TEOLOGIA EM FOCO

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

O EXÍLIO DE DAVI



TEXTO ÁUREO
“Então, Davi se retirou dali e se escapou para a caverna de Adulão; e ouviram-no seus irmãos e toda a casa de seu pai e desceram ali para ele. E ajuntou-se a ele todo homem que se achava em aperto, e todo homem endividado, e todo homem de espírito desgostoso, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens.” (1º Sm 22.1,2)

VERDADE PRÁTICA
Dos muitos conflitos que vivenciamos aprendemos lições preciosas para a nossa vida espiritual e formação de nosso caráter, segundo o modelo Cristo.

LEITURA BÍBLICA
1 Samuel 22.1-5
1 - Então, Davi se retirou dali e se escapou para a caverna de Adulão; e ouviram-no seus irmãos e toda a casa de seu pai e desceram ali para ele. 2 - E ajuntou-se a ele todo homem que se achava em aperto, e todo homem endividado, e todo homem de espírito desgostoso, e ele se fez chefe deles; e eram com ele uns quatrocentos homens. 3 - E foi-se Davi dali a Mispa dos moabitas e disse ao rei dos moabitas: Deixa estar meu pai e minha mãe convosco, até que saiba o que Deus há de fazer de mim. 4 - E trouxe-os perante o rei dos moabitas, e ficaram com ele todos os dias que Davi esteve no lugar forte. 5 - Porém o profeta Gade disse a Davi: Não fiques naquele lugar forte; vai e entra na terra de Judá. Então, Davi foi e veio para o bosque de Herete.

INTRODUÇÃO.
- Nesta lição estudaremos as grandes lições que podemos extrair da vida de Davi quando este estava na caverna de Adulão; veremos as características dos homens que ajudaram este monarca de Israel; pontuaremos o que podemos aprender com a liderança de Davi; e por fim, analisaremos as qualidades do filho de Jessé como líder no exílio.

- Nem sempre as vivências marcadas por situações traumáticas podem ser vistas como negativas. Por vezes, elas servem para tirar as cascas das aparências, a infantilidade, o esquecimento de nós mesmos, a fim de levar-nos à essência real da vida. O exílio fala de expatriação forçada ou livre, isolamento social, solidão. A conotação nem sempre é pejorativa, pois, nas Escrituras Sagradas, o exílio recebeu conotações positivas e negativas.

- O exílio pode ser o lugar onde nosso caráter será testado, onde nossa própria identidade será descoberta, onde nossa lucidez mental e espiritual terá a sua aurora (Pv 4.18). A caverna de Adulão não será apenas o exílio de Davi, mas, sim, o lugar que moldará o seu caráter, preparando-o para uma missão maior: a liderança de Israel.

I. LIÇÕES DA CAVERNA DE ADULÃO

- Quatro capítulos foram dedicados ao período da vida de Davi em que ele foge da perseguição de Saul (1º Sm 21-24). Davi se exilou na caverna de Adulão na planície de Judá, em torno de 26 quilômetros a sudoeste de Jerusalém para preservar sua vida. O termo exílio vem do latim “exilium” e significa: “banimento; degredo; desterro; deportação; ermo; expatriação; isolamento do convívio social; ostracismo; proscrição; solidão” (HOUAISS, 2001. p. 1284). É o estado de estar longe da própria casa (seja cidade ou nação) e pode ser definido como a expatriação voluntária ou forçada de um indivíduo.

1. A caverna foi um lugar de refúgio.
- Na caverna de Adulão Davi se refugiou: “Davi retirou-se dali e se refugiou na caverna de Adulão...” (1º Sm 22.1a). Davi recorreu à caverna de Adulão que em hebraico significa: “refúgio, abrigo, esconderijo” para se proteger das constantes perseguições, ameaças e afrontas de Saul que procurava a todo custo destruir sua vida e a sua família. A caverna de Adulão foi um lugar de tratamento na vida de Davi e não podemos esquecer que as cavernas, assim como os vales e desertos da vida não são permanentes e sim temporários. Portanto, por mais pedregosos que sejam os vales, por mais extensos que seja os desertos, e por mais sombrios que seja as cavernas, são apenas lugares de passagens, não são e jamais serão o estado definitivo de nossas vidas, mas sim momentos de aprendizados, amadurecimento e crescimento (Hb 11.38). Na caverna Davi procurou refúgio e segurança (Sl 46.1), na caverna ele se escondeu dos inimigos (Sl 91.1). Os Salmos 57 e 142 foram compostos por Davi enquanto ele esteve escondido na caverna de Adulão.

2. A caverna foi um lugar de reconciliação.
- Na caverna de Adulão toda sua família juntou-se a Davi no exílio: “Deixa estar meu pai e minha mãe convosco, até que eu saiba o que Deus há de fazer de mim” (1º Sm 22.3b). A família toda de Davi juntou-se a ele na caverna, o que significa que seus irmãos desertaram do exército de Saul e tornaram-se fugitivos com o Davi. Na caverna de Adulão aconteceram três coisas com Davi e sua família:
(a) Ele se reencontrou com sua família.
(b) Se reconciliou com sua família.
(c) Ele cuidou de sua família (1º Sm 22.1).

- Depois, Davi tratou de levar seus familiares para Moabe e acampou na fortaleza conhecida como Massada (1º Sm 22.4). Davi honrou o pai e a mãe e procurou protegê-los, de modo que pediu ao rei de Moabe que lhes desse abrigo até o final do exílio. Os moabitas eram descendentes de Ló (Gn 19.30-38) e nos dias de Moisés os moabitas não eram um povo muito estimado pelos israelitas (Dt 23.3-6), mas Rute, bisavó de Davi, era de Moabe (Rt 4.18-22), o que pode ter ajudado Davi a conseguir o apoio e abrigo para sua família (1º Sm 22.4). Também é possível que Davi estivesse contando com a inimizade entre Moabe e Saul (1º Sm 14.47).

- Os cristãos, como soldados reunidos por Cristo, devem lutar com os mesmos objetivos, não tendo cada um sua própria prioridade, mas a de Cristo (Fp 2.4,21). Se esse for o espírito, Deus dará o sucesso e o crescimento da obra.

3. O simbolismo da caverna de Adulão.
- Foi ali que os dons de Davi como líder foram postos em prática. Ele treinou e preparou 400 homens para lutar no dia a dia, e não demorou para que esse número subisse a 600. Isto quer dizer que todos quantos vinham ter com ele não eram rejeitados. Davi é o modelo de líder que recebe homens angustiados pela vida, para torná-los capazes para o serviço.

- A grande lição de Davi para esses homens é que os que desejassem reinar com ele deveriam aprender a sofrer com ele, visando sempre o Reino de Deus. No simbolismo espiritual, podemos comparar Davi a Cristo. Nosso Senhor se dirigiu aos miseráveis, aos cansados, aos oprimidos, aos amargurados, aos publicanos e aos pecadores, e todos foram transformados pelo seu poder e passaram a fazer parte do seu reino (Mt 11.28,29; Lc 15.1; Mt 22.9,10). Assim, quem deseja reinar com Cristo precisa também sofrer com Ele (2ª Tm 2.12).

4. A caverna foi um lugar de reconhecimento.
- Na caverna de Adulão foi onde a família completa de Davi o reconheceu como rei. Davi, que no passado nem havia sido valorizado por sua família agora é procurado por ela: “… quando ouviram isso seus irmãos e toda a casa de seu pai, desceram ali para ter com ele” (1º Sm 22.1). Antes ele tentava provar sua capacidade, mas não era reconhecido (1º Sm 17.28-30). Na caverna, Davi formou um grande exército e passou a ser respeitado, não somente pelo povo, mas também por sua família que o havia desprezado (Sl 27.10).

5. A caverna foi um lugar de restauração.
- Davi é o modelo de líder que recebe homens angustiados pela vida, para torná-los capazes para o serviço: “Ajuntaram-se a ele todos os homens que se achavam em aperto, e todo homem endividado, e todos os amargurados de espírito...” (1º Sm 22.2). Na liderança de Davi homens desprezados se tornaram em um exército de valentes vencedores, oficiais, ministros e governadores o famoso grupo conhecido como os “valentes de Davi”: “São estes os principais valentes de Davi, que o apoiaram valorosamente no seu reino...” (1º Cr 11.10-12). Na caverna os desamparados foram acolhidos; os enfraquecidos foram fortalecidos e encorajados; e os desanimados foram animados. A grande lição de Davi para esses homens é que os que desejassem reinar com ele deveriam aprender a sofrer com ele. Podemos comparar Davi a Cristo que se dirigiu aos miseráveis, aos cansados, aos oprimidos, aos amargurados, aos Publicanos e aos pecadores, e todos foram transformados pelo seu poder e passaram a fazer parte do seu reino (Mt 11.28,29; Lc 15.1; Mt 22.9,10).

