I.
DEUS CRIOU O
OURO E A PRATA PARA FAZERMOS USO
Todas as riquezas do mundo foram cridas por Deus e estão sob o Seu controle. “Minha é a prata, meu é o ouro, diz o SENHOR dos Exércitos” (Ag 2.8).
“Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1.16).
Antes da última praga para o povo egípcio Deus ordenou a
Moisés dizendo: “Fala, agora, aos ouvidos do povo que todo homem peça ao seu
vizinho, e toda mulher, à sua vizinha objetos de prata e de ouro” (Êx 11.2).
Há algumas questões que devem ser levantadas quanto à
leitura que se faz do comportamento dos judeus. Se a Bíblia descreve a rica
cultura dos judeus sem qualquer censura, a pergunta deve ser feita sem medo. De
onde vêm os sermões bombásticos condenando os adornos como vaidade? Se não vêm
do coração de Deus, brota de uma fraca percepção de que a Bíblia não é um livro
de condição doutrinária, mas história de um povo.
Não desejamos imitar o povo judeu no Antigo Testamento, nem
os primeiros cristãos do Novo Testamento. Isso é impossível. Eles viveram
realidades diferentes em um tempo muito longínquo do nosso tempo. Não desejamos
que nossos líderes usem turbantes na cabeça e calções para ministrar o culto,
que se pague um dote aos pais das noivas, ou os cunhados se casem com as viúvas
de seus irmãos. Na verdade, há uma inconstância enorme quando alguns tentam
buscar um versículo de Deuteronômio que nos ensine como as mulheres devem
trajar. Esquecendo que Jesus disse que a lei e os profetas vigoram até João
Batista (Mt 11.13; Lc 16.16).
II.
O USO DE
JÓIA
No Antigo Testamento.
O uso de jóias entre as mulheres israelitas é notório, bem como alguns tipos de
jóias também eram usadas por homens. Vários textos da Bíblia, bem como achados
arqueológicos comprovam este fato. Nos dias dos patriarcas, assim como ainda
hoje, já se presenteavam pessoas benquistas com roupas. O preço desses presentes
significava o tamanho do nosso carinho. Presentear uma mulher com um bracelete,
por exemplo, significava valorizar aquela mulher.
Em uma das passagens mais lindas da Bíblia encontrada em Gn
24, na qual vemos claramente uma figura do arrebatamento da Igreja, o mordomo
de Abraão presenteou a Rebeca com uma dessas jóias; vale lembrar que nesta
passagem do capítulo 24 de Gênesis, o mordomo é figura do Espírito Santo;
Abraão é figura de Deus Pai, Isaque é a figura de Jesus e Rebeca simboliza a
Igreja. Como poderia Rebeca ser presenteada com jóias se estas fossem malignas?
As jóias nesta passagem, como em algumas outras, podem simbolizar os dons do
Espírito e os galardões que o Senhor tem preparado para a sua Igreja. “Tirou
jóias de ouro e de prata, e vestidos, e os deu a Rebeca; também deu ricos
presentes a seu irmão e a sua mãe” (Gn 24.53).
Abraão, marido de Sara, aquela que Pedro elogia como exemplo
de mulher santa, enviou jóias e vestidos para a futura esposa do seu
filho, Isaque.
“Tomou o homem um pendente de ouro de meio siclo de peso, e duas
pulseiras para as mãos dela, do peso de dez siclos de ouro. Tirou jóias de ouro
e de prata, e vestidos, e os deu a Rebeca” (Gn 24.22, 47, 53).
Deus abençoou todos os passos para a realização
desse matrimônio.
O Antigo Testamento está repleto de referências sobre como
as mulheres se adornavam em oposição ao que pensa que se adornar de forma
meticulosa representa um desagrado a Deus. Veja como o relato de Isaías 61.10,
assemelha o favor de Deus a um noivo que se prepara para casar:
“regozijar-me-ei muito no Senhor, a minha alma se alegra no meu Deus; porque me
cobriu de vestes de salvação, e me envolveu com manto de justiça, como noivo
que se adorna de turbante, como noiva que se enfeita com suas jóias”.
Os judeus também gostavam de ornamentos imitando coroas
(diademas), pois simbolizavam juventude, alegria e favor a Deus. Colocados
sobre a cabeça, esses ornamentos pareciam mais ou menos os arcos que as
mulheres contemporâneas utilizavam, alguns deles fartos de pedras coloridas. Ornamentos
de ouro, prata e pedras preciosas serviam basicamente para os mesmos fins de
hoje. Uma das simbologias tipificadas pelo uso do anel era de autoridade.
“Então tirou Faraó o seu anel de sinete da mão e o pôs na
mão de José, fê-lo vestir roupas de linho fino e lhe pôs ao pescoço um colar de
ouro” (Gn 41.42).
“Tirou o rei o seu anel, que tinha tomado a Hamã, e o deu a
Mordecai” (Ester 8.2).
Os colares, também comumente usados pelos judeus, apareceram
inicialmente como uma forma de firmar aliança. Era uma espécie de coleira
simbólica com que as pessoas comprometiam-se mutuamente.
“Formosas são as tuas faces entre os teus enfeites, o teu
pescoço com os colares. Enfeites de ouro te faremos, com incrustações de prata”
(Ct 1.10-11).
Há indícios de que os colares combinavam com os braceletes,
formando assim conjuntos de jóias lindíssimas que certamente tornava a mulher
mais formosa.
A melhor ilustração do que quero afirmar foi contada pelo
próprio Deus. Em Ezequiel 16 o profeta descreve a nação de Judá como uma
criança, recém nascida, que cresce, fica moça e Deus a veste das melhores
roupas e a adorna com as melhores jóias! (vv 11-12). Vale a pena ler o texto.
