristãos de Éfeso, Paulo decidiu abrir os seus olhos quanto a realidade do mundo espiritual e da necessidade de estarmos capacitados para vencermos a batalha contra o mal. Para tal, o apóstolo conclama os irmãos a buscarem o poder do Senhor. Paulo diz: “fortalecei-vos” (Ef 6.10), expressão que no grego é “endunamoo”, que significa: “fortalecer”, “tornar-se forte” (CHAMPLIN, 2004, p. 641). Já a palavra “poder” no grego “dúnamis” significa: “força”, “energia”, “habilidade”, “poder”, mas que normalmente se refere a algum agente de poder ou força capaz de realizar um determinado trabalho. Nosso vocábulo “dinamite” se deriva desse termo grego; e isso ilustra a natureza da palavra (CHAMPLIN, 2004, p. 311). Vejamos o que a Bíblia nos sobre o poder de Deus:

1. A necessidade do poder. Como a nossa luta não é contra carne e sangue, mas, sim, “contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6.12); seres que são maiores que os homens (Sl 8.5; Hb 2.7); e, que são poderosos (At 26.18; 2ª Ts 2.9; 2ª Pd 2.11), necessitamos de um poder que não produzimos e que seja maior que o poder dos demônios. Portanto, fortalecer-se é tão necessário que Paulo afirma que é a condição para nos mantermos firmes “contra as astutas ciladas do diabo” (Ef 6.11).

2 A busca pelo poder. O crente por si mesmo e com suas próprias forças jamais poderá suportar uma guerra espiritual, inimigos espirituais são enfrentados com armas espirituais. O poder que necessitamos para vencer está em Deus. Por isso, Paulo diz: “Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder” (Ef 6.10). A Bíblia diz que Ele é aquele que tem todo o poder nos céus e na terra, pois é Todo Poderoso (Mt 28.28; Ap 1.8). Somente na epístola aos Efésios Paulo fala da “grandeza do seu poder” (Ef 1.19); da “superioridade do seu poder” (Ef 1.21); da “operação do seu poder” (Ef 3.7); que ele é “poderoso para fazer” (Ef 3.20); e, de que é a “fonte do poder” (Ef 6.10). É bom notar que o verbo “fortalecer” está no imperativo, denotando uma ordem, ou seja, cabe ao crente individualmente buscar fortalecer-se no Senhor (1ª Co 16.13; Tg 5.8). Paulo também exortou a Timóteo dizendo: “Fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus” (2ª Tm 2.1).

3 A concessão de poder. Jesus não deixou a igreja sem o poder necessário para vencer as batalhas espirituais. Ele nos concedeu o Espírito Santo por meio do qual temos condições de vencer: “Para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior” (Ef 3.16). Paulo falou do poder de Deus que está “sobre nós, os que cremos” (Ef 1.19); e, do “poder que em nós opera” (Ef 3.20); e, nas mais diversas situações que enfrentou, prevaleceu, porque Cristo o fortalecia (Fp 4.13; 2ª Tm 4.17). Jesus concedeu poder para expulsarmos os demônios (Mc 16.17; Lc 10.19); e, também fez a confirmou a promessa de revestimento de poder para os seus discípulos a fim de equipá-los espiritualmente (Lc 24.49; At 1.8).

II. A OPERAÇÃO DO PODER DE DEUS NO CRENTE

1. O poder em nós. Todo crente salvo tem o Espírito Santo (Rm 5.5; 8.9; 1Co 6.19; 1ª Ts 4.8; 2ª Tm 1.14). O recebemos no momento da conversão, ocasião que fomos selados, como prova de que somos propriedade particular de Deus (Ef 1.13,14; 4.30). A presença do Espírito Santo em nós confere-nos poder (Ef 3.16,20).

2 O poder sobre nós. No AT o Espírito Santo apareceu capacitando algumas pessoas para o serviço e até mesmo para as batalhas físicas contra os inimigos de Israel (Jz 6.34; 14.19). No NT, vemos uma atuação mais ampla e diferenciada. Além de habitar em todos os crentes, Jesus prometeu que o Espírito Santo viria para “revestir os crentes” (Lc 24.49; At 1.8). A palavra “revestir” dá a ideia de vestir sobre outra vestimenta. Este poder é tão necessário que Jesus orientou os discípulos que não se ausentassem de Jerusalém até serem revestidos (Lc 24.49; At 1.4). O batismo com o Espírito Santo é extremamente necessário para o crente em Jesus também nos dias atuais: “Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar” (At 2.38).

III. PARA QUE PRECISAMOS DE PODER

1. Para que o evangelismo prevaleça. O diabo se opõe frontalmente a sublime tarefa da evangelização dos povos que Jesus confiou a igreja (Mc 4.15; At 13.8-10; 1ª Ts 2.18). Ele cegou o entendimento dos incrédulos “[…] para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo” (2ª Co 4.4). Logo, para levarmos adiante a evangelização dos povos devemos estar revestidos de poder a fim de prevalecermos contra as trevas (Lc 24.49; At 1.8). Em Éfeso, havia doze discípulos que não eram batizados com o Espírito Santo, quando Paulo tomou ciência disto, orou por eles e logo foram revestidos de poder (At 19.1-7). Após este acontecimento, Paulo na unção do Espírito Santo (At 19.11,12), começou a pregar nesta cidade e o impacto do evangelismo foi tão grande que agitou a cidade, provocando muitas conversões até mesmo de feiticeiros (At 19.18); e, “assim a palavra do Senhor crescia poderosamente e prevalecia” (At 19.19). Por onde andava, Paulo sabia que o diabo erguia suas fortalezas na vida das pessoas a fim de que não fossem salvas, no entanto, ele sabia que Deus nos disponibilizou armas espirituais para destruição destas fortalezas (2ª Co 10.4).

2. Para que possamos prevalecer contra os demônios. O cristão jamais poderá prevalecer contra o poder de Satanás e dos demônios sem o poder de Deus. Sabedor disto, Jesus delegou aos apóstolos poder para expulsar os demônios: “E, chamando os seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem” (Mt 10.1). Veja também (Mc 10.1; Lc 9.1). Na ocasião em que o Mestre ordenou que outros setenta discípulos fossem expulsar os demônios, também lhes conferiu poder (Lc 10.19). Sobre a necessidade do poder para vencer os ataques demoníacos, Paulo exortou aos cristãos de Éfeso dizendo: “Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder (Ef 6.10,11). Sobre esta afirmação paulina, Beacon (2008, p. 194) diz que: “no conflito com os poderes demoníacos, os cristãos têm de utilizar, de forma imediata e contínua, o poder de Cristo para terem vitória”.

