TEOLOGIA EM FOCO: DAVI É UNGIDO REI

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

DAVI É UNGIDO REI



TEXTO ÁUREO
“Então, Samuel tomou o vaso do azeite e ungiu-o no meio dos seus irmãos; e, desde aquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apoderou de Davi. Então, Samuel se levantou e se tornou a Ramá.”(1º Sm 16.13)

VERDADE PRÁTICA
O propósito da unção é capacitar o obreiro para desempenhar a obra de Deus e, com autoridade, vencer os gigantes.

LEITURA BÍBLICA
1º Samuel 16.1-13 “Então, disse o SENHOR a Samuel: Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre Israel? Enche o teu vaso de azeite e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque dentre os seus filhos me tenho provido de um rei. 2 – Porém disse Samuel: Como irei eu? Pois, ouvindo-o Saul, me matará. Então, disse o SENHOR: Toma uma bezerra das vacas em tuas mãos e dize: Vim para sacrificar ao SENHOR. 3 – E convidarás Jessé ao sacrifício; e eu te farei saber o que hás de fazer, e ungir-me-ás a quem eu te disser. 4 – Fez, pois, Samuel o que dissera o SENHOR e veio a Belém. Então, os anciãos da cidade saíram ao encontro, tremendo, e disseram: De paz é a tua vinda? 5 - E disse ele: É de paz; vim sacrificar ao SENHOR. Santificai-vos e vinde comigo ao sacrifício. E santificou ele a Jessé e os seus filhos e os convidou ao sacrifício.6- E sucedeu que, entrando eles, viu a Eliabe e disse: Certamente, está perante o SENHOR o seu ungido. 7 – Porém o SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o SENHOR não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o SENHOR olha para o coração. 8 – Então, chamou Jessé a Abinadabe e o fez passar diante de Samuel, o qual disse: Nem a este tem escolhido o SENHOR. 9 – Então, Jessé fez passar a Samá, porém disse: Tampouco a este tem escolhido o SENHOR. 10 – Assim, fez passar Jessé os seus sete filhos diante de Samuel; porém Samuel disse a Jessé: O SENHOR não tem escolhido estes. 11- Disse mais Samuel a Jessé: Acabaram-se os jovens? E disse: Ainda falta o menor, e eis que apascenta as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Envia e manda-o chamar, porquanto não nos assentaremos em roda da mesa até que ele venha aqui. 12- Então, mandou em busca dele e o trouxe (e era ruivo, e formoso de semblante, e de boa presença). E disse o SENHOR: Levanta-te e unge-o, porque este mesmo é. 13 – Então, Samuel tomou o vaso do azeite e ungiu-o no meio dos seus irmãos; e, desde aquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apoderou de Davi. Então, Samuel se levantou e se tornou a Ramá.

INTRODUÇÃO.
- Na sequência do estudo dos livros de Samuel, estudaremos a respeito da escolha de Davi por Deus para ser o novo rei de Israel.

- Davi era o homem segundo o coração de Deus escolhido pelo Senhor para reinar sobre Israel.

- O conceito de unção é do Antigo Testamento; destinava-se a sacerdotes, reis e profetas, para que estes exercessem com êxito suas funções e ministérios (Êx 40.13-15;1º Sm 9.16); profetas também eram ocasionalmente ungidos, segundo a determinação divina (1º Rs 19.16).
- A unção capacita o obreiro para desempenhar a obra de Deus.

I. QUEM ERA DAVI

- Davi era o filho mais novo de Jessé, filho de Obede e da linhagem de Rute a moabita que casou com Boaz. A trajetória normal de sua história seria uma vida pacata no campo e uma boa prestação de serviços aos seus irmãos.

- Contudo, o Deus de Israel estava atento ao estilo de vida do jovem pastor. A ponto, de o Senhor o escolher para ser o segundo rei de seu povo e o mais amado e conhecido até os dias de hoje.

- No texto de 1º Samuel 16.11 – 13, fica muito claro que nem Jessé seu pai, ou muito menos seus irmãos o viam de maneira tão privilegiada.

