TEOLOGIA EM FOCO

terça-feira, 23 de outubro de 2018

PERSEVERANDO NA FÉ - 4º TRIMESTRE DE 2017

2ª Tm 4.6-8Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está próximo. 7 Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. 8 Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda.”

INTRODUÇÃO. Introduziremos a presente lição trazendo uma definição da palavra perseverança; destacaremos porque esta virtude é necessária para o aquele que foi salvo por Cristo Jesus; veremos que tanto o A.T. como o N.T. nos mostra que é possível o crente perder a salvação de forma temporária ou definitiva; falaremos mais detalhadamente sobre a possibilidade da apostasia; e, concluiremos falando sobre em que o cristão deve perseverar.

I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA PERSEVERANÇA

O verbo “perseverar” significa: “ser constante, permanecer, conservar-se” (HOUAISS, 2001, p. 2196). No grego, “hupomoné”, “perseverança”, “resistência”, “constância”. Esse vocábulo grego denota a resistência paciente, sob circunstâncias adversas, com base na ideia de alguém que leva aos ombros uma carga pesada, mas da qual não desiste (CHAMPLIN, 2004, p. 246). No que tange a salvação a perseverança é uma atitude que Deus requer do homem a fim de que não venha perder a salvação que lhe foi concedida por meio de Cristo Jesus (1ª Co 15.2; 1ª Pe 1.5; Ap 2.25; 3.11).

II. A NECESSIDADE DA PERSEVERANÇA PARA O SALVO

1. A fragilidade humana. Sabendo da fragilidade humana, Jesus exortou os apóstolos a perseverarem até o fim (Mt 10.22; 24.13). É necessário entender que embora tenhamos sido perdoados e libertos dos nossos pecados (1ª Jo 2.12; Rm 6.22), ainda não estamos livres da presença do pecado na nossa natureza humana (Rm 6.19; 7.18-a). Isto somente se dará quando nosso corpo for glorificado, por ocasião do arrebatamento da Igreja (1 Co 15.51-54). Até este acontecimento, precisamos ser perseverantes, a fim de não sermos vencidos pelo pecado (Rm 6.11,12; 1ª Co 15.34).

2. A astúcia do Diabo. Além da fragilidade humana, o crente precisa perseverar porque o tentador procura nos derrubar (1ª Pe 5.8). Toda tentação é proveniente da própria natureza humana (1ª Co 10.13; Tg 1.13-15), todavia, o principal agente da tentação é Satanás (Mt 4.3; Lc 4.2; 1 Ts 3.5; Tg 4.7). Precisamos estar vigilantes e fortalecermo-nos no Senhor a fim de vencer as batalhas espirituais, que somos submetidos (Ef 6.10-18).

3. A vinda do Senhor será repentina. A necessidade da persevança se dá também pelo fato a volta de Jesus de ser um evento repentino. Diversas vezes, Jesus exortou os seus discípulos sobre isso (Mt 24.36,42,44; 25.13; Mc 13.33; Lc 12.46).

Infelizmente, não são poucos aqueles que têm a promessa do Senhor como tardia, ao ponto de desacreditarem dela (2ª Pe 3.4). Todavia, Jesus nos assegurou que viria sem demora (Ap 3.11; 22.12,20). Devemos perseverar para não sermos pegos de surpresa e sermos achados dormindo naquele dia (Mc 13.36; Lc 21.34).

III. O SALVO PODE PERDER A SALVAÇÃO

Embora entendamos que cair numa fragilidade seguida de contrição e arrependimento sincero não implica em perda de salvação (Pv 28.13); como observemos o caso de Davi (2ª Sm 11.4; 12.13; Sl 51.1-19); e, Pedro (Mc 14.66-72). A Bíblia também está repleta de exemplos de pessoas que caíram e permaneceram prostradas, recusando se arrependerem, tais como rei Jeroboão (1º Re 14.1-9), e, o rei Saul (1º Sm 28.7,8; 31.4). Estes e outros casos mostram que é possível o crente perder a salvação que lhe foi concedida (Êx 32.31-33; Jo 15.2; Rm 11.22,23; 1ª Co 15.2; Hb 3.6,7,15; Ap 3.5) se este der as costas temporariamente (desvio - Lc 15.11-24) ou definitivamente (apostasia – Hb 6.4-8) ao Senhor que o resgatou (2ª Pe 2.1-3,15,20-22). Nossa Declaração de fé (2017, p. 114) nos diz: “Mediante o mau uso do livre arbítrio, o crente pode apostatar da fé, perdendo, então a sua salvação”.

1. O Antigo Testamento. No AT há diversos casos que nos evidenciam a possibilidade de alguém salvo perder a sua salvação. Vejamos:
1.1. Os descendentes de Sete, o terceiro filho de Adão, misturaram-se com as filhas da terra desviando-se assim do Senhor (Gn 6.1,2), e, pereceram no dilúvio (Gn 6.7).

1.2. A mulher de Ló que estava entre aqueles que seriam poupados do julgamento que seria derramado sobre as cidades de Sodoma e Gomorra, perdeu a salvação quando, saindo da cidade não perseverou em seguir a voz divina, olhando para trás (Gn 19.17,26).

1.3. Os hebreus que saíram do Egito rumo a terra prometida, por causa da sua incredulidade (Hb 3.19); rebeldia (Dt 1.26); falta de perseverança (Nm 32.11); e, idolatria (Êx 32.7,8), não herdaram a promessa (1º Co 10.5). A velha geração, que saiu do Egito, de vinte anos acima não entrou na terra (Nm 32.11), exceto Calebe e Josué que perseveraram em seguir ao Senhor (Nm 32.12). Mesmo entrando na terra de Canaã, o povo de Israel em sua grande maioria se desviou do caminho do Senhor, não dando ouvidos aos apelos dos profetas para que se arrependessem (Jz 2.17; 1º Re 19.10; Jr 1.16; 2.19; 2.32; 3.8; 11.10; Ez 44.10; Dn 9.11; Os 1.2; 11.7; Ml 2.8; 3.7). Portanto, o justo pode se desviar da justiça e ser condenado por isso (Ez 3.20; 18.26; 33.13).

