TEOLOGIA EM FOCO

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

JÓ E A INESCRUTÁVEL SABEDORIA DE DEUS

 


LEITURA BÍBLICA

Jó 28.1-28. “Na verdade, há veios de onde se extrai a prata, e, para o ouro, lugar em que o derretem. 2 - O ferro tira-se da terra, e da pedra se funde o metal. 3 - O homem pôs fim às trevas e até à extremidade ele esquadrinha, procurando as pedras na escuridão e na sombra da morte. 4 - Trasborda o ribeiro até ao que junto dele habita, de maneira que se não pode passar a pé; então, intervém o homem, e as águas se vão. 5 - A terra, de onde procede o pão, embaixo é revolvida como por fogo. 6 - As suas pedras são o lugar da safira e têm pós de ouro. 7 - Essa vereda, a ignora a ave de rapina, e não a viram os olhos da gralha. 8 - Nunca a pisaram filhos de animais altivos, nem o feroz leão passou por ela. 9 - Ele estende a sua mão contra o rochedo, e revolve os montes desde as suas raízes. 10 - Dos rochedos faz sair rios, e o seu olho descobre todas as coisas preciosas. 11 - Os rios tapa, e nem uma gota sai deles, e tira para a luz o que estava escondido. 12 - Mas onde se achará a sabedoria? E onde está o lugar da inteligência? 13 - O homem não lhe conhece o valor; não se acha na terra dos viventes. 14 - O abismo diz: Não está em mim; e o mar diz: Ela não está comigo. 15 - Não se dará por ela ouro fino, nem se pesará prata em câmbio dela. 16 - Nem se pode comprar por ouro fino de Ofir, nem pelo precioso ônix, nem pela safira. 17 - Com ela se não pode comparar o ouro ou o cristal; nem se trocará por joia de ouro fino. 18 - Ela faz esquecer o coral e as pérolas; porque a aquisição da sabedoria é melhor que a dos rubis. 19 - Não se lhe igualará o topázio da Etiópia, nem se pode comprar por ouro puro. 20 - De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência? 21 - Porque está encoberta aos olhos de todo vivente e oculta às aves do céu. 22 - A perdição e a morte dizem: Ouvimos com os nossos ouvidos a sua fama. 23 - Deus entende o seu caminho, e ele sabe o seu lugar. 24 - Porque ele vê as extremidades da terra; e vê tudo o que há debaixo dos céus. 25 - Quando deu peso ao vento e tomou a medida das águas; 26 - quando prescreveu uma lei para a chuva e caminho para o relâmpago dos trovões, 27 - então, a viu e a manifestou; estabeleceu-a e também a esquadrinhou. 28 - Mas disse ao homem: Eis que o temor do Senhor é a sabedoria, e apartar-se do mal é a inteligência.”

INTRODUÇÃO

Nesta lição veremos uma das mais belas exposições bíblicas sobre a sabedoria. O capítulo 28 foi propositadamente colocado pelo autor para delimitar o fim dos longos discursos dos amigos do homem de Uz. O seu propósito é contrastar a sabedoria meramente humana com a sabedoria revelada, que é de origem divina. Assim, temos o objetivo de declarar que somente Deus é a fonte da verdadeira sabedoria. Essa divina sabedoria se manifesta na vida dos homens de forma prática através do temor do Senhor.

Quem é o sábio segundo as Escrituras? É o que fala diversos idiomas? O que lê mais de 60 livros por ano? O que conhece muito de filosofia? O que conhece muito de teologia? O que tem profundo conhecimento da literatura mundial e nacional? Quem é o sábio segundo as Escrituras?

Aqui não há nenhuma reprovação às atividades contidas nas indagações acima. Pelo contrário, como seria bom que cada vez mais cristãos tivessem uma compreensão profunda, segundo a cosmovisão cristã, acerca de todos esses temos. Mas o que queremos mostrar é que a verdadeira sabedoria, da qual fala o Palavra de Deus fala, tem como fundamento o “temor do Senhor”.

 I. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM NATURAL

1. O empenho na busca da sabedoria. Neste capítulo (28) Jó faz um contraste entre a busca do homem por minérios naturais e a sabedoria. Primeiramente, o patriarca descreve a habilidade do homem na exploração dos minérios naturais (vs. 1-11). Então, ele contrasta o trabalho nas minas com a busca do homem pela sabedoria. Da mesma forma que desde os primórdios o homem usa diligentemente a tecnologia na busca de metais preciosos, assim também ele tem empreendido um grande esforço para encontrar a sabedoria. Para ser encontrado, primeiramente, o minério precisa ser garimpado; a sabedoria igualmente. O minério existe, mas está enterrado; a sabedoria existe, mas está oculta.

2. Como quem explora o minério, assim o homem faz com a sabedoria. No trabalho de mineração requer-se habilidade, diligência, persistência e muita técnica na execução; a busca da sabedoria também demanda tais características. As minas geralmente são locais de difícil acesso e de pouca iluminação, por isso, há a necessidade de se abrir caminho e colocar luz artificial (vs. 3,4). Assim também ocorre no empreendimento do homem pela busca pela sabedoria, mas apesar de todo o esforço nessa procura, Jó crê que isso tem sido feito sem sucesso.

3. De onde vem a sabedoria? Jó demonstra que o homem tem sido exitoso no seu trabalho junto às minas, todavia, incapacitado na “escavação da sabedoria”. Tem procurado, mas não tem encontrado. O homem descrito por Jó é capaz de desviar o curso das águas, a fim de evitar a inundação das minas (v. 12), mas não é capaz encontrar a sabedoria. A sabedoria dos sábios e da academia estava disponível para ser alcançada. Todavia, a sabedoria retratada por Jó não era fruto da tradição nem podia ser obtida pelo método acadêmico. Embora os metais preciosos pudessem ser encontrados na terra escavada, a verdadeira sabedoria não podia ser obtida pelo simples esforço humano. Isso justificava o conflito que havia entre a teoria teológica dos amigos de Jó e a vivência concreta do patriarca. Portanto, a verdadeira sabedoria não era propriedade dos sábios, mas uma dádiva de Deus. Tiago nos lembra de que “se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente e não o lança em rosto; e ser-lhe-á dada” (1.5).

Jó descreve o contraste entre a busca do homem por minérios naturais e a sabedoria.

II. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM COMERCIAL

1. O preço da sabedoria. Podemos ver um paralelo entre a sabedoria exposta por Jó neste capítulo (vs. 12-19) com a descrita no livro de Provérbios. Esse livro, por exemplo, contém várias exortações para se adquirir a sabedoria. Todavia, há uma diferença entre o que Jó ensina e o que Salomão ensinou sobre a sabedoria em Provérbios. Em Salomão, a sabedoria tem um custo e pode ser encontrada, se buscada com diligência e entendimento. Ela tem seu preço e pode ser passada de pai para filho (Pv 4.5,7,23). Por outro lado, para Jó a sabedoria está em outro patamar. Ela tem valor, mas não preço. Como bem destacam estudiosos, a sabedoria em Jó é incomparável, não se pode comprar ou trocar com todos os outros tesouros. É patrimônio exclusivo de Deus; não é possessão dos mestres, por isso, não pode ser transmitida (cf. Tg 1.5).

2. O valor da sabedoria. Sobre o valor da sabedoria vale a pena recordar o que disse certo pregador londrino: “A sabedoria é o uso correto do conhecimento. Conhecer não é ser sábio. Muitos homens têm extensos conhecimentos e, justamente por isso, são os mais tolos. Não há tolo maior do que o tolo instruído. Mas saber como usar o conhecimento é ter sabedoria”. Assim, em Jó, vemos que o homem ainda não aprendeu o verdadeiro preço da sabedoria nem onde encontrá-la (Jó 28.13) e que, por isso, acredita ser fácil adquiri-la.

 3. A sabedoria não é um bem comercial. O patriarca não nega que a sabedoria exista ou que ela pode ser encontrada, mas o que ele diz é que a sabedoria não é um bem comercial. Ela não pode ser encontrada em toda parte, nem mesmo nas mais poderosas forças da natureza primitiva - o abismo (hb. tehon ) e o mar (hb. yam ). A sabedoria é de valor inestimável e só quem pode concedê-la é Deus.

A sabedoria não tem preço, mas tem um valor que remonta ao temor do Senhor.