3. Para que possamos vencer a si mesmos. Além de ataques externos, cada crente também enfrenta ataques internos, na sua “natureza pecaminosa”, também chamada de “carne”, no grego “sarx”. Nas Sagradas Escrituras, o termo é usado tanto para descrever a natureza humana, como para qualificar o princípio que está sempre disposto a opor-se ao Espírito. Tal propensão para as práticas pecaminosas herdamos de Adão, que quando transgrediu afetou toda a raça humana (Gn 4.7; 8.21; Sl 51.5; Rm 7.18). É importante dizer que fomos salvos da condenação e do poder do pecado, mas não ainda da presença do pecado (Cl 3.5). No campo do nosso interior ainda se trava uma guerra, um conflito permanente entre a carne e o Espírito. Eles são opostos entre si. Paulo tratou da guerra interior que existe em cada cristão com as suas duas naturezas (Rm 7.22.23; Gl 5.17). Logo, o poder da carne só poderá ser detido pelo poder do Espírito (Rm 8.1-6; Gl 5.16,17). “O homem natural não tem poder para combater o pecado, porque o pecado reside no seu interior. Somente pela sua transformação através da obra regeneradora do Espírito Santo é que ele se torna ‘homem espiritual’. O espírito interior do homem se torna acessível ao Espírito Santo e recebe d’Ele o fortalecimento espiritual necessário (Rm 7.14,15; 1ª Co 2.14,15; Gl 5.17,26)” (CABRAL, 1999, p. 38).

IV. VIVENDO CHEIO DO PODER DE DEUS PARA VENCER AS HOSTES DA MALDADE

Enquanto estivermos no mundo não teremos trégua na luta contra Satanás e os demônios. Como a batalha é contínua nossa capacitação para vencer também deve ser contínua. Precisamos diariamente do poder do Espírito Santo para prevalecermos as hostes da maldade. Em Efésios 5.18 o apóstolo Paulo diz que devemos nos encher do Espírito Santo. Tal palavra nos mostra pelo menos quatro verdades práticas. Vejamos:

1. Ser cheio do Espírito Santo é uma ordem. Encher-se do Espírito é um mandamento: “[…] enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18). É a vontade de Deus que vivamos sob o poder do Espírito Santo. Portanto, não buscar a plenitude do Espírito é desobedecer a ordem divina.

2. Ser cheio do Espírito é uma necessidade de todos. A plenitude do Espírito é abrangente a todo crente. A plenitude do Espírito não é um privilégio para alguns, mas, uma possibilidade para todo aquele que foi regenerado. Este mandato foi dado a toda Igreja e não a indivíduos em particular: “E todos foram cheios do Espírito Santo” (At 2.4-a).

3. Ser cheio do Espírito é uma parceria. O ser cheio do Espírito Santo não depende exclusivamente de nós, pois não é obra humana, é uma operação divina no homem (At 19.1-6; Ef 3.19). No entanto, a vida de obediência e sujeição do crente é a condição para o recebimento da plenitude do Espírito (At 5.32).

4.4. Ser cheio do Espírito é um ato contínuo. Não descreve uma ação única, e sim contínua, porque a plenitude do Espírito é vivida constantemente, não é uma experiência para uma única vez, mas, precisa ser sempre renovada (At 2.4; 4.31; 13.52). Não devemos viver uma vida espiritual conformada e rotineira, e sim, anelar sempre por novas experiências concedidas pelo Espírito Santo (Rm 12.2; 1ª Ts 1.5).

CONCLUSÃO. Para prevalecermos no combate espiritual contra as trevas, precisamos buscar a Deus diariamente a fim de nos fortalecermos e assim prevalecermos contra as astutas ciladas do diabo.

FONTE DE PESQUISA

1. ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
2. CABRAL, Elienai. Comentário Bíblico: Efésios. CPAD.
3. CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
4. HOWARD, R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
5. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

CONHECENDO A ARMADURA DE DEUS



TEXTO ÁUREO
“Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes.” (Ef 6.13)

VERDADE PRÁTICA
A metáfora do sistema militar, usada por Paulo, mostra que estamos em guerra no mundo espiritual. Estejamos, pois, cingidos com a armadura espiritual!

LEITURA BÍBLICA
Efésios 6.13-20 “Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. 14- Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça, 15- e calçados os pés na preparação do evangelho da paz; 16- tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. 17- Tomai também o capacete da salvação e a espada do Espirito, que é a palavra de Deus, 18- orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espirito e vigiando nisso com toda perseverança e súplica por todos os santos 19- e por mim; para que me seja dada, no abrir da minha boca, a palavra com confiança, para fazer notório o mistério do evangelho, 20- pelo qual sou embaixador em cadeias; para que possa falar dele livremente, como me convém falar.

INTRODUÇÃO. A presente lição é a continuação da anterior. Lá vimos que existe uma batalha espiritual e invisível entre os crentes em Jesus e o reino das trevas. Aqui, vamos estudar como o apóstolo Paulo usou os instrumentos bélicos do sistema da época como metáfora. Essa ilustração é um recurso didático importante porque facilita a compreensão dos cristãos para o bom combate.

I. GUERRA
Segundo o Dicionário Teológico Beacon, guerra é “o recurso das nações para tratar de resolver diferenças pela força das armas. As guerras sempre são produtos da pecaminosidade humana, seja por instigação imediata ou causa indireta”. Mas a legitimidade da guerra pode depender de sua motivação.

1. Ao longo dos séculos.
Desde a batalha dos israelitas contra Ai, por volta de 1400 a.C. (Js 8.21-26), até Massada, em 73 d.C., a Bíblia registra cerca de 20 batalhas principais. Pessoas de todas as civilizações antigas - egípcia, assíria, babilônica, grega e romana - estavam acostumadas com a presença dos soldados no meio do povo. E a palavra profética anuncia guerras até o fim dos tempos (Dn 9.26).

2. Os antigos.
Os antigos encaravam a guerra como algo sagrado; esse era o contexto da época. Era usual oferecer sacrifícios antes da partida das tropas militares para a batalha a fim de invocar, das divindades, proteção e vitória (Jr 51.27). Essa prática era também generalizada em Israel (1º Sm 13.10-12; Sf 1.7). Deus permitia e, às vezes, até ordenava a guerra no período do Antigo Testamento (1º Sm 23.2-4).

3. Sentido metafórico.
O tema sobre a guerra não aparece no Novo Testamento. A guerra é, em si mesma, incompatível com o espírito cristão. Jesus nos ensinou:

“Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mt 5.9). A guerra aparece nas Escrituras no sentido figurado para ilustrar a luta contra a morte (Ec 8.8), da mesma forma que ilustra a maldade dos ímpios (Sl 55.21). Na presente lição, o enfoque é metafórico, representando a nossa luta espiritual contra os inimigos da nossa salvação (2ª Co 10.3; 1ª Tm 1.18).

II. A METÁFORA BÍBLICA
“Guerra”, “batalha”, “luta”, “combate”, “peleja” são termos do dia a dia para indicarmos, muitas vezes, um debate ou discussão e, também, para nos referirmos às dificuldades da vida. Mas a metáfora aqui se aplica na defesa e no combate espiritual, na pregação e no ensino da Palavra.

