1º Sm
28.1-20:
“Naqueles dias os filisteus reuniram suas tropas para lutar contra Israel.
Aquis disse a Davi: Você deve saber que você e seus soldados me acompanharão no
exército. 2- Disse Davi a Aquis: Então tu saberás o que teu servo é capaz de
fazer. Aquis respondeu-lhe: Então, o colocarei como minha guarda pessoal
permanente. 3 - Samuel já havia morrido, e todo o Israel o havia pranteado e
sepultado em Ramá, sua cidade natal. Saul havia expulsado do país os médiuns e
os espíritas. 4 - Depois que os filisteus se reuniram, vieram e acamparam em
Suném, enquanto Saul reunia todos os israelitas e acampava em Gilboa. 5 - Quando
Saul viu o acampamento filisteu, teve medo; ficou apavorado. 6 - Ele consultou
o Senhor, mas este não lhe respondeu nem por sonhos nem por Urim nem por
profetas. 7 - Então Saul disse aos seus auxiliares: Procurem uma mulher que
invoca espíritos, para que eu a consulte. Eles disseram: Existe uma em En-Dor.
8 - Saul então se disfarçou, vestindo outras roupas, e foi à noite, com dois
homens, até a casa da mulher. Ele disse a ela: "Invoque um espírito para
mim, fazendo subir aquele cujo nome eu disser. 9 - A mulher, porém, lhe disse: Certamente
você sabe o que Saul fez. Ele eliminou os médiuns e os espíritas da terra de
Israel. Por que você está preparando uma armadilha contra mim que me levará à
morte? 10 - Saul jurou-lhe pelo Senhor: Juro pelo nome do Senhor que você não
será punida por isso. 11 - Quem devo fazer subir? perguntou a mulher. Ele
respondeu: Samuel. 12 - Quando a mulher viu Samuel, gritou e disse a Saul: Por
que me enganaste? Tu mesmo és Saul! 12 - O rei lhe disse: Não tenha medo. O que
você está vendo? A mulher disse a Saul: Vejo um ser que sobe do chão. 13 - Ele
perguntou: Qual a aparência dele? E disse ela: Um ancião vestindo um manto está
subindo. Então Saul ficou sabendo que era Samuel, inclinou-se e prostrou-se,
rosto em terra. 15 - Samuel perguntou a Saul: Por que você me perturbou,
fazendo-me subir? Respondeu Saul: Estou muito angustiado. Os filisteus estão me
atacando e Deus se afastou de mim. Ele já não responde nem por profetas nem por
sonhos; por isso o chamei para dizer-me o que fazer. 16 - Disse Samuel: Por que
você me chamou, já que o Senhor se afastou de você e se tornou seu inimigo? 17
- O Senhor fez o que predisse por meu intermédio: rasgou de suas mãos o reino e
o deu a seu próximo, a Davi. 18 - Porque você não obedeceu ao Senhor nem
executou a grande ira dele contra os amalequitas, ele lhe faz isso hoje. 19 - O
Senhor entregará você e o povo de Israel nas mãos dos filisteus, e amanhã você
e seus filhos estarão comigo. O Senhor também entregará o exército de Israel
nas mãos dos filisteus. 20 - Na mesma hora Saul caiu estendido no chão,
aterrorizado pelas palavras de Samuel. Suas forças haviam se esgotado, pois ele
tinha passado todo aquele dia e toda aquela noite sem comer.
INTRODUÇÃO
- Esse capítulo marca o mais baixo ponto
da vida espiritual de Saul, registrando uma das horas mais obscuras do seu
reinado (1º Sm 28.1-25). Também apresenta um incidente que perturba eruditos e
estudiosos das Escrituras, o episódio da pitonisa (médium) de En-Dor, em que
Saul consulta o espírito de Samuel. Saul estava prestes a enfrentar um ataque
dos filisteus e além disso, havia assassinado a todos os sacerdotes e o profeta
Samuel já era morto; sem saber o que fazer e com quem pedir conselhos, em noutras
palavras ele estava sozinho. Portanto, com o silêncio do Senhor, Saul se volta
para uma prática condenável por Deus, a consulta aos mortos (Dt 18.10,11). E o
faz apenas para saber sobre a sua morte e a derrota de Israel. A tragédia de
sua vida quase se igualou ao seu amargo fim.
