TEOLOGIA EM FOCO

sexta-feira, 23 de agosto de 2024

OS JUDEUS REJEITAM A JUSTIÇA DE DEUS - ROMANOS 10

 


Romanos 10.1-21 “Irmãos, o bom desejo do meu coração e a oração a Deus por Israel é para sua salvação. 2 Porque lhes dou testemunho de que têm zelo de Deus, mas não com entendimento. 3 Porquanto, não conhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitaram à justiça de Deus. 4 Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê. 5 Ora, Moisés descreve a justiça que é pela lei, dizendo: O homem que fizer estas coisas viverá por elas. 6 Mas a justiça que é pela fé diz assim: Não digas em teu coração: Quem subirá ao céu (isto é, a trazer do alto a Cristo)? 7 Ou: Quem descerá ao abismo (isto é, a tornar a trazer dentre os mortos a Cristo)? 8 Mas que diz? A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, 9 a saber: Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo. 10 Visto que com o coração se crê para a justiça, e com a boca se faz confissão para a salvação. 11 Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. 12 Porquanto não há diferença entre judeu e grego, porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam. 13 Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. 14 Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? 15 E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam a paz, dos que anunciam coisas boas! 16 Mas nem todos obedecem ao evangelho; pois Isaías diz: Senhor, quem creu na nossa pregação? 17 De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus. 18 Mas digo: Porventura, não ouviram? Sim, por certo, pois por toda a terra saiu a voz deles, e as suas palavras até aos confins do mundo. 19 Mas digo: Porventura, Israel não o soube? Primeiramente, diz Moisés: Eu vos meterei em ciúmes com aqueles que não são povo, com gente insensata vos provocarei à ira. 20 E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que me não buscavam, fui manifestado aos que por mim não perguntavam. 21 Mas contra Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.” 

INTRODUÇÃO Em Romanos 10 Paulo continua o seu argumento de Romanos 9, dessa vez Paulo vai ensinar sobre a justiça que provem da fé. Ele explica a diferença entre a justiça que provem da lei e a justiça que provem da fé em Cristo Jesus e pela confissão Dele como Senhor. 

I. O DESEJO DE PAULO PELA SALVAÇÃO DE ISRAEL 

1. A oração de Paulo pela salvação de Israel (v. 1). Paulo expressa o desejo de seu coração pela salvação de Israel. Paulo intercede a Deus pedindo para que o povo judeu que não reconhece a Jesus como o Messias Salvador, sejam salvos.

Paulo reconhece o zelo que os judeus tem por Deus, mas não é o zelo digno que Deus reconhece como zelo, pois o que Deus quer é que sejam salvos pela fé, não pelas obras da lei. O que Deus quer é que reconheçam a Cristo e conheçam a justiça da fé preparada por Deus. O apóstolo não quer ver seus irmãos judeus correndo por justiça própria através das obras sem o reconhecimento de Jesus como o Messias salvador. 

2. O zelo de Israel sem conhecimento (v. 2). Paulo reconhece o zelo que os judeus tem por Deus, mas é o zelo sem conhecimento da verdade, em razão de que ignorando a justiça de Deus baseada na fé em Cristo, estabeleciam a sua própria justiça oriunda da lei e, deste modo, demonstravam um zelo diferente do zelo de Deus e tropeçavam na pedra de tropeço.

O zelo dos judaizantes pela lei, não dava o direito de serem salvos, por isto Paulo ainda suplicava a Deus por eles. Essa descrição dos judeus se aplica bem a muitas pessoas religiosas hoje. Dá-se o mesmo com certos irmãos que, de certo modo, demonstram zelo por Deus, porém desprezam, ao mesmo tempo, a justiça de Deus manifestada na lei e, lamentavelmente, ficam separados de Cristo. 

3. A tentativa de estabelecer a sua própria justiça (v. 3). Este termo “estabelecera própria justiça”, também pode ser interpretado no original como “causar a permanência como um monumento”, não para a glória de Deus, mas para a sua própria. A justiça própria é uma armadura que enclausura o crente. Arrancar esta armadura é algo doloroso. Dificilmente ele admite estar errado. Frequentemente age de forma inquestionável. Se existe uma falha com certeza está nos outros, não nele. Isto glorifica o orgulho humano, trazendo um sentimento carnal de realização, que por sua vez, vem acompanhado de um espírito de engano.

A justiça própria anda de mãos dadas com a soberba, o que dificulta muito a tarefa do Espírito Santo em revelar a justiça divina. Como o profeta Obadias testifica: “A soberba do teu coração te enganou” (Ob 1.3). Os judeus eram inflexíveis, se colocavam como donos da razão. Sua referência de justiça está corrompida pela soberba e presunção. O grande drama do fariseu de hoje é acreditar que está praticando a justiça, quando na verdade está agindo contrariamente a ela, com a incoerência cega, coando um mosquito e engolindo um camelo, limpado o exterior do copo, mas deixando o interior sujo. Corações orgulhosos e mentes fechadas impedem a salvação de muitos.

Na igreja dos Gálatas o zelo dos fariseus estava além da Palavra. “Eles têm zelo por vós, não como convêm; mas querem excluir-vos, para que vós tenhais zelo por eles. É bom ter zelo, mas sempre do bem e não somente quando estou presente convosco” (Gl 4.17, 18). Quando Paulo encontrou Jesus, desistiu de seus esforços pessoais para justificar a si mesmo, reconhecendo ser isso futilmente total. Invés disto, ele aceitou com alívio a verdadeira justificação que tem lugar somente através da fé em Cristo (Fl 3.9). 

4. Cristo é o fim da lei para a justiça (v. 4). A palavra fim no grego é telos que significa término ou fim. Muitos judeus não compreenderam a relação de Cristo à lei. Jesus veio em cumprimento da lei, isto é, Cristo era o motivo para o qual a lei conduzia e apenas aqueles conduzidos a ele serão salvos.

“Qual, pois, a razão de ser da lei? Foi adicionada por causa das transgressões, até que viesse o descendente a quem se fez a promessa, e foi promulgada por meio de anjos, pela mão de um mediador. Ora, o mediador não é de um, mas Deus é um” (Gl 3.19-20).

A afirmação de Paulo, limita o tempo em que a lei deveria agir assim, foi adicionada até que Cristo viesse”. O descendente é Cristo, que veio para finalizar a lei; “Porque o fim da lei é Cristo, para a justiça de todo aquele que crê” (Rm 10.4).

A lei foi adicionada (interpolada, introduzida, alterada), para que os judeus reconhecessem as transgressões. “Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20). A Lei revelou o pecado e mostrou que as pessoas não podiam ter a esperança de cumpri-la integralmente. Cristo veio e cumpriu-a, então nos ofereceu a sua retidão pela fé N’ele. 

II. A JUSTIÇA PELA LEI E A JUSTIÇA PELA FÉ

1. A justiça baseada na lei (v. 5). A Lei veio como aio para compreensão da justiça e se a lei ainda vigorar, a morte de Cristo foi é vã (2.21). Em Lucas 16.16, Jesus disse: “A Lei e os Profetas duraram até João; desde então, é anunciado o Reino de Deus, e todo homem emprega força para entrar nele.” Segundo o ensino de Jesus, até à chegada de João, a lei de Moisés e a mensagem dos profetas eram guias para os judeus. A partir de então, o evangelho do reino de Deus é anunciado e todos se esforçam por entrar nele.

Se não tivéssemos a posição firme do apóstolo Paulo, colocando a lei no seu devido lugar e explicando a superioridade do evangelho, o cristianismo, além de não ser religião distinta do judaísmo, não poderia ensinar a verdade da justificação dos pecados pela graça. 

2. A justiça baseada na fé (vs. 6-7). O tema da mensagem é: pelas obras da lei ou pela pregação da fé. Eu estou mostrando que é pela pregação da fé. “O homem não é justificado pelas obras da lei e sim mediante a fé. Também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado.” (Gl 2.16). Mas quando você toma a decisão de crer no Senhor Jesus Cristo, você entra em um sistema que depende inteiramente de Deus. É por isso que Efésios 2.8-9 Paulo diz: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. 9 Não vem das obras, para que ninguém se glorie.”

Graça significa que depende inteiramente de Deus. Graça significa que Deus não está se expondo desnecessariamente quando dá a você algo, independente do seu mérito, independente da sua habilidade, independentemente de suas obras. Portanto graça se torna a questão principal na doutrina da eterna segurança. Da mesma forma, vamos considerar Romanos 11.6: “Mas se é pela graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça”.

A justificação pela fé, que ás assusta até aos crentes em Jesus, pela maneira simples de o homem ser salvo pela graça de Deus, pois a tendência humana é complicar o que Deus simplificou, revela uma entrega total e irrestrita a Deus. Não se trata de uma fé intelectual e superficial, mas algo que torna a pessoa em nova criatura por um milagre de Deus, o novo nascimento (2ª Co 5.17), produzindo frutos de arrependimento como decorrência da salvação (Gl 5.22). 

3. A Palavra da fé que pregamos (v. 8-9).

Porém, o que diz? O apóstolo faz uma citação de Deuteronômio 30.14.

A palavra está perto de ti. O que está perto de nós pode ser facilmente obtido. O que é longe, com dificuldade. O ensino de Moisés e do evangelho estava próxima; isto é, foi facilmente obtido, adotado e compreendido. Assim facilmente acessível. 