4. “A Excelência da Sabedoria (vs. 14-19). Tendo falado sobre a riqueza do mundo, que os homens valorizam tanto, e que se esforçam tanto por obter, Jó aqui fala de outra joia mais valiosa, que é a sabedoria e o entendimento, conhecer e ter prazer, em Deus e em nós mesmos. Os que descobriam todos os caminhos e meios para enriquecer se julgam muito sábios; mas Jó não considera que tenham sabedoria. Eles supõem que eles conseguiram o seu objetivo, e trouxeram à luz aquilo que buscavam (v. 11), mas pergunta: ‘Mas onde se achará a sabedoria?’ pois ela não está aqui. Este seu caminho é a sua loucura. Devemos, portanto, buscá-la em outro lugar; e ela não será encontrada em outra parte, senão nos princípios e nas práticas da religião. Há mais conhecimento verdadeiro, satisfação e felicidade na divindade genuína, que nos mostra o caminho para as alegrias do céu, do que na filosofia natural ou na matemática, e que podem nos ajudar a encontrar o caminho para as entranhas da terra” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó o Cantares de Salomão. Rio de Janeiro CPAD, 2010, p. 136).

III. A SABEDORIA VISTA COMO UM BEM ESPIRITUAL

1. Uma verdade revelada. No versículo 20, Jó faz a importante pergunta: “De onde, pois, vem a sabedoria, e onde está o lugar da inteligência?”. Anteriormente, Jó fez um contraste entre o trabalho de um minerador e o de quem procura a sabedoria. Nele, os homens, semelhantes a um mineiro, têm garimpado à procura da sabedoria, mas, mesmo assim, não têm achado. Toda diligência, técnica e determinação não têm sido suficientes para que ele a encontre. A sabedoria não está no centro da terra, nem com os sábios, de forma que possa ser passada pela simples via da tradição. Ela está oculta. Todos os esforços humanos revelam-se inúteis na sua aquisição.

A sabedoria está em Deus e somente Ele pode outorgá-la. Deus é a fonte da sabedoria e somente Ele pode revelá-la.

2. Uma verdade prática. A sabedoria vem de Deus. Ela está em Deus e é Ele quem a revela. A sabedoria divina não é uma verdade a ser apenas contemplada, mas a ser vivida. Ela é prática. Jó diz que a sabedoria está no “temor do Senhor” (Jó 28.28). O temor do Senhor aproxima o homem de Deus e o afasta do mal. A sabedoria, portanto, é relacional. Esse foi um testemunho que o próprio Deus já havia dado sobre Jó. Ao contrário de seus amigos, ele vivia a sabedoria divina. Não apenas a sabedoria contemplativa, tradicional, transmitida pela tradição. A sua sabedoria era uma verdade revelada, por isso, convertia-se em ação prática e relacionamento duradouro.

A sabedoria é uma verdade revelada e tem implicações práticas.

3. “Não podemos alcançar a verdadeira sabedoria, senão pela revelação divina. ‘O Senhor dá a sabedoria’ (Pv 2.6). Entretanto, ela não é encontrada nos segredos da natureza ou da providência, mas nas regras para o nosso próprio proceder. Ao homem, Ele não disse, ‘Suba ao céu, para encontrar ali a felicidade’, nem ‘Desça às profundezas, para encontrá-la ali’. Não, a ‘palavra está mui perto de ti’ (Dt 30.14). Ele te mostrou, ó homem, não o que é grande, mas o que é bom; não o que o Senhor teu Deus deseja fazer contigo, mas o que Ele pede de ti (Mq 6.8). ‘A vós, ó homens, clamo’ (Pv 8.4). Senhor, o que é o homem, para que seja assim visitado! Veja, perceba isto, aquele que tem ouvidos, que ouça o que o Deus do céu diz aos filhos dos homens: O temor do Senhor, isto é a sabedoria. Aqui temos: 1. A descrição da verdadeira religião, a religião pura e imaculada; é temer o Senhor e afastar-se do mal, o que está de acordo com a descrição que Deus faz de Jó (1.1). O temor do Senhor é a fonte e o resumo de toda a religião” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 138).

CONCLUSÃO

Vimos que mesmo com empenho na busca da sabedoria, os resultados não são satisfatórios. A sabedoria não é alcançada. A sabedoria é um bem valioso e caro; ela não tem apenas preço, mas, sobretudo, valor. Ela não pode ser comprada ou comercializada, nem mesmo pode ser herdada. Ela é uma verdade revelada. Somente Deus é a fonte legítima da sabedoria. Ela se materializa no temor do Senhor. Quem teme ao Senhor é um sábio.

GONÇALVES José. A fragilidade humana e a soberania divina Lições bíblicas 4º Trimestre de 2020. CPAD Rio de Janeiro RJ.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

A NOVA ORDEM MUNDIAL E O COVID 19 - PRATE IV

 


É possível dizer que a epidemia de coronavírus é o desenvolvimento mais importante do século XXI. De fato, essa situação causa os comentários de que a epidemia de coronavírus trará uma transformação em escala global.

O mais notável é que a ordem mundial mudará. Muitos especialistas sugerem que uma nova ordem mundial surgirá, sugerindo que a atual ordem mundial enfrentará uma pressão de mudança.

Obviamente, não há dúvida de que entraremos em um novo processo em escala global. No entanto, não é possível dizer que a ordem mundial está enfrentando uma mudança radical após a epidemia de coronavírus e que isso é inevitável.

Quando olhamos para a política mundial dos últimos cinco séculos a partir da perspectiva das ordens mundiais, vemos que três elementos básicos vêm à tona: distribuição de poder, economia política e normas/regras internacionais.

Enquanto a distribuição do poder determina o curso básico da (grande) competição entre poderes, a economia política determina diretamente as regras do sistema e as normas internacionais determinam diretamente os processos de socialização internacional.

Por exemplo, em um sistema em que a distribuição de poder é compartilhada entre mais de três estados, a ordem mundial é multipolar, quando é compartilhada entre os dois poderes, é bipolar e, nos casos em que possui um único ator, é unipolar. Vê-se que a principal dinâmica que permite a transição da ordem mundial de um tipo de polaridade para outro é a guerra.

Enquanto cada guerra principal causa um novo equilíbrio na atual distribuição de poder, a ordem global é reconstruída em um novo paradigma após cada guerra.

O sistema econômico e as normas que formam o núcleo desse paradigma determinam as posições, papéis e modos de ação dos outros em escala global.

Como Estado, ou oponha-se ao sistema ou faça um esforço para ingressar no sistema com o objetivo de tirar proveito das recompensas do sistema.

Para que a ordem mundial pós-coronavírus seja substituída por uma nova, a epidemia de coronavírus deve provocar uma mudança na distribuição de poder atual, paralelamente a isso, os atores que controlam a estrutura e estrutura econômica devem realizar arranjos estruturais que causarão uma mudança nos mecanismos de trabalho do sistema e criarão novos regimes globais no eixo das novas normas.

Nos últimos anos, não houve uma quebra considerável na distribuição de poderes. Por exemplo, nenhum ator que pudesse ser posicionado na categoria de tamanho médio fez uma alteração nesses estatutos de poder, alcançando, assim, um alto estatuto de poder. Ou as potências com estatuto de grande potência não alcançaram a posição de superpotência aumentando as forças do material.

A vinda do Covid-19 surge como estopim de profundas mudanças globais, afetando a vida das pessoas de forma paulatina, mas profunda. Tudo está sendo feito de maneira gradativa para que ninguém sinta o impacto das mudanças. O mega procedimento está sendo formatado na China, candidata a ser o poder central, e disseminado para o resto do mundo. Lá, muitas pessoas não possuem mais individualidade, pois são monitoradas por câmeras inteligentes, sendo rastreadas 24 horas por dia, cujo monitoramento mostra, por aplicativo do governo, o local onde ela está, e até mesmo a temperatura do seu corpo para saberem se não está infectada. Em nome da pandemia, a liberdade de movimentos passa a ser controlada, e todos podem ser confinados a critério do governo, sendo que o direito de ir e vir passa a ser uma utopia, pois é preciso autorização para se movimentar, bem como os locais para onde poderá se dirigir. Para esse controle total, algumas pessoas já estão recebendo chips para serem monitoradas em tempo integral. Esses padrões estão sendo disseminados pelo mundo, e já os vemos acontecer por aqui, nas ações do governador de São Paulo, em paralelo com outros Estados, controlando os movimentos do povo, e submetendo-os às suas vontades. Como cidadãos do mundo, estamos aos poucos perdendo nossa liberdade sem nos darmos conta disso, sendo que as conquistas que havíamos alcançado estão nos sendo paulatinamente retiradas.

Vírus como o SARS, Corona, Ebola, e HIV, foram manipulados nos laboratórios chineses, como está bem documentado, mostrando que essas contaminações são artificiais, pois fazem parte de um grande plano para o domínio da população mundial, de modo que pareçam ações da natureza. É uma arma biológica.

