TEOLOGIA EM FOCO

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

A IGREJA DE JESUS CRISTO


Efésios 5.32 “Grande é este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja.” O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos.”

INTRODUÇÃO.

Nesta lição, estudaremos alguns aspectos importantes em relação à Igreja. Esta instituição, fundada por nosso Senhor Jesus Cristo, é única em todo o mundo, em sua missão, atribuições e ação, em prol da salvação da humanidade. Como “coluna e firmeza da verdade” (1ª Tm 3.15), a Igreja congrega a reserva moral e espiritual, inabalável, sobre a terra, a servir de padrão para todos os que nela se firmarem. Que Deus nos ensine a compreender e valorizar mais a Igreja do Senhor.

A verdadeira Igreja do Senhor não conhece outro legislador além de Cristo e descobre que seu gozo mais elevado na terra consiste em saber sua vontade e fazê-la. Sua maior glória no futuro será tornar-se semelhante a seu Senhor (1ª Jo 3.1-3). Vestida da justiça de Cristo, cheia de seu amor, revestida de seu Espírito e cumprindo sua vontade, a Igreja eleva os seus olhos ao céu, esperando a volta daquEle a quem ama (1ª Ts 1.9,10).

Foi com referência a esta solene assembleia que Jesus disse: “Edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

A Igreja de Cristo tem três significados nas Escrituras: instituição, organização e comunhão espiritual.

A Igreja de Cristo como instituição explica a sua natureza. A Igreja como organização é a convocação visível num local, de crentes regenerados, salvos, pela graça de Deus, mediante a fé em Cristo crucificado e ressurreto, na comunhão do Espírito Santo e batizados num só corpo. A Igreja como uma comunhão espiritual, chamada Igreja em glória ou Igreja dos primogênitos, não é uma organização, mas um corpo místico, uma comunhão no Espírito. É a Igreja gloriosa, sem mácula e sem ruga; é a Igreja que existe através dos séculos, na terra e no céu, onde não existe barreira de raças e nações, e que se congregará ao redor do Trono de Deus.

I. O SIGNIFICADO DA PALAVRA IGREJA

O significado do vocábulo “igreja” - paralelo ao vocábulo grego: ekklesia, composta de “ek”, significa de dentro de, mais “kaleó”, significa chamados, que ganhou o sentido de “chamados para fora”.

1. A palavra grega no Novo Testamento significa:

1.1. Um grupo de pessoas convocadas, como em uma assembleia de cidadãos reunidos (At 19.32,39).

1.2. O termo tem uma aplicação mais sagrada e refere-se àqueles que foram chamados por Deus para deixar o mundo e as coisas pecaminosas para dentro da comunhão de seu Filho Jesus Cristo (Ef 2.16-19).

1.3. Em sentido mais geral, a palavra serve para denotar a totalidade do corpo, no mundo inteiro, daqueles que professam a Cristo e se organizam para cultuar a Deus, sob a direção de oficiais vocacionados (1ª Co 10.32; 11.22; 12.28; Ef 4.11-16). No Novo Testamento, o Senhor Jesus foi o primeiro a fazer uso da palavra igreja e Ele a aplicou ao grupo dos que se reuniram em torno dele, reconheceram-no publicamente como Seu Senhor e aceitaram os princípios que Ele ensinou (Mt 16.18).

Os escritores neotestamentários empregaram o grego ekklesia no sentido de “reunião de pessoas”, “ajuntamento” ou “assembleia”. No Antigo Testamento, os autores bíblicos utilizaram o hebraico qahal, que significa “multidão humana reunida”, para designar a assembleia do povo de Deus (Dt 10.4; 23.2,3; 31.30; Sl 22.23). Já na Septuaginta, esse mesmo termo geralmente é traduzido pelo grego ekklesia.

De fato, teologicamente essa é uma verdade absoluta com relação à Igreja, no sentido de que os membros do corpo de Cristo foram chamados para viverem fora do padrão pecaminoso do mundo. Porém não é exatamente nesse sentido que a palavra “Igreja” é empregada na Bíblia.

II. A IGREJA UNIVERSAL E A IGREJA LOCAL

Mesmo no Novo Testamento, por duas vezes o termo ekklesia é utilizado para se referir à assembleia dos israelitas (At 7.38; Hb 2.12). Mas em todas as outras ocorrências, ekklesia designa a Igreja Cristã, tanto no sentido de sua pluralidade nas comunidades locais (Rm 16.16; 1ª Co 4.17; 7.17; 14.33; Cl 4.15) quanto em seu aspecto universal, destacando sua unidade, ou seja, só há uma única Igreja (At 20.28; 1ª Co 12.28; 15.9; Ef 1.22).

A palavra igreja é usada na Bíblia em dois sentidos: Em sentido universal e em sentido local.

1. No sentido universal. A Igreja consiste de todos aqueles que nasceram do Espírito Santo, e foram batizados no corpo de Cristo (1ª Co 12.13). Isto é provado pelo fato do Senhor Jesus ter falado de construir Sua Igreja e não igrejas. (Mt 16.18; 1ª Co 15.9; Ef 3.10; 5.23-27).

A igreja universal consiste de todos os discípulos de Cristo em todo o mundo. Nenhum homem é capaz de identificar e contar todos os membros deste corpo universal. Tentativas de contar todos os verdadeiros cristãos em uma nação ou no mundo ilustram a ignorância e a vaidade dos homens. Somente Deus pode contar e identificar Sua “igreja dos primogênitos arrolados nos céus” (Hb 12.23).

III. FIGURAS ILUSTRATIVAS DA IGREJA

1. O Corpo de Cristo (Cl 1.24; Ef 1.22-23; 4.12). Assim como o corpo humano não pode sobreviver separado da cabeça, não podemos viver sem nosso cabeça, Jesus Cristo (Ef 5.23; Cl 1.18). Discípulos de Jesus são membros do corpo (Rm 12.4-5; 1ª Co12.12-27; Ef 3.6; 4.16; 5.30).

2. A igreja é um corpo vivo. O uso dessa figura mostra que a igreja é um organismo; ela tem ligação vital com Cristo e não uma mera organização. Um organismo é qualquer coisa viva, que se desenvolve pela vida inerente.

3. Jesus é o cabeça do corpo. Ef 1.22 “E sujeitou todas as coisas debaixo dos seus pés, e para ser cabeça sobre todas as coisas o deu à igreja”.

Efésios 5.23-24 “Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo. 22- Vós, mulheres, submetei-vos a vossos maridos, como ao Senhor; 23- porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o Salvador do corpo. 24- Mas, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam em tudo a seus maridos”.

O apóstolo Paulo afirmou que a igreja pertence a Deus e que ela está sujeita a Cristo, sendo a igreja o seu corpo. O apóstolo Paulo demonstrou que faz parte do corpo de Cristo na condição de servo.

“Á igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso.” (1º Coríntios 1.2).

4. Noiva De Cristo. 2ª Co 11.2 Porque estou zeloso de vós com zelo de Deus; pois vos desposei com um só Esposo, Cristo, para vos apresentar a ele como virgem pura”.

Ap 19.7-8 “Regozijemo-nos, e exultemos, e demos-lhe a glória; porque são chegadas as bodas do Cordeiro, e já a sua noiva se preparou, 8- e foi-lhe permitido vestir-se de linho fino, resplandecente e puro; pois o linho fino são as obras justas dos santos”.

5. O Reino de Deus ou Reino dos Céus. (Mt 3.2; 4.17; Lc 4.43; At 8.12; 19.8; 20.25; 28.23,31). A ideia de reino ressalta a posição de autoridade do rei (veja 1ª Co 4.20; Hb 1.8; 12.28-29; Mt 28.18-20; Ap 12.10). O reino de Cristo não é deste mundo (Jo 18.36). Em vez de ser uma entidade política e mundana, a igreja é um reino espiritual assentado no caráter santo de Deus. Podemos entrar no reino somente quando formos transformados espiritualmente (Cl 1.13). Como servos do Rei, temos que desenvolver as características espirituais de nosso Senhor (Tg 2.5), incluindo sua humildade, inocência (Mc 10.14-15) e santidade (1ª Co 6.9-10; Gl 5.19-21).

6. A Casa de Deus (1ª Tm 3.15). Não é um edifício material, mas o santuário e a habitação do Senhor (Efésios 2:21-22). É um edifício espiritual (1 Pedro 2:5).

7. Coluna é Esteio Da Verdade. A figura expressa o fato de que a Igreja sustenta e preserva a verdade revelada por Cristo, ela é a guardiã e proclamadora e defensora da verdade.

1ª Tm 3.14-15 “Escrevo-te estas coisas, embora esperando ir ver-te em breve, 15 para que, no caso de eu tardar, saibas como se deve proceder na casa de Deus, a qual é a igreja do Deus vivo, coluna e esteio da verdade”.

8. Povo de Deus. 2ª Co 6.16 “E que consenso tem o santuário de Deus com ídolos? Pois nós somos santuário de Deus vivo, como Deus disse: Neles habitarei, e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo”.

1ª Pe 2.9-10 Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. 10 Vós que outrora nem éreis povo, e agora sois de Deus; vós que não tínheis alcançado misericórdia, e agora a tendes alcançado.

Tt 2.14 “Que se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo todo seu, zeloso de boas obras”.

