TEOLOGIA EM FOCO

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A TRADIÇÃO E AUTORIDADE DA ESCRITURA

 

I.       O SIGNIFICADO DO TERMO

“Tradição, literalmente transmissão (latim: traditio, tradere = entregar). Em grego, na acepção religiosa do termo, a expressão é paradosis (παραδοσις).

Tradição mais precisamente é uma transmissão de fatos antigos que passam, oralmente, de lendas ou narrativas ou de valores espirituais de geração em geração. Uma crença de um povo, algo que é seguido conservadoramente e com respeito através das gerações. Uma recordação, memória ou costume.

A tradição quando não assume autoridade canônica e infalível, muito ajuda na sedimentação cultural, histórica e orgânica da comunidade cristã. No entanto, se colocada acima das Sagradas Escrituras, cria-se uma religião farisaica. Quando a cultura, hábitos e os usos e costumes são fixadas na igreja como doutrinas, regra de fé e meio de salvação, Jesus chama de tradições ou doutrina de homens (conforme Mt 15.1-3, 8-9).
 
É a transmissão de ensinos, práticas, crenças de uma cultura de uma geração a outra. A palavra grega para tradição é paradosis, usada no sentido negativo (Mt 15.2; Gl 1.14); e também no sentido positivo (2ª Ts 2.15).

Quando se coloca a tradição acima da Bíblia ou em pé de igualdade com ela a tradição assume uma conotação negativa. Muitas vezes é usada simplesmente para camuflar nossos pecados. O problema dos fariseus e de algumas igrejas é justamente por receber a tradição como Palavra de Deus. Disse alguém: “Tradição é a fé viva dos que agora estão mortos, e tradicionalismo é a fé morta dos que agora estão vivos”.

[...] A tradição e sua presença na sociedade baseiam-se em dois pressupostos antropológicos: a) as pessoas são mortais; b) a necessidade de haver um nexo de conhecimento entre as gerações.
Tem-se por tradição no sentido amplo tudo aquilo que uma geração herda de seus ancentrais e lega para sua geração futura.

Os aspectos específicos da tradição devem ser vistos em seus contextos próprios: tradição cultural, tradição religiosa, tradição familiar e outras formas de perenizar conceitos, experiências e práticas entre as gerações.

No campo religioso é onde mais se aplica este conceito. A tradição toma feições mais peculiares em cada crença. Pode-se destacar a presença da tradição nos grandes grupos religiosos: Judaísmo, Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo” [Tradição - Wikipédia, a enciclopédia livre. http://pt.wikipedia.org/wiki/Tradi%C3%A7%C3%A3o – acesso dia 09/07/2009].

As tradições são ensinos puramente humanos e glorifica o homem. As tradições podem ser divididas em: Filosóficas e humanas.

II.     AUTORIDADE DA ESCRITURA
 

Com a reforma Protestante no século XVI, a Bíblia foi exaltada como única regra de fé. O povo recebeu amplo esclarecimento religioso e passou a enxergar os erros do cristianismo em geral.

Tentando encobrir seus erros, o clero estabeleceu a pseudo-realidade da tradição em matéria de fé. Em suma, usurparam os direitos da Bíblia e criaram um novo evangelho (Gl 1.8), trazendo sobre si mesmos a condenação (Ap 22.18).

A igreja católica romana afirma que existe uma revelação objetiva e sobrenatural. Porém, eles mantêm que esta revelação é parcialmente escrita e parcialmente não escrita, isto é, a regra de fé inclui ambas, as escrituras e a tradição.

Um dos maiores erros da igreja de Roma é o de fazer a igreja e não a Bíblia como autoridade imediata e final em todas as questões de revelação divina. A igreja de Roma julga que as decisões e regras são mais infalíveis e mais autorizadas que a Palavra de Deus escrita e está comprovado por muitas decisões e julgamentos seus. Ela argumenta que havia muitas coisas que Cristo e os apóstolos ensinavam que não estão na Bíblia (Jo 20.30-31; 21.25) registradas, mas estas, é afirmado, têm sido preservado pela igreja e são tão obrigatórias como aqueles preceitos que estão escritos. Porém é a Bíblia quem julga a Igreja e não a Igreja a Bíblia.

Os líderes da igreja Católica vão além dos fariseus nos dias de Jesus e dos apóstolos. Inclusive, os romanistas ensinam que as Escrituras são tão obscuras que precisam de um intérprete visível, presente e infalível; e que o povo, sendo incompetente para entendê-las, é obrigado a crer em quaisquer doutrinas da igreja, mediante seus órgãos oficiais declararem que sejam verdadeiras e divinas.