I. SAUL
FALOU MESMO COM O MORTO SAMUEL?
A
pergunta básica é: Quem apareceu? Samuel?
- A crônica de 1ª Sm 28.7-25 narrada por
uma testemunha ocular: logo, por um dos servos de Saul que o acompanhara à
necromante (7-8). Frequentemente, esses servos eram estrangeiros (21.7; 2ª Sm
23.25-39) e quase sempre supersticiosos, crentes no erro (v. 7). Razão por que
o seu estilo é tão convincente. Esta crônica que parte da história de Israel,
pela determinação divina, entrou no Cânon Sagrado, para mostrar que um homem
sem a direção de Deus perde a visão espiritual a ponto de fazer aquilo que ele
próprio condenava.
Infelizmente, esta crônica é
interpretada por muitos sob o mesmo ponto de vista de Saul. Devemos buscar a
interpretação correta na Bíblia, que em si mesma, tem os argumentos corretos,
para discernir as afirmações do servo de Saul. Antes, porém, vejamos a palavra
médium no v. 6, que no hebraico é traduzido por “espírito adivinhador”, ou
“espírito familiar” e no texto grego da Septuaginta por (engastrimuthos) “ventríloquo” (um de fala diferente), palavra usada
que indica a espécie de pessoa usada por um desses “espíritos”.
Para podermos entender este embuste,
precisamos fazer um exame textual analítico dentro das regras da hermenêutica
bíblica. Vejamos pois:
1. O leitor deve primeiro fazer a leitura
de todo o capítulo (28) e depois observar cuidadosamente cada detalhe.
2. Saul quando era fiel ao Senhor,
perseguiu e afugentou os médiuns da Terra provando com isso que Deus abomina
tal prática:
“Respondeu-lhe a mulher: Bem sabes o que
fez Saul, como eliminou da terra os médiuns e adivinhos; por que, pois, me
armas cilada à minha vida, para me matares?”. (V. 9).
3. Quando Saul consultou a pitonisa ele já
estava caído, reprovado por Deus e endemoniado (1º Sm 15.22, 23; 16.1, 14).
“De súbito, caiu Saul estendido por terra
e foi tomado de grande medo por causa das palavras de Samuel” (1º Sm 28.20).
Saul se encontrava perturbado, e, uma pessoa nesse estado é presa fácil do
diabo.
“Então, disse Samuel: Por que, pois, a mim
me perguntas, visto que o SENHOR te desamparou e se fez teu inimigo?” (v. 16).
4. Note que o verso 5 diz que ele estava
tomado de medo. Por quê? Por Deus o havia abandonado. O homem com medo é
derrotado antes da guerra.
5. Saul só buscou a necromante depois que
o Espírito de Deus se retirou dele. A sua horrível e prematura morte se deu por
causa disso. Aqui vemos a confirmação, de que Deus não está neste negócio (1º
Cr 10.13-14).
II.
QUATRO ARGUMENTOS PARA SOLUÇÃO DO PROBLEMA
1.
Argumento Exegético.
O versículo 6 diz que o Senhor não lhe
respondeu: “Nem por sonho”. Quando analisamos do ponto de vista divino, o sonho
é “uma revelação pessoal” de Deus ao homem que se processa por meio da palavra
e expressão transmitida pela visão ou imagem (1ª Sm 3.1; Jó 33.14-16). Mas o
Senhor não lhe respondeu, isto é, Deus não se manifestou.
“Nem por Urim”. Revelação pessoal; “nem
por Urim”, revelação sacerdotal;
Algumas passagens das Escrituras falam
destas duas pedras, “Urim e Turim” (Êx 28.30; Lv 8.8; Nm27.21 Dt 33.8; 1ª Sm
28.6).
