TEOLOGIA EM FOCO

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

ENTRE A PÁSCOA E O PENTECOSTES



Êx 34.18-29: “A Festa dos Pães Asmos guardarás; sete dias comerás pães asmos, como te tenho ordenado, ao tempo apontado do mês de abibe; porque no mês de abibe saíste do Egito. 19 Tudo o que abre a madre meu é; até todo o teu gado, que seja macho, abrindo a madre de vacas e de ovelhas; 20 o burro, porém, que abrir a madre, resgatarás com um cordeiro; mas, se o não resgatares, cortar-lhe-ás a cabeça; todo primogênito de teus filhos resgatarás. E ninguém aparecerá vazio diante de mim. 21 Seis dias trabalharás, mas, ao sétimo dia, descansarás; na aradura e na sega descansarás. 22 Também guardarás a Festa das Semanas, que é a Festa das Primícias da sega do trigo, e a Festa da Colheita no fim do ano. 23 Três vezes no ano, todo macho entre ti aparecerá perante o Senhor Jeová, Deus de Israel; 24 porque eu lançarei as nações de diante de ti e alargarei o teu termo; ninguém cobiçará a tua terra, quando subires para aparecer três vezes no ano diante do SENHOR, teu Deus. 25 Não sacrificarás o sangue do meu sacrifício com pão levedado, nem o sacrifício da Festa da Páscoa ficará da noite para a manhã. 26 As primícias dos primeiros frutos da tua terra trarás é casa do SENHOR, teu Deus; não cozerás o cabrito no leite de sua mãe. 27 Disse mais o SENHOR a Moisés: Escreve estas palavras; porque, conforme o teor destas palavras, tenho feito concerto contigo e com Israel. 28 E esteve Moisés ali com o SENHOR quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão, nem bebeu água, e escreveu nas tábuas as palavras do concerto, os dez mandamentos. 29 E aconteceu que, descendo Moisés do monte Sinai (e Moisés trazia as duas tábuas do Testemunho em sua mão, quando desceu do monte), Moisés não sabia que a pele do seu rosto resplandecia, depois que o SENHOR falara com ele.”

INTRODUÇÃO. Nesta lição, veremos informações sobre a Festa da Páscoa como o seu nome, sua data, seus participantes bem como os elementos desta cerimônia judaica e sua aplicabilidade para a Igreja hoje. Estudaremos também sobre a quarta festa de Israel que é Pentecostes onde pontuaremos informações sobre o seu nome, o seu objetivo, e a sua comemoração para o povo judeu com sua correlação com a noiva de Cristo.

I. A FESTA DA PÁSCOA
1. O nome da festa. A palavra portuguesa “Páscoa” é usada para designar a festa dos judeus que, no hebraico, é chamada “Pêssach”, que significa: “saltar por cima”, ou “passar por sobre”. Esse nome surgiu em face do registro bíblico de que o anjo da morte, ou anjo destruidor, passou por sobre as casas marcadas com o sangue do cordeiro pascal, e matou os primogênitos do Egito: “E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu ferir a terra do Egito” (Êx 12.23 ver Dt 6.20-25).

2. A data da festa. O nome hebraico do mês que aconteceu a primeira Páscoa foi em Abibe, que significa “espigas verdes”.
Corresponde à Março-Abril em nosso calendário. Durante o Exílio babilônico foi substituído pelo nome Nissã que significa “começo, abertura” (Ne 2.1). Ainda hoje o ano civil começa no outono, com a Festa das Trombetas (Lv 23.24; Nm. 29.1), chamado “Rosh hashanah” que significa “cabeça do ano”, “ponta do ano”, ou “início novo” (ano novo).

3. Os participantes da festa. O registro bíblico nos mostra que a Páscoa era uma cerimônia familiar: “Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada família” (Êx 12.3). Quando a família fosse pequena demais deveria unir-se a outra. De acordo com a tradição judaica, a expressão “pequena demais” significava com menos de dez pessoas. Eles deviam calcular quanto cada um poderia comer e assim determinar se deviam se reunir com alguma outra família (Êx 12.4). O estrangeiro também poderia participar desde que fosse circuncidado (Êx 12.43-49).

4. Os elementos da festa. Os participantes da Páscoa deveriam ter os lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão.
Conforme o registro bíblico, a festa da Páscoa deveria ser preparada com os seguintes elementos: um cordeiro ou cabrito, pães asmos, ervas amargas e o sangue do cordeiro que deveria ser aplicado na verga e nos umbrais da porta. Cada um dos componentes desta celebração tinha um sentido literal e espiritual (Êx 12.24-27).

ELEMENTOS EXIGÊNCIAS PARA A FESTA DA PÁSCOA TIPOLOGIA

Cordeiro. Este animal deveria ser: macho, de um ano, e sem mancha (Êx 12.5). Os hebreus deveriam avaliar o cordeiro durante quatro dias (Êx 12.3,6).
Este cordeiro substituiria o primogênito de cada família dos hebreus (Êx 12.12,13) e dos animais (Êx13.1,2,12-15 ver Mt 27.45-50).

Sangue. Os hebreus deveriam sacrificar o cordeiro no décimo quarto dia no período da tarde (Êx 12.6) e colocar o sangue na verga e nos umbrais da porta (Êx 12.7).

O sangue no umbral e nas vergas das portas serviria como sinal para livramento (Êx 12.12,13). O Sangue representa a expiação (Hb 9.22; 11.28).

Pães asmos. Os pães asmos é um pão assado sem fermento e feito somente de farinha de trigo e água (Êx 12.8).

A farinha amassada sem ter recebido o fermento simboliza pureza (Mt 16.11; Mc 8.15).

Ervas amargas. A tradição judaica menciona alface, escarola, chicória, hortelã e dente-de-leão (Êx 12.8).
As ervas amargas deveriam ser comidos para recordar a opressão do Egito (Êx 1.14; 12.8).

II. APLICABILIDADE DA FESTA DA PÁSCOA PARA A IGREJA
Embora a celebração da festa da Páscoa seja uma ordenança divina para aos judeus (Êx 12; Nm 9.2,4; Dt 16), ela tem um profundo significado para o cristão por representar a obra de Cristo para a nossa redenção, pois as festas de Israel eram “sombras das coisas futuras (Cl 2.17). Observemos algumas similaridades entre a Páscoa e Cristo:

1. O significado profético da páscoa. Assim como um cordeiro foi sacrificado no dia da páscoa para a libertação dos judeus no Egito, Cristo foi sacrificado para a libertação dos nossos pecados:
“Ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21); “…pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados” (Ap 1.5); “Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado” (1ª Co 5.7). Há uma perfeita identificação entre o pecado do crente e a oferta pelo pecado (Jo 3.14 ver Jo 1.29).