1. A armadura do soldado romano.
A sociedade contemporânea do apóstolo Paulo conhecia com abundância de detalhes toda a armadura do soldado romano. Efésios é uma das quatro epístolas da primeira prisão de Paulo, juntamente com Filipenses, Colossenses e Filemom (v.20; Ef 3.1; 4.1; Fp 1.13; Cl 4.3; Rm 9,10,13,23). Assim, o apóstolo escreveu aos efésios de sua prisão domiciliar em Roma, vigiada pela guarda pretoriana (At 28.16,30,31). Paulo convivia com esses soldados diariamente e conhecia com detalhes a armadura daqueles que o vigiavam.

2. A armadura de Deus (v.13).
Mesmo depois de tomar toda a armadura de Deus, o apóstolo nos exorta a ficarmos firmes. Depois da vitória, o soldado romano permanecia em pé e vitorioso. Paulo acrescenta: “tendo cingidos os vossos lombos com a verdade” (v, 14.a). Isso significa usar a verdade como cinturão (Is 11.5). Essas metáforas são apropriadas, pois usam as coisas da vida diária, conhecidas de todos, para esclarecer verdades espirituais.

3. A couraça da justiça (v.14).
É uma armadura defensiva em forma de um manto de ferro feito de couro, tiras de metal ou escamas de bronze (1º Sm 17.5). Sua função é proteger o pescoço, o peito, os ombros, o abdome e as costas. Dependendo da época e da civilização, a couraça chegava até a coxa. O apóstolo Paulo usa a couraça como metáfora para ilustrar a defesa espiritual como “couraça da justiça” (v.14), um abrigo contra as feridas morais e espirituais e uma proteção da justiça de Cristo imputada ao pecador; é a "couraça da fé” (1ª Ts 5.8).

III. OUTRAS ARMAS USADAS COMO ILUSTRAÇÃO

O apóstolo Paulo não foi exaustivo ao elencar os instrumentos bélicos de sua geração. Aqui vamos apresentar os demais elementos apresentados na sua lista.

1. Os calçados (v.15).
O termo hebraico naal, “sandália, sapato”, e o seu correspondente grego na Septuaginta e no Novo Testamento, hypodema, “sandália”, vem do verbo hypodeo, “atar debaixo”, e diz respeito ao calçado formado por uma sola de couro que se amarra ao pé com correias ou cintas. Era uma peça do vestuário usada pela população civil (Jo 1.27; At 7.33). No caso do soldado, porém, era necessário para segurança e prontidão na marcha (Is 5.27). Isso, na linguagem figurada, remete a agilidade e prontidão na obra da evangelização e na pregação do evangelho da paz.

2. O escudo da fé (v.16).
O escudo era o principal instrumento bélico de defesa na guerra. Trata-se de uma peça fabricada a partir de vários materiais e em formatos diversificados. Os israelitas tinham dois tipos: o primeiro, sinna, “proteção” em hebraico, uma peça que cobria o corpo inteiro de forma oval ou retangular, usada pela infantaria pesada (2º Cr 25.5); e, o segundo, magen, usado pelos arqueiros (2º Cr 17.17). O escudo é símbolo de proteção nas Escrituras. É usado de maneira figurada desde o Antigo Testamento para mostrar Deus como o protetor dos seus (Gn 15.1; Dt 33.9; 2º Sm 22.3); é comparado à salvação e à verdade de Deus (2º Sm 22.36; Sl 18.35; 91.4). O apóstolo Paulo usa a figura do escudo como proteção para “apagar todos os dardos inflamados do maligno” (v.16), tais como calúnia, malícia, concupiscência, ira, inveja e toda a sorte de desobediência. Esse escudo nos protege das setas malignas (Sl 91.5).

3. O capacete da salvação e a espada do Espírito (v.17).
O capacete era uma cobertura para a cabeça feita de metal e internamente acolchoada para o conforto do usuário e a proteção eficiente da cabeça. No Antigo Testamento, a salvação é o capacete que Deus usa na batalha (Is 59.17). Parece que Paulo segue nessa linha em outro lugar: “tendo por capacete a esperança da salvação” (1ª Ts 5.8). A espada literal é uma arma de ataque, mas no sentido figurado é um símbolo de guerra, julgamento divino e autoridade ou poder (Lv 26.25; Jr 12.12; Rm 13.4). A expressão paulina "espada do Espírito" refere-se à Bíblia, pois as Escrituras Sagradas vieram do Espírito Santo (2ª Pe 1.21). Por isso, Paulo completa dizendo, "que é a Palavra de Deus". Isso significa que a Bíblia é a Palavra de Deus, como ela própria se declara (Mc 7-13; Hb 4.12).

4. A outra lista (vv. 18,19).
Oração e súplica vêm permeadas entre esses elementos da armadura de Deus e permanecem juntas a essas armas espirituais, que sem a oração seriam inúteis. A oração deve ser em todo o tempo e com súplica no Espírito e vigilância (Mt 26.41; Fp 4.6; 1ª Ts 5.17). As virtudes gêmeas, vigilância e perseverança, aparecem na instrução para orarmos uns pelos outros. Quando um homem da estatura espiritual do apóstolo Paulo pede a oração da Igreja em seu favor e pelo seu ministério (v.20), isso mostra que não existe super-homem na igreja. Todos nós somos dependentes do Senhor Jesus e contamos com a oração uns dos outros.

SUBSÍDIO DE VIDA CRISTÃ
Deus quer trazer fé aos nossos olhos e aos nossos ouvidos, uma realização viva do que seja a Palavra de Deus, do que o Senhor Deus quer dizer e do que podemos esperar se crermos. Estou certo de que o Senhor deseja colocar diante de nós um fato vivo que, pela fé, deve pôr em ação um princípio que está dentro de nossos corações, a fim de que Cristo destrone todo o poder de Satanás.

É isso que eu penso. O Reino dos Céus está dentro de nós, dentro de cada crente. O Reino dos Céus é Cristo, é a Palavra de Deus.

O Reino dos Céus deve superar todas as demais coisas, até sua própria vida. Tem que ser manifestado de maneira tal que compreendas que mesmo a morte de Cristo traz à lume a vida de Cristo.
O Reino dos Céus é a vida de Jesus, é o poder do Altíssimo. O Reino dos Céus é puro, é santo. Não tem doenças, nem imperfeição" (WIGGLESWORTH, Smith. Devocional. Série: Clássicos do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, pp.72-73).

CONCLUSÃO. Os crentes precisam dessa armadura de Deus ainda hoje. Isso porque bem sabemos que os inimigos da Igreja não são agentes humanos. Estão por trás deles os demônios, liderados pelo seu maioral, o Diabo. Os recursos espirituais apresentados aqui são importantes e poderosos para expelir todas as forças do mal.