2. O Novo Testamento. O Novo Testamento de igual forma mostra que é possível o cristão perder a salvação. Jesus disse que quem negá-lo diante dos homens: “será negado diante dos anjos de Deus” (Lc 12.8). Expressões como: “desviar-se” (Tg 5.19); “cair” (1ª Co 10.12; 1ª Tm 3.6); “naufragar na fé” (1ª Tm 1.19); “apostatar” (1ª Tm 4.1); e, “recair” (Hb 6.6), também evidenciam isso. Personagens bíblicos também atestam esta possibilidade, estre os quais estão:
2.1. Judas (At 1.25).
2.1. Ananias e Safira (At 5.1-11).
2.3. Himeneu (1ª Tm 1.20-a).
2.4. Fileto (1ª Tm 6.21; 2ª Tm 2.17).
2.5. Alexandre (2ª Tm 4.14).
1.6. Demas (2ª Tm 4.10)

Portanto, um cristão salvo pode sim, desviar-se, cair em pecado e perecer, caso não se arrependa ante a insistência do Espírito Santo (Dt 30.19; 1ª Cr 28.9; 2ª Cr 15.2; Ez 18.24,26; 33.18; Jo 15.6; Rm 11.21,22; 1ª Ts 5.15; 1ª Co 10.12; 1ª Tm 4.1; 5.15; 12.25; Hb 3.12-14; 5.9; 2ª Pe 3.17; 2.20-22). Essa verdade fica ainda mais evidente quando consideramos o “se” condicional quanto à salvação (Hb 2.3; 3.6,14; Cl 1.22,23), bem como a condição: “ao que vencer”, que aparece sete vezes em Apocalipse 2 e 3.

IV. A POSSIBILIDADE DA APOSTASIA

O termo apostasia vem do grego “apostásis” e significa “o abandono premeditado e consciente da fé cristã”. O termo grego “aphistemi” é definido por: “apartar, decair, desertar, retirar, rebelião, abandonar, afastar-se daquilo que antes se estava ligado” (STAMPS, 1995, p. 1903). Podemos elencar alguns passos que levam uma pessoa à apostasia:
(a) Quando o crente, por sua falta de fé, deixa de levar plenamente a sério as verdades, exortações, advertências, promessas e ensinos da Bíblia (Mc 1.15; Lc 8.13; Jo 5.44,47; 8.46).

(b) Quando as realidades do mundo chegam a ser maiores do que as do reino celestial, e o crente deixa paulatinamente de aproximar-se do Senhor (4.16; 7.19,25; 11.6).

(c) Por causa da aparência enganosa do pecado, a pessoa se torna cada vez mais tolerante do pecado na sua própria vida (1ª Co 6.9,10; Ef 5.5; Hb 3.13).

(d) Quando o crente já não ama a retidão nem odeia a iniquidade.

(e) Por causa da dureza do seu coração e da sua rejeição dos caminhos do Senhor, não faz caso da repetida voz e repreensão do Espírito Santo, chegando ao ponto de blasfemar dele (Mt 12.24; Ef 4.30; 1ª Ts 5.19-22; Hb 3.7-11). Abaixo elencaremos três distorções sobre este assunto:

1. O crente não tem como se desviar, porque Deus o sustenta. De fato, Deus sustenta aqueles que confiam nele (Sl 91.14; Jo 10.29; 1ª Co 1.8; Cl 3.3; Jd 1.24). Mas, é necessário entender que o crente está seguro quanto à sua salvação enquanto permanecer em Cristo (Jo 15.1-6). Há os dois lados da questão: o divino e humano. Na lista de coisas que Paulo disse que não podem nos separar do amor de Deus, ele não incluiu a vontade humana e o pecado da apostasia (Rm 8.35- 39), pois sabia que estas podem sim apartar o crente de Deus (Rm 8.8; 1ª Tm 4.1). Portanto, não há segurança espiritual para ninguém, estando em pecado (Rm 8.13; Hb 3.6; 5.9). Somos mantidos em Cristo pelo seu poder, mediante a nossa fé n’Ele (1ª Pe 1.5; Jd v.20; 2ª Co 1.24-b). A salvação é eterna para os que obedecem ao Senhor (Hb 5.9; 1ª Co 15.1,2).

2. Se o crente se desviar é porque ele não era crente verdadeiro. Alguns afirmam que se uma pessoa se desviar é porque não teve um encontro real com Cristo. Não é isto que o escritor aos hebreus ensinou, quando exortou os cristãos hebreus quanto ao perigo da apostasia. Ele alertou crentes verdadeiros a terem cuidado sobre esta horrível possibilidade:
“Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para o arrependimento” (Hb 6.4-6). Segue-se ainda as exortações dos apóstolos (1ª Co 10.1-11,12; 1ª Co 15.1,2; Gl 5.1-4; Tg 5.19,20; 2ª Pe 2.20-22; 1ª Jo 2.19,28; Jd 1.5,6,21-23).

3. Se for criado na doutrina ele não se desvia definitivamente. O fato de os pais criarem o filho na doutrina do Senhor, conforme ordena as Escrituras (Pv 22.6; Ef 6.4), não significa dizer que este filho não poderá se desviar e até se perder.

Acerca de Provérbios 22.6, Beacon (p. 399) diz: “Estas palavras são tremendamente reconfortantes para pais fiéis e dedicados. No entanto, não devem ser interpretadas como garantia absoluta. Igualmente necessário para a sua salvação é o exercício da livre escolha por parte deles para que recebam a sempre disponível graça de Deus”. Lembremos de Caim (Gn 4.4-8); e, dos filhos do piedoso Samuel (1º Sm 8.1-3).

V. EM QUE DEVEMOS PERSEVERAR
1. No amor de Deus (Jo 15.9).
2. Em fazer o bem (Rm 2.7).
3. Na benignidade divina (Rm 11.22).
4. Em oração (Rm 12.12; Cl 4.2).
5. Em vigilância (Ef 6.18).
6. Na fé (Cl 1.23).
7. Na doutrina (1ª Tm 4.16; 2ª Jo 1.9).

CONCLUSÃO. A Bíblia está repleta de exortações quanto a necessidade daqueles que foram salvos de perseverarem no caminho do Senhor, a fim de que não caiam da graça e percam a salvação que lhes foi concedida. Portanto, a ideia de “uma vez salvo, salvo para sempre” é falaciosa e consequentemente conduz a pessoa a frouxidão moral.

FONTE DE PESQUISA
1. ANDRADE, Claudionor de. Dicionário Teológico. CPAD.
2. CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
3 GEISLER, Norman. Teologia Sistemática. CPAD.
4. GILBERTO, Antônio. Teologia Sistemática Pentecostal. CPAD.
5. HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. Objetiva.
6. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
8. Lições Bíblicas: CPAD. Trimestre: 4° de 2017. CPAD

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

O CRESCIMENTO DO REINO DE DEUS



Marcos 4.30-32 “E dizia: A que assemelharemos o reino de Deus? ou com que parábola o representaremos? 31 É como um grão de mostarda, que, quando se semeia na terra, é a menor de todas as sementes que há na terra; 32 Mas, tendo sido semeado, cresce; e faz-se a maior de todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se debaixo da sua sombra.
Mateus 13.31-33 “Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda que o homem, pegando nele, semeou no seu campo; 32 O qual é, realmente, a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas, e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu, e se aninham nos seus ramos. 33 Outra parábola lhes disse: O reino dos céus é semelhante ao fermento, que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado.
Lucas 13.18,19 “E dizia: A que é semelhante o reino de Deus, e a que o compararei? 19 É semelhante ao grão de mostarda que um homem, tomando-o, lançou na sua horta; e cresceu, e fez-se grande árvore, e em seus ramos se aninharam as aves do céu.