Independente do testemunho da tradição e da razão, o crente verdadeiro tem na Bíblia o seu guia e juiz infalível. Para ele as declarações da Bíblia são finais. Ele crê que a Bíblia registra as intenções e a vontade de Deus, por isto pode crer nela. Ele aceita o testemunho da tradição e da razão, mas enquanto estas não entram em conflito com a Escritura. Para ele o que importa é: “O que diz a Escritura sobre isto?”

A diferença básica entre o crente que prioriza a sua crença na Bíblia como a autoridade maior em questão de religião, fé e doutrina, e aqueles que confiam primeiramente na tradição e na razão, é que o crente está sob a autoridade da Escritura, a qual ele aceita como a única e inspirada Palavra de Deus.

O capítulo 7 de Mateus a Bíblia registra que Jesus ensinava como quem tem autoridade. Mas, em que se baseava a autoridade de Jesus? Como saber que Ele é verdadeiramente o Cristo como Ele declara ser? Em resposta a estas questões desafiadoras, Jesus dizia: “Se alguém quiser fazer a vontade d’Ele (de Deus), conhecerá a respeito da doutrina, se ela é de Deus ou se falo por mim mesmo” (Jo 7.17). A disposição de fazer a vontade de Deus é prioritária aqui. Neste caso o fazer vem antes do saber. A entrega pessoal à Cristo vem antes da aquisição do conhecimento. A propósito disto, há mais de mil e quinhentos anos, Agostinho disse: “Creio, logo sei”.

A autoridade tem a ver com a vontade, com a obediência e com o fazer. A inspiração relaciona-se com o intelecto, o entendimento com o conhecimento. A questão da inspiração deve seguir-se à autoridade. Somente depois de você fazer o que Cristo lhe manda que faça é que você ficará sabendo que Ele é o Cristo; assim também, só depois de submeter-se à autoridade da Bíblia e obedecer-lhe, é que você saberá que ela é a inspirada Palavra de Deus.

III.  A TRADIÇÃO SEM DÚVIDA É OUTRO EVANGELHO

 
“Mas, ainda nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” (Gl 1.8).
Neste texto o apóstolo Paulo deixa claro que a igreja primitiva já enfrentava os mesmos problemas com falsos obreiros, ou seja, com pregadores do outro evangelho. Há um conflito entre a luz (verdade) e as trevas (mentira) as trevas são representada por pessoas e grupos religiosos que têm nome de que vive, mas, entretanto estão mortas. São pseudo-servos de Cristo, que pregam uma doutrina estranha a aquela que o Senhor Jesus trouxe do céu.

[...] Cipriano, no terceiro século, disse: “A tradição sem a verdade é um erro envelhecido”. Tertuliano firmou: Cristo se intitulou a “Verdade”, mas não a tradição. Os hereges se vencem com a verdade e não com novidades” [OLIVEIRA Raimundo de. SEITAS E HERESIAS. EETAD. 2ª Edição. P.26].

Temos como mandamento amar aqueles irmãos em Cristo que estão sob uma tradição, mas não invalidarmos as verdades bíblicas, pois com certezas os que seguem uma tradição estão fora da verdade. Na carta do apóstolo João ele diz: “O presbítero à senhora eleita e aos seus filhos, a quem eu amo na verdade e não somente eu, mas também todos os que conhecem a verdade. Por causa da verdade que permanece em nós e conosco estará para sempre. A graça, a misericórdia e a paz, da parte de Deus Pai e de Jesus Cristo, o Filho do Pai, serão conosco em verdade e amor” (2ª João 1.1-3).

O reformador Marinho Lutero concorda com o apóstolo João ao declarar que “era maldita a união que sacrificasse a verdade”. Muitas igrejas cristãs têm as mesmas doutrinas, porém as tradições dos homens descaracterizam de uma igreja verdadeira e pura.

