Mt
13.10-17:
“E, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe:
Por que lhes falas por parábolas? 11 Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós
é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado; 12 Porque
àquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas àquele que não tem, até
aquilo que tem lhe será tirado. 13 Por isso lhes falo por parábolas; porque
eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. 14 E neles se
cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não
compreendereis, E, vendo, vereis, mas não percebereis. 15 Porque o coração
deste povo está endurecido, E ouviram de mau grado com seus ouvidos, E fecharam
seus olhos; Para que não vejam com os olhos, E ouçam com os ouvidos, E
compreendam com o coração, E se convertam, E eu os cure. 16 Mas,
bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque
ouvem. 17 Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver
o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram.”
INTRODUÇÃO.
Neste
último trimestre de 2018, estudaremos sobre “As parábolas de Jesus – as
verdades e princípios divinos para uma vida abundante”. Introduziremos o
assunto definindo a palavra parábola; veremos que das figuras de linguagem que
são usadas na Bíblia esta é a mais abundante; pontuaremos quais os dois
princípios que devemos utilizar na interpretação das parábolas; e, por fim,
finalizaremos destacando quais os propósitos de Jesus ao transmitir os Seus
ensinos por meio de parábolas.
I.
DEFINIÇÃO DA PALAVRA PARÁBOLA
O dicionário Houaiss (2001, p. 2126)
define “parábola” como: “narrativa alegórica que transmite uma mensagem
indireta, por meio de comparação ou analogia”. No AT a palavra hebraica traduzida
por parábola é “mashal”, que
significa “provérbio”, “analogia” e “parábola”. A ideia central de mashal é “ser como” e muitas vezes
refere-se a “frases constituídas em forma de parábola”, característica da
poesia hebraica (LOCKYER, 2006, p. 09). A palavra parábola é composta de dois
vocábulos gregos: o prefixo “para” e o sufixo “ballein” ou “bailo”, que significa 'lançar ou colocar ao lado de'.
Portanto, podemos entender que parábola é algo que se coloca ao lado de outra
coisa para fins de comparação, ou para demonstrar a semelhança entre dois
elementos” (CABRAL, 2005, p. 08). A parábola é uma comparação extraída da
natureza ou da vida diária destinada a esclarecer verdades da esfera espiritual
(Mc 4.11,12; Lc 8.10). Em resumo ela tem sido definida como: “uma história
terrena com um significado celestial”.
II.
O USO DE PARÁBOLAS NAS ESCRITURAS
São várias as figuras de linguagem que a
Bíblia emprega, e todas são necessárias para ilustrar verdades divinas e
profundas dentre elas está a parábola. Segundo Lockyer (2006, p. 07), “em todo
o âmbito literário não há livro mais rico em material alegórico e em parábolas
do que a Bíblia”.
1.
No Antigo Testamento. As parábolas são utilizadas desde a antiguidade.
Isso se confirma pelo fato de figurar no AT em larga medida e sob diferentes
formas (Jz 9.7-16; 2º Sm 12.1-4; 2º Sm 14.6; 1º Rs 20.39; 2º Rs 14.9; Is 5.1-6;
Ez 17.3-10; 19.2-9; 24.3-5; 24.10-14). Principalmente os profetas eram usados
por Deus para transmitir mensagens por meio de parábolas, como o próprio Deus
afirmou: “Falei aos profetas, e multipliquei a visão; e pelo ministério dos profetas
propus símiles” (Os 12.10).
2.
No Novo Testamento.
Quando o Senhor Jesus apareceu entre os homens, como Mestre, tomou a parábola e
honrou-a, usando-a como veículo para a mais sublime de todas as verdades, como
acerca d’Ele estava profetizado (Sl 78.2; Mt 13.35). Sabedor de que os mestres
judeus ilustravam suas doutrinas com o auxílio de parábolas e comparações,
Cristo adotou essas antigas formas de ensino e deu-lhes renovação de espírito,
com a qual proclamou a transcendente glória e excelência de seu ensino (Mt
13.34; Mc 4.2,33,34; Jo 16.25). Cerca de um terço do ensino de Jesus nos
Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) se apresenta em forma de
parábolas.