4. Confessar e crer para a salvação (vs. 9-10).

“com a tua boca, confessares”. O ensino de Moisés já era tão familiar e tão bem entendido que estava realmente na boca deles, ou seja, na linguagem deles, na conversa comum.

Na época em que Paulo escreveu a carta aos Romanos, aceitar Cristo e confessá-lo como Senhor caracterizava em perseguição, prisão e morte do novo convertido. Confessar a Cristo como Senhor, é uma indicação da verdadeira salvação e da obra do Espírito Santo.

“e no teu coração – quando creres n’Ele. Em toda a Bíblia o coração denota o centro da personalidade incluindo a razão, a volição, e as emoções. Crer com o coração e confessar com os lábios são os dois elementos que o apóstolo afirma como necessários para que o homem alcance a justificação e a salvação em Cristo. A condição para justiça, para que alguém seja justificado, é a fé interior. A confissão de fé e crer em seu coração que Deus ressuscitou Jesus dos mortos e está a direita de Deus Pai. Crer na ressurreição significa confiar em todas as promessas de vida, esperança e justiça, que são sustentadas por ela. 

5. Não distinção entre o judeu e o grego (vs. 11-13). “Todo aquele que crer” (v. 11), inclui o judeu e o grego. “Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (v. 13).

Portanto, se a salvação passou a estar disponível para todo o mundo, Deus deve enviar os pregadores para que as pessoas possam ouvir o evangelho e crer nele, atendendo à sua mensagem “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.” (Rm 10.13).

III. A NECESSIDADE DA PREGAÇÃO DO EVANGELHO 

Os textos bíblicos, onde Paulo faz uma breve abordagem sobre o desejo de ver seu povo sendo alcançado pelo evangelho, contém quatro perguntas desafiadoras e que devem nos levar a mais profunda reflexão. 

1. Como invocarão se não creram (v. 14). Aqueles que são salvos confessarão Cristo como Senhor porque Ele já tem incutido fé em seus corações. A partir do novo nascimento o cristão verdadeiro passa a invocar, ou seja, clama por ajuda e, portanto, orar, então será salvo. 

2. Como crerão sem ouvir (v. 14). A Igreja foi chamada para fora, chamados para pregarmos o Cristo crucificado e que ressuscitou e não devemos deixar de cumprir esta missão. A ordenança de Jesus para Sua Igreja é: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” (Lc 16.15). Onde você tem pregado? No templo, em casa, na rua, no bairro, no escritório ou na escola e onde estivermos para mostrar e contar aos outros as Boas Novas, enfim, “...pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.” (2ª Tm 4.2). A pregação do evangelho consiste em: “Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus e loucura para os gregos. 24 Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.” (1ª Co 1.23-24). 

3. Como pregaram se não forem enviados (v. 15). Como está escrito: “Quão suaves são sobre os montes os pés do que anuncia as boas-novas, que faz ouvir a paz, que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, que diz a Sião: O teu Deus reina!” (Is 52.7).

O Senhor já nos comissionou: “Convém que eu faça as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; a noite vem, quando ninguém pode trabalhar.” (Jo 9.4). “Somos embaixadores da parte de Cristo, o qual pôs em nós a palavra da reconciliação. (2ª Co 5.19-20). Isto significa que somos chamados e escolhidos pelo Pai para representá-lo em todos os lugares em que estivermos e levarmos a Palavra da cruz ao mundo perdido. 

4. A fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus (v. 17). O apóstolo Paulo, ao escrever este versículo, diz que a fé que vem pelo ouvir isto mostra a importância de pregar a Palavra de Deus. Somente encontramos fé para sermos salvos quando ouvimos, ou entramos em contato, com a verdade de Jesus. A Palavra de Deus desperta a nossa fé que estava morta. O ouvir a Palavra é um meio fundamental para adquirir a fé e, consequentemente, a salvação. No entanto, para adquirir a fé, não basta apenas ler a Bíblia, é necessário ouvi-la com o coração aberto e disposto a aprender. Em Provérbio de Salomão 2.1-5, ele diz: “Filho meu, se aceitares as minhas palavras e esconderes contigo os meus mandamentos, 2 para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido, e para inclinares o teu coração ao entendimento, 3 e, se clamares por entendimento, e por inteligência alçares a tua voz, 4 se como a prata a buscares e como a tesouros escondidos a procurares, 5 então, entenderás o temor do Senhor e acharás o conhecimento de Deus.”

Esta passagem nos ensina as condições que precisam ser cumpridas quando tentamos nos aproximar de Deus. Salomão nos apresenta quatro requisitos que devem ser cumpridos, estes são: 1. Ouvir a Palavra de Deus e guardar seus mandamentos; 3. inclinar o nosso coração ao entendimento; 3. clamar por entendimento; 4. e buscar como a tesouros escondidos. 

IV. A REJEIÇÃO DE ISRAEL 

1. A mensagem foi ouvida por toda Terra (v. 18). O apóstolo vem agora para responder as perguntas que fez nos versículos anteriores. “Mas digo: Porventura, não ouviram?” A Igreja deve assumir o papel evangelizadora. O evangelho deve ser pregado “por todo o mundo”. “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Mc 16.16).

A Igreja foi eleita antes da fundação do mundo para louvor de Sua glória (Ef 1.4-6). Ela assumiu o sacerdócio universal. O sacerdócio universal era para ser cumprido por meio de Israel, entre as nações (Êx 19.5-6), mas foi negligente, o papel era especial, e Deus já havia revelado ao patriarca Abraão (Gn 12,1-3), pois por este sacerdócio, todas as famílias da Terra seriam abençoadas. Por causa deste desleixo, o propósito foi mudado. Então Deus escolheu a Igreja (gentios) para executar este sacerdócio entre as nações (At 1.8), até a obediência de Israel no tempo do fim.

“Eles não ouviram?” O apóstolo afirma fortemente que sim, eles ouviram. A palavra “eles”, neste lugar, tomo para me referir aos gentios. Judeus e gregos que ouviram o chamado (Mt 11.28), fazem parte da Igreja evangelizadora. “Pois por toda a terra saiu a voz deles, e as suas palavras até aos confins do mundo.” Paulo cita o Salmo 119.4, onde o salmista declara que eles declaram ou proclama o poder de Deus por toda a Terra. 

2. Israel não compreendeu (vs. 19-20). O que Israel deixou de ser antes (Êx 19.5-6), a saber, uma nação santa sacerdotal, Deus O cumpriu por intermédio de Cristo Jesus (Hb 5.1-10) e pela Igreja (1ª Pe 2.9; At 1.8). Israel não entendeu o chamado, então Deus escolheu aqueles que não são povo para ser Seu povo.

Israel não sabia? “Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho.” (Hb 1.1). Os judeus não tinham motivo para não crer, pois eles ouviram os profetas, e “nestes últimos dias” o Messias lhe fora enviado. Paulo mostrou a eles que o profeta Isaías disse: “Fui achado pelos que me não buscavam, fui manifestado aos que por mim não perguntavam.” (Is 65.1). Portanto, eles não são inescusáveis diante de Deus (Rm 2.1). 

3. Deus estendeu as mãos a um povo desobediente (v. 21). Romanos 10.14 a 21, o apóstolo explica que, apesar de ouvir e compreender o evangelho, Israel continua a desobedecer. Eles se mostraram rebeldes e esqueceram de Deus. Portanto, não devem se admirar que Deus tenha oferecido a salvação aos gentios.

CONCLUSÃO

Para os judeus que procuravam ser justificados pela lei, a justiça ficou fora de seu alcance (Rm 9.31). Mas em Cristo, a justiça chega perto e pode ser alcançada pela fé. Paulo deseja a salvação dos israelitas, mas entende que é possível somente por meio de Jesus. (Mc 16.16).

Pr. Elias Ribas - Dr. em Teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC

quinta-feira, 22 de agosto de 2024

A REJEIÇÃO DE ISRAEL - ROMANOS 9

 


Romanos 9.1-33 “Em Cristo digo a verdade, não minto (dando-me testemunho a minha consciência no Espírito Santo): 2 tenho grande tristeza e contínua dor no meu coração. 3 Porque eu mesmo poderia desejar ser separado de Cristo, por amor de meus irmãos, que são meus parentes segundo a carne; 4 que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória, e os concertos, e a lei, e o culto, e as promessas; 5 dos quais são os pais, e dos quais é Cristo, segundo a carne, o qual é sobre todos, Deus bendito eternamente. Amém! 6 Não que a palavra de Deus haja faltado, porque nem todos os que são de Israel são israelitas; 7 nem por serem descendência de Abraão são todos filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. 8 Isto é, não são os filhos da carne que são filhos de Deus, mas os filhos da promessa são contados como descendência. 9 Porque a palavra da promessa é esta: Por este tempo virei, e Sara terá um filho. 10 E não somente esta, mas também Rebeca, quando concebeu de um, de Isaque, nosso pai; 11 porque, não tendo eles ainda nascido, nem tendo feito bem ou mal (para que o propósito de Deus, segundo a eleição, ficasse firme, não por causa das obras, mas por aquele que chama), 12 foi-lhe dito a ela: O maior servirá o menor. 13 Como está escrito: Amei Jacó e aborreci Esaú. 14 Que diremos, pois? Que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma! 15 Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. 16 Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece. 17 Porque diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para em ti mostrar o meu poder e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. 18 Logo, pois, compadece-se de quem quer e endurece a quem quer. 19 Dir-me-ás, então: Por que se queixa ele ainda? Porquanto, quem resiste à sua vontade? 20 Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura, a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? 21 Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? 22 E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para perdição, 23 para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia, que para glória já dantes preparou, 24 os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? 25 Como também diz em Oseias: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; e amada, à que não era amada. 26 E sucederá que no lugar em que lhes foi dito: Vós não sois meu povo, aí serão chamados filhos do Deus vivo. 27 Também Isaías clamava acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. 28 Porque o Senhor executará a sua palavra sobre a terra, completando-a e abreviando-a. 29 E como antes disse Isaías: Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara descendência, teríamos sido feitos como Sodoma e seríamos semelhantes a Gomorra.

