TEOLOGIA EM FOCO

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

AS FESTAS SOLENES DE ISRAEL E O ANO DO JUBILEU

 


Levítico 23.4-6; 25.8 “Estas são as solenidades do Senhor, as santas convocações, que convocareis no seu tempo determinado: 5- No mês primeiro, aos catorze do mês, pela tarde, é a páscoa do Senhor. 6- E, aos quinze dias deste mês é a Festa dos asmos do Senhor: sete dias comereis asmos.”

25.8 “Também contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e nove anos.”

Desde a queda do homem, Deus trabalha para que o ser humano obtenha a libertação do pecado, para servi-Lo e adorá-Lo, pois é o grande propósito do Senhor Deus para o homem. 

I. FESTAS: DA PÁSCOA AO PENTECOSTES 

Estudaremos as quatro primeiras festas: Páscoa, Festa dos Asmos, Primícias e Pentecostes; fazendo a aplicação a momentos que marcaram as histórias de Israel e da Igreja e como seu cumprimento se realizou na vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Elas nos ensinam o que o nosso Deus faz para alcançar a comunhão com o Seu povo. 

1. A Páscoa e a Festa dos Asmos. A Páscoa tem o seu cumprimento no sacrifício de Jesus na cruz do Calvário e o apóstolo Paulo afirma: “Alimpai-vos do fermento velho, para que sejais uma nova massa, assim como estais sem fermento. Porque Cristo, nossa páscoa, foi sacrificado por nós.” (1ª Co 5.7). Sabemos que o fermento é símbolo do pecado na Bíblia e nessas duas festas o fermento não podia ser achado nas casas dos judeus, simbolizando a santidade representada nessas duas festas. Na Páscoa temos a pessoa de Jesus morrendo e na Festa dos Asmos temos uma figura do cristão se oferecendo a Deus (1ª Co 15.31). 

A palavra Páscoa no hebraico é “pasach”, significa “saltar por cima”, “passar sobre”. Nesta festa a família estava ao redor do cordeiro, que tinha que ser assado. Conforme tudo o que Deus falava a Moisés. A nação de Israel deveria comemorar a Páscoa anualmente, pela libertação do Egito, e depois seguia-se a Festa dos Asmos, onde uma oferta queimada também era oferecida diariamente ao Senhor durante sete dias (Lv 23.8). A Páscoa deveria ser comida apressadamente, com ervas amargosas e pães asmos (Êx 12.8-12), significando que o salvo deve estar sempre pronto para sair deste mundo para ir ao encontro do Senhor. Na Páscoa, Deus estabeleceu um novo início para Israel (Êx 12.2), como também quando aceitamos a Cristo passamos a ser uma nova criatura (2ª Co 5.17). 

2. A Festa das Primícias. Esta era uma festa para ser comemorada quando eles estivessem em Canaã (Lv 23.10). Um molho das primícias da colheita deveria ser trazido ao Senhor e dessa maneira eles seriam aceitos diante de Deus (Lv 23.11). Esse molho era uma oferta de movimento e era a colheita da cevada, que era anterior à colheita do trigo. Essa festa é o símbolo da ressurreição de Jesus Cristo que, após morrer e ressuscitar, nos tornou aceitos diante do Senhor Deus. Com a Sua morte e ressurreição Jesus Cristo torna o homem, que crê na obra que Ele realizou, agradável perante Deus. 

Eles não tinham terra no Egito e nem no deserto, mas esta festa os vê na Terra Prometida que o Senhor os deu. A Igreja não tem herança aqui na Terra, mas recebeu como herança do Senhor todas as bênçãos espirituais (Ef 1.3). Tudo nos foi dado por graça e não por mérito. As bênçãos nos foram dadas pelo mérito do Senhor Jesus Cristo. Este propósito de Deus para com a Igreja se tornou possível através de Sua própria graça para Seu louvor e glória (Ef 1.6). 

3. A Festa de Pentecostes. Era celebrada cinquenta dias depois da Páscoa. Esta festa também era chamada de Festa das Semanas (Êx 34.22). Pentecostes vem da palavra grega “pentekosté” que significa “quinquagésimo”. Nesta festa dois pães eram trazidos para oferta de movimento. Esta festa tem o seu cumprimento na história humana no dia de Pentecostes com o derramamento do Espírito Santo sobre a Igreja, no seu início. Os dois pães apresentados são um simbolismo dos judeus e gentios, que são unidos através do Espírito Santo para formarem a Igreja do Senhor. Esta era uma festa de agradecimento a Deus pelo início da colheita do trigo. 

A Festa de Pentecostes é a festa em que era permitido o fermento na preparação dos pães (Lv 23.17). Na oferta movida eram oferecidos os pães com os dois cordeiros. O texto nos diz que eram santidade ao Senhor para o sacerdote (Lv 23.20). 

II. FESTAS - DAS TROMBETAS À DOS TABERNÁCULOS 

As festas em Israel eram oportunidades de adoração coletiva. Todo o povo era convocado a deixar, nos dias estabelecidos, as atividades regulares do dia a dia, a fim de se dedicar exclusivamente à adoração a Deus e à celebração do que Ele tinha feito por eles. O povo não deveria se esquecer que pertencia ao Senhor Deus e, assim, deveria cultivar constantemente comunhão com Ele. 

1. A Festa das Trombetas. A festa das Trombetas ainda terá o seu cumprimento na história da nação de Israel, pois representa a convocação da nação: “Fala aos filhos de Israel, dizendo: No mês sétimo, ao primeiro do mês, tereis descanso, memória de jubilação, santa convocação.” (Lv 23.24). Havia duas trombetas, que deveriam ser tocadas em algumas situações, e uma delas era para o ajuntamento da congregação (Nm 10.3). Quando da ocasião do arrebatamento, o som da trombeta estará presente (1ª Ts 4.16), ou seja, Jesus levando a Sua Igreja e Deus voltando a trazer Israel para os Seus propósitos e trabalhando a conversão da nação (Rm 11.26). 

As três últimas celebrações eram comemoradas no sétimo mês. A Festa das Trombetas dava início à sequência dessas três últimas, que no nosso calendário equivale aos meses de setembro e outubro. Esta festa também tem o seu sentido simbólico, pois a nação de Israel, por causa do seu abandono ao Senhor Deus, foi espalhada entre as nações do mundo. A incredulidade de Israel os levou à dispersão, mas Deus os ajuntará novamente em sua terra nos últimos dias, quando se cumprirão as profecias dos profetas do Antigo Testamento, que profetizaram a respeito dessa época, quando o povo voltará para a terra da promessa (Is 60.8-9). 

2. O Dia da Expiação. Na lição anterior estudamos sobre a liturgia referente a este dia e algumas de suas aplicações simbolicamente na vida da igreja, mas ela aponta, também, para a conversão nacional de Israel, quando o pecado da nação será expiado e toda a nação se converterá ao Senhor. Esta conversão é relatada pelo profeta Ezequiel. Será a conversão nacional dos israelitas que viverem quando Jesus Cristo voltar com a Sua Igreja para reinar neste mundo. O profeta Ezequiel teve esta visão em suas profecias, relatadas no livro de sua autoria: “E profetizei como ele me deu ordem; então o espírito entrou neles, e viveram, e se puseram em pé, um exército grande em extremo.” (Ez 37.10). 

O Dia da Expiação apresenta dois simbolismos bastante importantes: a nação de Israel será reunida e também será purificada. O remanescente de Israel que sobreviverá ao período da grande tribulação se converterá e aceitará o Messias, Jesus Cristo, e se cumprirá a profecia que o próprio Jesus proferiu já nos dias finais do Seu ministério terreno: “Porque eu vos digo que, desde agora, me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor.” (Mt 23.39). 

2.3. A Festa dos Tabernáculos. Esta era a última das festas anuais de Israel e lembra a nação as bênçãos que lhe foram concedidas no passado (Lv 23.43). A Festa dos Tabernáculos era um período de alegria e regozijo para a nação, que assim podia festejar, pois era logo após ao dia da expiação, que representava o dia do perdão nacional. Aprendemos que aqueles que desejam a paz e alegria sem a santidade não alcançarão os seus objetivos. 