Se Deus aprova o uso de jóias? Sim, desde que a pessoa não esteja em pecado. Quer dizer,
ao contrário do que pensamos. Sempre achamos que como prova de sua santidade, a
mulher não deveria usar jóias, mas não é o que dizem dois textos bíblicos do
Antigo Testamento. Por haverem pecado, as mulheres de Israel deveriam deixar de
usar jóias! Em Isaías 3.16-23 Deus promete retirar as jóias da nação devido ao
pecado. Até mesmo os piercings (v. 21). Aliás, foi devido ao pecado que o povo
de Israel tirou das orelhas, pescoço e nariz as jóias que usava. Quando se está
em pecado, as jóias não caem bem, é o que se depreende do texto de Êxodo
33.1-6. Sabe o que eram os atavios que as mulheres tiveram de tirar por causa
do pecado? As jóias, colares, brincos e pendentes do nariz!
Deus inúmeras vezes se valeu de metáforas nas quais
inseriram jóias, roupas caras e adereços, a fim de simbolizar sua benção para
seu povo.
“Passando eu por junto de ti, vi-te, e eis que o teu tempo
era tempo de amores; estendi sobre ti as abas do meu manto, cobri a tua nudez,
dei-te juramento, e entrei em aliança contigo, diz o Senhor Deus; e passaste a
ser minha. Então te lavei com água, e te enxuguei do teu sangue e te ungi com
óleo. Também te vesti de roupas bordadas, e te calcei com peles de animais
marinhos, e te cingi de linho fino e te cobri de seda. Também te adornei com
enfeites, e te pus braceletes nas mãos e colar á roda do teu pescoço. Coloquei
um pendente no nariz, arrecadas nas orelhas e linda coroa na cabeça. Assim
foste ornada de ouro e prata; o teu vestido era de linho fino, de seda e de
bordados; nutriste-te de flor de farina, de mel e azeite; eras formosas em
extremo e chegaste a ser rainha. Correu a tua fama entre as nações, por causa
da tua formosura, pois era perfeita, por causa da minha glória que eu pusera em
ti, diz o Senhor Deus” (Ez 16.8-14).
Ora, se Deus não assume uma postura condenatória sobre o uso
de objetos de adorno ou moda, de onde vem esta abundância de doutrina humana
reprovando severamente o uso de tais?
Há várias explicações, mas podemos restringir-nos a
pelo menos três falácias usadas na defesa do legalismo nas igrejas.
Deus usou como exemplo de adorno á Sua noiva espiritual,
Jerusalém, conforme Ezequiel. Não é válido, no entanto, o argumento de que o
referido texto é do Antigo Testamento e tem sentido espiritual, pois se fosse
coisa vergonhosa, mesmo de forma simbólica, Deus não usaria como adorno á Sua
noiva, dizendo inclusive: “As jóias de enfeite, que Eu te dei, do meu ouro”.
Note-se que não interessa se era simbólico ou não; se no Antigo Testamento ou
não.
A prostituição de sua noiva, ali citada, foi condenada como
pecado e continua sendo pecado até hoje, porém, as jóias, Deus não condenou,
naquela ocasião, e não são consideradas pecado no Novo Testamento. A lei
cerimonial (incluindo as vestes) foi abolida, mas a lei moral foi mantida. Por
isso é que Jesus afirmou que o amor inclui tudo o que precisamos, hoje, para a
salvação.
Deus não haveria de sugerir um adorno que simbolizasse
pecado ao ser humano, para adornar simbolicamente sua Noiva, conforme Ezequiel
1.16.
Satanás o pai da mentira ensina
seus ministros a preocuparem-se com coisas secundárias e não com as primarias.
Eles não se preocupam com a doutrina sã doutrina, mas dão ênfase as doutrinas
humanas. Por exemplo: eles não ensinam que a língua que é o menor órgão do
corpo humano é capaz de incendiar uma floresta. Eles preocupam-se com falatório
vãos e vazios. Mas se uma irmã usar um pequeno brinco é logo fulminada e
condenada a réu do inferno. Ensinam que mulher usar brinco é mundana e não tem
santidade.
Mas para aqueles que têm visão do
Reino de Deus sabem que o pecado não está no uso de um pendente, mas na
sensualidade. Diz um erudito que o pecado da sensualidade não está na orelha,
mas nas partes intimas de uma mulher.
Portanto os fariseus de hoje
escoam um mosquito e engolem um camelo. Invertem os valores ensinam as
tradições e esquecem das doutrinas fundamentais da bíblia.
Hoje, algumas pessoas estranham que jovens usem brincos nas
orelhas e até no nariz. Nos tempos antigos, porém, as mulheres já usavam
brincos tanto nas orelhas como no nariz. O servo de Abraão, quando se encontrou
com Rebeca (ela mais tarde viria a ser a esposa de Isaque), cuidou de adorná-la
de acordo com a moda da época.
“Daí lhe perguntei: de quem és filha? Ela respondeu: Filha
de Betuel, filho de Anaor e Milca. Então, lhe pus o pendente no nariz e as
pulseiras nas mãos” (Gn 24.47).
“Como pendentes e jóias de ouro, assim é o sábio repreensor
para o ouvido atento” (Pv 25.12). “Coloquei-te um pendente no nariz, arrecadas
nas orelhas, e linda coroa na cabeça”.
Jeremias, falando em nome de Deus, chega a comparar o
cuidado de uma noiva em não deve esquecer-se de seus adornos com Israel, que é
indesculpável quando se esquece do Senhor: “Acaso se esquece a virgem dos seus
adornos, ou a noiva do seu cinto? Todavia o meu povo se esqueceu de mim por
dias sem conta” (Jr 2.32).
