TEOLOGIA EM FOCO

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

SAUL E A MÉDIUM DE EM-DOR



1º Sm 28.1-20: “Naqueles dias os filisteus reuniram suas tropas para lutar contra Israel. Aquis disse a Davi: Você deve saber que você e seus soldados me acompanharão no exército. 2- Disse Davi a Aquis: Então tu saberás o que teu servo é capaz de fazer. Aquis respondeu-lhe: Então, o colocarei como minha guarda pessoal permanente. 3 - Samuel já havia morrido, e todo o Israel o havia pranteado e sepultado em Ramá, sua cidade natal. Saul havia expulsado do país os médiuns e os espíritas. 4 - Depois que os filisteus se reuniram, vieram e acamparam em Suném, enquanto Saul reunia todos os israelitas e acampava em Gilboa. 5 - Quando Saul viu o acampamento filisteu, teve medo; ficou apavorado. 6 - Ele consultou o Senhor, mas este não lhe respondeu nem por sonhos nem por Urim nem por profetas. 7 - Então Saul disse aos seus auxiliares: Procurem uma mulher que invoca espíritos, para que eu a consulte. Eles disseram: Existe uma em En-Dor. 8 - Saul então se disfarçou, vestindo outras roupas, e foi à noite, com dois homens, até a casa da mulher. Ele disse a ela: "Invoque um espírito para mim, fazendo subir aquele cujo nome eu disser. 9 - A mulher, porém, lhe disse: Certamente você sabe o que Saul fez. Ele eliminou os médiuns e os espíritas da terra de Israel. Por que você está preparando uma armadilha contra mim que me levará à morte? 10 - Saul jurou-lhe pelo Senhor: Juro pelo nome do Senhor que você não será punida por isso. 11 - Quem devo fazer subir? perguntou a mulher. Ele respondeu: Samuel. 12 - Quando a mulher viu Samuel, gritou e disse a Saul: Por que me enganaste? Tu mesmo és Saul! 12 - O rei lhe disse: Não tenha medo. O que você está vendo? A mulher disse a Saul: Vejo um ser que sobe do chão. 13 - Ele perguntou: Qual a aparência dele? E disse ela: Um ancião vestindo um manto está subindo. Então Saul ficou sabendo que era Samuel, inclinou-se e prostrou-se, rosto em terra. 15 - Samuel perguntou a Saul: Por que você me perturbou, fazendo-me subir? Respondeu Saul: Estou muito angustiado. Os filisteus estão me atacando e Deus se afastou de mim. Ele já não responde nem por profetas nem por sonhos; por isso o chamei para dizer-me o que fazer. 16 - Disse Samuel: Por que você me chamou, já que o Senhor se afastou de você e se tornou seu inimigo? 17 - O Senhor fez o que predisse por meu intermédio: rasgou de suas mãos o reino e o deu a seu próximo, a Davi. 18 - Porque você não obedeceu ao Senhor nem executou a grande ira dele contra os amalequitas, ele lhe faz isso hoje. 19 - O Senhor entregará você e o povo de Israel nas mãos dos filisteus, e amanhã você e seus filhos estarão comigo. O Senhor também entregará o exército de Israel nas mãos dos filisteus. 20 - Na mesma hora Saul caiu estendido no chão, aterrorizado pelas palavras de Samuel. Suas forças haviam se esgotado, pois ele tinha passado todo aquele dia e toda aquela noite sem comer.

INTRODUÇÃO
- Esse capítulo marca o mais baixo ponto da vida espiritual de Saul, registrando uma das horas mais obscuras do seu reinado (1º Sm 28.1-25). Também apresenta um incidente que perturba eruditos e estudiosos das Escrituras, o episódio da pitonisa (médium) de En-Dor, em que Saul consulta o espírito de Samuel. Saul estava prestes a enfrentar um ataque dos filisteus e além disso, havia assassinado a todos os sacerdotes e o profeta Samuel já era morto; sem saber o que fazer e com quem pedir conselhos, em noutras palavras ele estava sozinho. Portanto, com o silêncio do Senhor, Saul se volta para uma prática condenável por Deus, a consulta aos mortos (Dt 18.10,11). E o faz apenas para saber sobre a sua morte e a derrota de Israel. A tragédia de sua vida quase se igualou ao seu amargo fim.

I. SAUL FALOU MESMO COM O MORTO SAMUEL?

A pergunta básica é: Quem apareceu? Samuel?
- A crônica de 1ª Sm 28.7-25 narrada por uma testemunha ocular: logo, por um dos servos de Saul que o acompanhara à necromante (7-8). Frequentemente, esses servos eram estrangeiros (21.7; 2ª Sm 23.25-39) e quase sempre supersticiosos, crentes no erro (v. 7). Razão por que o seu estilo é tão convincente. Esta crônica que parte da história de Israel, pela determinação divina, entrou no Cânon Sagrado, para mostrar que um homem sem a direção de Deus perde a visão espiritual a ponto de fazer aquilo que ele próprio condenava.

Infelizmente, esta crônica é interpretada por muitos sob o mesmo ponto de vista de Saul. Devemos buscar a interpretação correta na Bíblia, que em si mesma, tem os argumentos corretos, para discernir as afirmações do servo de Saul. Antes, porém, vejamos a palavra médium no v. 6, que no hebraico é traduzido por “espírito adivinhador”, ou “espírito familiar” e no texto grego da Septuaginta por (engastrimuthos) “ventríloquo” (um de fala diferente), palavra usada que indica a espécie de pessoa usada por um desses “espíritos”.

Para podermos entender este embuste, precisamos fazer um exame textual analítico dentro das regras da hermenêutica bíblica. Vejamos pois:

1. O leitor deve primeiro fazer a leitura de todo o capítulo (28) e depois observar cuidadosamente cada detalhe.

2. Saul quando era fiel ao Senhor, perseguiu e afugentou os médiuns da Terra provando com isso que Deus abomina tal prática:
“Respondeu-lhe a mulher: Bem sabes o que fez Saul, como eliminou da terra os médiuns e adivinhos; por que, pois, me armas cilada à minha vida, para me matares?”. (V. 9).

3. Quando Saul consultou a pitonisa ele já estava caído, reprovado por Deus e endemoniado (1º Sm 15.22, 23; 16.1, 14).
“De súbito, caiu Saul estendido por terra e foi tomado de grande medo por causa das palavras de Samuel” (1º Sm 28.20). Saul se encontrava perturbado, e, uma pessoa nesse estado é presa fácil do diabo.
“Então, disse Samuel: Por que, pois, a mim me perguntas, visto que o SENHOR te desamparou e se fez teu inimigo?” (v. 16).

4. Note que o verso 5 diz que ele estava tomado de medo. Por quê? Por Deus o havia abandonado. O homem com medo é derrotado antes da guerra.

5. Saul só buscou a necromante depois que o Espírito de Deus se retirou dele. A sua horrível e prematura morte se deu por causa disso. Aqui vemos a confirmação, de que Deus não está neste negócio (1º Cr 10.13-14).

II. QUATRO ARGUMENTOS PARA SOLUÇÃO DO PROBLEMA

1. Argumento Exegético.
O versículo 6 diz que o Senhor não lhe respondeu: “Nem por sonho”. Quando analisamos do ponto de vista divino, o sonho é “uma revelação pessoal” de Deus ao homem que se processa por meio da palavra e expressão transmitida pela visão ou imagem (1ª Sm 3.1; Jó 33.14-16). Mas o Senhor não lhe respondeu, isto é, Deus não se manifestou.
“Nem por Urim”. Revelação pessoal; “nem por Urim”, revelação sacerdotal;
Algumas passagens das Escrituras falam destas duas pedras, “Urim e Turim” (Êx 28.30; Lv 8.8; Nm27.21 Dt 33.8; 1ª Sm 28.6).