III.
PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO DAS PARÁBOLAS
Durante algum tempo na história da igreja,
alguns teólogos começaram a interpretar as Escrituras de forma alegórica,
inclusive as parábolas de Jesus. Esta atitude resultou na substituição da
simplicidade das Escrituras pela especulação sutil. Na interpretação das
parábolas não podemos esquecer a “lição principal”, sem entrar em maiores
detalhes, que servem somente para preencher uma história aceitável, mas que nem
sempre se revestem de qualquer sentido especial. Por exemplo: na parábola do
semeador (Mt 13.18-30), os quatro tipos de solos significam tipos diferentes de
receptividade ao evangelho, o semeador se refere a Jesus e a semente, ao
evangelho. Aqui, a maioria dos detalhes é alegorizada. Já na parábola do filho
pródigo (Lc 15.11-32), porém, os personagens possuem um significado (o pai = Deus,
o filho pródigo = os cobradores de impostos e pecadores, o filho mais velho =
os escribas e fariseus; Lc 15.1), mas os detalhes (como a fome, os porcos e as
alfarrobas) acrescentam vivacidade, não um significado espiritual. Pastor
Elienai Cabral em seu livro “Parábolas de Jesus” (2005, pp. 11,12) pontua pelo
menos dois princípios que auxiliam na interpretação das parábolas. Vejamos:
1.
O princípio do contexto. Todas as parábolas foram precedidas de situações
históricas que induziram Jesus a usar esse método para aclarar verdades morais
e espirituais. Uma das leis que regem a interpretação de um texto, seja ele
sagrado ou secular, é o seu contexto. O contexto cultural e histórico pode
facilitar a compreensão do ensino principal da parábola. Nesta, o seu contexto
pode ser aquela situação histórica que obrigou o Mestre a contar uma parábola
para esclarecer uma verdade discutida. O contexto imediato, antes e depois,
oferece ao intérprete a luz sobre o que se queria ensinar.
2.
O princípio teológico. As parábolas não têm a finalidade de estabelecer
doutrina ou teologia, mas visam a confirmar algum elemento teológico contido
numa parábola. O princípio teológico que rege qualquer parábola bíblica é
aquele que se insere nos conceitos e verdades espirituais ensinadas. Uma das
regras simples de hermenêutica é “o ensino geral da Bíblia” sobre determinado
assunto ou doutrina. Por isso, os ensinos das parábolas de Cristo devem ser
interpretados sob o princípio do “ensino geral das Escrituras”.
IV.
JESUS E AS PARÁBOLAS
Jesus foi um exímio contador de
parábolas. Ele aproveitava algum evento do cotidiano de sua época e explorava
aspectos especiais daquele acontecimento para ensinar alguma verdade
espiritual. Mateus disse que “nada lhes falava sem parábolas” (Mt 13.34). Marcos
acrescenta que Ele: “[...] ensinava-lhes muitas coisas por parábolas [...]” (Mc
4.2). E, acrescentou ainda: “E sem parábolas nunca lhes falava” (Mc 4.34-b).
Mas, porque Jesus ensinava por meio de parábolas? Vejamos:
1.