2. O poder profético do sacrifício de Cristo. Este era o método usado por Deus, desde os tempos de Adão, para perdoar os pecados:
2.1. O sangue deveria ser derramado: “Porque a vida da carne está no sangue” (Lv 17.11). “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez (oferta pelo) pecado por nós” (2ª Co 5.21). Por isso: “Sem derramamento de sangue não há remissão de pecados” (Hb 9.22). No tempo do AT o sangue dos animais apenas cobria os pecados, no NT o sangue de Cristo tira o pecado do mundo (Jo 1.29; Hb 10.10-12).

Vejamos alguns detalhes do cordeiro pascoal e Cristo:

A PÁSCOA JUDAICA JESUS CRISTO

A perfeição do cordeiro (Êx 12.5).
Jesus é comparado a um cordeiro (Is 53.4; Jo 1.29; At 8.32-35). O Messias nasceu e viveu uma vida imaculada e irrepreensível (1ª Pd 1.19; 2.22; Hb 7.26).

O exame do cordeiro (Êx 12.3,6).
Jesus foi examinado pelos religiosos (Mt 22 15-46); pelo sumo sacerdote (Jo 18.29), por Herodes (Lc 23.7-11), por Pilatos (Jo 18.28; 19.4,6), e pelo soldado ao pé da cruz (Lc 23.47).

O sacrifício do cordeiro (Êx 12.6,23; 12.8).
Jesus foi morto pelos judeus (Mc 15.11-14; At 2.23,36); e o seu sangue foi derramado para livrar a todos os homens da ira divina (Rm 3.25; 5.1; 1ª Ts 1.10).

III. A FESTA DE PENTECOSTES
Das sete festas comemoradas por Israel, três eram realizadas no primeiro mês (Abibe) do calendário judaico: Festa da páscoa (Êx 12.5; Lv 23.4-5; Dt 16.1); Festa dos pães asmos (Êx 12.8,18; 13.7; Lv 23.6-8); e, Festa das primícias (Lv 23.9-14).
A celebração destas três festas é realizada entre os dias 14 e 22 do primeiro mês. A festa da páscoa (14 de Abibe) é um dia antes dos pães asmos (15 de Abibe) e dois dias antes das Primícias (16 de Abibe) (Lv 23.4-6). A Festa dos Pães Asmos era a continuação da Festa Páscoa (Lc 22.1) e durante essas duas, ainda tinha entre elas a Festa das Primícias. As três últimas festas eram realizadas no sétimo mês (Tishrei): Festa das trombetas (Lv 23.23-25); Festa do dia da expiação (Lv 23.26-32); e, Festa dos tabernáculos (Lv 23.33-44) e uma festa era realizada “no meio” (no mês de Sivan) que é a Festa de pentecostes (Lv 23.15-22) onde é celebrada durante sete semanas (49 dias) contadas a partir do primeiro dia depois da “páscoa”, ou seja, no 50º dia. Era uma festa abrangente sem acepção de grau parentesco, raça, nação, idade, sexo ou statos social (Dt 16.9-11,14).

1. O nome da festa. Esta festa é chamada “shavuot” que quer dizer “semanas” (Dt 16.16). Esta festividade possui alguns nomes diferentes:
1.1. Festa das semanas que se refere a sete semanas após a oferta das primícias (Êx 34.22; Dt 16.10; 2ª Cr 8.13).

1.2. Festa da colheita referindo-se à conclusão das colheitas de grãos (Êx 23.16), e por fim,
1.3. Festa de pentecostes referindo-se ao período de cinquenta dias após a oferta das primícias que acontecia junto com a festa dos pães asmos (Lv 23.16-18).

2. O objetivo da festa. A festa de pentecoste era uma festa basicamente agrícola que era celebrada no fim da primavera, quando a nova colheita de trigo era colhida (Êx 23.14-16). Como podemos ver, esta festa segue o mesmo princípio da Festa das Primícias que é o de agradecer a Deus por tudo que Ele tem providenciado, reconhecendo a sua bênção (Dt 16.10).

3. A comemoração da festa. A Bíblia nos mostra que no dia da festa todas as atividades normais deviam ser suspensas a fim de que o povo se reunisse para uma “santa convocação” (Lv 23.21). Além do caráter de agradecimento, a festa tinha um propósito caridoso, pois as necessidades dos pobres e estrangeiros também deveriam ser lembradas nessa ocasião (Lv 23.22).

IV. APLICABILIDADE DA FESTA DE PENTECOSTES PARA A IGREJA
Jesus foi sacrificado durante a Festa da Páscoa (Mt 26.2; Mt 27.15), foi sepultado durante a Festa dos pães asmos (Mt 26.17; Mc 14.1,12; Lc 22.1), ressuscitou na Festa das Primícias (Mc 5.16), e cinquenta dias depois, no dia da Festa de Pentecostes, veio o derramar do Espírito Santo sobre os discípulos (At 2.1-4 ver Jl 2.28,29).

1. O alcance da festa. Pentecostes fala de uma promessa:
1.1. Segura “derramarei o meu Espírito” (Lc 24.49; At 1.4; 2.17).
1.2. Abundante “sobre toda a carne” (At 2.4,39; 10.44).
1.3. Abrangente pois ela quebra toda acepção racial: “toda a carne”, sexual: “filhos e filhas”, etária: “jovens e velhos”, e social: “servos e servas” (Jl 2.28,29).
1.4. Atual “Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar” (At 2.39). Um dos propósitos desta festa era também a aproximação de todos que estavam distantes: “Todos reunidos no mesmo lugar” (At 2.1); “Todos foram cheios do Espírito Santo” (At 2.4); “Todos os que estão longe; tantos quanto…” (At 2.39); e “Todos os que criam estavam juntos” (At 2.44).

2. A abrangência da festa. Na Festa das Primícias era movido perante o Senhor um molho (feixe) de espigas de trigo (Lv 23.9-11), já na Festa de Pentecostes eram movidos perante o Senhor dois pães de trigo (Lv 23.15-17). Isso falava da Igreja, que seria formada de judeus e gentios, formando, assim, um só corpo (Ef 2.14; Jo 11.52). O feixe de espigas fala da união, mas os pães vão além, pois eles falam de unidade (Ef 4.3). Em um feixe de espigas, os grãos estão simplesmente presos às espigas, porém isolados uns dos outros, mas, em um pão é diferente: o trigo é o mesmo, mas os grãos passaram por um multiforme processo e formam agora um todo, um corpo único. O derramamento pentecostal fez isso na formação da Igreja em Atos 2.