Como Deus respondia por este método. Na passagem de Êxodo 28.30, Deus ordenou a Moisés colocar “no peito do Juízo Urim e Tumim” em “cima do coração de Arão”. Tem sido sugerido que o Urim e o Tumim eram dois objetos chatos: um lado de cada um desses objetos tinha por escrita a palavra “Urim” derivado de “arar”, que significa “luzes” e Tumim “ser perfeito”. O emprego destas pedras no peitoral do sacerdote era para saber: “como a vontade de Deus era revelada”. O Urim e o Tumim que então significa “luzes e perfeição”. Com esta idéia, o Urim e o Tumim passariam a ter um sentido de “fogo sinalizante”, uma espécie de semáforo. Três luzes deviam piscar ali:
1.1. A luz de cor amarela era sinal de atenção.
1.2. A luz cor vermelha era sinal de reprovação.
1.3. Luz de cor verde era sinal de aprovação divina. O método como isso ocorre, dá-se da seguinte forma:

O sacerdote consultava a vontade divina sobre esta ou aquela decisão necessária, olhando sempre para a luz amarela estacionada em cima do seu coração; segundo este modo de proceder, neste instante vinha a resposta da parte de Deus: sim ou não. O sim era revelado através da luz verde sobrenatural, enquanto que o não, se dava através da luz vermelha sobrenatural. No caso de Saul, nenhuma nem outra coisa se manifestou; portanto, Deus lhe não respondeu este método.
“Nem por profetas”. Revelação inspirada da parte de Deus em que Sua vontade era manifestada através de um homem ou mulher, santo capacitado por Deus para este fim. Mas a Bíblia também afirma que Deus não se manifestou por tal método. A sentença é sempre a mesma: “...o Senhor lhe não respondeu” (v.6).

2. Argumento escatológico.
Seria impossível Samuel ter falado. Primeiro: porque se encontrava morto e estava no seio de Abraão segundo os ensinos de Jesus em Lucas 16.27-31. O profeta Samuel nunca desobedeceu a Deus. Era integro. Segundo este conceito, Samuel se encontrava no “seio de Abraão” ou “Paraíso”, conforme Lucas 16.22 e 2ª Coríntios 12.4. Na narrativa de Lucas (16.22), diz que o rico se encontrava num lugar “baixo” (Hades) e que Lazaro se encontrava num lugar “alto” (Paraíso). Segundo a Bíblia diz, o rico “...ergueu os olhos” para contemplar Lázaro (16.23). Assim, de acordo com o argumento lógico, não foi Samuel que apareceu ali, visto que o texto diz: “...subiu da terra” (cf. 1ª Sm 28.13-14). Ora, se fosse Samuel, então ele teria “descido do Paraíso” e não “subido da terra”.

- A médium não afirma que era Samuel e sim “deuses” que subiam da terra (v. 13). Ou ela estava enganando Saul ou vendo demônios materializados conforme se chama hoje no espiritismo “visualizações”. Depois ela observa que não se trata de “deuses”, e sim “de um homem ancião” (28.14). Note que o texto diz que Saul “nada viu”, mas deduziu que seria Samuel baseando na descrição da necromante.
Os versos 20 2 21 do capítulo em foco dizem que Saul se encontrava perturbado, e apenas entendeu que era Samuel que falava (v.14). Certamente não foi Samuel.

3. Argumento contraditório.
No capítulo 15.35 de 1ª Samuel Bíblia diz: “nunca mais viu Saul até o dia da sua morte, porém tinha pena de Saul”. Numa outra tradução mais correta seria: “nunca mais procurou Samuel a Saul”.
Mas quem falou através da necromante? Samuel era profeta de Deus e só poderia falar por inspiração, mas sendo morto como iria falar? Quem deveria falar deveria ser o próprio Deus, mas o Senhor não falou nem por Urim, nem por sonhos e nem por profetas. Se não foi o Senhor quem falou também não foi o profeta Samuel.

De acordo com a fidelidade das Escrituras, Samuel, o profeta, não podia subir ali naquela noite sombria. Durante sua vida aqui na terra ele foi obediente a Deus e agora, depois de morto jamais ele faria um só ato contrário à vontade de Deus, quando em vida declarou: “Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e a obstinação é como a idolatria e culto a ídolos do lar” (1ª Sm 15.23).

A Bíblia é explicita com respeito à volta de um morto:
“Antes que eu vá para o lugar de que não voltarei” (Jó 10.21). “Tal como a nuvem se desfaz e passa, aquele que desce à sepultura jamais tornará a subir” (Jó 7.9).  E o salmista Davi acrescenta: “Porém, agora que é morta, por que jejuaria eu? Poderei eu fazê-la voltar? Eu irei a ela, porém ela não voltará para mim” (2ª Sm 12.23). Aquilo que as Escrituras afirmam não pode ser anulado.

4. Argumento Ontológico.
Do grego onthos, ser + logia, estudo racional. Então ontologia é o estudo do ser (ou metafísica geral). É a ciência do ser enquanto ser e dos caracteres que pertencem ao ser como tal. Este argumento baseia-se no versículo três do cap. 28 que está sendo estudado. Nele, Deus se identifica como Deus dos vivos e não dos mortos: de Abraão, Isaque, Jacó etc. “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos” (Mt 22.32; ref. Êx 3.15).
Nem um profeta ou santo de Deus perdeu a sua personalidade, integridade ou superego. Seria Samuel o único a poluir-se indo contra a natureza do ser, contra Deus (vv. 6) e contra a doutrina que ele mesmo pregava (1º Sm 15.23), quando em vida nunca o fez? Impossível.

5. Argumentos proféticos (Dt 18.22). As profecias devem ser julgadas “Tratando-se de profetas, falem apenas dois ou três, e os outros julguem” (1ª Co 14.29). E essas do pseudo-Samuel, não resiste ao exame. São ambíguas e imprecisas, justamente como as dos oráculos sibilinos e délficos.

“Samuel (?) disse a Saul: Porque me desinquietaste?” (1ª Sm 28.15). Em apocalipse 14.13, essa profecia do pseudo-Samuel é refutada quando diz “Escreve: Bem-aventurados os mortos que, desde agora, morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham”. Devemos observar bem a frase: “me desinquietaste” no texto, e depois, confronta-la no contexto: “...para que descansem”, e veja, que aqueles que partiram (como Samuel) em paz com Deus jamais seriam desinquietados por uma feiticeira.

A “bem-aventurança” de apocalipse 14.13 destina-se aqueles que viveram e morreram fielmente a Deus; E Samuel foi um deles, e jamais viria a poluir-se numa sessão espírita presidida por uma mulher cuja era reprovada por Deus e a sua Palavra (Lv 19.31; 20.27). Deus não se contradiz! Portanto, não foi Samuel que ali apareceu.

O embuste da médium.
Para agradar ao rei, a mulher disse exatamente o que ele queria ouvir (sendo ela uma feiticeira). No final do referido texto (1º Samuel 28), vemos que Saul foi procurar a médium totalmente vulnerável, fragilizado física e emocionalmente, e por isso foi presa ainda mais fácil da enganação. Observe que ele estava em um jejum prolongado e totalmente abalado emocionalmente: “De súbito, caiu Saul estendido por terra e foi tomado de grande medo, por causa das palavras de Samuel. E faltavam-lhe as forcas, porque não comera pão todo aquele dia e toda aquela noite” (1º Sm 28.20).

Dali em diante a farsa foi fácil.
“O SENHOR entregará também a Israel contigo nas mãos dos filisteus, e, amanhã, tu e teus filhos estareis comigo; e o acampamento de Israel o SENHOR entregará nas mãos dos filisteus” (1º Sm 28.19).

5.1. Saul não foi entregue nas mãos dos filisteus. A profecia é de estilo sibilino e sugeria que Saul viria a ser suplicado pelos filisteus. Mas o fato é que Saul se suicidou (1º Sm 31.11-13). Saul apenas passou pelas mãos dos filisteus (1ª Sm 31.8-10), e veio parar nas mãos dos homens de Jabes-Gileade (31.11-13). Infelizmente o pseudo-Samuel não podia prever este detalhe.

5.2. Não morreram todos os seus filhos. “... tu e teus filhos”, como insinua essa outra profecia obscura: Morreram três filhos de Saul (1º Sm 31.2) e três filhos ficaram vivos: Is-bosete (2º Sm 2.8-10), Armoni e Mefibosete (não o filho de Jonas), mas sim de Saul (2º Sm 21.8).

5.3. A suposta profecia predissera que, no dia seguinte, morreria Saul e seus filhos. Saul não morreu no dia seguinte como declarara a necromante: “... amanhã, tu e teus filhos estareis comigo....”.

Esta é uma profecia do tipo délfico, ambígua. Saul morreu cerca de 18 dias depois (1º Sm 30.1, 10, 13,17; 1º Cr 10.2, 4).
“Sucedeu, pois, que, chegando Davi e os seus homens, ao terceiro dia, a Ziclague, já os amalequitas tinham dado com ímpeto contra o Sul e Ziclague e a esta, ferido e queimado” (1º Sm 30.1).
Davi gastou na sua volta três dias, em que percorreu uns 120 Km. Havia uns três dias que ele estava fora de Ziclague. E gastou um dia com os preparativos para a nova expedição contra os amalequitas. Que somado são sete dias.

