Romanos 2.1-16 “Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo. 2- E bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem. 3- E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? 4- Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento? 5- Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus; 6- O qual recompensará cada um segundo as suas obras; a saber: 7 -A vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, honra e incorrupção; 8- Mas a indignação e a ira aos que são contenciosos, desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade; 9- Tribulação e angústia sobre toda a alma do homem que faz o mal; primeiramente do judeu e também do grego; 10- Glória, porém, e honra e paz a qualquer que pratica o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego; 11- Porque, para com Deus, não há acepção de pessoas. 12- Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados. 13- Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. 14- Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; 15- Os quais mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os; 16- No dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho.”
INTRODUÇÃO
No capítulo 1 de Romanos, Paulo relatou a imagem abominável do mundo dos gentios; o mal, a idolatria, a perversão sexual e a devassidão de todo tipo. Agora, no capítulo 2, Paulo descreve o pecado dos que têm um conhecimento de Deus. Ele vai se dirigir aos judeus sem mencioná-los por nome, mas dizendo aos chamados moralistas que: “Vocês são tão culpados quanto eles!” No verso 3, ele esclarece que assim como os ímpios serão julgados, aqueles que conhecem a verdade, mas desobedecem em algum aspecto não escaparão do juízo de Deus.
I. CONSIDERAÇÕES GERAIS
1. Os judeus. Os judeus por serem descendente de Abraão e detentores da Lei, se achavam superiores que os gentios. Neste capítulo Paulo afirma dizendo que todos serão julgados de acordo com suas obras e que os judeus se tornaram pecadores porque viviam a Lei de Moisés externamente, mas não internamente. Eles entendiam porque eram o povo escolhido de Deus, escapariam de Sua ira, assim como pensam hoje. Vemos a imparcialidade do julgamento divino, quando coloca a todos sob a condenação do pecado, tanto judeus como gentios, para que aceitem a justiça de Deus pela fé em Cristo Jesus.”
2. Judeus em relação aos gentios. A partir deste capítulo, o apóstolo esclarece o modo de Deus lidar com a raça humana. Paulo afirma que tanto os judeus como gentios são pecadores e permanecem sob o juízo divino. A necessidade do evangelho se dá pelo fato de todo o mundo ser culpado diante Criador. Paulo começa afirmando que os judeus que julgam os outros por seus pecados são culpados dos mesmos pecados
3. Caráter universal da mensagem divina. Havia entre os pagãos
muitos moralistas.
Paulo mostra que tanto religiosos e moralistas como os gentios, precisam nascer de novo, necessitam de um encontro pessoal e transformador com Jesus (Jo 3.3).
II. O JULGAMENTO JUSTO DE DEUS
1. A pecaminosidade dos judeus. 2.1 “Portanto, és inescusável quando julgas, ó homem, quem quer que sejas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a outro; pois tu, que julgas, fazes o mesmo.”
Se julgas, a ti mesmo te
condenas. Deus julga a todos por Sua reta justiça e o mundo todo será
julgado pelo padrão divino. O julgamento será: (1) de acordo com a verdade (v.
1-5); (2) de acordo com as obras (v. 6-11); e (3) e a partir do que cada uma
conhece (v. 11-16).
Paulo mostra que os judeus conhecem o certo e o errado, praticam o que é errado, todavia, condenam os gentios pelos mesmos erros que eles também cometem.
2. Juízo segundo a verdade. 2.2-4 “Bem sabemos que o juízo de Deus é segundo a verdade sobre os que tais coisas fazem. 3- E tu, ó homem, que julgas os que fazem tais coisas, cuidas que, fazendo-as tu, escaparás ao juízo de Deus? 4- Ou desprezas tu as riquezas da sua benignidade, e paciência, e longanimidade, ignorando que a benignidade de Deus te leva ao arrependimento?”