3. A colheita da festa. Após sua ressurreição Jesus ficou na terra por 40 dias quando foi ascendido ao céu e dez dias depois na Festa de Pentecostes, no 50º dia depois da páscoa, cumpriu-se a promessa do “derramamento do Espírito Santo” (Jl 2.28,29; At 1.4,5; 2.1), e durante a festa de Pentecostes os discípulos ficaram cheios do Espírito Santo (do hebraico “Ruah Kadosh” e do grego “Hagios Pneumathos”) e logo após, os apóstolos colheram os primeiros frutos de (At 2.37-41).

CONCLUSÃO. Concluímos que assim como a Festa da Páscoa para o judeu lembra o livramento físico da escravidão do Egito, para os cristãos existe uma recordação do livramento espiritual do reino das trevas, e assim como a Festa de Pentecostes para Israel era para entregar ao Senhor os primeiros frutos da colheita, para a igreja fala também da primeira “colheita” com a conversão dos gentios e do derramamento do Espírito Santo.

FONTE DE PESQUISA
1. Andrade Claudionor de, Lições bíblicas. 3 Trimestre 2018. CPAD.
2. MCMURTRY, Grady Shannon. As Festas Judaicas do Antigo Testamento. ADSantos.
2. HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
3. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
4. SITTEMA, John. Encontrei Jesus Numa Festa de Israel. Mundo Cristão.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

AS ORAÇÕES DOS SANTOS NO ALTAR DE OURO



LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Levítico 16.12,13; Apocalipse 5.6-10

Lv 16.12: “Tomará também o incensário cheio de brasas de fogo do altar, de diante do SENHOR, e os seus punhos cheios de incenso aromático moído e o meterá dentro do véu. 13 E porá o incenso sobre o fogo, perante o SENHOR, e a nuvem do incenso cobrirá o propiciatório, que está sobre o Testemunho, para que não morra.”
Ap 5.6: “E olhei, e eis que estava no meio do trono e dos quatro animais viventes e entre os anciãos um Cordeiro, como havendo sido morto, e tinha sete pontas e sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados a toda a terra. 7 E veio e tomou o livro da destra do que estava assentado no trono. 8 E, havendo tomado o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo todos eles harpas e salvas de ouro cheias de incenso, que são as oraões dos santos. 9 E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és de tomar o livro e de abrir os seus selos, porque foste morto e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação; 10 e para o nosso Deus os fizeste reis e sacerdotes; e eles reinarão sobre a terra.”

INTRODUÇÃO. Nesta lição falaremos de um dos móveis que estava no lugar santo do tabernáculo: o altar de incenso. Destacaremos detalhes a respeito deste utensílio e sua finalidade; trataremos ainda sobre o incenso e o seu devido uso; por fim, finalizaremos mostrando que há um altar de incenso no céu, para onde vão as orações dos santos.

- No Antigo Testamento, o incenso era a oferenda mais preciosa e excelente que se podia oferecer ao Senhor. Ali, no limiar do lugar Santíssimo, o sacerdote entrava, com temor e tremor, para adorar a Deus com um incenso preparado exclusivamente àquela ocasião.

- Hoje, o sacrifício mais sublime que devemos oferecer ao Senhor são as orações, súplicas e ação de graças. Por esse motivo, o Senhor Jesus recomenda-nos a entrar em nosso quarto, fechar a porta, e, no segredo de nossos aposentos, oferecer clamores e ação de graças ao Pai Celeste (Mt 6.6-13).

I. O ALTAR DE OURO: UM IMPORTANTE UTENSÍLIO DO TABERNÁCULO

Deus revelou como deveria ser o tabernáculo com os seus móveis a Moisés no monte (Êx 25.9,40; 26.30). No entanto, para fabricação destes móveis, Deus capacitou, pelo Espírito Santo, a Bezalel e a Aoliabe (Êx 31.1-6). Um destes móveis construídos foi o altar de incenso (Êx 30.1). Abaixo destacaremos especificamente algumas coisas a respeito do altar de ouro. Vejamos:


1. O Lugar Santo.
No Lugar Santo, ficavam três mobílias: o candelabro, à esquerda de quem entrava; a mesa dos pães da proposição, à direita; e, no limiar, entre o Lugar Santo e o Santíssimo, bem em frente ao véu que os separava, estava o altar do incenso (Êx 26.35).

Há algo muito importante que devemos considerar. Embora o altar de incenso estivesse no Lugar Santo, era considerado também parte da mobília do Santo dos Santos juntamente com a arca da aliança (Hb 9.1-10).

2. O altar do incenso.
Deus mostrou a Moisés que este altar deveria ser:
1.1. De madeira de acácia (Êx 30.1).
1.2. Com um formato “quadrado” ou “quadrangular” e precisas medidas que equivalem a “45 cm de largura e 90 cm de altura” (Êx 30.2).
1.3. Forrado de “ouro puro” completamente (Êx 30.3).
1.4. Deveria ter “quatro pontas”, uma em cada canto (Êx 30.2).
1.5. Duas argolas nos cantos, para receber os varais e ser transportado junto com o tabernáculo, quando necessário (Êx 30.4; 37.25-27).
1.6. Uma moldura (coroa) desenhada a volta do altar e abaixo desta (Êx 30.3-b).

3. Localização (Êx 30.6). Diferente do altar do holocausto que ficava no pátio do tabernáculo, o altar de incenso ficava no interior deste, precisamente no “lugar santo”, em frente ao véu que dava acesso ao santíssimo lugar: “E o porás diante do véu que está diante da arca do testemunho, diante do propiciatório […]” (Êx 30.6). O altar do incenso relacionava-se mais estreitamente com o lugar santíssimo do que com os demais móveis do lugar santo. É descrito como o altar “que está perante a face do Senhor” (Lv 4.18). A localização deste utensílio era tão próxima do Lugar Santíssimo, que fez o escritor aos hebreus considerá-lo como pertencente a este (Hb 9.3,4).

4. A cerimônia.
O incenso só podia ser queimado com as brasas do altar de bronze (Lv 16.12). E, já de posse destas, o sacerdote aproximava-se do altar de ouro para queimar o incenso no altar de ouro. Dessa forma, a nuvem do incenso cobria o propiciatório, mostrando à Casa de Israel o favor divino (Lv 16.13).

Observemos que, antes de achegar-se ao altar de ouro, o sacerdote tinha de passar, necessariamente, pelo altar de bronze. Isso significa que, sem o sangue de Cristo, jamais teremos acesso ao trono da graça (Hb 9.12).