Não há tradição bíblica, pura e imutável. O que nos orienta é uma expressão tradicional modificada por força histórica e cultural, por líderes, pela expressão do povo, pelo caráter e gostos nacionais. Se identificarmos as doutrinas dos homens com nossa tradição, estaremos sujeitos ao perigo de navegar pelo oceano, ou voar sobre nuvens, sem bússola. Na proporção que a tradição engole a fé independentemente da palavra autorizada de Deus, ela sofrerá modificações. Estas modificações, por sua vez, impedem o crescimento da verdadeira santidade. Esta concepção legalista anula a Graça, anula o sacrifício de Cristo, anula a redenção proporcionada pela morte de Jesus na cruz. Neste ponto poderíamos traçar um paralelo (ainda que bastante impreciso) com a ação dos judaizantes na Igreja Primitiva, combatida enfaticamente pelo Apóstolo Paulo, na epístola aos Gálatas:

“Mas se, procurando ser justificados em Cristo, fomos nós mesmos também achados pecadores, dar-se-á o caso de ser Cristo ministro do pecado? Certo que não. Porque, se torno a edificar aquilo que destruí, a mim mesmo me constituo transgressor. Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim. Não anulo a graça de Deus; pois, se a justiça é mediante a lei, segue-se que morreu Cristo em vão” (Gl 2.16-21).

Desta forma, anula-se a fé cristã. Este é o argumento que invalida as considerações de quem avalia a religiosidade como um caminho válido para Deus, legítimo e até melhor do que a fé cristã.
O perigo do tradicionalismo sempre será o de fomentar confiança na “lei” e não em Cristo, mesmo pessoas que afirmam que a salvação não vem pelas obras da lei, estão sujeitas as mesmas tentações em que os fariseus caíram.

Pr. Elias Ribas
Igreja Evangélica Assembleia de Deus
Blumenau - SC

FONTE DE PESQUISA

1. Tradição - Wikipédia, a enciclopédia livre.http://pt.wikipedia.org/wiki/Tradi%C3%A7%C3%A3o – acesso dia 09/07/2009.
2.EZEQUIAS SOARES. Manual do Obreiro, ano 22 – nº 11 - 2000. P. 53. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
 3. OLIVEIRA Raimundo de. SEITAS E HERESIAS. 23ª edição/2002. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
4. OLIVEIRA Raimundo de. SEITAS E HERESIAS. EETAD. 2ª Edição. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
5. RAIMUNDO OLIVEIRA, Lições Bíblicas, 1º Trimestre de 1986, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
6. CLAUDIONOR CORRÊA DE ANDRADE. Dicionário Teológico, p. 286, 8ª Edição, Ed. CPAD, Rio de janeiro, RJ.
7. FRANCISCO DA SILVEIRA BUENO, Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, 11 ª Edição, FAE, Rio de Janeiro RJ.
8. SÉRIE APOLOGÉTICA, ICP, Volomes I ao VI, Instituto Cristã de Pesquisa, Site,www.icp.com.br

terça-feira, 2 de outubro de 2012

SER CONTEMPORÂNEO SEM SE COMPROMETER



 Qualquer pessoa que leva a sério o envolvimento no ministério e não fica só na teoria deve estar disposto a enfrentar a tensão que o teólogo Bruce e Shelley chama de “mãos cheias”. Em uma mão temos a responsabilidade de permanecermos fiéis à Palavra de Deus. Na outra, temos a responsabilidade de ministrar para um mundo em constante transformação. Embora, muitos cristãos não se dispõem a viver com esse tipo de pressão e se isolam em um dos dois extremos.

Algumas igrejas, por temerem infecções mundanas, isolam-se da cultura do mundo atual. Ainda que a maioria das igrejas não se isole tanto quanto os menonitas conservadores dos Estados Unidos, que se recusam até a andar de carro, muitas igrejas acham que os anos 50 foram a era dourada e estão determinadas a manter suas congregações naquela época. O que eu admiro nos menonitas é que pelo menos eles são honestos. Eles admitem abertamente que escolheram preservar o estilo de vida do século 19. Por outro lado, as igrejas que tentaram perpetuar a cultura dos anos 50 negam que o fazem, ou tentam provar com alguns versículos que estão fazendo o que era feito na igreja neotestamentária.

Existem também aqueles que, com medo de estar fora de moda, infantilmente imitam as últimas novidades e tendências. Na sua tentativa de se aproximar da cultura atual, comprometem a mensagem e perdem o sentido de separados.

Há uma maneira de ministrar em nossa cultura sem comprometermos nossas convicções? Creio que sim, Jesus nunca rebaixou os Seus padrões, mas sempre começou de onde estava. Ele era contemporâneo sem comprometer a Verdade. O Senhor Jesus atraiu multidões e nunca comprometeu a Verdade. Ninguém o acusou de pregar uma mensagem “água com açúcar”, exceto os zelosos sacerdotes que o criticavam por inveja, (Mc 15.12). Francamente, suspeito que esta mesma inveja ministerial ainda motive alguns líderes.

