Romanos 2.1-16 “Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo. 2- E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem. 3- E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? 4- Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? 5- Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus; 6- O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: 7 -A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; 8- Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade; 9- Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego; 10- Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego; 11- Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas. 12- Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados. 13- Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. 14- Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; 15- Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os; 16- No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho.”
INTRODUÇÃO
No capítulo 1 de Romanos, Paulo retratou uma imagem moral deplorável do mundo dos gentios; o mal, a idolatria, a perversão sexual e a devassidão de todo tipo. Porém, no capítulo 2 de Romanos, Paulo descreve o pecado dos que têm um conhecimento de Deus. Ele vai se dirigir aos judeus sem mencioná-los por nome, mas dizendo aos chamados moralistas que: “Vocês são tão culpados quanto eles!” No verso 3, ele esclarece que assim como os ímpios serão julgados, aqueles que conhecem a verdade, mas transgredem em algum aspecto não escaparão do juízo de Deus.
I. CONSIDERAÇÕES GERAIS
1. Os judeus. Os judeus se achavam superiores e com direito de julgar a todos por serem descendentes de Abraão e detentores da lei. Paulo relata dizendo que todos serão julgados de acordo com suas obras e que os judeus se tornaram iníquos porque viviam a Lei de Moisés externamente, mas não internamente. Eles entendiam que, porque eles eram o povo escolhido de Deus, escapariam de Sua ira, assim como pensam hoje. Vemos a imparcialidade do julgamento divino, quando coloca a todos sob a condenação do pecado, tanto judeus como gentios, para que aceitem a justiça de Deus pela fé em Cristo Jesus.”
2. Judeus em relação aos gentios.
Paulo evidencia a partir deste capítulo o modo de Deus lidar com a raça humana no seu todo. Ou seja: diante de Deus, tanto os judeus como os gentios são pecadores e permanecem sob o juízo divino. A necessidade do evangelho se dá pelo fato de todo o mundo ser culpado diante Criador.
3. Caráter universal da mensagem divina. Havia entre os pagãos
muitos moralistas.
A teologia paulina mostra que tanto religiosos e moralistas, precisam nascer de novo, necessitam de um encontro pessoal e transformador com Jesus (Jo 3.3).
II. O JUÍZO DE DEUS
1. A pecaminosidade dos judeus. 2.1 “Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo.”
Se julgas, a ti mesmo te condenas. Paulo mostra que os judeus eram indesculpáveis em julgar os gentios, porque estão julgando a maldade dos outros, mas também culpados de pecar. Agora Paulo desmascara aqueles que, embora concordassem com a sua exposição sobre a ira divina contra os gentios (1.18-32), presumem ter imunidade pessoal ao juízo de Deus, por não serem gentios. Portanto, conclui que eles são indesculpáveis, principalmente no dia em que Deus resolver julgá-los.
2. Juízo segundo a verdade. 2.2-4 “Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem. 3- E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? 4- Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência, e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?”
Deus é Deus de justiça e de
verdade. Ele julga com base na verdade, a condição real da pessoa. Ele julga,
como as coisas realmente são, não como elas aparecem ser; porém, um dia,
pessoalmente, vamos responder a Ele.
O versículo quatro depende do
versículo três. No versículo três Paulo questiona a atitude do homem que pensa
ser possível praticar as coisas reprováveis descritas anteriormente e escapar
ao juízo de Deus. O homem que julga os que praticam as coisas reprováveis, ou
pensa é possível escapar ao juízo de Deus, ou evidencia uma atitude mais grave
ainda: desprezar a benignidade de Deus.
Paulo apresenta, aqui, dois
grupos: os gregos e os judeus. Ambos mostram que Deus reprova as pessoas
manifestamente iníquas. O primeiro por se considerar “melhor” ao pertencer a
uma determinada raça, civilização, cultura ou educação considerada superior
(2.1-16). O segundo por se escudar em sua religião (2.17-29). Saiba-se, porém,
que o juízo de Deus independe de tudo isso, ele é “segundo a verdade” (v. 2). Isso
remete a uma citação de Jesus:
Mateus 7.1-5 “Não julgueis, para que não sejais julgados, 2- porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. 3- E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu olho? 4- Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? 5- Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e, então, cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão.”