II. CARACTERÍSTICAS DOS HOMENS DA CAVERNA DE ADULÃO

- Davi enfrentou altos e baixos em sua vida e nessa ocasião, liderou um exército. Vejamos as características desses homens:

1. Homens que estavam em “aperto”.
- O primeiro grupo, segundo o texto, era formado por homens que “se achavam em aperto” (1º Sm 22.2a). Essa expressão se refere a pessoas perseguidas, assim como Davi. Ou seja, homens que estavam sob pressão e em dificuldade. O conceito de “aperto” aqui é o de pessoas oprimidas ou perseguidas. Essas pessoas certamente se identificaram com Davi por causa do “aperto” que ele também sofria. Eram homens que precisavam de ajuda, e que não tinham muito a oferecer.

2. Homens que estavam “endividados”.
- O segundo grupo era formado por homens endividados. Talvez aqui a referência seja a homens que tinham se tornado escravos por causa de enormes dívidas. Assim, a expressão “homens endividados” é sinônima de “homens escravizados” (1º Sm 22.2b). O termo hebraico usado neste texto é “nashah” que significa “tomar dinheiro emprestado a juros, ter vários credores” Ou seja, eram pessoas que não tinham condições de pagar suas dívidas.

3. Homens de “espírito amargurados”.
- O terceiro grupo era formado por homens “amargurados de espírito” (1º Sm 22.2-c). No original hebraico, o termo é “maar néphesh” e significa: “estar com a alma atormentada”. Na verdade, estes homens eram desqualificados e despreparados. Mesmo assim, não foram rejeitados por Davi: “…se fez chefe deles” (1º Sm 22.2). E foi com estes homens que Davi enfrentou e venceu grandes batalhas (1º Sm 23.1-5; 27.8-12; 30.7-21). Aqueles homens estavam sendo preparados para se tornarem o exército dos valentes de Davi. Como líder, Davi trabalhou na vida daqueles homens sem esperança, modificando as suas vidas, encorajando-os e dando-lhes uma nova perspectiva de vida.

4. Homens que eram “valentes”.
- Na caverna só ficaram aqueles que realmente eram valentes e fiéis (2º Sm 23.8; 1º Cr 11.10). Davi ficou com quatrocentos excelentes guerreiros, número que posteriormente subiu para seiscentos (1º Sm 22.2; 23.13; 25.13; 27.2; 30.9), e destes valentes trinta eram maiorais, e destes, destacam-se três:

4.1. O primeiro comandante da guarda se chamava Josebe-Bassebete comandante da guarda do exército de Davi era muito experiente com sua lança e em uma determinada guerra matou oitocentos homens com essa arma (2º Sm 23.8).

4.2. O segundo comandante da guarda se chamava Eleazar que era mestre no manuseio da espada. Em uma determinada guerra contra os filisteus e não se cansava e lutou tanto que teve uma espécie de câimbra na mão, a ponto de mesmo cansado, não conseguiu largar a espada (2º Sm 23.9,10).

4.3. O terceiro comandante da guarda se chamava Sama que era mestre em estratégia de guerra (2º Sm 23.11,12). Esses três homens eram tão leais ao rei Davi que arriscaram suas vidas em favor do rei. Ao ponto que Davi ansiou por um pouco de água do poço em Belém e estes três fiéis e valentes passaram pelas linhas inimigas a fim de buscá-la para seu líder (2º Sm 23.13-17).

III. DAVI E O AMOR COM OS PAIS

1. Protegendo seus pais.
- Davi não é conhecido apenas como um grande líder, mas também como um bom filho. Ele teve todo um cuidado especial para com os seus pais. Foi até Moabe, porque sabia que eles precisavam de um lugar seguro para habitar e, desse modo, estava se afastando dos territórios de Saul. Há um propósito especial em Davi procurar Moabe. Diversos escritores afirmam que isso se deve aos laços familiares através de Rute, que era a avó moabita de Jessé, pai de Davi.

- A inclusão de Mispa deve-se ao fato de ser esta a cidade real de Moabe; sua citação está restrita aqui e o seu significado é “torre de vigília”; deixando seus pais em segurança, uma expressão grandiosa sai dos lábios de Davi: “Até que saiba o que Deus há de fazer de mim”. Davi ama a Deus, tinha grande amor e carinho pelo seus pais, e não se descuidava de seus companheiros de luta.

- Os filhos, principalmente durante a velhice dos pais, devem honrá-los em tudo, a despeito das lutas e crises que estiverem enfrentando (Sl 127.3). Davi não chegou ao trono apenas porque sabia cuidar dos outros, nem porque era um bom guerreiro, mas, também, porque era um bom filho.

2. A recompensa bíblica para os filhos obedientes.
- Desde o Antigo Testamento, a ênfase é que Deus abençoa sempre os filhos obedientes, pois é o primeiro mandamento com promessa (Êx 20.12; Dt 5.16). Esse ensino foi ministrado por Paulo (Ef 6.2,3).   Nosso Senhor manifestou-se contra os filhos que não cuidavam dos seus pais (Mt 15.5-7). Tais filhos simulada e mentirosamente dedicavam a Deus todos os seus bens, para não honrarem nem sustentarem os seus pais, quebrando, assim, o mandamento.

- Os filhos devem aprender a serem gratos aos seus pais em tudo, dando-lhes honra, dignidade e cuidados materiais. Isso é mandamento de Deus!

IV. MORRENDO POR DAVI

1. A inconsistência de Saul.
- Saul não teve nenhuma caverna para forjar sua vida, não lidou com situações conflitantes, tinha apenas aparência de líder, mas não era um homem segundo o coração de Deus. Os homens que estavam com Saul, ainda que não vivessem as mesmas condições dos que estavam com Davi, não se sentiam tranquilos, pois ele suspeitava da lealdade de todos, inclusive a de seu filho.

- Saul orgulhava-se de ter dado honras à tribo de Benjamin, presentes e posições na liderança; algo que Davi, filho de Jessé, jamais faria. Saul não sabia que lealdade não se compra com presentes, dinheiro, mas nasce naturalmente pela sinceridade, verdade e caráter de um líder genuíno. Só os líderes inseguros fazem cobranças exageradas, dão presentes em troca de lealdade, se inquietam com os que podem” representar risco” à sua posição.

- Quando os líderes são verdadeiramente chamados por Deus é maravilhoso que as pessoas os honrem e os considerem como homens de Deus. O escritor aos hebreus fala da necessidade de se considerar os líderes (Hb 13.7).

2. O preço de proteger Davi.
- Saul convocou Aimeleque e seus sacerdotes para que se apresentassem em Gibeá. Não houve da parte de Aimeleque reação nervosa; ele se declara limpo, pois tinha consciência de que apenas ajudara Davi por tê-lo em grande consideração e por saber que era um soldado da confiança de Saul, aliás, da família real, genro do rei. Apesar dessa declaração sincera, Saul considerou-a um ato de traição, pois Aimeleque havia ajudado Davi, não informando ao rei os seus movimentos. Assim, ele e seus companheiros deveriam morrer.

- Houve uma recusa dos soldados em atacar os sacerdotes, os ungidos de Deus. Foi alguém de fora, um edomita chamado Doegue, que cometeu esse crime brutal. Observe o disparate de Saul: Deus ordenou que ele matasse os amalequitas e não o fez; mas agora extermina prontamente a família de sacerdotes, sem piedade alguma. Apenas um filho de Aimeleque, Abiatar, sobreviveu, salvou o éfode santo e foi ter com Davi (1º Sm 23.6). A amizade entre Davi e Abiatar foi duradoura, ao longo de todo o seu reinado (1º Rs 2.26,27), pois a família de Abiatar morreu para proteger Davi.

3. A sina de Doegue.
- Alguns estudiosos acreditam que o Salmo 52 foi pronunciado por Davi predizendo o destino de Doegue. Davi inicia o salmo mostrando que o ímpio ama a malícia e despreza a bondade de Deus. O caráter do ímpio é descrito pelo salmista assim:
a) Sua língua intenta o mal (Pv 10.31).
b) Traça enganos (Jó 15.35).
c) Despreza o bem e ama o mal (Jr 9.4-5).
d) Não é reto no seu falar.

- Tudo indica que o destinatário do salmista Davi é uma pessoa prepotente, arrogante; sua língua era usada como arma para revelar o que estava dentro do seu coração perverso. Por vezes, o ímpio se mostra perante as pessoas deste mundo com o espírito de grandeza, soberba; busca sempre ser reconhecido e se apresenta como poderoso; suas obras são perversas.

- O salmista deixa claro que Deus punirá esse ímpio arrogante. Note que isso será feito de modo poderoso e pode ser visto pela presença dos seguintes verbos bíblicos: destruir, arrancar, arrebatar, desarraigar. O ímpio pecador será varrido da face da terra.

