TEOLOGIA EM FOCO: ESPÍRITOS EM PRISÃO

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

ESPÍRITOS EM PRISÃO

 


1ª Pedro 3.18,20 “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificado, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito. No qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; Os quais noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram pela água.”

 INTRODUÇÃO

A Bíblia não diz que Jesus desceu ao inferno e pregou aos mortos. Na verdade, essa ideia de que Jesus desceu ao inferno é resultado de uma linha de interpretação de alguns textos bíblicos difíceis.

Como qualquer outro texto da Bíblia que oferece alguma dificuldade de interpretação, existem diversas interpretações defendidas pelos teólogos. Porém, devido a algumas interpretações equivocadas sobre este tema, muitas heresias foram ensinadas ao longo da História da igreja.

Alguns comentaristas bíblicos identificam a pregação aos “espíritos em prisão” mencionada pelo apóstolo Pedro como uma suposta pregação de Cristo, após a Sua morte e antes de Sua ressurreição, aos espíritos desencarnados dos antediluvianos. Outros chegam a propor que Cristo foi pregar, após Sua ressurreição, aos anjos maus que haviam sido desobedientes nos dias de Noé.

Este é um problema real para o expositor, ou o leitor comum da Bíblia. É uma boa regra que as igrejas não sejam apresentadas a uma variedade de interpretações, o que pode causar confusão entre os irmãos, principalmente novos convertidos. Essa passagem está aberta a diferentes interpretações, e não é fácil explicá-las ou mostrar por que uma visão é preferível a outra. O caminho mais sábio é admitir que os detalhes da passagem são fortemente contestados, apresentar uma visão (ou no máximo duas) e evitar fazer quaisquer afirmações que tenham base duvidosa.

I. A RAZÃO DE PEDRO ESCREVER SUA CARTA

1. Os cristãos estavam sendo perseguido pelos falsos mestres. Pedro escreveu a cristão que estavam sendo injustamente insultados pelos pagãos por causa de suas crenças (1ª Pe 2:12; 3:9; 16; 4:14) e pede que seus leitores vejam um contraste entre o mundo mau dos dias de Noé e o mundo em que eles viviam, para encorajá-los a perseverar em seguir a Deus, mesmo sendo a minoria, assim como Noé fazia parte da minoria.

2. As aflições dos cristãos. “E, do mesmo modo que Cristo sofreu pelos pecados da humanidade (1ª Pe 3.18), os crentes foram convidados a sofrer por fazer o bem (1ª Pe 3.17), certos de que receberão a recompensa do Senhor (cf. Mt 5.11, 12). Afinal, todas as autoridades, sejam humanas ou angélicas, estão sujeitas ao Salvador que saiu vitorioso da sepultura e voltou ao Céu para assumir o governo do Universo. O assunto abordado pelo apóstolo nada tem a ver com “vida após a morte”, e sim com fidelidade e perseverança cristã em meio aos insultos dos descrentes”. [Prof. Leandro Quadros, Na Mira da Verdade, vol. 2 (Casa), p. 50-52].

II. O SOFRIMENTO DE CRISTO

1ª Pe 3.18 “Pois Cristo também foi sacrificado uma única vez por nossos pecados, o Justo pelos injustos, com o propósito de conduzir-nos a Deus; morto, de fato, na carne, mas vivificado no Espírito”.

1. Cristo padeceu pelos justo e injustos.

·         Ele não possuía pecado, mesmo tendo vivido neste mundo cheio de pecado (Hb 4.15; 7.26; 9.14).

·         Antes de vir a este mundo, Ele vivia em um céu livre de pecado e maldição.

·         O sofrimento espiritual não era de Jesus, e sim nosso.

·         Mas, com diz (2ª Co 5.21), o único que não conhecia pecado, se fez pecado por nós.

·         Deus fez com que seu Filho pagasse a pena de morte pelos nossos pecados.

·         Para que pudéssemos ser livrados e declarados justo.

·         Cristo nos poupou, levando sobre si a maldição que cabia a nós (Gl 3.13).

·         Cristo tornou nosso substituto tomando nosso lugar.

·         E assim, recebeu o castigo que era nosso.

Deus concede e credita para mim a perfeita satisfação, a justiça e santidade de Cristo, como se eu nunca tivesse pecado nem houvera sido pecador, como se eu tivesse sido perfeitamente obediente como Cristo foi obediente por mim”.