A Nova Ordem Mundial não é uma utopia, pois já está alterando nossas vidas, e não somos valentes o suficiente para nos rebelarmos.

O futuro só é imprevisível para quem não quer ou consegue ver. É preciso acordar para a realidade da existência.

A Nova Ordem Mundial é um grupo de pessoas que busca implantar um governo mundial totalitário. Existem diversas versões para esta história, sendo que uma das mais aceitas é referente a um grupo poderoso da elite mundial, que viria a substituir os países soberanos nos próximos anos.


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Elaborado pelo Pastor Elias Ribas

Igreja Assembleia de Deus

Blumenau - SC

A TEOLOGIA DE ZOFAR: O JUSTO NÃO PASSA POR TRIBULAÇÃO?

 


LEITURA BÍBLICA

Jó 11.1-9 “Então, respondeu Zofar, o naamatita, e disse: 2 - Porventura, não se dará resposta à multidão de palavras? E o homem falador será justificado? 3 - Às tuas mentiras se hão de calar os homens? E zombarás tu sem que ninguém te envergonhe? 4 - Pois tu disseste: A minha doutrina é pura; limpo sou aos teus olhos. 5 - Mas, na verdade, prouvera Deus que ele falasse e abrisse os seus lábios contra ti, 6 - e te fizesse saber os segredos da sabedoria, que é multíplice em eficácia; pelo que sabe que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniquidade. 7 - Porventura, alcançarás os caminhos de Deus ou chegarás à perfeição do Todo-Poderoso? 8 - Como as alturas dos céus é a sua sabedoria; que poderás tu fazer? Mais profunda é ela do que o inferno; que poderás tu saber? 9 - Mais comprida é a sua medida do que a terra; e mais larga do que o mar. 10 - Se ele destruir, e encerrar, ou juntar, quem o impedirá?”

Jó 20.1-10 “Então, respondeu Zofar, o naamatita, e disse: 2 - Visto que os meus pensamentos me fazem responder, eu me apresso. 3 - Eu ouvi a repreensão, que me envergonha, mas o espírito do meu entendimento responderá por mim. 4 - Porventura, não sabes tu que desde a antiguidade, desde que o homem foi posto sobre a terra, 5 - o júbilo dos ímpios é breve, e a alegria dos hipócritas, apenas de um momento? 6 - Ainda que a sua altura suba até ao céu, e a sua cabeça chegue até às nuvens, 7 - como o seu próprio esterco perecerá para sempre; e os que o viam dirão: Onde está? 8 - Como um sonho, voa, e não será achado, e será afugentado como uma visão da noite. 9 - O olho que o viu jamais o verá, nem olhará mais para ele o seu lugar. 10 - Os seus filhos procurarão agradar aos pobres, e as suas mãos restaurarão a sua fazenda.”

INTRODUÇÃO

Nesta lição veremos o discurso de Zofar, o último amigo de Jó a falar na série de debates (Jó 11; 20). Ele insistirá na tese de que o justo não passa por tribulação, à semelhança do que pensavam seus amigos Elifaz e Bildade. Todavia, Zofar é mais duro e impiedoso na acusação contra Jó. Ao contrário de seus amigos, ele faz dois discursos suficientes para derramar seu ressentimento contra o patriarca. Ele o acusa de se levantar contra sabedoria divina e aconselha Jó a voltar-se para Deus.

I. DEUS SE MOSTRA SÁBIO QUANDO AFLIGE O PECADOR

1. Deus grande e sábio. Zofar defende que o sofrimento de Jó fazia parte de um sábio julgamento divino, pois, para ele, Deus demonstra grande sabedoria em reprimir os maus. Por outro lado, os bons jamais passam por tribulação. Para Zofar, se alguém deve algo tem de pagar. Com dureza, o terceiro amigo de Jó não demonstra a mínima compaixão pelo sofrimento do patriarca de Uz ao acusá-lo de que se comporta como um animal irracional, um jumento que não tem entendimento (11.12) ao não perceber a sabedoria divina na condução das coisas. Para Zofar, Jó valeu-se na sua defesa de palavras exageradas (11.2), desrespeitosas (11.3), cheias de justiça própria (11.4) e ignorantes sobre as coisas de Deus (11.5,6).

2. Deus não é indiferente à ação do ímpio. O terceiro amigo de Jó acreditava que ele havia se autodeclarado “puro” e “sem culpa” (Jó 11.4; cf. 9.21; 10.7). Cria também que Deus não é indiferente à ação do ímpio como Jó parecia ter sugerido. Assim, para Zofar, se Deus debatesse com Jó, como era desejo deste, então não haveria dúvidas de que Ele ficaria contra o patriarca e não ao seu favor. Nesse embate, Deus revelaria a Jó os segredos de sua sabedoria e o homem de Uz veria que Ele estava sendo sábio em tratá-lo como merecia. Logo, Jó seria condenado.

3. Tolos se passando por sábios. Jó reage com ironia à “sabedoria” defendida anteriormente por seus amigos (“vós”, Jó 12.2) e agora por Zofar. Este, juntamente com seus amigos, havia se levantado como legítimo representante do verdadeiro saber. Zofar, pois, pretende representar o próprio Deus em seu discurso (Jó 13). Todavia, Jó está convencido de que isso não passava de charlatanismo: “Vós, porém, sois inventores de mentiras e vós todos, médicos que não valem nada” (Jó 13.4). Ele, portanto, está resoluto em deixar os amigos e ir à procura de Deus: “Mas eu falarei ao Todo-Poderoso; e quero defender-me perante Deus.” (Jó 13.3). O patriarca estava certo de que havia uma sabedoria do alto, que seus amigos desconheciam por completo, e, quando revelada, ficaria ao seu lado (cf. cap.28).

No lugar dos julgamentos dos homens, há uma sabedoria do alto que sonda os corações dos que são chamados pelo nome do Senhor, pois este não vê como os homens veem (1º Sm 16.7).

Deus é grande e sábio; os amigos de Jó tentam se passar como representantes dessa sabedoria.

II. A CONVERSÃO COMO RESPOSTA À AFLIÇÃO

1. Purificação moral. Nos versículos 13-20 do capítulo 11, Zofar conclui seu discurso sobre a situação de Jó. Ele não tem dúvidas de que o patriarca está em pecado e, por isso, a única forma de ele se restabelecer é por meio de uma purificação moral. Zofar, portanto, conclama Jó ao arrependimento e conversão. Ele enumera três passos para que isso aconteça: conduta correta (v. 13); oração (v. 13) e renúncia ao pecado (11.14). Então, segundo Zofar, se Jó cumprisse essas condições, reconhecendo que estava em pecado, Deus o restauraria de sua miséria. Entretanto, a ideia de arrependimento de Zofar é mais de natureza externa do que interna. O que está em vista é uma teologia do moralismo salvífico em vez da graça divina. Nesse aspecto, o arrependimento não passava de um mero ritual. Na teologia de Zofar a simples prática desses ritos trazia consigo o poder de conferir o favor divino. Na verdade, isso era o que se conhece hoje como legalismo religioso.

2. É possível negociar com Deus? Estudiosos destacam que Zofar tenta induzir Jó a negociar com Deus a fim de se ver livre de suas dificuldades. Era exatamente isso que Satanás desejava que Jó fizesse (Jó 1.9). O Diabo acusou Jó de ter uma fé interesseira, com base nas promessas de prosperidade em troca de sua obediência. Se Jó tivesse seguido o conselho de Zofar, teria feito exatamente o que o Inimigo queria.

3. A angústia de Jó. Diante das insistentes acusações dos amigos e do silêncio de Deus, Jó dá sinais de desânimo (cap.12-13). Ele manifesta de vez toda a sua condição humana. O justo sofre!

Se Jó seguisse o conselho de Zofar estaria assinando um termo de confissão. Assumindo algo que não havia feito. Ele sabia de sua integridade e, por isso, não se sujeita a esse capricho do amigo. Isso o lança num dilema angustiante. No capítulo 14, ele demonstra que sua esperança está desvanecendo, comparando-se a uma flor que é cortada, uma sombra que desaparece e um empregado que trabalha, mas que logo é dispensado. Qual o sentido da vida nessas circunstâncias? Haveria esperança? Jó parece estar desiludido. Até mesmo uma árvore quando tem seu tronco cortado volta a ter brotos novamente, mas isso não acontecia com o homem. Nesse aspecto, o homem se assemelhava mais a água que evapora ou que se infiltra na terra. Diante desse quadro, Jó se pergunta: “Morrendo o homem, porventura, tornará a viver?” (Jó 14.14). Era a pergunta de um homem crente e piedoso, porém, angustiado, que não tem medo de expressar sua verdadeira condição humana.