V. LIÇÕES QUE APRENDEMOS COM A LIDERANÇA DE DAVI

- O verdadeiro líder é aquele que é chamado por Deus. Nenhum líder do povo de Deus terá êxito, se não for escolhido por Ele. O segredo do sucesso de um líder depende, principalmente, de sua chamada. E Davi foi escolhido pelo próprio Deus (1º Sm 16.1-13; 2º Sm 12.7). Muitas lições podemos aprender com a liderança de Davi. Vejamos algumas:

1. Davi depositou sua confiança em Deus. Apesar de contar com aqueles homens para a batalha, Davi sempre depositou a sua confiança em Deus. Antes de sair à peleja, ele costumava consultar ao Senhor (1º Sm 23.2; 30.8; 2º Sm 2.1). Pois, ele sabia muito bem que a vitória não dependia de seus homens, e sim, do seu Deus (Salmos 55, 57 e 59).

2. Davi não descartou seus liderados. Liderar não é uma tarefa fácil, principalmente quando se trata de liderar pessoas que estejam em “aperto, endividados e desgostosos”, como aqueles homens liderados por Davi (1º Sm 22.2). Na caverna os desamparados foram acolhidos; os enfraquecidos foram fortalecidos e encorajados; e os desanimados foram animados. Na liderança de Davi homens fracassados se tornaram em um exército de valentes e vencedores.

3. Davi ensinou seus liderados. Davi sempre aproveitava as oportunidades para ensinar seus homens (1º Sm 24.7,8; 26.8-10). Enquanto Saul contava com um poderoso exército de homens bem treinados e alimentados, Davi dispunha apenas de um pequeno grupo de homens desqualificados. Mas, o grande e bem preparado exército de Saul não pôde impedir que ele fosse derrotado e morto (1º Sm 31.1-13); enquanto que, aqueles fracos homens de Davi, puderam vê-lo sendo constituído rei de todo o Israel (2º Sm 5.1-12). Nos vários estágios da vida de Davi, ele demonstrou sabedoria; quer seja quando estava cuidando das ovelhas de seu pai (1º Sm 17.15,20); quer seja quando estava no palácio, à serviço do rei (1 º Sm 18.5,14); quer seja quando estava fugindo da presença de Saul (1º Sm caps. 24,26): “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria” (Sl 111.10; Pv 9.10).

4. Davi foi humilde. Humildade significa: “ausência de orgulho e de soberba” e ser humilde é o mesmo que “ser simples”, “modesto”. É uma das principais características de um líder. Davi era um homem humilde e nunca se autoproclamou rei de Israel, nem revelou a ninguém que iria substituir a Saul, mesmo depois de haver sido ungido como rei (1º Sm 16.1-13).

5. Davi foi motivador. Uma das principais características de um líder é a capacidade de motivar seus liderados, principalmente diante dos desafios e das dificuldades. Davi soube motivar, não só os seus liderados (1º Sm 22.23; 23.1-5) como também seu próprio líder, Saul (1º Sm 17.32).

6. Davi foi paciente. Davi soube passar pelos muitos estágios em sua vida (Sl 40.1-5), pois foi pastor de ovelhas (1º Sm 16.11); músico do rei (1º Sm 16.23); pajem de armas (1º Sm 16.21); capitão do exército de Israel (1º Sm 18.13,30; 2ºSm 5.2a); líder de um exército de quatrocentos homens (1º Sm 22.1,2); e, depois, de seiscentos homens (1º Sm 30.9). Na verdade, estes estágios em sua vida foi um período de preparação para que ele se tornasse, finalmente, rei de todo o Israel (2º Sm 5.1-5).

CONCLUSÃO. Se não foi fácil para Davi liderar sobre aqueles fracos homens, também não foi fácil para eles serem liderados por Davi, pois, naquela ocasião, ele não tinha nada a lhes oferecer. Não tinha emprego, salário, posses, e nem despojos par repartir com eles. No entanto, eles se submeteram à liderança de Davi, mesmo que, aparentemente, nada pudessem receber em troca. Tivessem eles rejeitado à liderança de Davi, não teriam tido o privilégio de tempos depois, servirem ao rei de Israel. Por isso, aprendemos, não só com Davi, mas também, com sua equipe de liderados a sermos obedientes e submissos a Deus e aos nossos líderes.

FONTE DE PESQUISA

1.       BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, R.C. CPAD.
2.       BÍBLIA DE ESTUDO PLENITUDE, Revista e Corrigida, S.B. do Brasil.
3.       BÍBLIA PENTECOSTAL, Trad. João F. de Almeida, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
4.       BÍBLIA SHEDD, Trad. João F. de Almeida RA.
5.       CLAUDIONOR CORRÊADE ANDRA, Dicionário Teológico, Ed. CPAD, Rio de Janeiro, RJ.
6.       HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. SP: OBJETIVA, 2001.
7.       JOSEFO, Flávio (Trad. Vicente Pedroso). História dos Hebreus. RJ: CPAD, 2007.
8.       STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ: CPAD, 1997.
9.       WIERSBE Warner W. Comentário Bíblico Claro e Conciso AT – Históricos. SP: GEOGRÁFICA, 2010.


quarta-feira, 13 de novembro de 2019

DAVI É UNGIDO REI



TEXTO ÁUREO
“Então, Samuel tomou o vaso do azeite e ungiu-o no meio dos seus irmãos; e, desde aquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apoderou de Davi. Então, Samuel se levantou e se tornou a Ramá.”(1º Sm 16.13)

VERDADE PRÁTICA
O propósito da unção é capacitar o obreiro para desempenhar a obra de Deus e, com autoridade, vencer os gigantes.

LEITURA BÍBLICA
1º Samuel 16.1-13 “Então, disse o SENHOR a Samuel: Até quando terás dó de Saul, havendo-o eu rejeitado, para que não reine sobre Israel? Enche o teu vaso de azeite e vem; enviar-te-ei a Jessé, o belemita; porque dentre os seus filhos me tenho provido de um rei. 2 – Porém disse Samuel: Como irei eu? Pois, ouvindo-o Saul, me matará. Então, disse o SENHOR: Toma uma bezerra das vacas em tuas mãos e dize: Vim para sacrificar ao SENHOR. 3 – E convidarás Jessé ao sacrifício; e eu te farei saber o que hás de fazer, e ungir-me-ás a quem eu te disser. 4 – Fez, pois, Samuel o que dissera o SENHOR e veio a Belém. Então, os anciãos da cidade saíram ao encontro, tremendo, e disseram: De paz é a tua vinda? 5 - E disse ele: É de paz; vim sacrificar ao SENHOR. Santificai-vos e vinde comigo ao sacrifício. E santificou ele a Jessé e os seus filhos e os convidou ao sacrifício.6- E sucedeu que, entrando eles, viu a Eliabe e disse: Certamente, está perante o SENHOR o seu ungido. 7 – Porém o SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a altura da sua estatura, porque o tenho rejeitado; porque o SENHOR não vê como vê o homem. Pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o SENHOR olha para o coração. 8 – Então, chamou Jessé a Abinadabe e o fez passar diante de Samuel, o qual disse: Nem a este tem escolhido o SENHOR. 9 – Então, Jessé fez passar a Samá, porém disse: Tampouco a este tem escolhido o SENHOR. 10 – Assim, fez passar Jessé os seus sete filhos diante de Samuel; porém Samuel disse a Jessé: O SENHOR não tem escolhido estes. 11- Disse mais Samuel a Jessé: Acabaram-se os jovens? E disse: Ainda falta o menor, e eis que apascenta as ovelhas. Disse, pois, Samuel a Jessé: Envia e manda-o chamar, porquanto não nos assentaremos em roda da mesa até que ele venha aqui. 12- Então, mandou em busca dele e o trouxe (e era ruivo, e formoso de semblante, e de boa presença). E disse o SENHOR: Levanta-te e unge-o, porque este mesmo é. 13 – Então, Samuel tomou o vaso do azeite e ungiu-o no meio dos seus irmãos; e, desde aquele dia em diante, o Espírito do SENHOR se apoderou de Davi. Então, Samuel se levantou e se tornou a Ramá.

INTRODUÇÃO.
- Na sequência do estudo dos livros de Samuel, estudaremos a respeito da escolha de Davi por Deus para ser o novo rei de Israel.

- Davi era o homem segundo o coração de Deus escolhido pelo Senhor para reinar sobre Israel.

- O conceito de unção é do Antigo Testamento; destinava-se a sacerdotes, reis e profetas, para que estes exercessem com êxito suas funções e ministérios (Êx 40.13-15;1º Sm 9.16); profetas também eram ocasionalmente ungidos, segundo a determinação divina (1º Rs 19.16).
- A unção capacita o obreiro para desempenhar a obra de Deus.

I. QUEM ERA DAVI

- Davi era o filho mais novo de Jessé, filho de Obede e da linhagem de Rute a moabita que casou com Boaz. A trajetória normal de sua história seria uma vida pacata no campo e uma boa prestação de serviços aos seus irmãos.