II. A ESCOLHA DE DAVI COMO REI DE ISRAEL

1. As condições de Saul.
- O rei Saul apresentara-se como um rebelde contra o Senhor e, diante disso, não poderia mais continuar reinando sobre Israel, sob pena de levar todo o povo à perdição. Espiritualmente, pois, o reino caminhava muito mal e Deus já revelara ao seu profeta, Samuel, o desejo de escolher um outro rei, que fizesse a Sua vontade. Ciente desta disposição e estando afeiçoado a Saul, Samuel começou a interceder pelo rei, a fim de que Deus pudesse modificar a sua triste sorte (1º Sm 16.1).

- Estes fatos mostram-nos como devemos ter muito cuidado na obra do Senhor. Assim como Deus queria o bem-estar espiritual de Seu povo e isto não era possível com Saul à frente, diante de seu espírito rebelde, do mesmo modo, nos dias hodiernos, Deus também não tem prazer em ver “líderes” rebeldes à frente da Igreja do Senhor. Não é por outro motivo, aliás, que o apóstolo Paulo diz que os que presidem devem fazê-lo com muito cuidado (Rm 12.8), pois o Senhor a tudo observa e não admite que rebeldes fiquem à frente de Seu povo.

2. A ordem de Deus a Samuel.
- Em resposta à oração intercessória de Samuel, o Senhor lhe manda até a casa de Jessé, em Belém de Judá, pois ali Se tinha provido de um rei entre os filhos de Jessé. Samuel, numa lição que nos dá, ao saber qual tinha sido a resposta de Deus a seus pedidos por Saul, prontamente obedeceu, não ficou insistindo nem teimando. Que possamos todos, ao receber de Deus uma resposta a nossas súplicas, conformarmo-nos à Sua vontade, pois não se ganha coisa alguma em contender contra o Senhor.

2.1. A estratégia de Deus- Samuel, porém, sabia que Saul era um rei duro e impiedoso. Ao receber a ordem divina para ungir a um dos filhos de Jessé, o profeta, que desfrutava de intimidade com Deus, temeu por sua vida, pois sabia que Saul não hesitaria em mandar matá-lo, caso soubesse que ele havia ungido outrem para reinar sobre Israel. O Senhor, então, dá-lhe uma estratégia, qual seja, a de fosse realizar um sacrifício pacífico em Belém e que convidasse a Jessé e a sua família e, após o sacrifício, quando estivessem todos para comer a refeição, Deus indicaria quem deveria ser ungido (1º Sm 16.2,3).

2.2. Vemos como Deus trabalha. O receio de Samuel era justificado. Saul já dera mostra de sua impulsividade e de seu caráter violento, o que muito explicava a sua rebeldia contra o Senhor. No entanto, Deus não Se irou contra Samuel nem viu nesta atitude do profeta uma recusa a realizar a Sua vontade. Prontamente, deu-lhe uma estratégia em que a ordem divina seria prontamente cumprida e o risco de perseguição por parte de Saul senão completamente, sensivelmente diminuído.

2.3. O mesmo hoje ainda acontece. Devemos levar ao Senhor as nossas dúvidas e dificuldades quando somos convocados para o Senhor para realizarmos alguma obra. O que não podemos é desprezar as reais circunstâncias que se apresentam como obstáculos à realização da vontade de Deus como também, por conta de tais dificuldades, deixar de fazer a vontade do Senhor. Muitos hoje ou deixam de lado a prudência e querem cumprir a vontade de Deus sem o devido cuidado e, diante disto, saem prejudicados, ou, então, o que é pior, simplesmente desobedecem a Deus por conta dos problemas que se apresentam. Samuel não fez nem uma coisa, nem outra. Correu aos pés do Senhor e lhe pediu uma estratégia, exatamente o que Tiago nos conclama a fazer: “e, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e não lança em rosto, e lhe será dada” (Tg.1.5).

