TEOLOGIA EM FOCO: UM HOMEM CHAMADO JÓ

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

UM HOMEM CHAMADO JÓ

 


LEITURA BÍBLICA

Jó 1.1-5. “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e este era homem sincero, reto e temente a Deus; e desviava-se do mal. 2 - E nasceram-lhe sete filhos e três filhas. 3 - E era o seu gado sete mil ovelhas, e três mil camelos, e quinhentas juntas de bois, e quinhentas jumentas; era também muitíssima a gente ao seu serviço, de maneira que este homem era maior do que todos os do Oriente.4 - E iam seus filhos e faziam banquetes em casa de cada um no seu dia; e enviavam e convidavam as suas três irmãs a comerem e beberem com eles. 5 - Sucedia, pois, que, tendo decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura, pecaram meus filhos e blasfemaram de Deus no seu coração. Assim o fazia Jó continuamente.”

 INTRODUÇÃO

O autor sagrado não elabora uma biografia de Jó, mas traça um perfil que diz muito sobre esse gigante da fé. Jó foi um homem diferente, não em natureza, pois ele era igual aos demais de sua época. Todavia, foi, sem dúvida, distinto na espiritualidade. Ele foi um homem que não apenas possuía bens materiais e uma família sólida, mas mantinha profunda comunhão com Deus. Assim, nesta lição destacaremos alguns traços da vida e espiritualidade de Jó.

É possível ser próspero e, ao mesmo tempo, ter um caráter íntegro e piedoso? Esta pergunta faz sentido porque não é pouco comum correlacionar o defeito de caráter de uma pessoa com o advento de seu sucesso. O leitor da Bíblia Sagrada sabe do cuidado que as Escrituras apontam para a relação humana com o dinheiro. Sim, a Palavra de Deus diz que o “amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males” (1ª Tm 6.10). Isso ocorre por causa do “apego”, da “ambição” que o homem desperta diante do dinheiro ou de algum bem material. Essa disposição pode aniquilar a nossa integridade e piedade. Mas ao longo da lição, veremos um modelo de integridade, prosperidade e piedade conjugado com o temor do Senhor. Que o exemplo de Jó fale aos nossos corações. O temor do Senhor é a base de uma vida reta e íntegra. 

I. O TESTEMUNHO DE DEUS A RESPEITO DE JÓ (1.1-5)

 V. 1.1-2: “Havia um homem na terra de Uz, cujo nome era Jó; e era este homem íntegro, reto e temente a Deus e desviava-se do mal”. 2 E nasceram-lhe sete filhos e três filhas.”

1. Jó um homem de caráter.

1.1. Integro - Sincero. O termo hebraico םת, transliterado tâm traduzidos por ‘sincero’. O adjetivo que significa integridade, prefeito, imaculado, piedoso, simples, sem culpa, inocente. No grego, segundo a Septuaginta, a palavra alethinós remete ao que é verdadeiro. Assim, podemos afirmar que Jó era sincero nas intenções, afeições e diligente nos esforços para cumprir seus deveres para com Deus e os homens.

O termo “sincero” surgiu da fabricação de vasos de cera. Na antiga Roma, oleiros fabricavam vasos de barros para serem vendidos no comércio, a fim de se colocar líquidos: mel, azeite, gordura animal, água, etc.

Quando o vaso era levado ao fogo, alguns rachavam, e para não perder o trabalho, o oleiro enchia as rachaduras com cera da cor do barro. Dava polimento e o defeito ficava imperceptível. Ao ser colocado o líquido, principalmente quente, a cera se derretia e vazava tudo.

Na próxima compra o freguês dizia: quero vaso sem cera sem (sine-cera). Daí nasceu o vocábulo “sincero”, em português.

A cera serve apenas para camuflar rachaduras, mas vindo a prova, a realidade aparece. Por isso, devemos ser sinceros, sem disfarces, porque dia seremos descobertos, nem que seja no juízo final (Ec 12.14).

Essa qualidade envolve toda uma vida de pureza, retidão e temor, virtudes que se revelam em todo o modo ser da pessoa, quer na vida secular, quer na cristão-religiosa.

 1.2. Reto. O termo hebraico רשיו, (yasar) identificam Jó como ‘perfeitamente correto’, ou seja, reto, honesto, direito. Na Septuaginta, de acordo com o grego amemptos, possui o sentido de irrepreensível. Portanto, o homem de Uz era justo, reto, direito e se comportava de maneira irrepreensível.