Como Deus respondia por este método. Na
passagem de Êxodo 28.30, Deus ordenou a Moisés colocar “no peito do Juízo Urim
e Tumim” em “cima do coração de Arão”. Tem sido sugerido que o Urim e o Tumim
eram dois objetos chatos: um lado de cada um desses objetos tinha por escrita a
palavra “Urim” derivado de “arar”, que significa “luzes” e Tumim “ser
perfeito”. O emprego destas pedras no peitoral do sacerdote era para saber:
“como a vontade de Deus era revelada”. O Urim e o Tumim que então significa
“luzes e perfeição”. Com esta idéia, o Urim e o Tumim passariam a ter um
sentido de “fogo sinalizante”, uma espécie de semáforo. Três luzes deviam
piscar ali:
1.1. A luz de cor amarela era sinal de
atenção.
1.2. A luz cor vermelha era sinal de
reprovação.
1.3. Luz de cor verde era sinal de
aprovação divina. O método como isso ocorre, dá-se da seguinte forma:
O sacerdote consultava a vontade divina
sobre esta ou aquela decisão necessária, olhando sempre para a luz amarela
estacionada em cima do seu coração; segundo este modo de proceder, neste
instante vinha a resposta da parte de Deus: sim ou não. O sim era revelado
através da luz verde sobrenatural, enquanto que o não, se dava através da luz
vermelha sobrenatural. No caso de Saul, nenhuma nem outra coisa se manifestou;
portanto, Deus lhe não respondeu este método.
“Nem por profetas”. Revelação inspirada da
parte de Deus em que Sua vontade era manifestada através de um homem ou mulher,
santo capacitado por Deus para este fim. Mas a Bíblia também afirma que Deus
não se manifestou por tal método. A sentença é sempre a mesma: “...o Senhor lhe
não respondeu” (v.6).
2.
Argumento escatológico.
Seria impossível Samuel ter falado.
Primeiro: porque se encontrava morto e estava no seio de Abraão segundo os
ensinos de Jesus em Lucas 16.27-31. O profeta Samuel nunca desobedeceu a Deus.
Era integro. Segundo este conceito, Samuel se encontrava no “seio de Abraão” ou
“Paraíso”, conforme Lucas 16.22 e 2ª Coríntios 12.4. Na narrativa de Lucas
(16.22), diz que o rico se encontrava num lugar “baixo” (Hades) e que Lazaro se encontrava num lugar “alto” (Paraíso).
Segundo a Bíblia diz, o rico “...ergueu os olhos” para contemplar Lázaro
(16.23). Assim, de acordo com o argumento lógico, não foi Samuel que apareceu
ali, visto que o texto diz: “...subiu da terra” (cf. 1ª Sm 28.13-14). Ora, se
fosse Samuel, então ele teria “descido do Paraíso” e não “subido da terra”.
- A
médium não afirma que era Samuel e sim “deuses” que subiam da terra (v. 13). Ou ela estava
enganando Saul ou vendo demônios materializados conforme se chama hoje no
espiritismo “visualizações”. Depois ela observa que não se trata de “deuses”, e
sim “de um homem ancião” (28.14). Note que o texto diz que Saul “nada viu”, mas
deduziu que seria Samuel baseando na descrição da necromante.
Os versos 20 2 21 do capítulo em foco
dizem que Saul se encontrava perturbado, e apenas entendeu que era Samuel que
falava (v.14). Certamente não foi Samuel.
3.
Argumento contraditório.
No capítulo 15.35 de 1ª Samuel Bíblia
diz: “nunca mais viu Saul até o dia da sua morte, porém tinha pena de Saul”.
Numa outra tradução mais correta seria: “nunca mais procurou Samuel a Saul”.
Mas quem falou através da necromante?
Samuel era profeta de Deus e só poderia falar por inspiração, mas sendo morto
como iria falar? Quem deveria falar deveria ser o próprio Deus, mas o Senhor
não falou nem por Urim, nem por sonhos e nem por profetas. Se não foi o Senhor quem
falou também não foi o profeta Samuel.
De acordo com a fidelidade das Escrituras,
Samuel, o profeta, não podia subir ali naquela noite sombria. Durante sua vida
aqui na terra ele foi obediente a Deus e agora, depois de morto jamais ele
faria um só ato contrário à vontade de Deus, quando em vida declarou: “Porque a
rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e
culto a ídolos do lar” (1ª Sm 15.23).