Lições Bíblicas do 1° trimestre de 2019 – CPAD

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

NOSSA LUTA NÃO É CONTRA CARNE E SANGUE


“Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas (2ª Co.10.4).

Efésios 6.10-12 “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. 11-Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; 12-porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.

INTRODUÇÃO. A Igreja de Jesus Cristo, desde o seu nascedouro no Pentecostes, tem lutado “contra os principados e potestades, contra os príncipes das trevas deste mundo, contra as hostes espirituais do mal, nos lugares celestiais”. Como diz o Rev. Hernandes Dias Lopes, “a vida cristã não é um parque de diversões nem uma colônia de férias. Não vivemos numa redoma de vidro nem numa estufa espiritual. Ao contrário, vivemos num campo minado pelo inimigo, uma arena de lutas renhidas, de combates sem trégua e sem acordo de paz. Nesta guerra, existem só duas categorias: aqueles que estão alistados no exército de Deus e aqueles que pertencem ao exército de Satanás”. Esta guerra perdurará até a derrota final do inimigo, quando o Senhor Jesus, o nosso glorioso general, esmagará Satanás debaixo de nossos pés (Rm.16.20). Uma coisa é certa, o nosso General, Jesus Cristo, está à frente desta batalha, e com suas mãos estendidas possibilita que os seus corajosos soldados prevaleçam sobre o inimigo. Antes da fundação da Igreja, Ele afirmou que as “portas do inferno” não prevaleceriam contra a Sua Igreja (Mt 16.18). A vitória é nossa pelo sangue de Jesus!

I. TENDÊNCIAS PERIGOSAS
Nestes últimos tempos, tem havido duas tendências perigosas, dois extremos, no âmbito da Igreja com relação à batalha espiritual, que devem ser, de pronto, afastadas por ser nocivas à vida da Igreja: subestimação do Inimigo e supervalorização do Inimigo.

1. Não devemos subestimar o inimigo. A subestimação absoluta do mundo espiritual, lamentavelmente, tem invadido os corações e mentes de muitos que cristãos dizem ser. Há muitas pessoas incautas que negam a existência do diabo, desconhecem seu poder, suas armas, seus agentes e suas estratégias. Acham que o diabo é apenas uma lenda, um mito ou uma energia negativa. Se o diabo existe, afirmam, nada pode ser atribuído a ele ou a seus anjos, e que tudo pode ser explicado cientificamente ou segundo critérios naturalísticos; ou, se ele existe, é impotente e não pode interferir no dia-a-dia dos seres humanos ou da natureza. Isto é uma falácia. Subscrever essa posição é cair nas teias desse ardiloso e vetusto inimigo. O diabo é mais perigoso em sua astúcia do que em sua ferocidade. Faz parte do seu jogo esconder sua identidade. Portanto, não subestime o arqui-inimigo de Deus e da Igreja de Jesus Cristo; ele é astuto e perigoso. “Sede sóbrios, vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1ª Pd.5.8).

2. Não devemos superestimar o inimigo. Há aqueles que falam mais do diabo do que de Deus. Falam tanto do poder, das armas e das estratégias dele que subestimam o poder de Deus. Fazem do diabo o protagonista de quase todas as ações. Uma dor de cabeça que a pessoa sente, facilmente resolvida por uma aspirina, atribui-se ao poder de Satanás. O pneu do carro que fura no trânsito diz que é artimanha do maligno. Aqueles que embarcam nessa vertente hermenêutica transferem para o diabo toda a responsabilidade pessoal. O homem já não é mais culpado nem precisa de arrependimento, é apenas uma vítima. Esse tipo de interpretação está em desacordo com as Escrituras Sagradas. Não podemos confundir a ação do diabo com as obras da carne. Certa feita, uma jovem senhora pediu oração em favor de seu pai porque, segundo ela, estava dominado pelo espírito do adultério. O pastor, sabiamente, disse a ela que o adultério é obra da carne e não um espírito demoníaco. Seu pai precisava de arrependimento; ele não era uma vítima, mas o responsável por seu ato.

Esta segunda linha de pensamento foi a que forjou a expressão “batalha espiritual”, fazendo surgir a chamada “teologia da batalha espiritual”, cujo principal formulador foi o teólogo norte-americano Charles Peter Wagner (1930-2016), ensinos que trouxeram preocupantes distorções no entendimento da questão.

3. O ponto de equilíbrio. Ante estas duas tendências, acima citadas, que têm se ampliado no espectro das denominações cristãs na atualidade, qual o ponto de equilíbrio quando o assunto é batalha espiritual? Devemos tomar cuidado para não levar o povo ao ceticismo e ao mesmo tempo conscientizá-lo da realidade da batalha espiritual conforme a Bíblia. A Igreja deve estar vigilante e atenta a todas as artimanhas do adversário de nossa alma, que anda ao derredor buscando a quem possa tragar (1ª Pd 5.8). Quando não vigiamos, quando não estamos alerta, o inimigo facilmente se introduz na nossa vida e, o que é mais grave, acaba tendo acesso ao nosso coração, como ocorreu com Judas Iscariotes (Jo 13.2). Conscientizemo-nos de que estamos numa guerra espiritual. Satanás mantém todos os sistemas em servidão a ele mesmo, e não desiste com facilidade desse seu domínio. Na realidade, ele resistirá a nós diante de cada passo que dermos ao longo de nossa jornada rumo às célicas moradas

II. O INIMIGO CONTRA QUEM LUTAMOS
Precisamos conhecer o inimigo contra quem ou contra que lutamos. Não podemos lutar contra algo desconhecido. É um grande perigo alguém detonar suas armas sem ter o alvo certo. Muitas vezes, o povo de Deus sofre terrivelmente por não entender contra quem está lutando. Seria uma tragédia um soldado sair para a batalha de armas em punho e muita disposição para a luta, mas sem saber contra quem deve lutar.

1. Nossa luta não é contra carne e sangue. Paulo deixa claro contra quem não é a nossa luta. Nossa luta não é contra carne e sangue, ou seja, não é contra pessoas. Nossa luta não é física, mas espiritual. Essa guerra não é contra filósofos ateus, sacerdotes mentirosos, praticantes de cultos que negam a Cristo ou governantes desleais. A batalha é contra forças demoníacas, contra batalhões de anjos caídos, contra espíritos maus que tem imenso poder. Embora não possamos vê-los, estamos cercados constantemente por seres espirituais malignos. Mesmo sendo verdade que não podem habitar num crente verdadeiro, eles podem oprimi-lo e molestá-lo. Contudo, o crente não deve se preocupar continuamente com o demonismo, tampouco deve viver com medo de demônios. Na armadura de Deus ele tem tudo o que é necessário para suportar os seus ataques.

2. Descrição do inimigo. O apóstolo Paulo descreve nosso arqui-inimigo de forma clara:
“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo; porque não temos que lutar contra carne e sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes” (Ef 6.11-13).