Nesta festa o povo habitava sete dias em tendas (Lv 23.42), que os levava a lembrar das tendas que habitaram durante a travessia do deserto por quarenta anos. Esta festa era uma comemoração da última colheita em que a nação descansava, apontando profeticamente para o descanso milenar (reinado de mil anos de Cristo na terra). Deus nos ensina por meio dessas festas que Ele deseja ter uma íntima relação com o Seu povo e, para os que lhe obedecem, Ele tem bênçãos físicas como também espirituais e essas bênçãos devem ser celebradas diante do Senhor com alegria e gratidão. 

III. O ANO DO JUBILEU 

O termo em hebraico “yowbel” (Lv 25.10), que é traduzido por jubileu tem o significado, entre outros, de “chifre de carneiro”. O ano do jubileu (marcado pelo sopro das trombetas, de acordo com o Strong’s Dictionary), era o ano da libertação, o ano em que cada um tornava à sua possessão e à sua família (Lv 25.10). Era um ano em Israel de liberdade na terra a todos os seus moradores. 

1. Resgatado por um parente. O texto afirma que, se alguém, empobrecendo, vendesse alguma porção da sua possessão, seu parente mais próximo poderia resgatar a propriedade. Se a pessoa não tivesse resgatador, e sua mão alcançasse o que bastava para o resgate, também podia efetuar o pagamento. O valor do preço do resgate era calculado conforme o número de anos desde o jubileu. Este resgate era para o caso de propriedades e de pessoas que fossem vendidas (Lv 25.8-55). 

É importante observar o que se encontra no texto de Levítico 25.19-22, que fala do descanso da terra no ano sétimo, pois foi mencionada a não observância deste mandamento para o estabelecimento dos setenta anos do cativeiro babilônico (2Cr 36.21). No sexto ano, a bênção viria por três anos (Lv 25.21). Serviria para sustentar no ano sexto, sétimo e oitavo. No ano oitavo, eles voltavam a plantar e colhiam no ano nono. 

2. O resgatador tinha que ter condição de pagar o resgate. Para que o resgate fosse realizado pela própria pessoa ou por um parente seu, teria que ter o suficiente para pagar o preço exigido pelo resgate que era calculado com os anos que faltassem para o ano do jubileu. No livro de Rute podemos encontrar em detalhes como era realizado este preceito na nação israelita (Rt 2.20; 3.12-13; 4.1-12). A Bíblia detalha neste capítulo as várias situações que poderiam acontecer entre o povo e como procedia o resgate em cada situação. Havia situações em que uma propriedade não seria resgatada no ano do jubileu, como o caso de casas em cidades muradas, que só poderiam ser resgatadas no primeiro ano (Lv 25.29). 

O homem pecou e tornou-se escravo do pecado e do diabo e, de sua própria mão, nunca alcançaria a condição para ser livre dessa escravidão ou algum parente seu poderia pagar esse resgate (Sl 49.7-8). Jesus, ao fazer carne, se tornou o nosso parente e pagou o alto preço do nosso resgate com o Seu próprio sangue, o sangue de um cordeiro imaculado, rasgando a cédula que nos era contrária e nos tornou livres da escravidão do pecado e daquele que tinha o império da morte (Cl 2.14; 1ª Pe 1.18-19). 

3. O resgatador tinha que querer fazer o resgate. O resgatador não apenas precisava ter condição de pagar o resgate, mas também tinha que desejar fazê-lo. Essas condições eram necessárias para ser resgatador. Tudo isso se cumpriu na pessoa de Jesus! Ele, e somente Ele, pode realizar a maravilhosa obra de salvação do homem. Ele mesmo disse que veio buscar e salvar o homem (Lc 19.10). O ano do jubileu era o ano do toque da trombeta: aconteceu com o crente alcançando a libertação, acontecerá também com a nação de Israel e, na eternidade, com toda a criação (Ap 21.24). 

No livro de Rute havia um resgatador que tinha a prioridade em relação a Boaz, mas, temendo ser prejudicado, recusou fazê-lo (Rt 4.6). Esse resgatador pode ser comparado à lei, que nada pode fazer pelo homem pecador, já Boaz é uma figura de Cristo, que pode resgatar o homem por meio da graça. Alei só é útil para quem não peca, mas onde o pecado existe, a lei diz “morrerá”; já a graça é capaz de perdoar o pecador e conduzir o homem até a presença de Deus. Rute resgatada é uma figura da Igreja, uma gentia que alcança a bênção através de um judeu (Jo 4.22). 

Deus estabeleceu preceitos e normas para Israel viver uma vida socialmente agradável e também que a terra viesse a produzir o melhor para eles, mas Israel se afastou do Senhor. Hoje a Igreja tem a promessa de bênçãos espirituais, devemos com fé tomar posse do que nos é dado pelo Senhor Jesus.

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

ENTRE A PÁSCOA E O PENTECOSTES

 


Êx 34.18-29 “A Festa dos Pães Asmos guardarás; sete dias comerás pães asmos, como te tenho ordenado, ao tempo apontado do mês de abibe; porque no mês de abibe saíste do Egito. 19- Tudo o que abre a madre meu é; até todo o teu gado, que seja macho, abrindo a madre de vacas e de ovelhas; 20- o burro, porém, que abrir a madre, resgatarás com um cordeiro; mas, se o não resgatares, cotar-lhe-ás a cabeça; todo primogênito de teus filhos resgatarás. E ninguém aparecerá vazio diante de mim. 21- Seis dias trabalharás, mas, ao sétimo dia, descansarás; na aradura e na sega descansarás. 22- Também guardarás a Festa das Semanas, que é a Festa das Primícias da sega do trigo, e a Festa da Colheita no fim do ano. 23- Três vezes no ano, todo macho entre ti aparecerá perante o Senhor Jeová, Deus de Israel; 24- porque eu lançarei as nações de diante de ti e alargarei o teu termo; ninguém cobiçará a tua terra, quando subires para aparecer três vezes no ano diante do SENHOR, teu Deus. 25- Não sacrificarás o sangue do meu sacrifício com pão levedado, nem o sacrifício da Festa da Páscoa ficará da noite para a manhã. 26- As primícias dos primeiros frutos da tua terra trarás é casa do SENHOR, teu Deus; não cozerás o cabrito no leite de sua mãe. 27- Disse mais o SENHOR a Moisés: Escreve estas palavras; porque, conforme o teor destas palavras, tenho feito concerto contigo e com Israel. 28- E esteve Moisés ali com o SENHOR quarenta dias e quarenta noites; não comeu pão, nem bebeu água, e escreveu nas tábuas as palavras do concerto, os dez mandamentos. 29- E aconteceu que, descendo Moisés do monte Sinai (e Moisés trazia as duas tábuas do Testemunho em sua mão, quando desceu do monte), Moisés não sabia que a pele do seu rosto resplandecia, depois que o SENHOR falara com ele.”

INTRODUÇÃO. Nesta lição, veremos informações sobre a Festa da Páscoa como o seu nome, sua data, seus participantes bem como os elementos desta cerimônia judaica e sua aplicabilidade para a Igreja hoje. Estudaremos também sobre a quarta festa de Israel que é Pentecostes onde pontuaremos informações sobre o seu nome, o seu objetivo, e a sua comemoração para o povo judeu com sua correlação com a noiva de Cristo. 

Sem a Páscoa não pode haver Pentecostes. E, sem o Pentecostes, a Páscoa perde a sua eficácia. Isso significa que duas são as experiências indispensáveis ao discípulo de Jesus: a salvação e o batismo com o Espírito Santo. 

I. A FESTA DA PÁSCOA 

1. O nome da festa. A palavra portuguesa “Páscoa” é usada para designar a festa dos judeus que, no hebraico, é chamada “Pêssach”, que significa: “saltar por cima”, ou “passar por sobre”. Esse nome surgiu em face do registro bíblico de que o anjo da morte, ou anjo destruidor, passou por sobre as casas marcadas com o sangue do cordeiro pascal, e matou os primogênitos do Egito: “E aquele sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; vendo eu sangue, passarei por cima de vós, e não haverá entre vós praga de mortandade, quando eu ferir a terra do Egito” (Êx 12.23 ver Dt 6.20-25). 