5. Finalidade (Êx 30.7-10). O altar de ouro foi construído para que unicamente nele se queimasse incenso ao Senhor (Êx 30.7,8). Neste, não poderia ser oferecido incenso estranho nem ofertas de sangue, nem libações (Êx 30.9). Somente uma vez no ano, o altar do incenso era purificado com sangue de um sacrifício oferecido no altar do holocausto (Êx 30.10). Os sacerdotes tinham acesso ao altar de ouro para oferecer incenso no tempo aprazado (Êx 30.7,8). Era neste altar que Deus se encontrava particularmente com a pessoa que, dia a dia, oferecia o incenso (Êx 30.6-b).

II. O INCENSO SAGRADO PARA SER QUEIMADO NO ALTAR DE OURO
O incenso era feito de uma substância aromática que, quando era queimada, exalava um odor agradável. Abaixo destacaremos alguns detalhes sobre o incenso. Notemos:

1. Quem podia oferecer o incenso (Lv 2.2). Somente os sacerdotes estavam habilitados para a queima do incenso na presença do Senhor (Êx 30.7,8). Com a multiplicação do número de sacerdotes, havia uma escala para a queima do incenso (Lc 1.9-a). Quando o rei Uzias intentou queimar incenso, assumindo a função sacerdotal, foi ferido com lepra pelo Senhor (2 Cr 26.19). Aqueles que tentaram usurpar a função sacerdotal da oferenda de incenso foram punidos com a morte, como o caso de Corá, Datã e Abirão (Nm 16.31-33), ou com doenças, como Uzias (2Cr 26.19), e até mesmo os sacerdotes que ofereceram incenso indevidamente foram mortos (Lv 10.1,2). Enquanto o sacerdote entrava no Lugar Santo para queimar o incenso, o povo ficava do lado de fora do tabernáculo ou do templo em oração (Lc 1.9-b).

2. O tempo da queima do incenso (Êx 30.7,8). Haviam tarefas diárias no tabernáculo para o sacerdote, e uma delas era a queima do incenso, que deveria ocorrer pela manhã (Êx 30.7), e novamente à tarde (Êx 30.8). No Dia da Expiação, o sumo sacerdote oferecia o incenso composto em um incensário sobre a Arca (Lv 16.12,13).

3. A composição do incenso (Êx 30.34-36). O incenso destinado ao altar de ouro não podia ser usado indistintamente; era de uso exclusivo do Senhor (Êx 30.38). O incenso que era oferecido ao Senhor era composto de ingredientes especiais, a saber: “estoraque, e onicha, e gálbano” (Êx 30.34). Estas especiarias aromáticas deviam ser moídas junto com incenso para ser queimado no altar de ouro, coisa santíssima era (Êx 30.36). A receita do perfume não constituía nenhum segredo. Todavia, se alguém o reproduzisse para uso profano seria punido severamente.

4. Advertências acerca do incenso (Êx 30.37,38). O povo de Israel, foi orientado a não reproduzir o incenso do culto levítico, pois este era santo, ou seja, separado exclusivamente para o Senhor (Êx 30.37), e aquele que tentasse fabricar essa especiaria para cheirar, deveria receber como punição a morte: “o homem que fizer tal como este para cheirar, será extirpado do seu povo” (Êx 30.38). Outra forma condenável de queimar incenso também era quando o povo o fazia a outros deuses e não ao Senhor (Jr 44.5,8,15,17; Os 2.13).

IV. O ALTAR DE OURO E O INCENSO E SUA APLICAÇÃO PARA A IGREJA
Quando Deus ordenou a Moisés que construísse o tabernáculo conforme o modelo que lhe foi mostrado no monte (Êx 25.9,40; 26.30), o escritor aos hebreus disse que o tabernáculo terrestre é uma figura do tabernáculo celeste (Hb 8.5). O apóstolo João confirmou essa interpretação, no livro do Apocalipse, quando foi arrebatado ao céu viu um altar de incenso perante o Senhor: “E veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para o pôr com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro, que está diante do trono” (Ap 8.3). Tradicionalmente, o incenso é o símbolo da oração, do louvor (Lv 16.12,13; Sl 141.2; Lc 1.9,10). Como o incenso é colocado no altar pelo homem, e ao queimar, sobe até Deus. Da mesma forma, nossas orações começam em nosso coração e ascendem aos céus até Deus. Abaixo destacaremos algumas aplicações sobre o incenso na vida cristã:

1. Quem pode oferecer o incenso. Na Antiga Aliança apenas os descendentes de Arão estavam habilitados para a queima do incenso na presença do Senhor (Êx 30.7,8; Lv 1.9). Na Nova Aliança a igreja é chamada de “o sacerdócio real […]” (1ª Pd 2.9). E, cada crente foi feito sacerdote (Ap 1.6; 5.10). Portanto, podemos entrar na presença de Deus para lhe oferecer incenso que é o louvor e a oração que sobem a Sua presença como cheiro suave (Sl 141.2).

2. O tempo da queima do incenso. O incenso deveria ser queimado pela manhã pela tarde (Êx 30.8). Isso nos ensina que a oração deve ser uma prática diária, sem cessar (Lc 18.1; Rm 12.12; Ef 6.18; Cl 4.2; 1 Ts 5.17).

3. A composição do incenso. Cada uma das especiarias que compunha o incenso sagrado (Êx 30.34-35) nos transmite verdades espirituais acerca da adoração e da oração. Vejamos:

3.1. O estoraque. O estoraque era uma resina extraída sem precisar fazer incisão, ou seja, um corte. Ela brotava do arbusto espontaneamente.
Aplicação: A adoração, a oração e o louvor que prestamos a Deus deve ser voluntário e não forçado (Sl 54.6; 119.108).

3.2. A onica ou onicha. Uma substância extraída de certos tipos de moluscos, e que emite um aroma forte e penetrante, quando queimado. O mar Vermelho exibe várias espécies desse molusco.
Aplicação: A adoração, a oração e o louvor não podem ser superficiais (Is 29.13; Jl 2.13), mas devem partir do mais profundo da nossa alma (Sl 42.1; 103.1,2; 130.1).

3.3. O gálbano. O gálbano é um arbusto do deserto. Para ser extraído suas folhas deviam ser moídas e quebradas.
Aplicação: A adoração, a oração e o louvor deve brotar de um coração quebrantado e contrito (Sl 34.18; 51.17).

4. Advertências acerca do incenso. As restrições quanto ao uso do incenso sagrado nos transmite as seguintes lições:

4.1. Não podemos adorar a nós mesmos. A palavra “autolatria” é formada por dois vocábulos gregos: “autos”, que significa “a si mesmo” e “latria”, que quer dizer “adoração”. Logo, “autolatria” significa “adoração a si próprio”. Esse tipo de idolatria também é conhecida como “egolatria”. Encontramos alguns exemplos na Bíblia, tais como: Lúcifer (Ez 28.11-19; Is 14.12-14), o rei Nabucodonosor (Dn 4.29,30; 5.5.18-21) e Herodes (At 12.21-23).