A
Bíblia é explicita com respeito à volta de um morto:
“Antes que eu vá para o lugar de que não
voltarei” (Jó 10.21). “Tal como a nuvem se desfaz e passa, aquele que desce à
sepultura jamais tornará a subir” (Jó 7.9).
E o salmista Davi acrescenta: “Porém, agora que é morta, por que
jejuaria eu? Poderei eu fazê-la voltar? Eu irei a ela, porém ela não voltará
para mim” (2ª Sm 12.23). Aquilo que as Escrituras afirmam não pode ser anulado.
4.
Argumento Ontológico.
Do grego onthos, ser + logia,
estudo racional. Então ontologia é o estudo do ser (ou metafísica geral). É a
ciência do ser enquanto ser e dos caracteres que pertencem ao ser como tal.
Este argumento baseia-se no versículo três do cap. 28 que está sendo estudado.
Nele, Deus se identifica como Deus dos vivos e não dos mortos: de Abraão,
Isaque, Jacó etc. “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó?
Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos” (Mt 22.32; ref. Êx 3.15).
Nem um profeta ou santo de Deus perdeu a
sua personalidade, integridade ou superego. Seria Samuel o único a poluir-se
indo contra a natureza do ser, contra Deus (vv. 6) e contra a doutrina que ele
mesmo pregava (1º Sm 15.23), quando em vida nunca o fez? Impossível.
5. Argumentos
proféticos (Dt 18.22). As profecias devem ser julgadas “Tratando-se de
profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem” (1ª Co 14.29). E
essas do pseudo-Samuel, não resiste ao exame. São ambíguas e imprecisas,
justamente como as dos oráculos sibilinos e délficos.
“Samuel (?) disse a Saul: Porque me
desinquietaste?” (1ª Sm 28.15). Em apocalipse 14.13, essa profecia do pseudo-Samuel
é refutada quando diz “Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora,
morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas,
pois as suas obras os acompanham”. Devemos observar bem a frase: “me
desinquietaste” no texto, e depois, confronta-la no contexto: “...para que
descansem”, e veja, que aqueles que partiram (como Samuel) em paz com Deus
jamais seriam desinquietados por uma feiticeira.
A “bem-aventurança” de apocalipse 14.13
destina-se aqueles que viveram e morreram fielmente a Deus; E Samuel foi um
deles, e jamais viria a poluir-se numa sessão espírita presidida por uma mulher
cuja era reprovada por Deus e a sua Palavra (Lv 19.31; 20.27). Deus não se
contradiz! Portanto, não foi Samuel que ali apareceu.
O
embuste da médium.
Para agradar ao rei, a mulher disse
exatamente o que ele queria ouvir (sendo ela uma feiticeira). No final do
referido texto (1º Samuel 28), vemos que Saul foi procurar a médium totalmente
vulnerável, fragilizado física e emocionalmente, e por isso foi presa ainda
mais fácil da enganação. Observe que ele estava em um jejum prolongado e
totalmente abalado emocionalmente: “De súbito, caiu Saul estendido por terra e
foi tomado de grande medo, por causa das palavras de Samuel. E faltavam-lhe as
forcas, porque não comera pão todo aquele dia e toda aquela noite” (1º Sm
28.20).
Dali
em diante a farsa foi fácil.
“O SENHOR entregará também a Israel
contigo nas mãos dos filisteus, e, amanhã, tu e teus filhos estareis comigo; e
o acampamento de Israel o SENHOR entregará nas mãos dos filisteus” (1º Sm
28.19).
5.1.
Saul não foi entregue nas mãos dos filisteus. A profecia é de estilo sibilino e
sugeria que Saul viria a ser suplicado pelos filisteus. Mas o fato é que Saul
se suicidou (1º Sm 31.11-13). Saul apenas passou pelas mãos dos filisteus (1ª
Sm 31.8-10), e veio parar nas mãos dos homens de Jabes-Gileade (31.11-13).
