Jó 4.1-8 “Então, respondeu Elifaz, o temanita, e disse: 2 - Se intentarmos falar-te, enfadar-te-ás? Mas quem poderia conter as palavras? 3 - Eis que ensinaste a muitos, e tens fortalecido as mãos fracas. 4 - As tuas palavras firmaram os que tropeçavam e os joelhos desfalecentes tens fortalecido. 5 - Mas agora, que se trata de ti, te enfadas; e tocando-te a ti, te perturbas. 6 - Porventura não é o teu temor de Deus a tua confiança, e a tua esperança a integridade dos teus caminhos? 7 - Lembra-te agora qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos? 8 - Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade, e semeiam mal, segam o mesmo.”
Jó 15.1-4 “Então respondeu Elifaz o temanita, e disse: 2 - Porventura proferirá o sábio à sabedoria? E encherá do vento oriental o seu ventre, 3 - Arguindo com palavras que de nada servem, e com razões, de que nada aproveita? 4 - E tu tens feito vão o temor, e diminuis os rogos diante de Deus.
Jó 22.1-5 “Então respondeu Elifaz, o
temanita, dizendo: 2 - Porventura será o homem de algum proveito a Deus? Antes
a si mesmo o prudente será proveitoso. 3 - Ou tem o Todo-Poderoso prazer em que
tu sejas justo, ou algum lucro em que tu faças perfeitos os teus caminhos? 4 -
Ou te repreende, pelo temor que tem de ti, ou entra contigo em juízo?”
INTRODUÇÃO
Na lição, iremos estudar a teologia de
Elifaz, o temanita; veremos também os debates teológicos travados entre Jó e
seus amigos. Analisaremos os principais argumentos de Elifaz, que sustenta uma
teologia errônea, afirmando que o justo não pode sofrer. Por fim, veremos
segundo a Palavra de Deus os propósitos do sofrimento a qual o Justo pode ser
submetido.
I. INFORMAÇÕES SOBRE ELIFAZ
1. Elifaz. É um nome que, em hebraico, traz um forte emblema: “Meu Deus é forte”. Infere-se daí tenham sido seus pais gente de reconhecida piedade. [...] Além de sua amizade com Jó, a única coisa que de Elifaz sabemos é a sua procedência. Era originário de Temã que, segundo se pode apurar, ficava no território que viria a ser ocupado pelos filhos de Edom. Alguns comentaristas são de opinião de que esse diminuto reino não passava de um território localizado no Norte da Arábia. O fato de haver Elifaz discursado em primeiro lugar revela sua avançada idade e posição social. Talvez fosse até o regente de Temã. Mostra-nos isto também que Jó era um homem bem relacionado. Entre os seus amigos, reis e príncipes [ANDRADE, 2006 p. 135].
II.
OS DEBATES TEOLÓGICOS NO LIVRO DE JÓ
Os discursos dos três amigos de Jó contêm elementos de verdades, mas devem ser cuidadosamente interpretados no contexto. O problema dos amigos não se achava tanto no que sabiam, mas, sim, no que não sabiam: o sublime propósito de Deus ao permitir que Satanás esbofeteasse Jó (NVI, 2003, p. 815). Além disso, O Senhor repreende a Elifaz e aos seus dois amigos porque não falaram de Deus aquilo que era reto (Jó 42.7). Esta é razão pela qual devemos analisar os discursos dos amigos segundo o contexto geral das Escrituras Sagradas.
1. O livro de Jó é marcado pelos diálogos: dois deles entre Deus e Satanás (Jó 1.6; 2.13) e mais dois entre Deus e Jó (Jó 38.1; 42.6). E entre Jó e seus amigos (Jó 3.1; 31.40), além de quatro discursos de Eliú (Jó 32.1; 37.24). Esses diálogos, principalmente entre Jó e seus amigos, revelam a teologia que cada um deles sustentavam.