Daniel é muitas vezes citado nas igrejas evangélicas como
homem sem vaidade por se ter recusado a contaminar-se com os manjares que o rei
comia. Entretanto, Daniel não se recusou a vestir-se de materiais caros, ornar-se
com beleza e andar de acordo com a moda da Babilônia, onde passava seus dias de
exílio: “Eu, porém, tenho ouvido dizer de ti que podes dar interpretações e
solucionar casos difíceis; agora, se puderes ler esta escritura, e fazer-me
saber a sua interpretação, serás o terceiro no meu reino... Então mandou
Belsazar que vestisse Daniel de púrpura, e lhe pusessem cadeira de ouro ao
pescoço, e proclamassem que passaria a ser o terceiro no governo do seu reino”
(Dn 5.16, 29).
Muitas das coisas que a igreja ainda insiste preservar não
passam de costumes que mudam com os tempos. Esses são alguns deles.
Nosso único problema de interpretação reside na ausência de
opinião por parte dos líderes nessas questões. No entanto, levando-se em conta
os costumes da época não é de se admirar que alguns obreiros usassem brincos –
que os identificaria com algum povo, cabelos compridos, barba e as mulheres,
jóias, coisa comum na época.
Questões que envolvem a indumentária feminina são bastante
recorrentes no meio evangélico. Em geral, a discussão se dá no campo dos “usos
e costumes” adotados por uma determinada denominação. Em relação ao uso de
jóias (brincos, colares e afins) não seria diferente. Embora haja uma tendência
à liberalização desse tipo de regra em uma parte das igrejas consideradas
conservadoras, ainda há correntes que preferem manter a proibição do uso de
adornos entre as mulheres evangélicas.
Muitos hoje, olham somente para
aparência, o exterior, assim como os fariseus na época de Jesus. Para eles desobedecer
a usos e costumes é um sinal de pecado. Não procuram saber se as pessoas
abrigam pecado nas suas vidas.
Um dos argumentos que sustentam
esse discurso está ligado à manutenção da tradição, que foi condenada por Jesus
(Mt 15.1-5). Apesar de haver igrejas que já compreenderam que a salvação é pela
graça, ainda há aquelas que mantêm a regra inflexível por uma questão de
princípios. A Bíblia diz que a obediência é a base de tudo. Logo, se isso é a
regra de conduta na igreja, estabelecida pelo sistema convencional desde o
início, deve ser obedecida. A desobediência é pecado. Quem não quer permanecer
tem o direito de procurar outra igreja,
ou seja, a porta está aberta pode sair! Enquanto Jesus deu a Sua vida pela
ovelhas, o lobos devoram e as escorraçam da igreja pelas suas santas tradições.
[....] Quem é preso aos costumes
pensa que a santidade é o exteriótico e não pode de jeito nem um usar baton,
maquiagem jóias, pois são logo chamadas de “Jezabel”.
Santidade não pode ser confundida
com aparência. É essencial que nos lembramos de que “o homem vê o exterior,
porém o Senhor, o coração” (1º Sm 16.7).
Portanto santidade não é o
superficial, o exterior, a aparência. É algo que fica bem abaixo da superfície,
bem no íntimo, no nível da atitude e do caráter; de uma atitude para com o
próprio Deus.
O que importa é o desejo interior
do cristão, um desejo de conhecer a Deus, de ouvi-lo, de andar humildemente com
Ele. Não depende dos costumes, usos, roupas, maquiagem, ou seja, o exterior”
[Linhares. Usos e costumes P. 54].
III.
A HIPOCRISIA
RELIGIOSA
Se a hipocrisia revelada pelo farisaísmo naquele tempo era o
oposto do que se imagina, o mesmo continua a acontecer.
Algumas igrejas evangélicas usam o texto de Êxodo 32.2 com a
argumentação de que as jóias das mulheres judias foram pedra de tropeço para o
povo hebreu:
“Disse-lhes Arão: Tirai as argolas de ouro das orelhas de
vossas mulheres, vossos filhos e vossas filhas, e trazei-me. Então todo o povo
tirou das orelhas as argolas e as trouxe a Arão” (Êx 32-2-3).
Não só as mulheres, mas os seus filhos e filhas também
faziam uso de jóias. Arão ordenou que todos tirassem das ‘orelhas’ e as
trouxessem para ele.
A luz da exegese não atribui o pecado as jóias usadas pelo
povo, mas em fazer um deus vão criado pelo homem para o adorarem.
Não se podia negar que houve grandes milagres quando os
israelitas foram salvos da escravidão, embora o povo houvesse tomado para si os
maus costumes do Egito como adorar outros deuses e embora não quisessem
atribuir os milagres a Deus soberano e invisível, porque amavam a deuses
convenientes, portáteis que não viessem interferir na sua consciência.
Nessa linha de raciocínio, sustenta-se que as mulheres que
servem a Deus hoje, ao usarem ouro, serão igualmente tentadas á semelhança do
relato bíblico. E terminaram edificando ídolos. Entretanto, entender o texto
acima como sendo uma boa argumentação para considerar vaidade o uso de jóias e
adornos, significa destacar vários outros textos em que o mesmo ouro também foi
usado para a construção do tabernáculo (Êx 36.34-38), dos utensílios de culto e
da própria arca do concerto (Êx 25.11-13).
O mesmo ouro que Arão usou das jóias para fabricar um ídolo,
Moisés usou para a fabricação do tabernáculo local de adoração.
“Pelo que trouxeram uma oferta ao Senhor, cada um o que
achou, objetos de ouro, ornamentos para o braço, pulseiras, sinetes, arrecadas
e colares, para fazer expiação por nós mesmos perante o Senhor” (Nm 31.50).
O que vimos neste texto é que o uso de jóia não está errado.
As nossas riquezas é que podem ter um destino bom ou maligno, dependendo de
onde e para onde está inclinado nosso coração.