Deus é Deus de justiça e de
verdade. Ele julga com base na verdade, a condição real da pessoa. Ele julga,
como as coisas realmente são, não como elas aparecem ser; porém, um dia,
pessoalmente, vamos responder a Ele.
A palavra julgar no
original grego é krino, que significa juiz. É portanto, a mesma palavra
que Jesus usa em Mateus 7.1: “Não julgueis, para que não sejais julgados.”
No texto original, a forma
usada indica que os judeus precisavam parar de julgar segundo o seu próprio
padrão. É o sensor obcecado em julgar a vida de seu irmão, e esquecido dos seus
próprios erros. Quem julga já está condenando a si próprio. Além do mais, Paulo argumenta, agindo dessa forma nós nos expomos
ao juízo de Deus e acabamos ficando sem desculpa nem saída.
O homem não é aceito por
Deus por guardar a lei exteriormente, mas pela renovação interior e a
santificação, através do Espírito Santo.
Jesus explica que “julgar” é
bastante parecido com medir: Lucas 6.37,38,41,42 “Não julgueis, e não sereis
julgados; não condeneis, e não sereis condenados; soltai, e soltar-vos-ão. 38-
Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando vos
darão; porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo.
Na verdade, nossa cultura ainda faz essa comparação, retratando a justiça com uma balança nas mãos. Com paralelismo, Jesus diz a seus ouvintes para julgarem com uma balança justa, ao invés das injustiças que eles vivenciam regularmente. Para julgar com integridade e empatia, não com hipocrisia.
Não julgueis, e não sereis julgados. Jesus tem em vista nesta passagem o julgamento que os escribas e fariseus assumiram o direito de exercer em Israel, e que sua dureza e arrogância tornou mais prejudicial do que útil. Jesus queria que Seus seguidores evitassem um grande erro que era muito comum na vida religiosa judaica de seu tempo; o hábito de julgar os outros com reprovação.
3. Juízo segundo a culpa acumulada. V. 5 “Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da manifestação do juízo de Deus.”
“...entesouras ira para ti...”. O sentido do termo ira utilizado aqui é diferente da ira de Deus citada
em Romanos 1.18. A palavra ira no primeiro capítulo, se refere a cólera no
tempo presente, porém, aqui em Romanos 2.5, aponta para a ira futura de Deus,
onde muitos consideram ao Dia do Juízo. Sendo assim, as pessoas que continuam
em sua rebelião contra Deus estão acumulando a ira divina sobre sua própria
cabeça.
Gálatas 6.7 “Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que
o homem semear, isso também ceifará. 8- Porque o que semeia na sua carne da
carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito do Espírito ceifará a
vida eterna.”
Paulo faz uma alegoria sobre lei da semeadura. Todos nós podemos escolher
o que semear. Pois quem semear na carne, isto é, quem vive conduzido pelas
paixões da carne colherá destruição e condenação eterna. Mas quem semear no
Espírito, uma vida de obediência ao Senhor Deus, colherá a vida eterna.
Os judeus por serem detentores da lei de Moisés, achavam que não seriam julgados como os gentios. Mas possui a lei não salva. Ser ouvinte da lei não salva. Para serem justificados, teriam de obedecer à lei. Paulo ainda mostrará que nenhum judeu obedeceu a lei perfeitamente. Não se deram conta de que a bondade de Deus era para levá-los ao arrependimento (v. 4).
4. Conforme as obras. Vs. 6,7 “O qual recompensará cada um segundo as suas obras, 7- a saber: a vida eterna aos que, com perseverança em fazer bem, procuram glória, e honra, e incorrupção.”
Jesus Cristo é a videira e nós somos as varas, o fruto produzido são as
boas obras que o cristão deve praticar. Por que esse ramo não produzir frutos,
será cortado da videira e deixará de receber os nutrientes necessários para dar
frutos e seca, ou seja, morre e será lançado no fogo. (Jo 15.1-6).