2. A data da festa. O nome hebraico do mês que aconteceu a primeira Páscoa foi em Abibe, que significa “espigas verdes”. 

Corresponde à Março-Abril em nosso calendário. Durante o Exílio babilônico foi substituído pelo nome Nissã que significa “começo, abertura” (Ne 2.1). Ainda hoje o ano civil começa no outono, com a Festa das Trombetas (Lv 23.24; Nm 29.1), chamado “Rosh hashanah” que significa “cabeça do ano”, “ponta do ano”, ou “início novo” (ano novo). 

3. Os participantes da festa. O registro bíblico nos mostra que a Páscoa era uma cerimônia familiar: “Falai a toda a congregação de Israel, dizendo: Aos dez deste mês tome cada um para si um cordeiro, segundo as casas dos pais, um cordeiro para cada família” (Êx 12.3). Quando a família fosse pequena demais deveria unir-se a outra. De acordo com a tradição judaica, a expressão “pequena demais” significava com menos de dez pessoas. Eles deviam calcular quanto cada um poderia comer e assim determinar se deviam se reunir com alguma outra família (Êx 12.4). O estrangeiro também poderia participar desde que fosse circuncidado (Êx 12.43-49). 

4. Os elementos da festa. Os participantes da Páscoa deveriam ter os lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão.

Conforme o registro bíblico, a festa da Páscoa deveria ser preparada com os seguintes elementos: um cordeiro ou cabrito, pães asmos, ervas amargas e o sangue do cordeiro que deveria ser aplicado na verga e nos umbrais da porta. Cada um dos componentes desta celebração tinha um sentido literal e espiritual (Êx 12.24-27). 

II. ELEMENTOS EXIGÊNCIAS PARA A FESTA DA PÁSCOA TIPOLOGIA 

1. Cordeiro. Este animal deveria ser: macho, de um ano, e sem mancha (Êx 12.5). Os hebreus deveriam avaliar o cordeiro durante quatro dias (Êx 12.3,6).

Este cordeiro substituiria o primogênito de cada família dos hebreus (Êx 12.12,13) e dos animais (Êx13.1,2,12-15 ver Mt 27.45-50). 

2. Sangue. Os hebreus deveriam sacrificar o cordeiro no décimo quarto dia no período da tarde (Êx 12.6) e colocar o sangue na verga e nos umbrais da porta (Êx 12.7).

O sangue no umbral e nas vergas das portas serviria como sinal para livramento (Êx 12.12,13). O Sangue representa a expiação (Hb 9.22; 11.28). 

3. Pães asmos. Os pães asmos é um pão assado sem fermento e feito somente de farinha de trigo e água (Êx 12.8).

A farinha amassada sem ter recebido o fermento simboliza pureza (Mt 16.11; Mc 8.15). 

4. Ervas amargas. A tradição judaica menciona alface, escarola, chicória, hortelã e dente-de-leão (Êx 12.8).

As ervas amargas deveriam ser comidas para recordar a opressão do Egito (Êx 1.14; 12.8). 

III. APLICABILIDADE DA FESTA DA PÁSCOA PARA A IGREJA 

Embora a celebração da festa da Páscoa seja uma ordenança divina para aos judeus (Êx 12; Nm 9.2,4; Dt 16), ela tem um profundo significado para o cristão por representar a obra de Cristo para a nossa redenção, pois as festas de Israel eram “sombras das coisas futuras…” (Cl 2.17). Observemos algumas similaridades entre a Páscoa e Cristo: 

1. O significado profético da páscoa. Assim como um cordeiro foi sacrificado no dia da páscoa para a libertação dos judeus no Egito, Cristo foi sacrificado para a libertação dos nossos pecados: “…Ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt 1.21); “…pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados” (Ap 1.5); “...Cristo, nosso cordeiro pascal, foi imolado” (1ª Co 5.7). Há uma perfeita identificação entre o pecado do crente e a oferta pelo pecado (Jo 3.14 ver Jo 1.29). 

2. O poder profético do sacrifício de Cristo. Este era o método usado por Deus, desde os tempos de Adão, para perdoar os pecados:

2.1. O sangue deveria ser derramado: “Porque a vida da carne está no sangue” (Lv 17.11). “Aquele que não conheceu pecado, ele o fez (oferta pelo) pecado por nós…” (2ª Co 5.21). Por isso: “…sem derramamento de sangue não há remissão de pecados” (Hb 9.22). No tempo do AT o sangue dos animais apenas cobria os pecados, no NT o sangue de Cristo tira o pecado do mundo (Jo 1.29; Hb 10.10-12). 

IV. A PÁSCOA JUDAICA JESUS CRISTO 

Vejamos alguns detalhes do cordeiro pascoal e Cristo: 

1. A perfeição do cordeiro (Êx 12.5).

Jesus é comparado a um cordeiro (Is 53.4; Jo 1.29; At 8.32-35). O Messias nasceu e viveu uma vida imaculada e irrepreensível (1ª Pd 1.19; 2.22; Hb 7.26). 

2. O exame do cordeiro (Êx 12.3,6).

Jesus foi examinado pelos religiosos (Mt 22 15-46); pelo sumo sacerdote (Jo 18.29), por Herodes (Lc 23.7-11), por Pilatos (Jo 18.28; 19.4,6), e pelo soldado ao pé da cruz (Lc 23.47). 

3. O sacrifício do cordeiro (Êx 12.6,23; 12.8).

Jesus foi morto pelos judeus (Mc 15.11-14; At 2.23,36); e o seu sangue foi derramado para livrar a todos os homens da ira divina (Rm 3.25; 5.1; 1ª Ts 1.10). 

V. A FESTA DE PENTECOSTES 

Das sete festas comemoradas por Israel, três eram realizadas no primeiro mês (Abibe) do calendário judaico: Festa da páscoa (Êx 12.5; Lv 23.4-5; Dt 16.1); Festa dos pães asmos (Êx 12.8,18; 13.7; Lv 23.6-8); e, Festa das primícias (Lv 23.9-14). 

A celebração destas três festas é realizada entre os dias 14 e 22 do primeiro mês. A festa da páscoa (14 de Abibe) é um dia antes dos pães asmos (15 de Abibe) e dois dias antes das Primícias (16 de Abibe) (Lv 23.4-6). A Festa dos Pães Asmos era a continuação da Festa Páscoa (Lc 22.1) e durante essas duas, ainda tinha entre elas a Festa das Primícias. As três últimas festas eram realizadas no sétimo mês (Tishrei): Festa das trombetas (Lv 23.23-25); Festa do dia da expiação (Lv 23.26-32); e, Festa dos tabernáculos (Lv 23.33-44) e uma festa era realizada “no meio” (no mês de Sivan) que é a Festa de pentecostes (Lv 23.15-22) onde é celebrada durante sete semanas (49 dias) contadas a partir do primeiro dia depois da “páscoa”, ou seja, no 50º dia. Era uma festa abrangente sem acepção de grau parentesco, raça, nação, idade, sexo ou status social (Dt 16.9-11,14).

 1. O nome da festa. Esta festa é chamada “shavuot” que quer dizer “semanas” (Dt 16.16). Esta festividade possui alguns nomes diferentes:

1.1. Festa das semanas que se refere a sete semanas após a oferta das primícias (Êx 34.22; Dt 16.10; 2ª Cr 8.13). 

1.2. Festa da colheita referindo-se à conclusão das colheitas de grãos (Êx 23.16), o dia das primícias (Nm 28.26), falando das primícias de uma colheita terminada, e mais tarde os judeus a chamaram solenemente de assembleia, que foi aplicado ao encerramento da festa da estação da colheita. Embora as Escrituras não afirmem especificamente seu significado histórico, elas parecem indicar basicamente uma festa da colheita. 

1.3. Festa de pentecostes referindo-se ao período de cinquenta dias após a oferta das primícias que acontecia junto com a festa dos pães asmos (Lv 23.16-18). 

2. O objetivo da festa. A festa de pentecoste era uma festa basicamente agrícola que era celebrada no fim da primavera, quando a nova colheita de trigo era colhida (Êx 23.14-16). Como podemos ver, esta festa segue o mesmo princípio da Festa das Primícias que é o de agradecer a Deus por tudo que Ele tem providenciado, reconhecendo a sua bênção (Dt 16.10). 