9. As Ovelhas do Bom Pastor. Jo 10.11-15Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.14 Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15- assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas”.

10. O Rebanho de Deus (At 20.28). Jesus é o bom pastor que deu sua vida pelas ovelhas (Jo 10.11). As ovelhas ouvem sua voz e o seguem para receber a vida eterna (Jo 10.27-28)

11. Os Ramos da Videira. Jo 15.1-8,16 “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o viticultor. 2- Toda vara em mim que não dá fruto, ele a corta; e toda vara que dá fruto, ele a limpa, para que dê mais fruto. 3- Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado. 4- Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim. 5- Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. 6- Quem não permanece em mim é lançado fora, como a vara, e seca; tais varas são recolhidas, lançadas no fogo e queimadas. 7- Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito. 8- Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos”.

V. 16 “Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda”.

IV. O FUNDAMENTO DA IGREJA

1. Não é Pedro (Mt 16.15-18). O texto bíblico revela o diálogo entre Jesus e os discípulos, quando estes disseram que certas pessoas o consideravam como João Batista ressurreto, ou Elias, ou Jeremias ou outro dos antigos profetas (ver Mt 14.1,2; Lc 9.7,8; Mc 6.14,15). Jesus lhes perguntou: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (v.15). “E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v. 16). Diante dessa resposta, Jesus disse: “Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (vv. 17,18).

2. A pedra é Cristo. Na resposta de Jesus (v. 18), podemos ver que Ele próprio é a pedra sobre a qual a Igreja está assentada. Quando Ele disse: “Tu és Pedro”, usou a palavra petros que quer dizer “pedrinha” ou “fragmento de pedra”, que pode ser removida. De fato, Pedro demonstrou certa fragilidade, em sua personalidade. Numa ocasião, deixou-se usar pelo inimigo (Mc 8.33); num momento crucial, negou Jesus três vezes (Mt 26.69-75). Por isso, quando Jesus disse: “sobre esta pedra edificarei a minha igreja”, Ele utilizou a palavra petra, que tem o significado de rocha inamovível, e não petros que é “fragmento”.

3. A edificação da Igreja. Ele disse “a minha igreja” (Mt 16.18). Logo, se for minha ou sua, então não é igreja. Se for igreja, pertence a Jesus. Lembre-se de que foi Jesus que morreu pela igreja, não foi o pastor, bispo ou papa! Por isso em Mateus 16.18, vemos a promessa da edificação da Igreja sobre o próprio Cristo. Ele é a Rocha. Somente Ele satisfaz essa condição, conforme lemos em 1ª Co 3.11; 10.14; Rm 9.33; Mt 21.42; Mc 12.20; Lc 20.17. Sem dúvida, Pedro foi um dos líderes da Igreja primitiva, ao lado de Tiago e de João (At 12.17; 15.13; Gl 2.9). Contudo, não há base bíblica para afirmar que a Igreja teria Pedro como a rocha sobre a qual ela seria edificada. Jesus é o fundamento da Igreja (1ª Co 3.11).

Se alguém tem dúvida, basta ouvir o que o próprio Pedro disse em 1ª Pe 2.4,5 “E, chegando-vos para ele, pedra viva, reprovada, na verdade, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa. 5- Vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecer sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por Jesus Cristo. 6- Por isso também na Escritura se contém: Eis que ponho em Sião a pedra principal da esquina, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido. 7- E assim para vós, os que credes, é preciosa, mas, para os rebeldes, a pedra que os edificadores reprovaram, essa foi a principal da esquina. 8- E uma pedra de tropeço e rocha de escândalo, para aqueles que tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados.”

At 4.8,12 Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse: Principais do povo, e vós, anciãos de Israel. 9- Visto que hoje somos interrogados acerca do benefício feito a um homem enfermo, e do modo como foi curado. 10- Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, em nome desse é que este está são diante de vós. 11- Ele é a pedra que foi rejeitada por vós, os edificadores, a qual foi posta por cabeça de esquina. 12- E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos.

Também o apóstolo Paulo afirmou dizendo que Cristo é a Rocha da Igreja: Romanos 9.33 “Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma ROCHA de escândalo.”

É isso que Jesus Cristo representa para os dois tipos de pessoas do mundo, os que creem e os que não creem: Uma pedra de tropeço/de escândalo ou uma rocha de segurança.

Rocha de tropeço/escândalo para todos os que não aceitam as verdades sobre Ele e não admitem sua divindade e missão como Filho de Deus. Jesus é uma pedra de tropeço para os céticos, para os ateus, para os de outras religiões e até mesmo para certas áreas do conhecimento humano.

Cristo é uma rocha de escândalo para os que querem viver suas vidas sem prestar contas a Deus de seus atos, para os obstinados, rebeldes, imorais e idólatras. Um escândalo para espiritualistas, para os enganados por vãs filosofias.

Disse o salmista: “O Senhor é a minha rocha, a minha fortaleza e o meu libertador; o meu Deus é o meu rochedo, em quem me refúgio. Ele é o meu escudo e o poder que me salva, a minha torre alta” (Salmo 18.2).

4. É Jesus quem edifica a igreja. Ele disse “Eu edificarei a minha igreja...” Nenhum líder espiritual tem capacidade ou talentoso para edificar a Igreja. Às vezes fico impressionado com alguns que dizem que Pedro é o líder da Igreja. Deveríamos ficar impressionados/as com Jesus. É ele quem edifica a Igreja.

5. As chaves dadas a Pedro. Em sua resposta a Pedro, Jesus disse: “E eu te darei as chaves do Reino dos céus...” (Mt 16.19a.). As “chaves dos céus” são melhor entendidas como o poder e a autoridade para transmitir a mensagem do evangelho. No Dia de Pentecostes, Pedro foi usado por Deus para abrir as portas do Cristianismo aos judeus (At 2.38-42) e aos gentios, na casa de Cornélio (At 10.34-36). Portanto, Pedro não é o porteiro do céu, como pensam os romanistas.

V. PRERROGATIVAS DA IGREJA

1. O poder de ligar e desligar. “...e tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16.19). Trata-se de autoridade dada por Cristo à Igreja, representada ali por Pedro, usado por Deus, e estendida a todos os apóstolos (Mt 18.18; Jo 20.23), no sentido de receber a aceitação de pecadores ao Reino dos céus, ou de desligá-los, mediante a autoridade concedida por Jesus. Esse poder não é absoluto. Só pode ser utilizado de modo legítimo, nos limites estabelecidos pela Palavra de Deus.

2. A autoridade para reconciliar. Jesus mostrou que há quatro passos importantes, para a reconciliação entre irmãos:

2.1. O ofendido deve procurar o irmão: “vai e repreende-o entre ti e ele só” (Mt 18.15a); neste passo, há uma bifurcação; “se te ouvir, ganhaste a teu irmão” (Mt 18.15b); “mas, se não te ouvir”, vem o segundo passo;

2.2. “leva ainda contigo um ou dois, para que pela boca de duas testemunhas toda a palavra seja confirmada” (Mt 16.16);

2.3. “e se não as escutar, dize-o à igreja” (v. 17a);

2.4. “e, se também não escutar à igreja, considera-o como um gentio e publicano” (v. 17b). Aqui, temos algumas observações. Primeiro, Jesus não mandou o irmão ofendido pedir perdão ao ofensor, como ensina alguém, de modo ingênuo. Segundo, vemos, nesse texto, a autoridade da Igreja para respaldar a reconciliação e para excluir aquele que não quer reconciliar-se.

3. Autoridade da concordância (Mt 18.19,20).

3.1. “Se dois de vós concordarem na terra”. Esta expressão mostra-nos o valor da união entre os crentes, bem como o valor da oração coletiva, a começar por um grupo de duas pessoas, que resolvem orar a Deus, em nome de Jesus (Jo 14.13), num só pensamento, num só propósito santo. Esse ensino previne contra o egoísmo na adoração. Deus é “Pai nosso”, de todos, e não apenas de cada indivíduo. A oração individual é valiosa (Mt 6.6), mas não exclui a oração coletiva.

3.2. “Acerca de qualquer coisa que pedirem”. A expressão “qualquer coisa” tem levado muitos a uma interpretação forçada do texto, crendo que o crente pode pedir o que deseja a Deus, tendo este obrigação de atendê-lo. Ocorre que Jesus ensinou algumas condições para o crente ser ouvido. Não é só dois crentes se unirem e pedirem, por exemplo, a morte de um desafeto; ou para ganharem rios de dinheiro; ou para fazerem o casamento de alguém com outrem. É necessário que as pessoas estejam em Cristo, e que sua Palavra esteja nas pessoas (Jo 15.7). É importante lembrar que Deus nos atende se pedirmos algo de acordo com sua vontade (1Jo 5.14).

3.3. “Isto será feito por meu Pai que está nos céus”. Conforme dissemos no item anterior, Deus atende o crente que lhe pede algo em nome de Jesus (Jo 14.13), e se tal pedido for da sua vontade (1Jo 5.14).

3.4. “Dois ou três” (v. 20). Jesus nos garante que podemos ter sua presença, não só nas grandes reuniões, mas em qualquer lugar em que dois ou três crentes estejam em comunhão com Deus e com eles mesmos. Dessa forma, a dimensão da igreja local (At 20.28; 1ª Co 1.2) ou universal (Hb 12.23) não depende de grandes números, mas de união e reunião em nome de Jesus.