Davi ao saber que Ziclague havia sido tomada e suas mulheres levadas cativas, lamentou e chorou muito (1º Sm 30.4). Após Davi reanimado no Senhor (1º Sm 30.6), levantou buscou o sacerdote Abiatar para consultar o Senhor.

“Então, consultou Davi ao SENHOR, dizendo: Perseguirei eu o bando? Alcançá-lo-ei? Respondeu-lhe o SENHOR: Persegue-o, porque, de fato, o alcançarás e tudo libertarás” (1º Sm 30.7).
Partiu Davi com seiscentos homens (30.9), porém duzentos ficaram na caminhada, pois estavam exaustos. No caminho encontraram um homem egípcio:

“Acharam no campo um homem egípcio e o trouxeram a Davi; deram-lhe pão, e comeu, e deram-lhe a beber água. Deram-lhe também um pedaço de pasta de figos secos e dois cachos de passas, e comeu; recobrou, então, o alento, pois havia três dias e três noites que não comia pão, nem bebia água. Então, lhe perguntou Davi: De quem és tu e de onde vens? Respondeu o moço egípcio: Sou servo de um amalequita, e, meu senhor, me deixou aqui, porque adoeci há três dias” (1º Sm 30.11-13).

“... há três dias”, que os amalequitas haviam deixado o egípcio no caminho. Davi gastou cinco dias para alcançá-los. O ataque foi inesperado, noturno e terminou rapidamente. (30.17). Para cuidar dos prisioneiros e recolher o despojo de guerra levou mais um dia. Na volta levou mais uns oito dias. Até aqui são 17 dias desde que a necromante profetizou para Saul. Após dezoito dias os filisteus entraram em guerra contra Israel (31.1-6), que os venceram.

As evidências e os próprios textos bíblicos dizem que ninguém morreu no dia seguinte como falara o suposto Samuel naquela reunião.

5.4. Saul não foi para o mesmo lugar de Samuel. “... estareis comigo...” (1º Sm 28.19). Outra profecia délfica. Interpretar comigo por simples “alem” (hb. sheool), é contradizer a Bíblia. Samuel estava no seio de Abraão, sentia isso e sabia da diferença que existia entre um salvo e um perdido. Jesus o Filho de Deus também sabia, e não disse ao ladrão da cruz: “... hoje estará comigo no “alem” (sheol), mas sim, no “Paraíso”. Logo, Samuel não podia ter dito a Saul, que este estaria no mesmo lugar que ele: no “seio de Abraão”. Se Samuel tivesse desobedecido a Deus (1º Sm 28.16-19), passaria para o inferno, para estar com Saul? Ou então, Saul, ainda que transgredido a Palavra de Deus e consultado a necromante, passou para o Paraíso, para estar com Samuel?”.

“Assim, morreu Saul por causa da sua transgressão cometida contra o SENHOR, por causa da palavra do SENHOR, que ele não guardara; e também porque interrogara e consultara uma necromante, e não ao SENHOR, que, por isso, o matou e transferiu o reino a Davi, filho de Jessé” (1º Cr 10.13-14).

As principais causas da derrota de Saul e seu fracasso, foram:
1) Transgressão contra Deus (1º Sm 13.8-14; 15.1-23).
2) Consulta a uma necromante (consulta de pseudos-mortos, 1º Sm 28.7-25).
3) Não consultou ao Senhor.

5.5. Quem respondeu Saul? A Bíblia fala de certos “espíritos”, sua natureza e seu poder (Êx 7.11, 22; 8.7; At 16.16-18; 2ª Co 11.14-15; Ef 6.12). São os anjos caídos de Apocalipse 12.4, 7-9 diz: “Com a cauda ele arrastou do céu a terça parte das estrelas e a jogou sobre a terra. 7 E houve guerra no céu: Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão e os seus anjos. 8 Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar achou nos céus. 9 E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, que se chama diabo e satanás, que engana a todo mundo. Ele foi precipitado na terra, e os seus anjos foram lançados com ele”.

A Bíblia fala de dois tipos de anjos. Os bons (Sl 34.7; Mt 18.10 etc.) e os anjos maus que foram iludidos por Lúcifer.
Os dois tipos de anjos os bons e os maus que nos acompanham durante a nossa vida toda; anotam tudo e sabem tudo a nosso respeito.

Depois da morte o anjo bom leva o nosso livro-relatório, diante de Deus, pelo qual seremos julgados (Ap 20.12). Depois da morte o anjo a serviço de Lúcifer (anjo mau) assume a nossa identidade e representa-nos no mundo, através dos médiuns. Onde revela o nosso relatório com acerto e “autoridade”. É por isso que Paulo fala da luta que temos contra “as forças espirituais do mal” (Ef 6.12). E é pela mesma razão que Deus proíbe consultar aos “mortos” (Is 8.19-10), porque estes são falsos (Dt 18.10-14). Caso fossem espíritos humanos, provavelmente, Deus não proibiria a sua consulta, apenas regulamentaria o assunto para evitar abusos. Deus, porém, proíbe o que que é dissimulação e falsidade.

6. Argumento Doutrinário. “Vendo a mulher a Samuel...” (v. 12a).
Consultar os “espíritos familiares” é condenado pela Bíblia inteira. Fossem espíritos de pessoas, e Deus teria regulamentado essa prática, mas como não são, Deus o proibiu e condenou reiteradamente essa ação (cf. Lv 19.31; 20.7; Dt 18.10-12), e Deus não se contradiz (Tt 1.1).

Aceitado a profecia do pseudo-Samuel, cria-se uma nova doutrina que é a revelação divina mediante pessoas ímpias e polutas. E nesse caso, para serem aceitas as afirmações proféticas, como verdades divinas é necessário que sejam de absoluta precisão; o que não acontece no caso presente.

6.1. Então, quem são os espíritos que se manifestam através dos médiuns? Bíblia nos ensina que todos eles são espíritos enganadores, enviados por Satanás para enganar aos que não desejam receber o Evangelho da salvação: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar” (1ª Pe 5.8). Segundo as Escrituras, Satanás, no seu afã de enganar, se apresenta sempre como um espírito bom: “E não é de admirar, porque o próprio Satanás se transforma em anjo de luz” (2ª Co 11.14). Jesus disse dele: “Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). O apóstolo Paulo, que recebeu o Evangelho não de homens (vivos ou mortos), mas diretamente por revelação de Jesus Cristo (Gl 1.11-12), faz a seguinte advertência: “Mas receio que, assim como a serpente enganou Eva com a sua astúcia, assim também seja corrompida a vossa mente e se aparte da simplicidade e pureza devidas a Cristo. Se, na verdade, vindo alguém, prega outro Jesus que não temos pregado, ou se aceitais espírito diferente que não tendes recebido, ou evangelho diferente que não tendes abraçado, a esse, de boa mente, o tolerais” (2ª Co 11.3-4); “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência” (1ª Tm 4.1-2).

Toda doutrina espírita vem da falsa revelação dos espíritos que, como sabemos, são demônios, embora eles não creiam na existência dos mesmos, já por engodo dos próprios demônios. Os médiuns são geralmente anormais.

Grandes médicos brasileiros, como Dr. Xavier de Oliveira, Henrique Ruxo e R. Franco são unânimes em afirmar que o espiritismo é uma “fábrica de loucos porque começa desordenando o sistema nervoso originando anomalias e perturbações mentais”. Dr. Juliano Moreira, um famoso psiquiatra brasileiro costuma dizer: “até hoje não tive fortuna de ver um médium, principalmente os chamados videntes, que não fosse um neuropata”. Primeiro surgem as complicações nervosas, isto sem falar nos casos de homicídios e suicídios devido às “mensagens”.

O Espiritismo é uma grosseira imitação que Satanás, o pai da mentira. Tenta fazer para contrariar as obras de Deus. Isto aconteceu através dos mágicos do Egito. (Êx 7.9) e em muitas outras ocasiões, porém a verdade de Jesus sempre triunfará.

III. APRENDENDO COM O ERRO DE SAUL

1. De onde veio esta doutrina? A consulta aos mortos é algo que vem de longos milênios, mas é condenada explicitamente na Bíblia.