30 Que diremos, pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé. 31 Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. 32 Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei. Tropeçaram na pedra de tropeço, 33 como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo; e todo aquele que crer nela não será confundido.” 

INTRODUÇÃO. Paulo discorreu a respeito da Doutrina da Salvação nos capítulos 1 a 8 da Epístola aos Romanos, porém agora nos capítulos 9, 10 e 11, ele abre um parêntese para tratar a respeito da eleição de Israel no passado (9.6-29); a rejeição do Messias por Israel (9.30-10.21) e plenitude dos gentios, quando todo o Israel será salvo. O povo escolhido de Deus não se considerava necessitados da salvação, por ser o povo da promessa. 

I. O AMOR DE PAULO PELOS JUDEUS (Vs. 1-5) 

1. A tristeza de Paulo por causa da incredulidade de Israel. Paulo estava profundamente preocupado com o destino dos judeus. Ele desabafou a sua “grande tristeza e contínua dor no coração.” (v. 2). Ele relata que os judeus, estão perdidos e perecendo, e isso cria em Paulo uma agonia de partir o coração. Ele expressa o profundo amor que ele sentia pelos seus irmãos judeus.

O apóstolo explica como opera a lei da eleição. A nação de Israel é escolhida para receber a adoção, as promessas e as bênçãos do evangelho; contudo, a maioria dos judeus rejeitaram a mensagem de salvação de Jesus. Paulo entendeu que eram os gentios, que creram no evangelho e aceitaram a mensagem de Jesus. 

2. Os privilégios espirituais dos judeus. Os judeus criam que, sendo filhos de Abraão, tinham direito a todas as bênçãos da aliança de Deus com Abraão e, por conseguinte, a justificação e a glorificação eram direitos exclusivos dos judeus mediante o seu nascimento natural. Todavia, foi Israel quem rejeitou o Salvador, pelo seu endurecimento espiritual. Paulo mostra que a rejeição do evangelho que Jesus trouxe era uma rejeição de Deus, Assim como os gentios, Deus colocou os judeus em situação de desobediência para usar de misericórdia com todos. 

II. A ELEIÇÃO SOBERANA DE DEUS (vs. 6-13) 

1. A promessa de Deus não falhou (v. 6). Aqui Paulo entra no assunto profundo da eleição, cujo tratamento se estende até o final do capítulo 11. No verso 6, Paulo vai dizer que o problema não é as Sagradas Escrituras (v. 6). Deus escolheu Israel como Seu filho, nenhuma nação alcançou grandes privilégio com Israel. Por ter sido escolhido por Deus, viu de perto a glória do Senhor (Lv 9.23). Os israelitas foram escolhidos pelo Senhor para receberem o Messias, independente das obras dos patriarcas. 

2. A fidelidade divina. Paulo declara que os propósitos e as promessas feitas por Deus nunca falharam, porque embora Israel tenha sido rejeitado, os gentios tomaram o seu lugar, pois a eleição divina é soberana e Deus tem o direito de estabelecer Seu modo de escolha. 

3. A distinção entre descendentes naturais e filhos da promessa (v. 7). O problema é que nem todos os que são de Israel são verdadeiros israelitas”, assim nem todos os que se dizem cristãos são de Cristo.

Paulo começa agora a falar da soberania de Deus. Ele usa exemplos do Antigo Testamento para ilustrar como Deus escolhe soberanamente aqueles que receberão as Suas promessas. Um desses exemplos é a escolha de Isaque sobre Ismael e de Jacó sobre Esaú, mostrando que a eleição de Deus não depende de esforço humano, mas de Sua soberania. Abraão teve sete filhos, mas somente Isaque que foi escolhido segundo a promessa de Deus. 

4. O filho da promessa. “Porque em Isaque será chamada a tua semente.” Esta citação de Gênesis 21.12, para mostrar que Isaque seria o filho da promessa. 

5. Filhos da carne (vs. 8-9). Paulo usa a figura de Abraão para mostrar que a descendência física, não é a garantia de ter um lugar na família de Deus. O argumento do apóstolo, é que Abraão teve dois filhos, Ismael e Isaque, mas apenas Isaque herdou a promessa. Portanto, as bênçãos da promessa foram limitadas, isto é, para aqueles a quem a promessa pertencia particularmente, para os descendentes de Isaque.

“Por este tempo virei, e Sara terá um filho” (v. 9). Esta citação de Gênesis 18.10, diz respeito à promessa do nascimento de Isaque; algo tão improvável que provocou risos em Sara (Gn 18.12). Ao especificar isso, ele mostra que não se referia a Ismael, mas a Isaque. 

6. “pois, como não eram ainda nascidos (vs. 11-12). A promessa, portanto, não foi por qualquer obra deles, ou porque eles formaram um caráter e manifestaram qualidades que tornaram esta distinção apropriada. A escolha teve seu fundamento no propósito ou plano de Deus. Deus escolheu Jacó em posição superior a Esaú, antes que ambos nascessem. Antes que tivesse feito bem ou mal Deus já tinha escolhido. Porque o maior (Esaú), servira o menor (Jacó) (Gn 25.23). 

7. Amei Jacó e aborreci Esaú (v. 13). A Bíblia relata que Esaú trocou a benção da primogenitura por um prato de guisado. Ao fazer isso, Esaú “desprezou” sua primogenitura, ou mostrou que ele realmente não se importava muito com o assunto. Na presciência de Deus, Ele conhecia as atitudes de cada um, por isso o Senhor disse: que o mais velho servira o mais novo (Gn 25.23).

Deus não disse que odiava Esaú, mas Deus amou a Esaú “menos do que” Ele amou a Jacó. Isso não significa nenhum ódio positivo, mas que ele preferiu Jacó, e negou a Esaú aqueles privilégios e bênçãos que ele conferiu à posteridade de Jacó. O que Paulo está dizendo é que Esaú não foi objeto dos propósitos eletivos de Deus. 

III. A JUSTIÇA E A SOBERANIA DE DEUS (Vs. 14-24). 

1. A pergunta sobre a justiça de Deus. Se Deus escolheu Isaque em vez de Ismael (vs. 7-9), ou Jacó em vez de Esaú (vs. 10-13), então há injustiça da parte de Deus? Não! Quando Deus fez esta escolha, Ele continua sendo justo (14-18). Ele não foi injusto por condenar os judeus incrédulos. 

2. A resposta de Paulo – Deus é soberano (v. 14). Deus é injusto por ter escolhido Jacó em vez de Esaú? O grande problema da humanidade é achar que merece alguma coisa de Deus e a verdade é que o ser humano não merece nada de Deus. Os judeus confundiram a justiça de Deus com merecimento e conquista. Deus não trata todas as pessoas da mesma maneira. Quando Deus é justo, Ele está fazendo o que é reto. Abraão fez a Deus uma pergunta que só poderia ter uma única resposta: “Não fará justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn 18.25). De forma semelhante, o apóstolo Paulo fez a seguinte pergunta: “E então, que diremos? Acaso Deus é injusto? De modo nenhum!” (Rm 9.14 - NVI). 

3. Exemplos de Faraó e vasos de ira e misericórdia (vs. 15-16). Os versículos 15 a 23, o apóstolo oferece base por que não há injustiça da parte de Deus. Paulo usa a passagem do Êxodo 33.19, “e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem me compadecer.” O apóstolo usa ambos os textos onde Deus demonstra a forma soberana como lida com os seres humanos em sua condição desfavorável diante dele mesmo. Ele tem o direito soberano de ter misericórdia de quem quer. Ninguém pode obtê-las em troca de alguma coisa; ninguém as merece. As escolhas de Deus não dependem do nível de mal ou de bem no homem, mas somente a Sua vontade soberana.

A salvação é um ato da graça e misericórdia divina. Não depende de esforço humano.  Deus, sendo justo, pode mostrar misericórdia para qualquer homem até para os gentios. Quando Deus, na sua misericórdia, oferece grandes vantagens aos judeus, eles não reclamam. Agora que Ele oferece a salvação a todos, judeus e gentios, eles chamam a Deus de injusto! 

