O propósito
deste capítulo é examinar principalmente o uso e abuso dos instrumentos
musicais na adoração das igrejas do Senhor. Este é um grande assunto e temos
convicções pessoais fortes que ansiamos expressar, mas intencionalmente nos
limitamos. Não espere que cheguemos nem mesmo à superfície. Algumas áreas de
consideração – tais como orquestras da igreja, bandas de adoração, grupos
instrumentais, sistemas de som, teclados eletrônicos e música com playback –
serão completamente excluídas, salvo esta menção.
I.
OS INSTRUMENTOS MUSICAIS SÃO BÍBLICOS?
Como já vimos,
há referências na Bíblia, inclusive vários exemplos, do uso de instrumentos
musicais na adoração (2º Sm 6.5; 1º Cr 15.16, 16.4-6, 25.1 e 6; 2º Cr 29.25,
28; Ne 1.27; Sl 33.1-3, 68.24-25, 71.22, 150.1-6; Ap 14.1-3, etc.). Há quem
argumente que sendo estes instrumentos incorporados como parte da adoração no
templo, durante o período do Velho Testamento – e já que a adoração no templo
foi abolida em Cristo – não existe a necessidade de instrumentos musicais nas
igrejas hoje. Por outro lado, a crença mais comum é que os instrumentos de
música (embora não requeridos) são permitidos. É esta segunda opinião que
defendemos neste capítulo.
1. Os
instrumentos, sem dúvida, foram usados na adoração no templo durante o Velho
Testamento, mas também eram usados em outras ocasiões. Por exemplo, depois que
Deus libertou a nação de Israel da escravidão egípcia e a fez atravessar o Mar
Vermelho a salvo, o povo cantou ao Senhor o hino de Êxodo 15, sendo acompanhado
evidentemente com tamboris (v. 20). Não
era esta uma forma de adoração pública? Mas não foi um ritual do templo;
aconteceu anos antes do templo ser construído.
2. Em nenhum
lugar as Escrituras ensinam que cada parte do culto do templo foi abolida pela
obra de Cristo. A lei – com o sacrifício de animais e cerimônias de adoração –
se cumpriu em Cristo. O
véu do templo se rasgou ao meio quando Jesus morreu (Mt 27.51), indicando que
um novo e vivo caminho se abrira à presença de Deus. O próprio templo foi
destruído no ano 70 d. C. quando o exército romano conquistou Jerusalém. Mas
muitas coisas associadas à adoração no templo são praticadas ainda hoje. Por
exemplo: o templo era uma casa de oração (1º Rs 8.28-53; Is 56.7; Mt 21.13) e
um lugar onde Deus ouve os votos e confissões de Seu nome (1º R 8.31-33). Os
sacrifícios de comida e bebida não fazem parte mais da adoração nas igrejas do
Novo Testamento, mas as orações, votos, confissão e ensino, com certeza, ainda
continuam. Portanto, não podemos argumentar plenamente que a adoração completa,
como feita no templo, foi abolida.
3. Um
propósito para o uso de instrumentos musicais no templo era guiar os cantores
no louvor (2º Cr 29.26-28). O louvor é algo que continua claramente nas igrejas
do Novo Testamento.
Uma boa forma
de louvar a Deus é através da música. A Bíblia diz em Sl 33.1-3 “Regozijai-vos
no Senhor, vós justos, pois aos retos fica bem o louvor. Louvai ao Senhor com
harpa, cantai-lhe louvores com saltério de dez cordas. Cantai-lhe um cântico
novo; tocai bem e com júbilo”.
4. Às vezes,
argumenta-se que as sinagogas judaicos no tempo de Jesus não usavam
instrumentos musicais. A música tinha sido profanada nos tempos de Jesus e os
rabinos haviam abolido nas reuniões e nas sinagogas judaicas. Não quero criticar as sinagogas judaicas. O
próprio Senhor Jesus assistia costumeiramente os cultos na sinagoga (Lc 4.16).
Por outro lado, as Escrituras mantêm silêncio quanto à origem das sinagogas.
5. Outra
observação é que a maioria das igrejas que se recusam a usar instrumentos
musicais ainda permitem o uso de flauta, a fim de fazer a congregação começar
na nota correta. Mas se uma igreja usa um instrumento para ajudar o povo a
achar a primeira nota, por que não usa também para achar a segunda e a
terceira? E se a nota principal do soprano é dada, por que não as notas do
contralto, do tenor e do baixo? E se os instrumentos podem reger a melodia e
harmonia, por que não podem também ajudar a congregação a manter o ritmo e o
tempo certos?
6. Por que
Deus permitiria instrumentos musicais no templo e os proibiria nas igrejas? É
lógico que Deus tem todo o direto de fazer o que Lhe agrada – mas geralmente
não daria uma ordem nem a retiraria sem designar uma razão. Há quem especule
que Deus permitiu uma forma mais complicada de adoração no Velho Testamento,
com instrumentos e rituais específicos, por causa da imaturidade do povo e
dureza de coração, mas prescreveu os cânticos espirituais sem acompanhamento no
Novo Testamento, porque esse tipo de música é mais “simples” e “puro”. Mas a
Bíblia nunca disse isso! Ela nem sugere que cânticos sem acompanhamento sejam
de algum modo mais simples ou mais puros do que os acompanhados com
instrumentos, nem mesmo que uma simplicidade assim é exigida na adoração. Sem
dúvida, as Escrituras nunca comparam o valor do cântico com acompanhamento com
o do que não tem acompanhamento.