Na construção da tenda e da Arca do Conserto os filhos de
Israel traziam ofertas voluntárias para o Senhor:
“Vieram homens e mulheres,
todos dispostos de coração; trouxeram fivelas, pendentes, anéis, braceletes,
todos os objetos de ouro; todo homem fazia oferta de ouro ao Senhor” (Êx
35.22).
Deus permitiu que os israelitas recebessem jóias e roupas do
povo do Egito (Êx 12.35) e aceitou com
agrado a contribuição voluntária de uma parte destas para serem transformadas
em utensílios e enfeites para o tabernáculo, o lugar em que ele seria adorado
(Êx 35.22, 23; 28.17-20). Moisés
transmitiu a mensagem: “Tomai, do que
tendes, uma oferta para o Senhor; cada um, de coração disposto,
voluntariamente a trará por oferta ao Senhor: ouro, prata, bronze, estofo azul, púrpura, carmesim, linho fino, pêlos
de cabras, peles…, pedras de ônix e pedras de engaste…” (Êx 35.5-9).
Êxodo 35 a
39 descreve a beleza deste tabernáculo e os detalhes das vestes dos sacerdotes,
tudo do melhor e do mais bonito. Ouro, linho, pedras preciosas, anéis, argolas,
coroa... Quando os israelitas tiraram o espólio do povo de Canaã, Deus nunca
deu ordens para que deixassem de lado as jóias e roupas bonitas que estariam
entre as riquezas que poderiam levar, nem que as aproveitassem de outra
maneira. “Voltais às vossas tendas com grandes riquezas, com … prata, ouro,…
e muitíssima roupa,reparti com vossos irmãos o despojo dos vossos inimigos” (Js 22.8).
[....] Sempre que faz uma casuística da Bíblia gerar um erro
doutrinário. Uma falha deste tipo, apesar não possuir a mesma gravidade de uma
heresia, deve ser combatida. É verdade que errar na compreensão dos textos
bíblicos é uma possibilidade a que todos nos sujeitamos; porém, quem tem
compromisso com a verdade não pode tolerar inexatidão [GONDIM Ricardo É
proibido. P. 81].
Todavia, o que temos visto são líderes criando regras fora
do contexto e em desarmonia com a própria Bíblia. Os tais líderes para provarem
suas “barbaridades”, usam versículos isolados como: “Não removas os marcos
antigos que puseram teus pais” (Pv 22.28). Para eles remover os marcos antigos
é não mudar os usos e costumes que foram ensinados com respeito do que pode e
do que não pode (Cl 1.21).
Todo o estudioso da Bíblia deve analisar a questão correta
do texto escrito. Quando a Bíblia diz que devemos seguir os marcos antigos, ela
refere-se literalmente a marcação de território. O marco era uma baliza ou
poste de madeira colocada na divisa para fazer a marcação de terra entre
famílias e tribo do povo israelita.
Marco no hb. gabuwl ou forma contrata lbg gabul; significa:
fronteira, território (porção de terra contida dentro dos limites).
“Não mudes os marcos do teu próximo, que os antigos fixaram
na tua herança, na terra que o SENHOR, teu Deus, te dá para a possuíres” (Dt
19.14). “Não removas os marcos antigos, nem entres nos campos dos órfãos” (Pv
23.10).
A lei amaldiçoava aqueles que por ganância e avareza
mudassem os marcos de divisa de terra do seu próximo: “Maldito aquele que mudar
os marcos do seu próximo. E todo o povo dirá: Amém!” (Dt 27.17).
O líder eclesiástico deve analisar a exegese do texto
bíblico para formar um conceito verdadeiro e não usar um texto isolado para
formar uma idéia pessoal, pois assim estará formando uma doutrina humana.
Muitos pregadores ao invés de pregarem a mensagem bíblica,
atacam sobre o mundanismo dizendo que Deus desaprova os irmãos se vestirem bem
ou usarem qualquer tipo de adorno no corpo dizendo que crente deve ter
santidade. A santidade não rejeita o que Deus criou em benefício do homem, nem
condena aqueles que usam corretamente o que Deus chama de bom. A fonte da
santidade é um relacionamento pessoal com Jesus, e não um sistema de obras. O
estômago não corrompe o homem, mas o coração pode fazê-lo.
Algumas igrejas evangélicas assumiram uma postura restritiva
de usos e costumes legalistas e hoje já não se diferencia da doutrina de Deus
da doutrina dos homens. Colocam a doutrina dos homens acima da doutrina
bíblica. Deus não condenou o uso de jóias no Velho Testamento, e também não
condena no Novo Testamento.
Eu sei que muitos irão ficar preocupados e até perguntar:
não há perigo da igreja desabar? Dando às pessoas liberdade, elas não acabam em
autêntica libertinagem? Se nascemos pelo Espírito Santo, seremos guiados pelo
mesmo Espírito, e que o coração está em submissão a Deus não há necessidade de
lei. Se Deus não for o Senhor, não há lei que imponha esse sentido de
responsabilidade. Mas, se o crente não tiver temor de Deus na sua vida, pode
fechá-lo numa jaula que ele vai continuar pecando.
“Qualquer que é nascido de Deus
não comete pecado; porque a sua semente permanece nele; e não pode pecar,
porque é nascido de Deus”. (1ª Jo 3.9).
João enfatiza que quem realmente
nasceu de Deus não pode viver pecando coincidentemente, porque a vida de Deus
não pode permanecer em quem vive na prática do pecado.
O pecado maior não está no uso, mas sim nas heresias, modismo
teológico, nos criadores de divisões, rebeldes e insubmissos a Palavra de Deus.
As proibições são frutos de autoritarismo inconseqüente de homens, e que na
Bíblia, Deus não assume uma postura condenatória quando relata o uso de jóias e
adornos. Já analisamos acima vários trechos na Bíblia que tantos os patriarcas quantas
outras personagens da fé, não apenas usaram jóias, mas também aprovaram os seus
usos.