2. A
Teologia de Elifaz (Jó 4-5; 15; 22). Elifaz acreditava que o sofrimento
indicava pecado. Elifaz declara que o Senhor não permite que aconteçam
problemas ao inocente, querendo dizer que Jó deveria estar em pecado. “[...]
Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade e semeiam o mal segam isso
mesmo” (Jó 4.8). Com essas palavras Elifaz acusa Jó de pecado.
3. A Teologia de Bildade. Bildade entendia que se há sofrimento, há pecado oculto: “Acaso Deus torce a justiça? Será que o Todo-poderoso torce o que é direito? Quando os seus filhos pecaram contra ele, ele os castigou pelo mal que fizeram” (Jó 8.3-4). A argumentação de Bildade se resume da seguinte maneira: Deus não pode ser injusto, logo Jó e sua família estão sofrendo por causa do pecado. Então se houver um pedido por misericórdia o Senhor perdoaria a Jó (Jó 8.5,6). 2.4 A Teologia de Zofar. Zofar compreendia que o justo não passa por Tribulação: “[...] e te fizesse saber os segredos da sabedoria, que é multíplice em eficácia; pelo que sabe que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniquidade” (Jó 11.6). O que está nas entrelinhas dessa afirmação de Zofar é a sua convicção de que o sofrimento de Jó viera, de fato, em razão de um pecado cometido [GONÇALVES, 2020, p. 139].
III. A TEOLOGIA DE ELIFAZ
A teologia de Elifaz como pode ser
verificada nas suas palavras proferidas a Jó, é uma teologia baseada na causa e
efeito, ou seja, recompensa para os justos e punição para os ímpios. É uma
argumentação tão rígida que para Elifaz, o inocente não pode sofrer nenhum
dano, somente os pecadores passam por dores e aflições. Notemos: 3.1 Os homens
colhem aquilo que semeiam (Jó 4.7-11). Elifaz sustentou uma teologia de caráter
retributiva; se Jó está sofrendo é devido algum mal que fez: “Lembra-te, agora:
qual é o inocente que jamais pereceu? E onde foram os sinceros destruídos?
Segundo eu tenho visto, os que lavram iniquidade e semeiam o mal segam isso
mesmo” (Jó 4.7,8). Em linhas gerais, defendia Elifaz: se formos fiéis a Deus, e
se lhe prestarmos a adoração que Ele nos requer, seremos abençoados de tal
forma, que nenhuma desventura nos atingirá. [...] Em linguagem popular: um
toma-lá-dá-cá. Ressaltava Elifaz contentar-se Deus com um relacionamento meramente
comercial com o ser humano [ANDRADE, 2006 p. 137].
1. Arrependimento em troca de bênçãos (Jó 22.23,24). No terceiro discurso de Elifaz, ele deixa transparecer uma visão puramente simplista e mercantil do arrependimento: “[...] se te converteres ao Todo poderoso, serás edificado; afasta a iniquidade da tua tenda. Então, amontoarás ouro como pó e ouro de Ofir, como pedras dos ribeiros” (Jó 22.23,24). Elifaz está equivocado nesse aspecto; nem sempre o arrependimento sincero resulta em prosperidade material. Homens piedosos podem ser abandonados, perseguidos e maltratados por causa de sua fé, o melhor exemplo disso está na galeria dos heróis da fé (Hb 11.32-38).
2. Os pecadores sofrem nesta terra (Jó 15.17-35). Os amigos de Jó afirmavam, com razão, que o orgulho humano (Jó 15.27; 20.6), a ambição pelas riquezas (Jó 15.28-29; 20.21-21) e a exploração dos pobres (Jó 20.19; 24.21) são pecados que Deus castiga. Mas o seu erro consistia em pensar que esse castigo viria sempre aqui na terra e que seria na mesma medida das ofensas praticadas (Jó 29-35) (NTHL, 2012. p. 572). A Palavra de Deus assegura que o castigo dos ímpios não está limitado a essa existência terrena; se não houver arrependimento sincero diante Deus e abandono das práticas pecaminosas, resta para o homem o sofrimento terrível (Mt 13.42,50; Mc 9.47,48; 25.30) e também eterno (Dn 12.2; Mt 7.13; 25.46).