VI. AS MARCAS DISTINTIVAS DA IGREJA

1. A Fiel Pregação Da Palavra De Deus. Essa marca da Igreja é a mais importante. A pregação fiel da Bíblia é a grande condição para a manutenção da igreja e para habilitá-la a ser a progenitora dos fiéis. Esta marca característica da Igreja é ensinada em Jo 8.31,32,47; 1ª Jo 4.1-3; 2ª Jo 9.

2. A Correta Ministração Dos Sacramentos. A correta ministração das ordenanças, isto é, do Batismo e da Ceia do Senhor, é também uma das marcas distintivas da Igreja. Jamais se deve separar os sacramentos da Palavra de Deus, pois, eles são uma pregação visível da Palavra. As ordenanças ou sacramentos devem ser ministrados por legítimos oficiais da igreja, de acordo com a instituição divina, e somente a participantes crentes. Uma inadequada ministração dos sacramentos, é na verdade uma negação das verdades centrais do Evangelho de Jesus Cristo. A fiel administração das ordenanças é uma das marcas características da igreja verdadeira, quando é seguida da verdadeira pregação da Palavra de Deus (Mt 28.19, 20; Mc 16.15, 16; At 2.42; 1ª Co 11.23-30).

3. O Fiel Exercício Da Disciplina. O uso da disciplina é realmente indispensável para sustentar a pureza da doutrina e para proteger a Santidade da igreja. As igrejas que relaxarem na disciplina, descobrirão mais cedo ou mais tarde, um afastamento da verdade e um abuso das coisas santas. Portanto, a igreja que quiser permanecer fiel ao ideal bíblico, deverá ser zelosa no exercício da disciplina cristã. As Sagradas Escrituras insistem na adequada disciplina a ser praticada na igreja do Senhor Jesus Cristo (Mt 18.15-18; 1ª Co 5.1-5,13; 14.33,40; Ap 2.14,15,20).

O propósito da disciplina da igreja é duplo. Primeiro, ela procura levar a efeito a lei de Cristo concernente à admissão e exclusão de membros; em segundo lugar, tem por objetivo promover a edificação espiritual dos membros da igreja firmando a sua obediência às ordenanças de Cristo. A disciplina é antes de tudo medicinal, no sentido de que procura obter a cura, podendo tornar-se uma cirurgia, quando a saúde da igreja exige a amputação do membro doente (1 Co 5.5).

VII. A MISSÃO DA IGREJA

1. A missão de adoração. A missão principal da Igreja é a da adoração ao Eterno Deus. As Sagradas Escrituras mostram repetidas vezes que este é o principal alvo da Igreja (Rm 15.5-9; Ef 1.5,6,12,14,18; 3.21; 2ª Ts 1.12; 1ª Pe 4.11). Mediante a adoração a Deus, vemos mais claramente o nosso papel; refletir os propósitos divinos da reconciliação para com uma humanidade caída. Glorificamos a Deus adorando-o (Jo 4.23,24; Fp 3.3; Ap 22.9).

Adoração é: “ato de adorar, veneração, culto a Deus, render tributo, respeitar profundamente, prostrar-se, honrar, reverenciar, bendizer, magnificar, glorificar, exaltar”. A verdadeira adoração é realizada quando a Igreja concentra a sua atenção em Cristo, e não em si mesma. Também glorificamos a Deus através da oração e do louvor (Sl 50.23; Hb 13.15); quando vivemos uma vida de plena comunhão e trabalho cristão (Jo 15.8). Quando o Senhor Deus é adorado com exclusividade, aqueles que assim o adoram são ricamente abençoados e fortalecidos espiritualmente. A adoração não deve ser praticada somente nos templos em cultos regulares; o verdadeiro adorador deve adorar a Deus em qualquer circunstância ou lugar e a qualquer hora.

A verdadeira adoração é em espírito e em verdade, e o Pai procura os verdadeiros adoradores (Jo 4.19-24; At 16.25; 1ª Co 10.31).

2. Missão de edificação. A Igreja do Senhor Jesus também tem a missão de edificar os seus membros. O processo de edificar a si própria é descrito por Paulo como relacionamento de recíproca confiança, pois, pertencemos ao mesmo corpo, desta forma nós precisamos uns dos outros e afetamos uns aos outros. A Bíblia diz que o Senhor Deus “deu uns para apóstolos, e outros, para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, tendo em vista o aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do ministério, para a edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo, para que não sejamos mais meninos, inconstantes, levados ao redor por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia induzem ao erro” (Ef 4.11-14-AEC). Este texto ensina claramente sobre a doutrinação dos membros da Igreja, para que possam permanecer na verdade, resistindo às heresias perniciosas. Isto é edificar os crentes em Cristo (Cl 2.7). A Igreja deve não somente evangelizar, como também ensinar os crentes “a guardar todas as coisas” (Mt 28.20) que o Senhor Jesus havia mandado. Apesar de que, ensinar a verdade das Escrituras Sagradas faça parte da missão da Igreja, os crentes são edificados, não somente por meio do ensino bíblico; mas também por fazerem parte de um povo especial, zeloso, amoroso, generoso e de boas obras; chamados “para serem conformes à imagem de seu Filho” (Rm 8.29).

3. Missão de evangelização. A grande comissão dada por Jesus antes da sua ascensão foi à ordem (e não uma simples sugestão) de evangelizar o mundo e fazer novos discípulos de todas as nações (Mt 28.19, 20; Mc 16.15; Lc 24.46-48; At 1.8). A tarefa da evangelização faz parte da missão da Igreja. Com isso podemos dizer que a Igreja é devedora ao mundo todo, isto é, que a Igreja está sob a obrigação de dar ao mundo uma oportunidade de ouvir as Boas Notícias de salvação e aceitar a Cristo como Salvador. A Igreja precisa passar das palavras para as ações, para permanecer no centro da vontade de Deus. Pois, as igrejas que não fazem missões estão totalmente desviadas do propósito de Deus. Todos os crentes devem participar das missões evangelizadoras, fazendo intercessões missionárias (Mt 9.38); dando contribuições missionárias (Fp 4.15-18); enviando os missionários (Rm 10.15) e indo aos campos missionários (Mc 16.15; At 13.1-4; Rm 10.14).

VIII. O DESTINO DA IGREJA

1. A igreja não convencerá o mundo. Na grande comissão, o Senhor Jesus não nos manda converter o mundo, mas sim, evangelizá-lo. Segundo o relato bíblico, a Igreja não vai convencer o mundo todo a respeito da obra de Cristo. E nem mesmo se elevar a uma posição de influência mundial na sociedade, na economia e na política. “Como foi nos dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem” (Mt 24.37). O Senhor Jesus perguntou: “Quando vier o Filho do homem, achará porventura fé na terra?” (Lc 18.8). Esta pergunta, certamente, indica que à medida que se aproxima à volta do Senhor Jesus Cristo, o mal se tornará cada vez pior, de modo que muitos membros das igrejas se apartarão da fé no Salvador Jesus (Mt 24.11-13,24). É a Babilônia religiosa que abrange todas as religiões falsas, inclusive os apóstatas cristãos; é que exercerá esta posição de grande influência no fim dos tempos (Ap 17; 18). A Bíblia ensina que haverá uma grande deserção da fé nos últimos dias (2ª Ts 2.3-12; 1ª Tm 4.1); que haverá tempos perigosos (2ª Tm 3.1-9); que a sã doutrina não será suportada e que heresias destruidoras serão introduzidas na igreja (2ª Tm 4.1-4; 2ª Pe 2.1-3) e que novamente prevalecerão às condições dos dias de Noé e de Ló (Lc 17.26-32). Este é o retrato do mundo por ocasião da ida da Igreja para o seu destino final.

2. A igreja ocupara lugar de honra. A Bíblia nos ensina esta grande verdade: a Igreja será unida a Cristo, como mostram as referências bíblicas de 2ª Corintios 11.2; Efésio 5.27; em que ela como a figura de uma virgem que será apresentada a um marido. Isto significa que a Igreja estará em comunhão plena e eterna com o Senhor Jesus Cristo e, em Ap 19.1-7, está predita esta grande festa das Bodas do Cordeiro. Sendo a esposa do Rei dos reis, a Igreja reinará com Cristo no seu reinado que abrangerá todo o vasto Universo (1ª Co 6.2-3; Ap 3.21; 20.4,6; 22.5). Agora e durante todo o tempo futuro, a Igreja é e sempre será um testemunho eterno. Por toda a eternidade ela testemunhará acerca da sabedoria, grandeza, amor, misericórdia e bondade do Grande, Eterno, Soberano, Supremo e Magnífico Deus (Ef 3.10,21; Ap 22.1-5).

IX. DESCRIÇÕES BÍBLICAS DA IGREJA QUE PERTENCE A JESUS

A Bíblia não usa um nome exclusivo para a igreja. Não temos base bíblicas para dizer que existe uma única igreja detentora da salvação. Passagens bíblicas falam simplesmente da igreja, algumas vezes identificando o local (cidade ou casa) onde o grupo de cristãos se reunia. Portanto, podemos nos referir à igreja simplesmente como “a igreja” (At 8.1; 9.31; Rm 16.1), e não uma determinada igreja.