Jesus explica que “julgar” é
bastante parecido com medir: Lucas 6.37,38,41,42 “Não julgueis, e não
sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e
soltar-vos-ão. 38- Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e
transbordando vos darão; porque com a mesma medida com que medirdes também vos
medirão de novo.
Na verdade, nossa cultura ainda faz essa comparação, retratando a justiça com uma balança nas mãos. Com paralelismo, Jesus diz a seus ouvintes para julgarem com uma balança justa, ao invés das injustiças que eles vivenciam regularmente. Para julgar com integridade e empatia, não com hipocrisia.
Não julgueis, e não sereis
julgados. Jesus tem em vista nesta passagem o julgamento que os escribas e
fariseus assumiram o direito de exercer em Israel, e que sua dureza e
arrogância tornou mais prejudicial do que útil. Jesus queria que Seus
seguidores evitassem um grande erro que era muito comum na vida religiosa
judaica de seu tempo; o hábito de julgar os outros com reprovação.
Temos o hábito de julgar e já
condenar os outros sem ao menos apurar os verdadeiros fatos, e, na maioria das
vezes, culpamos os outros por pequenas cosias ou picuinhas, com isso
estabelecemos o julgamento e o sentenciamos sem nos basear na verdade.
Jesus nos ensina hoje que se não julgarmos, ninguém vai nos julgar, muito menos a nossa consciência terá poder de nos julgar. Mas quando julgamos sem critério, receberemos uma “medida, recalcada, sacudida e transbordando vos darão; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo. Embora os falsos ministros usam esse versículo para extorquir os incautos na fé, na verdade Jesus está usando para o julgamento merecido daqueles que julgam os outros.
3. Juízo segundo a culpa acumulada. V. 5 “Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus.”
“...entesouras ira para ti...”. Como a água vai enchendo uma represa, as pessoas acumulam uma dívida de
ira à medida que o pecado está sendo praticado e rejeitam a graça de Deus. Um
dia a represa se romperá e a inundação da ira divina varrerá pessoas e
sociedades inteiras.
Gálatas 6.7 “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que
o homem semear, isso também ceifará. 8- Porque o que semeia na sua carne da
carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito do Espírito ceifará a
vida eterna.”
Paulo faz uma alegoria sobre lei da semeadura. Todos nós podemos escolher
o que semear. Pois quem semear na carne, isto é, quem vive conduzido pelas
paixões da carne colherá destruição e condenação eterna. Mas quem semear no
Espírito, uma vida de obediência ao Senhor Deus, colherá a vida eterna.
Os judeus achavam que, por conhecerem a misericórdia de Deus, não seriam julgados como os gentios. Não se deram conta de que a bondade de Deus era para levá-los ao arrependimento (v. 4). Eles falharam em não aproveitar a benignidade divina e, com isso, acumularam, como tesouro, a ira de Deus. “Dia da ira e da manifestação do juízo de Deus” apresenta seus indícios na atualidade, conforme estudamos na lição passada (Sl 7.11), mas a manifestação plena do juízo está reservada para o dia da ira (Tg 5.3).
4. Conforme as obras. Vs. 6,7 “O qual recompensará cada um segundo as suas obras,
7- a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, e honra, e incorrupção.”
Boas obras são obras de Deus;
é o fruto produzido devido à nossa união vital com a videira de Cristo. Se não
produzimos frutos de obediência, não temos nenhuma conexão vital com Cristo. É
verdade que não somos salvos pelas obras, mas pela fé somente; entretanto, a fé
salvadora sempre se ajustará em obediência a Deus. Paulo escreve: “Jesus Cristo
se entregou por nós a fim de nos remir de toda a maldade e purificar para si
mesmo um povo particularmente seu, dedicado à prática de boas obras” (Tito 2.14);
portanto, para um cristão, fazer boas obras é algo natural e que dá prazer.