INTRODUÇÃO. Podemos dizer que, de alguma forma, todas as parábolas de Jesus pressupõem o Reino de Deus. Na verdade, em praticamente cada parábola encontramos algum elemento dele.
Nesta terceira lição, analisaremos duas parábolas contadas por Jesus que tratam sobre o “Reino dos céus”; veremos informações importantes sobre o grão de mostarda e sua aplicabilidade na parábola contada pelo Mestre tratando do crescimento externo do Evangelho; e por fim, pontuaremos os aspectos do fermento na segunda parábola e sua lição utilizada por Cristo para falar do crescimento interno do Reino.

I. A PARÁBOLA DO GRÃO DE MOSTARDA
Jesus contou uma série de sete parábolas sobre o Reino sendo as quatro primeiras pronunciadas à multidão (Mt 13.1,2,36), e as três últimas foram acrescentadas particularmente aos discípulos após Jesus já ter se despedido da multidão (Mt 13.36).
Notemos algumas observações da parábola do grão de mostarda:

1. Informações sobre o grão de mostarda. Na Índia, no Egito e na Palestina as sementes de mostarda são utilizadas na culinária há milênios. A palavra mostarda é de origem egípcia “sinapis” e aparece nos três primeiros Evangelhos (Mt 13.31; 17.20; Mc 4.31; Lc 13.10; 17.6). O grão de mostarda é uma pequena semente que têm cerca de 2 milímetros de diâmetro sendo uma das menores sementes do mundo com cores que vão do branco amarelado, marrom e preto.
Na Palestina da época de Jesus era conhecida a mostarda sinapis nigra (mostarda preta) e a sinapis alba (mostarda branca), mas, a que Jesus provavelmente usou como exemplo foi a sinapis nigra, ou seja, a mostarda negra, que era a mais comum naquela região. A mostardeira, segundo alguns botânicos, alcança facilmente mais de três metros de altura (CABRAL, 2005, pp. 44,45).

2. O grão de mostarda e as outras sementes. Existe um grande contraste nesta parábola: “a menor de todas as sementes” e a “maior de todas as plantas”. Na verdade, o grão de mostarda não é a menor de todas as sementes (Mt 31.32), mas esta era uma expressão proverbial para algo extremamente pequeno (BEACON, 2010, p. 103). Jesus não cometeu erro ou contradição como pensam alguns quando se referiu ao grão de mostarda como sendo “a menor de todas as sementes” (Mt 13.32; Mc 4.31). Hoje sabemos que a semente de mostarda não é absolutamente a menor semente que existe. Jesus não estava se referindo a “todas as sementes existentes no mundo”, mas apenas àquelas que os fazendeiros palestinos de então semeavam em seus campos. Isso está claro pela frase: “que um homem tomou e plantou no seu campo” (Mt 13.31). E é um fato que a semente de mostarda era a menor de todas as sementes que o fazendeiro judeu do primeiro século semeava em seu campo. O que Jesus disse era literalmente verdadeiro no contexto em que ele falou (GEISLER; HOWEP, 2000, p. 217).

3. O grão de mostarda e os Evangelhos sinóticos. A Parábola do grão de mostarda trata do tema principal das pregações do NT que é o Reino dos Céus, mostrando que o reino de Deus teria um começo aparentemente insignificante (pequeno) e depois ficaria muito grande. O elemento surpreendente nessa parábola é o começo insignificante, conforme os homens medem as coisas; uma semente pequenina daria uma grande planta. Em Mateus a semente é plantada no campo (Mt 13.31), em Marcos na terra (Mc 4.31); e em Lucas na horta (Lc 13.19). Lucas coloca ênfase no grande tamanho da planta, enquanto Mateus e Marcos enfatiza o pequeno tamanho da semente. Marcos fala de hortaliças, já Mateus e Lucas falam de árvore. Estas pequenas diferenças na narrativa, em nada alteram o sentido da parábola, ou seja, o ensino permanece o mesmo nos três Evangelhos que se completam com estas informações. Se a parábola do semeador retrata a responsabilidade humana e a parábola da semente mostra a soberania de Deus, a do grão de mostarda mostra um crescimento abundante (POHL apud LOPES, 2006, p. 249).

II. O QUE APRENDEMOS COM ESTA PARÁBOLA

1. O grão de mostarda e a simplicidade do Reino. O propósito dessa parábola é mostrar que o início do Evangelho seria pequeno, mas que, no seu final, ele aumentaria grandemente. O Reino do Messias, que estava então sendo implantado, tinha pouca expressão. Cristo e os seus apóstolos, comparados com “os grandes do mundo romano”, se pareciam com a semente de mostarda. Geralmente os homens pensam em grandes conquistas e demonstrações de força (Jo 6.15). Até os apóstolos imaginavam um reino grande e glorioso e desejavam posições de honra e influência (Mc 10.35-37). No entanto, Jesus não iniciou Seu Reino no auge do apoio popular, mas sim, num momento em que quase todos o abandonaram. O começo foi aparentemente insignificante, simples e pequeno com poucos homens e sem importância na sociedade. Eram apenas doze homens, alguns até iletrados e incultos de uma região desprezada (At 2.7; 4.13), e havia pouco mais de 100 pessoas (At 1.15).

2. O grão de mostarda e o crescimento do Reino. O grão de mostarda, segundo alguns biólogos, é a menor de todas as sementes e em seu estágio adulto se tornava a maior das plantas atingindo o tamanho de uma árvore, com no mínimo três metros de altura, podendo alcançar até cinco metros; e tal foi a Igreja de Cristo no início da sua formação no mundo. Assim, podemos afirmar que a parábola do grão de mostarda, trata do crescimento e desenvolvimento deste Reino na terra. Ao fazer essa comparação Jesus falou de desenvolvimento, crescimento e expansão. Portanto, o “grão de mostarda”, quando semeado, sendo pequeno e diminuto, tem a força para se desenvolver, crescer e transformar-se numa grande árvore (CABRAL, 2005, p. 43). A referência à árvore indica um império em expansão (Ez 17.23; 31.1-9; Dn 4.10-12); os pássaros representam as nações do império (Dn 4.20-22) (SHELTON; ARRINGTON; STRONDAD, 2003, p. 90).