Zofar tenta uma espécie de purificação moral de Jó, conclamando-o ao arrependimento ritualístico.

4. “Exortação à humildade e ao arrependimento (11.13-20). Zofar foi insensível até aqui, a ponto de ser ríspido em seu tratamento com Jó. Mas ele não entregou os pontos em relação ao seu antigo amigo como se fosse um caso perdido. Ainda existe a oportunidade de Jó recuperar-se da sua terrível condição. Visto que ele está certo de que algum pecado cometido por Jó é a raiz da sua condição e que o sofrimento de Jó resulta desse pecado, a resposta é simples. Jó deveria estar aberto e humilhar-se em relação ao seu mau procedimento. Isso exige reparação, inclusive uma preparação apropriada do seu coração (13) para colocá-lo num relacionamento correto com Deus. Estende as tuas mãos para ele subentende súplica em oração para remover a iniquidade da sua vida e do seu lar (13-14). Quando isso for feito, Jó estará apto a levantar o seu rosto sem mácula (15). Sua vida será mais radiante e alegre do que antes. Todas as causas do medo serão removidas, e em seu lugar haverá segurança e esperança em sua vida (17-19). Zofar pede para ele olhar em volta. Muitos acariciarão o teu rosto (19) significa: ‘Muitos procurarão o seu favor’ (NVI)” [CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p. 50].

III. DEUS JULGA E CASTIGA OS PECADORES

1. O castigo dos maus. O capítulo 20 contém o segundo discurso de Zofar. Nele, Zofar lembra a Jó que a aparente prosperidade dos ímpios não passa de ilusão e dura apenas um instante. Na verdade, ele repete o que os seus outros amigos já há muito vinham dizendo (Jó 20.5). Os versículos 12 a 14 desse mesmo capítulo são usados por Zofar para comparar o deleite do ímpio à uma comida envenenada. Ela pode saciar, mas proporcionará uma digestão trágica (Jó 20.14). Dessa forma, tudo o que o ímpio adquiriu de forma desonesta e pecaminosa terá que devolver e restituir (Jó 20.18). Esse ímpio terá como adversário o próprio Deus, que o julgará e punirá (Jó 20.27-29).

2. Jó diante de um paradoxo. O capítulo 21 traz a resposta de Jó ao argumento de Zofar. Para o patriarca a tese de Zofar de que os ímpios são sempre punidos era contraditada pela experiência. Os ímpios poderiam sim ser punidos, mas isso nem sempre parecia acontecer, conforme descrito: “Por que razão vivem os ímpios, envelhecem, e ainda se esforçam em poder?” (Jó 21.7). Jó havia constatado que os ímpios pareciam gozar de longevidade e prosperidade (Jó 21.8). Além de terem vida longa, eles passavam seus dias em total regalia e morriam em total felicidade, como podemos constatar neste versículo: “Passam eles os seus dias em prosperidade e em paz descem à sepultura” (Jó 21.13 - ARA).

3. A verdade vem à tona. A lei da retribuição não se aplica a todas as esferas da existência humana nem explica os caminhos soberanos do Altíssimo, pois Deus também “faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos” (Mt 5.45).

Zofar diz que todos os maus são punidos, mas Jó apresenta um paradoxo: a experiência mostra que muitos deles são bem sucedidos.

4. Jó um homem de fé. “Após sua grande declaração de fé em 19.25-27, Jó consegue alcançar um grau marcante de serenidade. Mesmo depois das conclusões mordazes do discurso de Zofar, ele não reage com o mesmo tipo de tensão emocional que caracterizam seus discursos anteriores. Neste capítulo ele começa a pensar mais claramente acerca das questões levantadas em vez de gastar suas energias em erupções emocionais que descrevem seu sofrimento e frustração. No ciclo de discursos, a preocupação de Jó era com o fato de sentir que Deus havia se tornado seu inimigo. Em seguida, ele foi esmagado ao perceber que seus amigos o desertaram, a ponto de se colocarem contra ele. Mas agora o discurso de Zofar faz com que Jó assuma uma posição positiva em relação aos argumentos dos seus amigos. Ele contradiz esses argumentos com evidência prática. Ele constata que prosperidade e retidão não andavam invariavelmente juntas. Também fica evidente pela observação da vida que a maldade nem sempre é castigada” [CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014 p.64].

CONCLUSÃO

Vimos como Jó continua sua defesa contra os argumentos de seus amigos, que insistem em acusá-lo de pecado. Ele está convencido de que é inocente e que não cometeu nada que justifique tamanho sofrimento. Os amigos de Jó, por desconhecerem as razões de seu sofrimento, o acusam de forma impiedosa; e patriarca, por desconhecer a ação de Deus nesse episódio, chega ao limite do desespero e desesperança. Todavia, como das outras vezes, mesmo angustiado e não sabendo como Deus permite tudo isso, Jó não diz palavras blasfematórias contra o seu Criador.

Comentarista: José Gonçalves. A Teologia de Zofar: O justo não passa por tribulação? Lições bíblicas 4º Trimestre de 2020 – CPAD Rio de Janeiro RJ.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

A TEOLOGIA DE BILDADE: SE HÁ SOFRIMENTO, HÁ PECADO OCULTO?

 


Jó 8.1-4 “Então, respondeu Bildade, o suíta, e disse: 2 - Até quando falarás tais coisas, e as razões da tua boca serão qual vento impetuoso? 3 - Porventura, perverteria Deus o direito, e perverteria o Todo-Poderoso a justiça? 4 - Se teus filhos pecaram contra ele, também ele os lançou na mão da sua transgressão.

Jó 18.1 “Então, respondeu Bildade, o suíta, e disse: 2 - Até quando usareis artifícios em vez de palavras? Considerai bem, e, então, falaremos. 3 - Por que somos tratados como animais, e como imundos aos vossos olhos? 4 - Ó tu, que despedaças a tua alma na tua ira, será a terra deixada por tua causa? Remover-se-ão as rochas do seu lugar?

Jó 25.1-5 “Então, respondeu Bildade, o suíta, e disse: 2 - Com ele estão domínio e temor; ele faz paz nas suas alturas. 3 - Porventura, têm número os seus exércitos? E para quem não se levanta a sua luz? 4 - Como, pois, seria justo o homem perante Deus, e como seria puro aquele que nasce da mulher? 5 - Olha, até a lua não resplandece, e as estrelas não são puras aos seus olhos. 6 - E quanto menos o homem, que é um verme, e o filho do homem, que é um bicho!

INTRODUÇÃO

Veremos neste estudo, estudaremos a teologia do segundo amigo de Jó, Bildade. Veremos que ela apresenta o caráter justo e reto de Deus em contraposição ao suposto pecado oculto de Jó. Estudaremos também a defesa de Bildade por uma moralidade rígida, fundamentada em meros preceitos religiosos, sem, contudo, guiar-se por princípios espirituais. E, finalmente, analisaremos a ideia de que, segundo Bildade, Deus é um ser muito distante e que, devido a sua onipotência e grandeza, está muito longe do mortal. Ele, portanto, é inacessível. Ao longo de cada argumento de Bildade, veremos a contraposição de Jó.

I. O PECADO EM CONTRASTE COM O CARÁTER JUSTO E SANTO DE DEUS

1. Deus é justo e reto. A teologia de Bildade (Jó 8.1-22) possui semelhanças com a de seu amigo, Elifaz. Para esse segundo amigo, as ações de Jó não poderiam ser justificadas, pois elas condenavam a Deus, revelando que Ele punia pessoas justas. Por outro lado, como Deus não era injusto, então, Jó deveria reconhecer o seu pecado, pois ele estava sendo terrivelmente afligido. Assim, a teologia de Bildade pode ser classificada em duas esferas: a dos maus e a dos bons. Por exemplo, Bildade assevera que os filhos de Jó foram mortos porque eram maus (8.4); por outro lado, como um homem que alegava ser justo e bom, Jó poderia desfrutar novamente do favor de Deus se reconhecesse o seu pecado (Jó 8.5).