Os costumes e hábitos humanos mudam conforme a época, e nós também mudamos e a nossa cultura também muda com o passar dos anos e esta mudança sendo sadia não vai comprometer a nossa salvação. Podemos ensinar a Palavra do Senhor com a nova tecnologia e nova cultura sem mudar a parte doutrinária da Sua Palavra. Mudança significa sinal de crescimento espiritual e não de mundanismo. Ser mundano é concordar com o pecado, ou seja, esconder o pecado como fez Acã. Mas mudar a cultura não compromete a sã doutrina bíblica.

Concluímos, então, que o verdadeiro ministro deve ensinar com brilho e sem comprometer o evangelho de Cristo. Deve ter uma postura doutrinaria, sem radicalizar para não perder a graça de Deus e sem abrir as portas para o mundo, para que os crentes fracos venham dar ocasião à carne.

Pr. Elias Ribas
Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Blumenau – SC



QUEM SÃO OS FARISEUS DE HOJE



São os exterminadores da liberdade alheia, que excluem sumariamente as pessoas e se afastam delas, achando que são muito melhores do que elas.
São os que usam luvas de assepsia e jogam no lixo os diferentes, os quais diferem deles quanto ao estilo, conceitos, doutrina, postura moral, ética e religiosa.

São os que têm “complexo de São Pedro” por se julgarem acima da lei, se achando no direito de abrir ou fechar as portas do céu de acordo com seu julgamento distorcido, separando antes do tempo determinado o joio do trigo, quem é salvo ou não, quando Jesus proíbe veementemente tal atitude.

São os que pensam que estão sozinhos no mundo, e acham que eles e sua igreja, serão os únicos que vão ser salvos, e sua doutrina, teologia, liturgia e preceitos morais são os únicos certos e todos ao redor estão errados.

São os que se prendem a teias de legalismos tentando comprar a graça de Deus com obras humanas e ofertas de desempenho pessoal. Estes, na prática, esperam ainda obter o favor de Deus, com boa moralidade e bom comportamento, anulando assim, completamente o sacrifício de Cristo na cruz.

São os que colam máscaras de religiosidade na cara para impressionar o mundo, assumindo ridículas atitudes de bajulação e arrotando vantagens, tecem grandes relatos de proezas espirituais exacerbadas.

São os que ficam à espreita da liberdade dos outros, criticando e disseminado suspeitas de todo tipo, visando salvar sua própria reputação e descobrir e expor à vergonha a reputação de quem não concorda com sua maneira hipócrita de ser.

Se nos tempos de Cristo os fariseus eram os líderes religiosos de sua época, os anciãos do povo, os que compunham o Sinédrio, os líderes que detinham o poder religioso e mantinham o status que econômico da nação, os fariseus de hoje também compõem grande parte da liderança das igrejas de hoje. Eles são os que se assentam nos concílios, nas juntas administrativas, nas comissões gestoras das organizações eclesiásticas, e se reúnem como donos e os chefes das grandes corporações da fé.

São, no entanto, aos olhos infalíveis de Jesus, hipócritas (atores que atuam com máscaras) que disseminaram ervas danosas no meio do trigo da igreja.

Sua atitude, apesar do alto teor moral, é tida diante de Deus, como palha que queima e que, ao passar pelo crivo do fogo purificador dos olhos do Rei, só sobrará cinza e poeira.

São os que ainda hoje Jesus chama de cobras. Venenosas, sepulcros caiados, bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e todo tipo de imundície, os que coem um mosquito e engolem um camelo, guia de cegos, e dignos do inferno.

São esses aos quais Jesus disse que o honram com os lábios mais seu coração está longe Dele, e que adoram a Deus em vão, e cujos ensinos não passam de regras ensinados por homens.

Fico pensando em quão inconsistente é, para Jesus, tanta pompa, tantas construções, tantos cursos infindáveis de educação religiosa, tantas regras proibitivas, tantos sistemas complexos, tantos preceitos inócuos, e que no final pouca coisa sobrará de útil para o Reino, e quase nada que perdurará para vida eterna.

Não seja nem consinta ser um fariseu de hoje. Sai das fileiras da hipocrisia, e venha se alistar no exército dos filhos da luz, que andam na verdade, na simplicidade do Reino e que não tem outra motivação que não seja agradar ao Rei oferecendo um coração sincero e transparente, e motivações que advém do coração, por saber que Ele se compraz (se alegra sobremaneira) da verdade no íntimo.

Pr. Elias Ribas
Igreja Evangélica Assembléia de Deuus
Blumenau - SC