Infelizmente o pseudo-Samuel não podia prever este detalhe.
5.2.
Não morreram todos os seus filhos. “... tu e teus filhos”, como insinua essa
outra profecia obscura: Morreram três filhos de Saul (1º Sm 31.2) e três filhos
ficaram vivos: Is-bosete (2º Sm 2.8-10), Armoni e Mefibosete (não o filho de
Jonas), mas sim de Saul (2º Sm 21.8).
5.3.
A suposta profecia predissera que, no dia seguinte, morreria Saul e seus
filhos.
Saul não morreu no dia seguinte como declarara a necromante: “... amanhã, tu e
teus filhos estareis comigo....”.
Esta é uma profecia do tipo délfico,
ambígua. Saul morreu cerca de 18 dias depois (1º Sm 30.1, 10, 13,17; 1º Cr
10.2, 4).
“Sucedeu, pois, que, chegando Davi e os
seus homens, ao terceiro dia, a Ziclague, já os amalequitas tinham dado com
ímpeto contra o Sul e Ziclague e a esta, ferido e queimado” (1º Sm 30.1).
Davi gastou na sua volta três dias, em que
percorreu uns 120 Km .
Havia uns três dias que ele estava fora de Ziclague. E gastou um dia com os
preparativos para a nova expedição contra os amalequitas. Que somado são sete
dias.
Davi ao saber que Ziclague havia sido
tomada e suas mulheres levadas cativas, lamentou e chorou muito (1º Sm 30.4).
Após Davi reanimado no Senhor (1º Sm 30.6), levantou buscou o sacerdote Abiatar
para consultar o Senhor.
“Então, consultou Davi ao SENHOR, dizendo:
Perseguirei eu o bando? Alcançá-lo-ei? Respondeu-lhe o SENHOR: Persegue-o,
porque, de fato, o alcançarás e tudo libertarás” (1º Sm 30.7).
Partiu Davi com seiscentos homens (30.9),
porém duzentos ficaram na caminhada, pois estavam exaustos. No caminho
encontraram um homem egípcio:
“Acharam no campo um homem egípcio e o
trouxeram a Davi; deram-lhe pão, e comeu, e deram-lhe a beber água. Deram-lhe
também um pedaço de pasta de figos secos e dois cachos de passas, e comeu;
recobrou, então, o alento, pois havia três dias e três noites que não comia
pão, nem bebia água. Então, lhe perguntou Davi: De quem és tu e de onde vens?
Respondeu o moço egípcio: Sou servo de um amalequita, e, meu senhor, me deixou
aqui, porque adoeci há três dias” (1º Sm 30.11-13).
“... há três dias”, que os amalequitas
haviam deixado o egípcio no caminho. Davi gastou cinco dias para alcançá-los. O
ataque foi inesperado, noturno e terminou rapidamente. (30.17). Para cuidar dos
prisioneiros e recolher o despojo de guerra levou mais um dia. Na volta levou
mais uns oito dias. Até aqui são 17 dias desde que a necromante profetizou para
Saul. Após dezoito dias os filisteus entraram em guerra contra Israel (31.1-6),
que os venceram.
As evidências e os próprios textos
bíblicos dizem que ninguém morreu no dia seguinte como falara o suposto Samuel
naquela reunião.
5.4.
Saul não foi para o mesmo lugar de Samuel. “... estareis comigo...” (1º Sm
28.19). Outra profecia délfica. Interpretar comigo por simples “alem” (hb. sheool), é contradizer a Bíblia. Samuel
estava no seio de Abraão, sentia isso e sabia da diferença que existia entre um
salvo e um perdido. Jesus o Filho de Deus também sabia, e não disse ao ladrão
da cruz: “... hoje estará comigo no “alem” (sheol),
mas sim, no “Paraíso”. Logo, Samuel não podia ter dito a Saul, que este estaria
no mesmo lugar que ele: no “seio de Abraão”. Se Samuel tivesse desobedecido a
Deus (1º Sm 28.16-19), passaria para o inferno, para estar com Saul? Ou então,
Saul, ainda que transgredido a Palavra de Deus e consultado a necromante,
passou para o Paraíso, para estar com Samuel?”.