Frequentemente, as descrições da igreja no Novo Testamento mostram a relação que existe entre o Senhor e Sua igreja. A igreja pertence a Deus, e é, muitas vezes, chamada “a Igreja de Deus” (veja At 20.28; 1ª Co 1.2; 10.32; Gl 1.13; 1ª Tm 3.5,15). Jesus derramou seu sangue para comprar a igreja. Portanto, Paulo falou de “igrejas de Cristo” (Rm 16.16) e Jesus falou de sua própria igreja (Mt 16.18). O povo de Deus pode ser corretamente descrito como a “igreja dos primogênitos arrolados nos céus” (Hb 12.23).

X. A IGREJA DO NOVO TESTAMENTO

Já na Igreja do Novo Testamento, através da Nova Aliança em Cristo, cumpriram-se as promessas e esperanças do Antigo Testamento com relação ao povo escolhido de Deus. Sob essa Nova Aliança, os rituais, símbolos e ordenanças presentes na Igreja veterotestamentária, foram substituídos pela obra perfeita de Cristo.

O escritor do livro de Hebreus fala em detalhes sobre isto. Ele enfatiza que os santos do Antigo Testamento depositaram sua fé no Messias que haveria de vir, enquanto que os redimidos do Novo Testamento depositam sua fé no Messias que já veio, o Eterno Sumo Sacerdote (Hb 1-12).

Cristo prometeu edificar a sua Igreja, e logo após sua ascensão ao céu, o Espírito Santo foi enviado no dia de Pentecostes, dando início ali a grande internacionalização da Igreja (Atos 2). O Evangelho seria pregado em todo mundo, e a comunidade dos fiéis seria formada de pessoas de todas as tribos, povos, raças e línguas.

No próprio contexto do livro de Atos dos Apóstolos, eventos específicos ocorreram para mostrar muito claramente que o povo de Deus não estaria limitado a um único povo. Um exemplo disto foi a conversão do centurião Cornélio (Atos 10).

Portanto, na Igreja de Cristo não há qualquer distinção de nacionalidade! Judeus e gentios, crentes de todas as nações, encontram-se unidos no corpo de Cristo (Efésios 2-3; Apocalipse 5; 9,10; 7.9,10).

1. Como a Igreja é formada? A Igreja é única, ou seja, ela é uma comunidade indivisível (Rm 12.5; 1ª Co 10.17; 12.12,13; Gl 3.28). No entanto, essa comunidade é constituída por dois grupos geralmente chamados de “Igreja militante” e “Igreja triunfante”.

A Igreja militante são os fiéis que ainda estão vivendo neste mundo. Já a Igreja triunfante é constituída dos redimidos que já morreram e que agora estão na glória ao lado do Senhor.

Esses dois grupos, apesar de viverem realidades diferentes, possuem o mesmo grande objetivo: prestar culto a UM ÚNICO Deus (Gl 4.26; Hb 12.22-24). A Igreja militante e a Igreja triunfante finalmente se encontrarão na ocasião da segunda vinda de Cristo com a ressurreição dos mortos (1ª Ts 4.16-18).

Enquanto esse glorioso dia não chega, a Igreja militante presente nesta terra se reúne e se organiza em comunidades locais que cultuam a Deus, meditam em sua Palavra e celebram os sacramentos. Essas “igrejas locais”, apesar de serem inúmeras, fazem parte da única Igreja universal, isto é, a Igreja é uma só em Cristo (1ª Co 12.12-27; Ef 1.22,23; 3.6; 4.4; Ap 2.1).

O Novo Testamento destaca a vital importância de todos os cristãos estarem inseridos em uma comunidade local, pois a Igreja é uma unidade, onde seus membros são alimentados, disciplinados, edificados, cuidados por ministros instituídos por Deus e juntos participam do ministério e testemunho do Evangelho (Mt 18.15-20; At 20.28; 1ª Co 14.4,13; Ef 4.15,16; Gl 6.1; Hb 10.25).

2. Quem faz parte da Igreja? Fazem parte da Igreja todos aqueles que Deus chama através de sua Palavra. A Bíblia diz que o Senhor acrescenta fiéis continuamente à Igreja (Atos 2:47; 5:14; 11:24). Apesar de esse chamamento ser universal, no sentido de que o convite é feito a todos sem exceção, apenas podem responder positivamente a esse chamado aqueles que são regenerados pelo Espírito Santo. Estes são convencidos de seus pecados e consequentemente respondem com arrependimento e fé em Cristo Jesus, como seu Senhor e Salvador.

É verdade que quando se fala em quem faz parte da Igreja, é preciso considerar que nem todos que parecem fazer parte dela de fato o fazem. É por isso que existe uma distinção entre a Igreja visível e a Igreja invisível.

A Igreja visível é a Igreja conforme as pessoas a veem, enquanto que a Igreja invisível é a Igreja conforme Deus a vê. Isso significa que nem todos os aparentes membros da Igreja são realmente nascidos de novo e genuínos seguidores de Cristo. Embora tais pessoas possam enganar os homens, haverá o dia em que elas serão desmascaradas e punidas diante do juízo do Senhor (Mt 7.15-23; 13:24-50; 251-46). Portanto, a perfeita totalidade da verdadeira Igreja é conhecida somente por Deus (2ª Tm 2.19).

3. Qual é a missão da Igreja? Basicamente a missão da Igreja pode ser vista em dois aspectos. Primeiramente a missão fundamental da Igreja é anunciar o Evangelho. Ela deve proclamar ao mundo que Jesus Cristo é o único Senhor e Salvador, explicando que através de sua obra redentora Deus convida aos pecadores ao arrependimento e à vida eterna (Mt 22.1-10; At 17.30).

Essa missão foi dada pelo próprio Jesus quando ordenou: “Portanto ide e fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19; cf. Mt 24.14; Mc 16.15; Lc 24.47,48; Jo 20.21). O apóstolo Pedro ressalta que a Igreja foi chamada para anunciar “as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1ª Pd 2.9).

Consequente, a Igreja também recebeu a tarefa de realizar obras de compaixão e misericórdia, cumprindo assim o mandamento de Deus para amar ao próximo. Como a Igreja é a comunhão dos fiéis que foram feitos novas criaturas em Cristo, e assim são seus imitadores refletindo em suas vidas as virtudes do fruto do Espírito Santo, naturalmente é esperado que ela demonstre generosidade e bondade diante das necessidades humanas (Mt 25.34-40; Lc 10.25-37; Rm 12.20,21).

XI. O QUE É A IGREJA SEGUNDO A BÍBLIA?

A Bíblia destaca vários pontos básicos sobre o que é a Igreja, dos quais podemos citar:

1. A Igreja é a família de Deus (Jo 10.16; Ef 2.18; 3.15; 4.6; 1ª Pe 5.2-4).

2. A Igreja é o templo do Espírito Santo (1ª Co 3.16).

3. A Igreja é o Israel de Deus (Gl 6.16).

4. A Igreja é a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo exclusivo de Deus (1ª Pe 2.9; 5.13).

5. A Igreja é o Corpo de Cristo, a Noiva do Cordeiro (Ef 1.22,23; 5.23-32; Ap 19.7; 21.2,9-27).

6. A Igreja pertence a Deus e foi comprada com o sangue de Cristo (Mt 16.18; At 20.28; Ef 3.21; 5.25; 1ª Tm 3.15; Hb 9.12).

7. A Igreja é gloriosa, irrepreensível, sem mácula, sem ruga e vestida de justiça pelos méritos de Cristo (Ef 5.27; Ap 19.8).

8. A Igreja revela a multiforme sabedoria de Deus (Ef 3.10).

9. A Igreja é perseguida pelos ímpios, mas guardada por Deus (At 8.1-3; 1ª Ts 2.14,15; Ap 3.10).

CONCLUSÃO

A Igreja de Jesus Cristo, seja no sentido local ou universal, representa os interesses do Reino de Deus, na face da Terra. Sem ela, certamente a humanidade não teria como encontrar o caminho, a verdade e a vida, indispensáveis à salvação dos homens. No sentido espiritual, a Igreja é a noiva do Cordeiro, “igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5.27). Que nos sintamos felizes e honrados de pertencer à Igreja do Senhor Jesus.

FONTE DE PESQUISA

1. ALMEIDA, João Ferreira de, Bíblia de Estudo Palavra Chave. Hebraico e Grego. 4ª Edição. Editora CPAD, Rio de Janeiro – RJ.

2. ALMEIDA, João Ferreira de, Bíblia Sagrada ACF - Almeida Corrigida Fiel. Sociedade

3. ANDRADE Claudionor Corrêa. Dicionário Teológico 8ª Edição. Editora CPAD Rio de Janeiro RJ.

4. Bíblia de Estudo Defesa da Fé: Questões Reais, Respostas Precisas, Fé Solidificada. CPAD Ed. 2010. Rio de Janeiro – RJ.

6. BÍBLIA SHEDD. Revista Atualizada, 1ª Edição: 1998, Ed. Vida Nova, São Paulo - SP.

7. BÍBLIA EXPLICA – S.E.Mc Nair – 9ª Edição – CPAD, Rio de Janeiro, RJ.

8. BÍBLIA SAGRADA. Referências e anotações. Dr. C. I. Sscofield. Impressão Batista Regular do Brasil.

9. Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal R.C. CPAD. Rio de Janeiro RJ.