O apóstolo Paulo chama os anjos caídos de “principados, potestades, príncipes das trevas deste século, hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”. Não temos conhecimento suficiente para distinguir entre esses termos. Talvez se refiram a líderes de espíritos, com graus diferentes de autoridade, que equivaleriam no âmbito humano aos nossos presidentes, governadores, prefeitos, deputados, vereadores, etc.

Efésios 6.11,12 diz que o diabo, mesmo não sendo onipresente, onisciente e onipotente, tem seus agentes espalhados por toda parte, e esses seres caídos estão a seu serviço para guerrear contra o povo de Deus.

Chamamos a atenção para algumas verdades:

2.1.    O reino das trevas possui uma organização. O diabo não é tão tolo a ponto de não ser organizado. É o que podemos chamar de “a ordem da desordem”.

2.2. Existe uma estratificação de poder no reino das trevas. Paulo fala de principados, potestades, príncipes deste mundo de trevas e exércitos espirituais do mal. Existe uma cadeia de comando. Existem cabeças e subalternos. Líderes e liderados. Quem manda e quem obedece.

2.3. O reino das trevas articula-se contra a Igreja. O diabo e seus demônios rodeiam a terra e passeiam por ela (Jó 1.7). Eles investigam nossa vida, buscando uma oportunidade para nos atacar (1ª Pd.5.8). Esse inimigo não dorme, não tira férias nem descansa. Esse inimigo tem um variado arsenal. Ele usa "ciladas", “dardos inflamados” (Ef 6.16). Para cada pessoa ele usa uma estratégia diferente. Ele ousa mudar os métodos.

É na área do relacionamento que Satanás tem mais direcionado os seus dardos inflamados. Há muitos cristãos que estão entrando na batalha e ferindo os próprios irmãos, o chamado fogo amigo; estão atingindo com seus torpedos os próprios aliados, em vez de bombardear o arraial do inimigo. Isto tem ocorrido ao logo da história da Igreja. Veja, por exemplo, a igreja de Cristo em Corinto; havia nela notórios conflitos. Essa igreja era um amontoado de gente, mas não uma família unida. Eles não agiam como um corpo, em que cada membro se inter-relaciona e coopera com o outro. Ao contrário, estavam devorando uns aos outros pelas contendas e intrigas. Paulo, então, ciente disso, não podia, como pastor, deixar de tratar esses pecados que haviam comprometido a qualidade espiritual daquele rebanho. Paulo, então, toma atitudes disciplinares severas, a fim de corrigir o relacionamento entre os irmãos daquela igreja. Disse o apóstolo: “Temo, pois, que, indo ter convosco, não vos encontre na forma em que vos quero, e que também vós me acheis diferente do que esperáveis, e que haja entre vós contendas, invejas, iras, porfias, detrações, intrigas, orgulho e tumultos”.

3. Características do inimigo. Vejamos algumas características desse terrível inimigo:
3.1. É um inimigo invisível (Ef 6.11,12). O diabo e seus agentes são seres reais, porém, invisíveis. Esse inimigo espreita-nos 24 horas por dia. Ele é como um leão que ruge ao nosso derredor. Ele escuta cada palavra que você fala, vê cada atitude que você toma e acompanha cada ato que você pratica escondido. Ele é um inimigo espiritual. Você não pode guerrear contra ele com armas carnais. Ele não pode ser destruído com bombas atômicas. Ele age de forma inesperada.

3.2.  É um inimigo maligno (Ef 6.11,12). A Bíblia o chama de diabo, Satanás, assassino, ladrão, mentiroso, destruidor, tentador, maligno, serpente, dragão, Abadom e Apoliom. Seu intento é roubar, matar e destruir. Ele sabe que já está sentenciado à perdição eterna e quer levar consigo homens e mulheres.

3.3. É um inimigo astuto (Ef 6.11). Ele usa ciladas, armadilhas e ardis. Ele age dissimuladamente como uma serpente. Ele disfarça-se. Ele transfigura-se em anjo de luz. Seus ministros parecem ser ministros de justiça. Ele usa voz mansa. Ele usa diversas máscaras. Ele tenta enganar as pessoas levando-as a duvidar da Palavra de Deus, exaltando o homem ao apogeu da glória. Ele também age assustadoramente como um leão, ele ruge para assustar.

Paulo fala que precisamos tomar toda a armadura de Deus para poder resistir no dia mau (Ef 6.13). O “dia mau” é o dia de duras provas, os momentos mais críticos da vida, quando o diabo e seus subordinados sinistros nos assaltam com grande veemência. O “dia mau”  refere-se àqueles dias críticos de tentação ou de constante assalto satânico que todos os filhos de Deus conhecem; nesses dias, somos subitamente assaltados, sem nenhum aviso, sem nenhum sinal de tempestade.

O Diabo e seus asseclas ameaçam e intimidam as pessoas com o propósito de destruí-las. Eles atacam com fúria no dia mau. Eles também agem com diversidade de métodos. Eles estudam cada pessoa para saber o lado certo e o momento certo para atacá-la. Sanção, Davi, Pedro foram derrubados porque o diabo variou seus métodos. Precisamos, pois, estar atentos para identificar as ciladas do inimigo, do contrário sofreremos sérios danos. William Hendriksen, escrevendo sobre essas ciladas do diabo, afirmou: “Alguns destes manhosos ardis e malignos estratagemas são: confundir a mentira com a verdade de forma a parecer plausíveis (Gn 3.4,5,22); citar erroneamente as Escrituras (Mt 4.6); disfarçar-se em anjo de luz (2ª Co.11.4) e induzir seus “ministros” a fazerem o mesmo, aparentando ser apóstolos de Cristo (2ª Co 11.13); arremedar a Deus (2ª Ts 2.1-4,9); reforçar a crença humana de que ele não existe (At 20.22); entrar em lugar onde não se esperava que entrasse (Mt 24.15; 2ª Ts 2.4); e, acima de tudo, prometer ao homem que por meio das más ações pode-se chegar a obter o bem” (Lc 4.6,7).

3.4. É um inimigo persistente (Ef 6.13). O diabo e suas hostes não ensarilham suas armas. Ao ser derrotados, eles voltam com novas estratégias. Foi assim com Jesus no deserto, onde foi tentado (Lc 4.13). Elias fugiu depois de uma grande vitória. Sansão foi subjugado pelos filisteus depois de vencê-los. Davi venceu exércitos, mas caiu na teia da luxúria. Pedro caiu na armadilha da autoconfiança. O inimigo não dorme, conscientizemo-nos disto!

3.5. É um inimigo numeroso (Ef 6.12). Paulo fala de principados, poderios, príncipes deste mundo de trevas e exércitos espirituais do mal. O diabo e seus anjos estão tentando, roubando e matando pessoas em todo o mundo. Eles são numerosos. Não podemos vencer esses terríveis exércitos do mal sozinhos nem com nossas próprias armas.