O argumento de
rejeitar o uso de todos os instrumentos musicais nas igrejas – No meu
entendimento – é de um silêncio que não pode ser provado.
II.
INSTRUMENTOS APROPRIADOS
Quanto aos instrumentos, a
Bíblia não faz exceção de nenhum instrumento para o louvor a Deus. No salmo
150, encontramos uma relação de instrumentos utilizado no louvor a Deus:
trombeta, saltério, harpa, adufe, flauta, alaúde, citara, címbalos, clarim,
órgãos pífaro, tambor e tamborim.
Há questões
legítimas sobre o tipo de instrumentos musicais apropriados e bíblicos.
Aceitamos piano e órgão? E o que dizer de violão e banjo? E gaitas e flautas?
Permitimos baterias e pandeiro? E trombetas e sinos? Não nos esqueçamos dos
instrumentos caseiros? Qualquer tipo de instrumento é permitido?
Algumas pessoas procuram
especificar determinados instrumentos para o louvor a Deus. Isso varia em
função da região, povo, costume etc. Contudo, o importante não é o instrumento
usado, mas sim quem toca, como toca e para quem toca.
Os
instrumentos musicais indicados no tempo do Velho Testamento pertenciam a três
grupos: cordas, sopro e percussão.
1. Os
instrumentos de corda eram principalmente as harpas e os saltérios
– mas qualquer uma das palavras pode representar uma variedade enorme de
instrumentos. Por exemplo: as harpas variavam de tamanho e
estilo. Algumas talvez fossem enormes, mas a maioria era pequena e bem leve. O Salmo
137.2 fala de pendurar as harpas nos salgueiros, indicando que elas não eram
instrumentos grandes. Normalmente a harpa podia ser tocada enquanto era levada
em procissões ou marchas (1º Sm 10.5; 1º Cr 13.7-7; Is 23.16). Certa
Enciclopédia (The International Standard Bible Enclyclopedia) sugere que
“instrumentos com arcos eram desconhecidos; as cordas eram tangidas com os dedos
ou com um plectro”. Não com arco! Os saltérios também possuíam
muitas variedades: gaita de foles, alaúdes e instrumentos parecidos com o
violão. O Sl 33.2 parece indicar que alguns saltérios tinham dez cordas –
provavelmente uns tinham mais e outros menos.
2. Os
instrumentos de sopro incluíam flautas, cornetas (trombetas) e órgãos. Mais
uma vez, parece haver muita incerteza quanto às descrições, mas os órgãos
(mencionados pela primeira vez em Gênesis 4.21) eram, sem dúvida, instrumentos
simples de junco, de algum modo semelhante aos oboés de hoje – e feitos de
madeira, marfim ou osso. Devia haver uma variedade de formas e estilos. As cornetas
(trombetas) eram feitas geralmente usando-se os chifres de carneiros e bodes,
mas pelo menos em uma ocasião, usava-se a prata (Nm 10.1-10; Js 6.4-7; Jz
7.16-23). As gaitas eram variedades diferentes de flautas.
3. Os
instrumentos de percussão eram principalmente os tambores, tamboris e
címbalos. Certa Enciclopédia (The International Standard Bible Enclyclopedia)
sugere que no Velho Testamento os tambores eram usados em muitas
ocasiões festivas, mas nunca são mencionados em conexão aos cultos divinos. Os címbalos,
embora usados às vezes na adoração, eram usados principalmente pelos chefes da
música (regentes do coral) como meio de reger (1º Cr 15.19).
Então, como
vamos responder à pergunta sobre que tipos de instrumentos são permissíveis? Os
instrumentos designados por Davi para serem usados na adoração eram os
saltérios, as harpas, os címbalos, as cornetas e trombetas (1º Cr 15.16, 24,
28). Deviam ser tocados pelos sacerdotes e levitas. No reinado de Ezequias
estas regras foram reiteradas em 2º Crônicas 29.25: “E pôs os levitas na casa
do Senhor com címbalos, com saltérios, e com harpas, conforme ao mandado de
Davi e de Gade, o vidente do rei, e do profeta Natã; porque este mandado veio
do Senhor, por mão de seus profetas”.
Pessoalmente,
então, (cada homem seja persuadido por si próprio), achamos que a Bíblia deixou
estas diretrizes:
3.1. São
permitidos instrumentos musicais das três categorias: cordas, sopro e
percussão, na adoração pública.
3.2. Os
instrumentos musicais devem ser tocados por pessoas espirituais que dão
evidência de terem sido separadas pelo Senhor.
3.3. Os instrumentos
musicais devem ser tocados para a glória do Senhor como acompanhamento.
Pr. Elias Ribas
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