IV.
O QUE É
REALMENTE VAIDADE
Vaidade, segundo o dicionário Aurélio, é a qualidade daquilo
que é vão (fútil, insignificante, que só existe na fantasia, falso, ilusório e
inútil), pode ser também um desejo imoderado de atrair a admiração; presunção.
A vaidade é definida, entre outras coisas, como o excessivo
desejo por merecer a admiração dos outros (Aurélio). Os dicionários dizem ainda
que o vaidoso é presunçoso (convencido),
orgulho excessivo, arrogância e fútil (sem
seriedade).
Conceito popular de vaidade é declarado na Bíblia pela
expressão composta de vanglória:
“Nada façais por partidarismo, ou vanglória, mas por
humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmos” (Fp 2.3).
“Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja
uns dos outros” (Gl 5.26).
Para alguns, a vaidade é mais utilizada hoje para estética,
visual e aparência da própria pessoa.
Precisamos estudar a palavra “vaidade” no original hebraico
e grego, compararmos as várias vezes em que ela é usada na Escritura e qual o
verdadeiro sentido que esse vocábulo possuía nos tempos antigos.
Vaidade no hebraico advém de duas palavras. Habel, shav,
que significa vazio e oco. Seu uso no Antigo Testamento estava relacionado ao
abandono do único Deus verdadeiro e à busca de ídolos que não podiam satisfazer
às necessidade de Israel pelo simples fato de não existirem. A adoração a
ídolos, então, tornou-se sinônimo de vaidade, pois era como se o povo israelita
estivesse buscando ajuda no vazio.
“Rejeitaram os estatutos e a aliança que fizera com seus
pais, como as suas advertências com que protestaram contra eles; seguiram os
ídolos e se tornaram vãos...” (2ª Rs 17.15).
No grego, vaidade é representada pelo substantivo mataiotes
e também significa vazio. Não há qualquer relação entre vaidade e o uso de
jóia, roupas ou ornamentos. Seu significado, em primeiro lugar, refere-se ao
mundo criado que, no pecado e sem preencher o propósito inicial para qual foi
criado, tornou-se vazio.
“Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua
vontade, mas por causa do que a sujeitou” (Rm 8.20).
Vaidade no gr. mataiotes é também usado por
Paulo para expor a forma de pensar e o estilo de vida dos gentios que não
agradam a Deus:
“Isto, portanto, digo e no Senhor testifico, que não mais
andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos”
(Ef 4.17).
Vaidade no gr. mataiotes, também podia denotar as
palavras impressionantes, mas vazia, de falsos mestres que muito falam, mas não
possuem conteúdo nenhum:
“Porquanto, proferindo palavras jactanciosas de vaidade,
engodam com paixões carnais, por suas libertinagens, aqueles que estavam
prestes a fugir dos que andam no erro” (2ª Pe 2.18).
Assim, aprendemos que vaidade é objetivamente descrita como
sentido de vazio, inutilidade e falta de consistência. Todas as vezes que
buscarmos nossa identidade no que for irreal, estamos sendo vaidosos (adoração
de outros deuses, falsa adoração dos fariseus, egocentrismo do homem, ao
exagero e desmedido desejo da carne e dos olhos). Quando a Bíblia fala de
vaidade não está se referindo a roupa, adornos ou bens materiais. Se pensarmos
assim estamos correndo em direção ao vento, que não sabe de onde vem e para
onde vai.
As igrejas evangélicas
brasileiras têm grande dificuldade de compreender o termo “vaidade” que, no
linguajar dos crentes, carrega toda conotação pejorativa. Gostar de vestir-se
com esmero, adornar-se com qualquer jóia ou cuidar do cabelo, tingindo ou
penteando-o de uma forma estética, é considerado pecado na maioria das igrejas
pentecostais. O texto apresentado como base bíblica para tal conclusão é o
Salmo 24.3-4.
“Quem subirá ao monte do Senhor, ou que estará no seu santo
lugar? Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma
à vaidade, nem jura enganosamente”.
“... que não entrega a sua alma à vaidade...” Vaidade no
hebraico awv - shav significa:
falsidade; vazio de fala, mentira; inutilidade.
A Bíblia também a palavra vaidade quando refere-se ao sopro
(vida), a enfermidade, algo vazio.
“Desde aos meus dias o comprimento de alguns palmos; à tua
presença o prazo da minha vida é nada. Na verdade, todo homem, por mais firme
que esteja, é pura vaidade” (Sl 39.5).
Salomão também usa a palavra vaidade nesse sentido de algo
vazio, oco. “Vaidade de vaidade! Diz o pregador; vaidade de vaidade! Tudo é
vaidade” (Ec 1.2).
Observe que na lógica do apóstolo Paulo, vaidade é colocar
esperança naquilo que é vão, passageiro, perecível. Ele então fala em ver sua
vida à luz da eternidade. Neste mundo tudo é passageiro e ninguém leva nada
daqui. Por isto Salomão diz: “tudo é vaidade”. A vida só deixa de ser vaidade
quando entregamos a nossa vida a Deus e o servimos de todo coração. Tudo que o
homem faz sem dedicar a Deus ou não um alvo que é Cristo é vaidade, ou seja,
vazio [GONDIM - É proibido – P. 67-70].
As normas de conduta do cristianismo neotestamentário
parecem mais interessadas no interior do que no exterior dos homens. A palavra
“vaidade” não é um termo que descreve uma pessoa cuidadosa vestida ou de
adornos no corpo; pelo contrário, esse vocábulo valoriza-se ao modo de viver de
tudo o que Deus criou é bom e agradável.
“Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os
impuros e descrentes, nada é puro. Porque tanto a mente como a consciência
deles estão corrompidas” (Tt 1.15).