4.2. Não podemos adorar a ídolos. No Decálogo, os dois primeiros mandamentos são contrários diretamente à idolatria (Êx 20.3,4; Dt 5.6-8). Esta ordem foi repetida em outras ocasiões (Êx 23.13,24; 34.14-17; Dt 4.23,24; 6.14; Js 23.7; Jz 6.10; 2º Rs 17.35,37,38). O Senhor Deus ordenou também a destruição dos ídolos das nações que habitavam na terra de Canaã (Êx 23.24; 34.13; Dt 7.4,5; 12.2,3). A Palavra de Deus nos revela que quem oferece sacrifícios aos ídolos, oferece aos demônios (Lv 17.7; Dt 32.17; 2º Cr 11.15; Sl 106.37; 1ª Co 10.20,21).

4.3. O louvor e a adoração pertencem unicamente ao Senhor. O louvor como forma de adoração deve ser prestado unicamente a Deus (Lv 22.29; Dt 10.21; Sl 150.6; Is 42.8). A Bíblia aponta diversos motivos devemos louvar ao Senhor. Vejamos alguns:

(a) Sua majestade (Sl 96.1,6).
(b) Sua glória (Sl 138.5).
(c) Sua excelência (Sl 148.13).
(d) Sua grandeza (Sl 145.3).
(e) Sua bondade e Suas maravilhas (Sl 107.8).
(f) Sua fidelidade (Sl 89.1).
(g) Sua longanimidade e veracidade (Sl 138.2).
(h) Sua salvação (Sl 18.46).
(i) Suas maravilhosas obras (Sl 89,5).
(j) Suas consolações (Sl 42.5).
(l) Seus juízos (Sl 101.1).
(m) Seus conselhos eternos (Sl 16.7).
(n) Sua proteção (Sl 71.6).
(o) Seu livramento (Sl 40.1-3).
(p) Porque Ele é digno (Sl 145.3).
(q) por sua resposta às orações (Sl 28.6).
(r) porque Ele perdoa pecados (Sl 103.1-3).
(s) Porque Ele é bom (Sl 106.1).
(t) porque é bom louvar ao Senhor (Sl 92.1).

V. AS ORAÇÕES DOS SANTOS
As orações dos santos, qual incenso precioso, são inimitáveis em seus efeitos. Eis por que não podemos relaxar quanto à nossa comunhão com Deus.

1. A receita para uma oração perfeita: nosso incenso.
O Senhor Jesus, no Sermão da Montanha, entregou a seus discípulos o modelo de uma oração perfeita (Mt 6.9-13). Ele exorta-nos também a não imitarmos os gentios e hipócritas, pois estes imaginam que, pelo seu muito falar, serão ouvidos (Mt 6.7).

Portanto, fechemo-nos em nosso quarto, e, ali, no lugar santíssimo, falemos com o Pai Celeste (Mt 6.5,6). E, dessa forma, entraremos com ousadia e confiança no trono da graça (Hb 4.16). Pode haver incenso mais excelente do que a oração dos santos? Além do mais, todas as nossas súplicas chegarão aos céus por intermédio do Espírito Santo, que intercede por nós com gemidos inexprimíveis (Rm 8.26).
Nossas orações sobem a presença de Deus e são depositadas na presença de Deus como incenso. Tal verdade deve nos motivar a buscarmos intensamente ao Senhor, pois Ele está atento às orações dos santos.

2. A oração como sacrifício ao Senhor.
O salmista, conhecendo perfeitamente a simbologia do incenso sagrado, assim orou ao Senhor: “Suba a minha oração perante a tua face como incenso, e seja o levantar das minhas mãos como o sacrifício da tarde” (Sl 141.2). Quando nos dedicamos integralmente ao Senhor, toda a nossa vida torna-se uma oferenda a Deus (Ef 5.2; Fp 2.17; 2ª Tm 4.6).

3. A oração dos santos na Grande Tribulação.
No período da Grande Tribulação, logo após o Arrebatamento da Igreja, haverá um grande número de mártires (Ap 9.9-17). Todos estes, apesar da perseguição do Anticristo, atuarão como fiéis testemunhas de Jesus Cristo. As orações desses santos serão recebidas nos céus como incenso de grande valor (Ap 5.8; 8.3).
Ninguém pode deter o poder de um santo que, no oculto de seu quarto, roga a intervenção do Santo dos Santos (Tg 5.16). Irmãos, “Orai sem cessar” (1ª Ts 5.17).

CONCLUSÃO. Zacarias, pai de João Batista, ao ser escolhido para queimar o incenso sagrado na Casa de Deus, teve uma experiência que retrata ricamente por que o incenso, na Bíblia, simboliza a oração dos santos. Foi ali, no lugar Santíssimo, se levarmos em consideração Hebreus 9.2, que teve a sua oração respondida (Lc 1.5-23). Sua experiência com o Senhor foi completa. Ele viu o anjo, ouviu deste o anúncio profético sobre a vinda do Messias, e, finalmente, sua velhice foi consolada com a promessa de um filho, que seria o precursor do Filho de Deus.

FONTE DE PESQUISA.
1. ALMEIDA, Abraão de. O tabernáculo e a igreja. CPAD.
2. ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico.
3. ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Lições Bíblicas 3° trimestre de 2018, Adultos – CPAD.
CPAD.  CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia.
4. HAGNOS.  CONNER, Kevin J. Os segredos do Taberrnáculo de Moisés.
5. ATOS HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa.
6. OBJETIVA.  STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

domingo, 16 de setembro de 2018

A HISTÓRIA DE ISAQUE E ISMAEL



O plano de Sara

“Ora Sarai, mulher de Abrão, não lhe dava filhos, tendo, porém, uma serva Egípcia por nome Hagar.” (Gn 16.1).

A partir dessa frase inicial, pode-se supor que, uma vez que Hagar aparece pela primeira vez dentro do contexto da esterilidade de Sara, a moça terá algo a ver com gravidez. Não sabemos nada sobre a vida de Hagar antes da famosa sugestão de Sara ao marido —mas sabemos que essa moça—, serva Egípcia de Sara, não apenas deu à luz o filho primogênito de Abraão, mas foi tão especial aos olhos do Senhor que ela se tornou a única mulher na Torá a quem Ele se dirigiu duas vezes.

Todos nós conhecemos a história. Disse Sarai a Abrão: “Eis que o Senhor me tem impedido de dar à luz filhos, toma, pois, a minha serva e assim me edificarei com filhos por meio dela. E Abrão anuiu ao conselho de Sarai”. (Gn 16.2).