3. Um sacrifício de paz. Ao chegar a Belém, uma pequena cidade de Judá (Mq 5.2), Samuel causou não pequeno alvoroço entre os anciãos da cidade, pois a presença do homem de Deus nunca era despropositada ou gratuita. Samuel, porém, apazigua a todos e diz que sua vinda é de paz e que deveria oferecer sacrifício pacífico ao Senhor, convidando Jessé e sua família para a efeméride, o que significava que, após o sacrifício, tomaria a refeição na residência de Jessé (1º Sm 16.4,5).

4. As aparências nos enganam. Após o sacrifício e já na hora da refeição que se lhe seguia (Lv 7.15-17), Samuel, então, em obediência à ordem divina, mandou que se lhe trouxessem os filhos de Jessé, pois o Senhor havia dito que, dentre eles, tinha Se provido de um rei (1º Sm 16.1).

- Chegou, então, o primogênito de Jessé, Eliabe. Além de ser o primogênito e, portanto, ser, por força da lei de Moisés, não só aquele que pertencia ao Senhor (Êx 13.2; Nm 3.13; 8.17), como também o mais abençoado dentre todos os filhos, tanto que fazia jus à porção dobrada na herança (Dt 21.17), Eliabe era de porte atlético, guerreiro (1º Sm 17.13) e, diante de tantas “evidências”, Samuel não teve dúvida de que, diante dele, estava o novo rei de Israel (1º Sm 16.6).

- No entanto, se Samuel via o exterior e fazia suas avaliações com relação às convenções humanas e, até mesmo, diante das conclusões humanas diante da lei divina, Deus conhecia o coração de Eliabe e sabia que ele era um homem covarde e invejoso, apesar de sua aparência e altura (cf. I Sm.17:28), motivo pelo qual não era o escolhido do Senhor para reinar sobre Israel (1º Sm 16.7). Mesmo Samuel, o homem de Deus daquele tempo, o homem em que habitava o Espírito Santo (o Espírito, embora ainda estivesse sobre Saulnaquele instante, já não mais operava no rei, o que fazia de Samuel a única pessoa, que temos conhecimento, naquele instante, a ter o Espírito de Deus em Israel), não era capaz de conhecer o coração humano, pois só Deus pode fazê-lo. Por isso, ante esta história da rejeição de Eliabe, sejamos cuidadosos e não façamos julgamentos precipitados sobre A ou B, pois não temos condição de saber o que há no interior do homem, o que existe em seu coração enquanto não convivermos com ele o suficiente para vermos os seus frutos e, então, sabermos quem ele é (cf. Mt 7.15-20).

- Ante estas palavras do Senhor a Samuel, o profeta mandou que passasse diante dele os outros filhos de Jessé. Passaram diante de Samuel, então, os sete filhos que ali estavam (1º Sm 16.10), tendo Deus rejeitado a todos eles, inclusive os dois outros guerreiros, Abinadabe e Samá (por isso, os únicos nomeados no texto sagrado, nessa ocasião – 1º Sm 16.8-10).

5. O convidado de honra. Quando passou diante dele o sétimo moço e o Senhor o recusou, Samuel, certamente, ficou atônito. Deus havia lhe dito que de um dos filhos de Jessé havia Se provido de um rei e o último acabara de ser rejeitado.

- Como Samuel, porém, sabia em quem cria, indagou a Jessé se havia ainda outro filho. Foi, então, que Jessé deu notícia da existência de um oitavo, o menor, que estava a apascentar as ovelhas. Davi era o menor, aquele que nem sequer era considerado a ponto de ser convidado para participar do sacrifício e da refeição que lhe seguiria (1 Sm 16.11).

- Mais uma vez vemos como Deus vê diferentemente do homem. Aquele que havia sido desprezado, desconsiderado, de que ninguém sentiu a falta, era o escolhido de Deus. Isto ainda continua a acontecer, pois “…Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias, e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes, e Deus escolheu as coisas vis deste mundo e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são, para que nenhuma carne se glorie perante Ele” (1ª Co 1.27-29). Temos a visão divina para ver e compreender estas coisas, ou temos nos prendido às coisas deste mundo e nos tornado cegos ante a obra do Senhor?