10. Bíblia de Estudo Plenitude – Revista e Corrigida - S.B. do Brasil.

11. BÍBLIA PENTECOSTAL. Trad. João F. de Almeida – CPAD Rio de Janeiro.

12. Elinaldo Renovato de Lima. Jesus e a Igreja. Lições Bíblicas 2º Trimestre de 2000. CPAD – Rio de Janeiro.

13. GILBERTO, Antônio, et al. Teologia Sistemática Pentecostal. CPAD. Rio de Janeiro RJ.

14. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. 1 ed. RJ: CPAD, 1995.

 

Pr. Elias Ribas

Especialização em Apologética – ICP - São Paulo.

Grego e Hebraico - Faculdade Batista Pioneira – Ijuí - RG.

Exegese do grego - Faculdade Batista Pioneira – Ijuí – RG.

Mestrado em Divindade – SEMIAD Cascavel PR.

Dr. Em Teologia - SEMIAD Cascavel PR.



domingo, 1 de agosto de 2021

AS ORDENANÇAS QUE JESUS DEIXOU PARA SUA IGREJA

 


“Ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos. Amém!” (Mt 28.20).

INTRODUÇÃO. Neste estudo, vamos aprender sobre as ordenanças de Jesus para Sua igreja, sobre o batismo e a Ceia do Senhor.

Jesus deixou diversas ordens para os seus discípulos individualmente, como ensinar todas as pessoas, evangelizar, orar, perdoar inimigos e amar a Deus acima de todas as coisas. No que tange à Igreja, como reunião de discípulos, o Mestre deixou duas específicas: a celebração do Batismo e da Santa Ceia. Ambas as cerimônias possuem objetivos específicos, e sobre eles estudaremos nesta lição.

As ordenanças de Cristo à sua Igreja são práticas que devem perdurar até que Ele volte.

As ordenanças de Cristo são os rudimentos da fé cristã a fim de que aprendam corretamente a servir a Deus e cresçam na graça e no conhecimento que há em Cristo Jesus. Desta forma, é importante saber que as ordenanças deixadas por Cristo a Sua igreja não podemos entender de forma legalista os cerimoniais de “Batismo” e a “Ceia do Senhor”. Pelo contrário, tais ordenanças não são para serem vistas como obrigações, e sim como privilégios concedidos àqueles que tomaram a feliz decisão de estarem em comunhão com Deus e tornarem-se participantes do Corpo de Cristo que é a Igreja. Assim, podemos ter a nossa fé edificada e constantemente renovada pela ação do Espírito Santo em nossas vidas.

I. O QUE SÃO ORDENANÇAS?

1. Definindo o termo ordenanças. A expressão ordenanças traz a ideia de um grupo de mandamentos específicos, que devem ser repetidos reiteradas vezes. No caso das ordenanças de Jesus, o Batismo e a Santa Ceia, devem ser repetidos sempre, para que o povo de Deus, a Igreja, se lembrasse não apenas do sacrifício de Cristo, mas igualmente do seu efeito para conosco.

Ordenanças, no caso do batismo e da Santa Ceia, são rituais que exemplificam para a Igreja os últimos momentos de Jesus com seus discípulos e a ressurreição de nosso Senhor.

2. Uma ordem de Jesus Cristo. Jesus deixou claro que seus discípulos deveriam ensinar, batizar e celebrar a Ceia do Senhor: “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mt 28.19). Em relação à Santa Ceia, “E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide até àquele Dia em que o beba de novo convosco no Reino de meu Pai” (Mt 26.29).

3. O cumprimento das ordenanças confere alguma graça ao crente? A Bíblia afirma que se somos obedientes e que cremos naquilo que Jesus nos disse, somos pessoas agraciadas por Deus tendo em vista nossa fé e obediência. João 15.10-11, 14 “Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor. 11- Tenho-vos dito isto, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo. 14- Vós sereis meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando. João 14.21 “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.”

O crente salvo obedece as ordenanças de Jesus porque ama o Seu mestre e por Ele é amado.

As Ordenanças servem como um memorial para os crentes de todas as gerações, e por isso, sempre devem ser lembradas e celebradas na comunhão dos santos.

II. O BATISMO

1. O que é o batismo? Batismo significa literalmente imersão. Essa palavra vem do grego [baptozo], traduzida como “mergulhar, banhar, imergir, não aspergir. No Novo Testamento, vemos que João, o batista, batizava pessoas no rio Jordão, e batizou o Senhor Jesus (Mt 3.13-17), que a seguir ordenou que seus discípulos batizassem aqueles que cressem no Evangelho (Mt 28.19). Pedro batizou gentios que ouviram a Palavra na casa de Cornélio (At 10), e Paulo foi batizado, possivelmente por Ananias (At 9). O batismo ordenado por Jesus é por imersão.

2. Jesus foi batizado. Jesus passou pela experiência do batismo. A Bíblia nos fala em Marcos 1.10 sobre o batismo de Jesus: “logo que saiu da água”, uma referência clara de que Jesus foi batizado por imersão. E o batismo de Jesus foi uma forma de Ele se identificar com os pecadores. Ele não precisava ser batizado, mas o foi, para nos mostrar a importância do ato para a vida cristã e para a compreensão adequada do Evangelho. Jesus deu o exemplo para nós como seus discípulos seguirmos os seus passos, por isso o apóstolo Paulo afirma: “Sede meus imitadores, como também eu de Cristo.” (1ª Co 11.1).

Mas o que é ser imitador? o que é imitar alguém? Essa palavra imitar significa: tomar como modelo, tomar como padrão de conduta, como referência e como exemplo.

3. O batismo infantil. A Bíblia não diz nada sobre o batismo de bebês. Não há nenhum lugar na Bíblia que diz que um bebê foi batizado. As pessoas que foram batizadas na Bíblia sabiam o que estavam fazendo e tomaram essa decisão de forma consciente. Ninguém foi batizado sem seu consentimento. Portanto, não ir além do que está escrito, não vos ensoberbecendo a favor de um contra outro. (1ª Co 4.6).

A Bíblia nos diz que Jesus foi circuncidado ao oitavo dia (Lc 2.21), depois foi apresentado no Templo: “E, cumprindo-se os dias da purificação dela, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor. 22- (Segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo o macho primogênito será consagrado ao Senhor). (Lc 2.22,23). Portanto, Jesus não batizado, o que só ocorreu quando Jesus tinha a idade de trinta anos. Outro fator que deve ser levado em conta é que o batismo é apresentado nas Escrituras como um ato daquele que crê na mensagem do Evangelho (At 2.41; 8.12), e isso exige maturidade não apenas para entender a mensagem do Evangelho, mas também para aceitar Jesus e prestar o testemunho público prévio ao batismo. Por esses fatores, não é adequado nem bíblico batizar crianças.

Não somos batizados para ser salvos. Somos batizados porque já fomos salvos por Cristo.

O batismo exige que tenhamos consciência de sua importância, e entendimento para publicamente manifestar nosso testemunho em Cristo Jesus.

4. O significado do batismo nas águas.

4.1. O Batismo é símbolo de morte. Romanos 6.3,4 “Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? 4- De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.”

Quando Cristo morreu, nós morremos também (2ª Co 5.14). Quando alguém morre precisa ser sepultado.  O batismo simboliza a morte e ressureição, ou seja, a imersão – submersão, simboliza o sepultamento e morte do velho homem. A emersão simboliza ressureição, a nova vida em Cristo Jesus.

Paulo usa a experiência do batismo, comum a todos os cristãos, como um tipo que deve ser identificado com a experiência que tivemos com Jesus Cristo. Este termo é direcionado aos que, pela fé, participam da morte de Cristo. O batismo era uma forma de declarar o testemunho desta morte e ressurreição de Cristo Jesus, ou seja, é um ato público de fé.

O batismo une o cristão ao próprio Cristo e serve como um ato voluntário que demonstra a vontade pessoal de morrermos para uma vida velha para vivermos uma vida nova, através do “renascimento” das águas, por isso, o batismo de crianças ainda bebês não é aceita pela maioria das igrejas evangélicas, pois entende-se que uma criança não tem poder de decidir por livre vontade se deseja mesmo este renascimento.

Novidade de vida. Se a identificação do cristão com Cristo implica em ele ser identificado com Sua morte, também implica, logicamente, em ele identificar-se com Sua ressurreição. Uma vez tendo morrido e tendo sido ressuscitado com Cristo, o cristão deve viver uma nova vida.

4.2. O Batismo é revestimento de Cristo. Gálatas 3.27 “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo.”

Todos nós, batizados em Jesus, precisamos nos revestir d’Ele! Revestir é tomar Cristo como ‘veste’. A veste dita aqui não é só uma veste exterior, mas, sobretudo, a veste interior que veste nossa alma, nosso coração, nossa mente, nossos pensamentos e sentimentos, nossas intenções e nossa vontade.

Tudo aquilo que somos precisa ser revestido da presença de Cristo!

O fato de que fomos batizados em Cristo e que fomos identificados com Cristo na Sua morte e ainda mais, o fato de que fomos revestidos de Cristo implica que: como Cristo ressuscitou para viver uma nova vida, assim também nós devemos nos considerar mortos para o pecado e vivermos em novidade de vida.

