TEOLOGIA EM FOCO

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

AS CAUSAS DA DESUNIÃO DEVEM SER ELIMINADAS


LEITURA BÍBLICA

Neemias 5.1,6-12 “Foi, porém, grande o clamor do povo e de suas mulheres contra os judeus, seus irmãos. 6 - Ouvindo eu, pois, o seu clamor e essas palavras, muito me enfadei. 7 - E considerei comigo mesmo no meu coração; depois, pelejei com os nobres e com os magistrados e disse-lhes: Usura tomais cada um de seu irmão. E ajuntei contra eles um grande ajuntamento. 8 - E disse-lhes: Nós resgatamos os judeus, nossos irmãos, que foram vendidos às gentes, segundo nossas posses; e vós outra vez venderíeis vossos irmãos ou vender-se-iam a nós? Então, se calaram e não acharam que responder. 9 - Disse mais: Não é bom o que fazeis: Porventura, não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos? 10 - Também eu, meus irmãos e meus moços, a juro, lhes temos dado dinheiro e trigo. Deixemos este ganho. 11 - Restituí-lhes hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do mosto e do azeite, que vós exigis deles. 12 - Então, disseram: Restituir-lho-emos e nada procuraremos deles; faremos assim como dizes. Então, chamei os sacerdotes e os fiz jurar que fariam conforme esta palavra.”

INTRODUÇÃO

Nesta Aula trataremos dos conflitos internos decorrentes das injustiças sociais e desordens que levavam o povo judeu a um nível de desunião e hostilidade. A avareza dos ricos trouxe diversos problemas internos, sendo a principal delas a inimizade intensa entre o povo. Evidentemente, os alimentos eram escassos e caros. A inflação, sem contar os tributos que os judeus eram obrigados a pagar ao rei, levara muitos à pobreza, de modo que o povo foi obrigado a pegar dinheiros emprestado dos mais abastados e hipotecar suas propriedades. Alguns foram obrigados inclusive a vender seus filhos e filhas como escravos. E, como suas terras pertenciam a outros, muitos ficaram sem recursos para comprar os filhos de volta. Neemias tinha um grande problema a tratar; não um problema externo, mas interno; não procedente dos inimigos, mas oriundo dos irmãos. Ele agora enfrenta o problema da usura, da injustiça social, da opressão econômica.

Egressos do exílio babilônico os judeus pensavam que encontrariam uma terra que manava leite e mel. Entretanto, eis que se depararam com uma terra prestes a devorá-los. Como se não bastasse as dificuldades decorrentes da relação complexa com os povos vizinhos, havia também muitas injustiças sociais e desordens que levavam o povo a um nível de desunião e hostilidade. Neemias foi usado por Deus para levar os judeus a manterem-se unidos em um só propósito. Semelhantemente, a Igreja nestes últimos dias precisa de ministros que conduzam o rebanho do Senhor à união e uniformidade para que a obra de Deus seja edificada e muitas vidas possam ser salvas.

Este foi o grande clamor do povo e de suas mulheres contra os judeus, seus irmãos. O povo não estava clamando por luxo, mas por pão; não estava clamando por conforto, mas por sobrevivência. Esse clamor é o triste choro da humanidade ao longo dos séculos.

Neemias foi usado por Deus para levar os judeus a manterem-se unidos em um só propósito. O sucesso da obra de Deus não pode ser construído em detrimento dos obreiros. Semelhantemente, a Igreja nestes últimos dias precisa de ministros que conduzam o rebanho do Senhor à união e uniformidade para que a obra de Deus seja edificada e muitas vidas possam ser salvas.

I. A UNIÃO CARACTERIZAVA OS JUDEUS LIBERTOS DO CATIVEIRO

No início, o povo que chegou do exílio era muito unido. Apesar da desolação que a cidade de Jerusalém apresentava, o povo estava ousado a fazer a obra de Deus. Apesar dos inimigos externos, que os afrontavam com grandes ameaças, eles estavam unidos. E essa união foi a força motriz que proporcionou a renovação do altar, da reconstrução do Templo, da restauração dos muros da cidade de Jerusalém e da restauração do culto a Deus conforme os ritos da lei. Todos eles experimentaram um fervoroso avivamento nacional e espiritual. Mas um obstáculo à obra da reedificação surgiu nos relacionamentos sociais entre os judeus. Com o decorrer do tempo, a miséria mostrou suas garras de forma impiedosa e a injustiça social fez surgir conflitos que chegou à beira da irreconciliação. Deus teve que levantar Neemias para trazer o povo de volta à união, à paz e à harmonia.

1. A União do povo de Deus, o vínculo da perfeição.

Ora, se existe um vínculo é porque existe uma ligação, algo que junta dois ou mais seres, ou seja, não se trata de um único ser, mas de um conjunto de seres. Somos o corpo de Cristo, mas, também, “seus membros em particular”, isto é, não perdemos a nossa individualidade, as nossas características próprias quando nos unimos ao Senhor e à sua Igreja.

Esta é uma das grandes riquezas do povo de Deus que, muitas vezes, é desprezada e até alvo de ataque por alguns menos avisados e que não conhecem bem a Palavra de Deus. O povo de Deus tem um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, mas é um povo formado por pessoas que são diferentes umas das outras, que têm grupos que se distinguem por causa de sua cultura, de seu modo de viver, de seus costumes, de sua maneira de servir a Deus.

Todos são santos, todos têm de ser separados do pecado, todos devem servir ao mesmo Senhor, ter a mesma fé, ter o mesmo batismo, ter o mesmo Pai. Todos são irmãos e, portanto, devem amar-se uns aos outros, não devem promover dissensões, lutas e pelejas entre si, porque produzem o fruto do Espírito e não as obras da carne, mas, nem por isso, são iguais. Deus, aliás, não fez uma pessoa igual ou idêntica a outra sobre a face da Terra e, como a Igreja é formada por seres humanos, naturalmente que será um grupo de pessoas que diferem entre si.

2. A bênção do Senhor depende da existência de um ambiente de união entre os irmãos.

O salmo 133 mostra com clareza esse fato:

“Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união! É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a barba, a barba de Arão, que desceu sobre a gola das suas vestes; como o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor ordenou a bênção, a vida para sempre” (Sl 133).

 

Este salmo revela que, somente num ambiente de união, o Espírito Santo atua plenamente. Somente num ambiente de união, cada membro em particular do corpo de Cristo (figurado por Arão, o escolhido para o sacerdócio) se deixa envolver plenamente pelo Espírito Santo (figurado pelo azeite).

Somente num ambiente de união, o refrigério do Espírito Santo pode nos consolar e nos permitir, mesmo neste mundo de sequidão e necessidade, termos a paz, a alegria e o amor divinos (figurados pelo orvalho de Hermom).

Somente num ambiente de união, a Igreja prossegue vitoriosa para se encontrar com o seu Senhor nos ares, cheia de vida espiritual e abençoada nos lugares celestiais em Cristo (Jo15.5,6; Ef 1.3), porque é no ambiente de união que “…o Senhor ordena a vida e a bênção para sempre”.

3. A União reflete a nossa concordância de propósitos.

Foi por causa da união que os judeus, numericamente inferiores aos seus inimigos, conseguiram reconstruir o Templo, e também os muros da cidade. Esta união é também o segredo da vitória da Igreja. Infelizmente, a união que deveria ser encontrada na Igreja nem sempre o é. As pessoas discordam e causam divisões por causa de assuntos sem importância. Alguns sentem prazer em causar tensão, depreciando e desacreditando outros. A união é importante porque:

Faz da Igreja um exemplo para o mundo e ajuda a aproximar as pessoas do Senhor;

Ajuda-nos a cooperar conforme a vontade de Deus, antecipando um pouco do gozo que teremos no Céu.

Todavia, viver em união não significa que concordaremos em tudo; haverá muitas opiniões, da mesma maneira que existem muitas notas em um acorde musical. Mas devemos concordar em nosso propósito na vida: trabalhar juntos para Deus. A união reflete a nossa concordância de propósitos.

4. A Igreja é um Corpo (1ª Co.12.12-31).

A Igreja é comparada com uma “família”, um “exército”, um “templo’, uma ‘noiva”. Mas, a figura predileta de Paulo para descrever a Igreja é o “corpo”. Um corpo tem interação, os órgãos se comunicam entre si. Cada parte é útil para o corpo como um todo, e há interdependência delas (Ef 4.16; Cl.2:19). A Igreja é um Corpo, cuja cabeça é Jesus Cristo. Ora, um corpo não pode subsistir sem que haja união entre seus membros, bem como entre os membros e a cabeça. Antes de existir comunhão precisa existir união. Uma é pré-requisito para a outra. Aceitar a Cristo é também aceitar fazer parte de seu Corpo.

II. A UNIÃO ENTRE OS JUDEUS ESTAVA AMEAÇADA

1. A causa da ameaça.

Neemias identificou quatro causas que estavam afligindo o povo oprimido de Jerusalém e que estavam ameaçando desfazer a união entre o povo de Deus:

1.1. A usura (Ne 5.7). Usura é não se contentar com o que se tem e querer o que é do outro. Usura é aproveitar um momento de infelicidade do outro para apropriar-se do que ele tem. Os nobres se beneficiaram com a crise. Sempre alguém lucra com a crise. A miséria do povo sempre beneficia os gananciosos e usurários. Os nobres estavam agindo como penhoristas, e ainda por cima severos, ao invés de agirem como irmãos (Ne 5.1). Estavam emprestando somente com a melhor garantia e com os piores motivos. O povo estava desesperado e fizeram um grande clamor contra os exploradores. O texto sagrado diz:

“Foi, porém, grande o clamor do povo e de suas mulheres, contra os judeus, seus irmãos” (Ne 5.1).