3. A comemoração da festa. A Bíblia nos mostra que no dia da festa todas as atividades normais deviam ser suspensas a fim de que o povo se reunisse para uma “santa convocação” (Lv 23.21). Além do caráter de agradecimento, a festa tinha um propósito caridoso, pois as necessidades dos pobres e estrangeiros também deveriam ser lembradas nessa ocasião (Lv 23.22). 

VI. APLICABILIDADE DA FESTA DE PENTECOSTES PARA A IGREJA 

Jesus foi sacrificado durante a Festa da Páscoa (Mt 26.2; Mt 27.15), foi sepultado durante a Festa dos pães asmos (Mt 26.17; Mc 14.1,12; Lc 22.1), ressuscitou na Festa das Primícias (Mc 5.16), e cinquenta dias depois, no dia da Festa de Pentecostes, veio o derramar do Espírito Santo sobre os discípulos (At 2.1-4 ver Jl 2.28,29). 

1. O alcance da festa. Pentecostes fala de uma promessa:

1.1. Segura “derramarei o meu Espírito” (Lc 24.49; At 1.4; 2.17).

1.2. Abundante “sobre toda a carne” (At 2.4,39; 10.44).

1.3. Abrangente pois ela quebra toda acepção racial: “toda a carne”, sexual: “filhos e filhas”, etária: “jovens e velhos”, e social: “servos e servas” (Jl 2.28,29).

1.4. Atual “Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar” (At 2.39). Um dos propósitos desta festa era também a aproximação de todos que estavam distantes: “Todos reunidos no mesmo lugar” (At 2.1); “Todos foram cheios do Espírito Santo” (At 2.4); “Todos os que estão longe; tantos quanto…” (At 2.39); e “Todos os que criam estavam juntos” (At 2.44). 

2. A abrangência da festa. Na Festa das Primícias era movido perante o Senhor um molho (feixe) de espigas de trigo (Lv 23.9-11), já na Festa de Pentecostes eram movidos perante o Senhor dois pães de trigo (Lv 23.15-17). Isso falava da Igreja, que seria formada de judeus e gentios, formando, assim, um só corpo (Ef 2.14; Jo 11.52). O feixe de espigas fala da união, mas os pães vão além, pois eles falam de unidade (Ef 4.3). Em um feixe de espigas, os grãos estão simplesmente presos às espigas, porém isolados uns dos outros, mas, em um pão é diferente: o trigo é o mesmo, mas os grãos passaram por um multiforme processo e formam agora um todo, um corpo único. O derramamento pentecostal fez isso na formação da Igreja em Atos 2. 

3. A colheita da festa. Após sua ressurreição Jesus ficou na terra por 40 dias quando foi ascendido ao céu e dez dias depois na Festa de Pentecostes, no 50º dia depois da páscoa, cumpriu-se a promessa do “derramamento do Espírito Santo” (Jl 2.28,29; At 1.4,5; 2.1), e durante a festa de Pentecostes os discípulos ficaram cheios do Espírito Santo (do hebraico “Ruah Kadosh” e do grego “Hagios Pneumathos”) e logo após, os apóstolos colheram os primeiros frutos de (At 2.37-41). 

Concluímos que assim como a Festa da Páscoa para o judeu lembra o livramento físico da escravidão do Egito, para os cristãos existe uma recordação do livramento espiritual do reino das trevas, e assim como a Festa de Pentecostes para Israel era para entregar ao Senhor os primeiros frutos da colheita, para a igreja fala também da primeira “colheita” com a conversão dos gentios e do derramamento do Espírito Santo.


terça-feira, 19 de outubro de 2021

VOTO E DIZIMO

 

Levítico 27.1-4, 32 “Falou mais o Senhor a Moisés, dizendo: 2- Fala aos filhos de Israel e dize-lhes: Quando alguém fizer particular voto, segundo a tua avaliação serão as pessoas ao Senhor. 3- Se for a tua avaliação dum varão, da idade de vinte anos até à idade de sessenta, será a tua avaliação de cinquenta ciclos de prata, segundo o ciclo do santuário. 4- Porém, se for fêmea, a tua avaliação será de trinta ciclos. 32- No tocante a todas as dízimas de vacas e ovelhas, de tudo o que passar debaixo da vara, o dízimo será santo ao Senhor.” 

INTRODUÇÃO

Em Levítico 27 vemos uma série de regras para a avaliação de diversas coisas, na comunidade. O que se percebe é que há uma organização de valores sobre as mais diversas negociações entre o povo de Deus, que deveria ocorrer de maneira justa e sensata.

O último capítulo continua nos mostrando que temos um Deus extremamente organizado e que estava dando ao Seu povo, instruções que garantiriam que eles teriam bem-estar em todas as áreas de sua vida e estariam muito acima das outras nações, caso obedecessem aos mandamentos.

A santidade de Deus exige disciplina e padrões que o homem deve honrar e obedecer. No passado, para Israel, e no presente, para a Igreja, esses padrões são essenciais para viver em santidade, conforme Deus ordena.

Neste contexto de levítico iremos abordar sobre dois assuntos que é o voto e o dízimo. 

I. VOTOS 

O voto particular de uma pessoa era opcional e voluntário e de caráter muito especial. Uma vez votado, o israelita não poderia deixar de cumprir o voto. Já o dízimo não era opcional e sim uma determinação da parte do Senhor, que deveria ser obedecida pelo israelita com prazer, por poder contribuir para a obra do Senhor. 

1. Os votos. O voto era algo de suma importância e poderia ser feito em agradecimento por bênçãos recebidas, como também por necessidade de receber um favor da parte do Senhor. O voto deveria ser feito com entendimento, para que pudesse ser cumprido o que votou, procurando evitar votos precipitados. Salomão assim afirma: “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo; porque não se agrada de tolos; o que votares, paga-o. Melhor é que não votes do que votes e não pagues.” (Ec 5.4-5). O voto poderia ser com respeito a uma pessoa, um animal, uma casa ou campo. Tudo o que fosse dedicado a Deus deveria ser trazido ao sacerdote e poderia ser resgatado, conforme estabelecido pela lei. 

O voto a Deus era uma prática comum entre o povo de Israel (Gn 28.20; Nm 30.2-16; 1º Sm 1.11; 2º Sm 15.8). Talvez um dos votos mais lembrados e debatidos seja o de Jefté (Jz 11.30-40). Existem duas correntes de interpretação: a que ele sacrificou a filha e outra que defende a manutenção da virgindade dela para sempre, ou seja, ela não pode constituir família e viveu uma vida de castidade. No Novo Testamento não há orientação específica concernente à prática do voto, contudo alguns princípios são permanentes: cuidado para não usar a prática do voto com intuito de barganhar com Deus; Deus não se agrada de votos precipitados e promessas não cumpridas (Ec 5.4-6); o voto não é obrigatório para alcançarmos o favor de Deus (Mt 7.9-11; Tg 1.5); que todo o nosso ser seja oferecido em “sacrifício vivo, santo e agradável” (Rm 12.1-2).

Com relação aos votos, a palavra de conselho é a de que não vote de modo algum, mas, se por acaso, votar – o que não está errado -, não devemos tardar em cumpri-lo. 

2. As bênçãos pela obediência. O desejo de Deus sempre é de abençoar o Seu povo, mas a obediência é uma exigência divina para que isto ocorra (Lv 26.3). As bênçãos se multiplicariam sobre o povo e a abundância estaria presente na existência de Israel; mas, se o povo se afastasse do Senhor, então o castigo viria com graus de intensidade, como um aviso para que se voltasse para Deus. Essas bênçãos decorrentes da obediência levariam o homem a dizimar como um ato de reconhecimento de que tudo o que recebera era uma dádiva da parte do Senhor.

Essas bênçãos que foram prometidas no capítulo vinte e seis do livro de Levítico, Israel as alcançará na sua plenitude na dispensação do milênio, período em que Israel, período em que Israel estará convertido ao Senhor como nação. Todas as bênçãos tinham o seu fundamento em só adorar a Deus (Lv 26.1), guardar o sábado (Lv 26.2), reverenciar o local da habitação de Deus (Lv 26.2) e obedecer a Palavra de Deus (Lv 26.3). Essa aliança de bênçãos foi dada a Israel, que Deus prometeu abençoar nesta terra. 