Da mesma maneira que ser filhos de Deus é privilégio estendido a todos os cristãos com ninguém sendo “mais ou menos filho de Deus”, o mesmo é verdadeiro com o fato de termos todos sido batizados em Cristo e de termos, todos, nos revestido de Cristo!

4.3. O Batismo é ressurreição com Cristo. Colossenses 2.12,13 “Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos. 13- E, quando vós estáveis mortos nos pecados, e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas.”

Enterrado com Ele, no batismo. O batismo é considerado como o sepultamento da velha vida carnal, à qual o ato de imersão simbolicamente corresponde.

Ele explica ainda mais claramente a maneira da circuncisão espiritual – porque, sendo sepultados com Cristo, somos participantes de sua morte. Ele declara expressamente que obtemos isso por meio do batismo, para que seja mais claramente aparente que não há vantagem da circuncisão sob o reinado de Cristo.

Paulo continuou a descrever as grandes bênçãos encontradas em Cristo, agora focalizando na circuncisão e no batismo.

Como rito introdutório da antiga aliança, a circuncisão significava eliminar o pecado, transformar o coração e incluir a pessoa na família da fé (Dt 10.16; 30.6; Jr 4.4; 9.25-26; Ez 44.7,9).

Par mostrar aos judaizantes, Paulo mostrou que, ao terem sido batizados em Cristo, esses gentios haviam sido circuncidados.

III. A CEIA DO SENHOR


1. A origem da Ceia do Senhor.
A Ceia do Senhor teve sua origem na noite em que Jesus fez sua última refeição com os seus discípulos, antes de ser crucificado. Em um momento de comunhão, o Senhor com eles, lavou-lhes os pés e transmitiu-lhes as recomendações finais. A Ceia foi o último momento de comunhão do Senhor com seus apóstolos até a crucificação (Mt 26.29).

2. Os propósitos da Ceia do Senhor. A celebração da Santa Ceia traz para nós diversos significados. Em primeiro lugar, ela representa a continuidade da nossa comunhão com o Salvador. À última Ceia estavam presentes Jesus e seus discípulos, o grupo mais próximo do Salvador. Em segundo lugar, ela representa a lembrança do sacrifício de Jesus Cristo por nossos pecados. A Ceia instituída pelo Senhor foi celebrada na Páscoa, quando um cordeiro era sacrificado, e Jesus, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, foi sacrificado por nós.

2.1. É a celebração de uma nova aliança. Comer e beber juntos traz a ideia de uma aliança feita entre duas partes. Essa Ceia é a imagem de uma nova aliança entre Jesus e os seus seguidores.

2.2. É a manifestação da minha fé em Cristo. Quando celebro a Ceia do Senhor demonstro de forma pública a minha fé em Jesus e a comunhão com Ele, aguardando a sua Segunda Vinda.

2.3. É um momento de gratidão. Jesus abençoou o pão e deu graças pelo vinho (Mc 14.22-24). Na Ceia do Senhor, demonstro minha gratidão pelo que Cristo fez, e agradeço por ter sido alcançado por sua graça.

3. Os elementos da Ceia do Senhor. Aqui cabe uma observação. A igreja romana entende que os elementos da ceia, o pão e o vinho, se transformam na carne e no sangue de Jesus. O pão e o vinho não mudam sua forma para se tornarem carne e sangue de verdade, como pensam o romanismo. A Bíblia jamais dá a entender essa ideia e a ciência não a respalda a teoria. Jesus não tinha a intenção de nos fazer crer que, por ocasião da Ceia, o pão se tornaria carne e que o vinho se tornaria em sangue. Ele apenas nos orientou a seguir essa ordenança em memória dEle.

Nesta celebração, Jesus deu à Páscoa um significado novo, transformando-a na Ceia do Senhor. Jesus tomou os elementos da Páscoa, o pão e o cálice, e mudou a ênfase da festa. Em vez de recordar a libertação do Egito, dali em diante o pão e o cálice passaram a representar a redenção do pecado, simbolizando o corpo de Cristo e o seu sangue por muitos, na cruz do Calvário, para remissão dos pecados. O “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29) estava ali para ser morto no dia seguinte.

4. A orientação do apóstolo Paulo a igreja de Coríntios. 1ª Coríntios 11.23-25 “Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; 24- E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. 25- Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim.”

4.1. Eu recebi do Senhor... se refere à revelação que Paulo recebeu de Cristo sobre o significado da morte e da ressurreição do Senhor representado pelos elementos da santa ceia; simbolismo que Paulo ensinou aos irmãos, explicando-os novamente.

4.2. Tomai, comei... Isto é o meu corpo. Sem dúvida, uma expressão não literária, mas figurativa. Ele estava ali, no meio dos discípulos, participando com eles do elemento do pão, que significa Sua encarnação. Que é [...] por vós. Isso significa o caráter sacrifical e vicário da morte de Cristo. Ele é relembrado nesta mesa, não como um grande exemplo, ou mestre, ou mesmo profeta, mas como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Contrastando com a reunião muitas vezes impensada e negligente dos cristãos coríntios em sua chamada festa do amor, Jesus pediu aos Seus discípulos: “Lembrai-vos de mim”.

4.3. O propósito. “Fazei isto em memória de mim” (Lucas 22.19). A Ceia do Senhor é nossa oportunidade para lembrar o sacrifício que Jesus fez na cruz, pelo qual Ele nos oferece a esperança da vida eterna: “Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1ª Coríntios 11.26). A Ceia do Senhor não pretende ser um memorial do nascimento, da vida ou da ressurreição de Cristo. É um momento especial no qual os cristãos refletem sobre o Salvador sofredor para serem lembrados do alto preço que Ele pagou por nossos pecados. Precisamos manter este tema central do evangelho (1ª Co 2.1-2) em nossas mentes.

4.4. Os símbolos. Jesus usou dois símbolos para representar seu corpo e seu sangue. É claro que ele não ofereceu literalmente seu corpo (que ainda estava inteiro) nem seu sangue (que ainda estava correndo através de suas veias). Ele deu aos discípulos pão sem fermento para representar Seu corpo e o fruto da videira (suco de uva) para representar o sangue que estava para ser derramado na cruz. Ele não deixou dúvida sobre a relação deste sacrifício com nossa salvação: “Porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão dos pecados” (Mt 26.28).

Lucas acrescenta que Ele disse, pouco antes de iniciar a ceia sacramental: “Com desejo, desejei comer esta páscoa com você antes de sofrer”. Esta é uma maneira de expressão hebraica, significando “eu desejei muito”. Ele desejara, sem dúvida:

(1) que ele possa instituir a Ceia do Senhor, para ser um memorial perpétuo dele;

(2) que ele possa fortalecê-los para as provações que se aproximam;

4.5. A ordem. Quando comparamos estes quatro relatos, podemos também ver a ordem na qual a ceia foi observada. Jesus primeiro orou para agradecer a Deus pelo pão e então todos o partilharam. Ele orou de novo para agradecer ao Senhor pelo cálice, e todos beberam dele. Deste modo, ele chamou especial atenção para cada elemento da ceia.

4.6. Como deve ser celebrada a Ceia do Senhor? Mateus 26.26,27 “E, quando comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. 27- E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos.”

Jesus tomou o e abençoou. E a seguir partiu e deu a Seus discípulos. Em seguida tomou o cálice e deu graças, e mandou que todos bebessem, sem exceção. Ou seja, todo o corpo místico de Cristo deve participar do pão e do vinho.

4.7. Todos o corpo místico de Jesus deve participar. 1ª Coríntios 11.33 “Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros.”

“...esperai uns pelos outros.” Todos recebem o pão e o bispo, padre ou pastor ora agradecendo, e após a oração ordena que todos comam juntos e ao mesmo tempo. Da mesma forma todos recebem o cálice e após a oração recebem a ordem para beberem e tomarem juntos.

4.8. O Alerta Solene. 1ª Coríntios 11.27-30 “Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. 28- Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. 29- Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. 30- Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem.”

As mensagens e sermões que antecedem a cerimônia da ceia geralmente contêm alertas quanto ao não cear indignamente. Os pregadores solicitam aos ouvintes que façam um autoexame e apelam para a consciência dos ouvintes: Não participem do cálice e do pão indignamente!

Examinar. O significado desta palavra no grego é δοκιμάζω dokimadzo que significa provar por teste, examinar, ou aprovar depois de um teste pelo discernimento. A palavra grega é derivada do teste dos metais. Um rigoroso autoexame (v. 19; 2ª Co 13.5; Tg 5.16; 1ª Jo 1.6).

Portanto, não significa somente testar, mas também carrega a ideia de aprovar como resultado do teste. Contudo, testar é insuficiente, a menos que o que é aprovado seja abraçado e mantido.

5. A Ceia do Senhor na Igreja Primitiva. O livro de Atos e as cartas escritas às igrejas nos ajudam a aprender um pouco mais sobre a Ceia do Senhor. Os discípulos se reuniam no primeiro dia da semana para participarem da ceia (At 20.7). Esta ceia era entendida como um ato de comunhão com o Senhor (1ª Co 10.14-22). Era tomada quando toda a congregação se reunia, como um ato de fraternidade entre os irmãos (1ª Co 11.17-20). Cada cristão era obrigado a examinar-se para ter certeza de que estava participando da ceia de um modo digno (1ª Co 11.27-29).

