TEOLOGIA EM FOCO

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

A CHAMADA PROFÉTICA DE SAMUEL



TEXTO ÁUREO
“Então, veio o SENHOR, e ali esteve, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel. E disse Samuel: Fala, porque o teu servo ouve.” (1º Sm 3.10).

VERDADE PRÁTICA
A verdadeira chamada divina capacita o crente fiel a ser um porta-voz autêntico da Palavra de Deus.

LEITURA BÍBLICA
1º Samuel 3.1-10 “E o jovem Samuel servia ao SENHOR perante Eli. E a palavra do SENHOR era de muita valia naqueles dias; não havia visão manifesta. 2- E sucedeu, naquele dia, que, estando Eli deitado no seu lugar (e os seus olhos se começavam já a escurecer, que não podia ver) 3- e estando também Samuel já deitado, antes que a lâmpada de Deus se apagasse no templo do SENHOR, em que estava a arca de Deus, 4- o SENHOR chamou a Samuel, e disse ele: Eis-me aqui. 5- E correu a Eli e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Não te chamei eu, torna a deitar-te. E foi e se deitou. 6- E o SENHOR tornou a chamar outra vez a Samuel. Samuel se levantou, e foi a Eli, e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Mas ele disse: Não te chamei eu, filho meu, torna a deitar-te. 7- Porém Samuel ainda não conhecia o SENHOR, e ainda não lhe tinha sido manifestada a palavra do SENHOR. 8- O SENHOR, pois, tornou a chamar a Samuel, terceira vez, e ele se levantou, e foi a Eli, e disse: Eis-me aqui, porque tu me chamaste. Então, entendeu Eli que o SENHOR chamava o jovem. 9- Pelo que Eli disse a Samuel: Vai-te deitar, e há de ser que, se te chamar, dirás: Fala, SENHOR, porque o teu servo ouve. Então, Samuel foi e se deitou no seu lugar. 10- Então, veio o SENHOR, e ali esteve, e chamou como das outras vezes: Samuel, Samuel. E disse Samuel: Fala, porque o teu servo ouve.

INTRODUÇÃO.
- Nesta lição, veremos que o ministério profético do Antigo Testamento não se caracterizava pela adivinhação nem pela mera predição do futuro, mas tinha como principal objetivo levar a todos a ter um firme compromisso com Deus. Sua essência é anunciar a totalidade da mensagem divina. Por isso, Jeremias foi bem categórico: “O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha palavra fale a minha palavra com verdade … diz o SENHOR” (Jr 23.28).

- Na aula desta semana seus alunos serão estimulados a pensarem com muita seriedade a respeito do chamado de Deus para a vida deles. O Senhor requer responsabilidade no serviço da sua obra. Ele espera que seus servos realizem a sua obra com comprometimento e sem superficialidade.

- Deus chamou Samuel quando não havia mais pessoas dispostas a serem usadas por Deus para mostrarem ao povo o caminho certo que deveriam seguir. “A palavra do Senhor era de muita valia” nos dias de Samuel. Semelhantemente, nos dias atuais, ouvimos muitas pessoas utilizarem o nome de Deus e afirmarem terminantemente que “Deus falou”. Infelizmente, muitos pensam estar ouvindo a voz de Deus quando na verdade estão ouvindo a voz do próprio coração. Isso não significa que Deus deixou de falar ou esteja em silêncio, como esteve nos dias de Samuel. Mas é preciso discernir a voz do Senhor para que tenhamos a intimidade e comunhão verdadeira com o seu santo Espírito.
I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA PROFETA

1. No Antigo Testamento. A palavra hebraica para profeta é: “nabi”, que vem da raiz verbal “naba”. Essa palavra significa: “anunciador”, e por extensão, “aquele que anuncia as mensagens de Deus, frequentemente recebidas por revelação ou discernimento intuitivo”. Os termos hebraicos “roeh” e “hozeh” também são usados e significam “aquele que vê”, ou seja, “vidente”. Todas as três palavras aparecem em 1º Cr 29.29. “Nabi” é termo usado por mais de trezentas vezes no Antigo Testamento, alguns poucos exemplos são (Gn 20.7; Êx 7.1; Nm 12.6; Dt 13.1; Jz 6.8; 1º Sm 3.20; 2Sm 7.2; 1º Rs 1.8; 2º Rs 3.11; Ed 5.1; Sl 74.9; Jr 1.5; Ez 2.5; Mq 2.11) (CHAMPLIN, 2004, p. 423).