2. Uma compreensão limitada da natureza de Deus. Bildade traz consigo uma compreensão incompleta e limitada da natureza de Deus, o que faz com que ele pense que o sofrimento de Jó seja a consequência de um pecado oculto. Assim, outra compreensão é evidente: Jó deve demonstrar que é realmente bom e que merece o favor de Deus. É uma teologia que destaca uma meritocracia humana no processo de justificação diante de Deus: “Mas, se tu de madrugada buscares a Deus e ao Todo-Poderoso pedires misericórdia, se fores puro e reto, certamente, logo despertará por ti e restaurará a morada da tua justiça” (8.5,6). Logo, o enfoque de Bildade não é a graça que flui de Deus, mas o esforço humano que, por mérito próprio, pretende justificar o homem diante de Deus.

3. A imperfeição humana. Diante da defesa teológica feita por Bildade, Jó pergunta: “Como se justificaria o homem para com Deus?” (Jó 9.2). Ora, Deus é infinitamente sábio e justo. Jó está consciente de que nenhuma perfeição humana o habilitará a aproximar-se de Deus. Dessa forma a autopurificação não passava de presunção: “Ainda que me lave com água de neve, e purifique as minhas mãos com sabão, mesmo assim me submergirás no fosso, e as minhas próprias vestes me abominarão” (Jó 9.30,31).

A linguagem é poética, mas ela afirma objetivamente a doutrina da santidade de Deus e a pecaminosidade humana. Deus é santo e Jó, um pecador. Entretanto, essa não era a questão para Jó. O grande questionamento dele poderia ser feito da seguinte forma: “É verdade que onde há sofrimento há pecado?” Seus amigos responderiam: sim; Jó, um retumbante não.

Deus já havia testemunhado acerca da integridade e da justiça de Jó. Isso deixa claro que nem sempre o sofrimento é fruto de uma imperfeição moral ou resultado de um pecado pessoal. Esse era o caso de Jó.

I. O PECADO VISTO COMO QUEBRA DA MORALIDADE TRADICIONAL

1. Moralismo por tradição. Bildade (Jó 18.1-21) também está comprometido na defesa da moralidade que ele acredita ser a correta. Para ele não havia nada errado quando fez a defesa da justiça divina, da mesma forma que acreditou estar correto quando defendera a moralidade dos seus dias. Todavia, não podemos falar de uma ética ou teologia moral de Bildade, mas simplesmente de um moralismo fundamentado na tradição (18.1-21).

2. A subversão da ordem moral. Na verdade, Bildade simplesmente repete o que já vem sendo defendido por gerações passadas, todavia, acrescentando alguns contornos aos seus pressupostos teológicos. Para ele as desgraças sofridas por Jó ocorreram por causa da quebra da moralidade estabelecida. Como o entendimento de Bildade era o de que o universo é controlado por leis morais inflexíveis, ao quebrá-las Jó sofreu as consequências da mesma forma que sofre quem quebra a lei da gravidade. Nesse aspecto, praticar a justiça é se ajustar à dinâmica dessas leis morais.

Bildade acreditava que de nada adiantava Jó achar que os maus prosperavam, pois isso era apenas ilusão. No seu entendimento, a prosperidade dos maus assemelhava-se as raízes de uma árvore que foram cortadas, cujos ramos, embora mantenham a aparência de verdor por algum tempo, todavia, necessariamente murcharão (18.12-16). Ao não reconhecer isso, Jó estaria tentando subverter a ordem moral aceita.

3. Contemplando a cruz. O capítulo 19 é dedicado à defesa de Jó. É inegável que Jó sabia que Deus atua em um universo moral e que tudo o que acontece está sob seu controle. O homem de Uz estava convicto de que não havia quebrado nenhuma lei moral, sendo, portanto, inocente e que o seu sofrimento não teria razão aparente. Mas diante das acusações dos amigos, ele está disposto a abandonar toda tentativa de se autojustificar (Jó 19. 21-24). Ele quer abandonar toda instância humana e apelar para um mediador (redentor) que defenderá sua causa. Ele não quer mais se defender; ao invés disso, apela para alguém totalmente justo, que vai ficar entre ele e Deus. É ai que ele contempla a cruz: “Eu sei que meu redentor vive” (v. 25). A palavra “redentor” traduz o hebraico goel e significa alguém que defendia um familiar quando este não podia fazer sua própria defesa.

Os primeiros líderes da Igreja entendiam que Jó predisse a ressurreição que será efetuada por Cristo no final dos tempos e da qual ele participará. O patriarca queria a intercessão desse justo, imparcial e eficiente mediador.

4. “Bildade disfere um segundo ataque contra Jó. No seu primeiro discurso (Jó 8), ele lhe tinha dado encorajamento para ter esperança de que tudo lhe sairia bem. Mas aqui não há uma palavra sequer sobre isto; ele ficou mais irritante, e está tão longe de ser convencido pelos argumentos de Jó que está ainda mais exasperado.

I. Ele reprova Jó de maneira contundente, como sendo arrogante e inflamado, e obstinado na sua opinião (vv. 1-4).

II. Ele detalha a doutrina que tinha apresentado antes, a respeito da miséria dos ímpios e a ruína que os acompanha (vv. 5-21). Aqui, ele parece, o tempo todo, se fixar nas queixas de Jó sobre a infeliz condição em que se encontrava, de que ele estava nas trevas, confuso, preso, aterrorizado, e apressando-se para deixar o mundo. ‘Esta’, diz Bildade, ‘é a condição de um homem ímpio; e, portanto, és um deles’. […] Aqui Bildade dispara suas flechas, e também suas palavras amargas, contra o pobre Jó, sem pensar que, embora ele (Bildade) fosse um homem sábio e bom, neste caso estava servindo os desígnios de Satanás, contribuindo para a aflição de Jó” [HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.92].

III. O PECADO EM CONTRASTE COM A MAJESTADE DE DEUS

1. A grandeza de Deus. O terceiro discurso de Bildade é feito para exaltar Deus e rebaixar Jó (Jó 25.1-6). Não há como negar que o longo debate entre Jó e seu amigo, esgotou o poder argumentativo de Bildade, o que fez com que ele repetisse várias vezes o que já havia dito. Na verdade, o seu último discurso não traz nada de novo.

No capítulo 25 ele destaca a onipotência divina. Deus é grande e poderoso (v.2). Por isso nada há de errado quando Bildade defende a majestade do Altíssimo. Todavia, como alguns autores destacam, Bildade acaba por criar um abismo que não existe entre a criatura e o Criador. O Deus defendido por ele não é o revelado na Bíblia. As ideias de Bildade se antecipam àquela defendida milênios depois pelo deísmo do final do século XVIII. Segundo os deístas, Deus criou o mundo, mas ausentou-se dele.

2. Onipotente, mas não ausente. Jó responde a Bildade com ironia: “Como ajudaste aquele que não tinha força e sustentaste o braço que não tinha vigor!” (Jó 26.2). Aqui, Jó não questiona a onipotência divina, mas a aplicação que Bildade faz desse conceito. O conceito de um Deus grandioso, que é soberano em suas ações, não deveria vir acompanhado também do conceito de um ser compassivo e amoroso? Deus não deve ser visto apenas em sua força, mas, sobretudo, por seu amor. Ele nunca exaltou seu poder e grandeza acima do seu amor. Ele não disciplina simplesmente porque é grande, forte e soberano, mas porque ama.

Diferentemente do conceito apresentado por Bildade, o Deus que a Bíblia apresenta é poderoso e glorioso, mas, principalmente, misericordioso e gracioso. Temos de cuidar para que no momento do sofrimento não manchemos a imagem de um Deus que não é só força, mas igualmente amor.

3. Deus é Exaltado e o Homem é Abatido (vv.1-6). “Bildade deve ser elogiado aqui, por dois motivos: 1. Por não mais falar sobre o assunto sobre o qual ele e Jó divergiam. Talvez ele começasse a pensar que Jó estava certo, e então era justo não dizer mais nada sobre isto, como alguém que disputava pela verdade, ficaria satisfeito em ceder a vitória; ou, se ainda se julgasse certo, ainda assim sabia quando já tinha dito o suficiente, e não discutiria incessantemente pela última palavra. Talvez, na verdade, uma razão pela qual ele e os demais deixaram diminuir este debate foi o fato de que percebiam que Jó e eles mesmos não divergiam tanto em opinião como pensavam: eles reconheceram que os ímpios podiam prosperar por algum tempo, e Jó reconheceu que eles seriam destruídos, no final; quão pequena, então, era a diferença! Se os contendores entendessem melhor, uns aos outros, talvez se encontrassem mais próximos uns dos outros, do que imaginavam.

Por falar tão bem sobre o assunto em que ele e Jó estavam de acordo. Se tivéssemos os nossos corações cheios de pensamentos respeitosos e reverentes sobre Deus e pensamentos humildades sobre nós mesmos, não seríamos tão propensos como somos a contender por questões de duvidosa controvérsia, que são assuntos intricados ou insignificantes” [HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Antigo Testamento: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p.125].