“Porque diz a Escritura a Faraó...” (v. 17). Paulo mostra o papel de Faraó do Egito. Ele se considerava o deus Hórus encarnado na Terra, que é o deus ligado ao Sol, e todo o poder era centralizado em suas mãos. Em Êxodo 8.19, salienta que, Deus endureceu o Faraó em sua teimosia à medida que ele rejeitava o Senhor enviava as pragas. Então Deus mostrou Seu poder a Faraó, a fim de que o único Deus verdadeiro fosse conhecido.

Eu te levantei. A palavra grega usada pelo apóstolo é despertei ou agitei”. Mas também pode ter o significado: “Eu te sustentei ou apoiei”. Deus tinha poder para tirar a vida ou dar a vida ao Faraó orgulhoso. Porem Deus sustentou “para mostrar o meu poder em ti e para que o meu nome seja anunciado em toda a terra. (Êx 9.16). 

4. Somos vasos nas mãos do oleiro (20-22). Paulo faz duas perguntas nos versículos 19 e 20: “Por que se queixa ele ainda?” Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Mas responde nos versículos a seguir usando a figura do vaso.

A imagem do oleiro da aldeia é comum no Antigo Testamento (Is 41.25) sendo usada para ilustrar diversas lições. Aqui, o barro representa a humanidade caída. Da mesma forma que o oleiro trabalha esse material até moldá-lo conforme o seu desejo (Is 64.6-9), Deus tem todo o direito de fazer vasos para honra, outros para desonra, ou seja, aqueles que aceitam o evangelho serão vasos de honra, mas aqueles que endurecem seus corações vasos para de desonra. Quando Ele decidiu salvar os crentes (judeus e gentios) e condenar os descrentes (judeus e gentios), o Senhor agiu dentro de Sua soberania (20-21). Deus tem direito de determinar a hora para castigar os malfeitores, como também para salvar os fiéis (22-23). Paulo salienta que Deus ainda retarda, pacientemente, o derramamento do seu juízo. 

“para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória” (v. 23). Para que ele pudesse se manifestar ou mostrar Sua glória.

Em Efésios 1.12 a 14, Paulo explica que fomos adotados para o louvor da Sua glória, ele acrescenta, que somos selados pelo Espírito da promessa para louvor de Sua glória. Isto é, Deus escolheu vasos de honra ou de misericórdia para manifestar a Sua glória entre as nações. Os judeus endureceram seus corações para o evangelho, então, Deus escolheu os gentios crentes para louvor de Sua glória. Ele deseja mostrar que os eleitos são vasos através dos quais Deus exerce sua misericórdia, para que através deles possa glorificar Seu nome. 

IV. A INTEGRAÇÃO DOS GENTIO E OS REMANECENTES DE ISRAEL (VS. 25-29) 

1. Profecia de Oséias e de Isaías. “Como também diz em Oseias: Chamarei meu povo ao que não era meu povo; e amada, à que não era amada” (v. 25).

Em Oséias, ele não se referiu ao chamado dos gentios, mas ao chamado dos judeus rejeitados. Oseias revelou que Deus tinha a intenção de restaurar o seu povo. Paulo viu na profecia de Oséias a intenção divina de trazer os gentios para o evangelho, depois que os judeus rejeitaram o plano da salvação.

O que Paulo deseja dizer é que a Igreja não era considerada o povo de Deus. Deus chamou porque Israel não entendeu o seu ministério entre as nações a fim de abençoá-las. Deus fez, na salvação dos gentios, exatamente o que Oséias previu na sua profecia (Os 2.23. 9.25-26). Os que receberam a misericórdia de Deus foram os mesmos que se arrependeram e se converteram ao Senhor. A Igreja nasceu no meio do povo de Israel, que se considerava escolhido por Deus para ser d’Ele, devendo, assim, viver separado dos outros. 

2. O chamado dos gentios. Paulo apresenta a soberania de Deus na eleição e rejeição de Israel e o papel dos gentios na salvação. No entanto, Paulo também aborda a questão da responsabilidade humana na escolha de crer ou não em Deus.

Na eternidade Deus escolheu um povo para cumprir o Seu propósito “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” (1ª Pe 2.9). Um povo eleito no lugar de uma nação eleita simplesmente porque ela não entendeu o propósito de seu chamado. Na visão de Pedro ele percebeu que a graça de Deus estava sobre os gentios e também sobre os hebreus, transformados em um só corpo, a Igreja que antes não era povo, mas agora veio a ser povo. 

3. O remanescente de Israel será salvo. Paulo cita Isaías 10. Mesmo que o número dos filhos de Israel fosse como a areia do mar, um restante é que será salvo. Porque o Senhor cumprirá Sua Palavra. (Is 1.9) Se o Senhor Deus não tivesse preservado um restante do povo de Israel, os israelitas estariam acabados como Sodoma e Gomorra. A promessa de Deus não falhará, mesmo se Israel for infiel. 

V. A PEDRA DE TROPEÇO E A JUSTIFICAÇÃO PELA FÉ (vs. 32-33). 

1. A busca da justiça pelos gentios (Rm 30-31). Depois de explica a importância da eleição divina, agora apóstolo vai tratar da realidade da fé e da incredulidade de Israel. Ele explica no verso 30, “que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça?” Os gentios não buscaram a lei e nem desejaram guardar os mandamentos a fim de ganhar o favor de Deus, mas alcançara através da a justiça que é pela fé. Mas judeus, que “buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça.” (v. 30). 

2. O tropeço de Israel (v. 33). Na Bíblia hebraica, o termo para “pedra de tropeço” pode ser usada para traduzir os vocábulos hebraicos mikshol e makhshelah usados para indicar aquilo em que alguém tropeça. Ao substantivo grego σκανδαλον skandalon também é associado um verbo, skandalizo em português escandalizar, seu significando literalmente “fazer alguém tropeçar” ou, idiomaticamente, conduzir alguém a pecar.

Além da expressão “σκανδάλου” tem um segundo significado na palavra grega proskomma tropeçando.

No Novo Testamento, “Pedra de tropeço” “proskomma, é uma pedra ou impedimento no caminho sobre o qual as pessoas podem cair. Paulo usou o texto do profeta Isaías 8.14, escrito 800 a.C. que vaticina que o Messias seria: “pedra de tropeço e de rocha de escândalo às duas casas de Israel; de laço e rede, aos moradores de Jerusalém.”

Aqui significa “aquele obstáculo que os impedia de alcançar a justiça da fé; e que foi a ocasião de sua queda, rejeição e ruína. A grande tragédia que acometeu a nação judaica foi que o Messias tão esperado e desejado por essa nação se tornou para ela uma pedra de tropeço, em lugar de ser um abrigo em que ela poderia proteger-se. Paulo explica que a causa do fracasso de Israel, onde os judeus buscaram a justificação pelas obras, ou seja, achavam que poderiam se salvar pela justiça própria, mas acabaram se chocando contra a Pedra de Tropeço. Essa foi a rejeição e a crucificação de seu próprio Messias; a falta de vontade de serem salvos por Ele; seu desprezo por Ele e sua mensagem. 

3. Jesus Cristo como Pedra angular. Paulo fez em Romanos 9 referências também a outra passagem do profeta Isaías: “Eis que assentei em Sião uma pedra, pedra já provada, pedra preciosa, angular, solidamente assentada; aquele que crer não foge”. (Is 28.16). A Pedra que que Isaías se refere é Cristo Jesus: “E beberam todos de uma mesma bebida espiritual, porque bebiam da pedra espiritual que os seguia; e a pedra era Cristo.” Jesus é a Pedra angular (Ef 2.20), é a pedra que oferece alicerce seguro para quem confia n’Ele.

Na teologia Paulina Jesus Cristo é tanto “pedra de tropeço” “que faz cair” para os judeus, como como “Rocha de Salvação” para os gentios. Jesus é a pedra que oferece alicerce seguro para quem confia n’Ele. Nunca faltará chão para quem decide confiar em Jesus. 

CONCLUSÃO. Israel é o relógio de Deus na terra. Jesus disse: “Olhai para a figueira (Israel), e para todas as árvores; quando já têm rebentado, vós sabeis por vós mesmos, vendo-as, que perto está já o verão” (Lc 21.29-30).

A figueira é Israel. Pelas palavras de Jesus, conscientizamo-nos de quão próximo está “o verão”, pois a figueira está brotando. A restauração nacional já ocorreu, falta apenas chegar o verão para a restauração espiritual.