IV. VERDADES QUE PODEMOS EXTRAIR DO SOFRIMENTO
1. Há propósitos positivos do sofrimento. Se confiarmos em Deus, a dor e o sofrimento pode servir alguns propósitos positivos, incluindo:
(a) Conseguir a nossa atenção.
(b) Permitir que Deus demonstre seu poder
(Jo 9.1-3).
(c) Pôr à prova nossa integridade (Jó
2.1-3).
(d) Produzir perseverança e caráter (Rm 5.3-5).
(e) Proporcionar disciplina (Hb 12.10,11).
(f) Eliminar o orgulho egoísta (2ª Co
12.7).
(g) Desenvolver maturidade (Tg 1.2-4).
(h) Edificar a fé (1ª Pd 1.3-7).
(i) Ajudar-nos a nos relacionar com Cristo
e a sermos mais parecidos com Ele (Rm 8.28-29).
(j) Proporcionar oportunidade para servir
e consolar outras pessoas (2ª Co 1.3-6).
(l) Modificar nossa perspectiva das coisas
terrenas para as coisas eternas (2Co 4.17,18).
(m) Fazer com que os rebeldes se convertam
a Deus (1ª Co 5.1-5) [STAMPS, 2018, p. 629].
2. No sofrimento adquirimos maturidade. As provações nos tornam maduros e completos (Tg 1.4). Diversos personagens da Bíblia tiveram seu caráter moldado pelas situações adversas que enfrentaram, a saber:
(a) Abrão amadureceu na fé através
circunstâncias difíceis pelas quais foi submetido (Gn 12.1-3; 10-20; 22.1-18).
(b) As aflições que José enfrentou o
prepararam e o conduziram para o que Deus prometeu (Gn 45.5-8).
(c) O deserto e a escassez de alimentos
serviram para moldar a nação de Israel (Dt 8.1-3). Paulo tinha essa
consciência, por isso asseverou: “E sabemos que todas as coisas contribuem
juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito” (Rm 8.28).
3. O sofrimento é passageiro. Todos os sofrimentos e dificuldades deste tempo presente - doenças, sofrimentos, dor, desapontamentos, injustiça, maus tratos, angústias, perseguição e dificuldades de todo tipo – devem ser consideradas insignificantes, quando em comparação com as bênçãos, os privilégios e a glória que será dada aos seguidores de Cristo na eternidade: “Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” (Rm 8.18). Diante dos privilégios que teremos no céu com o Senhor, o sofrimento do cristão é passageiros (Mt 5.12; 2ª Co 4.10; 2ª Co 4.17; Fp 3.20; 1ª Pd 4.13; 1ª Jo 3.1-2). Chegará um dia que Deus: “limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21.4).
CONCLUSÃO
Concluímos que, a Teologia de Elifaz se
resume em um falso raciocínio, que o justo não pode sofrer; somente quem sofre
são os pecadores. No entanto, a palavra de Deus declara: “...no mundo tereis
aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”. O sofrimento faz parte da
vida cristã (2 Tm 3.12), mas um dia Deus enxugará todas as lágrimas (Ap 21.4).
FONTE DE PESQUISA
1. ANDRADE, Claudionor Correia. O problema do Sofrimento do Justo e o seu propósito. CPAD, 2011.
2. Bíblia Sagrada. Almeida Corrigida Fiel.
Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil. 2007.
3. Bíblia de Estudo NTLH. Barueri, SP: Sociedade
Bíblica do Brasil, 2012.
4. GONÇALVES, Josué. A Fragilidade Humana
e a Soberania Divina: o sofrimento e a restauração de Jó. CPAD, 2020.
5. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo
Pentecostal para Juventude. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.
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