As boas obras dão a evidência pública que servem como instrumento para Deus julgar (Pv 24.12). O juízo, segundo a obra de cada um, é um princípio divino baseado na justiça, e não podia ser diferente. É outra maneira da expressão da lei da semeadura (Gl 6.7).
5. O orgulho do judeu. Vs. 8-10 “Mas indignação e ira aos que são contenciosos e desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade; 9- tribulação e angústia sobre toda alma do homem que faz o mal, primeiramente do judeu e também do grego; 10- glória, porém, e honra e paz a qualquer que faz o bem, primeiramente ao judeu e também ao grego.”
A responsabilidade dos judeus
é maior do que a dos gentios por causa de seus pendores religiosos e das
bênçãos espirituais que Deus lhes conferiu (Rm 9.4,5). Como as bênçãos divinas
foram dirigidas primeiramente aos judeus, o julgamento há de vir na mesma
proporção (vs. 9,10).
Paulo expõe que não há qualquer diferença entre judeus e gentios. Tanto os judeus quanto os gentios praticam o mal diante de Deus caso sejam desobedientes à verdade do evangelho. Portanto, nenhum homem pode escapar do Juiz ou do julgamento divino. A natureza corrompida do homem, que pratica à iniquidade, impede que o homem faça o bem. Da mesma forma que o pecado escraviza judeus e gregos, também não há diferença entre judeu e grego quando se tornam escravos da justiça. Todos que aceitam a Cristo praticam o bem. Por terem adquirido um novo coração em Cristo tem um bom tesouro, e as suas ações são boas, pois são feitas estando em Deus.
III. OS GENTIOS
1. O Juiz. V. 11 “Porque, para com Deus, não há acepção de
pessoas.”
Ninguém deve pensar que o
juízo de Cristo seja manchado por acepção. Ele é um Juiz justo tanto para
judeus como para gentios, e independe de condições externas como posição
social, riqueza, nacionalidade, etc.
O instinto natural de
autodefesa do judeu (diferente do gentio) era apelar para o fato de possuir a
lei de Moisés. A implicação era que quanto a isso, Deus não faz “acepção de
pessoas” (vs. 11).
Seu juízo é segundo a verdade,
e independe de condições externas como posição social, riqueza, nacionalidade,
etc. Por isso, os judeus não devem esperar nenhum tratamento especial no dia do
juízo. O apóstolo não está enfatizando a culpa do judeu, mas defendendo a
equidade do juízo divino.
2. A obra de cada um. Vs. 12-14 “Porque todos os que sem lei pecaram sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram pela lei serão julgados. 13- Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. 14- Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei.”
Jesus disse: “Haverá menos
rigor para os de Sodoma, no Dia do Juízo, do que para ti” (Mt 11.24). Isso
mostra que há graus de castigo no juízo divino. Assim como há escalonamento no
galardão dos salvos (Ap 22.12), da mesma forma haverá também graus de punição
para os condenados.
Os judeus viam a lei mosaica
como essencial na diferença entre judeus e gentios. Paulo, no entanto, ensina
que a lei não salva ninguém, mas apenas revela o pecado, pois a pessoa não
atinge os requisitos exigidos pela Lei. Portanto, no juízo, a posse da lei
constituirá uma base de julgamento e condenação. Os judeus incrédulos serão
condenados pela própria lei, pois foram agraciados por Deus pela lei escrita. Porém
os gentios, serão julgados pela lei da consciência. Como não tiveram acesso à
lei, serão julgados pela luz de sua consciência.
E os cristãos como serão julgados? Não faz parte do texto, mas vou colocar aqui para o leitor compreender que todos sem exceção tem uma base de julgamento. Os cristãos em Jesus serão julgados pela de lei de Cristo. (Gl 6.2). A lei Mosaica resume em um só mandamento: é amar a Deus com todo o nosso ser e amar ao próximo como amamos a nós mesmos (Marcos 12.28-31; Dt 6.4-5). A lei de Cristo, portanto, é amar a Deus com todo o nosso ser e amar ao próximo como amamos a nós mesmos. Sobre esse assunto vou escrever em outro momento.