“Assim, morreu Saul por causa da sua
transgressão cometida contra o SENHOR, por causa da palavra do SENHOR, que ele
não guardara; e também porque interrogara e consultara uma necromante, e não ao
SENHOR, que, por isso, o matou e transferiu o reino a Davi, filho de Jessé” (1º
Cr 10.13-14).
As
principais causas da derrota de Saul e seu fracasso, foram:
1) Transgressão contra Deus (1º Sm
13.8-14; 15.1-23).
2) Consulta a uma necromante (consulta de
pseudos-mortos, 1º Sm 28.7-25).
3) Não consultou ao Senhor.
5.5.
Quem respondeu Saul?
A Bíblia fala de certos “espíritos”, sua natureza e seu poder (Êx 7.11, 22;
8.7; At 16.16-18; 2ª Co 11.14-15; Ef 6.12). São os anjos caídos de Apocalipse
12.4, 7-9 diz: “Com a cauda ele arrastou do céu a terça parte das estrelas e a
jogou sobre a terra. 7 E houve guerra no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam
contra o dragão e os seus anjos. 8 Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar
achou nos céus. 9 E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se
chama diabo e satanás, que engana a todo mundo. Ele foi precipitado na terra, e
os seus anjos foram lançados com ele”.
A Bíblia fala de dois tipos de anjos. Os
bons (Sl 34.7; Mt 18.10 etc.) e os anjos maus que foram iludidos por Lúcifer.
Os dois tipos de anjos os bons e os maus
que nos acompanham durante a nossa vida toda; anotam tudo e sabem tudo a nosso
respeito.
Depois da morte o anjo bom leva o nosso
livro-relatório, diante de Deus, pelo qual seremos julgados (Ap 20.12). Depois
da morte o anjo a serviço de Lúcifer (anjo mau) assume a nossa identidade e
representa-nos no mundo, através dos médiuns. Onde revela o nosso relatório com
acerto e “autoridade”. É por isso que Paulo fala da luta que temos contra “as
forças espirituais do mal” (Ef 6.12). E é pela mesma razão que Deus proíbe
consultar aos “mortos” (Is 8.19-10), porque estes são falsos (Dt 18.10-14).
Caso fossem espíritos humanos, provavelmente, Deus não proibiria a sua
consulta, apenas regulamentaria o assunto para evitar abusos. Deus, porém,
proíbe o que que é dissimulação e falsidade.
6.
Argumento Doutrinário. “Vendo a mulher a Samuel...” (v. 12a).
Consultar os “espíritos familiares” é
condenado pela Bíblia inteira. Fossem espíritos de pessoas, e Deus teria
regulamentado essa prática, mas como não são, Deus o proibiu e condenou
reiteradamente essa ação (cf. Lv 19.31; 20.7; Dt 18.10-12), e Deus não se
contradiz (Tt 1.1).
Aceitado a profecia do pseudo-Samuel,
cria-se uma nova doutrina que é a revelação divina mediante pessoas ímpias e
polutas. E nesse caso, para serem aceitas as afirmações proféticas, como
verdades divinas é necessário que sejam de absoluta precisão; o que não
acontece no caso presente.
6.1. Então, quem são os espíritos que se manifestam
através dos médiuns? Bíblia
nos ensina que todos eles são espíritos enganadores, enviados por Satanás para
enganar aos que não desejam receber o Evangelho da salvação: “Sede sóbrios e vigilantes.
O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando
alguém para devorar” (1ª Pe 5.8). Segundo as Escrituras, Satanás, no seu afã de
enganar, se apresenta sempre como um espírito bom: “E não é de admirar, porque
o próprio Satanás se transforma em anjo de luz” (2ª Co 11.14). Jesus disse
dele: “Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque
nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio,
porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). O apóstolo Paulo, que recebeu o
Evangelho não de homens (vivos ou mortos), mas diretamente por revelação de
Jesus Cristo (Gl 1.11-12), faz a seguinte advertência: “Mas receio que, assim
como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a
vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo. Se, na
verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais
espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não
tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais” (2ª Co 11.3-4); “Ora, o
Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da
fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela
hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência”
(1ª Tm 4.1-2).