3.6. É um inimigo oportunista (Ef 6.11,14). Mesmo depois que o vencemos, precisamos continuar firmes (Ef 6.11,14), porque ele sempre procura um novo jeito de atacar. Quando o crente deixa de usar toda a armadura de Deus, o inimigo encontra uma brecha, entra e faz um estrago (Ef 4.26,27). Não podemos ter vitória nessa guerra se não usarmos todas as peças da armadura de Deus. Não podemos permitir que o inimigo nos encontre indefesos. O diabo e suas hostes buscam uma estratégia para nos atacar de súbito, sem nenhum aviso, sem nenhum sinal de tempestade. Alistamos a seguir algumas dessas interferências do diabo na vida do povo de Deus:
a) Ele furta a Palavra do coração (Lc 812).
b) Ele semeia o joio no meio do trigo (Mt 13.24-30).
c) Ele opõe-se ao pregador (Zc 3.1-5).
d) Ele intercepta a resposta às orações dos santos (Dn 10).
e) Ele oprime pessoas com enfermidades (Lc 13.10-17).
f) Ele resiste à obra missionária (1ª Ts 2.18).
g) Ele atormenta as pessoas em cujo coração não há espaço para o perdão (Mt 18.23-35).
h) Ele usa a arma da dissimulação (2ª Co 11.14,15).
i) Ele usa a arma da intimidação (1ª Pd 5.8).
j) Ele age na disseminação de falsos ensinos (1ª Tm 4.1).
k) Ele ataca a mente dos homens (2ª Co 4.4).

III. A DEPENDÊNCIA DE DEUS
A guerra espiritual não é uma ficção. O fato de o nosso inimigo ser invisível não quer dizer que é irreal. Os demônios existem de fato, mas não passam de um inconveniente diante do poder de Jesus Cristo; são entidades destituídas de poder quando estão na presença do Senhor Jesus (Mc 1.23-26; 3.11). No entanto, nós seres humanos não podemos desafiá-los com nossas próprias forças; para enfrentá-los e vencê-los não podemos usar armas convencionais; precisamos da ajuda divina; precisamos de armas espirituais poderosas em Deus para desbaratar o inimigo; precisamos estar na dependência de Deus.

“Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das Fortalezas” (2ª Co 10.4).

Com base no texto de Efésios 6:10-13, apresentamos cinco verdades a serem consideradas nesta batalha contra as hostes espirituais do mal (Adaptado do Livro Efésios – Igreja, a noiva gloriosa de Cristo. Hernandes Dias Lopes):

1. Precisamos do revestimento do poder de Deus (Ef 6.10) – “Finalmente, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder”. Não podemos entrar nesse campo de batalha fiados em nossa própria força. Precisamos ser revestidos com poder. Sem autoridade espiritual seremos humilhados nessa peleja. Não basta falar de poder, é preciso experimentá-lo.

A igreja contemporânea está parecida com os discípulos de Cristo no sopé do monte da transfiguração (Lc 9.40). Estamos sem poder porque perdemos muitas vezes o foco com discussões inócuas, enquanto deveríamos orar, jejuar, crer e fazer a obra de Deus na força do seu poder (Mc 9.14). Hoje, a igreja tem extensão, mas não tem profundidade; tem influência política, mas não tem autoridade moral; tem poder econômico, mas está vazia de poder espiritual. Estamos precisando de poder, de uma capacitação especial do Espírito de Deus. Não falamos de um desempenho diante dos homens; não falamos de um poder cosmético que tem brilho, mas não calor; que tem aparência, mas não substância. Precisamos de um batismo de fogo, e não de fogo estranho; precisamos de uma obra do Céu, e não dos embustes da Terra.

2. Precisamos do revestimento de toda a armadura de Deus (Ef 6.11,13) – “Revesti-vos de toda a armadura de Deus. [...]. Por isso, tomai toda a armadura de Deus”. Os crentes devem revestir-se de toda a armadura para poder ficar firmes contra todas as ciladas do diabo. Observe que é necessário que o crente seja completamente revestido com a armadura; uma ou duas peças não bastam. Nada menos que todo o equipamento que Deus fornece servirá para nos manter invulneráveis. O diabo tem muitas estratégias – desânimo, frustração, confusão, falhas morais, divisão e erros doutrinários; ele conhece o nosso ponto fraco e o ataca. Se não conseguir nos vencer de uma maneira, tentará de outra.

3. Precisamos de vigilância constante (Ef 6.11) - “Para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do Diabo”. Ficar firme contra as ciladas do diabo é ficar atento, de olhos abertos, vigiando a todo instante; é ficar de prontidão para o combate; é não dormir em meio à luta, como os discípulos de Jesus dormiram no Getsêmani. Vigiar é não brincar com o pecado, é fugir da tentação; é não ficar flertando com situações sedutoras. O diabo não usa as suas  “ciladas” contra o incrédulo, contra o não cristão, ele escala seus demônios mais terríveis para atacar os filhos de Deus.

4. Precisamos estar a postos e não ceder às pressões (Ef 6.13) – “Para que possais resistir no dia mau". Se não estivermos atentos, corremos o risco de ficar revoltados e amargurados com Deus ao nos depararmos com o dia mau. Por falta de discernimento espiritual, muitos ficam zangados com as pessoas, desanimados espiritualmente e até mesmo decepcionados com Deus.

5. precisamos continuar atentos mesmo depois de uma vitória consagradora (Ef 6.13) – “E, havendo feito tudo, permanecer firmes”. Nossa luta contra o diabo e suas hostes continuará até que ele seja lançado no lago de fogo. Enquanto vivermos aqui, teremos luta. Aqui não é lugar de descanso, mas de guerra. Viver é lutar. A vida é uma luta ativa, incessante e sem pausas. Nessa peleja, não existe o cessar-fogo; não existe trégua; não existem acordos de paz. Depois de uma vitória, não devemos arriar as armas, pois não há momento mais vulnerável na vida de um indivíduo do que depois de uma grande vitória. Elias fugiu de Acabe e Jezabel, e entrou numa forte depressão, depois de uma grande vitória contra os falsos profetas de Baal e de Asera (1ª Rs 18.19). O segredo da vitória é a vigilância constante. Pense nisso!

CONCLUSÃO. Como vimos, a nossa luta não é contra carne e sangue, ou seja, não é contra pessoas; a nossa luta é contra os principados e potestades, contra os príncipes das trevas deste mundo, contra as hostes espirituais da maldade nas regiões celestiais (Ef  6.11-18). Portanto, devemos nos conscientizar de que há, sim, um mundo espiritual regido por Satanás, mundo este que domina a humanidade e que é desafiado pela igreja; há, sim, uma luta direta entre a Igreja e as forças espirituais da maldade, uma luta espiritual, que se trava nos “lugares celestiais”; nesta luta, somente venceremos se estivermos revestidos da “armadura de Deus”, se estivermos em comunhão com o Senhor.