II. OS DÍZIMOS. 

O termo dízimo, do hebraico “ma’ aser ou ma’ asar (no plural) e no feminino ma’ asrah”, tem o sentido de décima parte, pagamento de uma décima parte. Nos dias de Moisés, o dízimo passou a exercer importante papel na vida religiosa do povo israelita (Dt 26.1-15). Desta forma, não só a Casa de Deus era suprida, como também mantida a tribo levítica, responsável pelo sacerdócio. 

Foi somente após a saída dos israelitas do Egito que o dízimo passou a ser praticado por imposição legal. A lei que Moisés recebeu de Deus previa que o dízimo tivesse uma destinação social. Além de atender as necessidades dos levitas em seu cumprimento dos trabalhos no Santuário, destinava-se também a ajudar os estrangeiros, órfãos e viúvas (Dt 14.22-29) As leis do dízimo abrangiam todos os produtos agrícolas. Ao dar o dízimo ao Senhor (a décima parte de tudo o que era colhido), os israelitas reconheciam que a terra pertencia a Deus e que usufruíam seus benefícios apenas por causa da bênção divina. O dízimo deveria ser desfrutado na presença do Senhor, a não ser que o indivíduo tivesse de percorrer uma longa distância para chegar ao local escolhido por Deus. Nesse caso, o dízimo podia ser trocado por prata e usado para comprar comida e bebida em Jerusalém. 

É uma doutrina da Palavra de Deus e muito questionada por aqueles que não servem ao Senhor, mas aceita com alegria por todos aqueles que, com um coração sincero, servem a Deus e são alcançados pela Sua benevolência e liberalidade. Tudo que o cristão faz para o Senhor deve ser feito com prazer. Portanto, contribuir com o dízimo é um grande privilégio que o Senhor concede aos Seus filhos. 

1. Dízimos no Antigo Testamento. O dízimo é a parte do Senhor e foi dado para aqueles que exercem o ministério na casa do Senhor: “E eis que aos filhos de Levi tenho dado todos os dízimos em Israel por herança, pelo seu ministério da tenda da congregação.” (Nm 18.21). O dízimo também é dar honra a Deus. 

2. Abraão dizimou. A primeira menção do dízimo na Bíblia foi quando Abraão se encontrou com Melquisedeque (Gn 14.20), depois de ser abençoado por ele (Gn 14.19). É importante observar a sequência dos fatos: primeiro Abraão é abençoado, depois ele dizima. Assim acontece com os que servem a Deus. 

Abraão é o pai da fé, foi um homem possuidor de muitas riquezas, mas não se tornou um avarento, não tendo assim nenhuma dificuldade de entregar o seu dízimo. Abraão acabara de libertar Ló porque era um homem livre de toda a avareza, como ficou demonstrado diante do rei de Salém e ao recusar as riquezas de Sodoma e Gomorra. Quem tem as riquezas de Deus não tem dificuldade de agradar ao Senhor que o enriqueceu. 

3. O voto de Jacó. Jacó neto de Abraão, certamente ouvira seu pai Isaque o que seu avô fizera diante do rei de Salém e num momento de encontro com Deus faz um voto (Gn 28.20-22). É nítido que neste episódio, Jacó está tendo uma experiência com Deus em um momento marcante em sua vida. Notar que a expressão “dízimo” aparece no final do relato: Deus se revela, fala com ele e lhe faz promessas. A seguir vem a reação de Jacó: ele declara a grandeza e majestade de Deus e só então faz um voto. Porém, antes de mencionar o dízimo, ele declara: “O Senhor será o meu Deus”. O dízimo surge como consequência do Senhor ser o seu Deus. 

4. A bênção de ser dizimista. É importante sabermos que a prática de dizimar não era restrita a Israel no antigo Oriente Médio. Existia entre os gregos, egípcios e mesopotâmicos, entre outros, conforme citações da literatura arcadiana. Em tais culturas, os dízimos eram pagos a deuses ou a templos, fazendo parte, assim, da piedade religiosa, conforme comentário de R. N. Champlin. Portanto, pelos relatos acerca de Abraão e Jacó nos tópicos acima, o dízimo não foi estabelecido em Israel pela lei mosaica. A lei deu conteúdo e forma à prática do dízimo (Lv 27; Nm 18; Dt 12, 14, 26). 

A partir dos textos bíblicos mencionados, encontramos orientações básicas quanto ao ato de dizimar; como observou J. G. S. S. Thompson (citado no Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento): 1.Dízimo de quê? De todos os bens e frutos do trabalho (Lv 27.30-34); 2. Dízimo a quem? Levitas e sacerdotes (Nm 18.21-32); e 3. Onde entregar? No lugar que o Senhor escolheu (Dt 12.1-14; 14.22-29). Quando há um despertamento e restauração de comprometimento a partir das Escrituras, resulta, entre outras coisas, em retorno às contribuições financeiras e participação com bens materiais para a manutenção dos serviços religiosos (Ne 9.38; 10.28-29, 33-39; 2º Cr 31.2-6). Porém, não havendo liderança e ensino, há abandono e desprezo, também, na aplicação dos bens e das finanças em relação ao serviço religioso (Ne 13.10-12). 

5. O Dízimo no Novo Testamento. Por ser uma questão difícil de ser tratado, não vou trazer nenhuma ênfase a respeito do dízimo neste estudo.  Apenas trazer alguns conceitos, pois estamos tratando do livro de levíticos. 

Não encontramos no Novo Testamento tantos textos que mencionam a prática de dizimar como no Antigo Testamento, conforme visto nos tópicos anteriores. Talvez, por esta causa, muitos consideram que não é uma prática legítima para a Igreja. 

Esta dúvida ocorre, porque no Novo Testamento não fica tão claro, quanto no Antigo Testamento sobre esta obrigatoriedade. 

Pela Bíblia, fazendo uso de uma exegese séria e profunda nos textos do Novo Testamento, constatamos que não existe uma definição de quantidade para aquilo que depositamos no altar do Senhor (Ex: 10 %). Usa-se como parâmetro a décima parte, no entanto, não é uma obrigação metódica, pois as ofertas eram segundo as posses de cada um e se trata de uma doação à igreja de ofertas agradáveis, que devem ser usadas na manutenção do templo, missões, meios de comunicações, mas, principalmente no auxílio aos irmãos mais carentes, ligados ou não à denominação. 

5.1. O tempo da graça. Logo no primeiro livro do Novo Testamento, há o registro das palavras de Jesus sobre o dízimo (Mt 23.23). Lucas também registrou (Lc 11.42). Jesus censura os escribas e fariseus pelo fato de estarem desprezando a misericórdia, o juízo e a fé. 

Se utilizarmos dessas passagens para dizer que Jesus está obrigando o dízimo no Novo Testamento, precisamos analisar a luz das escrituras que na verdade Ele ainda esta na Velha Aliança quando citou essas palavras, também Ele cumpriu toda ali. Neste caso, podemos claramente entender que ao finalizar Seu comentário, Jesus diz que eles deveriam continuar dando o dízimo e, inclusive, não se omitirem de praticar os demais mandamentos da lei (o mais importante dela – o amor, juízo, misericórdia e a fé). Porém, aí vem a seguinte pergunta: A quem Jesus estava dirigindo Suas Palavras e qual o teor destas palavras? Sem dúvida compreendemos que Jesus se dirigia aos escribas e fariseus, e não a cristãos (como muitos afirmam); tanto, que Jesus não os tratou pelos seus próprios nomes, mas pelo título da sua religião. Esses homens, vivendo o judaísmo regido pela lei, confiavam na sua própria justiça e capacidade, no que tange à guarda da lei. Apresentavam-se a Jesus nas condições de perfeitos, ostentando hipocritamente grande santidade e confiança nas suas próprias obras de justiça; enquanto isso não aceitavam a autoridade divina de Jesus. 

Observa-se que a tendência dos fariseus era permanecer debaixo da lei, desconhecendo a Graça de Cristo. E mesmo não existindo no homem a capacidade para guardar a Lei, Deus não proíbe ninguém de entrar por esse caminho, quando a pessoa faz questão de estar debaixo da Lei; mas nesse caso, então, exige dela a perfeição na prática de toda a Lei. “Porque qualquer que guardar toda a lei e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos” (Tg 2.10). 

Antes de contribuirmos precisamos entender e conhecer a Graça de Cristo que significa: “Misericórdia quero, e não sacrifícios” (Mt 9.13). 