Por que houve esse clamor? Porque estava ocorrendo uma desmedida exploração dos mais pobres pelos mais ricos que, diante da fome que havia na terra, aproveitaram a ocasião para se enriquecer ainda mais, gerando um quadro de grande servidão por causa das dívidas contraídas pelos mais pobres para que pudessem sobreviver, alimentar-se do necessário. A situação era de calamidade social.

Com esse clamor, Neemias percebeu claramente que não poderia executar a obra da reedificação dos muros e portas de Jerusalém, visto que tal obra exigia a participação de todos, a união de todo o povo, algo imprescindível para se realizar a vontade de Deus. Havia ele conclamado todo o povo à obra e ali estava o povo todo a trabalhar, apesar das angústias vividas, mas esse clamor representava um enorme fator de risco para a continuidade da obra.

De igual maneira, não podemos fazer a obra de Deus se não houver comunhão na Igreja. A Igreja tem de se caracterizar pela comunhão e pela união entre os irmãos, como nos deixa claro a descrição que Lucas faz da igreja primitiva em Jerusalém em At 2.42-47.

Não há como se realizar a contento a obra do Senhor se os relacionamentos sociais dos salvos não forem transformados pelo Evangelho. Por isso, o Senhor Jesus nos ensinou que devemos amar uns aos outros como Ele nos amou, amor esse que não envolveu apenas o aspecto da salvação, mas também a tomada de atitudes concretas para minorar o sofrimento e a carência do povo, inclusive no que respeita aos aspectos terrenos de nossa existência.

1.2. A falta de amor (Ne 5.5-7). “Agora, pois, a nossa carne é como a carne de nossos irmãos, e nossos filhos, como seus filhos; e eis que sujeitamos nossos filhos e nossas filhas para serem servos, e até algumas de nossas filhas são tão sujeitas, que já não estão no poder de nossas mãos; e outros têm as nossas terras e as nossas vinhas. E considerei comigo mesmo no meu coração; depois, pelejei com os nobres e com os magistrados e disse-lhes: Usura tomais cada um de seu irmão. E ajuntei contra eles um grande ajuntamento”.

Os opressores eram irmãos dos oprimidos. Os oprimidos estavam engajados na mesma obra dos opressores - a reconstrução dos muros. Aqueles que foram injustiçados estavam angustiados porque seus filhos eram iguais aos filhos dos exploradores (Ne 5.5): tinham vontade, sentimento, desejos, necessidades. Neemias diz que os nobres estavam explorando não inimigos e estranhos, mas seus “irmãos” (Ne 5.7). A lei de Deus era clara nesse sentido: "Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não te haverás com ele como credor que impõe juros” (Êx 22.25). Quem ama, não explora, mas dá e reparte (1ª Jo 3.17,18; Tg 2.14-17).

Nos dias hodiernos em que vivemos, de crescente desigualdade social apesar do progresso da tecnologia, a Igreja não poderá realizar a obra do Senhor se transferir para o seu interior o mesmo quadro de injustiça social que o mundo está a viver. Muitos, a exemplo do que ocorria nos dias de Neemias, estão se aproveitando de sua posição privilegiada na sociedade e, sem dó nem piedade, estão a se enriquecer às custas do próximo e, o que é mais grave, às custas dos próprios irmãos.

É triste verificarmos que, assim como ocorre no mundo, não são poucos os que fazem da Igreja um local para acumulação de riquezas, para o seu próprio enriquecimento, gerando as mesmas murmurações que foram ouvidas por Neemias junto ao povo e às suas mulheres que, por causa do pão de cada dia, estavam em situação deplorável, com a perda tanto de seu patrimônio quanto de seus familiares, que já se achavam escravizados pelos mais ricos.

1.3. A falta de temor a Deus (Ne 5.9). “Disse mais: Não é bom o que fazeis: Porventura, não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos?”.

Quem anda no temor de Deus não explora o próximo, não se aproveita da miséria alheia para enriquecer-se. Quando perdemos o temor de Deus, a vida perde os referenciais. A impiedade sempre desemboca na perversão. José não adulterou com a mulher de Potifar porque andava no temor de Deus. O que nos livra do pecado é o temor de Deus. Neemias não se rendeu à cultura do ganho ilícito porque ele temia a Deus. Hoje, muitos políticos e até líderes evangélicos capitulam diante do poder do dinheiro e vendem a consciência porque perderam o temor do Senhor.

A melhor forma pela qual a Igreja tem para debelar a extrema desigualdade social é através de uma vida de temor a Deus, de estrita obediência à Palavra de Deus. Não é papel da Igreja assumir filosofias, doutrinas ou pensamentos humanos para tentar criar condições para uma melhor vida sobre a face da Terra, mas lutar e pelejar para que, havendo temor a Deus, esta melhora se realize pela concretização do amor ao próximo.

A presença da injustiça social no meio da Igreja, como se tem verificada cada vez mais entre nós, é mais uma demonstração de que está faltando o temor a Deus entre os que cristãos se dizem ser. O temor a Deus não se apresenta apenas em uma maior devoção individual, mas, também, num relacionamento fraterno e amoroso para com o irmão, na ajuda aos necessitados, a começar pelos de nossa igreja local.

1.4. A falta de testemunho perante o mundo (Ne 5.9). O povo de Deus estava sendo observado pelos olhos críticos do mundo. Quando a Igreja age igual ao mundo, isso é um escândalo e o nome de Deus é blasfemado. Infelizmente, estamos vendo a Igreja evangélica brasileira sendo mais conhecida na mídia pelos seus escândalos do que por seu testemunho. Alguns políticos evangélicos elegem-se em nome de Deus e depois envergonham o evangelho, mancomunando-se com toda sorte de corrupção e roubalheira. O apóstolo Paulo diz que não devemos nos envergonhar do evangelho (Rm 1.16), mas há muitos crentes que são a vergonha do evangelho.

2. A natureza do problema que atingia a vida do povo e que ameaçava a união entre os judeus.

Neemias identificou seis problemas (Adaptado do Livro Neemias, de Hernandes Dias Lopes):

2.1. A fome (Ne 5.1-2). Os judeus estavam trabalhando no muro, mas a panela estava vazia. A fome era uma questão urgente, não dava para esperar. O povo não podia continuar investindo na reconstrução do muro de estômago vazio.

Hoje, a fome é um problema que atinge quase 50% da população mundial. Enquanto uns morrem de fome, outros morrem de comer. Enquanto uns esbanjam, outros lutam desesperadamente para sobreviver. Enquanto uns ficam inquietos por causa de coisas supérfluas, outros se desesperam para ter pão dentro de casa. Há muitos homens, mulheres e crianças perambulando envergonhados pelas ruas das grandes cidades, disputando comida com os cães e porcos nos restos apodrecidos das feiras. Há milhões de crianças abandonadas que vivem sem teto, sem dignidade, sem identidade, perdidas nas ruas, estonteadas pela fome perversa. O problema não é só falta de amor, mas de amor, de solidariedade, de compaixão.

2.2. As dívidas (Ne 5.3). “Também havia quem dizia: As nossas terras, as nossas vinhas e as nossas casas empenhamos, para tomarmos trigo nesta fome”.

A dívida traz desespero mental, degradação social e ruína familiar. Algumas pessoas já tinham hipotecado suas casas e terras para comprar trigo. Não estavam fazendo negócios de investimento arriscado, estavam comprando o pão da sobrevivência. Os ricos aproveitaram o momento de crise, de fome, de aperto para fazerem bons e lucrativos negócios. Uma pessoa faminta, premida pela necessidade de sobrevivência, acaba fazendo negócios que só beneficiam os que querem se locupletar. Os agiotas se enriquecem aproveitando o desespero dos aflitos. Os agiotas não hesitavam em tomar as terras e até mesmo os filhos e as filhas dos pobres infelizes para receberem o seu dinheiro. Essa prática opressora estava em desacordo com a lei de Deus (Dt 23.19,20; 24.10-13). ela também feria o princípio do ano do jubileu (Lv 25.10,14-17,25-27).

A situação era tão aflitiva que o povo e as suas mulheres começaram a clamar não somente a Deus, mas, também, contra os judeus, seus irmãos, a nos revelar que, quando há insensibilidade por parte dos mais aquinhoados em relação ao clamor dos pobres, temos, também, um incentivo e estímulo ao desespero, o que poderá levar, inclusive, os pobres a pecar, deixando de simplesmente clamar para começar a murmurar. Este pecado não será, porém, apenas dos pobres, mas também dos que foram responsáveis por esta situação. Temos consciência disso?

2.3. Os impostos (Ne 5.4). “Também havia quem dizia: Tomamos dinheiro emprestado até para o tributo do rei, sobre as nossas terras e as nossas vinhas”.

Além da fome e das dívidas contraídas para terem o pão de cada dia, ainda tinham de pagar pesados tributos à Pérsia. O pouco que tinham precisava ser repartido para manter o luxo e o fausto dos poderosos.

No Brasil, a carga tributária é uma das mais pesadas do mundo. Cada quilo de produto da cesta básica que se compra no mercado é tributado, o pão que chega à nossa mesa é tributado. O que mais agride o pobre é que os impostos que paga não retornam a ele em benefícios. Na verdade, o pobre passa fome para manter o sistema, muitas vezes corrupto. Cada vez que se cria mais impostos, o dinheiro que deveria vir para ajudar os pobres, cai no ralo da corrupção. As ratazanas esfaimadas que circulam pelos corredores do poder, mordem sem piedade, não apenas o naco que pertence ao pobre, mas devoram os próprios pobres, porque estes, sem pão, sem teto, sem esperança, sucumbem impotentes diante de tamanha selvageria. Como sanguessugas, esses gananciosos insaciáveis, se alimentam do sangue do povo.