CONCLUSÃO

Nesta lição vimos que o debate entre Bildade e Jó assume alguns contornos teológicos muito relevantes. Bildade faz três discursos teológicos e em cada um deles põe em destaque a sua crença. Ele não crê na inocência de Jó e, por isso, atribui o seu sofrimento à existência do pecado. Assim, ele orienta Jó a viver segundo os ditames da tradição e, como consequência, o empurra para um moralismo de natureza apenas religiosa. Por último, quando quer exaltar a grandeza de Deus a qualquer custo, acaba por criar um abismo intransponível entre o Criador e a criatura.

Comentarista: José Gonçalves. Lições bíblicas 4º Trimestre de 2020 – CPAD Rio de Janeiro RJ.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

A TEOLOGIA DE ELIFAZ: SÓ OS PECADORES SOFREM?

 


Jó 4.1-8 “Então, respondeu Elifaz, o temanita, e disse: 2 - Se intentarmos falar-te, enfadar-te-ás? Mas quem poderia conter as palavras? 3 - Eis que ensinaste a muitos, e tens fortalecido as mãos fracas. 4 - As tuas palavras firmaram os que tropeçavam e os joelhos desfalecentes tens fortalecido. 5 - Mas agora, que se trata de ti, te enfadas; e tocando-te a ti, te perturbas. 6 - Porventura não é o teu temor de Deus a tua confiança, e a tua esperança a integridade dos teus caminhos? 7 - Lembra-te agora qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos? 8 - Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade, e semeiam mal, segam o mesmo.”

Jó 15.1-4 “Então respondeu Elifaz o temanita, e disse: 2 - Porventura proferirá o sábio à sabedoria? E encherá do vento oriental o seu ventre, 3 - Arguindo com palavras que de nada servem, e com razões, de que nada aproveita? 4 - E tu tens feito vão o temor, e diminuis os rogos diante de Deus. 

Jó 22.1-5 “Então respondeu Elifaz, o temanita, dizendo: 2 - Porventura será o homem de algum proveito a Deus? Antes a si mesmo o prudente será proveitoso. 3 - Ou tem o Todo-Poderoso prazer em que tu sejas justo, ou algum lucro em que tu faças perfeitos os teus caminhos? 4 - Ou te repreende, pelo temor que tem de ti, ou entra contigo em juízo?”

INTRODUÇÃO

Na lição, iremos estudar a teologia de Elifaz, o temanita; veremos também os debates teológicos travados entre Jó e seus amigos. Analisaremos os principais argumentos de Elifaz, que sustenta uma teologia errônea, afirmando que o justo não pode sofrer. Por fim, veremos segundo a Palavra de Deus os propósitos do sofrimento a qual o Justo pode ser submetido.

I. INFORMAÇÕES SOBRE ELIFAZ

1. Elifaz. É um nome que, em hebraico, traz um forte emblema: “Meu Deus é forte”. Infere-se daí tenham sido seus pais gente de reconhecida piedade. [...] Além de sua amizade com Jó, a única coisa que de Elifaz sabemos é a sua procedência. Era originário de Temã que, segundo se pode apurar, ficava no território que viria a ser ocupado pelos filhos de Edom. Alguns comentaristas são de opinião de que esse diminuto reino não passava de um território localizado no Norte da Arábia. O fato de haver Elifaz discursado em primeiro lugar revela sua avançada idade e posição social. Talvez fosse até o regente de Temã. Mostra-nos isto também que Jó era um homem bem relacionado. Entre os seus amigos, reis e príncipes [ANDRADE, 2006 p. 135].

II. OS DEBATES TEOLÓGICOS NO LIVRO DE JÓ

Os discursos dos três amigos de Jó contêm elementos de verdades, mas devem ser cuidadosamente interpretados no contexto. O problema dos amigos não se achava tanto no que sabiam, mas, sim, no que não sabiam: o sublime propósito de Deus ao permitir que Satanás esbofeteasse Jó (NVI, 2003, p. 815). Além disso, O Senhor repreende a Elifaz e aos seus dois amigos porque não falaram de Deus aquilo que era reto (Jó 42.7). Esta é razão pela qual devemos analisar os discursos dos amigos segundo o contexto geral das Escrituras Sagradas.

1. O livro de Jó é marcado pelos diálogos: dois deles entre Deus e Satanás (Jó 1.6; 2.13) e mais dois entre Deus e Jó (Jó 38.1; 42.6). E entre Jó e seus amigos (Jó 3.1; 31.40), além de quatro discursos de Eliú (Jó 32.1; 37.24). Esses diálogos, principalmente entre Jó e seus amigos, revelam a teologia que cada um deles sustentavam. 

2. A Teologia de Elifaz (Jó 4-5; 15; 22). Elifaz acreditava que o sofrimento indicava pecado. Elifaz declara que o Senhor não permite que aconteçam problemas ao inocente, querendo dizer que Jó deveria estar em pecado. “[...] Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade e semeiam o mal segam isso mesmo” (Jó 4.8). Com essas palavras Elifaz acusa Jó de pecado.

3. A Teologia de Bildade. Bildade entendia que se há sofrimento, há pecado oculto: “Acaso Deus torce a justiça? Será que o Todo-poderoso torce o que é direito? Quando os seus filhos pecaram contra ele, ele os castigou pelo mal que fizeram” (Jó 8.3-4). A argumentação de Bildade se resume da seguinte maneira: Deus não pode ser injusto, logo Jó e sua família estão sofrendo por causa do pecado. Então se houver um pedido por misericórdia o Senhor perdoaria a Jó (Jó 8.5,6). 2.4 A Teologia de Zofar. Zofar compreendia que o justo não passa por Tribulação: “[...] e te fizesse saber os segredos da sabedoria, que é multíplice em eficácia; pelo que sabe que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniquidade” (Jó 11.6). O que está nas entrelinhas dessa afirmação de Zofar é a sua convicção de que o sofrimento de Jó viera, de fato, em razão de um pecado cometido [GONÇALVES, 2020, p. 139].

III. A TEOLOGIA DE ELIFAZ

A teologia de Elifaz como pode ser verificada nas suas palavras proferidas a Jó, é uma teologia baseada na causa e efeito, ou seja, recompensa para os justos e punição para os ímpios. É uma argumentação tão rígida que para Elifaz, o inocente não pode sofrer nenhum dano, somente os pecadores passam por dores e aflições. Notemos: 3.1 Os homens colhem aquilo que semeiam (Jó 4.7-11). Elifaz sustentou uma teologia de caráter retributiva; se Jó está sofrendo é devido algum mal que fez: “Lembra-te, agora: qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos? Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade e semeiam o mal segam isso mesmo” (Jó 4.7,8). Em linhas gerais, defendia Elifaz: se formos fiéis a Deus, e se lhe prestarmos a adoração que Ele nos requer, seremos abençoados de tal forma, que nenhuma desventura nos atingirá. [...] Em linguagem popular: um toma-lá-dá-cá. Ressaltava Elifaz contentar-se Deus com um relacionamento meramente comercial com o ser humano [ANDRADE, 2006 p. 137].

1. Arrependimento em troca de bênçãos (Jó 22.23,24). No terceiro discurso de Elifaz, ele deixa transparecer uma visão puramente simplista e mercantil do arrependimento: “[...] se te converteres ao Todo poderoso, serás edificado; afasta a iniquidade da tua tenda. Então, amontoarás ouro como pó e ouro de Ofir, como pedras dos ribeiros” (Jó 22.23,24). Elifaz está equivocado nesse aspecto; nem sempre o arrependimento sincero resulta em prosperidade material. Homens piedosos podem ser abandonados, perseguidos e maltratados por causa de sua fé, o melhor exemplo disso está na galeria dos heróis da fé (Hb 11.32-38).

2. Os pecadores sofrem nesta terra (Jó 15.17-35). Os amigos de Jó afirmavam, com razão, que o orgulho humano (Jó 15.27; 20.6), a ambição pelas riquezas (Jó 15.28-29; 20.21-21) e a exploração dos pobres (Jó 20.19; 24.21) são pecados que Deus castiga. Mas o seu erro consistia em pensar que esse castigo viria sempre aqui na terra e que seria na mesma medida das ofensas praticadas (Jó 29-35) (NTHL, 2012. p. 572). A Palavra de Deus assegura que o castigo dos ímpios não está limitado a essa existência terrena; se não houver arrependimento sincero diante Deus e abandono das práticas pecaminosas, resta para o homem o sofrimento terrível (Mt 13.42,50; Mc 9.47,48; 25.30) e também eterno (Dn 12.2; Mt 7.13; 25.46).