- Contudo, o Deus de Israel estava atento ao estilo de vida do jovem pastor. A ponto, de o Senhor o escolher para ser o segundo rei de seu povo e o mais amado e conhecido até os dias de hoje.

- No texto de 1º Samuel 16.11 – 13, fica muito claro que nem Jessé seu pai, ou muito menos seus irmãos o viam de maneira tão privilegiada.

II. A ESCOLHA DE DAVI COMO REI DE ISRAEL

1. As condições de Saul.
- O rei Saul apresentara-se como um rebelde contra o Senhor e, diante disso, não poderia mais continuar reinando sobre Israel, sob pena de levar todo o povo à perdição. Espiritualmente, pois, o reino caminhava muito mal e Deus já revelara ao seu profeta, Samuel, o desejo de escolher um outro rei, que fizesse a Sua vontade. Ciente desta disposição e estando afeiçoado a Saul, Samuel começou a interceder pelo rei, a fim de que Deus pudesse modificar a sua triste sorte (1º Sm 16.1).

- Estes fatos mostram-nos como devemos ter muito cuidado na obra do Senhor. Assim como Deus queria o bem-estar espiritual de Seu povo e isto não era possível com Saul à frente, diante de seu espírito rebelde, do mesmo modo, nos dias hodiernos, Deus também não tem prazer em ver “líderes” rebeldes à frente da Igreja do Senhor. Não é por outro motivo, aliás, que o apóstolo Paulo diz que os que presidem devem fazê-lo com muito cuidado (Rm 12.8), pois o Senhor a tudo observa e não admite que rebeldes fiquem à frente de Seu povo.

2. A ordem de Deus a Samuel.
- Em resposta à oração intercessória de Samuel, o Senhor lhe manda até a casa de Jessé, em Belém de Judá, pois ali Se tinha provido de um rei entre os filhos de Jessé. Samuel, numa lição que nos dá, ao saber qual tinha sido a resposta de Deus a seus pedidos por Saul, prontamente obedeceu, não ficou insistindo nem teimando. Que possamos todos, ao receber de Deus uma resposta a nossas súplicas, conformarmo-nos à Sua vontade, pois não se ganha coisa alguma em contender contra o Senhor.

2.1. A estratégia de Deus- Samuel, porém, sabia que Saul era um rei duro e impiedoso. Ao receber a ordem divina para ungir a um dos filhos de Jessé, o profeta, que desfrutava de intimidade com Deus, temeu por sua vida, pois sabia que Saul não hesitaria em mandar matá-lo, caso soubesse que ele havia ungido outrem para reinar sobre Israel. O Senhor, então, dá-lhe uma estratégia, qual seja, a de fosse realizar um sacrifício pacífico em Belém e que convidasse a Jessé e a sua família e, após o sacrifício, quando estivessem todos para comer a refeição, Deus indicaria quem deveria ser ungido (1º Sm 16.2,3).

2.2. Vemos como Deus trabalha. O receio de Samuel era justificado. Saul já dera mostra de sua impulsividade e de seu caráter violento, o que muito explicava a sua rebeldia contra o Senhor. No entanto, Deus não Se irou contra Samuel nem viu nesta atitude do profeta uma recusa a realizar a Sua vontade. Prontamente, deu-lhe uma estratégia em que a ordem divina seria prontamente cumprida e o risco de perseguição por parte de Saul senão completamente, sensivelmente diminuído.

2.3. O mesmo hoje ainda acontece. Devemos levar ao Senhor as nossas dúvidas e dificuldades quando somos convocados para o Senhor para realizarmos alguma obra. O que não podemos é desprezar as reais circunstâncias que se apresentam como obstáculos à realização da vontade de Deus como também, por conta de tais dificuldades, deixar de fazer a vontade do Senhor. Muitos hoje ou deixam de lado a prudência e querem cumprir a vontade de Deus sem o devido cuidado e, diante disto, saem prejudicados, ou, então, o que é pior, simplesmente desobedecem a Deus por conta dos problemas que se apresentam. Samuel não fez nem uma coisa, nem outra. Correu aos pés do Senhor e lhe pediu uma estratégia, exatamente o que Tiago nos conclama a fazer: “e, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e não lança em rosto, e lhe será dada” (Tg.1.5).

3. Um sacrifício de paz. Ao chegar a Belém, uma pequena cidade de Judá (Mq 5.2), Samuel causou não pequeno alvoroço entre os anciãos da cidade, pois a presença do homem de Deus nunca era despropositada ou gratuita. Samuel, porém, apazigua a todos e diz que sua vinda é de paz e que deveria oferecer sacrifício pacífico ao Senhor, convidando Jessé e sua família para a efeméride, o que significava que, após o sacrifício, tomaria a refeição na residência de Jessé (1º Sm 16.4,5).

4. As aparências nos enganam. Após o sacrifício e já na hora da refeição que se lhe seguia (Lv 7.15-17), Samuel, então, em obediência à ordem divina, mandou que se lhe trouxessem os filhos de Jessé, pois o Senhor havia dito que, dentre eles, tinha Se provido de um rei (1º Sm 16.1).

- Chegou, então, o primogênito de Jessé, Eliabe. Além de ser o primogênito e, portanto, ser, por força da lei de Moisés, não só aquele que pertencia ao Senhor (Êx 13.2; Nm 3.13; 8.17), como também o mais abençoado dentre todos os filhos, tanto que fazia jus à porção dobrada na herança (Dt 21.17), Eliabe era de porte atlético, guerreiro (1º Sm 17.13) e, diante de tantas “evidências”, Samuel não teve dúvida de que, diante dele, estava o novo rei de Israel (1º Sm 16.6).

- No entanto, se Samuel via o exterior e fazia suas avaliações com relação às convenções humanas e, até mesmo, diante das conclusões humanas diante da lei divina, Deus conhecia o coração de Eliabe e sabia que ele era um homem covarde e invejoso, apesar de sua aparência e altura (cf. I Sm.17:28), motivo pelo qual não era o escolhido do Senhor para reinar sobre Israel (1º Sm 16.7). Mesmo Samuel, o homem de Deus daquele tempo, o homem em que habitava o Espírito Santo (o Espírito, embora ainda estivesse sobre Saulnaquele instante, já não mais operava no rei, o que fazia de Samuel a única pessoa, que temos conhecimento, naquele instante, a ter o Espírito de Deus em Israel), não era capaz de conhecer o coração humano, pois só Deus pode fazê-lo. Por isso, ante esta história da rejeição de Eliabe, sejamos cuidadosos e não façamos julgamentos precipitados sobre A ou B, pois não temos condição de saber o que há no interior do homem, o que existe em seu coração enquanto não convivermos com ele o suficiente para vermos os seus frutos e, então, sabermos quem ele é (cf. Mt 7.15-20).

- Ante estas palavras do Senhor a Samuel, o profeta mandou que passasse diante dele os outros filhos de Jessé. Passaram diante de Samuel, então, os sete filhos que ali estavam (1º Sm 16.10), tendo Deus rejeitado a todos eles, inclusive os dois outros guerreiros, Abinadabe e Samá (por isso, os únicos nomeados no texto sagrado, nessa ocasião – 1º Sm 16.8-10).

5. O convidado de honra. Quando passou diante dele o sétimo moço e o Senhor o recusou, Samuel, certamente, ficou atônito. Deus havia lhe dito que de um dos filhos de Jessé havia Se provido de um rei e o último acabara de ser rejeitado.

- Como Samuel, porém, sabia em quem cria, indagou a Jessé se havia ainda outro filho. Foi, então, que Jessé deu notícia da existência de um oitavo, o menor, que estava a apascentar as ovelhas. Davi era o menor, aquele que nem sequer era considerado a ponto de ser convidado para participar do sacrifício e da refeição que lhe seguiria (1 Sm 16.11).

- Mais uma vez vemos como Deus vê diferentemente do homem. Aquele que havia sido desprezado, desconsiderado, de que ninguém sentiu a falta, era o escolhido de Deus. Isto ainda continua a acontecer, pois “…Deus escolheu as coisas loucas deste mundo para confundir as sábias, e Deus escolheu as coisas fracas deste mundo para confundir as fortes, e Deus escolheu as coisas vis deste mundo e as desprezíveis, e as que não são para aniquilar as que são, para que nenhuma carne se glorie perante Ele” (1ª Co 1.27-29). Temos a visão divina para ver e compreender estas coisas, ou temos nos prendido às coisas deste mundo e nos tornado cegos ante a obra do Senhor?

- Diante desta notícia, Samuel, já sabedor de que se trava do escolhido de Deus, mandou que se enviasse alguém para chamar o filho que restava, pois ninguém se assentaria em roda da mesa enquanto ele não chegasse. Deus já começava ali a honrar Davi, pois, de não-convidado, passara a ser o convidado de honra.