2. No Novo Testamento. A palavra comumente usada é: “prophétes”, que aparece por cento e quarenta e nove vezes, que exemplificamos com (Mt 1.22; 2.5,16; Mc 8.28; Lc 1.70,76; 7.16; Jo 1.21,23; 3.18,21; Rm 1.2; 11.3; 1º Co 12.28,29; 14.29,32,37; Ef 2.20; Tg 5.10; 1º Pe 1.10; 2ºPe 2.16; 3.2; Ap 10.7; 11.10). O substantivo “propheteía”, “profecia”, é usado por dezenove vezes no NT (Mt 13.14; Rm 12.6; 1º Co 12.10; 13.2,8; 14.6,22; 1º Ts 5.20; 1º Tm 1.18; 4.14; 2º Pe 1.20,21; Ap 1.3; 11.6; 19.10; 22.7,10,18,19). Essas palavras derivam do grego: “pro”, “antes”, “em favor de”; e, “phemi”, “falar”, ou seja, “alguém que fala por outrem”, e por extensão, “intérprete”, especialmente da vontade de Deus (CHAMPLIN, 2004, p. 424).

3. A menção de “profeta” no livro.
- A primeira menção feita a um “profeta” no livro está registrada em 1º Samuel 2.27-36. Aqui, vemos que o profeta era caracterizado como homem de Deus, título que lhe trazia grande responsabilidade. O profeta não é um adivinhador, mas o porta-voz de Deus. Ali, Samuel se dirigiu à casa de Eli, dizendo que este seria substituído por um sacerdote fiel − Zadoque. Esse acontecimento antecipava como seria o ministério de Samuel, o profeta do Senhor por excelência.

4. Samuel e os demais profetas.
- Samuel foi o primeiro profeta depois de Moises. Estes dois profetas se destacaram como grandes líderes espirituais do povo de Deus na Tanakh.

- Num dia em especial, contrariando a agenda monótona de Moisés, Deus lhe chama. O chamado de Deus para Moisés estava casado com o propósito divino de libertar Moisés tanto da culpa quanto da situação de escravo hebreu.

- Deus incumbiu Moisés de estender aos israelitas o que ele mesmo recebera de Deus: a oportunidade de recomeçar sua vida do modo como Deus se agrada.

- Samuel, a escutar a voz de Deus e de Moisés que foi atraído por uma visão sobrenatural, Samuel não conseguiu discernir a voz do Senhor da voz de uma pessoa comum, porque era menino e precisou da ajuda do sacerdote Eli que discerniu que era o Senhor.

- Ao ouvir a Voz divina e diferente de Moisés que encontrou diversas desculpas para não obedecer ao que ouviu, o menino Samuel ouviu com atenção e obedeceu com destreza ao que Deus lhe ordenara. Deus compartilhou com Samuel o que seu coração sentia com relação à casa de Eli. Deus que não achou em Eli, Ofni ou Fineias espaço no coração para falar, encontrou no garoto Samuel alguém disponível para ouvir e disposto para obedecer.

- Em Samuel nós aprendemos que Deus chama porque tem grande desejo de compartilhar conosco o que vai em seu coração. Em Moisés aprendemos que Deus chama o homem porque quer libertá-lo (Sl 99.6; Jr 15.1; At 3.22-24; At 13.16-20).

- Com Samuel deu-se o início à prática de os profetas ungirem reis. Segundo o texto bíblico, o próprio Samuel comunicou as palavras de Deus a Saul, de que este seria rei.

- Segundo os estudiosos, foi com Samuel que teve início o movimento profético formal em Israel. E com Elias, ele se desenvolveria ainda mais. A partir do ministério de Samuel, surgiram os profetas da corte – os que atuavam junto aos reis. Alguns desses profetas não apenas aconselhavam os soberanos, mas também eram seus escrivães. Por exemplo, Samuel, Natã e Gade fizeram alguns registros reais.