IV. VERDADES QUE PODEMOS EXTRAIR DO SOFRIMENTO

1. Há propósitos positivos do sofrimento. Se confiarmos em Deus, a dor e o sofrimento pode servir alguns propósitos positivos, incluindo:

(a) Conseguir a nossa atenção.

(b) Permitir que Deus demonstre seu poder (Jo 9.1-3).

(c) Pôr à prova nossa integridade (Jó 2.1-3).

(d) Produzir perseverança e caráter (Rm 5.3-5).

(e) Proporcionar disciplina (Hb 12.10,11).

(f) Eliminar o orgulho egoísta (2ª Co 12.7).

(g) Desenvolver maturidade (Tg 1.2-4).

(h) Edificar a fé (1ª Pd 1.3-7).

(i) Ajudar-nos a nos relacionar com Cristo e a sermos mais parecidos com Ele (Rm 8.28-29).

(j) Proporcionar oportunidade para servir e consolar outras pessoas (2ª Co 1.3-6).

(l) Modificar nossa perspectiva das coisas terrenas para as coisas eternas (2Co 4.17,18).

(m) Fazer com que os rebeldes se convertam a Deus (1ª Co 5.1-5) [STAMPS, 2018, p. 629].

2. No sofrimento adquirimos maturidade. As provações nos tornam maduros e completos (Tg 1.4). Diversos personagens da Bíblia tiveram seu caráter moldado pelas situações adversas que enfrentaram, a saber:

(a) Abrão amadureceu na fé através circunstâncias difíceis pelas quais foi submetido (Gn 12.1-3; 10-20; 22.1-18).

(b) As aflições que José enfrentou o prepararam e o conduziram para o que Deus prometeu (Gn 45.5-8).

(c) O deserto e a escassez de alimentos serviram para moldar a nação de Israel (Dt 8.1-3). Paulo tinha essa consciência, por isso asseverou: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28).

3. O sofrimento é passageiro. Todos os sofrimentos e dificuldades deste tempo presente - doenças, sofrimentos, dor, desapontamentos, injustiça, maus tratos, angústias, perseguição e dificuldades de todo tipo – devem ser consideradas insignificantes, quando em comparação com as bênçãos, os privilégios e a glória que será dada aos seguidores de Cristo na eternidade: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18). Diante dos privilégios que teremos no céu com o Senhor, o sofrimento do cristão é passageiros (Mt 5.12; 2ª Co 4.10; 2ª Co 4.17; Fp 3.20; 1ª Pd 4.13; 1ª Jo 3.1-2). Chegará um dia que Deus: “limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21.4).

CONCLUSÃO

Concluímos que, a Teologia de Elifaz se resume em um falso raciocínio, que o justo não pode sofrer; somente quem sofre são os pecadores. No entanto, a palavra de Deus declara: “...no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”. O sofrimento faz parte da vida cristã (2 Tm 3.12), mas um dia Deus enxugará todas as lágrimas (Ap 21.4).

FONTE DE PESQUISA

1. ANDRADE, Claudionor Correia. O problema do Sofrimento do Justo e o seu propósito. CPAD, 2011.

2. Bíblia Sagrada. Almeida Corrigida Fiel. Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil. 2007.

3. Bíblia de Estudo NTLH. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012.

4. GONÇALVES, Josué. A Fragilidade Humana e a Soberania Divina: o sofrimento e a restauração de Jó. CPAD, 2020.

5. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal para Juventude. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

O LAMENTO DE JÓ

 


Jó 3.1-26 “Depois disto, abriu Jó a boca e amaldiçoou o seu dia. 2 - E Jó, falando, disse: 3 - Pereça o dia em que nasci, e a noite em que se disse: Foi concebido um homem! 4 - Converta-se aquele dia em trevas; 5 - Contaminem-no as trevas e a sombra da morte; habitem sobre ele nuvens; e, ali, repousam os cansados. negros vapores do dia o espantem! 6 - A escuridão tome aquela noite, e não se goze entre os dias do ano, e não entre no número dos meses! 7 - Ah! Que solitária seja aquela noite e suave música não entre nela! 8 - Amaldiçoem-na aqueles que amaldiçoam o dia, que estão prontos para fazer correr o seu pranto. 9 - Escureçam-se as estrelas do seu crepúsculo; que espere a luz, e não venha: e não veja as pestanas dos olhos da alva! 10 - Porquanto não fechou as portas do ventre, nem escondeu dos meus olhos a canseira. 11 - Por que não morri eu desde a madre e, em saindo do ventre, não expirei? 12 - Por que me receberam os joelhos E por que os peitos, para que mamasse? 13 - Porque já agora jazeria e repousaria; dormiria, e, então, haveria repouso para mim14 - com os reis e conselheiros da terra que para si edificaram casas nos lugares assolados, 15 - ou com os príncipes que tinham ouro, que enchiam as suas casas de prata. 16 - Ou, como aborto oculto, não existiria; como as crianças que nunca viram a luz! 17 - Ali, os maus cessam de perturbar e, ali, repousam os cansados. 18 - Ali, os presos juntamente repousam e não ouvem a voz do exator. 19 - Ali, está o pequeno e o grande, e O servo fica livre de seu senhor. 20 - Por que se dá luz ao miserável e vida aos amargurados de ânimo, 21 - que esperam a morte, e ela não vem; e cavam em procura dela mais do que de tesouros ocultos; 22 - que de alegria saltam, e exultam, achando a sepultura? 23 - Por que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu? 24 - Porque antes do meu pão vem O meu suspiro; e os meus gemidos se derramam como água. 25 - Porque o que eu temia me veio, e o que receava me aconteceu.  26 - Nunca estive descansado, nem sosseguei, nem repousei, mas veio sobre mim a perturbação.”

INTRODUÇÃO

Jó passou por uma série de drama; uma série de calamidades se abateu sobre ele de forma catastrófica a ponto de pedir a morte, mas, apesar de ele desejar morre não buscou o suicídio. Ao desejá-la, o patriarca tem como objetivo dar fim ao ciclo de sofrimento que Satanás lhe impôs. Nesse aspecto, a vida de Jó nos passa uma mensagem muito importante, mostrando-nos que, mesmo diante do mais terrível sofrimento, o patriarca não ousou entrar numa “jurisdição” que pertence somente a Deus.

Do estado de riqueza e prosperidade, Jó passou a viver na adversidade; seus amigos foram para consolá-lo, mas ficaram sem palavras ao contemplarem seu debilitado estado de saúde. Entretanto, depois de sete dias, ele rompeu o silêncio com um lamento que veio do fundo da alma.

Ele, indiretamente, nos transmite a importante mensagem de que o único que pode decidir acerca do início e do fim da vida é o Deus Altíssimo.

I. PRIMEIRO LAMENTO DE JÓ (3.1-10)

Jó abre sua boca depois de sete dias. O primeiro lamento de Jó revela seu desejo de esquecer o dia em que nasceu.

1. “Por que nasci?” A dor de Jó era profunda e somente a poesia podia expressar toda a carga emocional vivida por ele. Nesse poema, os dez primeiros versículos do capítulo três são a respeito do primeiro questionamento de Jó: Por que nasci? Esse questionamento sai do íntimo de Jó, assim como ocorre com a alma do salmista (130.1). Da mesma forma, o profeta Jeremias expôs os sentimentos diante de seus conflitos (Jr 20.14-18). Nesse sentido, o patriarca não está sozinho em lamentar diante da dor.

A queixa de Jó:

1.2. Jó amaldiçoa o dia de seu nascimento (vs. 1-10). De maneiras variadas, ele deseja que nunca tivesse nascido.

Bíblia nos fala que quando estamos fracos Ele se mostra forte. Em nossa fraqueza repousa o poder de tudo (2º Co.12.9 e 10).

1.3. A segunda parte de seu discurso. Jó continua dizendo que se ele tinha que nascer, teria sido melhor se tivesse nascido morto (vs. 11-19). A morte é pintada como uma libertação das dificuldades desta vida.

Esse questionamento sai do íntimo de Jó, assim como ocorre com a alma do salmista (130.1). Da mesma forma, o profeta Jeremias expôs os sentimentos diante de seus conflitos (Jr 20.14-18). Nesse sentido, o patriarca não está sozinho em lamentar diante da dor.