É verdade que não somos salvos pelas obras, mas pela fé somente (Ef 2.8), entretanto, as obras são a evidência de que temos a fé salvadora. Tiago afirma que a fé sem obras é morta (Tg 2.17). Paulo escreve para Tito dizendo que Jesus Cristo “se deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda iniquidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras.” (Tt 2.14).
5. O orgulho do judeu. Vs. 8-10 “Mas indignação e ira aos que são
contenciosos e desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade; 9- tribulação
e angústia sobre toda alma do homem que faz o mal, primeiramente do judeu e
também do grego; 10- glória, porém, e honra e paz a qualquer que faz o bem,
primeiramente ao judeu e também ao grego.”
Os judeus tem a lei de Moisés em seus cultos religiosos e as promessas das bênçãos espirituais que Deus lhe concedeu (Rm 9.4,5), por isso a responsabilidade é maior diante dos gentios. Como as bênçãos divinas foram dirigidas primeiramente aos judeus, o julgamento há de vir na mesma proporção.
Paulo expõe que não há qualquer diferença entre judeus e gentios. Nenhum homem pode escapar do Juiz ou do julgamento divino. Tribulação e angústia estão reservados para todos os que pratica o mal diante de Deus caso sejam desobedientes à verdade do evangelho (Gl 2.5). Da mesma forma todos que aceitam a Cristo praticam o bem se tornam escravos da justiça. Por terem adquirido um novo coração em Cristo tem um bom tesouro, e as suas ações são boas, pois são feitas estando em Deus.
6. O Justo Juiz. V. 11 “Porque, para com Deus, não há
acepção de pessoas.”
Paulo nos ensina que o julgamento será justo (de acordo com o que fizemos, (vs. 6-8)). Ninguém deve pensar que o juízo de Cristo seja manchado por acepção. Ele é um Juiz justo tanto para judeus como para gentios, e independe de condições externas como posição social, riqueza, nacionalidade, etc. Deus lida com a condenação sem favoritismo e, da mesma forma, Ele lida com a salvação sem qualquer favoritismo. Por isso, os judeus não devem esperar nenhum tratamento especial no dia do juízo. O apóstolo não está enfatizando a culpa do judeu, mas defendendo a equidade do juízo divino.
7. A obra de cada um. Vs. 12-14 “Porque todos os que sem lei pecaram sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram pela lei serão julgados. 13- Porque os que ouvem a lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados. 14- Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei.”
Jesus disse: “Aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Veio a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. E aquele que ouve e não praticam as será comparado a um homem imprudente que construiu a sua casa sobre areia. Veio a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, porque estava edificada sobre areia.” (Mt 7.24-27). Aquele que ouvem e não praticam Jesus diz: “haverá menos rigor para os de Sodoma, no Dia do Juízo, do que para ti” (Mt 11.24), referindo ao povo de Cafarnaum. Isso mostra que há graus de castigo no juízo divino. Assim como há grau no galardão dos salvos (Ap 22.12), da mesma forma haverá também graus de punição para os condenados, ou seja, aqueles que conhecem, mas não obedecem. Os que ouvem a Lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a Lei hão de ser justificados.
8. A lei da consciência. Vs. 15, 16 “Os quais mostram a obra da lei escrita no seu coração, testificando juntamente a sua consciência e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os, 16 no dia em que Deus há de julgar os segredos dos homens, por Jesus Cristo, segundo o meu evangelho.”
O escritor aos hebreus, vai dizer que: “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo (Hb 9.27). Todos sem exceção, judeus e gentios, um dia irão passar por um julgamento. Deus julgará todos em justiça, os judeus do Velho Testamento serão julgados pela Lei Mosaica (v. 12), os crentes pela Lei de Cristo (1ª Co 9.21) e os gentios que pecaram sem lei, serão julgados pela lei da consciência.
Salomão vai dizer em Eclesiastes 12.14, “Porque Deus há de
trazer a juízo toda obra e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer
seja mau.”