3. O grão de mostarda e o avanço do Reino. Essa planta se torna tão imponente que até mesmo as aves do céu se aninham em seus ramos. A semente foi plantada, e a planta cresceu, pois na mesma cidade na qual Jesus foi morto, quase três mil pessoas foram batizadas em um só dia (At 2.41). Pouco tempo depois, contavam-se quase cinco mil homens (At 4.4). A pequena semente continuou crescendo ainda mais:“E crescia mais e mais a multidão de crentes, tanto homens como mulheres, agregados ao Senhor” (At 5.14). Só em Jerusalém, chegaram a contar milhares de cristãos (At 21.20). A palavra foi pregada ao mundo (Cl 1.23), e o Reino continuou crescendo. O que começou com uma minúscula semente se tornou uma grande planta. Jesus usa a hipérbole para acentuar que plantas grandes podem crescer de uma semente muito pequena, e assim sucederá com o poder expansivo, penetrante e gradual do Reino de Deus (ROBERTSON, 2011, p. 389).

III. A PARÁBOLA DO FERMENTO
A parábola do fermento é uma das mais curtas parábolas de Jesus e só aparece em dois dos Evangelhos sinóticos. Antes de tudo é preciso saber que a parábola do grão de mostarda e a parábola do fermento formam um par. Aqui estão duas parábolas cuja intenção é mostrar que o Reino devia ser muito pequeno no início, mas que ao longo do tempo ela se tornaria um corpo considerável (Mt 13.31-33). Ao contar estas duas parábolas, Jesus estava falando a respeito do “crescimento do Reino dos Céus”. O escopo é basicamente o mesmo nas duas parábolas para mostrar que o Evangelho deveria prevalecer e ter um sucesso gradual, silencioso, e sem ser percebido. Notemos algumas informações sobre o fermento:

1. Informações sobre o fermento. Existem, pelo menos, dois tipos de fermentos: o biológico e o químico. O fermento biológico é composto por fungos benéficos microscópicos vivos. Apesar de parecer estranho um ingrediente usado em alimentos ser feito de fungos, temos que lembrar que o fungo não é somente aquele mofo desagradável que contamina os alimentos, mas também ingrediente para alimentos como os cogumelos. Existem mais de 850 tipos de fungos comestíveis que chamamos de leveduras. Já o fermento químico é industrializado, e por isso, não é uma levedura natural; é uma mistura de bicarbonato de sódio com ácido não tóxico e é utilizado para dar textura esponjosa à massa.

2. Informações sobre a parábola do fermento. Embora o fermento na Bíblia simbolize o pecado e a corrupção, essa posição não pode ser sustentada nesta parábola, pois contradiz totalmente o contexto dela. Uma regra básica para interpretar textos bíblicos é se atentar ao contexto, pois será ele que decidirá o sentido simbólico empregado no texto, caso haja algum. No caso dessa parábola o contexto deixa óbvio que o fermento representa o Reino do Céu, e em nada está relacionado ao mal ou ao pecado. Esta parábola segue imediatamente após a parábola do grão de mostarda, com quem Jesus compartilha o mesmo tema: “O Reino de Deus que cresce de pequenos começos”. A mulher pegou uma pequena quantidade de fermento, misturou em uma grande quantidade de farinha. Os Evangelhos deixam claro que a mulher utilizou três medidas de farinha, e esta grande quantidade de farinha pode sugerir uma ocasião festiva planejada, pois o pão produzido poderia alimentar muitas pessoas. Como o grão de mostarda e o fermento, o Reino dos Céus teve um começo modesto, mas com um grande e repentino desenvolvimento: “[…] A que compararei o Reino de Deus? É como o fermento que uma mulher misturou com uma grande quantidade de farinha, e toda a massa ficou fermentada” (Lc 13.20,21 – NVI). Fugir desta interpretação é no mínimo malabarismo exegético.

3. A parábola do fermento e o aspecto interior e exterior do Reino. Uma vez que esta parábola está intimamente relacionada com a anterior, elas bem podem ser interpretadas juntas. Esta parábola é encontrada em Mateus 13.33 e em Lucas 13.20-21, mas não em Marcos. Jesus retratou uma mulher tomando o fermento (levedura) e escondendo-o em três medidas de farinha. O fermento afetou toda a quantidade de massa de pão, de forma que toda massa cresceu. Embora existam duas interpretações principais para estas parábolas, a do grão de mostarda e do fermento, a interpretação tradicional afirma que Jesus está descrevendo aqui a dupla expansão do Reino. A parábola da semente de mostarda se refere ao crescimento exterior do reino do céu, e a parábola do fermento se refere ao crescimento interior do reino. Em outras palavras, a parábola da semente de mostarda foca a expansão aparente do reino, enquanto a do fermento focaliza a atenção no poder interior do reino, que, de forma invisível (Lc 17.20), exerce influência sobre tudo. Esse é o ensino principal dessa parábola (BEACON, 2010, p. 103).

4. A parábola do fermento e o crescimento do Reino. Querer aplicar significados as três medidas de farinha, ou descobrir quem é a mulher que está fazendo a massa é entrar por um estilo interpretativo sem propósito e alegórico, além de tirar o foco do verdadeiro ensino de Jesus nessa parábola. Nesta parábola, Jesus falou sobre o progresso intenso do Reino de Deus no mundo. Assim como o fermento, que penetra e se espalha dentro da massa e a faz crescer, o Reino irá se alastrar pelos quatro cantos da Terra (Lc 17.20,21). A função do fermento é dar volume e qualidade a uma massa, e é quase impossível fazer um bolo, torta ou pão sem que o fermento seja acrescentado. Ao contar essa parábola aos fariseus, Jesus afirma que, no final dos tempos, o Evangelho irá se espalhar por todas as nações e o Reino de Deus causará efeito em toda a humanidade (Mt 24.14). Ele disse: “[…] e toda a massa ficou fermentada”, ou seja, o Reino expandirá em tudo e crescerá absurdamente (Mt 13.31-32).

CONCLUSÃO. Muitos não reconhecem que o Reino esteja em ação, porque está escondido e é considerado insignificante por muitos. Mas não devemos menosprezar o dia das coisas pequenas. Podemos dizer que, de alguma forma, todas as parábolas de Jesus pressupõem o Reino de Deus. Algumas, contudo, tratam especificamente do desenvolvimento e do seu crescimento sobre a terra.

