TEXTO
ÁUREO
“Porque tudo o que há no mundo, a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é
do Pai, mas do mundo.” (1ª Jo 2.16)
VERDADE
PRÁTICA
A tentação no sentido religioso é a
atração ou sedução para praticar o mal tendo por recompensa prazeres ou lucros
ilícitos.
LEITURA
BÍBLICA
Mateus
4.1-11
“Então, foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo
diabo. 2 E, tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome; 3
E, chegando-se a ele o tentador, disse: Se tu és o Filho de Deus, manda que
estas pedras se tornem em pães. 4 Ele, porém, respondendo, disse: Está escrito:
Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. 5
Então o diabo o transportou à Cidade Santa, e colocou-o sobre o pináculo do
templo, 6 e disse-lhe: Se tu és o Filho de Deus, lança-te daqui abaixo; porque
está escrito: Aos seus anjos dará ordens a teu respeito, e tomar-te-ão nas
mãos, para que nunca tropeces em alguma pedra. 7 Disse-lhe Jesus: Também está
escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus. 8 Novamente, o transportou o diabo a um
monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles. 9 E
disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. 10 Então, disse-lhe
Jesus: Vai-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás e só
a ele servirás. 11 Então, o diabo o deixou; e, eis que chegaram os anjos e o
serviram.”
INTRODUÇÃO. Há certo
paralelismo entre os quarenta anos da peregrinação de Israel no deserto e os
quarenta dias e as quarenta noites em que o Senhor Jesus jejuou no lugar ermo.
A diferença é que Israel não passou no teste, e Jesus foi o vitorioso sobre
Satanás. Esses dois cenários têm a ver com nossas escolhas e atitudes na
jornada de nossa vida espiritual.
I.
A TENTAÇÃO
Os termos “tentação” e “tentar” na
Bíblia aplicam-se tanto no campo secular como no campo religioso. Vamos
analisar o assunto partindo dos significados e sentidos dessas palavras,
levando em consideração o contexto das várias passagens bíblicas.
1.
A provocação de Refidim.
O substantivo “tentação” significa
literalmente “teste, provação, instigação”. Na contenda paradigmática de
Refidim, no deserto, temos o significado dessa palavra: “E chamou o nome
daquele lugar Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e
porque tentaram ao SENHOR, dizendo: Está o SENHOR no meio de nós, ou não?” (Êx
17.7). O vocábulo hebraico massá significa “tentação”, e meribá quer dizer
“contenda”. Os israelitas estavam testando o próprio Deus. A Septuaginta traduz
massá por peirasmós, "tentação", a mesma palavra usada no Novo
Testamento grego. O enfoque do termo aqui é sobre a ideia de instigação ou
sedução para o pecado (Mt 6.13; 26.41).
2.
A experiência de Massá e Meribá.
Ninguém deve testar a Javé, o Deus de
Israel, pois o nosso dever é obedecê-lo (Dt 6.16). O que aconteceu nessa
contenda teve a reprovação divina, de modo que serviu como um paradigma daquilo
que não se deve fazer (Sl 95.8,9). Testar Deus é questionar sua fidelidade no
pacto e duvidar de sua autoridade (Sl 78.41,56). Entendemos que tentar o
Criador reflete a nossa descrença nEle, e a Bíblia é contra essa prática (Is
7.12; At 15.10).
3.
Como um teste.
Isso é muito comum no Antigo Testamento
(1ª Rs 10.1). O exemplo clássico é a passagem do sacrifício de Isaque: “E
aconteceu, depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão” (Gn 22.1). A
finalidade disso é revelar ou desenvolver o nosso caráter (Êx 20.20; Jo 6.6). O
hebraico aqui para “tentou” é nissá,
que tem o sentido de testar, experimentar, usado para pesquisas científicas
hoje em Israel. A Septuaginta traduziu por
peirazo, de onde vem o substantivo peirasmós,
que aparece no Novo Testamento com a mesma ideia de teste: “e puseste à prova
os que dizem ser apóstolos e o não são” (Ap 2.2). O Novo Testamento emprega o
termo também com ideia de tentativa (At 16.7; 24.6).
SÍNTESE
DO TÓPICO I
A provocação de Refidim e a experiência
de Massá e Meribá, embora esta fosse uma ofensa a Deus, mostram que a tentação
é um período de teste em nossa vida. Por esta razão precisamos demonstrar os
frutos de “moderação”, “mansidão” e “domínio próprio”.
II.