No Egito antigo, de onde vieram os judeus, era muito comum. Ao tempo de Isaías, o costume permanecia:
“O espírito dos egípcios se esvaecerá dentro deles; eu destruirei o seu conselho; e eles consultarão os seus ídolos, e encantadores, e necromantes e feiticeiros.” (Is 19.3)

O povo de Israel foi instruído por um Moisés, preocupado com a imitação da prática das nações vizinhas:
“Não vos voltareis para os que consultam os mortos nem para os feiticeiros; não os busqueis para não ficardes contaminados por eles. Eu sou o Senhor vosso Deus.” (Lv 19.31)
“Quanto àquele que se voltar para os que consultam os mortos e para os feiticeiros, prostituindo-se após eles, porei o meu rosto contra aquele homem, e o extirparei do meio do seu povo.” (Lv 20.6)

2. As consequências do pecado. Devemos ver as consequências do que estamos fazendo, mesmo nos assuntos de natureza espiritual.

Saul teve a oportunidade de retroceder (quando a mulher tentou se esquivar), mas preferiu seguir no seu intento. Quantas vezes também, na hora do pecado, temos oportunidade de parar, mas não paramos. Não paramos, porque nós queremos pecar. No caso do adultério, ele não acontece numa fração de segundos. Há uma sequência própria, de mentiras, subterfúgios.

Tão firme estava no seu desejo de pecar que Saul chegou a jurar (algo sagrado àquela época) ou pelo Senhor para levar a mulher a cometer o pecado da necromancia (v. 10).

Quando Deus fez silêncio, Saul não teve a humildade de perguntar por que. Não persistiu em continuar buscando ouvir a sua voz. Ele decidiu buscar apoio nas portas do inferno.
En-Dor era uma cidade que conseguira escapar à ordem de Saul quanto ao desterro dos adivinhos. A mulher resistiu porque conhecia a Lei e o decreto de Saul.
Saul foi ao seu encontro à noite, numa indicação bem clara que agia às escuras. Saul queria ouvir a voz de Samuel, que o ungira rei no passado. Pela feitiçaria, seu desejo foi atendido.

3. Não precisamos ter medo da força das trevas.
Se estamos nas mãos de Deus, não precisamos temer a feitiçaria. Não há sentido ter medo de "trabalhos" feitos contra pessoas ou instituições. Esses trabalhos não podem tocar nos ungidos (seus filhos) de Deus.
Num ambiente pagão como o nosso...

4. Devemos evitar a busca de soluções mirabolantes.
A busca de soluções mirabolantes é decorrente do medo (v. 5). Uma pessoa com medo faz até o que não quer. Saul já tinha desterrado os profissionais que agora busca (v. 3). Uma pessoa com medo faz coisas ridículas, como vestir disfarces (v. 8), talvez, neste caso, o uniforme dos soldados.

A busca de soluções mirabolantes é decorrente do silêncio de Deus (v. 6). Saul o experimentou por sua única culpa.

Nós também podemos apelar para saídas/soluções fora de nossas convicções, como Saul o fez (v. 7), já que ele tinha desterrado esses profissionais para uma cidade ao norte do reino (En-Dor).
A propósito, há sempre pessoas disposta a ajudar... ajudar os outros a cair no buraco (7b). Desde sempre, há sempre alguém propondo alguma coisa. Há sempre alguém se dispondo a apoiar essas coisas e mesmo a fazer algo para viabilizar esse apoio.

Há sempre gente disposta a lhe levar a uma profetisa, como se Deus a ela (por que não diretamente a você?) O seu conselho.

Há sempre gente disposta a lhe levar a um outro culto onde Deus (por causa das emoções que a liturgia provoca) parece falar mais de perto.

Há sempre gente disposta a lhe levar a uma igreja onde haja bênção (especialmente se for material) ou a comunicação do medo (para nós que já fomos libertos de todo terror).

Por esta razão, há um novo tipo de ecumenismo, o do membro da igreja, que secreta ou publicamente, se une a outra naquilo que ela tem (ou acha que tem) de bom.

5. Precisamos ouvir a voz de Deus enquanto é tempo.
Samuel deixou de ouvir a Samuel no tempo próprio, tendo pago um algo preço por isto. Agora, queria escutar seus conselhos, estando ele morto.

Davi não tinha os ofícios sacerdotais para ouvir a Deus, que também não lhe aparecia por meio de sonhos ou de profecias. Hoje os meios são a igreja, por suas vozes (pregador, professor, conselheiro). Sonhos e profecias são coisas excepcionais, quando essas falham. No entanto, tendemos a nos comportar como Deus falhasse sempre (e sempre queremos essas formas de comunicação).

Deus pode usar pessoas e situações estranhas para nos advertir. Ele usou uma jumenta, no caso de Balaão, por exemplo (Nm 22.28). Normalmente, ele usa outras pessoas. Ele usa você.

CONCLUSÃO
É sabido que nenhuma das palavras ditas por Samuel jamais caíram por terra, mas todas se cumpriram (1º Sm 3.19). No entanto, a profecia feita a Saul pelo suposto Samuel, que havia baixado na feiticeira, não se cumpriu em sua integridade:

Ele disse: “O Senhor entregará também a Israel contigo na mão dos Filisteus, e amanhã tu e teus filhos estareis comigo.”

Porém, o que se seguiu não foi o profetizado, pois Saul não morreu pela mão dos filisteus, mas suicidou-se (1º Sm 31.4). Também não morreram todos os seus filhos, mas apenas três: Jônatas, Abinadabe e Malquisua (1º Sm 31.2).

No mais, a Bíblia é clara ao dizer que as causas de morte de Saul foram as transgressões com que transgredira contra Deus, por causa da Palavra do Senhor, a qual não havia guardado; e também porque “buscou a adivinhadora para a consultar”, e não buscou ao Senhor, pelo que o matou. (1º Cr 10.13,14).

Portanto, está claro que Deus não aprovou as transgressões de Saul, nem sua consulta a feiticeira, e que Samuel não estava incorporado na médium de En-Dor. Se Deus estava se recusando a falar com Saul pelos meios “legais”, e considerando também que nunca mais Samuel, em vida, havia procurado o rei Saul após sua transgressão (1º Sm 15.35), de forma alguma isso aconteceria mediante a quebra de vários princípios estabelecidos por Deus.


Pr. Elias Ribas
Dr. Em Teologia
Assembléia de Deus
Blumenau SC

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

A REBELIÃO DE ABSALÃO E A FUGA DE DAVI



TEXTO ÁUREO
“E desta maneira fazia Absalão a todo o Israel que vinha ao rei para juízo; assim, furtava Absalão o coração dos homens de Israel.” (2º Sm 15.6)

VERDADE PRÁTICA
A rebelião revela uma natureza depravada e apóstata contra Deus, visando apenas propósitos que contrariam a perfeita vontade divina.

LEITURA BÍBLICA
2º Samuel 15.1-18 “E aconteceu, depois disso, que Absalão fez aparelhar carros, e cavalos, e cinquenta homens que corressem adiante dele. 2 - Também Absalão se levantou pela manhã e parava a uma banda do caminho da porta. E sucedia que a todo o homem que tinha alguma demanda para vir ao rei a juízo, o chamava Absalão a si e lhe dizia: De que cidade és tu? E dizendo ele: De uma das tribos de Israel é teu servo; 3 - então, Absalão lhe dizia: Olha, os teus negócios são bons e retos, porém não tens quem te ouça da parte do rei. 4 - Dizia mais Absalão: Ah! Quem me dera ser juiz na terra, para que viesse a mim todo o homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça! 5 - Sucedia também que, quando alguém se chegava a ele para se inclinar diante dele, ele estendia a sua mão, e pegava dele, e o beijava. 6 - Desta maneira fazia Absalão a todo o Israel que vinha ao rei para juízo; assim, furtava Absalão o coração dos homens de Israel. 7 - E aconteceu, pois, ao cabo de quarenta anos, que Absalão disse ao rei: Deixa-me ir pagar em Hebrom o meu voto que votei ao SENHOR. 8 - Porque morando eu em Gesur, na Síria, votou o teu servo um voto, dizendo: Se o SENHOR outra vez me fizer tornar a Jerusalém, servirei ao SENHOR. 9 - Então, lhe disse o rei: Vai em paz. Levantou-se, pois, e foi para Hebrom. 10 - E enviou Absalão espias por todas as tribos de Israel, dizendo: Quando ouvirdes o som das trombetas, direis: Absalão reina em Hebrom. 11- E de Jerusalém foram com Absalão duzentos homens convidados, porém iam na sua simplicidade, porque nada sabiam daquele negócio. 12 - Também Absalão mandou vir Aitofel, o gilonita, do conselho de Davi, à sua cidade de Gilo, estando ele sacrificando os seus sacrifícios; e a conjuração se fortificava, e vinha o povo e se aumentava com Absalão. 13 - Então, veio um mensageiro a Davi, dizendo: O coração de cada um em Israel segue a Absalão. 14 - Disse, pois, Davi a todos os seus servos que estavam com ele em Jerusalém: Levantai-vos, e fujamos, porque não poderíamos escapar diante de Absalão. Dai-vos pressa a caminhar, para que porventura não se apresse ele, e nos alcance, e lance sobre nós algum mal, e fira a cidade a fio de espada.15 - Então, os servos do rei disseram ao rei: Eis aqui os teus servos, para tudo quanto determinar o rei, nosso senhor. 16 - E saiu o rei, com toda a sua casa, a pé; deixou, porém, o rei dez mulheres concubinas, para guardarem a casa. 17 - Tendo, pois, saído o rei com todo o povo a pé, pararam num lugar distante. 18 - E todos os seus servos iam a seu lado, como também todos os quereteus e todos os peleteus; e todos os geteus, seiscentos homens que vieram de Gate a pé, caminhavam diante do rei.”