O homem de Uz recorre a essa imagem para ilustrar o momento tenebroso que estava vivendo. A lógica é simples: Se Deus não tivesse feito aquele dia, ele não teria sido concebido e, portanto, não passaria por tudo isso. Nesse sentido, o Novo Testamento revela como nosso Senhor é misericordioso e nos trata com amor e ternura nos momentos de tribulação e angústia, pois aos pés da cruz é o melhor lugar para derramar a nossa alma (cf. Jo 11.32,33).

2. Que em lugar da memória viesse o esquecimento. Neste momento de dor, Jó não amaldiçoou a Deus, como Satanás previra; em vez disso, amaldiçoou o dia de seu nascimento. No lugar de ser ocasião de grande celebração pelo dia do nascimento de criança, Jó amaldiçoou esse dia por ocasião do grande sofrimento e decepção. Para o homem de Uz, esse dia teria de ser apagado da memória. Não é assim que muitas vezes nos sentimos? Um dia em que tudo foi mal e temos desejo de nunca mais lembrá-lo.

3. Que em vez da ordem viesse o caos. Mencionamos o desejo de Jó para que o dia de seu nascimento não tivesse entrado no calendário e, que dessa forma, tanto esse dia como essa noite jamais tivessem existido. No lugar da luz que raiou por ocasião do nascimento dele, e que revelou todo seu sofrimento, o patriarca desejou que as trevas dominassem (vv. 4-7). E por que? Porque em vez da paz veio a dor; em vez da ordem, o caos. Desse dor; em vez da ordem, o caos. Desse raciocínio, Jó menciona a imagem do Leviatã. Este famoso e assombroso animal marinho simboliza o caos.

O homem de Uz recorre a essa imagem para ilustrar o momento tenebroso que estava vivendo. A lógica é simples: Se Deus não tivesse feito aquele dia, ele não teria sido concebido e, portanto, não passaria por tudo isso. Nesse sentido, o Novo Testamento revela como nosso Senhor é misericordioso e nos trata com amor e ternura nos momentos de tribulação e angústia, pois aos pés da cruz é o melhor lugar para derramar a nossa alma (cf. Jo 11.32,33).

II. SEGUNDO LAMENTO DE JÓ: POR QUE NÃO NASCI MORTO? (3.11-19).

O segundo lamento de Jó revela o desejo de ter sido abortado.

1. Descansando em paz. Os intérpretes observam que o discurso de Jó a partir do versículo onze muda de amaldiçoar para reclamar. A partir desse versículo, Jó passa reclamar por não ter nascido morto. Para ele nascer morto teria sido melhor do que existir naquelas condições (v. 11-13). Era a melhor maneira de não passar por toda aquela tribulação. Essas palavras de Jó revelam uma coisa: Ele queria descanso de todo o seu sofrimento. O que Jó pedia era uma possibilidade real, pois muitos fetos nascem mortos (vv. 16). Para ele a morte era uma forma de descansar em paz (vs. 13-15).

2. Livre de tribulações. O dilema de Jó aumenta à medida que o seu sofrimento ganha intensidade. Ele continua com seu argumento da “não-existência” (vs. 16-19). Ele está convencido de que se não tivesse se tornado um “ser”, nada disso estaria acontecendo. Ele desejava ter sido como um “natimorto”, um feto que nunca viu a luz (v.16).

A palavra hebraica nephel, usada no versículo 16 como “natimorto”, possui o sentido de “um aborto espontâneo” e é traduzido dessa forma em Eclesiastes 6.3 e Salmo 58.8. Aqui em nenhum momento Jó faz uma apologia ao aborto, mas usa-o no sentido metafórico de “descanso do sofrimento”. No lugar de ter sido abortado, ele nasceu e foi lançado no mundo da tribulação. O raciocínio é claro: Para os que morreram cessaram as angústias e tribulações da vida presente.

3. Uma realidade para o cristão. O Novo Testamento nos ensina que enquanto estivermos neste mundo estaremos sujeitos à dor, ao luto, ao sofrimento (Fp 4.11,12). Mas, ao mesmo tempo, temos uma promessa consoladora de Jesus (Jo 16.33, cf. Fp 4.13).

4. Jó lamenta seu nascimento. Se a morte tivesse sido o seu destino logo no início, então suas maiores esperanças teriam sido alcançadas havia muito tempo- então, haveria repouso para mim (13). Entre os versículos 14 e 19 há observações acerca do fato de que todos os homens são iguais diante da morte.

Os reis (14), os ricos (15), os maus 17) cessam de perturbar, e, ali, repousam os cansados. Moffat interpreta o pensamento dos lugares assolados (14) como ‘reis L.J que constroem pirâmides para si mesmos’. Os presos não são mais incomodados por aqueles que os oprimiam (18) e mesmo os escravos estão livres de seu senhor (19). Em seu desespero, Jo pode apenas esperar pelo alívio que a morte poderia lhe trazer” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF Earl C. (et al. Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.34).

III. TERCEIRO LAMENTO DE JP: POR QUE CONTINUO VIVO? (3.20-26)

O terceiro lamento de Jó revela a desistência da vida por causa do sofrimento.

1. Vale a pena viver? Nessa terceira seção do capítulo três Jó faz uma quarta pergunta (3.20): “Por que se dá luz ao miserável, e vida aos amargurados de ânimo?”. As outras perguntas estão em 3.1; 3.12; 3.16. A palavra hebraica amel, traduzida aqui como “miserável”, é usada no sentido de alguém cuja vida é atribulada pela miséria e que, por isso, torna-se incapaz de exercer suas funções. Em outras palavras, para Jó a vida havia se tornado intolerável.

2. Sem o favor de Deus? Jó novamente volta a indagar: “Por que se dá luz ao homem, cujo caminho é oculto, e a quem Deus o encobriu?” (Jó 3.23). A pergunta busca o significado do sentido de todo aquele processo. Ela busca compreender o porquê de Deus permitir o sofrimento. Aqui há um paralelo com Provérbios 4.18, onde é dito que “o caminho do justo é como a luz da aurora que brilha mais e mais até ser dia perfeito”.

Na literatura sapiencial, a palavra hebraica traduzida como “caminho” é derek e se refere ao caminho da sabedoria de Deus, que conduz a vida. Para o patriarca esse fato havia se tornado um paradoxo, pois ele não sabia por que Deus escolheu para ele o caminho do sofrimento.

3. Um caminho de sabedoria e maturidade. Muitas vezes sentimo-nos iguais a Jó, desorientados, passando por uma via dolorosa do sofrimento. E como ele, não imaginamos nem compreendemos que Deus está agindo. É preciso, porém, olhar para o alto onde Cristo vive (Cl 3.1-4). Nele, podemos manter o equilíbrio e confiança durante a tormenta e, assim, trilhar um  caminho de sabedoria e maturidade no sofrimento

4. “Jô veio à luz; ele foi trazido à Vida (20); Jó estava perdido e Deus o encobriu (23). Tudo isso ocorre contra sua vontade ou, pelo menos, sem que ele tenha alguma oportunidade de escolha. Em sua miséria ele espera a morte. A morte seria como tesouros Ocultos a serem procurados ou algo de que ele poderia se alegrar sobremaneira (21-22). Mas mesmo isso é negado a Jo. Moftat interpreta a primeira parte do versículo 23: ‘Por que Deus dá à luz à um homem que está no fim de suas forças?

A miséria de Jó se tornou tão desmedida que seus gemidos (expressão de agonia) se derramam como água (24) em uma corrente vasta e ininterrupta. A Sua vida tornou-se tão difícil que tudo que ele precisa fazer é temer por mais agonia, e isso, de fato, acontece (25). O sofrimento de Jó não tinha fim. Ele não teve qualquer oportunidade para experimentar descanso, sossego e repouso. Velo sobre mim a perturbação (26) pode ser traduzido apropriadamente como: ‘A perturbação vem continuamente’ ” (CHAPMAN, Milo L.; PURKISER, W. T.; WOLF, Earl C. (et al). Comentário Bíblico Beacon: Jó a Cantares de Salomão. Rio de Janeiro: CPAD, 2014, p.34).

CONCLUSÃO

Nesta lição vimos o dilema de Jó. Desconhecendo a razão das adversidades que se abateram sobre ele, o patriarca não negou a Deus nem o amaldiçoou. Todavia, ele expôs toda a sua humanidade, de forma que o leitor que apenas o contempla sem, contudo, participar de seu drama, tem dificuldade de entender seu lamento, principalmente, quando ele se dirige a Deus. E o lamento de um corpo ferido e de uma alma, que mesmo amando a Deus, se derrama angustiada.

GONÇALVES José. O lamento de Jó. 4º trimestre de 2020 . CPAD – Rio de Janeiro RJ.