Paulo vivia sob o postulado de que as coisas importantes são
aquelas que não vêem, pois tudo o que os nossos olhos contemplam um dia
passará. Sendo assim, para o apóstolo o que é finito deveria ser considerado
vaidade: “Não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem são
temporais, e as que se não se vêem” (2ª Co 4.8).
Somos criados para as boas obras, e não pelas boas obras. E
é por meio da fé em
Cristo. Paulo, em 2ª Co 5.17, declara que nos tornamos novas
criaturas. Portanto, devemos abandonar as práticas más e nos voltarmos para a
prática do bem, pois estamos em Cristo Jesus. As boas obras devem ser apenas a
manifestação externa do amor que temos com Deus.
1.
Faz-nos juízes da lei.
Fazendo uma avaliação sobre alguns costumes do ser humano
constatamos de que tudo que é bom, é considerado errado, ou pecado. Notamos que
as pessoas julgam as outras e não olham pra dentro de si. Avaliam um comportamento
e julgam-no achando que este está errado, mas fazem isso, sem base nenhuma. Se
alguém não gosta e não quer tal costume, então fala mal e cria uma regra como
se fosse uma doutrina bíblica. Muitas vezes, quando estamos julgando nossos
irmãos por causa da sua postura exterior, podemos estar julgando mal e
condenando a si mesma (Rm 2.1-3). O ser humano não tem condições de conhecer o
coração das pessoas. Uma pessoa pode aparentar santa, mas seu coração pode
estar longe de Deus. Você pode julgar e desqualificar uma pessoa pelo seu porte
e aparência exterior, mas são plenamente aceitas por Deus.
Quando Jesus entrou na casa de Simão, o fariseu (Lc
7.36-38), uma mulher aproximou-se por detrás do Senhor, chorando, regando-lhe
os pés com suas lágrimas, enxugando-os com seus cabelos e ungindo-os com
ungüento. Ao ver isso, o fariseu logo julgou a pobre mulher pela sua aparência
exterior (é os que os fariseus fazem), e pela sua reputação (que também é um
juízo meramente exterior); como se não bastasse, disse consigo mesmo: “Se este
fora profeta, bem saberia quem é essa mulher que tocou, porque é pecadora”.
Jesus então confrontou o fariseu Simão, afirmando que este, mesmo tendo toda
aparência religiosa, estava seco por dentro (sepulcro caiado). Aquela mulher,
todavia, ainda que possuidora de uma baixa reputação era rica interiormente. A
aplicação prática daquele evento foi tremenda: “perdoados lhe são os seus
muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele há quem pouco se perdoa,
pouco ama” (v. 7).
[...] É um exercício inútil julgar uma pessoa pela sua
maneira de vestir, porquanto o profeta Jeremias nos afirma que “Enganoso é o
coração, mais do que todas as cousas, e desesperadamente corrupto, quem
conhecerá?” (Jr 17.9).
Julgar sobre quais vestimentas são ou não “vaidosas”
leva-nos a um nível de legalismo sufocante e criminoso. O líder deve se
preocupar com as vestes sensuais e que venham desonrar a quem usa, mas julgar
alguém e dizer que é mundano pelas vestes, caímos da graça do Senhor. “Irmãos,
não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do seu irmão, ou julga a seu
irmão, fala mal da lei, e julga a lei; ora se julgas a lei, não és observador
da lei, mas Juiz. Um só é Legislador e juiz, aquele que pode salvar e fazer
perecer; tu, porém, quem é, que julga ao próximo?” (Tg 4.11-12; Cl 2.16, 18).
Estipular que um tipo de ornamento no corpo das mulheres é
vaidade, mas um ministro com prendedor de gravata, ou um dente de ouro não pode
ser vaidade? Ou um quadro que colocamos para enfeitar una casa, os lustres que
usamos para decorar as luzes que iluminam nossas casas, uma banheira de hidromassagem,
uma torneira coberta de ouro no banheiro não seria também uma espécie de
vaidade? Uma camionete dublada e importada também não seria vaidade. Não seria
o uso da gravata uma vaidade? A gravata surgiu em culturas de clima frio como
uma espécie de cachecol que esquentava o pescoço. Entretanto, ao ser estilizada
e aperfeiçoada a ponto de perder sua função inicial, foi lançada na moda
masculina e tornou-se mero adorno no pescoço dos homens. Principalmente dos
políticos autoridades e dos pastores. No Brasil, a gravata não possui utilidade
nenhuma se não adornar. Se é vaidade uma mulher usar brinco, também é vaidade o
homem usar uma gravata.
Se vaidade fosse pecado, porque os templos evangélicos são
tão bonitos, porque os pastores só vão de terno e gravata, as pessoas que
freqüentam sempre estão com a melhor roupa? Se for assim, são todos pecadores.
Quando os pastores vão há uma reunião convencional,
procuram se apresentar da melhor forma possível. Usam os melhores ternos,
camisas e gravatas prendedores de gravata de ouro e bons sapatos. Tudo isso é
bom e agradável. Mas, nas suas igrejas eles agem diferentes principalmente com
as mulheres. Usam um jugo de proibições colocando um cabresto e ainda chamam de
Jezabel e as tratam muitas vezes como se fossem umas pobres jumentas. Esquecem
dos ensinos bíblicos que a mulher é uma adjuntora e ambos tornam uma só carne.
Não seria uma descriminação? Também podemos chamar de hipocrisia?
Para muitos pastores, ver uma mulher adornada é símbolo de
mundanismo, mas um homem de gravata de seda e um prendedor de ouro não são! Não
estamos sendo incoerentes? Não estamos usando dois pesos e duas medidas? Dizer
que uma mulher que usa jóia é vaidosa, mas comprar uma camionete do ano e cheio
de frisos niquelados e de cores berrantes não é vaidade? Teríamos de arbitrar
sobre os enfeites que deveríamos fazer parte dos nossos óculos, quais cores
seriam permitidas nas nossas roupas, ou seja, estaríamos presos a um sistema de
fiscalização de nossa conduta. Seriamos, em ultima análise, roubados da
liberdade em Cristo.