II. DIFERENÇA ENTRE O PROFETA DO AT E DO NT

- Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, o profeta era um “porta-voz oficial da divindade, sua missão era preservar o conhecimento divino e manifestar a vontade do Único e Verdadeiro Deus” (ANDRADE, 2006, p. 305).

Todavia, eles eram diferentes um do outro, como veremos abaixo:

1. O profeta no Antigo Testamento. Os profetas foram homens que Deus suscitou durante os tempos sombrios da história de Israel (2º Rs 17.13). “No Antigo Testamento, este ofício era de âmbito nacional. Quando Deus levantava um profeta, conferia-lhe a missão de falar em seu Nome para toda a nação e até para povos estranhos” (RENOVATO, 2014, p. 84). Na Teologia, o período do surgimento dos profetas é nomeado de “profetismo” aludindo ao “movimento que, surgido no Século VIII a.C., em Israel, tinha por objetivo restaurar o monoteísmo hebreu, combater a idolatria, denunciar injustiças sociais, proclamar o Dia do Senhor e reacender a esperança messiânica num povo que já não podia esperar contra a esperança. Tendo sido iniciado por Amós, foi encerrado por Malaquias. João Batista também é visto como o último representante deste movimento (Mt 11.13)” (ANDRADE, 2006, p. 305). O profeta do AT era um homem que, além de transmitir a mensagem de Deus tinha outras atribuições, tais como:

A. Ungir reis (1º Sm 9.16; 16.12- 13; 1º Rs 19.16).
B. Aconselhar reis (1º Sm 10.8; 21.18; 2º Sm 12; 2º Rs 6.9-12).
C. Ser consultado pelas pessoas (1º Sm 9.8- 10; 1º Rs 14.5; 22.7; 22.18; Jr 37.7). Os oráculos dos santos profetas que estão no cânon sagrado não estão a mercê de julgamento humano (2Pe 1.21).

2. O profeta no Novo Testamento. Sobre a figura do profeta no NT, Donald Stamps (2012, p. 1814) afirma: “Os profetas eram homens que falavam sob o impulso direto do Espírito Santo, e cuja motivação e interesse principais eram a vida espiritual e pureza da Igreja. Sob o novo concerto, foram levantados pelo Espírito e revestidos pelo seu poder para trazerem uma mensagem da parte de Deus ao seu povo”. Portanto, os profetas são ministros pregadores cuja prédica pode ser uma mensagem de edificação, exortação e consolação dos crentes (1º Co 14.3). Na Igreja Primitiva e em Antioquia havia homens que exerciam este ministério (At 13.1). “Em Atos 15.23, temos o profeta consolando, fortalecendo e aconselhando. É certo também que o título de profeta poderia ser usado para designar o ministério de alguns obreiros, em virtude da sua natureza sobrenatural, pela abundância da inspiração com que proclamam os oráculos de Deus” (SOUZA, 2013, pp. 33,34). Eis algumas características do ministério profético no NT:

2.1. Proclamava e interpretava, cheio do Espírito Santo, a Palavra de Deus, por chamada divina (At 

2.14-36; 3.12-26; 1º Co 12.10; 14.3).

2.2. Exercia o dom de profecia (At 13.1-3).

2.3. Às vezes prediz o futuro (At 11.28; 21.10,11).

III. DIFERENÇAS ENTRE O DOM DE PROFETA E O DOM DE PROFECIA

1. Dom de profeta (permanente). A palavra “ministro” (1ºCo 3.5; 4.2; 2ºCo 3.6; 6.4) significa um servo de Deus que ocupa um “ministério” (1ºCo 4.1,2; 2º Co 6.3), que é um encargo constituído por Deus, que, da parte de Cristo (2º Co 5.20), funciona na “Igreja do Deus vivo” (1º Tm 3.15). Segundo Atos 13.1 e 15.32, os profetas constituíam o ministério da Palavra de Deus, impulsionado por inspiração profética. Por meio dessa inspiração, esse ministério é acompanhado de “edificação, exortação e consolação”, que são evidências da operação do verdadeiro espírito da profecia (1Co 14.3). Observamos, assim, que o simples uso do dom de profecia não faz de ninguém um profeta, pois profeta é um ministro da Palavra (At 21.9,10) (BERGSTÉN, 2007, pp. 115,116).