3. A lei da consciência. Vs. 15, 16 “Os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, 16- quer defendendo-os. no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho.”
Estes versículos sem dúvida estão relacionados ao verso 12, e os
versos intermediários são um parêntese, e implica que o mundo pagão, assim como
os judeus, será julgado na base na sua lei. Deus julgará todos em justiça, o
judeu pela lei que ele tinha e o pagão pela lei de sua consciência.
Eclesiastes 12.14 “Porque Deus há de trazer a juízo toda
obra e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau.”
Tudo que está encoberto, ou seja, as coisas secretas do coração:
os desejos, paixões e motivos ocultos das pessoas; os pensamentos do coração,
bem como as ações exteriores da vida. Será uma característica do dia do
julgamento, que tudo isso ele traz à tona e receba a devida recompensa. Os
motivos e princípios de um homem constituem seu caráter e, para julgá-lo
imparcialmente, devem ser conhecidos.
A lei é o guia para manter o ser humano no caminho certo de
Deus. Ela não é princípio de salvação, mas te guia no caminho que Deus requer
de você. Quando você recebe o Espírito de Deus, a Lei que antes estava escritas
em pedras (Êx 20), agora passa a ser inscrita em seu coração. Suas ações passam
a ser administradas por sua consciência pura que é exercida pelo Espírito de
Deus que age em nós.
Os gentios não possuem a lei como guia moral, mas possuem uma lei interna que instrui sua consciência. Todos os seres humanos a possuem naturalmente por terem sido criados à imagem de Deus (Gn 1.26). Portanto, se nos incrédulos é o testemunho capaz de convencer o homem natural entre o certo e o errado, quanto mais nos crentes! Temos a consciência iluminada pelo Espírito Santo e gravada pela graça! (Jr 31.33). Todo o conteúdo a partir do v. 6, é resumido no v.16. Jesus Cristo é o Juiz de todos os homens.
É a faculdade inata no ser humano capaz de discernir entre o bem e o mal. É a lei de Deus nos corações. homens (At 17.31; 2ª Co 5.10) e conhece o mais profundo do coração dos homens.
4. O orgulho dos Judeus. Vs. 17-29 “Eis que tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; 18- e sabes a sua vontade, e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei; 19- e confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, 20- instruidor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei; 21- tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? 22- Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, cometes sacrilégio? 23- Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? 24- Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós. 25- Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se tu guardares a lei; mas, se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão. 26- Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura, a incircuncisão não será reputada como circuncisão? 27- E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, não te julgará, porventura, a ti, que pela letra e circuncisão és transgressor da lei? 28- Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. 29- Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.”
O judeu tinha a lei e ouvia a lei mas não seguia a lei. Paulo
lida com este orgulho por simplesmente chamar atenção a ele. A fonte do
descanso e da confiança do judeu não estava na prática da lei, somente na posse
dela. Isto levou eles a se exaltar sobre outros (vs.19, 20). Salomão em seus
provérbios nos ensina a confiar no Senhor: “Confia no Senhor de todo o teu
coração e não te estribes no teu próprio entendimento. (Provérbios 3.5).
Todavia os Judeus confiavam em seu entendimento de interpretar a lei. Um homem
é sábio, porém, não meramente quando sabe algo, mas quando faz o que sabe.
Então e só então, se torna apto para liderar os outros.
Na verdade, muitos judeus tinham uma maior lealdade às tradições
feitas pelos homens do que pela lei. Eles substituíram as tradições pela lei
condenadas por Jesus (Mt 151-9.)