FONTE DE PESQUISA
1. CABRAL, Elienai. Parábolas de Jesus: advertências para os dias atuais. Lições bíblicas. CPAD.
2. GEISLER, N; HOWE, T. Manual popular de dúvidas, enigmas e contradições da bíblia. VIDA.
3. Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco - http://logosdagraca.blogspot.com/ - Acesso dia 17/10/2018.
4. LOCKYER, John. Todas as Parábolas da Bíblia. VIDA.
5. SHELTON, J. ARRINGTON, F. L.; STRONDAD, R. Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.
6. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
7. ROBERTSON, A.T. Comentário de Mateus e Marcos. CPAD.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

PARA OUVIR E ANUNCIAR A PALAVRA DE DEUS


Mc 4.3-20: “Ouvi: Eis que saiu o semeador a semear. 4 E aconteceu que semeando ele, uma parte da semente caiu junto do caminho, e vieram as aves do céu, e a comeram; 5 E outra caiu sobre pedregais, onde não havia muita terra, e nasceu logo, porque não tinha terra profunda; 6 Mas, saindo o sol, queimou-se; e, porque não tinha raiz, secou-se. 7 E outra caiu entre espinhos e, crescendo os espinhos, a sufocaram e não deu fruto. 8 E outra caiu em boa terra e deu fruto, que vingou e cresceu; e um produziu trinta, outro sessenta, e outro cem. 9 E disse-lhes: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça. 10 E, quando se achou só, os que estavam junto dele com os doze interrogaram-no acerca da parábola. 11 E ele disse-lhes: A vós vos é dado saber os mistérios do reino de Deus, mas aos que estão de fora todas estas coisas se dizem por parábolas, 12 Para que, vendo, vejam, e não percebam; e, ouvindo, ouçam, e não entendam; para que não se convertam, e lhes sejam perdoados os pecados. 13 E disse-lhes: Não percebeis esta parábola? Como, pois, entendereis todas as parábolas? 14 O que semeia, semeia a palavra; 15 E, os que estão junto do caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; mas, tendo-a eles ouvido, vem logo Satanás e tira a palavra que foi semeada nos seus corações. 16 E da mesma forma os que recebem a semente sobre pedregais; os quais, ouvindo a palavra, logo com prazer a recebem; 17 Mas não têm raiz em si mesmos, antes são temporãos; depois, sobrevindo tribulação ou perseguição, por causa da palavra, logo se escandalizam. 18 E outros são os que recebem a semente entre espinhos, os quais ouvem a palavra; 19 Mas os cuidados deste mundo, e os enganos das riquezas e as ambições de outras coisas, entrando, sufocam a palavra, e fica infrutífera. 20 E os que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra e a recebem, e dão fruto, um a trinta, outro a sessenta, outro a cem, por um.”

INTRODUÇÃO.
Nesta lição estudaremos sobre a “parábola do semeador”; inicialmente veremos algumas informações gerais a respeito dessa comparação contada por Jesus; também destacaremos os elementos principais incluídos nessa passagem e a sua devida explicação; e por fim, notaremos a aplicação dessa parábola no que diz respeito ao anúncio da Palavra de Deus.

I. INFORMAÇÕES SOBRE A PARÁBOLA DO SEMEADOR
Sobre a parábola do semeador é importante destacar que ela não começa com a expressão: “o Reino dos céus é semelhante […]”, pois descreve como o Reino de Deus é chegado, por meio da pregação da Palavra. Notemos ainda algumas considerações sobre esta parábola:

1. Classificação. A parábola do semeador faz parte do conjunto de narrativas denominadas de “parábolas do Reino”, ao seu lado estão:
1.1. A parábola do joio e do trigo (Mt 13.24-30).
1.2. Do grão de mostarda (Mt 13.31-32).
1.3. Do fermento (Mt 13.33).
1.4. Do tesouro escondido (Mt 13.44).
1.5. Da pérola escondida (Mt 13.45,46).
1.6. Da rede (Mt 13.47-50).
A parábola do semeador tem seu registro nos Evangelhos chamados sinóticos (Mt 13.1-23; Mc 4.1-20; Lc 8.4-15), sendo ela a mais extensa e uma das mais conhecidas das que foram contadas por Jesus. Ela possui também uma outra característica digna de nota, pois também é incluída no grupo das poucas parábolas cuja explicação foi dada pelo próprio Cristo.

2. Contexto e sua importância. O cenário para a apresentação desta parábola foi à beira-mar (Mc 4.1), que presume-se seja o Mar da Galileia. Novamente a pressão da multidão obrigou o Senhor a falar ao povo de dentro de um barco um pouco afastado da praia.
A importância desta parábola fica subentendida quando Jesus indaga: “[…] não percebeis esta parábola? Como, pois, entendereis todas as parábolas?” (Mc 4.13), por meio dessa expressão o Senhor está dizendo que esta parábola é fundamental para o entendimento das outras. Esta unidade de parábolas (Mc 4.3-32) é básica para se discernir tudo o que está acontecendo no Reino de Deus.

3. Propósito. Jesus inicia a parábola dizendo: “Ouvi […]” (Mc 4.3), do mesmo modo finaliza exortando: “[…] Quem tem ouvidos para ouvir, ouça” (Mc 4.9), ficando claro que Seu propósito, era expor a necessidade da audição atenta dos seus ouvintes, e consequentemente levar as pessoas a reflexão, a fim de que a mensagem pudesse penetrar em seus corações. O verbo ouvir e seus correlatos são usados várias vezes em Marcos 4.1-34. É evidente que Jesus não estava simplesmente se referindo ao ato físico de ouvir, mas sim a ouvir com discernimento espiritual. O ouvir a Palavra de Deus significa entendê-la e obedecer ao que ela diz (Tg 1.22-25).

II. ELEMENTOS PRINCIPAIS DA PARÁBOLA E A SUA EXPLICAÇÃO

Em resposta à pergunta dos discípulos (Mc 4.10), Jesus interpreta a parábola dos solos, acentuando desse modo sua importância como chave para a compreensão de qualquer outra parábola (Mc 4.13). Sua explicação é relevante para aqueles que o ouviram naquele tempo e para nós hoje. Vejamos:

1. O semeador (Mc 4.3). Diferente da parábola do joio e do trigo onde Cristo se identifica claramente como o semeador (Mc 4.37), Jesus não identifica o semeador nesta parábola em apreço. O ponto de partida da interpretação acerca de quem era o semeador tem um caráter particular, porque indica subjetivamente o próprio Cristo como o semeador. Todavia, essa característica particular da interpretação não impede que se dê um sentido genérico aos cristãos como semeadores (Jo 4.35- 38). Não acrescenta nem fere os princípios hermenêuticos que regem a interpretação dessa parábola. Sendo assim, qualquer um que semeie a Palavra está incluído na figura do semeador (1ª Co 3.5-9; 9.11).