Pr. Elias Ribas - Dr. em Teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

A VIDA ABUNDANTE EM CRISTO - ROMANOS 8

 


Rm 8.1-17 “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito. 2 Porque a lei do Espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte. 3 Porquanto, o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne, 4 para que a justiça da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. 5 Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são segundo o Espírito, para as coisas do Espírito. 6 Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. 7 Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser. 8 Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus. 9 Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito, se é que o Espírito de Deus habita em vós. Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele. 10 E, se Cristo está em vós, o corpo, na verdade, está morto por causa do pecado, mas o espírito vive por causa da justiça. 11 E, se o Espírito daquele que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo também vivificará o vosso corpo mortal, pelo seu Espírito que em vós habita. 12 De maneira que, irmãos, somos devedores, não à carne para viver segundo a carne, 13 porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis. 14 Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. 15 Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. 16 O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. 17 E, se nós somos filhos, somos, logo, herdeiros também, herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo; se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados. 18 Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. 19 Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. 20 Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, 21 na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. 22 Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. 23 E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo. 24 Porque, em esperança, somos salvos. Ora, a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê, como o esperará? 25 Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos. 26 E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. 27 E aquele que examina os corações sabe qual é a intenção do Espírito; e é ele que segundo Deus intercede pelos santos. 28 E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto. 29 Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. 30 E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou. Cântico de vitória: Deus é por nós 31 Que diremos, pois, a estas coisas? Se Deus é por nós, quem será contra nós? 32 Aquele que nem mesmo a seu próprio Filho poupou, antes, o entregou por todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas? 33 Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. 34 Quem os condenará? Pois é Cristo quem morreu ou, antes, quem ressuscitou dentre os mortos, o qual está à direita de Deus, e também intercede por nós. 35 Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada? 36 Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro. 37 Mas em todas estas coisas somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou. 38 Porque estou certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as potestades, nem o presente, nem o porvir, 39 nem a altura, nem a profundidade, nem alguma outra criatura nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor!” 

INTRODUÇÃO

Existe um contraste entre os capítulos 7 e 8 de Romanos. No capítulo 7, o apóstolo afirma “o pecado habita em mim” (Rm 7.17,20), no capítulo 8, é o Espírito Santo quem habita em nós (v. 9). No capítulo7, Paulo fala sobre a força do pecado na carne, no capítulo 8 ele expressa a profundidade da vida espiritual, a libertação da condenação, a vitória sobre o pecado e nosso relacionamento com Deus através da pessoa de Jesus Cristo.

Nesse capítulo Paulo ensina a distinguir as coisas da carne das coisas do Espírito. A Palavra de Deus apresenta um princípio que deve guiar a vida daqueles foram alcançados pela graça divina. Somos livres em Cristo Jesus, mas não para andar segundo a carne”, pois a carne escraviza, mas segundo o Espírito 

I. A NOVA VIDA NO ESPÍRITO 

1. O Espírito Santo é Deus? A Bíblia descreve que o Espírito Santo é totalmente Deus. Juntamente com Deus Pai e Deus Filho (Jesus Cristo), o Espírito Santo é o terceiro membro da Divindade ou da Trindade.

O livro de Atos capítulo 5, descreve que Ananias mentiu ao Espírito Santo sobre o preço de uma propriedade: “Disse, então, Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade? Guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder? Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.” (At 5.3-4).

O nome usado aqui para o Espírito Santo é aquele empregado nas Escrituras para designar a terceira pessoa da Trindade, como implicando uma distinção do Pai. Pedro pretendia, sem dúvida, designar uma ofensa como cometida particularmente contra a pessoa o Espírito Santo.

Antes de Jesus volta para o Pai, falou a Seus discípulos a respeito do Espírito Santo dizendo: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre.” (Jo 14.16).

A palavra gregas para “outro” é allon, que significa “outro igual, da mesma espécie. O Pai enviará outro allos parákletos, outro consolador que “ficará conosco para sempre”.

Observe que Pedro disse para Ananias que ele não mentiu para homens, mas para Deus, para denotar que essa ofensa foi cometida contra o “Espírito Santo” e “o Espírito do Senhor” (Atos 5.9). 

2. “Porque a lei do Espírito de vida” (V. 2). A autoridade que governa o corpo não é mais a lei, nem a carne, nem o pecado, mas do Espírito Santo que nos dá a liberdade em Cristo. Pelo Espirito somos agora libertos do pecado.

A lei do Espírito de vida é superior a lei de Moisés, pois trata de uma esperança superior, pois é por ela que nos chegamos a Deus (Hb 7.18-19). 

3. Viver segundo o Espírito (1-4). A palavra “espírito” vem de uma raiz hebraica: “ruach”, do qual se deriva o vocábulo grego “pneuma”; e no lat. Spiritus e significa sopro, vento, respiração e princípio da vida. Esse vocábulo também descreve o espírito que habita no homem, o qual foi soprado por Deus (Gn 2.7).

Para viver segundo Espírito você precisa primeiramente receber o Espírito Santo. É Ele que convence o homem “do pecado, da justiça e do juízo” (Jo 16.8). O Espírito Santo não é apenas uma força como alguns pensam, mas Ele é o nosso guia e nosso consolador é Ele que revela a verdade de Deus. (Jo 16.7,13). Somente pelo Espírito Santo você consegue entender coisas espirituais e aplicar a verdade da Bíblia em sua vida.

O andar no Espírito é ter comportamento sábio e prudente, tendo uma vida de santidade. O Espírito de Deus é Santo, e só habita naquele que é santo. 

4. A presença do Espírito. Jesus prometeu enviar o Espírito Santo aos Seus discípulos após Sua ascensão (Jo14.16-17). Essa promessa se cumpriu no Dia de Pentecostes, quando o Ele desceu sobre os que estavam aguardando em oração (At 2.1-3), capacitando-os a testemunhar e viver vidas transformadas.

O Espírito Santo é a própria presença do poder de Deus que atua e habita na vida do crente (Sl 51.11; 139.7). Ele é o selo de Deus na vida do cristão: “Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa” (Ef 1.13). 

5. Quem tem o Espírito. Todos os que creram e seguem a Jesus têm o Espírito (Mc 16.16), os que nasceram de novo (Jo 3.3-5). Os que tem o Espírito não andam nas obras da carne (Rm 8.9).

O Espírito de Deus ou Espírito de Cristo, são alguns nomes e títulos que descrevem a sua natureza de Espírito Santo (8.9).

No verso 8, Paulo prescreve dizendo: “os que estão na carne não podem agradar a Deus”.

Para você agradar a Deus precisa ter o Espírito Santo (v. 9), ser o templo do Espírito Santo (1ª Co 6.19). “Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele.”

Não importa qual a tua igreja, se não tiver o Espírito Santo, não pertence a Ele. Se você não é dele, de quem você é? 

6. O Espírito Santo que ressuscitou Jesus (8.11). O apóstolo ensina que o Espírito Santo é quem ressuscitou Jesus, é ele que também vivificará o nosso corpo mortal. A garantia da nossa ressureição é habitação do Espírito dentro de nós. 

II. O CONFLITO DA LEI 

1. A lei do pecado (v. 3). Como já vimos no capítulo 7, a lei não fez o pecado surgir, mas ela veio revelar e aumentar o pecado. A lei do pecado trouxe a morte, porque o salário do pecado é a morte (Rm 6.23). A lei do pecado e da morte opera em nossos membros. A lei do Espírito, que dá vida em Cristo Jesus, me libertou da lei do pecado e da morte. (Rm 7.21-23; Rm 8.2). Portanto, somos libertos do domínio da lei e do pecado, e somos chamados para uma vida no espírito. “Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.” (Gl 5.18). 

2. Deus condenou o pecado (V. 3). “Deus enviou o seu Filho ao mundo não para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele.” (Jo 3.17). Em vez de condenar o pecador Cristo condenou o pecado. “Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne” (Rm 8.3b).

“Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus.” (2ª Co 5.21). O julgamento de Deus sobre o pecado de nossos membros agora foi cumprido em Cristo Jesus na cruz do Calvário. 

3. Como é possível a lei ficar enferma (v. 3). A lei era incapaz de nos salvar por causa da fraqueza de nossa natureza humana, por isso Deus fez o que a lei era incapaz de fazer ao enviar Seu Filho na semelhança de nossa natureza humana para que através do Seu sacrifício substitutivo na cruz, livrar-nos da condenação eterna. 

4. Qual a diferença entre a lei do Espírito e a lei do pecado. A lei do Espírito é vida, e a lei do pecado é morte, isto é, a lei do pecado e da morte opera em nossos membros. A lei do Espírito, que dá vida em Cristo Jesus, me libertou da lei do pecado e da morte. (Rm 7.21-23; Rm 8.2). O crente em Jesus não é mais servo da sua carne, e sim do Espírito, embora que a natureza humana é prisioneira da lei do pecado. 

III. A INCLINAÇÃO DA CARNE (vs. 1-9). 

1. A liberdade da condenação (1.1). O apóstolo Paulo afirma que não há condenação para quem está em Cristo Jesus. Para estar em Cristo você precisa em primeiro lugar, crer que Ele é o único e suficiente salvador, em segundo lugar você deve permanecer em Jesus (Jo 15.5-7) e terceiro lugar você precisa obedecer a Seus mandamentos. (Jo 14.21). Assim o cristão tem plena certeza que não será condenado: “Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.” (Jo 3.18). Jesus deixa claro que aqueles que não creem em seu nome já estão condenados. Enquanto nós estávamos em Adão, havia uma condenação. Agora estamos em Cristo, já não condenação sobre nós. 

2. Viver segundo a carne. A palavra carne no grego é sarx é utilizada para designar a natureza adâmica que domina o velho homem e o leva a praticar as obras da carne (Gl 5.19-21). A Bíblia descreve como carne, aquilo que mora dentro do homem, e se opõem contra Deus e sua vontade.

A carne é o instrumento onde o poder do pecado e o diabo controlam, onde as obras da carne são praticadas: “Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus.” (Gl 5.19-20). Portanto, aqueles que vivem nos pecados da carne não podem agradar a Deus (Rm 8.8).