A TENTAÇÃO DE JESUS
Levado ao deserto pelo Espírito Santo,
Jesus foi tentado pelo Diabo. A tentação de Jesus no deserto é o primeiro
acontecimento registrado de sua história depois do batismo por João Batista no
rio Jordão. Era de se esperar que aquele que veio “para desfazer as obras do
diabo” (1ª Jo 3.8) enfrentasse a reação de Satanás. O Inimigo de nossa alma
decide lutar por sua causa. É que a chegada do Salvador alvoroçou todo o reino
das trevas.
1.
Levado ao deserto (v.1).
O deserto é um lugar onde os seres
humanos percebem a grandeza de Deus e a fragilidade humana; é um lugar de
profundo silêncio para meditação e oração, onde há vastidão de espaço para
ouvir a voz de Deus. Foi no deserto que grandes homens de Deus foram preparados
para o serviço sagrado, como Moisés (At 7.30-33) e Elias (1º Rs 19.4-10). O
termo “deserto” nessa passagem não é suficiente para determinar o lugar exato
em que Jesus suportou os quarenta dias de jejum e tentações. Mas há
concordância entre muitos estudiosos de que se trata de uma parte despovoada da
Judeia, onde João Batista iniciou o seu ministério. A tradição posterior indica
o monte da Quarentena a oeste de Jerico, onde foi construída na encosta da
montanha uma igreja no século VI.
2.
Sobre o jejum de Jesus (v. 1).
Segundo a narrativa de Mateus, Jesus
jejuou “quarenta dias e quarenta noites, depois teve fome”. Só mais dois
personagens bíblicos praticaram um jejum tão prolongado de quarenta dias,
Moisés e Elias, mas isso aconteceu em situações específicas (Êx 34.28; Dt
9.9,11; 1º Rs 19.8). Isso mostra que esse tipo de jejum (quarenta dias e
quarenta noites) não é doutrina da Igreja. Lucas afirma que Jesus, “naqueles
dias, não comeu coisa alguma, e, terminados eles, teve fome” (Lc 4.2). O verbo
grego, nesteuou, “jejuar”, significa
literalmente “abster-se de alimento”.
3.
Como a tentação aconteceu (v.3a).
Está claro que Satanás se apresentou a
Jesus de forma visível, mas os detalhes são desconhecidos. Essa tentação foi literal,
e isso se evidencia pelos detalhes da própria narrativa. Rejeitamos, pois, a
ideia de uma tentação subjetiva, simbólica ou visionária. Com certeza, Jesus
mesmo contou essa experiência aos seus discípulos.
SUBSÍDIO
DOUTRINÁRIO
É importante termos uma ideia bem clara
acerca da depravação total, pois a doutrina nos ajuda a compreender a luta
interna no processo da tentação. Por isso, leia o seguinte texto, objetivando
ter tal consciência: “A atual condição espiritual da humanidade, considerada à
parte da graça de Deus, é adequadamente descrita como tenebrosa e desanimadora.
Com certeza, Wesley, em sua doutrina do pecado original, emprega o que só pode
ser descrito como 'superlativos negativos' para demonstrar o total abismo moral
e espiritual em que a humanidade decaiu. Ele comenta: '0 homem, por natureza, é
repleto de todo tipo de maldade? É vazio de todo bem? É totalmente caído? Sua
alma está totalmente corrompida? Ou, para fazer o teste ao contrário, 'toda
imaginação dos pensamentos de seu coração [é] só má continuamente’? Admita
isso, e até aqui você é um cristão. Negue isso, e você ainda é um pagão”
(COLLIN5, Kenneth. Teologia de John Wesley: 0 Amor Santo e a Forma da Graça.
Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.97).
III.
A TRÍPLICE TENTAÇÃO
Mateus e Lucas registraram as três
últimas investidas de Satanás contra Jesus, e elas foram o ápice dessas
tentações. Na verdade, Jesus foi tentado em todos os quarenta dias: “quarenta
dias foi tentado pelo diabo” (Lc 4.2). E continuou sendo tentado durante todo o
tempo de seu ministério (Lc 22.28; Hb 4.15).
1.
A primeira das três últimas tentações (v.3b).
O objetivo dessa investida diabólica era
incitar Jesus a usar seus poderes em benefício próprio. A declaração pública do
próprio Deus a respeito de Jesus, “Este é o meu Filho amado, em quem me
comprazo” (Mt 3.17), indica que isso era do conhecimento de Satanás. Mas, mesmo
assim, ele desafiou Jesus quanto à sua identidade: “Se tu és o Filho de Deus,
manda que estas pedras se tornem em pães”. À semelhança de Eva, esse pecado
consistia em satisfazer o apetite físico com algo lhe fora proibido.