Esta passagem é uma advertência solene contra os perigos da presunção (soberba), confiança na justiça própria, e contra o formalismo que confia no batismo ou a ceia, no sábado e nos dízimos como garantia em si mesmo da salvação daqueles que o recebem. 

Em Lucas 16.15, Jesus disse-lhes: “Vós sois os que justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece os vossos corações, porque o que entre os homens é elevado, perante Deus é abominação”. 

5.2. O caminho da prosperidade. Conforme o homem se ocupa com as coisas de Deus, Deus cuida em abençoar a sua vida (Sl 37.4). Sabemos que a prosperidade espiritual é a bênção que Deus deseja para a Sua Igreja e essa prosperidade é acompanhada com o prazer de servi-Lo, ter saúde, ter a bênção sobre a sua família, desfrutar da comunhão com o Senhor e de contentamento, conforme o apóstolo Paulo escreve a Timóteo: “Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes.” (1ª Tm 6.8). Como servimos a um Deus abençoador, temos sido agraciados com bem mais do que merecemos. Por essa razão, devemos abrir mais as nossas mãos para a obra do Senhor. 

O cristão foi chamado por Deus para ser uma bênção e nessa chamada também está incluso ser uma pessoa próspera. Deus quer dar aos Seus filhos todos os tipos de experiência (Fp 4.12), para que o seu coração não fique apegado às coisas materiais, mas que saiba dela desfrutar nesta vida, sem ser um empecilho para a sua vida espiritual. Ser abençoado por Deus é um bem que não tem preço, como gratidão devemos ser liberais na nossa contribuição ao Senhor (Fp 4.19). 

5.3. Semeando muito. A lei da semeadura é simples: quem planta muito colhe muito e quem planta pouco colhe pouco (2ª Co 9.6). Nessa lei também temos que observar a qualidade da semente, pois quem planta com semente ruim colherá o fruto do que plantou (Gl 6.7). Temos que ter uma boa semente e plantar com abundância para colher um fruto bom e com abastança. O diabo quer nos distrair, fazendo com que gastemos o nosso dinheiro e deixemos de investir no Reino de Deus, mas os que investem no Reino de Deus estão fazendo o correto, como nos ensina Jesus: “Não ajunteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam. Mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam.” (Mt 6.19.20). 

Atentemos para o texto que se encontra na epístola de Paulo aos Gálatas: “E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui.” (Gl 6.6). As contribuições que são trazidas à casa do tesouro são para sustento da obra do Senhor e para aqueles que exercem o seu ministério na casa do Senhor. Sejamos gratos a Deus por todas as bênçãos que Ele tem concedido e pelas que ainda virão. 

5.4. O sistema adotado pela igreja Primitiva era baseado no amor ágape e voluntária (Atos 2.44-45). O livro de Atos 3.32-35, não é um livro doutrinário, mas é um livro repleto de informações doutrinárias. As ênfases sobre a doutrina da igreja são feitas a partir da história, e consequentemente pela prática. Lucas não intenciona em seu relato julgar se a prática da igreja de Deus é correta ou não, mas a coloca a prática da igreja primitiva como padrão a ser seguido. Portanto, o que vemos em Atos não é um guia para a doutrina da igreja, mas para o exercício efetivo da vontade de Deus por meio da igreja. Isso está em acordo com Ef 3.10, que o objetivo da Igreja é fazer a multiforme sabedoria de Deus conhecida em todos os lugares segundo o eterno propósito de Deus que estabeleceu em Cristo Jesus. 

A Igreja Primitiva é exemplo de uma comunidade que sabe como investir seu dinheiro, pois investe em pessoas. Uma igreja que cultiva a verdadeira comunhão cristã não permitirá que nenhum de seus membros passe necessidade. Eis o que testemunha o autor sagrado diz: “Todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam suas propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha necessidade” (At 2.44,45). Não se tratava de um comunismo cristão, mas dá autêntica comunhão que o Espírito Santo nos esparge na alma. O comunismo só espalha o medo, a miséria e o ateísmo. A igreja de Cristo não precisa dessa ideologia para socorrer os seus membros; ela tem o amor de Deus. No capítulo 4 e verso 33 de Atos, o doutor Lucas escreve dizendo: “Não havia pessoas necessitadas entre eles, pois os que possuíam terras ou casas as vendiam, traziam o dinheiro da venda.” 

O que podemos ver que ninguém era mais rico que os outro; isso não é uma doutrina bíblica pois eles genuinamente amavam e cuidavam do bem-estar uns dos outros e ansiavam “vender os seus bens sempre que houvesse uma necessidade e humildemente colocavam o dinheiro diante dos apóstolos”. De certa maneira, eles tentavam livrar-se dos bens que poderiam impedir o progresso de sua fé e que poderiam ser destruídos, além de armazenar riquezas para si próprios no céu (Mt 6.19-21, 33). Havia paz e harmonia – cada um estava social, física e espiritualmente contente, pois eles tinham estabelecido suas prioridades de maneira certa. 

5.5. Repartindo os bens materiais. Dizimo, décima parte de tudo aquilo que é devolvido ao Senhor, quer em dinheiro, quer em produtos ou bens segundo a Lei ensinava. Mas nos textos de Atos 4.32-35, entendo que a graça está acima da Lei. A igreja Primitiva vendia seus bens e propriedades e traziam tudo aos apóstolos, ou seja, eles não estavam presos em bens matérias, pois aqui tudo perece! Porém a Lei era apenas 10%, mas na graça? Como já disse que o livro de atos não é um livro doutrinário, mas um exemplo deixado pela igreja Primitiva. 

“Porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. 

A igreja primitiva contribuía voluntariamente e com um profundo amor. Não era estipulado um valor, mas os cristãos vendiam e traziam valor todo, ou seja, na lei era apenas 10%, mas na graça é tudo do Senhor. 

Na graça tudo pertence ao Senhor, porém devemos contribuir: 1. Voluntariamente; 2. Com amor; 3. Alegria; 4. E segundo o que propomos em nosso coração. 

“Ninguém dizia que as coisas que possuíam eram somente suas” porque se eles podiam oferecer-se totalmente a Deus em primeiro lugar (2º Co 8.5), então quaisquer bens materiais que tinham também pertenciam a Deus e ao grupo. Eles os usavam para mostrar seu verdadeiro amor uns para com outros e para intensificar a propagação da mensagem do Cristo ressurreto dentro do grupo e para o mundo (v. 32b). Eles mostravam uma atitude generosa em relação a sua riqueza material; todos repartiam uns com os outros tudo o que tinham. Ninguém reivindicava egoisticamente nada para si mesmo. 

É interessante observar que o produto do que eles tinham vendido era distribuído “de tempo em tempo... para satisfazer as necessidades coletivas dos membros do grupo”. 

CONCLUSÃO 

O livro de Levítico nos ensina como Deus é santo e quer que Seus filhos sejam santos assim como Ele é, e que também devemos ser voluntários em ofertar para a Sua casa, para sustento dos que são chamados por Ele para servir na sua obra, manutenção do templo local e auxílio dos mais necessitados.

Pr. Elias Ribas

segunda-feira, 18 de outubro de 2021

SANTIDADE AO SENHOR

 


Levítico 20.1-10 “Falou mais o SENHOR a Moisés, dizendo: 2- Também dirás aos filhos de Israel: Qualquer que, dos filhos de Israel ou dos estrangeiros que peregrinam em Israel, der da sua semente a Moloque, certamente morrerá; o povo da terra o apedrejará com pedras. 3- E eu porei a minha face contra esse homem e o extirparei do meio do seu povo, porquanto deu da sua semente a Moloque, para contaminar o meu santuário e profanar o meu santo nome. 4- E, se o povo da terra de alguma maneira esconder os olhos daquele homem que houver dado da sua semente a Moloque e o não matar, 5- então, eu porei a minha face contra aquele homem e contra a sua família e o extirparei do meio do seu povo, com todos os que se prostituem após ele, prostituindo-se após Moloque. 6- Quando uma alma se virar para os adivinhadores e encantadores, para se prostituir após eles, eu porei a minha face contra aquela alma e a extirparei do meio do seu povo. 7- Portanto, santificai-vos e sede santos, pois eu sou o SENHOR, vosso Deus. 8- E guardai os meus estatutos e cumpri-os. Eu sou o SENHOR que vos santifica. 9- Quando um homem amaldiçoar a seu pai ou a sua mãe, certamente morrerá: amaldiçoou a seu pai ou a sua mãe; o seu sangue é sobre ele. 10- Também o homem que adulterar com a mulher de outro, havendo adulterado com a mulher do seu próximo, certamente morrerá o adúltero e a adúltera.” 