- De desprezado pelo próprio pai e pela família, passara a ser o homenageado do profeta e ex-juiz de Israel.

- De rejeitado pelos homens, passara a ser o escolhido de Deus. Davi, mesmo antes de ter conhecimento do seu chamado, já prefigurava o Cristo que, de rejeitado pelos homens e por Israel (Is 53.3; Jo 1.11), foi o escolhido de Deus para ser posto acima de todos (Fp 2.9-11), a pedra rejeitada que foi posta por cabeça da esquina (At 4.11).

- Os parâmetros e critérios para as escolhas que Deus faz são frontalmente opostos aos nossos. Isto porque Ele não se guia pela aparência efêmera do ser humano ou as circunstâncias superiores que envolvem sua vida. Nenhum de nós jamais pela nossa lógica escolheria um pastor de ovelhas para ser Rei de uma nação. O eliminaríamos sem cerimônias. Contudo, não foi assim com o jovem perseguido pelos seus irmãos. Deus o elegera “o homem segundo o seu coração.” Digno de ocupar o posto mais elevado em Israel. Mas, porque?

- Muito se discute sobre o número dos filhos de Jessé. O texto de 1º Sm.16 fala-nos que havia sete filhos no banquete e que, depois, Davi foi chamado, o que faz com que o número de filhos seja de oito, o que é confirmado por 1º Sm 17.12. Em 1 Cr 2.13-15, entretanto, Davi é apontado como o sétimo filho de Jessé, como se Jessé tivesse apenas sete filhos e não oito como constou em 1º Sm, em 1º Cr, aliás, são dados os nomes de todos os filhos de Jessé, o que não ocorre em 1º Sm, que apenas dá o nome dos três mais velhos (Eliabe, Abinadabe e Simeia ou Samá), que eram os filhos de Jessé que faziam parte do exército de Israel (1º Sm 17.13). Ali ficamos sabemos os nomes dos outros três, a saber: Netanel, Radai e Ozem (1º Cr 2.14,15).

- Davi é apresentado como “o filho menor”, que é o objetivo da revelação divina, ou seja, mostrar que a escolha de Davi foi divina e fora de quaisquer parâmetros humanos, o que é relevantíssimo no que toca ao desenvolvimento do plano de Deus para a salvação do homem.

- Quando Davi chegou, a Bíblia diz que ele era ruivo, formoso de semblante e de boa presença. Esta descrição física do jovem mostra-nos claramente que Davi não era rejeitado porque fosse defeituoso ou uma pessoa feia, mas, única e exclusivamente, porque era “o filho menor”, em virtude das convenções sociais de seu tempo. Era um rapaz bonito, bem-apessoado, simpático e educado, mas que era desprezado por conta de sua qualidade de filho caçula. Isto também impede que se diga que Davi era um filho bastardo ou algo semelhante, como se chegou mesmo a apregoar. Se o fosse, isto, certamente, não impediria a escolha da parte de Deus, mas não podemos inferir tal afirmação pois o texto sagrado não nos permite fazê-lo, visto que a Bíblia jamais omitiria tal dado, caso ele existisse, como, por exemplo, vemos no caso de Jefté (Jz.11:1,2).

- Discute-se se Davi era “ruivo” mesmo ou se o termo não foi corretamente traduzido, querendo dizer “loiro” ou “claro” em relação aos seus irmãos, que deveriam ser mais escuros. Muitos acham que a expressão revela que Davi era “bronzeado” ou “moreno” (como traduziu a Nova Versão Internacional), em virtude de sua exposição ao sol. De qualquer maneira, ele se distinguia dos seus irmãos na sua aparência física. Não tinha o corpo atlético e “sarado” de seus irmãos mais velhos, mas era de “gentil aspecto”, ou seja, uma pessoa simpática que transmitia ternura e dulçor, algo bem diferente da imagem que Israel tinha para um rei e que tanto havia se adaptado à aparência física de Saul. Como os olhos humanos se enganam.

6. A unção de Davi por Samuel.
- Quando Davi chegou, Samuel somente o ungiu depois que o Senhor lhe mandou, prova de que aprendera a lição de que só Deus conhece o coração do homem. Apesar das evidências, o profeta se manteve obediente à voz do Senhor e, quando o Senhor confirmou que aquele era o escolhido, tomou o vaso de azeite e ungiu Davi no meio de seus irmãos. Este ato, apesar de solene, foi sobretudo um ato espiritual, que teve efeito imediato tão somente no interior de Davi, pois a Bíblia diz que, a partir daquele instante, o Espírito de Deus Se apoderou de Davi (1º Sm 16.13).

- Do ponto-de-vista exterior, após aquela unção, todos tomaram a refeição e Samuel, como nos diz o texto sagrado, levantou-se e tornou a Ramá. Enquanto isto, “o novo rei”, no dia seguinte, voltou a apascentar as ovelhas de seu pai. Nada, aparentemente, havia mudado, tudo como antes.

- Na verdade, porém, Davi não era mais o mesmo. Assim como Saul, quando ungido, tornou-se um outro homem (1º Sm 10.6), Davi também teve alterado o seu estado espiritual. No entanto, se Saul profetizou logo em seguida ao apossamento do Espírito, o mesmo não se deu com Davi. No entanto, diz-nos a Bíblia, o Espírito do Senhor se retirou de Saul, como resultado direto da unção de Davi e, a partir de então, Saul ficou à mercê de um espírito maligno, enviado da parte do Senhor, ou seja, por Sua vontade permissiva (1º Sm 16.14).

- Como estávamos ainda na dispensação da lei, vemos que o Espírito operava sob medida e, diante da rejeição divina a Saul, não podia mais o Espírito habitar em Saul quando se ungiu um novo rei. Por isso, o Espírito Se apoderou de Davi e, simultaneamente, se retirou de Saul. Espiritualmente, pois, já havia ocorrido a sucessão. Davi só viria a ocupar o trono muitos anos depois, mas, diante de Deus, a sucessão já se fizera. Havia um novo rei, um novo ungido em Israel.

- O mesmo ocorre nos dias hodiernos. Quando somos salvos pelo Senhor, o Espírito Santo vem habitar em nós (Jo 14.17; Rm 8.9), sem que, para isso, porém, tenha de sair de ninguém mais. Agora o Espírito Santo atua livremente, não mais por medida (Jo.3:34), de sorte que podemos desfrutar da condição de templos do Espírito Santo independentemente da conduta dos demais (1ª Co 6.19). No entanto, se entristecermos o Espírito Santo e, em mantendo nossa conduta pecaminosa, O agravarmos (Ef 4.30; Hb 10.29), corremos sério risco de cairmos na mesma situação de Saul, quando não um, mas até mesmo oito espíritos malignos podem nos causar enorme e, por vezes, irremediável prejuízo espiritual em nossas vidas (Mt 12:43-45; Lc.11.25-26; Hb 10.30,31).

III. AS CIRCUNSTÂNCIAS EM QUE DAVI FOI CHAMADO

1. Em meio a uma crise espiritual. De certa forma, a vocação ou o chamado de Davi por parte de Deus externou-se a partir da rejeição de Saul pelo Senhor (1º Sm 13.13,14; 15.26-28). É preciso lembrar-se que, antes de ter um rei, o povo de Israel possuía uma liderança teocrática, formada por juízes escolhidos por Deus, os quais defendiam suas causas (Jz 2.16-19). Não obstante, a vontade de Israel manifestada publicamente naqueles dias (cf. 1º Sm 8.1-22), foi esquivar-se do sistema político da teocracia para se tornar uma monarquia como as nações incrédulas vizinhas (1º Sm 8.1-7, 19-22). A vontade do povo não era apenas a de ter um rei, mas de se tornar “como as outras nações” (v. 20). Não era, portanto, apenas por uma simples mudança de regime que o povo estava ansiando, mas por uma troca de governante. Aquela má escolha deixou o profeta Samuel alarmado e triste (1º Sm 8.6).

- É nesse contexto que vemos, na história bíblica, surgir Saul (1º Sm 9.1-27), alguém que preenchia os requisitos e as expectativas do povo (1º Sm 8.4-6). Muito cedo em seu governo Saul demonstra não ser um homem disposto a buscar a direção de Deus para dirigir Israel (1º Sm 13). Samuel logo observou ser Saul um rei carnal, fraco, desobediente e sem espiritualidade, e, portanto, desqualificado como líder do povo eleito de Deus (1º Sm 13.14; 15.26-28). O maior problema era que um fracasso iminente do rei significava a derrocada de toda a nação. E isso, infelizmente, não tardou acontecer. Saul assemelhava-se a uma árvore, cujas raízes foram cortadas, permanecendo com sua folhagem verde por algum tempo. E é neste contexto que o Senhor buscou “para si um homem” que lhe agradasse e que se tornaria príncipe sobre o seu povo (1º Sm 13.14). E Davi era esse homem escolhido (1º Sm 16.12,13).