Mesmo tendo a lei especial que Deus lhes deu, se mostram desobedientes. Paulo descreve a autojustiça dos judeus. Ele listou vários pontos sobre as quais os judeus fundamentavam seu senso de superioridade moral acima dos gentios; por três vezes ele citou a lei come base:
1. Tem por sobrenome judeu (v. 17). Eles eram orgulhos de sua nacionalidade, felizes por serem judeus.
2. Repousa na lei (v. 17). O orgulho em ter e conhecer a lei que Deus revelou a Moisés no Monte Sinai (Êx 19-31).
3. Gloria-se em Deus (v. 17). Orgulha-se de Deus, mas não tinham amor.
4. Sabes a sua vontade, e aprovas as coisas excelentes (v. 18). Eles estavam aptos para tomarem decisões éticas corretas, e eles estavam prontos para ver as escolhas erradas que os outros tomavam. Seguindo a lei e suas regulações detalhadas dava a eles um senso de estarem agradando a Deus, particularmente quando se comparavam com os outros.
5. Aprova as coisas excelentes (v. 18; compare 2.3 e 1.32).
6. É instruído na lei (v. 18). Eles não só tinham a lei, mas dominavam ela. Eles podiam recitá-la, fazer referência cruzada, e ir fundo nos detalhes dela.
7. Confias que és guia dos cegos (v. 19). Eles sabem que eles podiam ver e os outros não podiam, então espalhavam o conhecimento da lei.
8. Luz aos que estão nas trevas (v. 19). Os Judeus os quais era a linhagem de Cristo, deviam ser a luz, porém pelo seu orgulho se tronaram treva (Gl 5.8).
9. Instrutor de ignorantes (v. 20). Os judeus receberam e até ensinaram os princípios da lei. O problema foi de não praticar o que pregavam (21). Será que cometemos o mesmo erro? Ensinamos os outros que devem respeitar a palavra de Deus, mas somos, de fato, obedientes?
10. Mestre de crianças (v. 20).
11. Tem a sabedoria e a verdade na lei (v. 20).
5. Há uma diferença crucial entre moralidade e moralismo. Vs. 21-29
5.1. A hipocrisia dos Judeus. Paulo mostrou a culpa dos judeus que pregavam que não se deve furtar, mas furtavam (21); condenavam o adultério, mas o praticavam (22); abominavam os ídolos, mas roubavam os templos deles (22) (veja a proibição em Deuteronômio 7.25-26, a citação em Josué 6.18 e a consequência da desobediência de Acã em Josué 7).
Paulo define a diferença entre o judeu carnal e o judeu
espiritual (25-29). Ele amplia o argumento de Jesus sobre a necessidade de agir
como o povo de Deus. Enquanto os judeus geralmente confiavam muito na sua
posição como descendentes de Abraão (João 8.33), a verdadeira descendência é
determinada pela atitude e a conduta espiritual (João 8.39-40,47).
“O moralismo é extremamente comum, e sempre tem sido. É a maior
religião no mundo hoje. É a religião das pessoas que se comparam com as outras,
que dizem que são muito mais decentes (santas) que as outras pessoas e concluem
se há um Deus, Ele certamente me aceita porque eu sou uma boa pessoa.” (TIM
KELLER, Romanas 1-7 For You, p. 55)
Algumas pessoas podem ser moralmente boas, mas não religiosas e outras são muito religiosas, mas nem tão morais, mas os judeus eram os dois.
5.2. Os judeus e a verdadeira circuncisão. Vs. 28-29 “Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. 29- Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.”
A circuncisão na carne era um
rito que tinha alto significado entre os judeus (Gn 17.10-12). A circuncisão
física era um sinal do Antigo Testamento, concernente a uma aliança firmada
entre Deus e o homem (Rm 4.11-12). A circuncisão é a marca de distinção do
judeu e teria valor somente acompanhada por obediência perfeita à lei (25).
Os judaizantes ensinavam que a salvação era um processo longo e contínuo, dependente da realização de rituais específicos, e cada um deles trazia a pessoa mais perto de Deus. Paulo contradiz esta teoria enfatizando que a salvação é completa em Cristo; uma vez que em Cristo, nada mais é necessário. Paulo ainda usa o exemplo da circuncisão para explicar este ato. Mostrando que ela simboliza a circuncisão mais importante, que é no coração.