- Diante desta notícia, Samuel, já sabedor de que se trava do escolhido de Deus, mandou que se enviasse alguém para chamar o filho que restava, pois ninguém se assentaria em roda da mesa enquanto ele não chegasse. Deus já começava ali a honrar Davi, pois, de não-convidado, passara a ser o convidado de honra.

- De desprezado pelo próprio pai e pela família, passara a ser o homenageado do profeta e ex-juiz de Israel.

- De rejeitado pelos homens, passara a ser o escolhido de Deus. Davi, mesmo antes de ter conhecimento do seu chamado, já prefigurava o Cristo que, de rejeitado pelos homens e por Israel (Is 53.3; Jo 1.11), foi o escolhido de Deus para ser posto acima de todos (Fp 2.9-11), a pedra rejeitada que foi posta por cabeça da esquina (At 4.11).

- Os parâmetros e critérios para as escolhas que Deus faz são frontalmente opostos aos nossos. Isto porque Ele não se guia pela aparência efêmera do ser humano ou as circunstâncias superiores que envolvem sua vida. Nenhum de nós jamais pela nossa lógica escolheria um pastor de ovelhas para ser Rei de uma nação. O eliminaríamos sem cerimônias. Contudo, não foi assim com o jovem perseguido pelos seus irmãos. Deus o elegera “o homem segundo o seu coração.” Digno de ocupar o posto mais elevado em Israel. Mas, porque?

- Muito se discute sobre o número dos filhos de Jessé. O texto de 1º Sm.16 fala-nos que havia sete filhos no banquete e que, depois, Davi foi chamado, o que faz com que o número de filhos seja de oito, o que é confirmado por 1º Sm 17.12. Em 1 Cr 2.13-15, entretanto, Davi é apontado como o sétimo filho de Jessé, como se Jessé tivesse apenas sete filhos e não oito como constou em 1º Sm, em 1º Cr, aliás, são dados os nomes de todos os filhos de Jessé, o que não ocorre em 1º Sm, que apenas dá o nome dos três mais velhos (Eliabe, Abinadabe e Simeia ou Samá), que eram os filhos de Jessé que faziam parte do exército de Israel (1º Sm 17.13). Ali ficamos sabemos os nomes dos outros três, a saber: Netanel, Radai e Ozem (1º Cr 2.14,15).

- Davi é apresentado como “o filho menor”, que é o objetivo da revelação divina, ou seja, mostrar que a escolha de Davi foi divina e fora de quaisquer parâmetros humanos, o que é relevantíssimo no que toca ao desenvolvimento do plano de Deus para a salvação do homem.

- Quando Davi chegou, a Bíblia diz que ele era ruivo, formoso de semblante e de boa presença. Esta descrição física do jovem mostra-nos claramente que Davi não era rejeitado porque fosse defeituoso ou uma pessoa feia, mas, única e exclusivamente, porque era “o filho menor”, em virtude das convenções sociais de seu tempo. Era um rapaz bonito, bem-apessoado, simpático e educado, mas que era desprezado por conta de sua qualidade de filho caçula. Isto também impede que se diga que Davi era um filho bastardo ou algo semelhante, como se chegou mesmo a apregoar. Se o fosse, isto, certamente, não impediria a escolha da parte de Deus, mas não podemos inferir tal afirmação pois o texto sagrado não nos permite fazê-lo, visto que a Bíblia jamais omitiria tal dado, caso ele existisse, como, por exemplo, vemos no caso de Jefté (Jz.11:1,2).