Tudo que está encoberto, ou seja, as coisas secretas do coração:
os desejos, paixões e motivos ocultos das pessoas; os pensamentos do coração,
bem como as ações exteriores da vida. Será uma característica do dia do
julgamento, que tudo isso ele traz à tona e receba a devida recompensa. Os
motivos e princípios de um homem constituem seu caráter e, para julgá-lo
imparcialmente, devem ser conhecidos.
A Lei é o guia para manter o ser humano no caminho certo de Deus. Todos os seres humanos a possuem naturalmente uma lei por terem sido criados à imagem de Deus (Gn 1.26). A Lei de Moisés foi gravada em pedras (Êx 20), porém há também uma lei moral, semelhante a ela, escrita no interior de todos os seres humanos. Os gentios não possuem a Lei como guia moral, mas possuem uma lei interna que instrui sua consciência, ou seja, seriam julgados não pelo conhecimento da Lei, mas pela prática da lei, sem mesmo a conhecer. É a faculdade inata no ser humano capaz de discernir entre o bem e o mal. É a lei de Deus nos corações. homens (At 17.31; 2ª Co 5.10) e conhece o mais profundo do coração dos homens. Deus conhece todos os segredos e Jesus será o juiz final (Jo 5.22-30). Se nos incrédulos é o testemunho capaz de convencer o homem natural entre o certo e o errado, quanto mais nos crentes. Temos a consciência iluminada pelo Espírito Santo e gravada pela graça! (Jr 31.33).
9. O orgulho dos Judeus. Rm 2.17-20 “Eis que tu, que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus; 18- e sabes a sua vontade, e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei; 19- e confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas, 20- instruidor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei.”
Paulo descreve a autojustiça dos judeus. Ele listou vários pontos sobre as quais os judeus fundamentavam seu senso de superioridade moral acima dos gentios. Na verdade, muitos judeus tinham uma maior lealdade às tradições feitas pelos homens do que pela Lei. Eles substituíram as leis pelas tradições condenadas por Jesus (Mt 151-9).
9.1. Tem por sobrenome judeu (v. 17). Eles eram orgulhos de
sua nacionalidade, felizes por serem judeus.
9.2. Repousa na lei (v. 17). O orgulho em ter e conhecer a Lei
que Deus revelou a Moisés no Monte Sinai (Êx 19-31).
9.3. Gloria-se em Deus (v. 17). Orgulha-se de Deus, mas não
tinham amor.
9.4. Sabes a sua vontade, e aprovas as coisas excelentes (v.
18). Eles estavam aptos para tomarem decisões éticas corretas, e eles
estavam prontos para ver as escolhas erradas que os outros tomavam. Seguindo a
lei e suas regulações detalhadas dava a eles um senso de estarem agradando a
Deus, particularmente quando se comparavam com os outros.
9.5. É instruído na Lei (v. 18). Eles não só tinham a Lei,
mas dominavam ela. Eles podiam recitá-la, fazer referência cruzada, e ir fundo
nos detalhes dela.
9.6. Confias que és guia dos cegos (v. 19). Eles sabem que
eles podiam ver e os outros não podiam, então espalhavam o conhecimento da Lei.
9.7. Luz aos que estão nas trevas (v. 19). Os judeus os
quais era a linhagem de Cristo, deviam ser a luz, porém pelo seu orgulho se
tronaram treva (Gl 5.8).
9.8. Instruidor dos néscios (v. 20). Os judeus receberam e
até ensinaram os princípios da Lei. O problema foi de não praticar o que
pregavam (v. 21). Será que cometemos o mesmo erro? Ensinamos os outros que devem
respeitar a palavra de Deus, mas somos, de fato, obedientes?
9.9. Mestre de crianças... Tem a sabedoria e a verdade na Lei (v. 20). São mestre de leigos e trazem uma descrição daquilo que o mestre espiritual de ser: um instrutor que corrige.