No versículo 6 que a inclinação da carne (as coisas do mundo), “dá para a morte”. Pois que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma? (Mc 8.36-37). Tiago chama de: “Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. (Tg 4.4.). O amor do Pai não está voltada para aquele que amam o mundo “Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele. 16 Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não é do Pai, mas do mundo.” 1ª Jo 2.15-16

Se nossa disposição interior estiver voltada para o mundo, nossa conduta será carnal. Mas se ela estiver voltada para o Espírito, nossa maneira de viver será espiritual. 

3. Viver segundo a inclinação da carne resulta em morte (v. 6). O homem no pecado é inimigo de Deus, pois Deus abomina o pecado. O homem que comete pecado e não se arrepende certamente está em um caminho de morte. “Um exemplo da diferença entre tipos de pecados pode ser visto na vida de Saul e Davi, reis de Israel. Os dois cometeram pecados horríveis. O primeiro pecou e não se arrependeu; o segundo se arrependeu de todo coração. Quais foram as consequências? Saul morreu sem a esperança da vida eterna. Davi foi perdoado e foi-lhe assegurado um lugar no reino de Deus.”

Se alguém não se arrepender e recusar a salvação, partira deste mundo para uma condenação eterna. Deus não obrigará ninguém a ir para o céu. 

IV. FILHOS E HERDEIROS DE DEUS 

1. A vida como filhos de Deus (12-14). No capítulo 6.17-22, Paulo relata que éramos escravos (doulos) do pecado, agora em Cristo Jesus somos filhos de Deus guiados pelo Espírito Santo (v. 14). Desfrutamos da paternidade de filhos de Deus através Jesus.

Nós éramos criaturas desobedientes (Rm 1.30; 2ª Tm 3.2), mas, hoje “somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.” (Ef 2.10). A diferença está na obediência e no destino futuro (Rm 8.18). Enquanto um bom filho está disposto a obedecer, terá sempre um bom Pai. 

2. A adoção de filhos (15-17). A palavra adoção, em grego υἱοθεσία (huiothesia) é o ato de receber um estranho na família, reconhecendo-o como seu filho, e constituindo-o herdeiro dos seus bens. Todo mundo conhece alguém que adotou um filho (a) ou conhece um filho (a) que é adotado.

Deus não adota um crente como filho; este é gerado como tal, pelo Espírito Santo, na regeneração (Jo 3.3-5). Na regeneração há mudança de natureza, na adoção, há mudança de posição. “Mas a todos quantos o receberam deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus: aos que creem no seu nome.” (Jo 1.12). Para Paulo, o espírito de adoção dá aos cristãos condições de dirigirem-se a Deus dizendo: Abba, Pai (v. 15).

Paulo é o único escritor do Novo Testamento a empregar a palavra aqui traduzida por adoção. “Que são israelitas, dos quais é a adoção de filhos, e a glória ...” (Rm 9.4). “E nos predestinou para filhos de adoção ...” (Ef 1.5). O povo de Israel foi adotado no passado, mas deserdado por ter rejeitado a salvação em Jesus, mas aqueles que creem em Jesus foram adotados em Cristo, antes da fundação do mundo, “para louvor e glória da sua graça, pela qual nos fez agradáveis a si no Amado.” (Ef 1.6).

O Espírito Santo é a nossa garantia de sermos chamados de filhos: “O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus.” (Rm 9.16). E além de sermos recebido como filhos, o Pai nos deu a alegria de conviver com os demais filhos adotados, nossos irmãos na fé, que são a família de Deus. “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos e da família de Deus.” (Ef 2.19). 

3. Os filhos de Deus são guiados pelo Espírito Santo (v. 14). Paulo afirma que aqueles que são justificados em Cristo Jesus recebem o Espírito Santo como um selo e são identificados como “filhos de Deus” ao serem “guiados pelo Espírito de Deus”. Portanto, a presença do Espírito Santo é a evidência de que somos realmente filhos de Deus. Porém, Paulo relata dizendo “Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei. (Gl 5.18).

Para ser guiado pelo Espirito, existe apenas um caminho: nascer de novo. Jesus disse para Nicodemos que o novo nascimento é o nascer do Espírito (Jo 3.6). (João 3.3-6). Assim, nos tornamos novas criaturas.

4. A herança como filhos (v. 17). Fomos salvos, recebido como filhos, herdeiros de Deus, coerdeiros de Cristo e seremos glorificados na Sua vinda. Fomos adotados pela graça soberana, mediante o qual Deus nos justificou pela fé. Temos a graça de ser recebidos na família de Deus Pai, e tornados concidadãos e herdeiros da herança dos céus.

Qualquer filho, pela lei, tem direito a herança familiar. Em termos espiritual, ao sermos convertidos a Cristo, nós nos tornamos filhos de Deus. A natureza divina, que não tínhamos, foi implantada em nós e, assim, nos tornamos filhos e também herdeiros de Deus. 

“...se é certo que com ele padecemos...”. A herança de Deus que vamos receber com Cristo, inclui compartilhar com os sofrimentos que o Pai designou para Ele hoje, no nosso tempo. “Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também a nossa consolação sobeja por meio de Cristo.” (2ª Co 1.5).

Quem é filho por adoção para receber da herança com Cristo, deve estar pronto para sofrer com Ele, e, para que ao tempo determinado também seremos glorificados com Ele. 

V. A ESPERANÇA DA GLÓRIA FUTURA 

1. Os sofrimentos presentes e a glória futura (18-21). Quando alguém se converte a Jesus, fica muito animado e feliz, porém a vida cristã não é só mar de rosas. Muitas vezes passamos por vales profundos, outras vezes subimos montes elevados, as vezes choramos, as vezes sorrimos. A vida cristã tem altos e baixos Jesus mesmo disse: “Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” (Jo 16.33).

Jesus disse: “Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” (Lc 9.23). Jesus usou a expressão “e tome cada dia a sua cruz, e siga-me.” O que Jesus quis dizer? Na verdade, o Senhor realmente disse que devemos estar dispostos a morrer para seguir Jesus.

Paulo fala sobre o problema do sofrimento e da dor. Ele faz um contraste com o sofrimento do mundo presente com a glória futura que um dia Deus irá revelar pela qual nós participamos. Primeiro vem o sofrimento e depois vem a glória. Os sofrimentos que passamos aqui, comparado com a glória futura, eles são irrelevantes. Nós sabemos que Deus sempre está conosco em nossos desertos Is 43.2 “Quando passares pelas águas, estarei contigo, e, quando pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti.”

Neste versículo, Deus promete que estará com conosco nos momentos mais difíceis da nossa vida. Ele nunca nos desampara, mas vai adiante de nós através do Espírito Santo.

Embora passamos por sofrimento, os filhos de Deus aguardam com expectativa quando Jesus vir em glória, eles serão apresentados ao mundo, serão vistos como eles são. 

2. A expectativa da redenção (v. 21- 25). Vivemos hoje em um mundo devastado pelo pecado. A Terra geme e sofre, há tragédia após tragédia. Neste caos em que vivemos para

quem olhar? O salmista Davi responde: “Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra.” (Sl121.1-2).

A esperança que o cristão tem no por vir, traz a paz em nossos corações. Isso significa sentir a alegria do céu ainda que estejamos habitando na Terra. A esperança cristã está em sua base que é Cristo ressurreto. Ele ressuscitou e com Ele seremos todos transformados. 

3. A criação geme as dores de um parto (v. 22). A Criação não pecou, mas sofre por causa dos nossos pecados. Quando Adão pecou, toda a criação ficou sujeita à maldição. O pecado afetou a tudo o que Deus criou, por isso “a terra e as obras que nela há se queimarão. (2ª Pe 3.10). A terra e todo o universo um dia se desfarão.

A criação geme pela corrupção do homem, e Igreja sofre pelas perseguições, mas um dia aguardamos a volta de Jesus para restaurar todas as coisas. 

VI. O PAPEL DO ESPÍRITO SANTO 

1. A ajuda do Espírito na oração (v. 26). O Espírito ora por nós quando somos incapazes orar. Ele ora em nosso favor porque conhece a perfeita vontade do Pai para nós. Então, quando você trouxer seus pedidos a Deus, creia que Ele sempre fará o que é melhor. 

2. A intercessão do Espírito (v. 27). O Espírito Santo intercede junto ao Trono do Pai, com gemidos inexprimíveis, isto é, algo impossível de ser expresso em palavras, porque não está baseada em nosso intelecto ou em frases bem elaboradas. 

VII A SOBERANIA DE DEUS 

1. Todas as coisas cooperam para o bem (v. 28). Todas as coisas, as adversidades, batalhas espirituais, tudo o que acontece conosco de bom ou ruim tem um propósito, que Deus possa ser glorificado. Deus age desta forma em nossas vidas para nos corrigir, Ele de várias maneiras, dando-nos a chance de sermos melhores. “...o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã.” (Sl 30.5b).

Paulo explica que Deus guia tudo para o bem daqueles que Lhe obedecem e seguem Seu caminho. 

2. A predestinação e a glorificação (vs. 29-30). A predestinação e a presciência estão intimamente ligadas uma a outra. Na carta do apóstolo Pedro ele escreve dizendo: “eleitos segundo a presciência de Deus Pai” (1ª Pe 1.2), isto é, aquele que ele conheceu de antemão para serem conformes Seu Filho, o Homem glorificado no céu.