Assim, Hagar tornou-se a primeira mulher desta família a conceber um filho. Ela se tornou um recipiente precioso que carregou o tesouro pelo qual Abraão esteve esperando por tantos anos. Não é de admirar que as posições tenham sido redefinidas nesse ponto; não admira que Sara, sua senhora, embora livre, poderosa e rica, já não parecesse tão elevada, porque nenhum poder, liberdade ou riqueza a tinham ajudado a fazer o que Hagar fez: conceber o filho de Abraão. Não é de admirar que sua patroa tenha ficado “mais leve” a seus olhos (a expressão literal em Hebraico). E à medida que a distância entre os status das mulheres começou a diminuir, a relação entre elas ficou cada vez mais tensa. Hagar decidiu fugir…

O anjo no deserto
Ela fugiu e achou-se no deserto - completamente sozinha no início e de repente alguém estava andando e conversando com ela. Encontrar alguém no deserto era bastante incomum, mas as primeiras palavras do estranho provaram a ela que esta não era um encontro ocasional e que ele não era um peregrino qualquer.

“E Ele disse: Hagar, serva de Sarai, donde vens? E para onde vais?” (Gn 16.8).

Quando lemos a Bíblia em Inglês, as letras maiúsculas facilitam muito; elas mostram claramente quando e onde o Senhor fala. Mas não há letras maiúsculas em Hebraico, por isso precisamos reconhecer e distinguir a voz de Deus pelo que Ele está dizendo, não por letras maiúsculas. Nossas vidas reais estão muito mais próximas do texto Hebraico: não há letras maiúsculas aqui; precisamos reconhecer a voz de Deus ou as ações de Deus sem sugestões e dicas adicionais. Hagar reconheceu o orador e, portanto, disse a Ele a plena verdade: “Fujo da presença de Sarai, minha senhora”. (Gn 16.8).

Então o anjo do Senhor disse a ela: “volta para a tua senhora, e humilha-te sob suas mãos”. Por favor, tirem um momento para pensar nesta resposta. Imaginem-se em meio a circunstâncias muito difíceis e, de repente, vocês recebem uma manifestação: Vocês encontram Aquele que realmente pode fazer qualquer coisa, pode mudar tudo. Vocês não esperariam que Ele os ajudasse a mudar suas circunstâncias? Hagar não pediu este encontro e não o procurou, mas desde que aconteceu, não poderia pelo menos tê-la ajudado um pouco? Por que Ele a manda de volta para a mesma aflição da qual ela está fugindo? Ele não prometeu boas mudanças; Ele não disse que Sara mudaria sua atitude e seria mais misericordiosa e compassiva, ou que a vida de Hagar se tornaria muito mais fácil agora. Ele não disse nada disso. Ele apenas disse: “Volta para tua senhora e humilha-te sob suas mãos”.

Além disso, há aqui um incrível jogo de palavras que está completamente perdido na tradução. Em Hebraico, o verbo que é traduzido como “humilhar” vem da mesma raiz que a palavra “aflito” no versículo 6: “Sarai a afligiu”. Em Inglês, é impossível formar essas duas palavras a partir de uma raiz, mas em Hebraico, é a mesma raiz, embora em diferentes formas: ativa e passiva. Isso torna o significado original ainda mais forte, como se o Senhor estivesse dizendo a Hagar: “Retorne a sua senhora e seja afligida”.

Quando estudamos o uso dessa raiz (‘anah – ענה ) nas Escrituras, a primeira impressão é que a palavra é sempre usada em um sentido negativo, designando apenas ações ruins:

“E quando Siquém, filho de Hamor a viu, e tomando-a, a possuiu, e assim a humilhou”. (Gn 34.2).

“Portanto, eles colocaram sobre eles os feitores de obras, para os afligirem”. (Êx 1.11).

“A nenhuma viúva nem órfão afligireis”. (Êx 22.22).

E, no entanto, não é preciso dizer que, se o Anjo do Senhor usou essa mesma palavra em Sua ordem para Hagar, isso não pode ser completamente negativo. De fato, encontramos ocorrências muito diferentes da mesma palavra referindo-se aos feitos de Deus:

“Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o Senhor teu Deus te guiou no deserto estes 40 anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos. Ele te humilhou… para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor, disso viverá o homem”. (Dt 8.2-3).

A partir dessa Escritura, vemos que, se e quando Deus é Aquele que está causando a aflição, o propósito de Sua ação é “humilhar e testar”.  Assim, não era sobre Hagar e Sara, ou o que Sara estava fazendo com Hagar - era sobre Deus e Hagar e o que Deus estava fazendo com Hagar através de Sara. Deus ordenou que Hagar retornasse para sua ama e se submetesse sob sua mão porque Ele queria humilhá-la e testá-la. Juntamente com Hagar, agora estamos começando a entender: não é sob a mão de Sara que ela deve se submeter; é sob a mão do Senhor.

A moça dá um nome ao Señor.
No entanto, antes de Hagar voltar, ela faz algo absolutamente único, algo que ninguém mais na Bíblia faz: ela dá um nome ao Senhor. Nós temos vários exemplos nas Escrituras onde um lugar foi designado de acordo com o que Deus fez lá:

“Tomou Abraão o cordeiro e o ofereceu em holocausto, em lugar de seu filho. E pôs Abrão por nome àquele lugar–O Senhor Proverá”. (Gn 22.14).

“E Moisés edificou um altar e lhe chamou:  O Senhor é Minha Bandeira”. (Êx 17.15).

Hagar, no entanto, não menciona apenas um lugar. Ela faz algo completamente diferente do que Abraão ou Moisés fizeram: ela dá o nome, não apenas ao lugar (o lugar também recebe o nome: Portanto, o poço foi chamado Beer Lahai Roi), mas ao próprio Senhor, e isto é algo muito incomum. De fato, é absolutamente único em toda a Escritura.

“Então ela invocou o nome do Senhor, que lhe falava: Tu és Deus Que Vê, pois disse-lhe: Não olhei eu neste lugar para aqu’Ele que me vê?” (Gn 16.13).

Naturalmente, ninguém pode descrever adequadamente o que está acontecendo em um coração durante um encontro com Deus. É diferente para cada pessoa, porque só Deus sabe o que está no coração - só Deus conhece os mais profundos segredos e feridas daquele coração, e Ele é o único que pode tocá-lo e curá-lo. Embora nós, os leitores, também possamos ouvir a mensagem que o anjo entregou a Hagar, a presença absolutamente irresistível de Deus que a abraçou no deserto —o calor da proximidade de Deus que derreteu completamente seu coração, Seu amor, Sua compaixão, Sua ternura—. Tudo isso permanece escondido para nós entre as linhas. No entanto, era tão real para ela que a única coisa que podia dizer era: El Roi. O Deus Que Me Vê um dos mais profundos nomes de Deus em toda a Bíblia.