2.4. A perda dos bens (Ne 5.5). “No entanto, nós somos da mesma carne como eles, e nossos filhos são tão bons como os deles; e eis que sujeitamos nossos filhos e nossas filhas para serem escravos, algumas de nossas filhas já estão reduzidas à escravidão. Não está em nosso poder evitá-lo; pois os nossos campos e as nossas vinhas já são de outros”.

Os pobres perderam suas casas e suas terras e tornaram-se reféns dos poderosos. Eles trabalhavam, mas não desfrutavam. Eles calejavam as mãos, mas não usufruíam. Eram vítimas de uma injusta opressão econômica. Neemias percebeu que o âmago do problema era a exploração, por isso contendeu com os nobres e magistrados. Os sacerdotes eram os que deviam ter feito esse confronto, mas estavam mancomunados com a corrupção dos ricos (Ne 6.12,14; 13.4,7-9).

2.5. A escravidão, a perda da liberdade (Ne 5.5). Além de entregarem suas casas e propriedades, agora entregaram também seus filhos e filhas para saldarem dívidas. Os ricos passaram a ver pessoas como coisas e compraram seres humanos para serem seus escravos. O trabalho escravo era algo que feria o projeto de Deus. Era uma injustiça clamorosa. Observe a situação contraditória: enquanto Neemias e outros se esforçavam para resgatar os judeus vendidos como escravos aos vizinhos pagãos, a ganância dos ricos anulava esses esforços e forçava os judeus a voltarem à escravidão. O comércio escravagista é uma das páginas mais sombrias da história humana, um dos sinais mais notórios da maldade que tomou conta do homem movido pela ganância.

2.6. A perda da esperança (Ne 5.5). “Não está em nosso poder evitá-lo...”. Os poderosos subornavam os sacerdotes e os juízes; portanto, eram inatingíveis. Os pobres não tinham vez nem voz. Estavam completamente sem forças e sem esperança. Os oprimidos não viam uma saída da caverna das dívidas.

A situação, entretanto, não parece ter sido percebida por Neemias logo de início, pois foi preciso que o povo clamasse insistentemente até o ponto em que “Neemias se enfadou” (Ne 5.6). É preciso ter perseverança, mesmo no clamor por causa da necessidade e da carência. Caso o povo e as suas mulheres tivessem, diante de uma aparente indiferença inicial de Neemias, cessado de clamar, não teria havido qualquer modificação na situação adversa que estavam a passar.

O clamor do pobre e do necessitado tem de ser ouvido pela Igreja que, não só no seu interior, mas também na sociedade, deve fazer com que haja uma perseverança, uma persistência neste clamor, até que haja o “enfado” de quem pode modificar a situação. Espelhemo-nos no exemplo da viúva da parábola do juiz iníquo (Lc 18.1-8) que, apesar de saber que o juiz não queria fazer justiça a pessoa alguma, não desanimou e perseverou em sua demanda, até que conseguiu que a justiça fosse feita.

Qual é a nossa situação diante da grande injustiça social que existe tanto dentro da Igreja quanto na sociedade em que vivemos? Será que somos como o juiz iníquo? Sensibilizemo-nos com o clamor do pobre e do aflito para que possamos também ser ouvidos pelo Senhor e pelos homens.

III. NEEMIAS SOLUCIONOU O PROBLEMA

Neemias 5.6-12: “Ouvindo eu, pois, o seu clamor e estas palavras, muito me aborreci. 7 - Depois de ter considerado comigo mesmo, repreendi os nobres e magistrados e lhes disse: Sois usurários, cada um para com seu irmão; e convoquei contra eles um grande ajuntamento. 8 - Disse-lhes: nós resgatamos os judeus, nossos irmãos, que foram vendidos às gentes, segundo nossas posses; e vós outra vez negociaríeis vossos irmãos, para que sejam vendidos a nós? 9 - Então, se calaram e não acharam o que responder. Disse mais: não é bom o que fazeis; porventura não devíeis andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos? 10 - Também eu, meus irmãos e meus moços lhes demos dinheiro emprestado e trigo. Demos de mão a esse empréstimo. 11- Restituí-lhes hoje, vos peço, as suas terras, as suas vinhas, os seus olivais e as suas casas, como também o centésimo do dinheiro, do trigo, do vinho e do azeite, que exigistes deles. 12 - Então, responderam: Restituir-lhes-emos e nada lhes pediremos; faremos assim como dizes. Então, chamei os sacerdotes e os fiz jurar que fariam segundo prometeram.

Para resolver o grave problema da injustiça social, que estava causando insatisfação ao extremo e desunião entre o povo, Neemias apontou cinco soluções:

1. Ele reagiu fortemente, aborreceu-se (Ne 5.6)

Neemias era um homem de Deus e, embora tenha resistido um pouco ao clamor do povo e de suas mulheres, “aborreceu-se”. Este aborrecimento foi uma bênção, visto que, por primeiro, foi uma conversão interior. O próprio Neemias afirma que “considerou consigo mesmo no seu coração” (Ne 5.7). Coisa boa é quando nos sensibilizamos por causa do clamor do pobre e do necessitado, quando sentimos compaixão pelo próximo, quando nos deixamos sensibilizar pela situação de injustiça por que passa a humanidade.

Neemias, então, não ficou passivo diante da injustiça social que imperava naquela época. Ele reagiu fortemente. Ele se aborreceu. Ele se encheu de ira. Neemias repreendeu os nobres e magistrados e lhes disse: “Sois usurários, cada um para com seu irmão” (Ne 5.7).

O conformismo com a injustiça é um grave pecado aos olhos de Deus. A ira em si não é pecado (Ef 4.26; Sl 7.11; Mc 3.5). A ira deve ser focada no mal e não contra quem pratica o mal. A ira é pecaminosa quando nós a despejamos sobre nossos filhos, cônjuge, irmãos ou quando nutrimos mágoa ou desejamos vingança. Fomos chamados de protestantes exatamente pela inconformação com o erro e com o pecado. Os desmandos no trato da coisa pública e a corrupção endêmica e sistêmica em nosso país deveriam fazer ferver o sangue em nossas veias.

2. Refletiu – “considerou consigo mesmo no seu coração” (Ne 5.7-ARC).

Neemias era um líder prudente. Em vez de fermentar ainda mais a situação, falando irrefletidamente, ponderou o assunto consigo mesmo, aconselhou-se consigo mesmo, ruminou a situação antes de tomar uma decisão pública. A Bíblia diz: “Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha” (Pv 18.13). Diz ainda: “O iracundo levanta contendas, e o furioso multiplica as transgressões” (Pv 29.22). A prudência e a discrição são marcas indispensáveis na vida de um líder. No muito falar abundam as transgressões.

Primeiramente, Neemias verificou se as reivindicações apresentadas estavam de acordo com a Palavra do Senhor. Sentiu, como homem de Deus que era, que o clamor era justo e legítimo e que a forma pela qual a elite judaica estava vivendo não correspondia à vontade de Deus. Não havendo a observância da vontade de Deus nos relacionamentos sociais, jamais o Deus do céu faria prosperar a obra de reedificação dos muros e portas de Jerusalém.

Neemias também ponderou que de nada adiantaria restabelecer Jerusalém como uma cidade, com muros, portas e segurança, caso não houvesse justiça e união entre os judeus, pois a estrutura social não existe por si só, mas, sim, para o homem, o que, aliás, o Senhor Jesus ensinaria ao dizer que o sábado foi feito para o homem e não o homem, para o sábado (Mc 2.27).

3. Neemias convocou um grande ajuntamento (Ne 5.7,8).

Neemias, após ter entendido que o clamor era justo e legítimo, tomou uma atitude firme e corajosa: ajuntou o povo num ajuntamento contra os nobres e os magistrados, a indicar que a resistência era grande para que se alterasse a situação; mostrou-lhes que eles haviam praticado usura (Ne 5.7).

Feito o ajuntamento, um ajuntamento pacífico e ordeiro, determinado por Neemias, que era o governador, ele denunciou a injustiça cometida, lembrando aos nobres e magistrados que todo o povo havia sido resgatado do cativeiro, que todos haviam readquirido a liberdade, por uma operação divina, e, portanto, como agora os próprios judeus estariam a escravizar os seus irmãos? Como dizer que se estava lutando pela manutenção da liberdade frente aos povos vizinhos, que queriam escravizá-los, se os próprios judeus escravizavam seus irmãos? (Ne 5.8).

O papel do líder do povo de Deus, ou mesmo do governante político secular, como se vê, é o de promover, de forma ordeira, justa e legítima, a cessação das atividades que geram a injustiça social, ficando sempre ao lado dos menos favorecidos, sem que, para tanto, venha a destruir os mais abastados. Faz-se preciso denunciar a injustiça e conscientizar os mais abastados a tomar medidas efetivas para que tal situação deixe de existir, diminuindo o abismo entre os estratos extremos da sociedade.

Neemias, em sua argumentação, não se utilizou de qualquer filosofia, ideologia ou doutrina humanas. Como homem de Deus, mostrou claramente aos nobres e magistrados que era necessário “andar no temor do nosso Deus, por causa do opróbrio dos gentios, os nossos inimigos” (Ne 5.9). Sem o temor de Deus, não há como se realizar justiça social. Sem que estejamos obedientes ao Senhor, não há como vivermos de acordo com a Sua vontade no que respeita aos nossos relacionamentos sociais.

Neemias teve coragem para repreender o erro, ainda que na vida dos nobres, dos ricos, dos poderosos. Ele teve compromisso com a verdade e com a justiça, por isso, não se intimidou. Neemias não amaciou a situação. Ele chamou os nobres e magistrados de usurários. Ele colocou o dedo na ferida e desmascarou os nobres, denunciando sua conduta vergonhosa e injusta.