No passado Deus escolheu pessoas com propósito especifico como Abraão, Isaque, Jacó. Deus tinha em mente formar uma nação através deles para trazer o Messias ao mundo. Mas a Igreja o Pai escolheu n’Ele, em Cristo antes da fundação do mundo. Assim como Abraão foi escolhido para uma missão especifica, Jesus foi escolhido pelo Pai para vir a esse mundo com um propósito de salvar aquele que nele crer (Jo 3.16) e formar Sua igreja (Mt 16.18), para evangelizar o mundo (Mc 16.15).

Em Mateus 11.28-30, Jesus faz um convite aberto a todos que se encontram cansados e sobrecarregados. Aqueles que se arrependem dos seus pecados e se convertem, são justificados (Rm 1.17 5.1), e aos que são justificados, também são glorificados (v. 30). 

VIII. A VITÓRIA NO AMOR DE DEUS 

1. Se Deus é por nós, quem será contra nós (v. 31-34). Paulo afirma que todas as três pessoas divinas agem para o nosso bem: “... o mesmo Espírito intercede por nós” (Rm 8.26-27). “...Cristo Jesus...intercede também por nós” (Rm 8.34). “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8.31).

Sabemos que aqueles que andam segundo o Espírito são guiados pelo Espírito, também já aprendemos que as aflições e tribulações do tempo presente não se compara com a glória futura. Portanto, agora, aqueles que andam na verdade e praticam a justiça são protegidos por Deus (v. 32). Todas as circunstâncias da nossa vida, está no controle de Jesus. “O Pai ama o Filho e todas as coisas entregou nas suas mãos.” (Jo 3.35). 

2. Nada poderá nos separar do amor de Deus (v. 35-39). O contexto tem início com uma pergunta: “Quem nos separará do amor de Cristo?” (V. 35), e termina com uma afirmação: “(nada) será capaz de nos separar do amor de Deus” (v. 39).

“A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?” Paulo faz uma lista de adversidades que enfrentamos no dia a dia, mas nada disso pode nos separar do amor de Deus. Somos peregrinos nesta terra, estamos em batalhas contra a maldade e muitas pessoas se afastam de Cristo por causas destas adversidades, mas o vencedor não permite que nada disto venha separa do amor de Deus.

qualquer que permanece fiel até o fim será salvo (Mt 24.13).

Quando Paulo estava preso em Roma, próximo ao seu martírio, ele escreve a Timóteo dizendo: “Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira e guardei a fé” (2ª Tm 4.6-7). O apóstolo estava olhando para sua situação presente, sabia que eram seus últimos dias, mas não estava triste ou aflito, pois sabia que tinha combatido o bom combate e guardado a fé. Nem a espada separou Paulo do amor de Deus, ele via o seu martírio como uma oferta de gratidão a Cristo.

Por meio de Jesus Cristo, podemos vencer todas as dificuldades e tribulações da mortalidade. Nada pode separar-nos do amor de Deus, que se manifesta na Expiação de Jesus Cristo. 

CONCLUSÃO

O cristã que anda no Espírito tem grandes privilégios. É recebido como filho de Deus, guiado pelo Espirito Santo, glorificado em Cristo e herdeiros das coisas celestiais.

Pr. Elias Ribas Dr. em teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC


terça-feira, 6 de agosto de 2024

A LIBERDADE CRISTÃ ROMANOS 7

 


Romanos 7.1-25 “Não sabeis vós, irmãos (pois que falo aos que sabem a lei), que a lei tem domínio sobre o homem por todo o tempo que vive? 2 Porque a mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele viver, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido. 3 De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for doutro marido; mas, morto o marido, livre está da lei e assim não será adúltera se for doutro marido. 4 Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus. 5 Porque, quando estávamos na carne, as paixões dos pecados, que são pela lei, operavam em nossos membros para darem fruto para a morte. 6 Mas, agora, estamos livres da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra. 7 Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci o pecado senão peia lei; porque eu não conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás. 8 Mas o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, despertou em mim toda a concupiscência: porquanto, sem a lei, estava morto o pecado. 9 E eu, nalgum tempo, vivia sem lei, mas, vindo o mandamento, reviveu o pecado, e eu morri; 10 e o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte. 11 Porque o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou e, por ele, me matou. 12 Assim, a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom. 13 Logo, tornou-se-me o bom em morte? De modo nenhum! Mas o pecado, para que se mostrasse pecado, operou em mim a morte pelo bem, a fim de que pelo mandamento o pecado se fizesse excessivamente maligno. 14 Porque bem sabemos que a lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido sob o pecado. 15 Porque o que faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço, isso faço. 16 E, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. 17 De maneira que, agora, já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim. 18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum; e, com efeito, o querer está em mim, mas não consigo realizar o bem. 19 Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. 20 Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim. 21 Acho, então, esta lei em mim: que, quando quero fazer o bem, o mal está comigo. 22 Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. 23 Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. 24 Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? 25 Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor. Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado.” 

INTRODUÇÃO No capítulo 6, encontramos a ilustração da liberdade do pecado na figura do escravo e seu senhor. Este capítulo trata a respeito da libertação da lei. Para que seus leitores compreendessem o assunto, Paulo faz uma analogia sobre a lei e o casamento. Ele usa essa imagem para mostrar que a lei tem poder sobre a pessoa apenas enquanto ele está vivo. Uma vez morrendo para lei por meio de Cristo Jesus, estamos livres para servir a Deus. 

I. A LEI DE MOISÉS 

1. Definição. A palavra Tora do hebraico תּוֹרָה, significando Lei, instrução, orientação, conjunto de ensino profético ou doutrina. É o nome dado aos cinco primeiros livros do Tanakh também chamados de Hamisha Humshei Torah, mas o termo Torá é aplicado igualmente ao Antigo Testamento como um todo.

A Torá possui 613 mandamentos (mitzov). A Lei de Deus é invariável e Eterna devido a sua origem Divina. 

2. A lei de Moisés. Na Bíblia, ao referir à lei de Moisés, para os judeus não se acha a distinção de lei “moral”, “cerimonial” ou “civil” mas somente: “Lei”, “Lei do Senhor” e “Lei de Moisés”. Nisso podemos entender que o Decálogo é só uma parte da Lei e não a sua totalidade.

É claro que o Decálogo tem as partes morais, cerimônias e civis. Essas partes, em si, não são distinguidas como sendo maior ou menor da “lei” mas, a própria lei. A parte cerimonial (sacrifícios) é chamada “lei” (Lc 2.27). A parte moral é chamada “lei” (1ª Tm 1.9). A parte civil é chamada “lei” (At 23.3).

Os judeus definem a Lei de Moisés como a expressão máxima da vontade de Deus. 

3. O que é aplicável aos nossos dias? A lei cerimonial já não se aplica mais. As leis civis se aplicam em princípios, mas não segundo o culturalismo hebraico da época. As leis morais continuam em vigor. Outro aspecto da lei veterotestamentária é que todas as leis se achavam no contexto da aliança que Deus tinha feito com Israel no monte Sinai. A função da lei era administrar ou superintender a aliança. 

4. Preceito moral fora do Decálogo. Há princípios que são imutáveis e universais. Não há para eles a questão de transculturação. Onde quer que o Evangelho for pregado tais princípios fazem-se presentes; são preceitos morais e éticos.

Os dois maiores mandamentos são preceitos morais (Mc 12.29-31). Entretanto, não constam no Decálogo; é uma combinação de Deuteronômio 6.4-5 com Levítico 19.18. Por outro lado, encontramos no Decálogo o quarto mandamento, que não é preceito moral. Jesus disse que o sacerdote podia violar o sábado e ficar sem culpa (Mt 12.5). 

5. Jesus e a Lei de Moisés (Mt 5.17,18). A lei não é contrária às promessas de Deus, mas foi adicionada por Deus devido às transgressões dos homens. A promessa foi feita a Abraão e a lei por Moisés, e a graça por Cristo. (Jo 1.17).

A nossa fé está baseada na lei de Cristo, que representa a graça de Deus em favor do homem caído, garantindo a nossa salvação. As leis e as cerimônias do Antigo Testamento, não foram capazes de salvar ninguém, conforme o Concílio Apostólico em At 15.11: “Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram”. A lei estabelece a justificação pela fé, pois “sem fé é impossível agradar a Deus” (H 11.6) A fé estabelece a lei, pois em Cristo cumprimos a lei. 

II. A LEI E A ANALOGIA DO CASAMENTO 

1. A metáfora do casamento (v. 1-3). Os cristãos em Roma entendiam que a lei tinha domínio sobre eles por toda a vida. Por isso a liberdade da lei é ilustrada em termos da relação entre a esposa e seu marido. Paulo explica que enquanto o marido viver, a mulher está obrigada a ser fiel a ele. Mas morrendo o marido a viúva está livre da lei do marido para se casar com outro. Assim a lei tem domínio sobre o homem enquanto este viver, ou seja, assim como a morte dissolve o vínculo entre o marido e esposa, a morte do crente com Cristo rompe o jugo da lei. Ele está livre para unir-se com Cristo.