2. A semente (Mc 4.4-a). A semente é identificada como:
2.1. “[…] a palavra de Deus” (Lc 8.11). Em Mateus 13.19 é chamada de palavra do Reino, isto é, a palavra poderosa que rege o Reino de Deus. Esse termo ainda é utilizado com referência aos ensinamentos de Jesus (cf. Mc 2.2; 8.38; 13.31).

2.2. Por que comparar a Palavra de Deus a semente?

Porque a palavra é:
2.3. “[…] viva e eficaz” (Hb 4.12).
2.4. [...] uma semente incorruptível (1ª Pe 1.23),
2.5. Que produz frutos nos que a recebe (Cl 1.5,6; Hb 4.2).

2. Tipos de solos (Mc 4.5). Para cada parábola, Cristo tinha uma lição especial, e na parábola do semeador deixou-nos uma das mais extraordinárias lições sobre os tipos distintos de corações (solos, terrenos), os quais recebem a semeadura.

2.1. À beira do caminho (Mc 4.4). Esse tipo de solo representa pessoas que, embora se diga:
A. “tendo eles a ouvido (Mc 4.15) ou seja, a mensagem do Reino;
B. “... não a compreendem” (Mt 13.19);
C. Sendo vulneráveis ao ataque do diabo tipificado pelas aves na parábola (Lc 8.5), cuja ação nesse caso, é tirar-lhes do coração a palavra semeada, para que não creiam e sejam salvos (Lc 8.12).

2.2. Entre os pedregais (Mc 4.5). Em lugares pedregosos a semente germina mais rápido, pois a terra é pouco profunda e absorve mais o calor do sol, contudo, essa mesma falta de profundidade a impede de lançar raízes firmes (Mt 13.5).

Esse tipo de terreno refere-se a uma classe de ouvintes, que:
A. “.... ouvindo a palavra, logo com prazer a recebem” (Mc 4.16)
B. Porém, “… creem apenas por algum tempo” (Lc 8.13), não perseveram na fé em Cristo e diante das provações desta vida, por não terem raízes (Mc 4.17), o resultado é que:
C. “… se desviam” (Lc 8.13).

2.3. Entre os espinhos (Mc 4.7). O terceiro tipo compreende aqueles que:
A. “… ouvem a palavra” (Mc 4.18);
B. Mas apesar disso: “os cuidados do mundo, a fascinação das riquezas e as demais ambições, concorrendo, sufocam a Palavra, ficando ela infrutífera (Mc 4.19). O materialismo e o mundanismo são ameaças a vida de cada cristão (1ª Tm 6.10; Tg 4.4; 1ª Jo 2.15,16), e foi a causa da morte espiritual de muitos, como por exemplo:
- O jovem rico (Mc 10.17-24).
- Judas Iscariotes (Jo 12.6; Mt 22.3-5).
- Ananias e Safira (At 5.1-11).
- Simão o mágico (At 8.9-13,18-24).
- Demas (2ª Tm 4.10), servindo de exortação para os crentes da atualidade para que não caim no mesmo erro (Mt 6.24).

2.4. Em boa terra (Mc 4.8). Esse último solo é o reverso dos outros três. Por isso, a semente lança raízes, não perde facilmente a umidade, e então a seiva e a energia dão vida à planta que, subsequentemente, cresce e frutifica. Esse terreno, diz respeito ao que:
A. “… ouve e compreende a palavra” (Mt 13.23), e ainda,
B. “… de bom e reto coração, retêm a palavra e produzem frutos com perseverança” (Lc 8.15), e de maneira diversificada:
C. “… a trinta, sessenta e a cem por um” (Mc 4.20) (ver Jo 15.2,5,8).

III. LIÇÕES PRÁTICAS QUANTO AO ANÚNCIO DA PALAVRA DE DEUS
A proclamação do evangelho é uma tarefa de muita importância dada a Igreja do Senhor (At 1.8). O apóstolo Pedro lembra que a experiência de salvação resulta entre outras coisas, no dever de anunciar as virtudes de Deus (1ª Pe 2.9).
Encontramos nas Escrituras que, após a sua ressurreição Cristo exorta sobre a necessidade da pregação das boas novas a todas as pessoas (Mc 16.15), e quanto a essa tarefa podemos destacar através da parábola do semeador algumas verdades:

1. A imparcialidade no anúncio da mensagem. Uma das importantes lições extraídas dessa parábola, é a dedicação e fidelidade do semeador diante dos diversos tipos de solo existentes e os resultados negativos, que não o fizeram desanimar, como também não alterar o uso da semente em sua sementeira; ou seja, ele não usou tipos diferentes de sementes, ou mesmo deixou de semear mesmo sabendo da possibilidade de ela não vir a frutificar devido ao solo.

1.2. Na grande Comissão. Cristo ensinou de que a mensagem do evangelho deve ser pregada e ensinada a todos (Mt 28.19,20; Mc 16.15), visto que Ele não faz acepção de pessoas (At 10.34; Rm 2.11), e dar a todos igualmente a oportunidade de ouvir e de crer na mensagem de salvação (Tt 2.11; Jo 1.7; Ef 1.13;). As Escrituras exortam quanto a fidelidade dos semeadores (1ª Co 4.1,2), e da sua incorrupção quanto a pregação (At 20.20,27; 1ª Co 2.4; 1ª Ts 1.5), não falsificando o alimento da palavra (1ª Pe 2.2).

2. A oposição ao anúncio da mensagem. Devido ao poder que a Palavra tem e o que ela pode fazer na vida de quem a recebe (Rm 1.16; 10.17), Satanás se opõe a pregação do evangelho com o objetivo de impedir que as pessoas sejam salvas (At 13.6-10); diz o apóstolo Paulo: “[…] o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Co 4.4), e em muitos casos usa de meios naturais, como leis e ideologias humanas para que o nome de Cristo não seja anunciado (At 4.2,17,18).

3. A possibilidade de rejeição à mensagem. A vontade de Deus é que todos sejam salvos e venham ao pleno conhecimento da verdade (1ª Tm 2.4), no entanto o relato bíblico e a experiência prática mostram que nem todos de fato o serão (Mt 7.13), e isso devido à resistência de alguns a ação do Espírito Santo em suas vidas (Jo 16.8; At 7.51), de modo
que a culpa não é do semeador nem da semente, o problema é a natureza do solo, o coração humano que não se sujeita a Deus, não se arrepende nem recebe a Palavra, portanto, não é salvo (Mt 23.37; Lc 7.30; Jo 1.11; 5.40; Hb 12.25). A Bíblia é clara sobre a resistência a Cristo e a Sua mensagem quando diz: que Janes e Jambres “resistiram à verdade” (2Tm 3.8), que “nem todos os israelitas aceitaram as boas novas” (Rm 10.16), que alguns “suprimem a verdade pela injustiça” (Rm 1.18), e que os judeus de Antioquia “rejeitaram e não se julgaram dignos da vida eterna” (At 13.46; ver At 17.32).