 1.3. Temente. O termo hebraico אריָ, transliterado ‘yare’, traduz a ideia de alguém que prestava reverência a Deus, reverente, respeitoso, obediente. Já na Septuaginta, os termos relativos ao grego, theosebés e apecho, trazem o sentido de alguém devotado ao culto e à adoração a Deus e que, por isso, mantinha o mal sempre à distância.

 1.4. Desvia-se do mal. O termo hebraico רסוּ, transliterado ‘sur’ é o mesmo que afastar e, nesse caso especifico, do mal.

Jó é apresentado como um homem de destacado caráter espiritual. Ele é descrito assim: aquele que era inculpável, reto, temia a Deus e repelia o mal.

Deus deu testemunho do caráter de Jó, o que envolve a condição moral, comportamento correto para com os seus semelhantes, ou seja, reto e sincero.

O quesito ‘temente’, refere-se à submissão de Jó a Deus, na qualidade de servo e no que implica ser temente a Deus? Implica na imputação da justiça divina sobre Jó, ou seja, Jó era justo diante de Deus!

Jó era um homem perfeitamente correto nas relações com os seus semelhantes e justo diante de Deus. A condição ‘justo’, pertinente a Jó, depreende-se de outras passagens bíblicas. Por exemplo, os Salmos:

“O SENHOR se agrada dos que o temem e dos que esperam na sua misericórdia”. (Sl 147.11).

 II. JÓ ERA UM SÁBIO EPROSPERO - V. 1.3-4

1. Um conselheiro sábio. Há pessoas ricas que não são sábias nem tampouco prósperas. Possuem conhecimento, mas não entendimento; riquezas, mas não prosperidade. Jó distingue-se nesse aspecto.

Ele foi um homem sábio, rico e próspero. A Bíblia afirma que Jó era “maior do que todos os do Oriente” (Jó 1.3). “Maior” aqui não pode ser entendido apenas como uma referência a bens materiais, mas também à sua sabedoria. Estudiosos destacam que Jó era mais importante em sabedoria, riqueza e piedade do que qualquer outra pessoa daquela região e ressaltam o reconhecimento da sabedoria de Jó conforme se destacava a sabedoria dos orientais expressa em provérbios, canções e histórias. Isso fazia dele um homem proeminente, a quem as pessoas recorriam com frequência em busca de conselho e orientação (Jó 29.21,22).

 2. Jó era um homem rico – bem-sucedido.

V. 3 – Era o maior, o mais rico daquela parte do Oriente. Possuía:

7000 ovelhas.

3000 camelos.

500 juntas de bois.

500 jumentas.

Muita gente a seu serviço. Amava seus filhos e desviava-se do mal. Acima de tudo Jó era servo e apenas um servo. Não existe Grande servo (de Deus) Servo é aquele que serve. Jó era um modelo único.

Jó possuía milhares de ovelhas, camelos, bois e jumentas. Além disso, tinha sete filhos e três filhas. Em termos gerais, Jó era considerado um homem rico para a cultura tribal do mundo antigo.

A pesar de Jó ser um homem rico era um homem fiel e sincero. Não existia maldade em seu coração. Não praticava o mal. Auxiliava os mais necessitados e dava muitos empregos. Sempre fiel a Deus, louvava e engrandecia o nome do Senhor.

 3. Seu status social. O ilibado caráter de Jó, aliado à sua notória riqueza, elevara-se a uma alta posição social. Embora não fosse rei, era ele tratado como nobre (Jó 29.8). Seu elevado padrão de vida espiritual era conhecido em toda aquela região.

 III. JÓ UM EXEMPLAR PAI DE FAMÍLIA

 V. 2: “E nasceram-lhe sete filhos e três filhas.” V. 5: “Sucedia, pois, que, decorrido o turno de dias de seus banquetes, enviava Jó, e os santificava, e se levantava de madrugada, e oferecia holocaustos segundo o número de todos eles; porque dizia Jó: Porventura pecaram meus filhos, e amaldiçoaram a Deus no seu coração. Assim fazia Jó continuamente.”