INTRODUÇÃO.
- Nesta lição, discorreremos sobre a rebelião de Absalão; não se tratava apenas de uma oposição ou resistência à autoridade, mas da síndrome do poder. O assassinato de seu irmão, Amnom, não foi apenas um feito vingativo, mas a oportunidade de excluir um rival que estava na linha de sucessão ao trono (2º Sm 13.20-39). Absalão era oportunista, perspicaz. Valendo-se de sua beleza física e carisma incomum, procurou derrubar o próprio pai, na esteira das falhas governamentais, buscando apoio nos descontentes, para reinar, prometendo que julgaria a todos com equidade e rapidez.

I. O HOMEM ABSALÃO

1. Descrição. Absalão era o terceiro filho de Davi com Maacá, filha de Talmai, rei de Gesur, que nascera em Hebrom (2º Sm 3.2,3) – Davi teve seu primeiro filho com Ainoã, Amnon, o primogênito; o segundo com Abigail, Quileabe. Do hebraico, o nome Absalão significa “o pai é da paz” (2º Sm 3.3). Duas coisas o distinguem: seus longos cabelos e sua aparência física, que era sem defeito (2º Sm 14.25).

- Absalão era o filho predileto de Davi. Tinha uma vida de luxo, pois estavam a seu dispor um carro e 50 homens que corriam adiante dele. Tinha uma personalidade forte e capacidade para furtar o coração do povo (2º Sm 15.1.6). Biograficamente, há muitos detalhes sobre o homem Absalão, em especial quanto à beleza física, mas nenhum destaque para sua vida espiritual.

- Absalão era um homem de aparência “sem defeito”, dotado de personalidade forte e sagacidade para roubar o “coração do povo”.

2. Em que consistia a causa da revolta de Absalão? Podemos asseverar que Davi é o grande responsável pelo desastre que aconteceu no seio de sua família, devido às suas faltas. Sua queda enfraqueceu espiritual e moralmente sua família. Assim, primeiramente vem o estupro de Tamar por Amnom, depois a morte deste por Absalão, que teve de fugir e ficar distante do pai por três anos. O retorno de Absalão, por parte da estratégia de Joabe, não foi muito bom, pois, ao retornar, Davi fica sem falar com Absalão por aproximadamente dois anos. Isso resultou em grande ódio e amargura no seu coração para com o pai.

- Nada justifica o procedimento errado dos filhos, mas, por vezes, os pais contribuem para que eles tomem o caminho da rebeldia deliberada (cf. Ef 6.4).

- Ao introduzir alguns dados biográficos de Abasalão que descrevem um pouco de suas ações, pois ele nos permite conhecer um pouco da personalidade do filho de Davi: “Cinco anos se passaram [após Absalão matar Amnom, seu irmão] até que Davi o [Absalão] reintegrasse totalmente. Mas, Absalão movimentou-se rapidamente para conseguir o trono. Adotando costumes pagãos (que lhe foram ensinados por Talmai?) ele apareceu em público em uma carruagem escoltada por um cortejo de corredores. Ele assegurou a simpatia das dez tribos do norte fazendo-se passar por seu defensor. Dentro de quatro anos […], sob o pretexto de cumprir um voto, Absalão foi a Hebrom e reclamou o título de ‘rei’ (2º Sm 15.10); em seguida, apoderou-se de Jerusalém para ser sua capital” (Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.15).

II. A REVOLTA DE ABSALÃO

1. A fraqueza do reinado de Davi. O que se desenrola nesse capítulo ainda é resquício do pecado cometido por Davi; como falou Natã, sua vida seria marcada por inúmeros problemas (2º Sm 12.10,12). Davi, ao ocultar seu duplo pecado, pôs-se a levar uma vida relaxada tanto espiritual quanto publicamente; ele não estava mais julgando as causas como deveria; os problemas do reino acumulavam-se, aumentando grandemente a insatisfação do povo.

- O servo de Deus deve fazer de tudo para proceder corretamente perante Deus e o povo, pois a fragmentação de sua vida moral e espiritual pode abrir portas a uma tempestade incontrolável, levando-o a significativas perdas, daí a exigência de Paulo: “sejamos irrepreensíveis” (1ª Tm 3.2).

2. O Absalão político. Há o registro do plano da insurreição de Absalão em 2º Samuel 15.1-12. Ele trabalhou incansavelmente durante quatro anos para pôr seu plano em prática – a revolta contra seu pai. De duas maneiras Absalão procura impressionar o povo: primeira, se exibindo com carros, cavalos e homens que corriam adiante dele; segunda, a lisonja.

- O Absalão político agia da seguinte maneira: demonstrava o espírito de grandeza. Era comum aos reis do Oriente terem servos que iam adiante de seus carros, que, por vezes, variavam de três a quatro homens. Mas Absalão apresentava-se com cinquenta (2º Sm 15.1). Ainda, exercia uma função que não era sua. Ele sentava-se à porta da cidade como juiz, mas não o era. Apresentava as falhas no setor administrativo do rei, dizendo que não havia pessoas capazes indicadas pelo rei para atender ao povo. Depois, fazia falsa bajulação. Ele dispensava algo que era digno a todo filho de rei: reverência, antes demonstrava falsa humildade; tudo não passava de dissimulação. Ainda, falsa devoção a Deus. Dizia que havia feito um voto a Deus, mas tudo era apenas uma ação mentirosa para enganar o rei. Finalmente, habilidade em ser sagaz. As pessoas se deixaram levar por toda essa ação sagaz sem que percebesse seu real significado.

3. Proclamando-se rei.
Absalão foi para Hebrom com permissão de seu pai, mas ele o fez com falso pretexto, para comandar, de lá, seus emissários. Ele preparou esses homens e, ao seu sinal, ao som de trombetas, deveria ser proclamado a todo o Israel: “Absalão reina em Hebrom!”.

- Por que Hebrom? Esse jovem sabia que, no seu histórico, Hebrom estava ligada com a monarquia de Israel; foi nela que seu pai fora coroado rei (2º Sm 2.4; 5.3) e que seu reinado durou ali sete anos e meio. Absalão tinha consciência de que havia da parte de Judá um sentimento muito especial por esse lugar; estrategicamente, buscava apoio naquela região. Ele fez um convite especial para duzentas pessoas escolhidas a dedo, que eram de influência, mas não sabiam de nada, e levou também um dos conselheiros do rei Davi, Aitofel. Desse modo, estava montado todo o projeto para a conspiração de Absalão.

4. A lealdade dos servos de Davi. Ao tomar conhecimento da ação de seu filho Absalão, Davi apronta para fugir. Sem dúvida isso era a consequência da espada que viria sobre sua casa, como fora profetizado.

- Ao sair Davi de Jerusalém com seus amigos, a primeira parada que faz é em frente ao Monte das Oliveiras, que tem ligação com a Via Dolorosa (Lc 22.39). Junto com Davi, vai muita gente, mas o texto faz um destaque à lealdade de um estrangeiro de Gate, cujo nome era Itai. Davi insistentemente solicita que ele volte a ter com o rei, Abasalão, o que não o faz, mas se coloca à sua inteira disposição com toda fidelidade, afirmando que ficaria ao seu lado, quer fosse para vida quer para a morte (2º Sm 15.21).
- Isso tocou profundamente o coração de Davi, pois tal posicionamento deveria partir, isto sim, do seu filho.
- A revolta de Absalão escondia um espírito de grandeza, bajulação, falsa devoção a Deus e sagacidade.