10. Há uma diferença crucial entre moralidade e moralismo. Vs. 21-29 “Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas? 22 Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, cometes sacrilégio? 23 Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei? 24 Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós. 25 Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se tu guardares a lei; mas, se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão. 26 Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura, a incircuncisão não será reputada como circuncisão? 27 E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, não te julgará, porventura, a ti, que pela letra e circuncisão és transgressor da lei?”
10.1. A hipocrisia dos Judeus. Os judeus estavam
preparados para ensinar aos gentios os mandamentos da Lei, mas eles próprios
quebravam tais mandamentos. Eles tinham a Lei e ouviam a Lei, mas não seguiam a
Lei. Mesmo tendo a Lei especial que Deus lhes deu, se mostram desobedientes.
Paulo expõe a hipocrisia legalista dos judeus. Ele lista três
maneiras como a moral autoconfiante judaica não está praticando aquilo que
prega. Primeiro, rouba. Segundo, comente adultério. Terceiro, abomina a
idolatria, mas desrespeitam os preceitos religiosos.
Espera-se dos judeus refletir a Deus em suas vidas, por serem o povo escolhido, porém desobedecem, desonram e por isso “o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós.” (V. 24).
III. A CIRCUNSIÇÃO NO CORAÇÃO
1. Os judeus e a verdadeira
circuncisão. Rm 2.28-29 “Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é
circuncisão a que o é exteriormente na carne. 29 Mas é judeu o que o é no
interior, e circuncisão, a que é do coração, no espírito, não na letra, cujo
louvor não provém dos homens, mas de Deus.”
A circuncisão na carne era um
rito que tinha alto significado entre os judeus (Gn 17.10-12). A circuncisão
física era um sinal do Antigo Testamento, concernente a uma aliança firmada
entre Deus e o homem (Rm 4.11-12). A circuncisão é a marca de distinção do
judeu e teria valor somente acompanhada por obediência perfeita à lei (25).
Os judeus pensavam que eles eram circuncidados não podia ser condenado ao inferno. Mas Paulo responde que “se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão.” (V. 25b).
2. A circuncisão no
coração. A salvação para os judaizantes era no exterior e no cumprimento
dos ritos da religião e suas tradições, porém Paulo diz que não, a circuncisão
é no oculto do coração, ou seja, na mente do cristão.
Paulo vai dizer aos cristãos
de Roma, que o verdadeiro judeu não é aquele que fez a circuncisão da carne, e
sim aquele que fez a circuncisão do coração.
Observe que a circuncisão na
Velha Aliança era no prepúcio do homem, ou seja, era na carne, mas, ficava
escondida – era um sinal entre Deus e o homem. Da mesma forma a circuncisão no
coração é um sinal entre o servo e o Seu Senhor. Ninguém pode ver por que é no
secreto do seu coração.
A circuncisão no coração é
algo divino é do Espírito e o crente. Para os colossenses Paulo diz: “No qual
também estais circuncidados com a circuncisão não feita por mão no despojo do
corpo da carne: a circuncisão de Cristo.” (Cl 2.11).
A circuncisão que Paulo fala
não se trata de circuncisão física, mas espiritual (vs. 28-29). A circuncisão
de Cristo (v. 11) não deve ser uma referência à circuncisão de Jesus ao oitavo
dia, também não é um sinal corpóreo no crente, mas uma mudança de coração (Rm
2.28-29; Gl 6.15). Uma nova vida em Cristo, ou seja, o novo nascimento.
A perfeição concedida pela
circuncisão espiritual (cf. Dt 10.16; Jr 4.4.), que Cristo experimentou e
fornece, vem através da Sua morte, sepultamento e ressurreição. O homem natural
só será circuncidado quando nascer de novo. Jesus disse a Nicodemos que “o que
é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.” (Jo
3.6). Como nos diz o texto, ele é o que é por meio do Espírito de Deus, não
pela carne – sua natureza humana.