 1. Um homem dedicado à família. O primeiro capítulo de Jó diz: “Iam seus filhos e faziam banquetes em casa de cada um no seu dia; e enviavam e convidavam as suas três irmãs a comerem e beberem com eles” (1.4). O ambiente descrito aqui é de uma família em harmonia que, de forma feliz, festejava a vida. De forma alguma o texto sugere dissolução, bebedice ou licenciosidade nessas comemorações. Eram confraternizações feitas no ambiente familiar.

A família de Jó. O patriarca Jó era pai de 10 filhos - 7 rapazes e 3 moças.

 2. Um homem de moral e piedade. Jó oferecia regularmente sacrifícios por seus filhos, caso algum deles tivesse “amaldiçoado a Deus.”

Jó estava preocupado com que seus filhos pudessem ter se apartado de Deus em seus corações, isto é, esquecido Deus e sua presença no meio de suas vidas diárias.

Todos davam um excelente testemunho de Jó. Até o próprio Deus tinha-o na conta de um homem singular e único em toda aquela geração.

Que possamos ser um homem como Jó, de caráter ilibado e sincero diante de Deus e dos homens. Deus exige de Sus filhos um exemplo único de piedade. Caso contrário, não poderemos ser contados entre os seguidores de Jesus Cristo. Portanto, que todos nos vejam o testemunho, e glorifiquem ao Pai Celeste.

 3. “Jó não teve de isolar-se para tornar-se piedoso. Foi justamente como pai de família, homem de negócios e membro de uma sociedade politicamente organizada, que ele pontificou-se como o melhor ser humano de seu tempo. Ninguém precisa isolar-se para tornar-se santo; santo nasce exatamente em meios às tentações. Todos os heróis da fé destacaram-se como membros participativos da sociedade. O que dizer de Noé? Ou de Abraão, Isaque e Jacó? Ou dos profetas? Isaías e Ezequiel eram casados. E o exemplo do próprio Cristo? Ele não se afastou dos homens para redimi-los; Emanuel resgatou-nos estando entre nós e fazendo-se como um de nós.

Enganam-se os que julgam ser a santidade o produto de uma vida solitária. Santidade é serviço; é dedicação integral ao Senhor Jesus; é desviar-se do mal e ter a parecença do Cordeiro de Deus” [ANDRADE, Claudionor de. Jó: O Problema do Sofrimento do Justo e o seu Propósito. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 37].

 CONCLUSÃO

Destacamos três aspectos importantes acerca da vida de Jó: caráter, prosperidade e piedade. Só compreenderemos devidamente a vida desse gigante da fé do Antigo Testamento a partir dessa matriz.

É possível que alguém seja rico, mas não possua caráter algum; da mesma forma é possível que alguém possua valores morais sem, contudo, esboçar piedade alguma. Todavia, ninguém terá um caráter irretocável, não apenas fragmentos ético-morais, prosperidade, não apenas posses, piedade, não apenas religiosidade se não conhecer a Deus na intimidade. Jó era assim: íntegro, reto, temente a Deus e se desviava do mal.

             FONTE DE PESQUISA

             1. BÍBLIA SHEDD. Revista Atualizada, 1ª Edição: 1998, Ed. Vida Nova, São Paulo – SP.

              2. CLAUDIONOR ANDRADE, Dicionário Teológico 8ª Edição, CPAD, Rio de Janeiro, RJ.

            3. CLAUDIONOR ANDRADE. Lições Bíblicas, 1º Trimestre de 2003. Editora CPAD, Rio de Janeiro, RJ.

            4. GONÇALVES José. O Livro de Jó. Lições bíblicas 4º Trimestre de 2020. CPAD Rio de Janeiro RJ.

        5. JON D. DAVIS. Dicionário da Bíblia, 5ª Edição. Editora JUERP. Rua Silva Vale, 781, Cavalcanti – RJ.

            6. RICHARD L. Hoover, EETAD, 2ª Edição, Campinas, SP.


         Pr. Elias Ribas

        Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico AMID – Cascavel - PR.

        Mestrado em Divindade pelo Seminário Teológico AMID – Cascavel - PR.

        Especialização em Apologética – ICP - São Paulo.

        Grego e Hebraico - Faculdade Batista Pioneira – Ijuí RS.

        Exegese do Novo Testamento - Faculdade Batista Pioneira – I

Nenhum comentário:

Postar um comentário