Esclarecer as verdades do Reino para os que queriam ouvi-lo. Os discípulos
estavam curiosos sobre a razão pela qual Jesus ensinava as multidões por
parábolas. Quando eles lhe perguntaram, Ele respondeu que, embora fosse um
privilégio deles conhecer os mistérios do Reino dos céus “Porque a vós é dado
conhecer os mistérios do reino dos céus” (Mt 13.11). A palavra “mistério” no
grego “musterion” significa: “aquilo
que, estando fora do âmbito da apreensão natural sem auxílio, só pode ser
conhecido pela revelação divina, e é conhecido do modo e no tempo designado por
Deus e só àqueles que são iluminados pelo Seu Espirito” (VINE, 2002, p. 795). A
palavra mistério é frequentemente usada na Bíblia para indicar alguma coisa
que, parcialmente revelada no Antigo Testamento, é plenamente mostrada no Novo
(Cl 1.26,27; 2.2) (HORTON, p. 109). Paulo, que recebeu o evangelho por
revelação, foi o apóstolo que mais falou a respeito dos mistérios de Deus (1 Co
11.23; Gl 1.12). Aos efésios ele disse: “Por isso, quando ledes, podeis
perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o qual noutros séculos não
foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo
Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef 3.5). Vejamos algumas coisas
que a Paulo denomina de mistério e que foram revelados pelo Espírito Santo, por
meio dos apóstolos:
O mistério do arrebatamento (1ª Co
15.51-54).
O mistério da iniquidade (2ª Ts 2.7).
O mistério da cegueira de Israel (Rm
11.25).
O mistério da fé (1ª Tm 3.9).
O mistério da piedade (1ª Tm 3.16).
2.
Ocultar as verdades do Reino para os resistentes. Algumas
parábolas também foram utilizadas por Jesus com o intuito de ocultar verdades
aos que não tinham predisposição para ouvir, aprender e se converter (Mt
13.11,13). Nesse texto Jesus fez referência ao profeta Isaías que foi avisado
da resistência do povo de Israel ao seu clamor profético (Is 6.9,10) que
prefigurou o intenso endurecimento que este mesmo povo teria contra o Seu
Messias (Mt 13.13-15). Perceba que Jesus disse que: “… o coração deste povo
está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus
olhos” (Mt 13.15-a). Alguns até entendiam o que o Mestre ensinava mas a reação
não era positiva (Mc 12.12). O escritor da epístola aos Hebreus disse que aos
hebreus da época de Moisés foram pregadas as boas novas como a nós “… mas a
palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a
fé …” (Hb 4.2). Portanto, não existe nenhuma possibilidade em Deus agir de
forma arbitrária selecionando alguns para salvação e outros não. Ele “amou o
mundo” (Jo 3.16); “quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento
da verdade” (1ª Tm 2.4); e, por meio da Sua graça concede “salvação a todos os
homens” (Tt 2.11), no entanto, como este homem reage ao convite divino é uma
questão pessoal, pois uma coisa é “conceder” (parte de Deus) outra coisa é
“receber” (parte do homem). Isto Jesus deixou isso claro quando falou da
Parábola do Semeador (Mt 13.1-9). A semente é a Palavra de Deus que foi semeada
em quatro tipos terrenos (Lc 8.11), no entanto, a forma como cada terreno se
comportou ao receber a semente, ilustra a forma individual com que cada pessoa
reage a pregação do evangelho (Mt 13.19-23). “Portanto, inferir alguma espécie
de fatalismo ou determinismo dessa história seria como desviar-se das
Escrituras como um todo, pois elas assumem em toda parte uma responsabilidade
individual” (BEACON, 2006, p. 102).
CONCLUSÃO.
As
parábolas estão recheadas de ensinamentos acerca das coisas espirituais que
Deus deseja transmitir ao Seu povo. Portanto, devemos nos debruçar diante da
Bíblia com a finalidade de aprofundar nosso conhecimento acerca dos mistérios
do Reino dos céus.
FONTE
DE PESQUISA
CABRAL, Elienai. Parábolas de Jesus:
advertências para os dias atuais. Lições
Bíblicas 4° Trimestre de 2018, Adultos – CPAD.
EARLE, Ralph et al. Comentário Bíblico
Beacon. CPAD.
HORTON, Stanley M. Apocalipse: as coisas
que brevemente devem acontecer. CPAD.
HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua
Portuguesa. OBJETIVA.
LAHAYE, Tim. Enciclopédia Profecia
Bíblica. CPAD.
LOCKYER, John. Todas as Parábolas da
Bíblia. VIDA.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo
Pentecostal. CPAD.
VINE, W.E, et al. Dicionário Vine. CPAD.
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