- Discute-se se Davi era “ruivo” mesmo ou se o termo não foi corretamente traduzido, querendo dizer “loiro” ou “claro” em relação aos seus irmãos, que deveriam ser mais escuros. Muitos acham que a expressão revela que Davi era “bronzeado” ou “moreno” (como traduziu a Nova Versão Internacional), em virtude de sua exposição ao sol. De qualquer maneira, ele se distinguia dos seus irmãos na sua aparência física. Não tinha o corpo atlético e “sarado” de seus irmãos mais velhos, mas era de “gentil aspecto”, ou seja, uma pessoa simpática que transmitia ternura e dulçor, algo bem diferente da imagem que Israel tinha para um rei e que tanto havia se adaptado à aparência física de Saul. Como os olhos humanos se enganam.

6. A unção de Davi por Samuel.
- Quando Davi chegou, Samuel somente o ungiu depois que o Senhor lhe mandou, prova de que aprendera a lição de que só Deus conhece o coração do homem. Apesar das evidências, o profeta se manteve obediente à voz do Senhor e, quando o Senhor confirmou que aquele era o escolhido, tomou o vaso de azeite e ungiu Davi no meio de seus irmãos. Este ato, apesar de solene, foi sobretudo um ato espiritual, que teve efeito imediato tão somente no interior de Davi, pois a Bíblia diz que, a partir daquele instante, o Espírito de Deus Se apoderou de Davi (1º Sm 16.13).

- Do ponto-de-vista exterior, após aquela unção, todos tomaram a refeição e Samuel, como nos diz o texto sagrado, levantou-se e tornou a Ramá. Enquanto isto, “o novo rei”, no dia seguinte, voltou a apascentar as ovelhas de seu pai. Nada, aparentemente, havia mudado, tudo como antes.

- Na verdade, porém, Davi não era mais o mesmo. Assim como Saul, quando ungido, tornou-se um outro homem (1º Sm 10.6), Davi também teve alterado o seu estado espiritual. No entanto, se Saul profetizou logo em seguida ao apossamento do Espírito, o mesmo não se deu com Davi. No entanto, diz-nos a Bíblia, o Espírito do Senhor se retirou de Saul, como resultado direto da unção de Davi e, a partir de então, Saul ficou à mercê de um espírito maligno, enviado da parte do Senhor, ou seja, por Sua vontade permissiva (1º Sm 16.14).

- Como estávamos ainda na dispensação da lei, vemos que o Espírito operava sob medida e, diante da rejeição divina a Saul, não podia mais o Espírito habitar em Saul quando se ungiu um novo rei. Por isso, o Espírito Se apoderou de Davi e, simultaneamente, se retirou de Saul. Espiritualmente, pois, já havia ocorrido a sucessão. Davi só viria a ocupar o trono muitos anos depois, mas, diante de Deus, a sucessão já se fizera. Havia um novo rei, um novo ungido em Israel.

- O mesmo ocorre nos dias hodiernos. Quando somos salvos pelo Senhor, o Espírito Santo vem habitar em nós (Jo 14.17; Rm 8.9), sem que, para isso, porém, tenha de sair de ninguém mais. Agora o Espírito Santo atua livremente, não mais por medida (Jo.3:34), de sorte que podemos desfrutar da condição de templos do Espírito Santo independentemente da conduta dos demais (1ª Co 6.19). No entanto, se entristecermos o Espírito Santo e, em mantendo nossa conduta pecaminosa, O agravarmos (Ef 4.30; Hb 10.29), corremos sério risco de cairmos na mesma situação de Saul, quando não um, mas até mesmo oito espíritos malignos podem nos causar enorme e, por vezes, irremediável prejuízo espiritual em nossas vidas (Mt 12:43-45; Lc.11.25-26; Hb 10.30,31).