Por ser um inimigo muito forte, não podemos lutar nessa guerra com nossas próprias forças, no nosso próprio poder; dependemos plenamente de Deus. Orar e vigiar é o segredo da vitória. Moisés orou, e Josué brandiu a espada contra Amaleque; oração e ação caminham juntas (Êx 17.8-16). Mas, cuidado, o inimigo está à espreita esperando uma chance para atacar; por isso, devemos orar e vigiar. Devemos fazer como Neemias – “nós, porém, oramos ao nosso Deus; e colocamos guardas para proteger-nos de dia e de noite” (Ne 4.9). Orar e vigiar é o segredo da vitória sobre o mundo (Mc 13.33), a carne (Mc 14.38) e o diabo (Ef 6.18). Porque Pedro não orou no Getsêmani (Lc 22.45), ele foi derrotado facilmente pelo inimigo (Mc 14.29-31,67-72). A voz do Senhor ainda ecoa: “Por que estais dormindo? Levantai-vos, e orai para que não entreis em tentação” (Lc 22.46).

FONTE DE PESQUISA
1. Bíblia de Estudo Pentecostal.
2. Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.
3. Comentário Bíblico popular (Novo Testamento) - William Macdonald.
4. Revista Ensinador Cristão – nº 77. CPAD.
5. Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
6. Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.
7. Rev. Hernandes Dias Lopes. Como ser um vencedor na batalha espiritual.
8. Dr. Caramuru Afonso Francisco. Resistindo aos apelos do mundanismo. Portal EBD_2008.
9. Rev. Hernandes Dias Lopes. Efésios – Igreja, a noiva gloriosa de Cristo.
10. Disponível no Blog: Luciano de Paula Lourenço. http://luloure.blogspot.com

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

TENTAÇÃO - A BATALHA POR NOSSAS ESCOLHAS E ATITUDES



TEXTO ÁUREO
“Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo.” (1ª Jo 2.16)

VERDADE PRÁTICA
A tentação no sentido religioso é a atração ou sedução para praticar o mal tendo por recompensa prazeres ou lucros ilícitos.

LEITURA BÍBLICA
Mateus 4.1-11 “Então, foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. 2 E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; 3 E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães. 4 Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. 5 Então o diabo o transportou à Cidade Santa, e colocou-o sobre o pináculo do templo, 6 e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. 7 Disse-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus. 8 Novamente, o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles. 9 E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. 10 Então, disse-lhe Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só a ele servirás. 11 Então, o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos e o serviram.”

INTRODUÇÃO. Há certo paralelismo entre os quarenta anos da peregrinação de Israel no deserto e os quarenta dias e as quarenta noites em que o Senhor Jesus jejuou no lugar ermo. A diferença é que Israel não passou no teste, e Jesus foi o vitorioso sobre Satanás. Esses dois cenários têm a ver com nossas escolhas e atitudes na jornada de nossa vida espiritual.

I. A TENTAÇÃO
Os termos “tentação” e “tentar” na Bíblia aplicam-se tanto no campo secular como no campo religioso. Vamos analisar o assunto partindo dos significados e sentidos dessas palavras, levando em consideração o contexto das várias passagens bíblicas.

1. A provocação de Refidim.
O substantivo “tentação” significa literalmente “teste, provação, instigação”. Na contenda paradigmática de Refidim, no deserto, temos o significado dessa palavra: “E chamou o nome daquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Está o SENHOR no meio de nós, ou não?” (Êx 17.7). O vocábulo hebraico massá significa “tentação”, e meribá quer dizer “contenda”. Os israelitas estavam testando o próprio Deus. A Septuaginta traduz massá por peirasmós, "tentação", a mesma palavra usada no Novo Testamento grego. O enfoque do termo aqui é sobre a ideia de instigação ou sedução para o pecado (Mt 6.13; 26.41).

2. A experiência de Massá e Meribá.
Ninguém deve testar a Javé, o Deus de Israel, pois o nosso dever é obedecê-lo (Dt 6.16). O que aconteceu nessa contenda teve a reprovação divina, de modo que serviu como um paradigma daquilo que não se deve fazer (Sl 95.8,9). Testar Deus é questionar sua fidelidade no pacto e duvidar de sua autoridade (Sl 78.41,56). Entendemos que tentar o Criador reflete a nossa descrença nEle, e a Bíblia é contra essa prática (Is 7.12; At 15.10).

3. Como um teste.
Isso é muito comum no Antigo Testamento (1ª Rs 10.1). O exemplo clássico é a passagem do sacrifício de Isaque: E aconteceu, depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão (Gn 22.1). A finalidade disso é revelar ou desenvolver o nosso caráter (Êx 20.20; Jo 6.6). O hebraico aqui para “tentou” é nissá, que tem o sentido de testar, experimentar, usado para pesquisas científicas hoje em Israel. A Septuaginta traduziu por peirazo, de onde vem o substantivo peirasmós, que aparece no Novo Testamento com a mesma ideia de teste: “e puseste à prova os que dizem ser apóstolos e o não são” (Ap 2.2). O Novo Testamento emprega o termo também com ideia de tentativa (At 16.7; 24.6).

SÍNTESE DO TÓPICO I
A provocação de Refidim e a experiência de Massá e Meribá, embora esta fosse uma ofensa a Deus, mostram que a tentação é um período de teste em nossa vida. Por esta razão precisamos demonstrar os frutos de “moderação”, “mansidão” e “domínio próprio”.

II. A TENTAÇÃO DE JESUS
Levado ao deserto pelo Espírito Santo, Jesus foi tentado pelo Diabo. A tentação de Jesus no deserto é o primeiro acontecimento registrado de sua história depois do batismo por João Batista no rio Jordão. Era de se esperar que aquele que veio “para desfazer as obras do diabo” (1ª Jo 3.8) enfrentasse a reação de Satanás. O Inimigo de nossa alma decide lutar por sua causa. É que a chegada do Salvador alvoroçou todo o reino das trevas.

1. Levado ao deserto (v.1).
O deserto é um lugar onde os seres humanos percebem a grandeza de Deus e a fragilidade humana; é um lugar de profundo silêncio para meditação e oração, onde há vastidão de espaço para ouvir a voz de Deus. Foi no deserto que grandes homens de Deus foram preparados para o serviço sagrado, como Moisés (At 7.30-33) e Elias (1º Rs 19.4-10). O termo “deserto” nessa passagem não é suficiente para determinar o lugar exato em que Jesus suportou os quarenta dias de jejum e tentações. Mas há concordância entre muitos estudiosos de que se trata de uma parte despovoada da Judeia, onde João Batista iniciou o seu ministério. A tradição posterior indica o monte da Quarentena a oeste de Jerico, onde foi construída na encosta da montanha uma igreja no século VI.