2. Dom de profecia (esporádico). “Profecia é uma mensagem de Deus dada a pessoa a quem o Espírito manifesta este dom. Tal pessoa deve transmiti-la exatamente como a recebeu (Jr 23.28). A atitude de quem profetiza deve ser “A palavra que Deus puser na minha boca essa falarei” (Nm 22.38-b). A mensagem recebida por inspiração do Espírito Santo não é transmitida mecanicamente, mas fiel e conscientemente (1Co 14.32). No momento em que a profecia é transmitida, não é Deus quem está falando, mas é o homem quem está transmitindo o que de Deus recebeu (1º Co 14.29). Se fosse o próprio Deus falando, não haveria necessidade de se julgar a mensagem como a Palavra nos orienta que faça” (1º Co 14.29; 1º Ts 5.21) (BERGSTÉN, 2007, p. 113).

IV. O CHAMADO PROFÉTICO DE SAMUEL

- O registro de Atos 3.24 está escrito: “E todos os profetas, desde Samuel, todos quantos depois falaram, também anunciaram estes dias”, indicando que Samuel foi o primeiro de uma nova ordem ou linhagem de profetas.

1. O tempo do chamado. Assim como o profeta Jeremias foi chamado para exercer o ministério profético ainda muito jovem (Jr 1.1-6), a convocação de Deus para a vida de Samuel se dá no momento de sua tenra idade (1º Sm 3.4). Por essa época, provavelmente Samuel já era um adolescente; mas o texto sagrado nada revela sobre a idade dele por ocasião da visita divina. O termo hebraico “na’ar” empregado aqui (1º Sm 3.1), pode falar de uma criança de qualquer idade, desde um infante recém-nascido (1º Sm 4.21) até um homem de 40 anos (ver 2º Cr 13.7). Fávio Josefo disse que Samuel, por essa época, tinha 12 anos de idade (CHAMPLIN, 2001, p. 1136). Era aos 12 anos que um menino israelita se tornava filho da lei, passando a ser considerado pessoalmente responsável por obedecer e seguir aquele documento (Lc 2.39). Portanto, fica claro no chamado de Samuel, que as escolhas de Deus para o serviço sagrado são baseadas em sua soberania, e não estão restritas a status, capacidade ou mesmo idade (1º Sm 16.11-13; Am 7.14,15; Mc 3.13).

2. O contexto espiritual do chamado. Este era um período de declínio espiritual na nação de Israel (Jz 21.25). Além do exemplo negativo dos filhos do sacerdote Eli (1º Sm 2.17,22-24) naqueles dias a revelação de Deus era algo raríssimo: “E a palavra do SENHOR era de muita valia naqueles dias; não havia visão manifesta” (1º Sm 3.1) de modo que, assim como suas reiteradas manifestações eram consideradas um sinal de favor e aprovação (Os 12.10), pouca frequência destas revelações era um sinal de desaprovação por parte do Senhor (Sl 74.9; Lm 2.9; Ez 7.26; Am 8.11).

- Em outra tradução a vai dizer que a Palavra de Deus era mui rara; as visões não eram frequentes...”. O Senhor estava retendo Sua santa Palavra, pois Ele estava muito irado por causa da maldade e imoralidade dos líderes espirituais. Naqueles dias, a Palavra de Senhor era como se fosse uma lâmpada quase apagada, ou seja, as travas estavam prevalecendo e o sumo sacerdote Eli não se importava com isso.

- Quando há omissão do ensino na casa de Deus, cada um segue seu próprio caminho; isso não é muito diferente em nossos dias onde os cultos estão sendo trocados por shows e espetáculos, entristecendo o Espírito Santo. É em meio a esta realidade que:

2.1. Samuel ouve a voz de Deus. “o SENHOR chamou a Samuel...” (1º Sm 3.4).

2.2. A presença de Deus é revelada. “Então, veio o SENHOR e ali esteve...” (1ºSm 3.10).

2.3. Samuel recebe a mensagem de Deus. “E disse o SENHOR a Samuel: Eis aqui vou eu a fazer uma coisa em Israel” (1º Sm 3.11). O jovem profeta é levantado por Deus em tempos de crises, para mudar aquele ambiente hostil (1º Sm 3.21).