Qualquer julgamento temerário que Se faze pode estar julgando
mal. É o que muitos fazem nas igrejas.
Deus não vê como nós vemos e não condena a nossa cultura,
mas condena sim o pecado e o pecador não arrependido. Se tivermos condições de
nos vestir bem e nos adornarmos, para louvor de sua glória, estamos sendo
abençoados por Ele e isto não é vaidade porque é para Ele. [RICARDO GONDIM. É
proibido. P. 71-78].
Usar a questão de usos e costumes e dizer que as pessoas que
usam adornos e roupas da moda amam o mundo significa confundir a real acepção
que a Bíblia atribui ao vocábulo “mundo”.
“Não ameis o mundo nem as cousas que há no mundo. Se alguém
amar o mundo o amor do Pai não está nele; porque tudo que há no mundo, a
concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não
procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como sua
concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente”
(1ª Jo 2.15-17).
A palavra mundo que João refere-se não se trata do mundo
natural (físico), pois o mundo criado por Deus é muito bom. Embora caído e
sofrendo os efeitos da queda, (Rm 8.20-22). O mundo é descrito na Bíblia como a
sociedade incrédula e rebelde, sob a orientação do diabo que se opõe ao Reino
de Deus. Paulo chega a dizer que este mundo manifesta-se através dos sistemas
de pensamento que rejeitam a verdade (2ª Co 10.4-5). O mundo é todo o sistema
humano e egocêntrico que se desenvolve na cultura e que leva o homem ao exagero
e desmedido desejo da carne, dos olhos e a soberba da vida (1ª Jo 2.16). É o
adoecimento de toda a produção humana e a manifestação do desejo doentio de
poder e pelo dinheiro.
De acordo com 1ª João 2.15, a
falta de amor para com Deus abre espaço para que se desenvolva amor pelo mundo,
que deixa o crente especialmente vulneráveis a áreas de ataque do inimigo. Se
caminhar com fé e firmeza na Palavra, não sentirá inseguro, conseguirá evitar
as armadilhas do pecado sexual, da cobiça, e do orgulho. Estas três áreas de
pecados acontecem quando há insegurança, falta de fé e confiança no Senhor.
Em lª Ts 2.5 e em 2ª Pe 2.3
descreve o pecado do homem que usa sua posição para vantagem própria; para
aproveitar-se das pessoas a quem deve servir, ele vê seus irmãos como criaturas
a serem explodidas e não como filhos de Deus que devem ser servidos.
Estes pecados entristecem e afastam
o Espírito Santo do ser humano. Onde há concupiscência e soberba no coração,
não há lugar para o amor do Pai. O homem terá de escolher um ou outro. A mensagem
de João é: se alguém ama o mundo, o amor do pai não está nele (Jo 2.15).
Quando Jesus esteve neste mundo
ensinou os Seus discípulos acerca do amor dizendo: “Amarás o Senhor, teu Deus,
de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é
o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu
próximo como a ti mesmo” (Mt 22.37-39).
De que forma devo amar a mim mesmo? Todos têm um amor
próprio. Este sentimento de valorização nos foi dado por Deus. Quando nos
vestimos bem e quando cuidamos bem do nosso corpo. Sabemos que ninguém gosta de
estar perto de uma pessoa com roupas sujas, fedorenta, que não escovou os
dentes pela manhã ou que não cuida bem da higiene de seus pés. Trajamos-nos
bem, porque entendemos que nossa cultura aquela indumentária será mais bem
aceita. Quando vamos a uma festa de casamento nos enfeitamos porque
consideramos que aquela data requer que estejamos o mais bonito possível. E
aqueles que pintam o cabelo o fazem para se auto-valorizarem. Se isso é
vaidade, ela é aceita e estimulada por Deus. Não há qualquer relação desta
busca com aquele sentimento pernicioso de querer apoiar nossa existência no que
é vazio.
Se para alguns vesti-se bem é vaidade é adotar uma visão
muito reduzida daquilo que o vocábulo representa em toda a Escritura. É
confundir o certo com o errado.
Para Jesus vaidade também é sinônimo do que é vão. Ele
considerava vaidade a piedade dos fariseus: “E em vão (com vaidade) me adoram,
ensinando doutrinas que são preceitos de homens. E, tendo convocado a multidão,
lhes disse: – Ouvi e entendei: Não é o que entra pela boca que contamina o
homem, mas o que sai pela boca, isto, sim contamina o homem”. (Mt 15.9-11).
Os fariseus julgam as pessoas pelo aparente, por seus
usos e costumes, pela roupa que usa, cor ou tamanho do cabelo, pelas palavras,
atitudes, etc.... é bem verdade que muitas vezes o nosso exterior reflete o
nosso interior, mas precisamos entender que acima de toda aparência Deus julga
o coração! Ele está olhando para a real motivação do coração. Por isso muitos
têm sido rejeitados, por sua aparência, pois certos religiosos acham que
adorador precisa ter “cara” (formato) de crente, quando na verdade o cristão
não tem que ter “cara”, tem que ter vida e vida de Deus! Crentes não tem que
“parecer”, tem que “ser”.
Isso é claramente manifesto na Escritura. O Senhor
explicou ao profeta Ezequiel com as palavras do povo de Israel não expressamente
o que havia em seu coração: “Eles vêm a ti, como o povo costuma vir, e se
assentam diante de ti como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem
por obra; pois, com a boca, professam muito amor, mas o coração só ambiciona
lucro” (Ez 33.31).
Nessa passagem das escrituras, o profeta Ezequiel
está dizendo que as pessoas iam ao templo para adorar a Deus como se fosse
verdadeiramente seu povo. Elas escutavam as palavras da mensagem, mas se
recusavam a praticá-las.