Por meio de Cristo Jesus, Deus nos colocou dentro da sua justiça e graça.

Nos reconciliou consigo. “O justo pelos injustos”.

2. Morto na carne. Em sua natureza humana. Nesse caso, “morto sim, na carne” refere-se à condição de humilhação de Cristo durante Sua encarnação; enquanto “vivificado no espírito” é uma alusão ao Seu estado original de exaltação, reassumindo após Sua ressurreição (Rm 1.3-4; 1ª Tm 3.16). Assim, o fato da pregação “aos espíritos em prisão” ser associada no verso 19 ao Cristo “vivificado no espírito” nos impede de ver qualquer cumprimento dessa pregação durante o Seu estado de humilhação ou encarnação.

3. Jesus foi “vivificado no Espírito”. Pelo original grego, podemos também traduzir essa frase como: “Vivificado pelo Espírito”. Ou seja, o Espírito Santo participou na ressurreição de Cristo (cf. Rm 8.11).

Aquele mesmo corpo morto foi reavivado pelo poder de sua Divindade.

III. NO QUAL TAMBÉM FOI E PREGOU AOS ESPÍRITOS EM PRISÃO

A expressão “no qual” se refere ao Espírito Santo, mencionado na parte final do v. 18. Então, Jesus, através do Espírito Santo, pregou a esses “espíritos em prisão”. No entanto, o elemento humano usado pelo Espírito Santo foi Noé (ver 1ª Pedro 3.20). A menção a esse patriarca fornece a pista para se saber em que tempo foi feita essa pregação.

1. Pregou. A pregação se deu, não no período entre a morte e a ressurreição de Cristo, mas “nos dias de Noé” (3.20), isto é, no tempo anterior ao dilúvio, “enquanto se preparava a arca” (3.20).

Cristo falou pelo Seu Espírito através de Noé, proclamando a mensagem da salvação. Esta passagem não pode ser usada para ensinar que no período entre Sua crucifixão e Sua ressurreição Cristo foi e pregou às almas imortais do povo do tempo de Noé. Adicionalmente ao fato de que a Bíblia não provê apoio ao conceito de que a alma é imortal, em sua segunda epístola Pedro exclui a possibilidade que o povo do tempo de Noé tivesse uma segunda chance e pudessem ainda ser salvos [Andrews Study Bible].

2. Quem seriam esses “espíritos” aos quais foi feita a pregação? A palavra utilizada para espírito frequentemente se refere a seres humanos (1ª Co 14.32; Hb 12.23; 1ª Jo 4.1). Os espíritos (pessoas) do tempo de Noé eram cativos na prisão do pecado. De acordo com a Escritura, somente oito pessoas escaparam dela (1ª Pe 3.20). [Andrews Study Bible].

O próprio contexto nos esclarece: foram os “desobedientes nos dias de Noé, enquanto se preparava a arca” (3.20). Ou seja, a pregação foi feita aos antediluvianos, e não a espíritos desincorporados no Hades. A parte final de 3.20 nos esclarece que “poucos, a saber, oito pessoas, foram salvos”. A palavra “pessoas” aqui, é psychai (psychê significa “alma, vida, pessoa, criatura”). Então, vê-se que os oito “espíritos” que foram salvos são as oito pessoas da família de Noé (ele, a esposa, três filhos e três noras).

Nosso Senhor rendeu Seu Espírito ao Pai, morreu e em algum momento entre morte e ressurreição visitou a esfera dos mortos cumprindo a o fato de o Messias ter mencionado a experiência de Jonas em Sua pregação. Jonas ficou três dias e três noites dentro de um grande peixe (Jn 1.17; 2.10), assim também o Filho do Homem Ele voltaria a viver depois de passar três dias no túmulo (ver Mt 27.63; Mt 12.40).

O verso 20 esclarece esta questão. Pedro não nos diz o que Ele proclamou a estes espíritos encarcerados, mas não poderia ser uma mensagem de redenção, uma vez que anjos não podem ser salvos (Hb 2.16).

Na carta do apóstolo Paulo Efésios 4.8-10 ele diz: “Por isso diz: Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens. 9 - Ora, isto - ele subiu - que é, senão que também antes tinha descido às partes mais baixas da terra? 10 - Aquele que desceu é também o mesmo que subiu acima de todos os céus, para cumprir todas as coisas.”