Neemias, em suas ponderações, observou claramente que este enriquecimento desmedido em detrimento dos menos favorecidos era usura, o que era expressamente vedado pela lei (Êx 22.25; Lv 25.36-37; Dt 23.19-20). “Usura” é a cobrança de juros excessivos sobre o empréstimo dado a alguém, uma verdadeira transferência do patrimônio para alguém sem que tenha havido qualquer trabalho por parte daquele que enriquece.

4. A exemplificação (Ne 5.8-10).

Neemias não era um líder que apenas tinha coragem, ele tinha vida. Ele não apenas falava, ele dava exemplo. Ele não subiu no palanque para ostentar elogios a si mesmo estando comprometido com os mesmos crimes que denunciava. Ele não era hipócrita. Neemias não ocupou a liderança para tirar vantagem. Ele era um homem que amava o povo e não o dinheiro.

Neemias resgatou judeus escravos dos estrangeiros (Ne 5.8); agora os líderes do povo estavam fazendo essas pessoas escravas novamente. Ele não apenas socorreu os necessitados, mas perdoou-lhes a dívida, visto que não puderam pagar a ele (Ne 5.10). O maior líder de todos os tempos, Jesus de Nazaré, disse que para você liderar precisa servir.

Neemias não foi um político demagogo, que simplesmente fez discursos e promessas ao povo que clamava, sem tomar qualquer iniciativa concreta. Não só assumiu a luta contra os nobres e magistrados, como fez o ajuntamento de todos contra eles, mas também confessou e deixou as suas próprias práticas usurárias, pois também ele, seus irmãos e seus moços haviam emprestado dinheiro para os mais necessitados. Num gesto exemplar, Neemias abandonou o ganho dos juros destes empréstimos, fazendo antes de exigir que os outros fizessem (Ne 5.9).

A injustiça social é um reflexo do pecado que campeia na humanidade, pois todo pecado é iniquidade, ou seja, injustiça (1ª Jo 3.4). Assim, consentir com a injustiça social, tirar proveito dela é consentir com o pecado e é digno de juízo divino tanto quem o pratica, quanto quem consente com a sua prática (Rm 1.32).

A injustiça social leva os homens à uma situação tanto de miséria quanto de grandeza que compromete a sua própria dignidade, tornando-se um fator de incentivo para a prática do pecado. O sábio Agur já ensinava que a situação de extrema injustiça social é uma janela escancarada para o pecado, seja para o pobre, que se tornará um furtador, seja para o rico, que se tornará um vaidoso e soberbo (Pv 30.8-9).

5. A restituição (Ne 5.11,12,13).

Neemias, após dar o exemplo, determinou que os nobres e magistrados restituíssem aos pobres as propriedades tomadas com usura e também restituíssem parte dos juros cobrados sobre o empréstimo de dinheiro, trigo, vinho e azeite. Observe que a taxa de juros que era cobrado pelo dinheiro, trigo, mosto e azeite correspondia ao “centésimo”, ou seja, 1% (um por cento) (cf. Ne 5.10,11), taxa bem inferior ao que vemos em nosso país, que é conhecido como “o paraíso dos juros” em nosso planeta.

A proposta de Neemias foi acatada, e a elite judaica também se sensibilizou com o clamor dos pobres e necessitados, restituindo o que haviam tomado dos mais necessitados, como também deixando de exigir os juros que estavam a cobrar, compromisso que foi solenemente firmado, tendo, inclusive, havido juramento perante os sacerdotes (Ne 5.12), bem como o gesto simbólico do sacudir do regaço (Ne 5.13). Por meio de um gesto, Neemias advertiu: aqueles que quebrassem a promessa seria “sacudido” da terra como quem sacode o pó das vestes. Assim, a paz voltou a reinar entre os judeus.

A consequência de se ter conquistado a justiça social, com o fim da desigualdade social gritante, foi o louvor a Deus (Ne 5.13). A justiça social é uma boa obra e, com ela, o nome do Senhor é glorificado. Que bom será quando isto se der no interior de cada igreja local!

IV. A CONDUTA IMPOLUTA E ÍNTEGRA DE NEEMIAS COMO LÍDER DO POVO DE DEUS (Ne 5.13-19)

No texto de Neemias 5.1-12 vimos como Neemias teve coragem para confrontar os nobres acerca da usura. Eles haviam se aproveitado da crise econômica para enriquecer. Eles emprestaram dinheiro com juros altos aos seus irmãos e acabaram tomando suas casas, vinhas, terras e filhos. Mas não bastou apenas coragem a Neemias. Ele precisou também de exemplo e vida. As pessoas aceitam o líder, depois os seus planos. Eles têm confiança na visão, quando têm confiança no líder. Agora, Neemias dá o seu testemunho de conduta impoluta e íntegra como governador de Jerusalém.

Em Neemias 5.3-19 vemos algumas qualidades do caráter de Neemias que marcaram a sua integridade como um líder do povo de Deus em Jerusalém {Adaptado do Livro Neemias de Hernandes Dias Lopes].

1. Neemias transformou crises em oportunidades.

Ne 5.13,14 “Também sacudi o meu regaço e disse: Assim o faça Deus, sacuda de sua casa e de seu trabalho a todo homem que não cumprir esta promessa; seja sacudido e despojado. E toda a congregação respondeu: Amém! E louvaram o Senhor; e o povo fez segundo a sua promessa. 14 -Também desde o dia em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão devido ao governador.”

O líder é alguém que lida com tensão. O campo de ação do líder é uma arena de muitas pelejas. A crise é sua agenda diária. Mas a crise é uma encruzilhada que leva os fracos ao fracasso e os fortes a consagradoras vitórias. A crise denuncia os covardes e descobre os heróis. Vejamos como Neemias transformou crises em oportunidades:

Primeiro, ele transformou clamor em louvor. O povo começou com um clamor cheio de dor por causa da opressão e terminou louvando a Deus cheio de alegria. A crise é uma encruzilhada que a uns abate, a outros exalta. Uns olham o problema, outros a oportunidade. Uns veem as dificuldades, outros a solução. O clamor tornou-se uma reunião festiva de louvor. Por quê? Porque Neemias teve capacidade de se indignar, confrontar, exemplificar, pedir restituição e dar exemplo.

Segundo, ele transformou opressão em solidariedade. Os nobres não apenas cancelaram a dívida dos pobres, mas restituíram suas vinhas, suas terras e seus filhos.

Terceiro, ele transformou a situação de usura em oportunidade para confronto (Ne 5.13). Neemias pediu aos nobres para restituir, chamou os seus sacerdotes e também pessoalmente os fez assumir um compromisso público. O verdadeiro líder nunca foge do problema nem o adia, antes enfrenta-o corajosa e firmemente.

Quarto, ele transformou uma revolta humana num ato de compromisso e adoração a Deus. O clima era de tensão, revolta, dor, angústia. Neemias levou os nobres a um compromisso de restituição diante de Deus e o povo celebrou com alegria louvores ao Senhor.

2. Neemias deu mais valor ao bem público do que à remuneração pessoal.

5.14,18 “Também desde o dia em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão devido ao governador. 18 - O que se preparava para cada dia era um boi e seis ovelhas escolhidas; também à minha custa eram preparadas aves e, de dez em dez dias, muito vinho de todas as espécies; nem por isso exigi o pão devido ao governador, porquanto a servidão deste povo era grande.

Neemias abriu mão de seus direitos garantidos e legítimos a favor do povo. Seu posto de governador é uma plataforma de serviço e não de privilégios. Em vez de enriquecer-se e engordar sua conta bancária, ele abriu mão do seu próprio salário para socorrer o povo em tempo de aflição.

Hoje, vemos nossos legisladores, seja no âmbito estadual ou nacional, buscando sofregamente aumentar seus salários de forma abusiva. Além de majorar seus salários, muitos, ainda, se mancomunam com perversos esquemas de corrupção, recebendo vultosas somas de fontes escusas. Assistimos com tristeza e repúdio a multiplicação de políticos desonestos e a escassez de exemplos dignos de serem imitados. Precisamos, com urgência, de líderes íntegros como Neemias!

3. Neemias deu mais valor ao trabalho do que à indolência luxuosa.

Ne 5.16 “Antes, também na obra deste muro fiz reparação, e terra nenhuma compramos; e todos os meus moços se ajuntaram ali para a obra”.

Os outros governadores viram o cargo como uma porta aberta para o benefício pessoal, para o enriquecimento rápido, para o favorecimento dos seus aliados. Neemias não viveu na indolência, nababescamente, às custas do povo, mas ele e seus moços trabalharam na obra. Ele era um homem que liderava o povo, que estava junto do povo, que defendia o povo, que trabalhava com o povo e pelo povo. Precisamos resgatar o exemplo de políticos da fibra de Neemias, gente séria, abnegada e trabalhadora.

Quando um líder está mais interessado em si mesmo e em seus investimentos e aventuras pessoais do que no seu trabalho, os seus subordinados logo perceberão. Neemias realizou um trabalho pessoal e também de equipe; um trabalho contínuo, abnegado e eficaz.

4. Neemias deu mais valor à benevolência do que à política do levar vantagem em tudo.

Ne 5.18 “O que se preparava para cada dia era um boi e seis ovelhas escolhidas; também à minha custa eram preparadas aves e, de dez em dez dias, muito vinho de todas as espécies; nem por isso exigi o pão devido ao governador, porquanto a servidão deste povo era grande.”

Neemias em vez de explorar o povo, ajudava o povo. Ele comprou judeus escravos para resgatá-los. Neemias demonstrou amor às pessoas e o amor não era apenas o que ele sentia, mas sobretudo o que ele fazia. Neemias emprestou e perdoou a dívida dos pobres. Ele abriu sua casa e sustentou os trabalhadores na obra às suas custas para não sobrecarregar o povo já empobrecido. Ele abriu mão de seus direitos garantidos: “Nem por isso exigi o pão devido ao governador”.