2.
A segunda tentação (v.5).
Aqui, o objetivo de Satanás é induzir o
Senhor Jesus a tentar o Pai e persuadi-lo a um ato de vaidade. A "Cidade
Santa", para onde Jesus foi transportado, é Jerusalém (Ne 11.1; Is 52.1).
Satanás incita Jesus a jogar-se do pináculo do templo abaixo usando o texto de
Salmos 91.11,12. Essa passagem refere-se a alguém que confia em Deus e, por
isso mesmo, ao próprio Senhor Jesus. Ter a proteção divina, conforme as
promessas desse salmo, é muito diferente de tentar a Deus. A proposta de
Satanás era para Jesus testar Deus, algo que as Escrituras proíbem (Êx 17.2-7).
3.
A terceira tentação (v.8).
Esse último ataque consistia em induzir
Jesus a se apoderar do domínio do mundo por meios ilícitos. Como disse um
grande comentarista dos Evangelhos: "A concessão era pequena; a oferta,
grande". Teria Satanás o controle do mundo a ponto de oferecê-lo a quem
desejasse? Jesus não discutiu sobre essa reivindicação do Diabo. O Novo
Testamento mostra que Satanás é “o deus deste século” (2ª Co 4.4); “o príncipe
das potestades do ar” (Ef 2.2); “os príncipes das trevas deste século,... as
hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6.12) e “todo o
mundo está no Maligno” (1ª Jo 5.19). Mas Satanás não tem nada para ninguém;
tudo não passa de mera aparência e engano.
4.
Respostas de Jesus.
O ataque diabólico foi nas áreas mais
sensíveis do ser humano: “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos
e a soberba da vida” (1ª Jo 2.16). Mesmo com toda a sua habilidade maligna, foi
grande e devastadora a derrota de Satanás (v.11). Ele foi vencido pelo poder da
Palavra de Deus: “está escrito, está escrito e está escrito”. Jesus citou três
passagens do Pentateuco (Dt 6.13,16; 8.3). Assim, o grande conquistador, o
Senhor Jesus Cristo, pode simpatizar com os que são tentados, pois Ele mesmo
foi tentado de maneira real. Podemos nos consolar porque temos um Protetor no
céu que é capaz de se compadecer de nossas fraquezas (Hb 4.15).
SÍNTESE
DO TÓPICO III
Três tentações de Jesus: transformar
pedras em pães; jogar-se do pináculo do templo e ser amparado por um anjo e
dominar o mundo se adorasse o Diabo.
SUBSÍDIO
VIDA CRISTÃ
[...] A presença de Cristo conosco não é
apenas como a de um companheiro externo, mas é uma força real e divina,
revolucionando nossa natureza e tornando-nos como Ele é. De fato, o propósito
final e último de Cristo é que o crente seja reproduzido segundo a sua própria
semelhança, por dentro e por fora.
Paulo expressa a mesma coisa no primeiro
capítulo de Colossenses, quando diz: 'Para, perante ele, vos apresentar santos,
e irrepreensíveis, e inculpáveis’ (Cl 1.22). Esta transformação deve ser uma
transformação interior. É uma transformação de nossa vida, de nossa natureza
segundo a natureza d’Ele, segundo a semelhança d’Ele.
Como é maravilhosa a paciência, como é
maravilhoso o poder que toma posse da alma e realiza a vontade de Deus - uma
transformação absoluta segundo a maravilhosa santidade do caráter de Jesus!
Nosso coração fica desconcertado quando pensamos em tal natureza, quando
contemplamos tal caráter. Este é o propósito de Deus para você e para mim”
(LAKE, John G. Devocional. Série: Clássicos do Movimento Pentecostal. Rio de
Janeiro: CPAD, 2003, pp.31-32).
CONCLUSÃO. Diante dos
fatos aqui expostos, aprendemos a não subestimar a força e os ardis de Satanás
e seus demônios, pois ele ousou tentar o próprio Filho de Deus. Adão foi
testado e não passou no teste (Gn 3.11,12). Da mesma forma, Israel foi
reprovado logo no limiar de sua história como nação (Dt 9.12). Mas Jesus foi
aprovado, glória a Deus! (At 2.22).
Lições Bíblicas. 1º Trimestre de 2019.
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