Toda doutrina espírita vem da falsa
revelação dos espíritos que, como sabemos, são demônios, embora eles não creiam
na existência dos mesmos, já por engodo dos próprios demônios. Os médiuns são
geralmente anormais.
Grandes médicos brasileiros, como Dr.
Xavier de Oliveira, Henrique Ruxo e R. Franco são unânimes em afirmar que o
espiritismo é uma “fábrica de loucos porque começa desordenando o sistema
nervoso originando anomalias e perturbações mentais”. Dr. Juliano Moreira, um
famoso psiquiatra brasileiro costuma dizer: “até hoje não tive fortuna de ver
um médium, principalmente os chamados videntes, que não fosse um neuropata”.
Primeiro surgem as complicações nervosas, isto sem falar nos casos de homicídios
e suicídios devido às “mensagens”.
O Espiritismo é uma grosseira imitação que
Satanás, o pai da mentira. Tenta fazer para contrariar as obras de Deus. Isto
aconteceu através dos mágicos do Egito. (Êx 7.9) e em muitas outras ocasiões,
porém a verdade de Jesus sempre triunfará.
III.
APRENDENDO COM O ERRO DE SAUL
1. De
onde veio esta doutrina? A consulta aos mortos é algo que vem de longos
milênios, mas é condenada explicitamente na Bíblia.
No Egito antigo, de onde vieram os judeus,
era muito comum. Ao tempo de Isaías, o costume permanecia:
“O espírito dos egípcios se esvaecerá
dentro deles; eu destruirei o seu conselho; e eles consultarão os seus ídolos,
e encantadores, e necromantes e feiticeiros.” (Is 19.3)
O povo de Israel foi instruído por um
Moisés, preocupado com a imitação da prática das nações vizinhas:
“Não vos voltareis para os que consultam
os mortos nem para os feiticeiros; não os busqueis para não ficardes
contaminados por eles. Eu sou o Senhor vosso Deus.” (Lv 19.31)
“Quanto àquele que se voltar para os que
consultam os mortos e para os feiticeiros, prostituindo-se após eles, porei o
meu rosto contra aquele homem, e o extirparei do meio do seu povo.” (Lv 20.6)
2. As
consequências do pecado. Devemos ver as consequências do que estamos fazendo,
mesmo nos assuntos de natureza espiritual.
Saul teve a oportunidade de retroceder
(quando a mulher tentou se esquivar), mas preferiu seguir no seu intento.
Quantas vezes também, na hora do pecado, temos oportunidade de parar, mas não
paramos. Não paramos, porque nós queremos pecar. No caso do adultério, ele não
acontece numa fração de segundos. Há uma sequência própria, de mentiras,
subterfúgios.
Tão firme estava no seu desejo de pecar
que Saul chegou a jurar (algo sagrado àquela época) ou pelo Senhor para levar a
mulher a cometer o pecado da necromancia (v. 10).
Quando Deus fez silêncio, Saul não teve a
humildade de perguntar por que. Não persistiu em continuar buscando ouvir a sua
voz. Ele decidiu buscar apoio nas portas do inferno.
En-Dor era uma cidade que conseguira
escapar à ordem de Saul quanto ao desterro dos adivinhos. A mulher resistiu
porque conhecia a Lei e o decreto de Saul.
Saul foi ao seu encontro à noite, numa
indicação bem clara que agia às escuras. Saul queria ouvir a voz de Samuel, que
o ungira rei no passado. Pela feitiçaria, seu desejo foi atendido.
3.
Não precisamos ter medo da força das trevas.
Se estamos nas mãos de Deus, não
precisamos temer a feitiçaria. Não há sentido ter medo de "trabalhos"
feitos contra pessoas ou instituições. Esses trabalhos não podem tocar nos
ungidos (seus filhos) de Deus.
Num ambiente pagão como o nosso...
4.
Devemos evitar a busca de soluções mirabolantes.