5. Neemias deu mais valor à integridade do que a vantagens pessoais.

Ne 5.14 “Também desde o dia em que fui nomeado seu governador na terra de Judá, desde o vigésimo ano até ao trigésimo segundo ano do rei Artaxerxes, doze anos, nem eu nem meus irmãos comemos o pão devido ao governador”.

Neemias foi um homem que manteve sua integridade intocável durante todo o seu mandato de doze anos. A integridade faz parte da vida do líder. Um líder que não é íntegro em sua vida pessoal não é um verdadeiro líder. Para que um líder seja íntegro, ele deve ser sincero, e esta sinceridade é verificada em seu viver diário: nas conversações, no agir, nas finanças, no serviço.

Nenhum sacrifício era demasiado grande e nenhuma tarefa era difícil demais para Neemias, quando tinha a certeza de qual era a vontade de Deus. Ele estava disposto a adotar quaisquer medidas para colocar em prática aquilo que tinha a certeza de ser a vontade de Deus. Em alguns momentos agiu de forma austera: ele admoestou, repreendeu, protestou, contendeu, amaldiçoou, e até mesmo arrancou os cabelos de alguns (Ne 13.25). Enfim, tornou muito difícil a vida dos impiedosos! Era um homem corajoso e um general astuto em sua luta contra o mal. Além disso, era um trabalhador incansável e um grande restaurador das coisas de Deus. Ele trabalhou duramente a favor da justiça, porem mantinha o coração terno diante do Senhor. Era um homem honesto, íntegro, convicto e piedoso. Sem dúvida, ele foi um magnífico exemplo de liderança.

CONCLUSÃO

O segredo da vitória de Neemias frente aos desafios que enfrentara, foi a sua “integridade”. O verdadeiro líder do povo de Deus deve ter como característica principal a integridade, ou seja, estar inteiramente moldado pelo Senhor. É a sinceridade (“sem cera”, sem qualquer trinco em seu caráter), que nos permitirá vencer o mal e alcançar a vida eterna. Será que podemos repetir as palavras do apóstolo Paulo: “sede meus imitadores, como eu sou de Cristo?” (1ª Co 11.1). Não nos esqueçamos de que nosso Deus conhece o íntimo do homem (1º Sm 16.7; Jo 2.23-25). Assim, não adianta participarmos dos cultos e demais reuniões se não formos sinceros, íntegros e tementes a Deus.

FONTE DE PESQUISA

1. BERGSTÉN Eurico. As causas da desunião devem ser eliminadas. Lições bíblicas – 3º trimestre 2020 CPAD Rio de Janeiro RJ.

2. Bíblia de Estudo Pentecostal.

3. Bíblia de estudo – Aplicação Pessoal.

4. Bíblia de Estudo – Palavras Chave – Hebraico e Grego. CPAD

5. Comentário Bíblico popular (Antigo e Novo Testamento) - William Macdonald.

6. Comentário Bíblico Pentecostal. CPAD.

7. Comentário do Novo Testamento – Aplicação Pessoal. CPAD.

8. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.

9. FARIA Cleverson de Abreu. Princípios para uma boa liderança.

10. Hernandes Dias Lopes. Neemias – O líder que restaurou uma nação.

11. Luciano de Paula Lourenço – EBD/IEADTC Disponível no Blog: h https://luloure.blogspot.com/2020/?m=0 – Acesso 19/08/2020.

sábado, 15 de agosto de 2020

O CUIDADO AO FALAR DA RELIGIÃO PURA

 

Tiago 1.19-27 “Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. 20 - Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus. 21 - Por isso, rejeitando toda a imundícia e superfluidade de malícia, recebei com mansidão a palavra em vós enxertada, a qual pode salvar as vossas almas. 22 - E sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. 23 - Porque, se alguém é ouvinte da palavra, e não cumpridor, é semelhante ao homem que contempla ao espelho o seu rosto natural; 24 - Porque se contempla a si mesmo, e vai-se, e logo se esquece de como era. 25 - Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade, e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecidiço, mas fazedor da obra, este tal será bem-aventurado no seu feito. 26 - Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã. 27 - A religião pura e imaculada para com Deus e Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo.”

 INTRODUÇÃO

Vivemos num tempo em que, para muitos, há uma grande distância entre o dizer e o fazer, pregar e praticar, falar e dar o exemplo. Mahatma Ghandi, diante de um líder cristão, disse: “Eu admiro o vosso Cristo, e não o vosso cristianismo”. Que Deus nos ajude a viver na prática a Palavra de Deus, para não cairmos no descrédito daqueles que nos rodeiam.

I. NO RELACIONAMENTO COM OS OUTROS

1. Pronto para ouvir (v. 19b). A Bíblia dá mais valor a quem sabe ouvir do que a quem sabe falar. Quando falamos, sempre nos arriscamos a errar. E isso é natural. Mas, quando ouvimos, sempre podemos aprender com nossos interlocutores, tanto o que é certo quanto o que é errado. A Bíblia manda o filho ouvir a instrução de seu pai (Pv 1.8); ouvir as palavras dos sábios (Pv 22.17); e diz que é melhor “ouvir a repreensão do sábio do que a canção do tolo” (Ec 7.5).

2. Tardio para falar (v. 19c). Tiago recomenda que todo homem deve ser “tardio para falar”. Aqui, há muita sabedoria, por trás desse pedacinho de frase. O velho adágio popular diz: “Quem muito fala, muito erra”. E a Bíblia assevera solenemente: “...o homem de entendimento cala-se”(Pv 11.12). E mais: “Até o tolo, quando se cala, será reputado por sábio; e o que cerrar os seus lábios, por sábio” (Pv 17.28).

3. Tardio para irar-se (v. 19c). Por causa da ira, amizades são perdidas; muitos ficam doentes, deprimidos; acidentes ocorrem; crimes são perpetrados; e tantos outros males. A Bíblia tem razão, quando diz que todo o homem seja “tardio para se irar”. Ela, no seu realismo sábio, ensina: “Trai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira” (Ef 4.26). Jesus, no templo, virou mesas, expulsou os cambistas e não pecou. Moisés, ao ver a idolatria com o bezerro de ouro, quebrou as tábuas da lei, puniu os idólatras e não pecou.

II. NO RELACIONAMENTO COM DEUS

1. Pronto para ouvir a Palavra de Deus. Muitos só querem ser ouvidos em suas prédicas. Mas é importante saber ouvir a Palavra. “Quem é de Deus ouve as palavras de Deus” (Jo 8.47). Ouvir, aqui, não é um mero escutar; é dar ouvidos, prestar atenção, com o objetivo de obedecer e praticar. Quem assim faz é comparado por Jesus a um homem prudente” (Mt 7.24), enquanto o que ouve e não pratica é comparado a um “homem insensato” (Mt 7.26b). Em Pv. 8.33, lemos: “Ouvi o ensino, sede sábios...”. 

2. Rejeitando toda imundícia (v. 21). Aqui, imundícia é sinônimo de pecado, iniquidade, pensamentos maus, mentiras, adultérios, enganos, etc. Paulo ensina que devemos nos despojar do “velho homem” (Ef 4.22), deixando a mentira (Ef 4.25), e que devemos tirar de nós “toda amargura, e ira, e cólera, e gritaria, e blasfêmias e toda a malícia” (Ef 4.3 1). Hoje, talvez o esgoto principal pelo qual a imundícia entra nos lares é a TV, com suas novelas imundas, filmes pornográficos, e a Internet, através da qual muitos estão degradando suas mentes e a de seus filhos. É melhor cumprir o que diz o Sl 101.3 que diz: “Não porei coisa má diante dos meus olhos. Odeio a obra daqueles que se desviam; não se me pegará a mim.”

3. Recebendo a Palavra com mansidão (v. 21). Tiago falava para crentes. Exortava-os a receber a palavra com mansidão (v. 2l). Por quê? Certamente, havia alguém que não recebia a mensagem com alegria. Hoje, acontece a mesma coisa. Quando o pastor exorta, com base na Bíblia, combatendo os pecados, as atitudes ilícitas, há quem fique irado, e até procure mudar de igreja. É o espírito de carnalidade dominando.

3.1. A verdadeira religião está centrada na Palavra de Deus. E as evidências de um cristão verdadeiro são:

a) A Palavra produz o Novo nascimento. O verdadeiro cristão nasce da Palavra de Deus. A Palavra é a divina semente, quando aplicada ao nosso coração pelo Espírito Santo, acontece o milagre do novo nascimento. Recebemos, portanto, uma nova natureza. “Na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de Deus. Disse-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura, pode tornar a entrar no ventre de sua mãe e nascer? Jesus respondeu: Na verdade, te digo que aquele que não nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de Deus” (Jo 3.3-5).

Este versículo não somente promete ao crente a sua entrada no céu após a morte, como também indica a realidade “presente”, de possuir uma “nova vida”. Note que Jesus declara que aos que creem já receberam esta nova vida. Já passamos da morte para a vida. “Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus” (Rm 6.11).

b) Somos gerados pela Palavra. “Segundo a sua vontade, ele nos gerou pela palavra da verdade, para que fôssemos como primícias das suas criaturas” (Tg 1.18).

A natureza da regeneração: “Ele nos gerou”.

O instrumento da regeneração: “pela palavra da verdade”.

O autor da regeneração: “Ele”.

A causa suprema da regeneração: “segundo o seu querer”.

O propósito da regeneração: “para que fôssemos como que primícias das suas criaturas”.

c) A Palavra traz santificação. “Para santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela Palavra” (Ef 5.26).

O primeiro passo para o homem ser regenerado é ouvir a Palavra de Deus. A Palavra simboliza a água. Ela serve para limpar algo que está sujo, por isso o mestre Jesus diz aos Seus discípulos: “Vós já estais limpos, pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15.3).

d) O novo nascimento não é obra humana, mas divina. “Os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (Jo 1.13). Por isso Jesus diz a Nicodemos: “O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito” (Jo 3.6).