Ás partes inferiores da terra. Esta frase pode ser entendida como se referindo tanto para a própria terra quanto para o (hades sepultura) aonde o corpo de Cristo é descrito como tendo ido por ocasião da sua morte (At 2.31).

A teologia paulina confirma os acontecimentos em que após morte Cristo foi ao “paraíso” (Lc 16.20; 23.43) e levou ao céu todos aqueles que tinham Nele crido antes de Sua morte e na esperança de um redentor. A passagem não dá grandes detalhes sobre o que ocorreu, mas a maioria dos estudiosos da Bíblia concorda que é isto que significa “levou cativo o cativeiro”.

Entender a passagem como se referindo ao ‘hades’ (sepultura), faz com que a passagem fale especificamente a respeito da morte e sepultamento e Cristo. Foi esta humilhação de Cristo que o levou a Sua exaltação (Fl 2.5-11).

Tudo isto para dizer que a Bíblia não é totalmente clara sobre o que exatamente Cristo fez durante os três dias entre Sua morte e ressurreição. Entretanto, uma segunda linha de pensamento interpreta dizendo que Ele estava pregando a vitória sobre os anjos caídos e/ou descrentes. O que podemos saber ao certo é que Jesus não estava dando às pessoas uma segunda chance para salvação. A Bíblia nos diz que vamos enfrentar julgamento depois da morte (Hb 9.27), não uma segunda chance. Não há nenhuma resposta definitivamente clara para o que Jesus estava fazendo durante o período entre Sua morte e ressurreição. Talvez seja este um dos mistérios que vamos entender uma vez que cheguemos à glória.

3. E qual seria a “prisão” mencionada no v. 19? “A Bíblia nos diz que a prisão é o pecado: “Tira a minha alma do cárcere, para que eu dê graças ao Teu nome…” (Sl 142.7); “Quanto ao perverso, as suas iniquidades o prenderão, e com as cordas do seu pecado será detido” (Pv 5.22). É digno de nota que um dos atos do Messias seria “tirar da prisão o cativo e do cárcere, os que jazem em trevas” (Is 42.7). E isso foi feito por Jesus, para todos aqueles que O aceitaram como Salvador (Mr 16.15-16). Portanto, podemos concluir dizendo que o texto de 1ª Pedro 3.18-20 afirma que Jesus, através da atuação do Espírito Santo em Noé, pregou aos antediluvianos, mas somente oito deles (Noé e sua família) aceitaram a pregação e foram salvos.

O fato de somente oito pessoas terem escapado do dilúvio (Gn 6.5-13; 1ª Pe 3.20) evidencia que os antediluvianos estavam firmemente presos ao pecado. Ninguém, além de Cristo, é capaz de libertar os seres humanos dos hábitos e desejos maus que Satanás usa para acorrentá-los. [CBASD, vol. 7, p. 630].

Já os “espíritos em prisão” (v. 19), que foram o alvo da pregação de Cristo, são identificados no verso 20 como sendo os “desobedientes” antediluvianos dos “dias de Noé”. O termo “espírito” (grego pneuma) é usada neste texto, e em outras partes do Novo Testamento (1ª Co 16.18 e Gl 6.18), como uma referência a pessoas vivas capazes de ouvirem e aceitarem o convite da salvação. Por sua vez, a expressão “em prisão” refere-se obviamente, não a uma prisão literal, mas à prisão do pecado em que se encontra a natureza humana carnal não regenerada (ver Rm 6.1-23; 7.7-25).

Diante disso, somos levados à evidente conclusão de que a pregação de Cristo aos antediluvianos impertinentes foi efetivada através de Noé “divinamente instruído” por Deus (Hb 11.7) e qualificado pelo próprio apóstolo Pedro como “pregador da justiça” para os seus contemporâneos (2ª Pe 2.5).

Pedro evoca, então, à lembrança a analogia de Cristo entre os “dias de Noé” e os últimos dias (ver Mt 24.37-39). Assim como Noé e sua família foram salvos da morte “através da água” do dilúvio pela arca (1ª Pe 3.20), os cristãos são salvos da morte espiritual através do “batismo” “por meio da ressurreição de Jesus Cristo” (verso 21; ver Rm 6.4-14), e que se arrependeram de seus pecados (At 2.38) e creram em Jesus Cristo (Mc 16.15-16).