A busca de soluções mirabolantes é
decorrente do medo (v. 5). Uma pessoa com medo faz até o que não quer. Saul já
tinha desterrado os profissionais que agora busca (v. 3). Uma pessoa com medo
faz coisas ridículas, como vestir disfarces (v. 8), talvez, neste caso, o
uniforme dos soldados.
A busca de soluções mirabolantes é
decorrente do silêncio de Deus (v. 6). Saul o experimentou por sua única culpa.
Nós também podemos apelar para
saídas/soluções fora de nossas convicções, como Saul o fez (v. 7), já que ele
tinha desterrado esses profissionais para uma cidade ao norte do reino
(En-Dor).
A propósito, há sempre pessoas disposta a
ajudar... ajudar os outros a cair no buraco (7b). Desde sempre, há sempre
alguém propondo alguma coisa. Há sempre alguém se dispondo a apoiar essas
coisas e mesmo a fazer algo para viabilizar esse apoio.
Há sempre gente disposta a lhe levar a uma
profetisa, como se Deus a ela (por que não diretamente a você?) O seu conselho.
Há sempre gente disposta a lhe levar a um
outro culto onde Deus (por causa das emoções que a liturgia provoca) parece
falar mais de perto.
Há sempre gente disposta a lhe levar a uma
igreja onde haja bênção (especialmente se for material) ou a comunicação do
medo (para nós que já fomos libertos de todo terror).
Por esta razão, há um novo tipo de
ecumenismo, o do membro da igreja, que secreta ou publicamente, se une a outra
naquilo que ela tem (ou acha que tem) de bom.
5. Precisamos
ouvir a voz de Deus enquanto é tempo.
Samuel deixou de ouvir a Samuel no tempo
próprio, tendo pago um algo preço por isto. Agora, queria escutar seus
conselhos, estando ele morto.
Davi não tinha os ofícios sacerdotais para
ouvir a Deus, que também não lhe aparecia por meio de sonhos ou de profecias.
Hoje os meios são a igreja, por suas vozes (pregador, professor, conselheiro).
Sonhos e profecias são coisas excepcionais, quando essas falham. No entanto,
tendemos a nos comportar como Deus falhasse sempre (e sempre queremos essas
formas de comunicação).
Deus pode usar pessoas e situações
estranhas para nos advertir. Ele usou uma jumenta, no caso de Balaão, por
exemplo (Nm 22.28). Normalmente, ele usa outras pessoas. Ele usa você.
CONCLUSÃO
É sabido que nenhuma das palavras ditas
por Samuel jamais caíram por terra, mas todas se cumpriram (1º Sm 3.19). No
entanto, a profecia feita a Saul pelo suposto Samuel, que havia baixado na
feiticeira, não se cumpriu em sua integridade:
Ele disse: “O Senhor entregará também a
Israel contigo na mão dos Filisteus, e amanhã tu e teus filhos estareis comigo.”
Porém, o que se seguiu não foi o
profetizado, pois Saul não morreu pela mão dos filisteus, mas suicidou-se (1º
Sm 31.4). Também não morreram todos os seus filhos, mas apenas três: Jônatas,
Abinadabe e Malquisua (1º Sm 31.2).
No mais, a Bíblia é clara ao dizer que as
causas de morte de Saul foram as transgressões com que transgredira contra
Deus, por causa da Palavra do Senhor, a qual não havia guardado; e também
porque “buscou a adivinhadora para a consultar”, e não buscou ao Senhor, pelo
que o matou. (1º Cr 10.13,14).
Portanto, está claro que Deus não aprovou
as transgressões de Saul, nem sua consulta a feiticeira, e que Samuel não
estava incorporado na médium de En-Dor. Se Deus estava se recusando a falar com
Saul pelos meios “legais”, e considerando também que nunca mais Samuel, em
vida, havia procurado o rei Saul após sua transgressão (1º Sm 15.35), de forma
alguma isso aconteceria mediante a quebra de vários princípios estabelecidos
por Deus.
Pr. Elias Ribas
Dr. Em Teologia
Assembléia de Deus
Blumenau SC
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