III. AS CIRCUNSTÂNCIAS EM QUE DAVI FOI CHAMADO

1. Em meio a uma crise espiritual. De certa forma, a vocação ou o chamado de Davi por parte de Deus externou-se a partir da rejeição de Saul pelo Senhor (1º Sm 13.13,14; 15.26-28). É preciso lembrar-se que, antes de ter um rei, o povo de Israel possuía uma liderança teocrática, formada por juízes escolhidos por Deus, os quais defendiam suas causas (Jz 2.16-19). Não obstante, a vontade de Israel manifestada publicamente naqueles dias (cf. 1º Sm 8.1-22), foi esquivar-se do sistema político da teocracia para se tornar uma monarquia como as nações incrédulas vizinhas (1º Sm 8.1-7, 19-22). A vontade do povo não era apenas a de ter um rei, mas de se tornar “como as outras nações” (v. 20). Não era, portanto, apenas por uma simples mudança de regime que o povo estava ansiando, mas por uma troca de governante. Aquela má escolha deixou o profeta Samuel alarmado e triste (1º Sm 8.6).

- É nesse contexto que vemos, na história bíblica, surgir Saul (1º Sm 9.1-27), alguém que preenchia os requisitos e as expectativas do povo (1º Sm 8.4-6). Muito cedo em seu governo Saul demonstra não ser um homem disposto a buscar a direção de Deus para dirigir Israel (1º Sm 13). Samuel logo observou ser Saul um rei carnal, fraco, desobediente e sem espiritualidade, e, portanto, desqualificado como líder do povo eleito de Deus (1º Sm 13.14; 15.26-28). O maior problema era que um fracasso iminente do rei significava a derrocada de toda a nação. E isso, infelizmente, não tardou acontecer. Saul assemelhava-se a uma árvore, cujas raízes foram cortadas, permanecendo com sua folhagem verde por algum tempo. E é neste contexto que o Senhor buscou “para si um homem” que lhe agradasse e que se tornaria príncipe sobre o seu povo (1º Sm 13.14). E Davi era esse homem escolhido (1º Sm 16.12,13).

- Hoje, assim como naquela época, a obra de Deus sofre, em certos lugares, por desobediência de alguns que chegam a “ensinar” somente por obrigação e vontade humana sem, contudo, ter a aprovação de Deus. Entretanto, não é possível alguém permanecer à frente da obra Deus e ir muito longe se os seus fundamentos espirituais foram derrubados.

2. A gravidade da crise. Diante de uma crise de tal gravidade que se abateu sobre a liderança do povo de Deus, Samuel chorava não somente a queda de Saul, mas também se preocupava com a lacuna gerada por sua rejeição definitiva. Deus, que controla as situações, declarou a Samuel que já havia se provido de um rei (1º Sm 16.1).

- Em toda a história bíblica, é possível verificar esta forma de Deus tratar com o seu povo. Durante a peregrinação no deserto, vemos como o Senhor não aceitou a desobediência de Moisés, impedindo sua entrada na Terra Prometida (Nm 20.11,12; Dt 32.51,52). Mesmo não permitindo que Moisés em sua rebeldia continuasse a governar o seu povo e entrasse em Canaã, o Todo-Poderoso não desamparou a sua Tribo Nômade, pois já havia provido outro líder para finalmente introduzi-la na Terra Prometida (Dt 1.37,38).

III. A NATUREZA DA VOCAÇÃO DE DAVI

1. Um desígnio divino. No ensino revelado na Palavra de Deus, a vocação divina é um fato declarado e demonstrado entre o povo de Deus. Ele chama a quem quer, quando quer e capacita como quer e para o que quer. Essa verdade é demonstrada na vida do sucessor de Saul. Quando lemos o Salmo 89.20: “Achei a Davi, meu servo; com o meu santo óleo o ungi”, vemos claramente que Davi foi escolhido por Deus. Ele foi chamado ou “recebeu uma vocação” da parte do Senhor.

- Em um contexto maior, é importante entender que o Messias prometido ao povo de Deus seria um descendente da tribo de Judá e, portanto, Davi é parte direta do cumprimento das promessas divinas a Israel (Is 11.1,2; Jr 23.5,6; At 2.29,30; Rm 1.3). O primeiro versículo do Novo Testamento (Mt 1.1) enuncia o cumprimento desta profecia messiânica. No último livro da Bíblia, o próprio Senhor Jesus, o Messias prometido declara: “[…] Eu sou a Raiz e a Geração de Davi” (Ap 22.16). Tais textos são uma evidência do cumprimento da Aliança Davídica: “Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre” (2º Sm 7.16).