- Hoje, assim como naquela época, a obra de Deus sofre, em certos lugares, por desobediência de alguns que chegam a “ensinar” somente por obrigação e vontade humana sem, contudo, ter a aprovação de Deus. Entretanto, não é possível alguém permanecer à frente da obra Deus e ir muito longe se os seus fundamentos espirituais foram derrubados.

2. A gravidade da crise. Diante de uma crise de tal gravidade que se abateu sobre a liderança do povo de Deus, Samuel chorava não somente a queda de Saul, mas também se preocupava com a lacuna gerada por sua rejeição definitiva. Deus, que controla as situações, declarou a Samuel que já havia se provido de um rei (1º Sm 16.1).

- Em toda a história bíblica, é possível verificar esta forma de Deus tratar com o seu povo. Durante a peregrinação no deserto, vemos como o Senhor não aceitou a desobediência de Moisés, impedindo sua entrada na Terra Prometida (Nm 20.11,12; Dt 32.51,52). Mesmo não permitindo que Moisés em sua rebeldia continuasse a governar o seu povo e entrasse em Canaã, o Todo-Poderoso não desamparou a sua Tribo Nômade, pois já havia provido outro líder para finalmente introduzi-la na Terra Prometida (Dt 1.37,38).

III. A NATUREZA DA VOCAÇÃO DE DAVI

1. Um desígnio divino. No ensino revelado na Palavra de Deus, a vocação divina é um fato declarado e demonstrado entre o povo de Deus. Ele chama a quem quer, quando quer e capacita como quer e para o que quer. Essa verdade é demonstrada na vida do sucessor de Saul. Quando lemos o Salmo 89.20: “Achei a Davi, meu servo; com o meu santo óleo o ungi”, vemos claramente que Davi foi escolhido por Deus. Ele foi chamado ou “recebeu uma vocação” da parte do Senhor.

- Em um contexto maior, é importante entender que o Messias prometido ao povo de Deus seria um descendente da tribo de Judá e, portanto, Davi é parte direta do cumprimento das promessas divinas a Israel (Is 11.1,2; Jr 23.5,6; At 2.29,30; Rm 1.3). O primeiro versículo do Novo Testamento (Mt 1.1) enuncia o cumprimento desta profecia messiânica. No último livro da Bíblia, o próprio Senhor Jesus, o Messias prometido declara: “[…] Eu sou a Raiz e a Geração de Davi” (Ap 22.16). Tais textos são uma evidência do cumprimento da Aliança Davídica: “Porém a tua casa e o teu reino serão firmados para sempre diante de ti; teu trono será firme para sempre” (2º Sm 7.16).

2. A resposta humana. Um dos princípios da vocação divina é a soberania de Deus (1º Cr 28.4,5). Todavia, isso não significa que o Eterno não leve em conta a responsabilidade humana na realização de seus propósitos (1º Cr 28.6,7).

- Saul subiu ao trono em resposta à pretensão do povo (1º Sm 8.4-6), que, após ouvir a “descrição” divina do perfil do rei (1º Sm 8.9-18), respondeu categoricamente: “Não, mas haverá sobre nós um rei. E nós também seremos como todas as outras nações; e o nosso rei nos julgará, e sairá adiante de nós, e fará as nossas guerras” (vv.19b, 20). Assim, de acordo com o discurso do apóstolo Paulo na sinagoga de Antioquia, o Eterno deu Saul em resposta ao injusto clamor do povo e segundo o que eles idealizaram (At 13.21). Em seguida, Paulo declara que Deus “levantou como rei a Davi” (At 13.22). Enquanto Davi foi levantado em decorrência da vontade divina (1º Sm 13.13; 15.26-28; 16.1), Saul foi dado por Deus segundo o desejo de Israel de ter alguém com o perfil desse rei (1º Sm 9.14-20; 10.17-27).

- Isso mostra que a escolha divina de homens para o seu serviço leva também em conta a liberdade humana e não a invalida. Saul não estava predestinado ao fracasso (1º Sm 13.13), tampouco Davi estava destinado ao sucesso continuamente (1º Rs 11.38). Contrastando a vida de ambos, observamos que os dois foram ungidos da parte de Deus por Samuel sob iguais condições de conduzirem o reino de Israel. Mas a forma como cada um procedeu ante a esse chamado foi muito diferente.

IV. DAVI, O REI UNGIDO

1. Significado e propósito da unção. No hebraico, há duas palavras para unção − suk e mashah. A palavra suk aponta para a unção com o óleo sobre o corpo ou a cabeça de um convidado (Dt 28.40; Rt 3.3). A palavra grega que corresponde ao hebraico suk é aleipho (Lc 7.38,46), que pode referir-se ao ato de ungir os enfermos (Mc 6.13; Tg 5.14). Quanto à palavra mashah, a ideia é a de cobrir ou untar. Dela deriva o substantivo mashiah (Messias). A palavra grega chrio se relaciona com mashah, daí o nome “Cristo”. No Antigo Testamento, a palavra preferível para a prática da unção religiosa é mashah: unção de pedra (Gn 31.13); dos sacerdotes (Êx 28.41; 29.7,36), dos reis (1º Sm 9.16), dos profetas (1º Rs 19.16) e de objetos diversos (Êx 30.26-28). Nesse sentido, o ato da unção busca mostrar que a pessoa ou o objeto ungido fora especialmente separado para o serviço de Deus, tornando-se assim, intocável (1º Sm 24.6).

2. O simbolismo da unção. Como um ato ordenado por Deus, a unção passou a simbolizar o derramamento do Espírito do Senhor (1º Sm 10.9; Is 61.1). O termo mashah do Antigo Testamento, que no Novo é chrio, refere-se à unção do Messias que viria (Sl 45.7; Dn 9.24). Assim, o Novo Testamento mostra que essa unção estava sobre Jesus (Lc 4.18). Pedro fez menção dessa unção sobre o Filho de Deus (At 10.38); e Paulo descreveu essa mesma unção sobre os cristãos (2ª Co 1.21,22). A unção no Antigo Testamento destinava-se à separação de alguém está relacionada a Cristo, como Filho de Deus e Salvador do Mundo, e aos cristãos, no sentido de dotar-nos de poder para testemunhar as verdades do Evangelho (At 1.8; 1º Jo 2.20,27). A verdadeira unção é ordeira, decente e tem como alvo a glória divina e a expansão do Reino de Deus.

3. A unção sobre Davi. Alguns detalhes importantes cercam 1º Samuel 16.1-13 por ocasião da unção de Davi por Samuel. O autor sagrado destaca o sentimento humano de Samuel, o qual gostava muito de Saul, mas o profeta estava no querer de Deus. Devido a seus pecados, Saul não poderia continuar como rei. Então Deus busca na casa de Jessé, o belemita, neto de Boaz e Rute, um de seus filhos para reinar (Rt 4.17). Conhecendo bem Saul, Samuel tinha consciência de que a missão de ungir um novo rei seria difícil. Por isso, ele foi orientado por Deus a fazer um banquete e um sacrifício naquela região. Como representante de Deus, muitos o temeram, mas Samuel relatou que sua ida era de paz. Os filhos de Jessé passaram diante do profeta, mas nenhum deles foi escolhido, embora Samuel se impressionasse com a postura e aparência dos jovens. Entretanto, um estava ausente, cuidando dos haveres da família. Davi foi ungido em meio aos seus irmãos e, a partir daí o Espírito do Senhor se apoderou de Davi, concedendo-lhe sabedoria, poder, orientação, para que pudesse cumprir os propósitos divinos.

V. DAVI, O REI QUE ERA SERVO

1. O ungido servindo. A unção de Deus não tira a nossa atitude de servos. Davi, sendo ungido, não abandonou sua posição de servo e fez isso até que chegasse o momento de assumir o trono. Sua atitude de servo foi estratégica, para que Deus o colocasse na corte de Saul, local de onde os planos divinos seriam executados. No relato do encontro de Davi com Saul, deve-se entender que tais acontecimentos não se seguem em ordem cronológica. Todavia, o mais importante é vislumbrar a promessa divina em curso, pois Davi crescia enquanto Saul decrescia.

2. O Espírito do Senhor se retira de Saul. O Espírito de Deus se afastou de Saul. Este, por sua vez, passou a ser assombrado por um espírito mau que ali estava por expressa permissão do Senhor. Para acalmar essa profunda melancolia na alma, o servo Davi foi convidado e levado à corte pela graça de Deus e por suas virtudes: tinha boa aparência, talento, capacidade de aprender e compreender as coisas; era bom guerreiro e o Senhor era com Ele (1º Sm 16.18).