4. A responsabilidade humana na aceitação da mensagem. Um fato que todo o que semeia a Palavra precisa considerar, é que o resultado da semeadura não é de sua competência, ou seja, nessa parábola fica evidente que os resultados têm a ver com a aceitação de cada pessoa à mensagem do evangelho (Ez 2.5,7). A Palavra de Deus trará fruto na vida de um ouvinte ou não, isso depende apenas da condição do coração de cada pessoa.
Como resultado dessa aceitação surge a frutificação: “[…] os que ouvem a palavra e a recebem, e dão fruto, um a trinta, outro a sessenta, outro a cem, por um” (Mc 4.20). O fruto é a prova da verdadeira salvação (Mt 7.16), e inclui santidade (Rm 6.22), caráter cristão (Gl 5.22,23), prática de boas obras (Cl 1.10), testemunho cristão (Rm 1.13), disposição de compartilhar os bens (Rm 15.25-28) e louvor a Deus (Hb 13.15).

CONCLUSÃO.
Fica evidente por meio desta parábola que é nosso dever prioritário semear a Palavra de Deus, utilizando os meios necessários, em tempo e fora de tempo (2ª Tm 4.2), só assim o Reino de Deus se expandirá, pois o Senhor dá semente a quem semeia (2ª Co 9.10), com vistas a salvação das almas.

FONTE DE PESQUISA
1. CABRAL, Elienai. Parábolas de Jesus: advertências para os dias atuais. CPAD.
2. GABY, Waner Tadeu dos Santos. Para Ouvir e Anunciar a Palavra de Deus. Lições bíblicas 4ª trimestres 2018. CPAD.
3. HOWARD, R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
4. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.


sexta-feira, 5 de outubro de 2018

PARÁBOLA: UMA LIÇÃO PARA A VIDA



Mt 13.10-17:E, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: Por que lhes falas por parábolas? 11 Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não lhes é dado; 12 Porque àquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado. 13 Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. 14 E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, E, vendo, vereis, mas não percebereis. 15 Porque o coração deste povo está endurecido, E ouviram de mau grado com seus ouvidos, E fecharam seus olhos; Para que não vejam com os olhos, E ouçam com os ouvidos, E compreendam com o coração, E se convertam, E eu os cure. 16 Mas, bem-aventurados os vossos olhos, porque veem, e os vossos ouvidos, porque ouvem. 17 Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não o viram; e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram.”

INTRODUÇÃO. Neste último trimestre de 2018, estudaremos sobre “As parábolas de Jesus – as verdades e princípios divinos para uma vida abundante”. Introduziremos o assunto definindo a palavra parábola; veremos que das figuras de linguagem que são usadas na Bíblia esta é a mais abundante; pontuaremos quais os dois princípios que devemos utilizar na interpretação das parábolas; e, por fim, finalizaremos destacando quais os propósitos de Jesus ao transmitir os Seus ensinos por meio de parábolas.

I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA PARÁBOLA
O dicionário Houaiss (2001, p. 2126) define “parábola” como: “narrativa alegórica que transmite uma mensagem indireta, por meio de comparação ou analogia”. No AT a palavra hebraica traduzida por parábola é “mashal”, que significa “provérbio”, “analogia” e “parábola”. A ideia central de mashal é “ser como” e muitas vezes refere-se a “frases constituídas em forma de parábola”, característica da poesia hebraica (LOCKYER, 2006, p. 09). A palavra parábola é composta de dois vocábulos gregos: o prefixo “para” e o sufixo “ballein” ou “bailo”, que significa 'lançar ou colocar ao lado de'. Portanto, podemos entender que parábola é algo que se coloca ao lado de outra coisa para fins de comparação, ou para demonstrar a semelhança entre dois elementos” (CABRAL, 2005, p. 08). A parábola é uma comparação extraída da natureza ou da vida diária destinada a esclarecer verdades da esfera espiritual (Mc 4.11,12; Lc 8.10). Em resumo ela tem sido definida como: “uma história terrena com um significado celestial”.

II. O USO DE PARÁBOLAS NAS ESCRITURAS
São várias as figuras de linguagem que a Bíblia emprega, e todas são necessárias para ilustrar verdades divinas e profundas dentre elas está a parábola. Segundo Lockyer (2006, p. 07), “em todo o âmbito literário não há livro mais rico em material alegórico e em parábolas do que a Bíblia”.

1. No Antigo Testamento. As parábolas são utilizadas desde a antiguidade. Isso se confirma pelo fato de figurar no AT em larga medida e sob diferentes formas (Jz 9.7-16; 2º Sm 12.1-4; 2º Sm 14.6; 1º Rs 20.39; 2º Rs 14.9; Is 5.1-6; Ez 17.3-10; 19.2-9; 24.3-5; 24.10-14). Principalmente os profetas eram usados por Deus para transmitir mensagens por meio de parábolas, como o próprio Deus afirmou: “Falei aos profetas, e multipliquei a visão; e pelo ministério dos profetas propus símiles” (Os 12.10).
2. No Novo Testamento. Quando o Senhor Jesus apareceu entre os homens, como Mestre, tomou a parábola e honrou-a, usando-a como veículo para a mais sublime de todas as verdades, como acerca d’Ele estava profetizado (Sl 78.2; Mt 13.35). Sabedor de que os mestres judeus ilustravam suas doutrinas com o auxílio de parábolas e comparações, Cristo adotou essas antigas formas de ensino e deu-lhes renovação de espírito, com a qual proclamou a transcendente glória e excelência de seu ensino (Mt 13.34; Mc 4.2,33,34; Jo 16.25). Cerca de um terço do ensino de Jesus nos Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) se apresenta em forma de parábolas.

III. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO DAS PARÁBOLAS
Durante algum tempo na história da igreja, alguns teólogos começaram a interpretar as Escrituras de forma alegórica, inclusive as parábolas de Jesus. Esta atitude resultou na substituição da simplicidade das Escrituras pela especulação sutil. Na interpretação das parábolas não podemos esquecer a “lição principal”, sem entrar em maiores detalhes, que servem somente para preencher uma história aceitável, mas que nem sempre se revestem de qualquer sentido especial. Por exemplo: na parábola do semeador (Mt 13.18-30), os quatro tipos de solos significam tipos diferentes de receptividade ao evangelho, o semeador se refere a Jesus e a semente, ao evangelho. Aqui, a maioria dos detalhes é alegorizada. Já na parábola do filho pródigo (Lc 15.11-32), porém, os personagens possuem um significado (o pai = Deus, o filho pródigo = os cobradores de impostos e pecadores, o filho mais velho = os escribas e fariseus; Lc 15.1), mas os detalhes (como a fome, os porcos e as alfarrobas) acrescentam vivacidade, não um significado espiritual. Pastor Elienai Cabral em seu livro “Parábolas de Jesus” (2005, pp. 11,12) pontua pelo menos dois princípios que auxiliam na interpretação das parábolas. Vejamos:

1. O princípio do contexto. Todas as parábolas foram precedidas de situações históricas que induziram Jesus a usar esse método para aclarar verdades morais e espirituais. Uma das leis que regem a interpretação de um texto, seja ele sagrado ou secular, é o seu contexto. O contexto cultural e histórico pode facilitar a compreensão do ensino principal da parábola. Nesta, o seu contexto pode ser aquela situação histórica que obrigou o Mestre a contar uma parábola para esclarecer uma verdade discutida. O contexto imediato, antes e depois, oferece ao intérprete a luz sobre o que se queria ensinar.

2. O princípio teológico. As parábolas não têm a finalidade de estabelecer doutrina ou teologia, mas visam a confirmar algum elemento teológico contido numa parábola. O princípio teológico que rege qualquer parábola bíblica é aquele que se insere nos conceitos e verdades espirituais ensinadas. Uma das regras simples de hermenêutica é “o ensino geral da Bíblia” sobre determinado assunto ou doutrina. Por isso, os ensinos das parábolas de Cristo devem ser interpretados sob o princípio do “ensino geral das Escrituras”.

IV. JESUS E AS PARÁBOLAS
Jesus foi um exímio contador de parábolas. Ele aproveitava algum evento do cotidiano de sua época e explorava aspectos especiais daquele acontecimento para ensinar alguma verdade espiritual. Mateus disse que “nada lhes falava sem parábolas” (Mt 13.34). Marcos acrescenta que Ele: “[...] ensinava-lhes muitas coisas por parábolas [...]” (Mc 4.2). E, acrescentou ainda: “E sem parábolas nunca lhes falava” (Mc 4.34-b). Mas, porque Jesus ensinava por meio de parábolas? Vejamos:

1. Esclarecer as verdades do Reino para os que queriam ouvi-lo. Os discípulos estavam curiosos sobre a razão pela qual Jesus ensinava as multidões por parábolas. Quando eles lhe perguntaram, Ele respondeu que, embora fosse um privilégio deles conhecer os mistérios do Reino dos céus “Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus” (Mt 13.11). A palavra “mistério” no grego “musterion” significa: “aquilo que, estando fora do âmbito da apreensão natural sem auxílio, só pode ser conhecido pela revelação divina, e é conhecido do modo e no tempo designado por Deus e só àqueles que são iluminados pelo Seu Espirito” (VINE, 2002, p. 795). A palavra mistério é frequentemente usada na Bíblia para indicar alguma coisa que, parcialmente revelada no Antigo Testamento, é plenamente mostrada no Novo (Cl 1.26,27; 2.2) (HORTON, p. 109). Paulo, que recebeu o evangelho por revelação, foi o apóstolo que mais falou a respeito dos mistérios de Deus (1 Co 11.23; Gl 1.12). Aos efésios ele disse: “Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo, o qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” (Ef 3.5). Vejamos algumas coisas que a Paulo denomina de mistério e que foram revelados pelo Espírito Santo, por meio dos apóstolos:
O mistério do arrebatamento (1ª Co 15.51-54).
O mistério da iniquidade (2ª Ts 2.7).
O mistério da cegueira de Israel (Rm 11.25).
O mistério da fé (1ª Tm 3.9).
O mistério da piedade (1ª Tm 3.16).

2. Ocultar as verdades do Reino para os resistentes. Algumas parábolas também foram utilizadas por Jesus com o intuito de ocultar verdades aos que não tinham predisposição para ouvir, aprender e se converter (Mt 13.11,13). Nesse texto Jesus fez referência ao profeta Isaías que foi avisado da resistência do povo de Israel ao seu clamor profético (Is 6.9,10) que prefigurou o intenso endurecimento que este mesmo povo teria contra o Seu Messias (Mt 13.13-15). Perceba que Jesus disse que: “… o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos” (Mt 13.15-a). Alguns até entendiam o que o Mestre ensinava mas a reação não era positiva (Mc 12.12). O escritor da epístola aos Hebreus disse que aos hebreus da época de Moisés foram pregadas as boas novas como a nós “… mas a palavra da pregação nada lhes aproveitou, porquanto não estava misturada com a fé …” (Hb 4.2). Portanto, não existe nenhuma possibilidade em Deus agir de forma arbitrária selecionando alguns para salvação e outros não. Ele “amou o mundo” (Jo 3.16); “quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” (1ª Tm 2.4); e, por meio da Sua graça concede “salvação a todos os homens” (Tt 2.11), no entanto, como este homem reage ao convite divino é uma questão pessoal, pois uma coisa é “conceder” (parte de Deus) outra coisa é “receber” (parte do homem). Isto Jesus deixou isso claro quando falou da Parábola do Semeador (Mt 13.1-9). A semente é a Palavra de Deus que foi semeada em quatro tipos terrenos (Lc 8.11), no entanto, a forma como cada terreno se comportou ao receber a semente, ilustra a forma individual com que cada pessoa reage a pregação do evangelho (Mt 13.19-23). “Portanto, inferir alguma espécie de fatalismo ou determinismo dessa história seria como desviar-se das Escrituras como um todo, pois elas assumem em toda parte uma responsabilidade individual” (BEACON, 2006, p. 102).

CONCLUSÃO. As parábolas estão recheadas de ensinamentos acerca das coisas espirituais que Deus deseja transmitir ao Seu povo. Portanto, devemos nos debruçar diante da Bíblia com a finalidade de aprofundar nosso conhecimento acerca dos mistérios do Reino dos céus.

FONTE DE PESQUISA
CABRAL, Elienai. Parábolas de Jesus: advertências para os dias atuais. Lições Bíblicas 4° Trimestre de 2018, Adultos – CPAD.
EARLE, Ralph et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
HORTON, Stanley M. Apocalipse: as coisas que brevemente devem acontecer. CPAD.
HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
LAHAYE, Tim. Enciclopédia Profecia Bíblica. CPAD.
LOCKYER, John. Todas as Parábolas da Bíblia. VIDA.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
VINE, W.E, et al. Dicionário Vine. CPAD.