2. A resposta humana. Um dos princípios da vocação divina é a soberania de Deus (1º Cr 28.4,5). Todavia, isso não significa que o Eterno não leve em conta a responsabilidade humana na realização de seus propósitos (1º Cr 28.6,7).

- Saul subiu ao trono em resposta à pretensão do povo (1º Sm 8.4-6), que, após ouvir a “descrição” divina do perfil do rei (1º Sm 8.9-18), respondeu categoricamente: “Não, mas haverá sobre nós um rei. E nós também seremos como todas as outras nações; e o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras” (vv.19b, 20). Assim, de acordo com o discurso do apóstolo Paulo na sinagoga de Antioquia, o Eterno deu Saul em resposta ao injusto clamor do povo e segundo o que eles idealizaram (At 13.21). Em seguida, Paulo declara que Deus “levantou como rei a Davi” (At 13.22). Enquanto Davi foi levantado em decorrência da vontade divina (1º Sm 13.13; 15.26-28; 16.1), Saul foi dado por Deus segundo o desejo de Israel de ter alguém com o perfil desse rei (1º Sm 9.14-20; 10.17-27).

- Isso mostra que a escolha divina de homens para o seu serviço leva também em conta a liberdade humana e não a invalida. Saul não estava predestinado ao fracasso (1º Sm 13.13), tampouco Davi estava destinado ao sucesso continuamente (1º Rs 11.38). Contrastando a vida de ambos, observamos que os dois foram ungidos da parte de Deus por Samuel sob iguais condições de conduzirem o reino de Israel. Mas a forma como cada um procedeu ante a esse chamado foi muito diferente.

IV. DAVI, O REI UNGIDO

1. Significado e propósito da unção. No hebraico, há duas palavras para unção − suk e mashah. A palavra suk aponta para a unção com o óleo sobre o corpo ou a cabeça de um convidado (Dt 28.40; Rt 3.3). A palavra grega que corresponde ao hebraico suk é aleipho (Lc 7.38,46), que pode referir-se ao ato de ungir os enfermos (Mc 6.13; Tg 5.14). Quanto à palavra mashah, a ideia é a de cobrir ou untar. Dela deriva o substantivo mashiah (Messias). A palavra grega chrio se relaciona com mashah, daí o nome “Cristo”. No Antigo Testamento, a palavra preferível para a prática da unção religiosa é mashah: unção de pedra (Gn 31.13); dos sacerdotes (Êx 28.41; 29.7,36), dos reis (1º Sm 9.16), dos profetas (1º Rs 19.16) e de objetos diversos (Êx 30.26-28). Nesse sentido, o ato da unção busca mostrar que a pessoa ou o objeto ungido fora especialmente separado para o serviço de Deus, tornando-se assim, intocável (1º Sm 24.6).

2. O simbolismo da unção. Como um ato ordenado por Deus, a unção passou a simbolizar o derramamento do Espírito do Senhor (1º Sm 10.9; Is 61.1). O termo mashah do Antigo Testamento, que no Novo é chrio, refere-se à unção do Messias que viria (Sl 45.7; Dn 9.24). Assim, o Novo Testamento mostra que essa unção estava sobre Jesus (Lc 4.18). Pedro fez menção dessa unção sobre o Filho de Deus (At 10.38); e Paulo descreveu essa mesma unção sobre os cristãos (2ª Co 1.21,22). A unção no Antigo Testamento destinava-se à separação de alguém está relacionada a Cristo, como Filho de Deus e Salvador do Mundo, e aos cristãos, no sentido de dotar-nos de poder para testemunhar as verdades do Evangelho (At 1.8; 1º Jo 2.20,27). A verdadeira unção é ordeira, decente e tem como alvo a glória divina e a expansão do Reino de Deus.