2. Sobre o jejum de Jesus (v. 1).
Segundo a narrativa de Mateus, Jesus jejuou “quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome”. Só mais dois personagens bíblicos praticaram um jejum tão prolongado de quarenta dias, Moisés e Elias, mas isso aconteceu em situações específicas (Êx 34.28; Dt 9.9,11; 1º Rs 19.8). Isso mostra que esse tipo de jejum (quarenta dias e quarenta noites) não é doutrina da Igreja. Lucas afirma que Jesus, “naqueles dias, não comeu coisa alguma, e, terminados eles, teve fome” (Lc 4.2). O verbo grego, nesteuou, “jejuar”, significa literalmente “abster-se de alimento”.

3. Como a tentação aconteceu (v.3a).
Está claro que Satanás se apresentou a Jesus de forma visível, mas os detalhes são desconhecidos. Essa tentação foi literal, e isso se evidencia pelos detalhes da própria narrativa. Rejeitamos, pois, a ideia de uma tentação subjetiva, simbólica ou visionária. Com certeza, Jesus mesmo contou essa experiência aos seus discípulos.

SUBSÍDIO DOUTRINÁRIO
É importante termos uma ideia bem clara acerca da depravação total, pois a doutrina nos ajuda a compreender a luta interna no processo da tentação. Por isso, leia o seguinte texto, objetivando ter tal consciência: “A atual condição espiritual da humanidade, considerada à parte da graça de Deus, é adequadamente descrita como tenebrosa e desanimadora. Com certeza, Wesley, em sua doutrina do pecado original, emprega o que só pode ser descrito como 'superlativos negativos' para demonstrar o total abismo moral e espiritual em que a humanidade decaiu. Ele comenta: '0 homem, por natureza, é repleto de todo tipo de maldade? É vazio de todo bem? É totalmente caído? Sua alma está totalmente corrompida? Ou, para fazer o teste ao contrário, 'toda imaginação dos pensamentos de seu coração [é] só má continuamente’? Admita isso, e até aqui você é um cristão. Negue isso, e você ainda é um pagão” (COLLIN5, Kenneth. Teologia de John Wesley: 0 Amor Santo e a Forma da Graça. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.97).

III. A TRÍPLICE TENTAÇÃO
Mateus e Lucas registraram as três últimas investidas de Satanás contra Jesus, e elas foram o ápice dessas tentações. Na verdade, Jesus foi tentado em todos os quarenta dias: “quarenta dias foi tentado pelo diabo” (Lc 4.2). E continuou sendo tentado durante todo o tempo de seu ministério (Lc 22.28; Hb 4.15).

1. A primeira das três últimas tentações (v.3b).
O objetivo dessa investida diabólica era incitar Jesus a usar seus poderes em benefício próprio. A declaração pública do próprio Deus a respeito de Jesus, “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17), indica que isso era do conhecimento de Satanás. Mas, mesmo assim, ele desafiou Jesus quanto à sua identidade: “Se tu és o Filho de Deus, manda que estas pedras se tornem em pães”. À semelhança de Eva, esse pecado consistia em satisfazer o apetite físico com algo lhe fora proibido.

2. A segunda tentação (v.5).
Aqui, o objetivo de Satanás é induzir o Senhor Jesus a tentar o Pai e persuadi-lo a um ato de vaidade. A "Cidade Santa", para onde Jesus foi transportado, é Jerusalém (Ne 11.1; Is 52.1). Satanás incita Jesus a jogar-se do pináculo do templo abaixo usando o texto de Salmos 91.11,12. Essa passagem refere-se a alguém que confia em Deus e, por isso mesmo, ao próprio Senhor Jesus. Ter a proteção divina, conforme as promessas desse salmo, é muito diferente de tentar a Deus. A proposta de Satanás era para Jesus testar Deus, algo que as Escrituras proíbem (Êx 17.2-7).

3. A terceira tentação (v.8).
Esse último ataque consistia em induzir Jesus a se apoderar do domínio do mundo por meios ilícitos. Como disse um grande comentarista dos Evangelhos: "A concessão era pequena; a oferta, grande". Teria Satanás o controle do mundo a ponto de oferecê-lo a quem desejasse? Jesus não discutiu sobre essa reivindicação do Diabo. O Novo Testamento mostra que Satanás é “o deus deste século” (2ª Co 4.4); “o príncipe das potestades do ar” (Ef 2.2); “os príncipes das trevas deste século,... as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6.12) e “todo o mundo está no Maligno” (1ª Jo 5.19). Mas Satanás não tem nada para ninguém; tudo não passa de mera aparência e engano.

4. Respostas de Jesus.
O ataque diabólico foi nas áreas mais sensíveis do ser humano: “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1ª Jo 2.16). Mesmo com toda a sua habilidade maligna, foi grande e devastadora a derrota de Satanás (v.11). Ele foi vencido pelo poder da Palavra de Deus: “está escrito, está escrito e está escrito”. Jesus citou três passagens do Pentateuco (Dt 6.13,16; 8.3). Assim, o grande conquistador, o Senhor Jesus Cristo, pode simpatizar com os que são tentados, pois Ele mesmo foi tentado de maneira real. Podemos nos consolar porque temos um Protetor no céu que é capaz de se compadecer de nossas fraquezas (Hb 4.15).

SÍNTESE DO TÓPICO III
Três tentações de Jesus: transformar pedras em pães; jogar-se do pináculo do templo e ser amparado por um anjo e dominar o mundo se adorasse o Diabo.

SUBSÍDIO VIDA CRISTÃ
[...] A presença de Cristo conosco não é apenas como a de um companheiro externo, mas é uma força real e divina, revolucionando nossa natureza e tornando-nos como Ele é. De fato, o propósito final e último de Cristo é que o crente seja reproduzido segundo a sua própria semelhança, por dentro e por fora.

Paulo expressa a mesma coisa no primeiro capítulo de Colossenses, quando diz: 'Para, perante ele, vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis’ (Cl 1.22). Esta transformação deve ser uma transformação interior. É uma transformação de nossa vida, de nossa natureza segundo a natureza d’Ele, segundo a semelhança d’Ele.

Como é maravilhosa a paciência, como é maravilhoso o poder que toma posse da alma e realiza a vontade de Deus - uma transformação absoluta segundo a maravilhosa santidade do caráter de Jesus! Nosso coração fica desconcertado quando pensamos em tal natureza, quando contemplamos tal caráter. Este é o propósito de Deus para você e para mim” (LAKE, John G. Devocional. Série: Clássicos do Movimento Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2003, pp.31-32).

CONCLUSÃO. Diante dos fatos aqui expostos, aprendemos a não subestimar a força e os ardis de Satanás e seus demônios, pois ele ousou tentar o próprio Filho de Deus. Adão foi testado e não passou no teste (Gn 3.11,12). Da mesma forma, Israel foi reprovado logo no limiar de sua história como nação (Dt 9.12). Mas Jesus foi aprovado, glória a Deus! (At 2.22).

Lições Bíblicas. 1º Trimestre de 2019.