2. Mortos para a lei (vs. 4). O cristão ao morrer para o pecado e para a lei, é livre da lei e do pecado (Gl 5.1). Depois da morte do velho homem, a pessoa fica livre para entrar em um relacionamento com outro, o Cristo ressurreto. A morte liberta da vida anterior e de suas servidões. Agora, Cristo o novo marido, não morre (Rm 6.9), portanto, a nova união nunca mais será dissolvida. Da mesma forma que o liberto pertence ao seu novo Senhor, assim também o “novo ser” ressuscitado em Cristo não vive mais para si mesmo, mas para Cristo e para Deus (Gl 2.20). 

3. A caduquice da Lei (vs. 5-7). Neste verso 5 o apóstolo explica que a lei é um instrumento do “pecado e da morte” para aquele que vive “as paixões dos pecados, que são pela lei”. A lei, nesse caso, é a lei mosaica, que Deus entregou para que seu povo seguisse.

As paixões dos pecados dominam o velho homem e geravam este fruto para a morte. Ao morrermos com Cristo, nos livramos do poder que o pecado exercia sobre nós, tal qual a mulher se livra da obrigação com o marido na morte dele.

Mas, agora, estamos livres do pecado e da lei, pois morremos para aquilo em que estávamos retidos; para que sirvamos em novidade de espírito, e não na caduquice da letra. 

4. A lei do Espírito. O novo convertido muda de caminho e segue agora a lei do Espírito de vida, que opera na vida do crente. O Espírito entra no crente e o liberta do poder do pecado (Rm 7.23). A lei do Espírito entra em plena operação, à medida que os que creem se comprometem a obedecer ao Espírito Santo (vs. 4, 5, 13-14). Descobrem que um novo poder opera dentro deles; poder este que os capacita a vencer o pecado. A “lei do pecado e da morte”, neste versículo, é o poder dominante do pecado, que faz da pessoa uma escrava do pecado (Rm 7.14), reduzindo-a à miséria (Rm 7.24). 

III. A FUNÇÃO DA LEI 

1. A lei é pecado? (V. 7-8). Evidentemente que não. O culpado é a carne que se utilizou da Lei. Paulo vai dizer que: “Eu conheci o pecado pela lei”. (v. 7). Isto é, a lei nos deu consciência real de nosso pecado, nos fazendo sentir culpado. 

2. A lei veio revelar o pecado (v. 7). “E eu, nalgum tempo, vivia sem lei...”. Paulo se refere quando era criança, mas quando se tornou adulto e conheceu a lei e o pecado eu morri. A lei não é pecado, mas ela veio revelar o pecado, isto é, tornar o pecado conhecido. Dos dez mandamentos, o apóstolo tomou o último: “Não cobiçarás” (Êx 20.17). 

3. A lei veio provocar o pecado (v. 8-9). Paulo explica que o conhecimento da lei, que foi confiado ao judeu, não lhe permitia viver de acordo com os preceitos divino. Somente o poder do Espírito Santo capacita à vida nova.

A lei traz a consciência do pecado (8-9) e é ligada à morte (10-11). Portanto, os legalistas que buscam a vida através da lei, terão que procurar em outra fonte, pois a lei não traz a salvação. 

4. A lei é santa. Pelo mandamento santo e bom, o pecado achou espaço (Gn 3.1-6), e matou o homem por causa da lei (Gn 2.17), que é santa (Rm 7.12).

Paulo nos ensina que o legado da lei é nos mostrar o certo e o errado. Dependendo da nossa atitude podemos agradar a Deus ou não.

Infelizmente há muitos que ensinam que a santificação é o resultado do legalismo. Hoje há muitos que pregam regras humanas, hábitos e costumes como meios para santificação. Assim eram os fariseus nos dias de Jesus; que Deus nos livre desse espírito de religiosidade e legalista. 

5. A lei revela a natureza mortal do pecado (v. 13). Então o que é bom se tornou para mim morte? A culpa da minha morte está na boa lei? De maneira nenhuma. Segundo o apóstolo Tiago ele diz: “Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte” (Tg 1.15).

A causa da minha morte é o pecado. A concupiscência até parece bom no primeiro momento, mas de pois de consumado o pecado ela nos prende e nos leva a destruição.

Na carta de Paulo aos Gálatas ele pergunta: “por que foi dada a lei? Foi ordenada por causa das transgressões...” (Gl 3.19). Paulo quer dizer que a lei foi escrita para fazer transgressões conhecidas e, dessa maneira, obrigar os homens a reconhecer sua culpa. 

IV. A LUTA INTERNA CONTRA O PECADO 

1. A fraqueza da carne e a espiritualidade da lei (v. 14). Aqui começa o conflito entre homem carnal e o homem interior. Paulo explica como a lei torna nosso corpo escravo do pecado por causa da nossa natureza humana, mesmo conhecendo a lei de Deus que é divina. Quando o homem é carnal vendido ao pecado, ele vive os desejos da carne (Gl 5.19-21), sem se preocupar com o pecado e suas consequências. Porém, quando o homem é espiritual, vive uma guerra entre a carne e o Espírito. “A carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis.” (Gl 5.17). 

2. O conflito entre o quere fazer (vs. 15-20). Gálatas 2.20, Paulo diz que está crucificado com Cristo. Mas aqui ele esclarece que tem uma guerra interior. Esse conflito envolve o chamado velho homem, a velha natureza carnal e pecaminosa, voltada sempre para o mal. 

As armas espirituais. Na carta aos Corintos Paulo diz: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas, sim, poderosas em Deus, para destruição das fortalezas.” (2ª Co 10.4).

Quais as armas da nossa milicia? A Palavra de Deus (2ª Tm 2.15; Ef 6.17); a oração (Ef 6.18); louvor e adoração (2º Crônicas 20.21) e estar em comunhão na casa de Deus (At 2.26).

Na verdade, o pecado nunca vai te abandonar, mas você deve estar revestido com as armas espirituais (Ef 6.10-17), para resistir o diabo. “Sujeitai-vos, pois, a Deus; resisti ao diabo, e ele fugirá de vós.” (Tg 4.7). Para vencer essa a natureza pecaminosa, temos que colocar Jesus Cristo em primeiro lugar.

Com as armas espirituais, oração e vigilância você permanece firme. E essa luta só acaba quando partimos para a eternidade. 

3. A dualidade entre a lei interior e a lei do pecado (v. 21-23). Mesmo Paulo tendo profunda intimidade om Deus, tinha uma grande luta travada entre a carne e o espírito. Da mesma forma acontece com todos nós cristão que já entregaram as suas vidas nas mãos de Deus vivemos esta luta interior. 

A lei é boa (v. 16). A uma forte influência do pecado na vida do apóstolo porque, o pecado também habita nele (vs. 17, 20).

A maldade que exerce em nosso íntimo nos leva ao pecado, mesmo a lei sendo “santa, justa e boa”, não pode nos livrar desta situação. Mesmo quando somos rebelde e desobediente, o Espírito Santo revela a essencial bondade da lei. 

“não sou mais eu quem o faz (v. 17). A lei moral na mente de Paulo batalha contra a lei do pecado. “De maneira que, agora, já não sou eu que faço isto, mas o pecado que habita em mim.” (v. 17). Paulo está dizendo que na sua carne não existe bem algum por causa do poder do pecado que é a desobediência.

Em primeiro momento parece que Paulo sede ao pecado: “mas o mal que não quero, esse faço.” Mas quando recorremos a outros textos ele esclarece que não. “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o espírito.” (Rm 8.1). Andar segundo o Espírito é produzir o fruto do Espírito. E uma parte desse fruto é a “temperança” ou o domínio próprio. (Gl 5.22) que é o autocontrole, a renúncia e a moderação.

Nós temos o desejo de fazer o bem, mas não conseguimos fazê-lo, porque a nossa carne é pecaminosa. O bem que desejamos fazer é o desejo do homem regenerado, que decidiu servir a Deus e tem um coração voltado para Ele, mas a carne tem desejo contrário, e é terrena.

Nessa luta interior, muitos desistem e se entregam ao pecado, ao domínio do mal. Se você quer abandonar os desejos carnais, então, precisa aprender a guerrear. Portanto, não desista nunca, pois, “Aquele, porém, que perseverar até o fim, será salvo” (Mc 13.13), mas “se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo.” (1ª Jo 2.1). 

4. O clamor não é um grito de desespero (24-25). Paulo reconhece sua miséria e faz a seguinte pergunta: “Quem me livrará do corpo desta morte?” Então ele encontra a solução e dá graças a Deus por causa de Jesus, que é nossa escolha. O livramento vem, não do esforço legalista, mas mediante a lei de Cristo. “Assim que eu mesmo, com o entendimento, sirvo à Lei de Deus, mas, com a carne, à lei do pecado.” (V.25). Paulo conclui que o problema não é a Lei; o problema é a carne. 

CONCLUSÃO. Mesmo o cristão vivendo debaixo da graça experimenta o conflito entre sua antiga natureza e sua nova vida em Cristo.

Aprendemos com Paulo que através do evangelho ele se tornou um homem mudado e teve poder sobre o pecado, que antes ele não tinha. O poder do Espírito Santo nos capacita para se alcançar a justiça em Cristo Jesus.

Pr. Elias Ribas Dr. em Teologia

Assembleia de Deus

Blumenau - SC