Muito, muito mais pode ser dito sobre Hagar, bem como sobre Abraão e Sara nesta complexa história, mas devido às limitações do formato atual (post no blog), tenho que omitir aqui muitos detalhes fascinantes e abordagens em Hebraico. Se vocês estiverem interessados em aprender mais, eu os convido a ler o meu livro “Abraham had two sons”.


quinta-feira, 13 de setembro de 2018

OS PÃES DA PROPOSIÇÃO



Lv 24.5-9:Também tomarás da flor de farinha, e dela cozerás doze pães; cada pão será de duas dízimas de um efa. 6 E os porás em duas fileiras, seis em cada fileira, sobre a mesa pura, perante o SENHOR. 7 E sobre cada fileira porás incenso puro, para que seja, para o pão, por oferta memorial; oferta queimada é ao SENHOR. 8 Em cada dia de sábado, isto se porá em ordem perante o SENHOR continuamente, pelos filhos de Israel, por aliança perpétua. 9 E será de Arão e de seus filhos, os quais o comerão no lugar santo, porque uma coisa santíssima é para eles, das ofertas queimadas ao SENHOR, por estatuto perpétuo.

INTRODUÇÃO.
Nesta lição estudaremos sobre mais um elemento presente no Tabernáculo, os pães da proposição; destacaremos a relação desse elemento com a mesa presente no Lugar Santo e suas características; e por fim, pontuaremos significados simbólicos dos pães da proposição à luz das Escrituras.

I. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE OS PÃES DA PROPOSIÇÃO

1. Definição. No hebraico há duas expressões diferentes que se traduz por “pão da proposição”; a primeira significando: “pães do arranjo, pães da fileira”, aludindo à forma em que eram expostos sobre a mesa (1ª Cr 9.32; 23.29; Ne 10.33), e uma outra é: “pães da presença ou pães do rosto”. A palavra proposição nesse contexto tem o sentido de “presença”, visto que os pães estavam sempre “diante do Senhor” (Êx 25.30; 35.13; 39.36; Nm 4.7; 1º Sm. 21:6; 1º Rs 7.48; 2º Cr 4.19; 13.11; Mt 12.4; Mc 2.26; Lc 6.4; Hb 9.2).
As Escrituras utilizam-se de várias expressões para se referir a esse elemento do santuário: 1.1. “Pães da proposição” (Êx 25.30).
1.2. “Doze pães” (Lv 24.5-7).
1.3. “Pão contínuo” (Nm 4.7; 2Cr 2.4).
1.4. Pão sagrado” (1º Sm 21.4), e, (e) “pão de Deus” (Lv 21.21).
1.5. “Pão de Deus” (Lv 21.21).

2. Composição. Os coatitas estavam encarregados da confecção dos pães da proposição e dos cuidados com os mesmos (1º Cr 9.32; 23.28,29). Cada pão era feito de farinha finíssima, ou seja, a farinha de trigo da melhor qualidade. Sobre a estrutura dos pães da proposição, se é dito que cada um dos doze pães tinham o peso de dois décimos de um efa de farinha de trigo (isso equivalia a dois quilos), o que significa que os pães eram grandes”.
A Bíblia na Nova Versão na Linguagem de Hoje (NTLH) traz muito bem esta informação: “Doze pães, cada um pesando dois quilos, deverão ser feitos da melhor farinha”. “Cada pão tinha cerca de 75 cm de comprimento, metade disso quanto à largura, e cerca de 12,5 cm de altura” (CHAMPLIN, 2001, p. 573).

3. Localização. Ao entrar no Lugar Santo, os pães da proposição encontravam-se à direita de quem entra, para o lado norte, sobre uma mesa (Êx 26.35). Os pães eram postos um sobre o outro, formando duas pilhas (colunas) de seis pães cada uma (Êx 25.30; 40.23; Lv 24.6). Os pães ficavam expostos durante uma semana e, então, aos sábados, eram removidos e substituídos, e por fim, consumidos pelos sacerdotes, dentro do santuário (Lv 24.8,9) (CHAMPLIN, 2001, p. 9).
4. Propósito. Da mesma maneira que o azeite era importante para que o candeeiro produzisse luz, e assim como o incenso era elemento imprescindível para o altar do incenso, assim também, os pães da proposição eram tidos como memorial da provisão divina (Lv 24.7,8), da necessidade diária de pão e a contínua dependência do povo da provisão de Deus para as necessidades espirituais e físicas. Não só a presença contínua de Deus estava assim simbolizada, mas também o fato dessa gloriosa presença ser considerada mais vital do que o próprio pão (Êx 33.15; Dt 8.3).

3. A simbologia dos pães.

II. A MESA DA PROPOSIÇÃO
As Escrituras chamam esta mesa por diferentes nomes: (a) mesa dos pães da proposição (Êx 25.30); (b) mesa de madeira de acácia (Êx 25.23; 37.10); (c) mesa pura (Lv 24.6); (d) mesa de ouro (1Rs 7.48). Vejamos ainda algumas informações adicionais a respeito desse móvel do santuário:

1. Modelo e estrutura. O AT declara que o modelo para a construção desta mesa foi concedido por revelação divina (Êx 25.23-30). Nada foi construído pela mente ou imaginação dos construtores. Para a fabricação deste móvel também são destacados os materiais específicos a serem usados e o tamanho exato que a mesa deveria ter. Era feita de madeira de acácia ou cetim revestida de ouro, e tinha dois côvados de comprimento (90 cm), um côvado de largura (45 cm) e, um côvado e meio de altura (70 cm), revestida ao redor com ouro puro e uma moldura de ouro em volta (Êx 37.10-12). Depois de pronta, foi consagrada pela unção com óleo (Êx 30.23-27), e colocada no lado norte do Lugar Santo, de frente ao candelabro de ouro, de modo que a luz do candeeiro iluminava o pão e a mesa (Êx 26.35).

2. Seus utensílios. Para a ministração na mesa da proposição, Deus estabeleceu a fabricação de alguns utensílios, que deveriam ficar sobre ela: “Também farás os seus pratos, e os recipientes para incenso, e as suas galhetas, e as suas taças em que se hão de oferecer libações; de ouro puro farás” (Êx 25.29 – ARA).
Os pratos serviam para colocar os pães; as colheres eram cálices para colocar o incenso sobre os pães, identificando-o como sacrifício (Lv 24.7). As galhetas (tigelas) e as taças (copos), eram para armazenar e despejar o vinho (não alcoólico) em oferta de libação. Todos estes utensílios eram feitos de ouro puro (BEACON, 2010, p. 208 – acréscimo nosso).