5.2. A circuncisão no
coração. A teologia paulina vai dizer que o verdadeiro judeu não é aquele
que fez a circuncisão da carne, e sim aquele que fez a circuncisão do coração.
Note que a circuncisão
na Velha Aliança era no prepúcio do homem, ou seja, era na carne, mas, ficava
escondida – era um sinal entre Deus e o homem. Da mesma forma a circuncisão no
coração é um sinal entre o servo e o Seu Senhor. Ninguém pode ver por que é no
secreto do seu coração.
Os judeus pensavam que um circuncidado não podia ser
condenado ao inferno. A salvação para eles era no exterior e no cumprimento da
lei, porém Paulo diz que não a circuncisão é no oculto do coração, ou seja, na
mente do cristão. É algo divino é do Espírito e o crente.
A igreja de colossenses, Paulo
escreve dizendo: “No qual também estais circuncidados com a circuncisão não
feita por mão no despojo do corpo da carne: a circuncisão de Cristo.”
(Colossenses 2.11).
A circuncisão que Paulo fala não
se trata de circuncisão física, mas espiritual (vs 28-29). A circuncisão de
Cristo (v. 11) não deve ser uma referência à circuncisão de Jesus ao oitavo dia,
também não é um sinal corpóreo no crente, mas uma mudança de coração (Rm
2.28-29; Gl 6.15). Uma nova vida em Cristo, ou seja, o novo nascimento.
A perfeição concedida pela
circuncisão espiritual (cf. Dt 10.16; Jr 4.4.), que Cristo experimento e
fornece, vem através da Sua morte, sepultamento e ressurreição. O homem natural
só será circuncidado quando nascer de novo. Jesus disse a Nicodemos que “o que
é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” (João
3.6). Como nos diz o texto, ele é o que é por meio do Espírito de Deus, não
pela carne – sua natureza humana.
Qualquer rito, sinal ou obra
que fizemos se não for resultado da operação da graça de Deus em nossa vida,
não tem nenhuma validade.
O homem natural sem Jesus, é
carnal, terreno, portanto suas reações são carnais. Por ser terreno não tem
prazer nas coisas espirituais, pelo contrário ela se preocupa em satisfazer os desejos
da carne, por ser carnal vive envolvido e obcecado pelo seu mundo físico e não
pode ter olhos para as coisas espirituais.
Gálatas 5.16 “Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne.”
5.3. Mas, quem é nascido do Espírito é diferente. Gálatas 5.25 “Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.”
Os nascidos do Espírito passam
por uma renovação na mente, na maneira de pensar e de ver o mundo. O nascido do
Espírito tem capacidade de viver em Espírito e não se submeter às corrupções da
carne. O nascido do Espírito é espiritual porque tem sua origem no Espírito de
Deus, sua natureza é espiritual, ela ouve e entende a voz de Deus, sabe qual a
vontade de Deus e discerne o bem do mal. Nascer do Espírito é ser gerado pelo
Espírito de Deus: “…o que é nascido do Espírito, é espírito” (Jo 3.6) e os que
creem, recebem poder para serem feitos filhos de Deus! Ora, se o homem crê, já
recebeu da plenitude de Deus (Jo 1.16; Cl 2.7-8). Ele passa a ser participante
da natureza divina (2ª Pe 1.4).
Paulo afirma que o verdadeiro judeu – ou seja, aquele que afirma pertencer ao povo de Deus – o é interiormente. O mesmo vale para os cristãos.
CONCLUSÃO.
A circuncisão é um ato exterior e traz louvor dos homens
e não de Deus. Os judeus que se convertiam a Cristo estavam colocando como meio
de salvação a circuncisão e Paulo repreende severamente dizendo que a salvação
não é o exterior, mas a circuncisão no coração. Judeu verdadeiro é o que é no
interior, circuncisão válida é a que é feita no coração (Rm 2.25-29).
Pr. Elias Ribas
Assembleia de Deus
Blumenau - SC
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