O Senhor também manifestou o mesmo princípio por
intermédio do profeta Isaias: “O Senhor disse: Visto que este povo se aproxima
de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está
longe de mim, e o seu temor para comigo consiste só em mandamentos de homens,
que maquinalmente aprendeu” (Is 29.13).
Com seus lábios demonstravam muito amor por Deus,
entretanto seus corações estavam longe Dele.
[...] Outro dia ouvi uma frase aparentemente
medíocre, mas que na verdade expressa o que muitos “cristãos” tem sido: “por
fora bela viola, mas por dentro pão bolorento”, ou seja, por fora há boa
aparência, parece que tudo está bem, mas na verdade por dentro não há vida, mas
podridão, pecado, presunção e orgulho. O ser humano está mais preocupado com o
aparente, com a sua imagem e reputação sempre mostrando uma atitude hipócrita e
orgulhosa diante das pessoas, e acabam julgando os outros por aquilo que eles
mesmos são. “A vida de pecado dos ímpios se vê no olhar orgulhoso e no coração
arrogante” (Pv 21.4).
A Bíblia diz que Deus não despreza o coração
quebrantado (Sl 51.17), mas também diz que Ele resiste, se opõe, frustra e
derrota o coração soberbo (1ª Pe 5.5b). A primeira coisa que Deus mais aborrece
está no livro de provérbios 6.16-17: “Seis coisas o Senhor aborrece, e a
sétima sua alma abomina: OLHOS ALTIVOS (orgulho) .....”. Mas quem é o
orgulhoso? É o soberbo, o insolente, arrogante, desdenhoso, presunçoso,
presumido e auto-suficiente. Deus não recebe adoração de um coração orgulhoso!
Mas o que vai realmente impressioná-lo é quando Ele
encontra em nós um coração quebrantado. Basta Ele ver este coração e logo se
aproxima de nós (Is 57.5; 66.2). Ter um coração quebrantado significa ter um
coração arrependido, um coração humilde, submisso e dependente do Senhor. No
mesmo capítulo que lemos de 1º Pedro e no mesmo versículo 5b, diz que “Deus
resiste aos soberbos, mas aos humildes concede graça”. Quando houver coração
quebrantado haverá favor do Senhor, graça e benção.
Para sermos pessoas quebrantadas a mudança externa
não será a mais importante, mas sim a interna, a que vem de dentro, que vem do
coração e esta é a verdadeira circuncisão. O que Deus precisa moldar e
trabalhar é o que está dentro da cada um de nós, nossa vida, nossos
pensamentos, nossas motivações, nosso coração! Ele sempre trata conosco na raiz
do problema e não no externo, no aparente.
Ser quebrantado e humilde não significa ter um
semblante triste, melancólico, abatido; nunca sorrir e só chorar. O
quebrantamento não é um sentimento, mas é uma decisão; não é uma experiência
única, mas é um processo, um contínuo modo de viver. O quebrantamento é a
destruição da nossa vontade, a fim de que a vida e o Espírito do Senhor operem
em nós e através de nós.
Lembre-se, não há nada que podemos esconder de Deus,
Ele sonda e conhece o nosso coração (Sl 139). Que o Senhor nos de a cada dia um
coração humilde e quebrantado, totalmente submisso a Sua Vontade!
Como sabemos que estamos adorando de todo o nosso
coração? A Bíblia nos diz como determinar a medida desta adoração: “Pois, onde
está o teu tesouro, aí estará também o teu coração” (Mt 6.21). Seu tesouro reflete-se
pelo que ocupa sua mente, sua vontade e suas emoções. Se você quer saber onde
está seu coração, examine sua mente, sua vontade e suas emoções enquanto adora.
Tudo o que sou e tudo o que falo e penso brotam do
meu coração. O que sai da minha boca reflete como é meu coração.
“O homem bom do bom tesouro do coração tira o bem, e
o mau do mau tesouro tira o mal; porque a boca fala do que está cheio o
coração” (Lc 6.45).
Não gostamos de admitir, mas o que dizemos é o que
somos por dentro. O fato é que o que dizemos sempre revelará o que há em nosso
coração.
“Assim como a água reflete o rosto da gente, o
coração mostra o que a pessoa é” (Pv 27.19 – NTLH).
Se de sua boca saem palavras que não glorificam a
Deus nem edificam as pessoas que o cercam, então há algo errado com seu
coração. Entre na presença de Deus e peça que Ele lhe revele qual é o problema
e o purifique. Permita que o Espírito Santo o transforme à imagem de Deus. Quando
você entrega o seu coração a Deus, permite que Sua Palavra comece a agir em sua
vida:
“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais
cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de
dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os
pensamentos e propósitos do coração” (Hb 4.12).
Imagine a eficácia da Palavra de Deus que é viva e
mais poderosa e afiada do que a espada. Sua Palavra não apenas divide alma e
espírito e juntas e medulas, mas julga os pensamentos e as intenções do
coração. Atravessa o natural e atinge diretamente o espírito.
Depois que Deus operar em seu coração com Sua
Palavra, o Espírito Santo virá e começará a obra de transformar seu coração e
torná-lo semelhante ao d”Ele. Ele intercederá por nós e ministrará às áreas que
causam as impurezas que mancham nosso coração.
“Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em
nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito
intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda
os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é
que ele intercede pelos santos” (Rm 8.26-27).
Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Blumenau - SC
FONTE DE PESQUISA
3.
LINHARES Jorge. Usos e Costumes. Editora Getsêmani
Ltda. 1ª Edição 2001. Belo Horizonte - MG.
4. Ray
H. Hughes. Revista Obreiro, ano 27, nº 31, 2005. Editora CPAD, Rio de Janeiro –
RJ.