IV. OS DIAS DE NOÉ

Segundo Génesis 6, Deus olhou para o mundo e viu que estava cheio de pecado pois todas as pessoas só faziam coisas más. Havia violência por toda parte.

Diante desse cenário, Ele disse a Noé que iria mandar um dilúvio para cobrir a terra, a fim de destruir tudo o que tinha vida. Noé era um homem íntegro e obediente a Deus, portanto Deus queria poupar sua vida. Noé recebeu todas as instruções de Deus para construir uma grande arca, onde deveria colocar dois animais de cada espécie, depois deveria entrar com toda a sua família e também com as pessoas que se arrependessem de seus pecados.

Noé fez tudo conforme o que o Senhor Deus havia mandado e entrou na arca com os animais e sua família. Todos achavam que ele era louco e por isso ninguém mais quis entrar na arca. Foi então que começou a chover muito sobre a terra, e toda forma de vida que estava fora da arca morreu. O dilúvio durou quarenta dias. Depois que as águas baixaram, Noé saiu da arca e ofereceu sacrifícios ao Deus do céu. Naquele momento Deus fez uma aliança com Noé e prometeu que jamais destruiria a terra com outro dilúvio.

Nos dias de Noé Deus preparou uma arca para salvá-los e só oito almas foram salvas; Porém, hoje Deus não vai construir uma barca, pois Ele já enviou o Seu Filho Jesus, para salvar todo aquele que n’Ele crê (Mc 16.16).

Deus avisou o povo antediluviano por intermédio de Noé que viria uma destruição, porém, agora Ele adverte através de Sua Palavra que o mundo caminha para o fim. Os sinais que estão registrados nela nos mostram que Jesus está vindo buscar um povo Seu zeloso e de boas obras. Quem estiver preparado subirá em júbilo, mas os despreparados ficarão em grande agonia e seguirão para a condenação eterna.

Está você aproveitando o dia de hoje, o presente momento, para entregar sua vida ao Senhor Jesus, para que esteja a salvo quando vier o dilúvio de fogo? Não se esqueça de que “hoje” é o dia da salvação, “agora” é o momento oportuno.

CONCLUSÃO

Portanto, se lermos dos versos 18-20 perceberemos que os “espíritos em prisão” eram os antediluvianos (sim: a Bíblia usa o termo “espírito em referência a pessoas vivas) que estavam “presos” pelas cadeias do pecado (Pv 5.22).

E, chegaremos à conclusão de que Quem pregou não foi Cristo, mas, o Espírito Santo (não é por acaso que algumas traduções traduzem com letra maiúscula o termo “Espírito”).

Levando-se em conta o contexto bíblico o texto diz o seguinte: “Nos dias de Noé, por meio do Espírito Santo Cristo pregou aos antediluvianos que estavam presos pelas cadeias do pecado”.

Por que distorcer a Bíblia se ela é tão clara? Por que pegar o verso 19 isoladamente e formar uma heresia (mesmo que inconscientemente)?

Esta interpretação defende que o Espírito de Cristo, através da vida de Noé e de outros profetas, pregou aos mortos enquanto estes ainda estavam vivos. Então esta interpretação não exige uma suposta descida de Jesus ao inferno. Por meio do ministério dos profetas, Deus anunciou aos homens a justiça e o arrependimento. No entanto, muitos deles rejeitaram a revelação de Deus através de sua Palavra. Hoje é as Boas Novas de salvação são anunciadas pelos escolhidos na unção do Espirito as almas que estão em prisão.

Segundo a profecia de Isaías (Is 61.1-4), o Ungido veio para restaurar toda a raça humana. Livrá-la da escravidão do diabo, da prisão das trevas espirituais, levantar o homem e levá-lo a se reconciliar com Deus. Esta obra não se completou ainda. Está em desenvolvimento, e somos seus cooperadores, como instrumentos. Por isso depende de nós, também, o êxito da obra messiânica. Qualquer negligência será de consequências eternas.

A obra missionária é a atuação do Ungido de Deus através dos Seus servos, em todo o mundo, cumprindo sua missão de formar um reino ideal para Deus. Amem!

Pr. Elias Ribas

Assembleia de Deus

Blumenau - SC.

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