3. A unção sobre Davi. Alguns detalhes importantes cercam 1º Samuel 16.1-13 por ocasião da unção de Davi por Samuel. O autor sagrado destaca o sentimento humano de Samuel, o qual gostava muito de Saul, mas o profeta estava no querer de Deus. Devido a seus pecados, Saul não poderia continuar como rei. Então Deus busca na casa de Jessé, o belemita, neto de Boaz e Rute, um de seus filhos para reinar (Rt 4.17). Conhecendo bem Saul, Samuel tinha consciência de que a missão de ungir um novo rei seria difícil. Por isso, ele foi orientado por Deus a fazer um banquete e um sacrifício naquela região. Como representante de Deus, muitos o temeram, mas Samuel relatou que sua ida era de paz. Os filhos de Jessé passaram diante do profeta, mas nenhum deles foi escolhido, embora Samuel se impressionasse com a postura e aparência dos jovens. Entretanto, um estava ausente, cuidando dos haveres da família. Davi foi ungido em meio aos seus irmãos e, a partir daí o Espírito do Senhor se apoderou de Davi, concedendo-lhe sabedoria, poder, orientação, para que pudesse cumprir os propósitos divinos.

V. DAVI, O REI QUE ERA SERVO

1. O ungido servindo. A unção de Deus não tira a nossa atitude de servos. Davi, sendo ungido, não abandonou sua posição de servo e fez isso até que chegasse o momento de assumir o trono. Sua atitude de servo foi estratégica, para que Deus o colocasse na corte de Saul, local de onde os planos divinos seriam executados. No relato do encontro de Davi com Saul, deve-se entender que tais acontecimentos não se seguem em ordem cronológica. Todavia, o mais importante é vislumbrar a promessa divina em curso, pois Davi crescia enquanto Saul decrescia.

2. O Espírito do Senhor se retira de Saul. O Espírito de Deus se afastou de Saul. Este, por sua vez, passou a ser assombrado por um espírito mau que ali estava por expressa permissão do Senhor. Para acalmar essa profunda melancolia na alma, o servo Davi foi convidado e levado à corte pela graça de Deus e por suas virtudes: tinha boa aparência, talento, capacidade de aprender e compreender as coisas; era bom guerreiro e o Senhor era com Ele (1º Sm 16.18).

3. Deus levanta autoridades. Davi esteve muito tempo com Saul, mas em momento algum relatou a unção de Samuel sobre sua vida; ou tentou aproveitar-se da vulnerabilidade do rei para matá-lo e assumir o reinado; antes, participou de lutas em seu favor. Só no momento certo é que foi aclamado rei. É Deus que levanta e dá a autoridade. Deus pode levar crentes a grandes postos. Entretanto, é preciso aprender a servir, ter atitude de servo, pois foi esse o exemplo que Jesus nos deixou: servir a todos (Mc 10.45; Fp 2.7).

CONCLUSÃO.
- Vimos, pois, que a vocação de Davi fez parte da vontade de Deus, que na sua soberania e presciência escolhe a quem quer para a realização dos seus desígnios. Nada está fora do seu controle e nada acontece sem a sua permissão. Mesmo em meio às crises e reveses da vida, Ele continua sendo Senhor da história.

- Quando Deus está no caso, portas se abrem sem nem ao menos sabermos de onde e como foi aberta, mas abre. E onde vai parar o futuro rei de Israel? Justamente junto, na intimidade, do atual rei de Israel. Saul mandou uma comitiva à casa de Jessé convocando seu filho Davi para um encargo real.

- Era como se fosse um estágio supervisionado, uma escola para Davi, um treinamento de primeira linha. Saul se encanta com Davi e se sente muito aliviado quando lhe sobrevém as crises e assim torna ele seu escudeiro e lhe dá lugar de destaque no reino.
À princípio, ninguém o invejou, nem o temeu, pois, sua entrada foi tão sutil e tão agradável que também logo conquistou toda família de Saul e os principais dos guardas e líderes de Saul. Ele não representava uma ameaça!


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