INTRODUÇÃO

Nesta lição estudaremos a definição etimológica da palavra santidade, bem como seu conceito exegético; veremos a santidade na vida do sumo sacerdote, em Israel e no livro de Levítico; pontuaremos a Trindade como base da santidade na Bíblia, e por fim, concluiremos mostrando a natureza da santidade.

O livro de Levítico foi entregue a Israel para que este, separando-se de entre todos os povos da Terra, viesse a adorar, a servir e a santificar-se a Deus.

A santidade, por conseguinte, tanto naquele tempo quanto hoje, continua a ser a marca distintiva dos filhos de Deus.

Veremos que a nação Israel, através das leis e ordenanças levíticas, tinha a obrigação de apresentar-se a Deus e ao mundo como a nação santa, zelosa e servidora por excelência. Que aprendamos, com os israelitas, a adorar e a servir ao Senhor na beleza de sua santidade. 

O tema principal de Levítico é a santidade. A natureza Divina exige santidade do Seu povo; Deus é perfeito, Ele não tem falha nem erro algum. Santidade é a pureza perfeita de Deus, que não tem mancha alguma de pecado. A santidade deve ser mantida diante de Deus, e ela só pode ser alcançada através de uma adequada expiação. Depois de um cativeiro que durou 400 anos, os judeus receberam uma influência egípcia pagã e politeísta, o conceito de Deus tinha sido distorcido. Moisés redige este Livro para fornecer instruções e leis a fim de orientar o povo pecador, mas redimido, em seu relacionamento correto com um Deus que é caracterizado por Sua natureza santa. E de fato, os termos “santo” ou “sagrado” aparecem mais de cem vezes neste livro, mais vezes do que em qualquer outro livro da Bíblia. Há uma ênfase em Levítico na necessidade de santidade pessoal em resposta a um Deus santo. O pecado deve ser expiado através da oferta de sacrifícios próprios (capítulos 8-10). Outros temas abordados no livro são dietas (alimentos puros e impuros), o parto e doenças que são cuidadosamente regulamentadas (capítulos 11-15). O capítulo 16 descreve o Dia da Expiação, neste dia um sacrifício anual é feito pelo pecado cumulativo de todas as pessoas. Além disso, o povo de Deus deve ser discreto na sua vida pessoal, moral e social, em contraste com as práticas atuais e pagãs ao seu redor (capítulos 17-22). Dito isto, convido-o a pensarmos maduramente a fé cristã. 

I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA SANTIDADE 

1. Definição etimológica. No AT o adjetivo “santo” e seus derivativos ocorrem mais de 900 vezes na Bíblia (TYNDALE, 2015, pg. 1656), o livro inteiro de Levítico, é devotado ao assunto desta palavra, ficando clara a importância dada pelas Escrituras a esta doutrina. A palavra no hebraico para santidade significa: “cortar, separar”. Basicamente santidade é: “o corte para separação”. Pode-se dizer ainda que santidade é: “o estado de corte e separação do que é impuro; é a característica do que é consagrado exclusivamente a Deus” (Lv 20.24-26). O princípio de corte ou separação no AT é aplicado em termos gerais em relação a Deus (Lv 19.2), a objetos (Êx 30.28,29), e a pessoas (Lv 8.12). Levítico tem o objetivo singular de convocar o povo de Deus para a santidade pessoal (Lv 20.26). A palavra “santo” é usada em Levítico mais do que nos outros livros da Bíblia. 

Embora em Levítico o termo seja utilizado mais para coisas e lugares, é também empregado para descrever o Senhor e, com certa frequência, o povo do Senhor é instruído a ser santo (Lv 11.44; 19.2; 20.7) (ELISSEN, 2010, pp. 38,39). 

2. Definição exegética. No AT o conceito de santidade é expresso por três palavras principais: O verbo qadash aparece com o sentido de “separar, consagrar, santificar”. Na primeira ocorrência do termo em Gênesis 2.3 significa “declarar algo santo, estado daquele que é reservado exclusivamente para Deus” (Êx 13.2; 20.8). O substantivo “qodesh” tem o significado de “separação, consagração, santidade”. É empregada para descrever tanto o que é separado para o serviço exclusivo a Deus (Êx 30.31), quanto o que é usado pelo povo de Deus (Is 35.8; Êx 28.2, 38). Já o adjetivo “qadosh” é o vocábulo mais difundido entre os estudantes das Escrituras Sagradas e aponta para o que é: “santo, sagrado” (HOLLOMAN, 2003, p. 25). 

II. O LIVRO DE LEVÍTICO E A SANTIDADE 

O livro de Levítico servia de uma espécie de código de santidade, com inúmeras leis pessoais, rituais e cerimoniais, cuja finalidade é promover e tipificar a santidade. Ali são tratadas todas as questões de moralidade prática e pessoal, e não apenas questões cerimoniais. Lendo Levítico espera-se que o povo de Deus seja honesto e veraz (Lv 19.11,36), respeitoso aos seus pais (Lv 19.3), respeitoso aos idosos (Lv 19.32), tratando os servos com justiça e equidade (Lv 19.13), amando ao próximo (Lv 19.33,34), mostrando-se generoso para com os pobres (Lv 19.10,15), ajudando aos fisicamente incapacitados (Lv 19. 14), mostrando-se sexualmente puro (Lv 18.1-30; 20.1-21) e evitando as superstições (Lv 19.26,31; 20.6). 

1. O Sumo sacerdote e a santidade. Ouro na Bíblia sempre fala de pureza e santidade, nas vestimentas sacerdotais da Antiga Aliança com toda sua tipologia, vamos encontrar um símbolo da Santidade de Deus (Êx 40.13; Lv 16.4,32). O Sumo Sacerdote “kohen gadol” além de roupas especiais, deveria ter sempre uma lâmina (uma testeira como uma espécie de arco ou tiara) de ouro puro na testa, com a inscrição “Santidade ao Senhor” do hebraico “Qodesh Elohim” por cima da mitra (um tipo de chapéu), atada com um cordão azul, exatamente como Deus ordenou a Moisés (Êx 28.36; 39.30-31) para lembrar Arão de seu chamado à santidade. Essa coroa era usada todos os dias pelo Sumo Sacerdote que devia levar uma vida de acordo com o que estava escrito nela. Uma vez por ano, no Dia do Perdão “Yom Kippur”, ele entrava no Santíssimo para orar por ele mesmo e por toda a nação.

2. Israel e a santidade. O povo de Israel devia santificar-se para o Senhor (Êx 19.6; Lv 11.44; 19.2; Dt 7.6; 14.2,21; 2º Cr 29.5), tomando-se uma nação santa (Êx 19.6; Lv 20.26); um povo santo (Is 62.12; 63.18; Dn 12.7); uma raça santa (Ed 9.2; Is 6.13); uma comunidade de santos (Sl 16.3; 34.9); um reino de santos (Êx 19.6), uma congregação santa (Nm 16.3), o culto era santo (Lv 23.2), os sacerdotes eram santos (Lv 8.12,13), suas vestimentas eram santas (Lv 16.4,32), as ofertas eram santas (Lv 22.12), as festas eram santas (Lv 23.2,4), a terra de Canaã era santa (Êx 3.5; 15.13), o acampamento de Israel era santo (Lv 10.4); a cidade de Jerusalém era santa (Ne 11.1), a convocação era santa (Êx 12.16); o descanso era santo (Gn 2.3; Êx 16.23); havia dias santos (Ne 8.11); as ofertas eram santas (Lv 2.3;10); o monte de Sião era santo (Sl 99.9; Is 11.9); os profetas eram santos (Lc 1.70; At 3.21; 2ª Pe 1.21), o tabernáculo e o templo eram santos (Êx 38:24; Lv 1.17,18; 1º Cr 29.3; Sl 5.6) e as coisas contidas no tabernáculo e no templo eram santas (Êx 29.38; 30:27; 40:10; Nm 5.9; 1º Sm 21.4; 1º R 7.51; 2º Cr 29.33). 