Qualquer rito, sinal ou obra que fizemos se não for resultado da operação da graça de Deus em nossa vida, não tem nenhuma validade.
3. No tempo da graça a
circuncisão não tem valor algum. 1ª Co 7.18-19 “Foi alguém chamado, estando
circunciso? Não desfaça a circuncisão. Foi alguém chamado, estando
incircunciso? Não se faça circuncidar. A circuncisão, em si, não é nada; a
incircuncisão também nada é, mas o que vale é guardar as ordenanças de Deus.”
O que seria importante para um cristão que deseja ter uma vida intima com Deus. Cumprir as regras humanas e secundárias? Não. A circuncisão nada é. O ato exterior não serve para santificar, pois é uma satisfação da carne. Mas guardar as ordenanças (ensinos e princípios) de Deus no coração, leva o homem ter uma comunhão intima com o Senhor.
4. A circuncisão exalta a
maneira e práticas religiosas. Gl 6.12-14 “Todos os que querem mostrar boa
aparência na carne, esses vos obrigam a circuncidar-vos, somente para não serem
perseguidos por causa da cruz de Cristo. 13 Porque nem ainda esses mesmos que
se circuncidam guardam a lei, mas querem que vos circuncideis, para se
gloriarem na vossa carne. 14 Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na
cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim
e eu, para o mundo.”
Paulo expressa que os judeus
se gloriavam na carne, com um sinal que era visível e não na “cruz de Cristo”
(6.13-14). A Cruz era completa, a Cruz enxergada pelos espirituais não era
fardo algum, os conduzia, pelo Espírito Santo, a produzir os seus nove sabores.
Paulo estava crucificado para o mundo (6.14) e não iria voltar a praticar tais
absurdos em nome de uma religião fria e incompleta.
“Porque nós é que somos a
circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo
Jesus, e não confiamos na carne. Bem que eu poderia confiar também na carne. Se
qualquer outro pensa que pode confiar na carne, eu ainda mais” (Fl 3.3-4).
Alguns dos judeus crentes,
havendo interpretado a lei para afirmar que a circuncisão era necessária para a
salvação, começaram a dar demais importância a este ato simbólico. Da mesma
maneira, hoje necessitamos ser cuidadoso para não permitir que rituais e
cerimônias passem a ter valor como agente da salvação. Somente Cristo pode nos
dar a salvação
O apóstolo refuta os judaizantes e desqualifica a circuncisão da carne, recomendando um novo tipo de circuncisão feita no Espírito e não mais na carne.
CONCLUSÃO
Paulo encerra este capítulo
dizendo que: “é judeu o que o é no interior, e circuncisão, a que é do coração,
no espírito, não na letra, cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.” (V.
29).
Aos Gálatas o apóstolo diz:
“Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão nem a incircuncisão têm virtude
alguma, mas sim o ser uma nova criatura.” (Gl 6.15).
A ênfase em Gálatas é o
relacionamento pessoal com Cristo e não com a lei. A fé cristã se baseia no
amor a Cristo e não na obediência à lei ou a qualquer sistema de regras. Quem
se dirige cegamente ao sistema legalista faz a sua religião o seu Deus. Disse
Thomas Erskine: “Aquele que fazem de sua religião o seu Deus não terão Deus
para sua religião”.
A Salvação não é simplesmente
professar que se creia em alguma coisa. A Salvação é o agir de Deus no coração.
É um trabalho interior da graça.
A circuncisão é um ato
exterior e traz louvor dos homens e não de Deus. Os judeus que se convertiam a
Cristo estavam colocando como meio de salvação a circuncisão e Paulo repreende
severamente dizendo que a salvação não é o exterior, mas a circuncisão no
coração. Judeu verdadeiro é o que é no interior, circuncisão válida é a que é
feita no coração (Rm 2.25-29).
Pr. Elias Ribas
Assembleia de Deus
Blumenau - SC
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