- “Após um apelo especial a Itai, que parece ser o comandante dos 600 homens, [Davi] liberou-o de qualquer obrigação e rogou a ele e as seus homens que retornassem ao palácio, Davi recebeu a promessa de lealdade de vida e morte de seus guardas. O uso do nome do Deus de Israel na aliança, Yaweh, o Senhor, indicaria que ele era um prosélito da religião hebraica, bem como um leal súdito da coroa. Com esta garantia, e em meio a um luto geral por parte do povo em Jerusalém e suas vizinhanças, Davi e sua companhia atravessaram o Cedrom, o vale que margeava Jerusalém a leste, e se encaminharam para o oriente através do deserto em direção ao Jordão” (Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.252).

III. A MORTE DE ABSALÃO

1. Coração de pai. Davi teve de montar seu exército para lutar contra o próprio filho, dividindo-o em três companhias, uma sob a liderança de Joabe, outra, de Abisai, e a última de Itai. Ele se propõe a ir para o combate, mas o povo não permite. Duas coisas importantes devem ser entendidas aqui: a primeira é o valor que o povo via em Davi; sendo ele um grande guerreiro, uma pessoa capaz, ainda que estivesse pagando um alto preço, as pessoas sabiam do seu valor (2º Sm 18.3;1º Sm 18.7; 29.5), e que por causa disso ele era o alvo principal. A segunda é que o povo queria evitar que o próprio pai tivesse que confrontar o filho. Todos viam a dor que Davi sentia ao formar aquele exército, para lutar contra seu filho; por isso, pediu que se tratasse o jovem com brandura.

2. O preço da rebelião de Absalão. A batalha de Absalão pelo trono, ou seja, sua rebeldia em troca do poder, custar-lhe-ia a vida. Os homens de Davi entraram em combate. A vitória facilitou a vitória de Davi, pelo fato de a floresta, na qual os homens de Absalão embrenharam-se, ser traiçoeira.
- Em alguns relatos bíblicos, forças naturais contribuíram para que o povo do Senhor fosse vitorioso, como lama, insetos, doenças, o que prova que Deus age como Ele quer. Vinte mil homens de Absalão foram abatidos (2º Sm 18.7,8). Vendo que estava perdendo a batalha, fugiu sobre um mulo, mas acabou preso nos ramos de um grande carvalho, suspenso pelos cabelos entre o céu e a terra.

- Joabe tomou conhecimento da situação de Absalão, irando-se, porque o homem que lhe trouxe a notícia não o matara. O mensageiro lhe disse que não poderia ter feito isso, ainda que fosse para ganhar mil moedas de prata, pois tinha ouvido o pedido do rei. Joabe, então, foi até Absalão e traspassa-o com dardos. Depois disso, o combate termina. O fim de Absalão foi trágico, porque ele agira como usurpador, rebelde; pela lei, deveria morrer (Dt 21.18,21,23; 2 Sm 17.2,4).

- Toda rebeldia tem seu preço; por isso o melhor é sempre evitá-la.

- A rebelião de Absalão contra o seu pai custou-lhe a vida.

- “Davi, portanto, se pôs da banda porta (4) de Maanaim enquanto seu povo marchava, e fez seu exército ouvir a ordem que dava aos seus capitães: brandamente tratai por amor de mim ao jovem, a Absalão (5). Da descrição da batalha, somos levados a entender que esta não foi uma ação defensiva da parte de Davi, mas uma investida forte e provavelmente inesperada que fez recuar as forças de Absalão, as quais atravessaram o Jordão para dentro do bosque de Efraim (6), onde ocorreu o combate decisivo. A luta foi sangrenta, e 20.000 homens morreram – talvez de ambos os lados – mais gente perdeu a vida nas gargantas e desfiladeiros das montanhas repletas de bosques do que pela espada” (Comentário Bíblico Beacon: 2 Josué a Ester. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.254).

CONCLUSÃO
- A história de Absalão é um alerta aos pais, para que amem e demonstrem seu amor aos filhos, incondicionalmente.

- Conquistar o coração do filho vale mais do que grandes conquistas materiais ou espirituais.

- A história de Absalão é uma ilustração das conseqüências drásticas do filho que não honra seu pai (Efésios 6.1-3 ''Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; Para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra.'' ).

- O triste fim da história de Absalão não precisa ser repetido por nossas famílias. Você é um pai com o coração partido, por causa da rebeldia do filho? Ou você é um filho que não foi compreendido ou aceito pelo pai?

- Então faça a oração de Davi, que quando perseguido por Absalão, afirmou: (Salmos 3.3-4 “Porém tu, SENHOR, és um escudo para mim, a minha glória, e o que exalta a minha cabeça. Com a minha voz clamei ao SENHOR, e ouviu-me desde o seu santo monte.’ ).

- Com este episódio, aprendemos que a rebelião aborrece a Deus. Evitemos, pois, o pecado da rebeldia; busquemos a sabedoria e a prudência divinas, para que não experimentemos a ira do Deus justo e verdadeiro. Sejamos fiéis e santos.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO DE DAVI



TEXTO ÁUREO
“Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para que te seja por mulher.” (2º Sm 12.10).

VERDADE PRÁTICA
O pecado é destruidor. O seu alvo é sempre desviar o homem da comunhão com Deus, levando-o a um estado de depravação espiritual e moral.

LEITURA BÍBLICA
2º Samuel 12.1-15
1 - E o SENHOR enviou Natã a Davi; e, entrando ele a Davi, disse-lhe: Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre. 2 - O rico tinha muitíssimas ovelhas e vacas; 3 - mas o pobre não tinha coisa nenhuma, senão uma pequena cordeira que comprara e criara; e ela havia crescido com ele e com seus filhos igualmente; do seu bocado comia, e do seu copo bebia, e dormia em seu regaço, e a tinha como filha. 4 - E, vindo um viajante ao homem rico, deixou este de tomar das suas ovelhas e das suas vacas para guisar para o viajante que viera a ele; e tomou a cordeira do homem pobre e a preparou para o homem que viera a ele. 5 - Então, o furor de Davi se acendeu em grande maneira contra aquele homem, e disse a Natã: Vive o SENHOR, que digno de morte é o homem que fez isso. 6 - E pela cordeira tornará a dar o quadruplicado, porque fez tal coisa e porque não se compadeceu. 7 - Então, disse Natã a Davi: Tu és este homem. Assim diz o SENHOR, Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel e eu te livrei das mãos de Saul; 8 - e te dei a casa de teu senhor e as mulheres de teu senhor em teu seio e também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto é pouco, mais te acrescentaria tais e tais coisas. 9 - Por que, pois, desprezaste a palavra do SENHOR, fazendo o mal diante de seus olhos? A Urias, o heteu, feriste à espada, e a sua mulher tomaste por tua mulher; e a ele mataste com a espada dos filhos de Amom. 10 - Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para que te seja por mulher. 11 - Assim diz o SENHOR: Eis que suscitarei da tua mesma casa o mal sobre ti, e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol. 12 - Porque tu o fizeste em oculto, mas eu farei este negócio perante todo o Israel e perante o sol. 13 - Então, disse Davi a Natã: Pequei contra o SENHOR. E disse Natã a Davi: Também o SENHOR traspassou o teu pecado; não morrerás. 14 - Todavia, porquanto com este feito deste lugar sobremaneira a que os inimigos do SENHOR blasfemem, também o filho que te nasceu certamente morrerá. 15 - Então, Natã foi para sua casa. E o SENHOR feriu a criança que a mulher de Urias dera a Davi; e a criança adoeceu gravemente.

INTRODUÇÃO.
- A queda de nossos primeiros pais, trouxe consequências desastrosas não apenas para eles, mas também para toda a humanidade. Entender o que aconteceu com Adão e Eva após o primeiro pecado é chave para compreendermos a situação em que o homem se encontra hoje. Isto porque, Adão não agiu como uma pessoa particular, mas como representante de toda a humanidade.