6. Observações sobre a Ceia do Senhor. Ainda que o ensinamento da Bíblia sobre a Ceia do Senhor não seja complicado, muitas diferenças de entendimento apareceram depois do tempo do Novo Testamento. O único modo de sabermos que estamos seguindo o Senhor é estudar as instruções e imitar os exemplos que encontramos no Novo Testamento. Nunca estamos livres para ir além do que o Senhor revelou na Bíblia (veja Colossenses 3.17; 1ª Coríntios 4.6 e 2ª João 9).

A Ceia do Senhor é um momento de comunhão importante para os membros do Corpo de Cristo, pois nesse momento, juntos, relembramos o sacrifício de Cristo até que Ele retorne.

A vinda de Cristo para buscar a sua Igreja deve ser um dos nossos motivos de celebrar a Santa Ceia, e também a certeza de que nosso tempo aqui está acabando, pois, a volta do Senhor está próxima.

IV. A CEIA DO SENHOR NA IGREJA PRIMITIVA

 O livro de Atos e as cartas escritas às igrejas nos ajudam a aprender um pouco mais sobre a Ceia do Senhor.

1. No primeiro dia da semana. Os discípulos se reuniam no primeiro dia da semana para participarem da ceia (Atos 20.7).

2. Ato para comunhão. Esta ceia era entendida como um ato de comunhão com o Senhor (1ª Co 10.14-22).

3. Ato de fraternidade. Era tomada quando toda a congregação se reunia, como um ato de fraternidade entre os irmãos (1ª Co 11.17-20).

4. Examinavam-se a si mesmo. Cada cristão era obrigado a examinar-se para ter certeza de que estava participando da ceia de um modo digno (1ª Co 11.27-29).

V. A CEIA DO SENHOR: PASSADO, PRESENTE E FUTURO

Os discípulos de Cristo são privilegiados ao participarem com ele todas as semanas da Ceia do Senhor. Deste modo, ligamos o passado, o presente e o futuro.

1. Passado. Olhamos para trás, para o sacrifício que Jesus fez na cruz. Entendemos isto como sendo o fundamento e o centro de nossa salvação.

2. Presente. Quando meditamos no terrível preço que Jesus pagou para nos redimir de nosso pecado, nossa decisão de resistir à tentação é fortalecida.

3. Futuro. Entendemos que a morte de Jesus é a base de nossa esperança, e assim proclamamos nossa fé nele quando olhamos em frente para a volta do Senhor e para nossa salvação eterna.

Não podemos esquecer nunca o dia negro no Calvário em que Jesus deu sua vida para salvar a nossa.

CONCLUSÃO

As duas ordenanças de Cristo à sua Igreja são válidas e necessárias para os nossos dias, e a Igreja de Cristo tem o dever não apenas de relembrá-las, mas de cumpri-las periodicamente, dando exemplo às gerações que se sucedem.

FONTE DE PESQUISA

1. ANDRADE Claudionor. Dicionário Teológico 8ª Edição. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.

2. BERGSTÉN. E. Teologia sistemática. 4. ed. 2005. CPAD. Rio de Janeiro – RJ.

3. Bíblia Palavra Chave (ARC). CPAD – Rio de Janeiro – RJ.

4. Bíblia shedd. Revista Atualizada, 1ª Edição: 1998, Ed. Vida Nova, São Paulo – SP.

5. Bíblia explica – S.E.Mc Nair – 9ª Edição – CPAD, Rio de Janeiro, RJ.

6. Barclay William, Palavra Chave do Novo Testamento, Ed. Vida Nova.

7. COELHO Alexandre. As ordenanças de Cristo para Igreja. Lições bíblicas 1º Trimestre de 2017 - CPAD. Rio de Janeiro – RJ.

8. Elienai Cabral. Igreja, batismo e sua finalidade integradora. Lições Bíblicas, 1º Trimestre de 2007, CPAD, Rio de Janeiro – RJ.

9. F. Wilbur Gingrich. Léxico do Novo Testamento. Grego/Português. Edições Vida Nova.

Pr. Elias Ribas

Assembleia de Deus

Blumenau - SC

quinta-feira, 29 de julho de 2021

A JUSTIFICAÇÃO, A FÉ E AS OBRAS

 


Bíblia afirma claramente que a justificação é uma dádiva que só podemos obter mediante a fé em Jesus Cristo. No entanto, há vários versículos que parecem contradizer este fato. Sabemos que a Bíblia não se contradiz, portanto, vamos estudar estas aparentes contradições para vermos o que o texto bíblico realmente quer dizer. Vejamos:

“Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça” (Rm 4.3).

“Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque” (Tg 2.21).

“Sabendo, contudo, que o homem não é justificado por obras da lei, e sim mediante a fé em Cristo Jesus, também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados pela fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado” (Gl 2.16).

“Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (Tg 2.24).

Ao examinarmos os contextos veremos que cada escritor empregou as mesmas palavras: fé, obras e justificar, mas de maneiras diferente.

Paulo contempla o assunto conforme a necessidade dos seus leitores e afirma que somos justificados diante de Deus sem obra alguma de nossa parte; que é somente pelos méritos de Cristo, cuja obra redentora já foi completada na cruz.

1.      Fé para salvação e fé professada.

Alguns têm suposto que a discussão ou a carta de Tiago do relacionamento entre fé e obras está em oposição à doutrina da justificação pela fé. A epístola de Tiago é uma das mais antigas. Ela certamente não foi escrita para responder a Epístola aos Romanos, que foi escrita alguns anos mais tarde. É certo então, que Romanos não foi escrita para contradizer a Epistola de Tiago.

Quando Paulo fala da fé que justifica, está falando somente da fé salvífica, ou seja, a fé é a condição de ter um relacionamento real com Cristo, baseado no amor, confiança, e a consagração da vida e vontade a Ele.

Tiago, no entanto, fala de uma confiança de fé, seja ela a fé que salva, ou meramente um assentimento à existência de Deus (o que também fazem os demônios, Tg 2.19). Note que o elemento da fé professa, é claramente denotado nas palavras “se alguém disser, e “mostrar”: “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, (mera confissão) mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?” (Tg 2.14) “Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé” (Tg 2.18).

Tiago, também, contempla o assunto de fé e obras, mas conforme a necessidade dos leitores dele. A fé é a raiz e a árvore da qual as obras de fé são o fruto. Não somos salvos pela combinação de fé e obras, mas sim, por uma fé que produz obras. Se temos fé em Deus, as obras mostrarão. As obras são o resultado da fé. Somos salvos exclusivamente pela fé, mas por uma fé que não permanece isolada. Em Romanos vemos que a fé é o necessário para a nossa salvação; na epístola de Tiago vemos a demonstração de uma fé genuína que são as obras.

O propósito de Tiago não era de atacar a fé como meio de salvação, mas, sim, atacar a simples confissão de fé na existência de Deus, como meio de salvação. Por exemplo: Alguém apenas acredita em Deus, mas não obedece Sua Palavra. Ela apenas tem uma fé universal da existência de um Deus. No entanto, ela não pode ser declarada salva.

Paulo fala da justificação como a declaração da parte de Deus de que um homem é justo por causa da sua fé em Cristo Jesus. Tiago enfatiza a declaração dos homens de que a fé da pessoa é legitima quando comprovada por obras de amor e de dedicação ao reino de Deus.

“E se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus” (Tg 2.23).

“Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque” (Tg 2.21).

Note que no verso 23 Tiago está falado da justificação do homem, no verso 21 Tiago está falando da justificação ou prova da sua fé. O verso 23, que citado em Gn 15.6, refere-se à justificação inicial de Abraão, e o verso 21, é uma referência ao sacrifício de Isaque retratado em Gênesis 22 – aproximadamente 30 anos depois de Abraão ter sido declarado justo por causa da sua fé somente, isto é, à parte das obras.

A Bíblia vai dizer que Abraão chegou ao monte, amarrou Isaque e o colocou sobre o altar que construiu. Tirou então a faca para matar seu filho. Foi então que o anjo de Deus chamou: ‘Abraão, Abraão!’ E Abraão respondeu: ‘Estou aqui!’ Não faça mal ao rapaz’. ‘Agora sei que você tem fé em mim, porque não me negou seu único filho.’ (Gn 22.9-12).

Quão grande era a fé que Abraão tinha em Deus! Ele acreditava que nada era impossível a Jeová, e que Jeová até mesmo podia ressuscitar Isaque dentre os mortos. Mas Deus realmente não quis que Abraão matasse Isaque. Por isso, Deus fez que um carneiro ficasse preso em alguns arbustos ali perto, e mandou que Abraão o sacrificasse, no lugar de seu filho.

Deus usou a fé de Abraão como um exemplo de que fé é o único caminho a Deus. Gn 15.6 diz: “creu ele no SENHOR, e imputou-lhe isto por justiça”. Essa verdade é a base da fé Cristã, como confirmado por Romanos 4.3 e Tiago 2.23. A justiça que foi creditada a Abraão é a mesma justiça a nós creditada quando recebemos pela fé o sacrifício que Deus providenciou pelos nossos pecados – Jesus Cristo. “Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2ª Co 5.21).