3. Seu transporte. Quando o tabernáculo era transportado durante as jornadas dos israelitas pelo deserto, a mesa dos pães da proposição era levada, com seus pratos, recipientes de incenso, as taças e as galhetas (Nm 4.5-8). A parte superior da mesa descansava sobre uma armação, e em volta dela havia uma coroa ou moldura de ouro, projetando-se sobre a parte de cima para impedir que os objetos caíssem dela. Na mesa havia ainda, uma argola em cada esquina para permitir que ali fossem introduzidas os varais, a fim de transportar a mesa (Êx 25.23-28).

III. OS PÃES DA PROPOSIÇÃO E SUA SIMBOLOGIA

Todos os utensílios do Tabernáculo, como o sistema levítico por inteiro, além de possuir uma realidade presente (aspecto didático), também existiam realidades futuras (aspecto profético) que apontavam para Cristo (Rm 15.4; Cl 2.17; Hb 10.1). Vejamos alguns desses simbolismos do pães da proposição:

1. A provisão divina. Esses pães apontam para algumas lições que Deus intentava deixar claro para seu povo sobre depender inteiramente d’Ele:
1.1. Uma lembrança ou um memorial de que Deus habita no meio de seu povo e provê seu pão diário (Sl 136,25; Mt 6.25-33), da mesma forma como proveu o maná para alimentar as doze tribos no deserto (Êx 25.8; 16.11-21; Lv 24.7; Is 63.9).
1.2. Sua reposição regular simboliza o compromisso do povo de ser leal a Deus e sua gratidão pela provisão divina constante (Lv 24.8,9).
1.3. Uma vez que os sacerdotes se alimentavam dos pães substituídos (Lv 24.8,9), fica evidente mais uma vez, o princípio bíblico do sustento do ministro de Deus, que vive para o serviço integral do santuário (Lv 6.26; 7.6; 1ª Co 9.9-11; 1ª Tm 5.18; Dt 25.4; Lc 10.7).

2. Consagração a Deus. Outro simbolismo da mesa com os pães é a consagração total do cristão a Deus, visto que o pão da proposição estava “continuamente na presença do Senhor” (Lv 24.6). O dever do crente é viver continuamente na presença de Deus, para consagrar toda a sua vida ao serviço do Senhor (Lv 24.7; Rm 12.1). Esta consagração resulta de um melhor entendimento do que Jesus Cristo fez pelos pecadores e uma compreensão melhor da grandeza do amor de Deus.
Quem se alimenta de Sua Palavra (Jo 6.32-35), melhora sua comunhão com Deus e progride na consagração (1ª Co 5.8; 1ª Pd 2.2).

3. A Palavra de Deus. Os pães da proposição simbolizavam a presença sempre providencial de Deus no meio de Seu povo (Jr 32.38). Desta forma, os israelitas deveriam saber que o homem não vive só de pão, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus (Mt 4.4). Quanto ao pão estar acompanhado de incenso, significa isso que a presença do Senhor sempre vem acompanhada pelas orações dos santos (Ap 5.8; 8.3,4).

Os pães da proposição, ou da presença, representam ainda a Palavra de Deus, que, através do Evangelho, alimenta o mundo faminto (Jo 1.1).

A Palavra de Deus é comparada ao pão diário, ao alimento espiritual (1ª Pd 2.2) sendo ela a provisão para as necessidades espirituais do homem (Mt 4.4; Dt 8.3), dando-nos nutrientes necessários para nosso crescimento espiritual (2Tm 2.16,17).

4. Uma tipologia de Cristo. Assim como os demais utensílios do tabernáculo, os pães da proposição também apontam tipologicamente para o Senhor Jesus Cristo. Vejamos:

4.1. Sua perfeição moral. Como o pão da proposição não tinha em sua composição o fermento (JOSEFO apud CHAMPLIN, 2001, p. 419), símbolo da corrupção moral (Mt 16.11; Mc 8.15; 1ª Co 5.6-8; Gl 5.9), serve como figura da pureza de Jesus. Semelhantemente Cristo o pão da vida é perfeito e santo tanto em seu caráter como em seu ser (Lc 1.35), e embora em tudo tenha sido tentado, Ele não conheceu e nem tinha pecado (2Co 5.21; Hb 4.15. um cordeiro imaculado e incontaminado (1ª Pd 1.19).

4.2. Seu sofrimento. Para a preparação do pão da proposição, foi usada da melhor farinha obtida de grãos inteiros do trigo. Para que esse trigo se tornasse adequado, ele tinha que ser triturado até se tornar pó finíssimo. Por essa razão, o processo pelo qual o trigo foi submetido representa as tribulações, tentações e sofrimentos do Senhor Jesus Cristo, que
como trigo, foi moído (Is 53.7,10), sendo Ele o nosso pão da vida (Jo 12.24). Não menos importante, para o pão servir de alimento precisava ser assado (Lv 24.5). Sendo também esse processo uma alusão ao intenso sofrimento do Filho de Deus no Calvário (Mt 3.11; Lc 3.16; Hb 9.14; 12.29).

4.3. Sua mediação. O fato de serem doze pães sobre a mesa, todo Israel estava sendo diante de Deus representado. Não importava em que parte do acampamento os israelitas estivessem, deviam lembrar-se de que sua tribo estava representada sobre a mesa de ouro no Lugar Santo. Cristo, como o pão da vida nos representou diante do Pai, como sacrifício expiatório (Is 53.4-6), e diante de Deus o Pai é o nosso Advogado (1ª Jo 2.1,2), e intercessor (Rm 8.34; Hb 9.24).
4.4. A provisão da salvação. Jesus é o Pão da Vida (Jo 6.48), que se fez carne para morrer por nossos pecados (Jo 6.38,51), que sustenta os homens também no âmbito espiritual (1ª Pd 2.9; Ap 1.6). O pão da proposição prefigura o grão de “trigo” (Jo 12.24), que foi sujeitado ao fogo do julgamento divino em lugar dos homens (Jo 12.32,33). Cristo é o nosso pão espiritual, descido do céu (Jo 6.33,38,50,58), que provisionou a toda humanidade (Jo 3.16) através da fé em sua morte e ressurreição (Ef 2.8; 1Pd 1.21), a vida eterna: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna” (Jo 6.47; ver 6.54-58).

CONCLUSÃO.
O simbolismo dos pães da proposição se cumpre em Cristo e sua Igreja, tanto no aspecto pessoal como coletivo.
Ele é o nosso alimento espiritual, nossa porção que nos satisfaz plenamente em todas as áreas da vida da humana.

FONTE DE PESQUISA
1.      Andrade de Claudionor. Lições bíblicas. 3º trimestre 2018. CPAD.
2.      CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento Interpretado – Gênesis a Números. HAGNOS.
3.      HOWARD, R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.

4.      STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.