- É muito comum vermos as pessoas fazerem suas escolhas sem pensar nas consequências que elas trarão. Para muitos, e talvez para nós mesmos, o que vale na hora da escolha é o prazer imediato e a vantagem que se obterá. A preocupação com as consequências e implicações é mínima ou, até mesmo, inexistente. Esse imediatismo, infelizmente, tem afetado muitas pessoas e não são poucos os crentes que seguem por esse caminho. O resultado são inúmeros conflitos e dramas familiares.

- A história de Davi e de seu adultério com Bate-Seba, serve para demonstrar que na vida não podemos fazer nossas escolhas de modo inconsequente. Todas as escolhas que fizermos trarão consequências, que podem ser boas ou ruins. Elas nos aproximarão ou nos afastarão de Deus.

- Hoje veremos como escolhas erradas resultam em consequências trágicas e como devemos reagir quando isso acontecer conosco, dado o nosso pecado.

I. O CONCEITO DE PECADO NO ANTIGO E NOVO TESTAMENTO

1. No Antigo Testamento.
- No Antigo Testamento, a palavra pecado tem diversos significados:
a) Errar o alvo, prática de imoralidade e idolatria (Êx 20.20; Jz 16.20; Pv 19.2).
b) Malignidade, perversidade (Gn 3.5; Jz 11.27).
c) Revolta, rebelião (2º Rs 3.5; Sl 51.13).
d) Iniquidade e culpa (Nm 15.30; 1º Sm 3.13).
e) Transgressão consciente (Lv 4.2).
f) Culpabilidade diante de Deus (Lv 4.13; 1ª Jo 1.7).
g) Desviar-se do bom caminho (Nm 15.22; Sl 58.3).

2. No Novo Testamento.
- Quem lê o Novo Testamento depara-se com diversos vocábulos usados pelos escritores para definir a palavra pecado, que pode ser descrito da seguinte forma:
a) Mal moral (Mt 21.41; Rm 12.17; 1ª Tm 6.10).
b) Impiedade, incredulidade, herege ou apóstata (Rm 4.5; 1ºª Tm 1.9; 1ª Pe 4.18).
c) Culpa (Mt 5.21,22; Tg 2.10).
d) Pecado propriamente dito, derivado da palavra grega hamartia (Rm 5.12; At 2.38; Jo 1.29; 1ª Co 15.3).
e) Conduta comprometedora (Rm 1.18; Rm 6.13).
f) Vida sem lei, referindo-se aos transgressores (Mt 13.41; 1ª Tm 1.9).
g) Adoração falsa (At 17.23).
h) Engano (1ª Pe 2.25; Mt 24.5,6; Ap 12.9).
i) Pecado deliberado (Rm 5.15,20).
j) Induzir os outros errarem por meio de falsos ensinos (Gl 2.11,21; 1ª Tm 4.2).

- Assim, podemos perceber que o pecado é sempre maléfico. Suas ações são destruidoras em todos os aspectos, principalmente em relação ao bom relacionamento com Deus. Por isso, ao homem é melhor procurar, em Cristo, o perdão de todos os seus pecados, a fim de estar sempre em comunhão com Deus.

II. ETAPAS DO PECADO DE DAVI

- A palavra “pecado” significa: “desobediência a qualquer norma ou preceito” (HOUAISS, 2001, p. 2160). Pode ser definido como: “transgressão deliberada e consciente das leis estabelecidas por Deus” (ANDRADE, 2006, p. 295). A palavra hebraica “hatah” e a grega “hamartia” significam: “errar o alvo, falhar no dever” (Rm 3.23). Em um sentido básico pecado é: “a falta de conformidade com a lei moral de Deus, quer em ato, disposição ou estado” (CHAMPLIN, 2015, p. 128). De acordo com a Bíblia, o pecado é algo gradual (Tg 1.14,15). Notemos as etapas do pecado de Davi:

1. A traição. Davi estava no auge do seu reinado quando tragicamente caiu em pecado, vencido pela sua própria paixão desenfreada: “Então enviou Davi mensageiros, e mandou trazê-la; e ela veio, e ele se deitou com ela...” (2º Sm 11.4). Depois de ter consumado o seu ato pecaminoso (2º Sm 11.1-4), Davi, de várias maneiras e durante um bom tempo, tentou ocultá-lo (2º Sm 11.8,12). As tentativas foram cada vez mais pecaminosas. Isso sempre acontece com quem tenta esconder seu pecado. A Bíblia diz que “um abismo chama outro abismo” (Sl 42.7; Nm 32.23).

2. A mentira. Primeiro Davi ordenou que Urias viesse da guerra para dar-lhe notícias dela: “Vindo, pois, Urias a ele, perguntou Davi como passava Joabe, e como estava o povo, e como ia a guerra”, em seguida, ofereceu-lhe um presente e deu-lhe licença para ir a sua própria casa (2º Sm 11.6-8), mas, infelizmente, tudo era mentira, engano e logro. O mal não reconhece limites em suas ações, enquanto que o bem atua dentro de limites traçados pela ética e infelizmente Davi esqueceu desta verdade.

3. A maldade. Davi insistiu que Urias permanecesse em casa afim de forjar uma situação e livrar-se de seu pecado. Em noutras palavras reincidiu no mal: “… Não vens tu de uma jornada? Por que não descestes à tua casa?” (2º Sm 11.10). O pecado traz dois resultados: separa o homem de Deus e produz maus efeitos no mundo (Is 59.1; Rm 8.19-22). O primeiro pode ser cancelado pelo perdão, mas o segundo permanece. Alguém já disse que: “Deus não permite que seus filhos pequem com sucesso”. As consequências do pecado trazem consigo tristeza amarga e profunda (Rm 2.6-11).

4. A astúcia. Davi ofereceu um banquete a Urias com vinho embriagante com o intuito de enganá-lo: “E Davi, o convidou, e comeu e bebeu diante dele, e o embebedou...” (2º Sm 11.13). Davi só não contava com a lealdade e a sensatez de Urias (2º Sm 11.11). Quando o crente procede dessa forma, o julgamento divino o aguarda, pois: “O Senhor não tem o culpado por inocente” (Ne 1.3), e “Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.7,8). Lembremo-nos da admoestação de Paulo: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (1ª Co 10.12).

5. A covardia. Davi enviou uma carta real ao comandante Joabe, através de Urias, onde estava contida a sentença de morte do próprio portador (2º Sm 11.14,15; 12.9). Um assassinato covarde de um leal soldado, planejado pelo próprio rei da nação (2º Sm 11.16,17). Como Urias era um servo fiel, não violou a carta, pois, se o tivesse feito, veria que estava levando a própria sentença de morte. Davi quebrou o sexto mandamento: “Não matarás” (Êx 20.13); o sétimo mandamento: “Não adulterarás” (Êx 20.14); e o décimo mandamento: “Não cobiçarás” (Êx 20.17).

6. A Insensibilidade. Mesmo sabendo da morte de Urias, seu fiel soldado, Davi friamente mandou dizer a Joabe: “Não te pareça mal aos teus olhos; pois a espada tanto consome este como aquele” (2º Sm 11.25). Davi tomou Bate-Seba como sua esposa e se portou tranquilamente como se nada houvera acontecido por cerca de quase um ano (2º Sm 12.14,15) com sua consciência cauterizada sem confessar seu pecado e se arrepender dele (2º Sm 12.27 ver ainda 1ª Tm 4.2).

7. A falsa “justiça”. Quando Davi achava que, morto o esposo da mulher com quem adulterara, o seu problema estava resolvido, Deus envia o profeta Natã para confrontá-lo (2º Sm 12.1-25). É comum alguém que pecou e não tratou de forma devida o seu pecado projetar um sentimento de “justiça” e uma falsa santidade perante os outros (2º Sm 12.5,6). Geralmente ele exige dos outros aquilo que ele mesmo não fez e cobra santidade, requer compromisso, exige dedicação, no entanto, nega com a sua prática a eficácia desses valores (Mt 7.3-5; 23.13-33). É comum desculparmos em nós mesmos aquilo que com veemência condenamos nos outros. Há situação em que o estado de cauterização da consciência é tão grande que somente um encontro com Deus é capaz de fazer cair as escamas dos olhos e expor as misérias humanas.