Este novo nascimento não é a relação física entre o homem e a mulher, mas algo sobrenatural: “Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre” (1ª Pe 1.23).

Pedro afirma que o novo nascimento não é de uma semente corruptível (a semente do homem e da mulher), mas é da semente incorruptível pela Palavra, que permanece para sempre.

3.2. O verdadeiro cristão acolhe a Palavra (1.21): “...pelo que, despojando-vos de toda sorte de imundícia e de todo vestígio do mal...”

O apostolo Paulo nos ensina que o novo nascimento envolve a mudança da velha vida de pecado em uma nova vida de obediência a Deus: “Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência. Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos de nossa carne e éramos por natureza filhos da ira. Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo” (Ef 2.2-3).

III. CUMPRIDORES DA PALAVRA

1. Não somente ouvintes (v. 22). Quem ouve a palavra de Deus e não a cumpre, como já vimos, é comparado por Jesus a “um homem insensato” (Mt 7.26). Tiago compara tal pessoa a um homem que se olha no espelho e, ao sair, não mais se lembra dos detalhes do seu rosto natural (vv. 23,24). No tempo do apóstolo, os espelhos não tinham a nitidez e o brilho de hoje; eram feitos de metal. Quem ouve a Palavra e não a cumpre e não fixa seu sentido em sua mente está perdendo tempo.

2. Atentando bem para a lei da liberdade (v. 25). Fomos chamados à liberdade cristã. Isto é: liberdade da servidão do pecado, para seguirmos a Cristo e servi-Lo de todo coração. Diante disso, Paulo nos exorta, dizendo que não devemos usar da liberdade para dar ocasião à carne (Gl 5.13). E desta forma que devemos cumprir a Palavra de Deus, com liberdade para fazermos o que agrada a Deus, e não aos homens ou a nós mesmos.

3. Sendo fazedor da obra (v. 25). Tiago fala do cumpridor da Palavra como um “fazedor da obra” de Deus, sendo, assim, “bem-aventurado no seu feito”. E muito importante que pratiquemos a Palavra:

3.1. No lar. O verdadeiro crente é aquele que dá testemunho da fidelidade a Deus em casa, no trato com a esposa, com os filhos, com os vizinhos. E um teste difícil, mas genuíno, eficaz e incontestável.

3.2. Na igreja. Aqui, não é tão difícil cumprir a Palavra em termos exteriores. Só Deus conhece os corações. Mas, no templo, as pessoas, em geral, têm “cara de santo”. E indispensável que guardemos o nosso pé quando entrarmos na casa de Deus (Ec 5.la).

3.3. Em todos os lugares. Seja na escola, quartel, consultório, escritório, comércio, rua, ônibus, carro particular, ou em outra qualquer parte.

IV. A RELIGIÃO PURA E IMACULADA

De acordo com o Dicionário Teológico (CPAD), a palavra religião vem do latim religionis, que, por sua vez, deriva do verbo religare, que tem o sentido de “ligar outra vez”. Por trás desse conceito latino há a ideia de que o homem separou- se ou está separado de Deus e, através da verdadeira religião, o homem pode reatar sua ligação com Ele. Com base na Bíblia, porém, quem liga ou religa o homem com Deus não é religião, mas Jesus Cristo, o único “mediador entre Deus e os homens” (lª Tm 2.5). Tiago emite três características da “religião pura e imaculada para com Deus, o pai”, que são:

1. Saber refrear a língua (v. 26). Para alguém ser um verdadeiro religioso precisa saber dominar a língua. Do contrário, “a religião desse é vã”. É o tipo de religiosidade sem valor, sem vida, sem poder, sem salvação, visto que a pessoa é conhecida pelo que expressa com a língua, pois Jesus disse que “da abundância do coração fala a boca” (Lc 6.45). Daí a importância do fruto do Espírito, que abrange a temperança (cf. Gl 5.22).

2. Visitar órfãos e viúvas (v. 27). A verdadeira religião atende ao “homem integral” (corpo, alma e espírito), valorizando “o amor genuíno pelos necessitados” (Bíblia de Estudo Pentecostal). Órfãos e viúvas, no texto, representam, também, todos os necessitados, os famintos, os carentes físicos e emocionais. São os que não têm o mínimo para comer; os meninos de rua, as crianças abusadas sexualmente; os párias, os injustiçados de todos os tipos. A igreja que quer praticar a “religião pura e imaculada” precisa cuidar do corpo, também, tanto quanto da alma e do espírito.

Jesus pregou a maior mensagem, mas multiplicou o pão duas vezes, alimentando os famintos. Os discípulos, queriam que a multidão “se virasse”, mas o Mestre lhes ordenou: “...dai-lhes vós de comer” (Mt l4.16b).

3. Guardar-se da corrupção do mundo (v. 27). Tiago usou uma dialética perfeita. Emitiu uma tese: o que é ser religioso; seguiu-a de uma antítese: quem não sabe refrear a sua língua está enganado e, por fim, chegou à síntese: o verdadeiro religioso interessa-se pelo sofrimento alheio (religião prática) ao mesmo tempo em que cuida do espírito, zelando pela santidade, “guardando-se da corrupção do mundo”. Não adianta ser caridoso, filantropo, equilibrado no falar e não ser um crente santo. O caminho do inferno está cheio desse tipo de gente. Para o céu só vão os que zelam pela santificação (cf. Hb 12.14).

V. A RELAÇÃO ENTRE OS POBRES E OS RICOS DA IGREJA (Tg 1.9-11)

1. Os pobres na Igreja do primeiro século. Do ponto de vista social, a pobreza exclui o ser humano dos direitos básicos necessários à sua subsistência. Não é difícil reconhecer que a Igreja do primeiro século era constituída por duas classes sociais: a dos pobres e a dos ricos, tendo evidentemente mais pobres em sua composição. Uma vez que não podemos fazer acepção de pessoas (Rm 2.11; Cl 3.11), os pobres daquela época, que foram gerados pela Palavra e inseridos no corpo de Cristo - a Igreja - tinham motivos de alegrar-se no Senhor, pois além do novo nascimento, eles eram acolhidos pela igreja local (Gl 2.10).

2. Os ricos na Igreja Antiga. Por vezes, os ricos são identificados na Bíblia como judeus proprietários de muitos bens e que negligenciavam as obrigações que pesam sobre os que desfrutam de tal condição (Lv 19.10; 23.22,35-55; Dt 15.1-18; Is 1.15-17; Mq 6.9-16; 1ª Tm 6.9,17-19). Por cuja razão, e pelas suas atitudes, eles eram frequentemente repreendidos pelas Escrituras (Am 3.10; Pv 11.28; 1ª Tm 6.17-19; Lc 6.24; 18.24,25). Os ricos e abastados têm a tendência a desenvolverem a arrogância, a autossuficiência e a postura de senhores poderosos, que pensam poder comprar as pessoas a qualquer preço. As Escrituras são claras em afirmar que o Reino de Deus não pode ser comprado por dinheiro algum. É possível o irmão rico ser gerado pela Palavra e tornar-se um filho de Deus? Sim, claro (Lc 18.25-26). Porém, ele pode encontrar maior dificuldade para desprender-se de suas riquezas (Mt 19.23-26, cf. v.11). É imprescindível que os mais abastados compreendam que após entregarem-se a Cristo, obedecerão ao mesmo Evangelho a que os irmãos pobres submetem-se. Aqui, torna-se ainda mais clara a verdade bíblica: para Deus não há acepção de pessoas (Rm 2.11; Cl 3.11).

3. Perante Deus, pobres e ricos são iguais. A igreja local deve receber a todos no espírito do Evangelho, isto é, como membros da família de Deus, pois através da salvação em Cristo, independentemente da condição social, todos têm a Deus como Pai (Rm 8.14), e a Jesus como irmão (Lc 8.21). Somos coerdeiros, juntamente com Cristo, de uma herança eterna (1ª Pe 1.4), pertencentes à santa família de Deus (Ef 2.19) e cidadãos de um reino imutável (Hb 12.28). Na família de Deus há lugar para todo ser humano justificado por Cristo. Portanto, o irmão pobre e o irmão rico não devem se envergonhar de suas condições sociais. Se o Evangelho alcançou seus corações, o rico saberá biblicamente o que fazer com a sua riqueza. E o pobre, de igual forma, como viverá sua pobreza. O importante é que Cristo em tudo seja exaltado!

III. A RELIGIÃO PURA E VERDADEIRA (Tg 1.26,27)

1. A falsa religiosidade. Apesar de algumas pessoas se considerarem religiosas por frequentarem um templo, as Escrituras revelam o significado da verdadeira religião. Ela reprova todo o ativismo religioso feito em “nome de Deus”, mas em detrimento do próximo. Aqui, a língua do crente tem um papel importante. Tiago diz que é possível enganar o próprio coração quando deixamos de refrear a nossa língua. Ora, o coração é a sede dos desejos, dos sentimentos e das vontades. E a boca só fala daquilo que o coração está cheio (Mt 12.34). É incompatível com o Evangelho, viver a graça de Deus sem mergulhar no Reino d'Ele. Quem não se entrega inteiramente ao Senhor pratica uma religião vã e falsa. Não podemos ser como a pessoa capaz de fazer uma belíssima oração por um faminto, e depois despedi-lo sem lhe dar um único grão de arroz.

2. A verdadeira religião (v. 27). A religião pura, santa e imaculada, de acordo com o autor sacro, é suprir a necessidade do próximo: “Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações”. O problema hoje é que a nossa atenção, quase sempre, está voltada para o prazer pessoal. Temos os olhos fechados para os necessitados que na maioria das vezes cultuam a Deus, assentados, ao nosso lado. Lembremo-nos da vida de Jesus Cristo! Ele não apenas olhou para os marginalizados, mas foi até eles e os acolheu em amor (Mt 25.35-45). A religião que agrada a Deus é aquela cujos discípulos professam e bendizem o seu nome, visitando e acolhendo os necessitados nas aflições.