3. Deus levanta autoridades. Davi esteve muito tempo com Saul, mas em momento algum relatou a unção de Samuel sobre sua vida; ou tentou aproveitar-se da vulnerabilidade do rei para matá-lo e assumir o reinado; antes, participou de lutas em seu favor. Só no momento certo é que foi aclamado rei. É Deus que levanta e dá a autoridade. Deus pode levar crentes a grandes postos. Entretanto, é preciso aprender a servir, ter atitude de servo, pois foi esse o exemplo que Jesus nos deixou: servir a todos (Mc 10.45; Fp 2.7).

CONCLUSÃO.
- Vimos, pois, que a vocação de Davi fez parte da vontade de Deus, que na sua soberania e presciência escolhe a quem quer para a realização dos seus desígnios. Nada está fora do seu controle e nada acontece sem a sua permissão. Mesmo em meio às crises e reveses da vida, Ele continua sendo Senhor da história.

- Quando Deus está no caso, portas se abrem sem nem ao menos sabermos de onde e como foi aberta, mas abre. E onde vai parar o futuro rei de Israel? Justamente junto, na intimidade, do atual rei de Israel. Saul mandou uma comitiva à casa de Jessé convocando seu filho Davi para um encargo real.

- Era como se fosse um estágio supervisionado, uma escola para Davi, um treinamento de primeira linha. Saul se encanta com Davi e se sente muito aliviado quando lhe sobrevém as crises e assim torna ele seu escudeiro e lhe dá lugar de destaque no reino.
À princípio, ninguém o invejou, nem o temeu, pois, sua entrada foi tão sutil e tão agradável que também logo conquistou toda família de Saul e os principais dos guardas e líderes de Saul. Ele não representava uma ameaça!


sexta-feira, 8 de novembro de 2019

A REBELDIA DE SAUL E A REJEIÇÃO DE DEUS



TEXTO ÁUREO
“Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.” (1º Sm 15.23).

VERDADE PRÁTICA
Ao cristão nascido de novo não cabe praticar o pecado da rebeldia, pois fazê-lo é reviver a velha natureza.

LEITURA BÍBLICA

1º Samuel 15.17-28
“E disse Samuel: Porventura, sendo tu pequeno aos teus olhos, não foste por cabeça das tribos de Israel? E o SENHOR te ungiu rei sobre Israel. 18- E enviou-te o SENHOR a este caminho e disse: Vai, e destrói totalmente a estes pecadores, os amalequitas, e peleja contra eles, até que os aniquiles. 19 - Por que, pois, não deste ouvidos à voz do SENHOR? Antes, voaste ao despojo e fizeste o que era mal aos olhos do SENHOR. 20 - Então, disse Saul a Samuel: Antes, dei ouvidos à voz do SENHOR e caminhei no caminho pelo qual o SENHOR me enviou; e trouxe a Agague, rei de Amaleque, e os amalequitas destruí totalmente; 21 - mas o povo tomou do despojo ovelhas e vacas, o melhor do interdito, para oferecer ao SENHOR, teu Deus, em Gilgal. 22- Porém Samuel disse: Tem, porventura, o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. 23 - Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei. 24 - Então, disse Saul a Samuel: Pequei, porquanto tenho traspassado o dito do SENHOR e as tuas palavras; porque temi o povo e dei ouvidos à sua voz. 25 - Agora, pois, te rogo, perdoa-me o meu pecado e volta comigo, para que adore o SENHOR. 26 - Porém Samuel disse a Saul: Não tornarei contigo; porquanto rejeitaste a palavra do SENHOR, já te rejeitou o SENHOR, para que não sejas rei sobre Israel. 27- E, virando-se Samuel para se ir, ele lhe pegou pela borda da capa e a rasgou. 28 - Então, Samuel lhe disse: O SENHOR tem rasgado de ti hoje o reino de Israel e o tem dado ao teu próximo, melhor do que tu.”

INTRODUÇÃO.
- Nesta lição trataremos sobre a rebeldia de Saul e de sua rejeição por parte de Deus. Figuradamente, Israel foi comparado a uma vaca rebelde que se rebelou contra Deus:
“Porque como novilha rebelde se rebelou Israel. Agora o Senhor os apascentará como a um cordeiro num lugar espaçoso.” (Os 4.16).

- A Bíblia mostra que há castigo divino para quem trilha o caminho da rebeldia:
“Disse o Senhor a Moisés: Põe de volta a vara de Arão perante o testemunho, como sinal para os filhos rebeldes. Assim farás acabar as suas murmurações contra mim, e não morrerão.” (Nm 17.10).

“Mas contra Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente.” (Rm 10.21).

“Tendo em vista que a lei não é feita para o justo, mas para os transgressores e rebeldes, os irreverentes e pecadores, os ímpios e profanos, para os parricidas, matricidas e homicidas.” (1ª Tm 1.9).

- É isso o que estudaremos aqui, tomando como exemplo Saul, o primeiro rei de Israel.

- O orgulho é um fator determinante para o pecado de rebelião. Geralmente, a ausência de humildade, a disponibilidade para o serviço altruísta, leva o ser humano a desenvolver uma personalidade egoísta e orgulhosa. Quando se permite ao orgulho dominar o coração, o processo de rebelião está preste a ser instalado. Cultivar a submissão, a humildade e a obediência é o antídoto necessário para remover o “espírito da rebelião”, “porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniquidade e idolatria” (1º Sm 15.23).

I. DEFINIÇÃO DE REBELDIA

1. Conceito.
A rebeldia é caracterizada como um ato de resistência; é opor-se a uma autoridade; por vezes se trata de uma obstinação em excesso. Na Bíblia, há exigências constantes para que o servo de Deus evite a rebelião, quer seja contra Deus, quer seja contra os pais, os líderes e as autoridades.

- Rebelião e obstinação são dois pecados graves. Eles envolvem muito mais que ser independente e determinado. As Escrituras colocam esses dois pecados no mesmo patamar que a feitiçaria e a idolatria, pecados merecedores da morte (Êx 22.18; Lv 20.6; Dt 13.12-15; 18.10; Mq 5.10-14).

- Saul se tornou rebelde e obstinado, por isso não é de admirar que Deus, finalmente, o rejeitasse e removesse seu reino. A rebelião contra Deus é, talvez, o mais grave dos pecados, porque uma pessoa que se rebela fecha a porta para o perdão, e a restauração de Deus. (Bíblia de Estudo Cronológica - CPAD - Pág.460)

Rebelião
- Ação ou efeito de rebelar, de se recusar a obedecer uma autoridade legítima. Ação violenta de resistir a agentes de autoridades; insurreição; levante; sublevação.

Qualquer oposição a uma autoridade ou instituições de poder.

Oposição a regras ou condutas morais.

Obstinação
Afeição excessiva às próprias convicções, ideias, pensamentos, etc.

Ação de se prender com empenho a alguma coisa; teimosia.

2 - Os Aspectos Bíblicos.
Algumas passagens do Antigo Testamento, como por exemplo:

“Voltai, ó filhos rebeldes; eu curarei as vossas rebeliões...” (Jr 3.22-23).

“Até quando andarás vagabunda, ó filha rebelde?...” (Jr 31.22).

- Deus aponta a nação de Israel como filhos e filhas rebeldes, que escolheram o mal para desenvolver uma vida de pecado.

- No livro de Oseias, Israel é comparado a uma vaca rebelde:
“Porque como novilha rebelde se rebelou Israel. Agora o Senhor os apascentará como a um cordeiro num lugar espaçoso.” (Os 4.16), uma linguagem campestre em que o fazendeiro realça a rebeldia do animal.

- Portanto, o real significado de rebeldia no Antigo Testamento é uma ênfase ao retorno de um “servo de Deus” às mais horríveis práticas pecaminosas, incluindo também a adoração aos ídolos.

- O cristão não pode viver na prática da rebeldia, visto que no seu ser há uma nova natureza implantada por Cristo Jesus:
“Portanto, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram, tudo se fez novo.” (2ª Co 5.17).

“Tendo sido regenerados, não de semente corruptível, mas de incorruptível, pela palavra de Deus, a qual vive e é permanente” (1ª Pe 1.23); praticá-la é o mesmo que chamar a natureza velha para que reine outra vez e a ordem de Paulo é que ela não reine:
“Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscências.” (Rm 6.12).

3. O Cristão e a Rebelião.
-A Bíblia ensina ao cristão respeitar todas as autoridades, inclusive os líderes da igreja; jamais ser insubmisso, rebelar-se:
“Toda pessoa esteja sujeita às autoridades superiores, pois não há autoridade que não venha de Deus. As autoridades que há foram ordenadas por Deus.” (Rm 13.1), mas tendo como dever orar por elas:
“Exorto, pois, antes de tudo, que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e sossegada, em toda piedade e honestidade.” (1ª Tm 2.1-2).

- Entretanto, segundo as Escrituras, o cristão não deve sujeitar-se a uma autoridade quando a prioridade da justiça está em risco e quando há violação aos princípios bíblicos: “Respondeu Pedro e os apóstolos: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens!” (At 5.29).