III. CONSEQUÊNCIAS DO PECADO DE DAVI

- Consequência é “algo produzido por uma causa ou conjunto de condições; efeito, resultado, ferimento, sequela, inferência, ilação” (HOUAISS, 2001, p. 807). O pecado, uma vez consumado, deixa suas consequências deletérias, ainda que seja perdoado por Deus (Lm 3.39). O pecado de Davi trouxe consequências, algumas imediatas, e outras, a longo prazo: “Agora, portanto, a espada jamais se apartará da tua casa ...” (2º Sm 12.10). Deus perdoou seu servo e lhe preservou a vida. Porém, ele pagou um alto preço pelo seu erro. Uma lição deste episódio é a imparcialidade da justiça divina, bem como as riquezas de sua misericórdia. Vejamos algumas consequências dos pecados de Davi:

1. Consequências emocionais. Os especialistas advertem que há muitas doenças psicossomáticas, isto é, doenças da alma ou de origem psicológica que afetam diretamente o corpo (Sl 32.2-5; 39.10,11; 51.8). Os resultados do pecado de Davi podem ser vistos primeiramente em sua vida sentimental e emocional: “Já estou cansado do meu gemido; toda noite faço nadar a minha cama; molho o meu leito com as minhas lágrimas” (Sl 6.6). O pecado causou feridas profundas na alma de Davi e alguns de seus salmos retratam seus infortúnios (13.2; 22.11; 25.16-18,22; 38.2-3; 41.4,8). A idade em que morreu cerca de setenta anos (2º Sm 5.4; 1º Rs 2.10,11) debilitado como estava, talvez tenha muito a ver com as angústias e frustrações de sua alma (1º Rs 1.1).

2. Consequências espirituais. Não há dúvida de que os efeitos do pecado de Davi também estão na esfera espiritual: “Não me lances fora da tua presença, e não retires de mim o teu Espírito Santo. Torna a dar-me a alegria da salvação...” (Sl 51.11,12). A Bíblia nos mostra que há também doenças de origem espiritual: “Depois Jesus encontro-o no templo, e disse-lhe: Eis que já estás curado; não peques mais, para que não te suceda alguma coisa pior” (Jo 5.14). Paulo adverte em sua primeira carta aos coríntios: “Por causa disso [do pecado], há entre vós muitos fracos e doentes e muitos que morrem” (1ª Co 11.30). Tiago aconselha: “Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros, para que sareis...” (Tg 5.16). Davi pôs em prática isso e clamou ao Senhor: “… Tem piedade de mim; sara a minha alma, porque pequei contra ti” (Sl 41.4).

3. Consequências físicas. O pecado também traz consequências no corpo do pecador (Sl 38.3-9). Tanto Davi como Bate-Seba estavam cientes das implicações de seu erro (Lv 20.10). Após pecar Davi ouviu um dos mais duros julgamentos pronunciados pelo profeta Natã (2º Sm 12.10-14). O julgamento atingia não somente sua vida física, mas também incluiria seu reino e sua família (2º Sm 12.18). A sentença que Davi pronunciou tinha base na Lei (Êx 22.1), e isso mesmo ele experimentou na pele, pois ele sentenciou que o homem da parábola, que tomou a ovelha do outro deveria pagar quatro vezes mais: “… tornará a dar o quadruplicado, porque fez tal coisa...” (2º Sm 12.6). Davi tirou a vida de Urias, e pagou quatro vezes mais por isso:
2.1. O filho que nascera daquele adultério morreu (2º Sm 12.14).
2.2. Amnom foi assassinado por Absalão (2º Sm 13.28,29).
2.3. Absalão foi morto por ter-se rebelado contra o pai (2º Sm 18.9-17).
2.4. Adonias também foi morto à espada (1º Rs 2.24,25).

4. Consequências interpessoais. Os efeitos danosos do pecado levam sofrimentos tanto ao que pecou como a muitas outras pessoas inocentes, e as vezes termina desfazendo grandes amizades. Bate-Seba a mulher de Urias era filha de Eliã e neta de Aitofel, e ambos estes homens faziam parte dos “valentes de Davi”, os súditos leais do rei. No livro de 2 Samuel, capítulo 23, a partir do versículo 24, começa a listagem dos grandes guerreiros de Davi, e ali três nomes se destacam: Eliã, Aitofel e Urias (2º Sm 23.34,39). Aitofel, avô de Bate-Seba, era o grande conselheiro de Davi que, mais tarde, como num ato de vingança, aconselhou Absalão a possuir as mulheres do rei publicamente (2º Sm 16.20-23). Os laços de amizade e lealdade deveriam ter servido de freio ao desejo insano do rei, porém isso não aconteceu infelizmente.

IV. FASES PARA CONSUMAÇÃO DO PECADO

1. A atração. “…e viu do terraço a uma mulher que estava se banhando” (2º Sm 11.2).
- O primeiro passo para o pecado é a atração: “Mas cada um é tentado, quando atraído” (Tg 1.14-a). A palavra “atração” significa: “sedução, sentimento de interesse, curiosidade” (HOUAISS, 2001, p. 338). Isto significa dizer que jamais seremos tentados por aquilo que não nos sentimos atraídos (Gn 25.29,30,34; 39.7-9; Jz 14.1,3). A Bíblia nos exorta a resistir aos desejos carnais “deixando-os” (Hb 12.1); “negando-os” (Mt 16.24); “mortificando-os” (Cl 3.5); e, se preciso for, “fugindo” deles (2ª Tm 2.22).

2. O engodo. “E mandou Davi perguntar quem era aquela mulher ...” (2º Sm 11.3).
- A segunda coisa destacada pelo apóstolo Tiago é o engodo (Tg 1.14-b). A expressão “engodo” quer dizer: “isca usada para atrair animais; chamariz” (HOUAISS, 2001, p. 1149). O simbolismo, talvez seja o da pesca (CHAMPLIN, 2004, p. 23). Da mesma forma, o homem é atraído por algo que desperta a sua concupiscência. O diabo é especialista em colocar a isca (Gn 3.6; 9.20,21; 2º Sm 11.2; Mt 26.15; Jo 12.6; At 4.35-37; 5.1-10; 2ª Tm 4.10).

3. A concepção. “… e mandou trazê-la ...” (2º Sm 11.4-b).
- A terceira fase é a concepção (Tg 1.15-a). Esta fase é bastante perigosa, pois aproxima o homem da queda que é o próximo passo. O verbo “conceber” quer dizer: “ser fecundado por, engravidar, gerar, acalentar” (HOUAISS, 2001, p. 1149). Todos somos tentados diariamente por coisas que se colocam na nossa frente. Diante disto, podemos renunciar ou permitir que este desejo seja alimentado em nosso interior. Devemos com a ajuda da graça (2Tm 2.1) e do poder de Deus (Ef 6.10), resistir aos apelos dos nossos maiores inimigos: a carne (Rm 7.18), o mundo (1Jo 2.15) e o diabo (Tg 4.7).

4. A consumação. “Após ter-se deitado com Davi, Bate-Seba achou-se grávida” (2º Sm 11.4-5).
- O verbo “consumar” quer dizer: “levar a termo; concluir, rematar; cometer, praticar” (HOUAISS, 2001, p. 815). O resultado da consumação do pecado é a morte: “[…] o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1.15-b). Foi o que foi dito ao primeiro casal (Gn 2.17), e o que eles receberam pela desobediência (Rm 5.12; 6.23). Essa morte é essencialmente espiritual, mas pode também ser física (At 5.5,10; 1ª Co 11.30) e eterna (1ª Co 6.10; Gl 5.19-21; Ap 22.15), senão houver arrependimento sincero e abandono do pecado (Pv 28.13).

CONCLUSÃO.
A maneira correta de lidarmos com nosso pecado é nos arrependermos dele e, com toda a sinceridade, buscarmos em Deus o perdão, a graça e a misericórdia (Sl 51; Hb 4.16; 7.25), e nos dispormos a aceitar, sem amargura nem rebelião, a disciplina divina pelo nosso pecado. Davi tanto reconheceu quanto confessou seus pecados, voltou-se para o Senhor, e aceitou a repreensão com humildade (Sl 12.9-13,20; 16.5-12; 24.10-25; Sl 51).

FONTE DE PESQUISA

1.       BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, R.C. CPAD.
2.       BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, Revista e Corrigida, S.B. do Brasil.
3.       BÍBLIA PENTECOSTAL, Trad. João F. de Almeida, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
4.       BÍBLIA SHEDD, Trad. João F. de Almeida RA.
5.       CLAUDIONOR CORRÊADE ANDRA, Dicionário Teológico, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
6.       CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
7.       GOMES Osiel, Lição 11: As Consequências do Pecado de Davi, EBD 4 ° Trimestre De 2019, CPAD RJ.
8.        HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
9.        STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.