3. Guardando-se da corrupção (v. 27). Além de recomendar a obrigatoriedade de visitarmos os órfãos e as viúvas, a Epístola de Tiago menciona outro aspecto da verdadeira religião: guardar-se da corrupção do mundo. A religião falsa está mergulhada no egoísmo, na corrupção e nos interesses maléficos do sistema pecaminoso. A igreja deve manter-se longe da corrupção. Estamos no mundo, mas não fazemos parte do seu sistema! O Evangelho nada tem com os seus valores e preceitos. Portanto, não flerte com o modo corrupto de viver do mundo (Tg 4.4). Amemos e desejemos o Evangelho de todo o nosso coração.

CONCLUSÃO

Praticar a Palavra é algo difícil, porém, sublime. A Bíblia é o código de Deus para o homem. Nela, de um lado, encontramos o amor e a bondade divinos. De outro, os preceitos, os estatutos e as normas, através das quais os interesses humanos, egoístas e carnais são contrariados e condenados. Mas, com a ajuda do Espírito Santo, podemos viver a Palavra em nossa vida diária.

Pr. Elias Ribas

Assembleia de Deus

Blumenau - SC

terça-feira, 11 de agosto de 2020

O POVO DE DEUS DEVE SEPARAR-SE DO MAL

 

LEITURA BÍBLICA

Esdras 2.59 “Também estes subiram de Tel-Melá e Tel-Harsa, Querube, Adã e Imer, porém não puderam mostrar a casa de seus pais e sua linhagem, se de Israel eram. 60 - Os filhos de Delaías, os filhos de Tobias, os filhos de Necoda, seiscentos e cinquenta e dois. 61 - E dos filhos dos sacerdotes: os filhos de Habaías, os filhos de Coz, os filhos de Barzilai, que tomou mulher das filhas de Barzilai, o gileadita, e que foi chamado do seu nome. 62 - Estes buscaram o seu registro entre os que estavam registrados nas genealogias, mas não se acharam nelas; pelo que por imundos foram rejeitados do sacerdócio.”

Esdras 4.2 “Chegaram-se a Zorobabel e aos chefes dos pais e disseram-lhes: Deixai-nos edificar convosco, porque, como vós, buscaremos a vosso Deus; como também já lhe sacrificamos desde os dias de Esar-Hadom, rei da Assíria, que nos mandou vir para aqui. 3 - Porém Zorobabel, e Jesua, e os outros chefes dos pais de Israel lhes disseram: Não convém que vós e nós edifiquemos casa a nosso Deus; mas nós, sós, a edificaremos ao SENHOR, Deus de Israel, como nos ordenou o rei Ciro, rei da Pérsia.”

Esdras 6.2 “E em Acmetá, no palácio que está na província de Média, se achou um rolo, e nele estava escrito um memorial, que dizia assim: 3 - No ano primeiro do rei Ciro, o rei Ciro deu esta ordem: Com respeito à Casa de Deus em Jerusalém, essa casa se edificará para lugar em que se ofereçam sacrifícios, e seus fundamentos serão firmes; a sua altura, de sessenta côvados, e a sua largura, de sessenta côvados,  4 - Com três carreiras de grandes pedras, e uma carreira de madeira nova; e a despesa se fará da casa do rei.

INTRODUÇÃO

Nesta lição iremos estudar os preparativos que os judeus fizeram para pôr os alicerces da nova forma de vida que eles iniciaram em Jerusalém depois dos anos no cativeiro em Babilônia. Ali eles viveram espalhados pelo vasto território daquele reino, e agora iriam viver uma vida comunitária, conforme os ritos da lei.

Os filhos de Judá tiveram que tomar sérias decisões para não serem absorvidos pela cultura dos povos que ocupavam suas redondezas. Levemos em consideração também o meio usado pelos líderes judaicos para se comprovar a filiação dos repatriados. Se tal medida não fosse tomada, até mesmo a genealogia estaria comprometida. Como povo de Deus, devemos manter a nossa identidade como servos de Deus e preservar o nosso nome no Livro da Vida, afastando-nos de qualquer mundanismo que possa comprometer a nossa comunhão com o Salvador. Fazendo assim não seremos envergonhados no grande Dia do Cordeiro.

 

I. SOMENTE OS JUDEUS RETORNARIAM A JUDA

Para uma pessoa ser considerada apta para fazer parte do grupo que iria transferir-se para Jerusalém, exigia-se que desse prova de sua linhagem, que provasse ser realmente de Israel. Na primeira triagem foram excluídas 652 pessoas. Até alguns filhos de sacerdotes cujos nomes não foram achados nos registros das genealogias, foram rejeitados como imundos (Ed 2.59-62).

Os judeus mestiços, nascidos de casamentos mistos, durante o cativeiro em Babilônia, não fariam parte do grupo de judeus que retornariam a Judá. Somente aqueles que comprovassem a sua ascendência puramente judaica fariam parte daquele grupo. Deus não aceita mistura do seu povo com o povo do mundo. Não pode haver comunhão da luz com as trevas.

A história de Israel registrava uma amarga experiência neste sentido. Quando os Israelitas, libertados pela mão do Senhor, se preparavam para ir a Canaã, um grande povo de “mistura”, não israelita, queria acompanhá-los. Foi exatamente essa gente que durante o trajeto pelo deserto foi fonte inspiradora de murmuração (Nm 11.4).

A Bíblia diz: “Estreita é a porta, e apertado, o caminho que leva à vida” (Mt 7.14). Não é lucro, e, sim, grave prejuízo, alguém querer facilitar a entrada de “mistura de gente”, dando maior ênfase à QUANTIDADE do que à QUALIDADE. Jesus disse: “Necessário vos é nascer de novo” (Jo 3.7).

Qual era a significação teológica da restauração da comunidade judaica, conforme está apresentada em Esdras e Neemias? Este primeiro, toma a forma de listas genealógicas extensas (Ed 2.1-70; 8.1-14; Ne 7.5-65), cujo propósito era pelo menos duplo: (1) legitimar aqueles que voltaram, identificando-os com os ancestrais tribais, e (2) demonstrar  por essa ligação que o exílio, embora traumático e terrivelmente destruidor, não cortara a linhagem da promessa que originou-se em Abraão e continuaria para sempre. Havia nestas listas as linhagens dos sacerdotes, levitas e outros funcionários religiosos (Ed 2.36-54; 8.1-14; Ne 7.39-56), pois o reino teocrático, como reino de sacerdotes, era um povo de adoradores que expressava a vassalagem na forma relacionada ao culto.

As genealogias dão a entender que a mesma nação que fora desarraigada tão violentamente da terra da promessa voltaria. E ainda que não fossem as mesmas pessoas, eram os seus descendentes, castigados e de número muito reduzido. Neemias conhecia muito bem o penhor do Senhor dado a Moisés (Dt 30.2-4) que, mesmo que o desobediente fosse exilado nos confins da terra, Ele os ajuntaria e os traria de volta ao lugar habitado pelo seu nome (Ne 1.8-10). Neemias também sabia que seria quase como um novo começo, pois o povo restaurado seria apenas um remanescente (nis’arîm, Ne 1.3). É de tal começo humilde que Esdras também sabia que a comunidade restaurada tinha de surgir novamente (Ed 9.15)” (ZUCK, Roy B. Teologia do Antigo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD, 2009, p. 214).

II. OS JUDEUS NÃO ACEITARAM A AJUDA DOS SAMARITANOS

1. Quem eram os samaritanos. Os samaritanos eram uma mistura de gente, na sua maioria de origem pagā. Este povo apareceu depois do ano 721 a.C., quando o reino de Israel foi derrotado pelo exército de Sargão II e as dez tribos do Norte levadas cativas para a Assíria. Por ordem do rei da Assíria foram trazidos povos de Babel, de Cuta, de Ava, de Hamate, de Sefarvaim, e habitaram cidades de Samaria em lugar dos sacerdotes; e tomaram Samaria em herança, e habitaram em suas cidades (2º Rs 17.24).

Posteriormente, o rei da Assíria enviou-lhes um sacerdote dos israelitas para ensinar ao povo da terra o temor de Deus. Assim, os samaritanos temiam o Senhor, mas também serviam a seus deuses (2º Rs 17.33). Aceitaram o ensino do sacerdote israelita, mas não deixaram a idolatria (2º Rs 17.34-41). Representam muito bem uma vida na carne, da qual a idolatria é uma expressão (Gl 5.20).

2. Os samaritanos ofereceram cooperação aos judeus. Quando os judeus começaram a construção do Templo, os samaritanos ofereceram-se para cooperar (Ed 4.1). Os judeus, porém, rejeitaram firmemente a proposta (Ed 4.1-3). Igualmente quando da construção dos muros, a cooperação dos samaritanos foi recusada (Ne 6.2,3).

Esta atitude é bíblica, pois a Bíblia manda que nós devemos nos afastar daqueles que não tem a sã doutrina (1ª Tm 6.3-5: Tt 3.10; 2ª Jo 10,11). Igualmente devemos nos afastar daqueles que tem uma vida irregular (2ª Pe 3.17; 1ª Tm 6.20-21; 2ª Ts 3.6,14) como também daqueles que causam divisões (Rm 16.17,18; 2ª Pe 2.10,13,18; Jd 12,18,19).

3. Os samaritanos procuraram aparentar-se com os judeus. Casaram com as filhas dos judeus, e deram filhas aos judeus em casamento. Alguns caíram nesta armadilha (Ed 9.1,2). Este assunto é tão sério e importante que merece um estudo em separado, o que iremos fazer na lição número 12.