Deus prova a fé de Abraão. “Pela fé ofereceu Abraão a Isaque, quando foi provado; sim, aquele que recebera as promessas ofereceu o seu unigênito. Sendo-lhe dito: Em Isaque será chamada a tua descendência, considerou que Deus era poderoso para até dentre os mortos o ressuscitar; daí também em figura ele o recobrou” (Hb 11.17-19); Jesus: “E que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1ª Coríntios 15.4).

Mas aprendemos com Abraão que a fé em Deus requer ação e frutos. É para agir, e seguir em frente com fé quando Deus opera em mim, como Abraão fez quando ele dividiu a lenha necessária para sacrificar seu filho. Isso significará sacrifícios da minha parte; desistir da minha vontade para fazer a vontade de Deus. Abraão viu o sacrifício como uma condição de Deus para cumprir a fim de receber sua promessa. É o mesmo para nós.

Vamos seguir o exemplo de Abraão, cuja obediência fez dele “o pai de nossa fé” (Rm 4). Acredite nas promessas de Deus e seja rápido em cumprir as condições para que Deus possa abençoá-lo!

O que realmente o verso 23 afirma é que o homem é justificado pela fé somente; e a declaração do verso 21, que a “fé salvífica” nunca permanece só, sempre está acompanhada de obras de justiça que servem para demonstrar a eficácia da fé do crente.

A fé é o meio e a condição de sua salvação, ao passo que as obras são seu fruto e sua evidência. As obras são o produto e o fruto de fé e da salvação. A fé inicia, promove, controla e culmina a vida espiritual, enquanto as obras evidenciam, embelezam e coroam a mesma.

Paulo considera a questão do ponto de vista de Deus, e assevera que somos justificados, aos olhos de Deus, meritoriamente, sem qualquer obras de nossa parte. Tiago considera o assunto do ponto de vista do homem, e assevera, que somos justificados, a vista do homem, evidentemente, pelas obras e não exclusivamente pela fé.

Em Tiago a questão em foco é a demonstração de fé. Em Tiago 2, vemos que somos justificados pelas obras. Temos aqui a evidencia da justificação. Tiago pergunta: “Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque?” (v. 21). “De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho?” (v. 25). Estas referências são de justificação perante os homens. Depois de alguém ter sido inocentado por Deus, irá manifestar sua absolvição perante os demais através da retidão produzida pela sua posição em Cristo. O homem não é justificado diante de Deus pelas obras, mas demonstra através delas sua justificação.

Há pessoas que dizem que nossa bondade pessoal ou excelência moral não for a base da nossa aceitação com Deus, então toda a necessidade de ser bom é negado, e todo o motivo para as boas obras é removida.

É verdade que nossa excelência não tem nada a ver com nossa justificação e que somos justificados somente na base daquilo que Cristo fez por nós. Mesmo assim, produzimos fruto para a justiça ou retidão. Ninguém partilha mérito da morte de Cristo que não se torne participante do poder da vida de Cristo.

E o próprio apóstolo Paulo fala tão claramente como Tiago contra a noção de uma fé que não produz obras: “Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas os que praticam a lei hão de ser justificados” (Rm 2.13). Paulo ensina que a possessão da verdade divina não vale nada sem sujeição e obediência. Ninguém será justificado por sacrifícios, leis, práticas e regras humanas, mas que praticar e não apenas ouvir é que o julgamento de Deus exige.

O forte tom ético de todo capítulo 2 de Romanos não contradiz a doutrina da justificação pela fé, mas protege esta doutrina, como a Epístola de Tiago faz contra antinomianismo, ou seja, o ensino de que não importa qual seja a conduta da pessoa, uma vez que creia.

“Filhinhos, não vos deixeis enganar por ninguém; aquele que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1ª Jo 3.7-9).

Portanto, não devemos desprezar as boas obras que é fruto do amor e que têm seu próprio lugar; e seu lugar não procede a justificação, mas antes segue-a. A fé que justifica é uma fé real que conduz à ação que é de conformidade com a verdade crida. Somos justificados pela fé, sem as obras. O homem que trabalha para conseguir a salvação não é um homem justificado, mas o homem justificado é o homem que trabalha. Enfim, a árvore demonstra sua vida por meio de seus frutos (Gl 5.22-23), mas já estava viva antes que os frutos ou mesmo as folhas tivessem aparecidos. Concluímos que fé e obras fazem parte da vida de um cristão verdadeiro.

2.      Obras que salvam e obras de amor.

Paulo e Tiago também tratam de dois tipos diferentes de obras. Paulo condena as obras como esforço arrogante do homem procurando merecer a sua própria salvação: “E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé” (Gl 3.11; Rm 3.20). Contratando isso, ao referir-se as obras, Tiago fala dessas expressões de fé como resultado natural da justificação.

Poderíamos chamar as obras mencionadas por Paulo como sendo “as obras da lei” e as de Tiago como sendo “as obras da fé”.

Portanto, quando Tiago diz que a fé sem as obras é morta, o que na realidade ele está dizendo é que uma profissão de fé que não resulta em obras de justiça, não é uma profissão veraz; é insuficiente para salvar. Mas uma profissão de fé completamente por obras de justiça comprova que aquela fé viva que realmente salva.

3.      As obras e seu julgamento.

O julgamento de Deus é segundo a sua verdade, justiça e santidade (Rm 2.2; 3.4; 9.14; Sl 96.13; Dt 32.4; Ap 16.7). Entretanto, Deus não deseja a ruína do pecador, mas a sua salvação (Ez 18.23, 32; Is 55.7; Tg 2.13; Hb 3.7-8; Ap 22.17). E a única maneira de escaparmos do juízo de Deus é termos a Cristo como Salvador e Senhor (Hb 22.4; Lc 13.3, 5).

As obras do crente são decorrentes da salvação já operada, pela graça de Deus (Ef 2.8-9). Ou seja: nós fomos salvos pela fé para a práticas das boas obras (Tg 2.14-20, 26; Ef 2.10).

4.      Justificação do homem e a justificação da sua fé.

Paulo pregava que a justiça do crente começa com a fé; é mantida pela fé e termina com a fé. “Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm 1.17).

Pedro também ensinava que a fé era o continuo catalisador da salvação até ao exato momento da passagem da vida física para a eterna: “Que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo. Obtendo o fim da vossa fé: a salvação da vossa alma”. (1ª Pe 1.5, 9).

A fé que salva o homem é uma fé “presente”. Não somente é o ponto de partida da vida do crente, mas também é o princípio característico que deve ser a base continua da vida espiritual (Gl 2.20).

A fé não deve ser limitada à experiência inicial da salvação no passado, mas, sim deve ser mantida no decurso da vida do cristão no presente. É uma virtude continua, que deve ser demonstrada diariamente através de um relacionamento de dedicação a Cristo e confiança n’Ele até o fim. Assim ela também assegura o futuro do cristão: “Agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos, inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé, alicerçados e firmes, não vos deixando afastar da esperança do evangelho que ouvistes e que foi pregado a toda criatura debaixo do céu, e do qual eu, Paulo, me tornei ministro” (Cl 1.22-23).

Já temos falado e demonstrado que as obras não são a base da nossa justificação -quer dizer obras rituais ou cerimoniais, quer obras feitas antes da regeneração, quer obediência perfeita requerida pela lei, quer qualquer tipo de obras (tudo que foi feito por nós). Não podemos ser justificado por qualquer espécie que façamos.

Aqui Paulo nos diz que: “se vós permanecerdes na fé”. Caso contrário, vocês vão perder todas as bênçãos que vocês já começaram a desfrutar. E não pode ser removido da esperança do Evangelho a gloriosa esperança do amor perfeito. Que é pregado e já começou a ser pregado a toda criatura debaixo do céu.

Em Filipenses Paulo rejeita qualquer base de confiança na sua “justiça própria”, isto é, a sua própria excelência, quer habitual ou atual. Ele censura os judeus, porque eles procuravam estabelecer sua própria justiça e não queria submeter a justiça divina: “Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus” (Rm 10.3).

A Bíblia fala da natureza gratuita da nossa justificação. Graça e obras são opostos ou contrários: “Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como favor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça, independentemente de obras” (Rm 4.4-6).

Quando a base positiva da justificação é citada nas Escrituras, é sempre declarado que nada é feito por nós ou realizado em nós, mas o que foi feito por nós (Rm 5.9, 18-19).

Quando Paulo fala de achar graça só pela fé, é sempre em oposição à possibilidade de achá-la palas obras. A doutrina da justificação não poderia ser entendida sem esta antítese. Ela se dirige contra a concepção fundamental do judaísmo e do cristianismo judaizante, segundo a qual o homem acha graça de Deus pelo cumprimento da vontade divina. O próprio Paulo considerava as coisas assim até o momento em que Cristo lhe apareceu no caminho de Damasco: somente este instante é que lhe abriu os olhos para a ilusão que o fazia crer que um homem poderia manter-se diante de Deus por sua própria força. É por isso que depois de Damasco, ele opõe à tese dos judaizantes, que pretendem que a lei seja o caminho da salvação, esta antítese: o caminho da graça de Deus não está nas obras (ritos), mas na fé (Gl 2.16; 3.8, 24; Rm 28.30; 4.5). Esta fé é a única maneira de obter graça junto de Deus. A salvação de Deus lhe é concedida “a título gracioso” (Rm 4.4; 5.17), como um dom gratuito (Rm 3.24).

Pr. Elias Ribas

Assembleia de Deus

Blumenau - SC