III. A TRINDADE COMO BASE DA SANTIDADE NA BÍBLIA 

Santidade é expressamente atribuída nas Escrituras, a cada pessoa da Trindade, ao Pai (Jo 17.11), ao Filho (At 4.30), e ao Espírito Santo (Sl 51.11; Is 63.10; Jo 14.26). Vejamos: 

1. A santidade do Pai. A Bíblia mostra-nos que o próprio Deus é santo (Lv 20.26; 1º Sm 2.2; 6.20; Jo 17.11; 1Pe 1.15). Ele é a essência absoluta da santidade, pois ela é perfeita e inspiradora (Sl 99.3). A santidade de Deus fala acerca de sua “excelência moral”, bem como do fato de que ele está livre de todas as imperfeições (Hc 1.13), ela é incomparável (Êx 15.11; 1º Sm 2.2), é exibida em seu caráter (Sl 22.3; Jo 17.11), em Seu Nome (Is 29.23; 57.15; Ez 36.23), em Suas Palavras (Sl 60.6), em suas obras (Sl 145.17) e em seu reino (Sl 47.8; Mt 13.41). Sua santidade deve ser imitada (Lv 11.44; 1ª Pe 1:15,16), magnificada (Is 6.3; Ap 4.8), requer um serviço santo (Js 24.19; Sl 93.5) e uma vida santa (Hb 12.14). 

2. A santidade do Filho. Cristo é pioneiro no caminho que conduz à salvação (Hb 2.10). Aquele que é santo conduz o seu povo à santidade. Em doze trechos do NT o Filho é descrito como santo. Em nove dessas vezes, é empregado o termo grego “hagios” (Mc 1.24; Lc 1.35; 4.34; Jo 6.69; At 3.14; 4.27,30; 1ª Jo 2.20). Cristo foi prometido como o santo Filho de Deus (Lc 1.35). Até um demônio, em Cafarnaum, reconheceu que Cristo é o Santo de Deus (Mc 1.24; Lc 4.24). Ele é o Santo por meio de quem os crentes são ungidos (1Jo 2.20). Ele é o Senhor das igrejas, e também aquele que é santo e verdadeiro (Ap 3.7). Foi escolhido para a sua missão messiânica pelo Pai, por causa de sua santidade superior (Hb 1.9). Foi tentado, mas não revelou nenhuma falha moral (Hb 4.15). 

3. A santidade do Espírito Santo. O nome Espírito Santo vem do hebraico “ruah kadosh” e do grego “pneuma hagios”. 

Assim como Deus é santo (1ª Pe 1.16) e Jesus é santo (At 2.27), o Espírito também o é (Sl 51.11; Is 63.10,11; Mt 1.18,20; 3.11; Lc 1.35; Jo 14.26; 1ª Ts 4.7-8). É chamado de Espírito Santo porque Sua obra principal é a santificação (Jo 3.5-8, 16.8; Rm 15.16; 1ª Co 6.11; 2ª Ts 2.13; 1ª Pe 1.1,2). Um adjetivo muito comum, para indicar o Espírito de Deus, é “santo”, e no AT este título ocorre três vezes (Sl 51.11; Is 63.10,11). Porém, no NT, a expressão “Espírito Santo” ocorre por mais de 90 vezes. Para algumas referências neotestamentárias sobre o Espírito Santo é Ele quem batiza (Mt 3.11); quem enche e santifica a Igreja (At 2.4); quem derrama o amor de Deus em nosso coração (Rm 5.5); é o nosso Mestre (1ª Co 2.13); somos o templo que Ele santifica (1ª Co 3.17); Ele é o inspirador das Santas Escrituras (2Pe 2.21); e nos ajuda em oração (Jd 20). 

IV. A NATUREZA DA SANTIDADE 

A Bíblia mostra claramente a necessidade de vivermos uma vida santa por meio de várias exortações (Rm 13.13,14; Ef 4.17-24; Fp 4.8,9; Cl 3.5-10). A responsabilidade do crente quanto à santificação, é destacada pelo escritor aos Hebreus (Hb 12.14-a) (CHAMPLIN, 2002, pg. 647). Sobretudo, a necessidade de uma vida santa é vista ao afirmar que: “[…] sem a santificação ninguém verá ao Senhor” (Hb 12.14-b). A vontade de Deus tem sido sempre de que seus filhos reflitam seu caráter (Tt 2.14). A palavra “santo” tem os seguintes sentidos. Notemos: 

1. Santidade é uma ordem divina. Sendo Deus Santo exige dos seus filhos a santificação (Lv 11.44; Lv 19.1, 2; Lv 20.6; 1ª Pe 1.16). Santidade é o alvo e o propósito da nossa eleição em Cristo (Ef 1.4); significa ser semelhante a Deus, ser dedicado a Deus e viver para agradar a Deus (Rm 12. Ef 1.4; 2.10). A perfeita obra de Deus realiza uma santidade real que conforma ao padrão de Deus (Rm 8.3-4; 1ª Pe 1.15-16). 

2. Santidade é separação. A palavra descritiva da natureza divina é santidade, e seu significado primordial é “separação” (Lv 20.24,26; Is 52.11; Ml 3.18); portanto, a santidade representa aquilo que está em Deus, que o torna separado de tudo quanto seja imundo ou pecaminoso. Quando Ele deseja usar uma pessoa ou um objeto para seu serviço, ele separa essa pessoa ou objeto e em virtude dessa separação tomam-se “santo” (2ª Co 6.14,15; 2ª Tm 2.21). 

3. Santidade é consagração. No sentido de viver uma vida santa e justa, em conformidade com a palavra de Deus e dedicada ao serviço divino; o cristão passa a viver em busca da remoção de qualquer impureza que impossibilite esse serviço. Sendo assim, Deus deu ao seu povo, a nação de Israel, o código de leis de santidade que se acham no livro de Levítico. Entendemos então que o padrão de vida de um povo que busca a santificação é viver uma vida de consagração (2ª Co 6. 16b). A santificação é praticada e aplicada ao viver diário do crente (Pv 4.18; 2ª Co 3.18; 7.1; 2ª Pe 3.18), é a santificação vivencial (2ª Co 7.1; Hb 12.14).

4. Santidade é dedicação. Santificação inclui tanto a separação “de”, como dedicação “a” alguma coisa; essa é a condição dos crentes ao serem separados do pecado e do mundo e feitos participantes da natureza divina, e consagrados à comunhão e ao serviço de Deus por meio do Mediador. Israel é uma nação santa, por ser dedicada ao serviço de Jeová (Êx 19.6); os levitas são santos por serem especialmente dedicados aos serviços do tabernáculo (Nm 8.6-26). A palavra “santo” quando referente aos homens ou objetos, expressa o pensamento de que esses são usados no serviço divino e dedicados a Deus, no sentido especial de serem sua propriedade (2ª Co 6. 17,18). 

4. Santidade é purificação. Embora o sentimento primordial de “santo” seja separação para serviço, inclui também a ideia de purificação. O caráter de Deus age sobre tudo que lhe é consagrado. Portanto, os homens consagrados a ele participam de Sua natureza. As coisas que lhe são dedicadas devem ser limpas e puras (2ª Co 7.1) Sendo assim, entendemos que pureza é uma condição de santidade. A santidade é a marca característica de um verdadeiro servo de Deus, tanto no AT, pois, o caráter santo de Deus deveria ser refletido na vida de Israel (Lv 11.44; Nm 15.40), como no NT, onde nos é dito que a nossa santificação é a vontade direta e perfeita de Deus para nós (1ª Ts 4.3). 

CONCLUSÃO

Para um cristão cuja vida é consagrada a Deus, a divisão entre “secular” e “sagrado”, em certo sentido não são duas coisas diferentes. Ao viver para a glória de Deus, a vida do servo de Deus em todos os aspectos deve ser marcada pela santidade, como exorta o apóstolo Pedro: “[…] em toda a vossa maneira de viver” (1ª Pe 1.15; ver Sl 103.1; 1º Ts 5.23). Nenhum aspecto da nossa vida está excluído desse imperativo divino, até mesmo atividades comuns, como comer e beber, devem ser realizadas para a glória de Deus, como afirma o apóstolo Paulo em 1ª Coríntios 10.31.