4. Os samaritanos tornaram-se inimigos dos judeus:

4.1. Os samaritanos invejaram os judeus. Antes de os judeus terem chegado a Jerusalém, os samaritanos tinham uma certa liderança na região. Quando os Judeus chegaram e começaram a sacrificar ao único Deus verdadeiro e a adorá-lo, então a atenção dos habitantes da região passou para os judeus, e os Samaritanos perderam a sua posição privilegiada, e encheram-se de inveja (Jo 11.47; 12.19). Isto sempre foi assim. Os fariseus tinham inveja de Jesus, os sacerdotes tinham inveja da Igreja, etc. (At 5.17,13,45; 17.5).

4.2. Os samaritanos imaginaram que se conseguissem associar-se aos judeus gozariam do mesmo prestígio que estes. Quando os judeus não aceitaram nada da parte dos samaritanos, o ódio velado transformou-se em inimizade declarada.

5. A restauração da adoração. O remanescente do povo era mais que apenas uma entidade étnica ou nacional — era o povo vassalo do Senhor eleito e redimido por Ele para servi-Lo como luz para as nações. Nessa função, eles tinham de modelar os propósitos soberanos e salvíficos divinos e mediá-los para o mundo. Isto está de acordo com o tema central do concerto mosaico em que Israel tem de assumir a responsabilidade de ser um reino sacerdotal e um povo santo (Êx 19.4-6).

A demonstração mais clara do caráter teocrático da comunidade foi o compromisso fiel ao concerto e a pratica dos seus termos, uma pratica indissoluvelmente ligada ao sistema de adoração nacional com lugares santos, pessoas santas e tempos santos. Era Israel em adoração que melhor modelava o domínio do Senhor sobre todos os aspectos da vida humana. Da mesma maneira que a destruição do Templo e de seus ministérios sinalizava o verdadeiro começo do exílio, assim a reconstrução e renovação dos seus ministérios efetivaria o restabelecimento do povo de Deus ao papel de redenção. A comunidade sem adoração não tinha a função efetiva.

Não é surpreendente, então, que o primeiro evento da vida pós-exílica de Judá fosse a celebração da Festa dos Tabernáculos, uma celebração que obviamente precedeu a reconstrução do Templo (Ed 3.1-7). Como foi adequado que a Festa dos Tabernáculos, que comemorava a provisão de Deus para o povo no deserto do Sinai, fosse agora a ocasião de alegrar-se pelo cuidado divino durante os 70 anos do deserto exílico na Babilônia. Dezesseis anos depois, tendo se concluído a construção do templo, o povo comemorou novamente a provisão graciosa do Senhor em um grandioso e esplendoroso culto de dedicação na virada do ano através da observância da Páscoa (6.16-22)” [ZUCK, Roy B. Teologia do Antigo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD, 2009, p. 214].

III. DEUS EXIGE SANTIDADE DO SEU POVO

Em toda a história do povo de Deus, observa-se que Ele, para manifestar-se no meio do seu povo, exige plena santidade. Deus espera que seu povo esteja sempre em comunhão com Ele, vivendo separado do mal.

1. Retornando do cativeiro, Israel separou-se do mal (2ª Co 6.17; 7.1). Por isso a bênção de Deus os acompanhou, e eles conseguiram concluir a construção do Templo e reconheceram que “DEUS FIZERA ESTA OBRA” (Ne 6.16).

2. Deus exige santificação de seu povo para poder operar no meio dele. Quando Josué se preparou para passar o Jordão, ele disse ao povo: “SANTIFICAI-VOS porque amanhã fará o Senhor maravilhas no meio de vós” (Js 3.5).

3. O anjo do Senhor visita o acampamento israelita. Antes de iniciar a conquista de Canaã, Josué recebeu a visita de um anjo. Josué então lhe perguntou: “Que diz meu Senhor ao seu servo?” E a resposta que recebeu foi: “Descalça os sapatos de teus pés, porque o lugar em que estás é santo!” (Js 5.13-15).

4. Israel é derrotado pela pequena cidade de Ai. Quando Josué, com o rosto em terra, perguntou ao Senhor o porquê daquela derrota, o Senhor respondeu: “SANTIFICAI-VOS para amanhã” (Js 7.11.13). “Anátema há no meio de vós, Israel; diante dos vossos inimigos não podereis suster-vos, até que tireis o anátema do meio de vós” (Js 7.13). O pecado descoberto, foi desarraigado, e então disse a Josué: “Levanta-te e sobe a Ai. Olha que te tenho dado na tua mão o rei de Ai, e seu povo e a sua cidade, e a sua terra” (Js 8.1).

5. A santidade aqui é a pureza moral.

“Elpisate é um imperativo aoristo que estabelece e resume o curso que os cristãos devem seguir. Em vista de nossa identidade como cristãos, nós somos os eleitos de Deus, estrangeiros em nossa sociedade. Desta maneira, nossas esperanças, nossas expectativas, não devem estar concentradas em nada que este mundo possa oferecer. Riqueza, fama, aceitação, até mesmo sobrevivência — tudo isto é sem significado quando comparado com a herança que será nossa quando Cristo vier. Se não esperarmos por nada aqui, se todas as expectativas estiverem fixas na Segunda Vinda, então nada que aconteça pode nos levar a agir de maneira que possa implicar negação de nosso Senhor. ‘Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver’ (Cl 1.15). A santidade aqui é a pureza moral. Assim como a atitude de fixar nossa esperança na graça que será nossa nos fortalece para vivermos na sociedade como estrangeiros, fixar a nossa esperança nele nos separa do poder daquelas ‘concupiscências que havia em [nossa] ignorância’ (1.14)” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p.521).

IV. DEVEMOS MANTER UMA VIDA DE SEPARAÇÃO DO MAL

1. Os judeus mantiveram-se separados dos samaritanos. Se os judeus tivessem aberto a porta para uma união com os samaritanos, estes, provavelmente, ter-se-iam mostrado afáveis e pacíficos no início, mas teriam perturbado a união que havia entre os judeus. Teriam participado do culto dos judeus, e afastado a presença do Senhor, uma vez que Deus não se une à idolatria. Vale a pena manter a separação com o mundo.

2. A Bíblia mostra exemplos de servos de Deus que duvidaram se valia a pena manter a linha de separação do mal.

2.1. O salmista Asafe escreveu no Salmo 73: “Na verdade que em vão tenho purificado meu coração e lavado as minhas mãos na inocência (Sl 73.13). Ficou profundamente perturbado, mas Deus o ajudou a encontrar a resposta. “Até que entrei no santuário de Deus; então entendi o fim deles” (v.17). O salmista ficou tranquilo: “Todavia estou de contínuo contigo, tu me seguraste pela minha mão direita. Guiar-me-ás com teu conselho e depois me receberás cm glória” (vv.23,24). Asafe entendeu que valia a pena servir ao Senhor.

2.2. Malaquias respondeu aos que diziam ser inútil servir o Senhor (MI 3.15), dizendo: “Há um memorial escrito diante dele, para os que temem ao SENHOR e para os que se lembram do seu nome. E eles serão meus, diz o SENHOR dos Exércitos, naquele dia que farei, serão para mim particular tesouro; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve” (Ml 3.16,17). Vale a pena servir ao Senhor!

3. Devemos viver conforme a vontade do Senhor. “Para que, no tempo que vos resta na carne, não vivais mais segundo as concupiscências dos homens, mas segundo a vontade de Deus” (1ª Pe 4.2). Qual seria então a vontade de Deus para conosco? A Bíblia diz: “Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1ª Ts 4.3). Já observamos que santificação significa uma vida que se abstém das coisas que não agradam a Deus, conforme a Palavra: “Apartai-vos, diz o Senhor, e não toqueis nada imundo” (2ª Co 6.17), e: “Aperfeiçoando a vossa santificação no temor de Deus” (2ª Co 7.1). Devemos sempre muito desejar ser-lhe agradáveis (2ª Co 5.9), andando dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo (Cl 1.11), guardando seus mandamentos, e fazendo o que é agradável à sua vista (1ª Jo 3.22).

4. Bênçãos acompanham os que vivem conforme a vontade de Deus! Deus garante, aos que assim vivem, plena vitória contra os ataques do Diabo. O crescimento espiritual deles está garantido (CI 1.6,10). O Espírito Santo tem plena liberdade para atuar em suas vidas, e eles tornam-se preparados para serem usados por Deus em sua obra (2 Tm 2.19-21). E, acima de tudo, aqueles que vivem segundo a vontade de Deus, estão preparados para o arrebatamento! ALELUIA! VALE A PENA VIVER NA VONTADE DE DEUS! (Hb 12.15; 15.5,23).

5. Os cristãos são chamados a cooperar com os propósitos e o poder santificadores de Deus. Tem de haver a disposição de abandonar os caminhos malignos e impuros; de ser separado de tudo que pode impedir o desenvolvimento da vida semelhante à de Cristo. A santificação não é a separação de um eremita ou recluso, pois Jesus se misturou com os pecadores. Todavia, em seu caráter e padrão, Ele estava ‘separado’ dos pecadores. (Hb 7.26). O desejo do Senhor para seus seguidores é que continuem envolvidos no mundo ao mesmo tempo e que permanecem livres de seus malefícios.

O sucesso na vida cristã, em grande extensão, depende de nossa disposição em nos entregarmos a Deus em total sacrifício de nós mesmos. O cristão que leva a santidade a sério é considerado um ‘escravo’ da justiça; um ‘sacrifício vivo’ para Deus; um utensílio doméstico puro” (Guia Cristão de Leitura da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p. 490).

Eurico Bergstén. Lições bíblicas 3º Trimestre de 2020. A reconstrução de Jerusalém e o avivamento espiritual como exemplos para os nossos dias. CPAD – Rio de Janeiro RJ.