- Aqui Estimado Aluno e Professor, menciono também as palavras do apostolo Paulo abaixo:
“Porque, persuado eu agora a homens ou a Deus? ou procuro agradar a homens? Se estivesse ainda agradando aos homens, não seria servo de Cristo.” (Gl 1.10).

- O Cristão não deve submeter-se a uma liderança que venha trocar o verdadeiro evangelho por um “outro evangelho”, que venha permitir a apostasia na igreja ou que venha ser omisso aos pecados dentro da igreja. Não podemos abrir mão dos princípios bíblicos. Mesmo assim, o ato de não submeter-se ao erro não significa liberdade para usar de ataques com palavras indecorosas, motins e exposições em redes sociais. É muito triste ver nas redes sociais os irmãos postando vídeos que expõe os problemas internos da Igreja ou de pessoas, encontramos no youtube vídeos que escandalizam a obra de Deus, o que antes era tratado nas reuniões de obreiros com as portas fechadas, hoje é compartilhada por milhares de pessoas incluindo os infiéis, quem faz isso, mesmo que esteja certo, passa a estar errado.

- O Pastor Presidente do Projeto Vida Nova de Jacarepaguá, Armando Martins, afirma que o simples compartilhamento em uma rede social não só expõe as pessoas como nos expõe também. “Se somos um corpo só, aos olhos de Cristo, quando mostro a fraqueza de alguém, estou expondo a mim mesmo. Quem ganha com isso?

- Temos o papel de guardar nossos irmãos, de se colocar na brecha da oração para que o Senhor possa restaurar e libertar os envolvidos das amarras do diabo. Davi teve as mais diversas oportunidades de expor Saul seu rei, mas em todo o tempo o preservou e o guardou, com isso Deus o honrou sobremaneira.

- O Antigo Testamento mostra os três amigos de Daniel que não se sujeitaram à ordem do rei, sendo preparados para serem lançados no fogo; entretanto, ainda assim, demonstraram respeito para com o monarca, não pronunciando palavras ofensivas (Dn 3.16,17). O verdadeiro cristão mede bem as palavras, pois sabe que disso depende também a sua vida espiritual: “Pois pelas tuas palavras serás justificado e pelas suas palavras serás condenado.” (Mt 12.37).

- Jesus nos lembra de que aquilo que dizemos revela o que há em nossos corações. Que tipos de palavras saem de sua boca? Isso é uma indicação do que há no seu coração. Mas você não pode resolver o problema do seu coração simplesmente limpando seu linguajar. Você deve permitir que o Espírito Santo lhe preencha com novas atitudes e novos motivos; então, suas palavras estarão limpas, na sua origem. (Bíblica de Estudo Cronológica - CPAD - Pág.1344)

II. A REBELDIA DE SAUL

1. Não Cumpria com a Ordem Divina.
- Por ordem expressa de Deus, Samuel ordenou a Saul que matasse os amalequitas porque a medida dos seus pecados estava completa:

“...O Senhor fará guerra contra Amaleque de geração em geração.” (Êx 17.16) também (Êx 17.8-13).
“Lembra-te do que te fez Amaleque no caminho, quando saíste do Egito, como te surpreendeu no caminho, e derrubou todos os fracos que iam após ti, na retaguarda, estando tu cansado e afadigado; não temeu a Deus” (Dt 25.17,18). Tudo deveria ser destruído e banido, pois os amalequitas estavam sob o julgamento divino.

- Essa ação divina era para evitar que o mal deles se espalhasse cada vez mais. Entretanto, nada dos amalequitas deveria ser saqueado ou roubado, pois não se tratava de uma guerra qualquer. O que não poderiam ser queimado, como o ouro, a prata e o ferro, seriam objetos solenes de consagração a Deus.

- Saul não obedeceu à ordem divina. Juntamente com duzentos mil homens de onze tribos e outros dez mil de Judá, lançou-se à batalha, não destruiu o rebanho do inimigo e ainda preservou a vida do rei Agague. O mal que Saul poupou não tardaria de lhe atingir. Note que foi um amalequita que afirmou ter matado Saul:
“...Perguntou Davi ao moço que lhe trazia as novas: Como sabes que Saul e Jônatas, seu filho, são mortos?

- Então disse o moço que lhe dava a notícia: Cheguei por acaso ao monte Gilboa, e Saul estava encostado sobre a sua lança, e os carros e a cavalaria apertavam com ele. Olhando ele para trás, viu-me e chamou-me. Eu Disse: Eis-me aqui. Ele perguntou: Quem és tu? E eu lhe respondi: Sou Amalequita. Então ele me disse: Aproxima-te e mata-me, porque estou com muita vertigem, e toda a minha vida está ainda em mim. Assim me aproximei dele e o matei, porque bem sabia que ele não viveria depois de ter caído ...” (2º Sm 1.1-10).

2. Deus se "arrependeu" em Relação a Saul.
- Foram duas as razões para isso: Saul deixou de seguir e de executar a vontade de Deus. A Palavra “arrepender-se”, no original hebraico é nacham, significa “sentir profundamente, lamentar”. Referindo à pessoa de Deus, essa expressão pode ser compreendida como mudança em relação à pessoa de Saul. Deus não tolera o pecado e, dessa forma, não poderia deixar que Saul continuasse dirigindo o Seu povo. Por isso, por meio de Samuel, Ele o rejeitou. A desobediência, a teimosia e a rebelião do primeiro rei de Israel atraíram a ira de Deus.

- O prazer de Deus não está em sacrifícios, mas na obediência do ser humano à sua Palavra. Mais do que um belo sermão, ou de grandiosas construções, Deus requer de seu povo a obediência (Sl 50.13-14).

3. “A Rebelião como Pecado de Feitiçaria”
- Essa expressão traz a ideia de “uma decisão por meio de adivinhação ou de lançamento de sorte”, uma atitude obstinada e teimosa. E a expressão “porfiar é como iniquidade e idolatria” refere-se ao engano de um ídolo, demonstrado na arrogância de quem pratica a idolatria. No texto está claro que as expressões falam de apostasias. A primeira, a respeito da negação da autoridade divina; a segunda, a de reconhecer outros poderes acima de Deus. Nesse contexto, o profeta Samuel afirma que não há valor em sacrifícios a Deus quando se quebra um de seus mandamentos por desobediência deliberada. Quem age assim coloca a sua vontade no lugar da de Deus. Por isso a rebelião é tão maléfica quanto à adivinhação, pois ela rouba o lugar da glória de Deus.

- A insolência e a arrogância de Saul revelam a tentativa de ele se impor no lugar de Deus. Era como se as regras da guerra fossem dele, esquecendo-se de que Deus não dá a sua glória a ninguém (Is 42.8). De fato, Lutero estava certo quando disse: “diante da Palavra eu é que tenho que me render; nenhum de nós jamais pode e deve querer impor nossa vontade perante as ordens do Senhor”.

III. SAUL: UM LÍDER SEM CRITÉRIOS

1. Não sabia esperar.
- Uma das provas de que Saul não tinha critérios para a liderança era a sua impaciência. Ele não sabia esperar. Samuel já havia dito para Saul esperar até a sua chegada (1º Sm 10.8). Infelizmente, o rei de Israel não o fez (1º Sm 13.8-13). Essa ordem era para que Saul esperasse, antes de começar qualquer invasão, pois ele deveria colocar tudo diante de Deus, apresentando sacrifícios, como havia feito antes (1º Sm 7).

- A falha principal de Saul não foi ter oferecido sacrifício, mesmo ele não sendo sacerdote, mas foi não esperar o profeta Samuel para receber a bênção de Deus.

- Na obra de Deus é preciso capacidade para esperar. O salmista esperou com paciência (Sl 40.1). Deus age no momento certo em nosso favor. Esperemos no Senhor!

2. Saul: o Rei Rejeitado.
- Destacamos a rejeição de Saul por causa do pecado de não atentar à voz de Deus (1º Sm 13.13). Foram muitas as características que marcaram a rebelião de Saul: irreverência com a ordem de Deus, voto tolo, infidelidade na guerra contra os amalequitas e desobediência às palavras do Senhor. Assim, Deus rejeitou a Saul!

- Essa história nos mostra que devemos, irrestritamente, obedecer aos desígnios de Deus e servi-lo de todo o coração. O Pai deseja que andemos todos num só propósito!

CONCLUSÃO.
- O que é ter sucesso no ministério? É ter agenda concorrida? Um estilo de vida confortável? Não. O sucesso do ministério não está somente em ser separado para um cargo, mas sim na obediência completa ao Deus da Palavra. Assim, Salomão escreveu: “é melhor o fim das coisas, do que seu princípio” (Ec 7.8). Que Deus nos ajude a obedecer e a viver para sua glória!