3. O reconhecimento do chamado. O crescente reconhecimento, entre o povo de Israel, de que o Senhor estava com Samuel e fazia dele o Seu porta-voz, está indicado no seguinte texto: “E crescia Samuel, e o SENHOR era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra”. “E todo o Israel, desde Dã até Berseba, conheceu que Samuel estava confirmado por profeta do SENHOR” (1º Sm 3.19,20).

- Desde Dã até Berseba é a típica maneira de descrever “a extensão e a amplitude da terra” (cf. Jz 20.1). Dã estava no extremo norte, Berseba era o ponto mais ao sul.

- Tradicionalmente, Dã marcava a fronteira do extremo norte de Israel, ao mesmo tempo que Berseba assinalava o extremo sul. Isto posto, a expressão “desde Dã até Berseba” tornou-se proverbial, indicando toda a extensão do território de Israel.

- Todos quantos são chamados por Deus, têm o atesto da escolha Divina (Êx 3.12; 4.1-9; 15-17; 2º Rs 2.12-15; Js 1.5,17; 3.7; Jr 1.17-19; Ag 2.23; Mc 16.20; At 5.12; 14.3; Hb 2.4).

V. SAMUEL, UM PROFETA OBEDIENTE À VOZ DE DEUS

1. A desobediência de Eli. A desobediência do sacerdote Eli levou à destruição de seu ministério e sua família. Seu exemplo nos mostra que a falta de comprometimento com a Palavra de Deus e o exercício superficial do ministério resultam em morte e decadência espiritual (1º Sm 2.27-36). O maior pecado de Eli foi ter desprezado a Deus em seu ministério. Ele já não repreendia seus filhos, mas permitia que pecassem descaradamente e ainda encobria o que faziam (3.13,14). Esse comportamento de Eli trouxe graves consequências para sua vida em vários sentidos (4.11-17).

2. O chamado de Samuel. Deus escolheu Samuel para anunciar a sua mensagem em tempos difíceis. O período dos juízes foi um tempo conturbado para a nação de Israel, pois várias vezes o povo se distanciava de Deus e se voltava para a idolatria (cf. Jz 2.16-19). Por conta disso, Deus permitiu que o sofrimento e as guerras se levantassem a fim de que os israelitas se arrependessem de seus pecados (2.20-23). Neste tempo, Deus usou o jovem Samuel para anunciar tudo o que havia determinado que se cumprisse à casa de Eli. Ali iniciava o ministério profético de Samuel. Depois de um tempo, ele ainda foi juiz sobre a nação e usado por Deus para ungir dois reis sobre a casa de Israel (cf. 1º Sm 10.1; 16.13). Samuel teve um ministério excelente porque confiou no Senhor e fez a sua vontade.

3. Um chamado para tempos difíceis. Deus chamou Samuel em tempos difíceis quando a palavra do Senhor era de muita ralia (1º Sm 3.1). A realidade de Samuel não é diferente da nossa, pois assim como nos dias de Samuel os que exerciam o ministério na Casa de Deus não o faziam com seriedade, há muitos ainda hoje que não fazem a obra de Deus com comprometimento e responsabilidade. Deus espera de seus “despenseiros”, isto é, daqueles que Ele instituiu como administradores da sua obra, que exerçam o serviço de maneira honesta e sem interesse (cf. 1º Co 4.2). Não foi fácil para o jovem Samuel, naquela ocasião, ter que anunciar a morte e decadência do principal sacerdote de Israel. Mas Deus o capacitou para que Ele exercesse o seu chamado com afinco e obtivesse o êxito esperado.

VI. O DESENVOLVIMENTO DO MINISTÉRIO DE SAMUEL

1. O crescimento profético de Samuel.
- Se os filhos do sacerdote Eli praticavam pecados abomináveis, o jovem Samuel crescia com integridade diante de Deus e do povo. Sempre houve em Ana, sua mãe, um cuidado especial para que seu filho estivesse envolvido com a obra de Deus. Ela orou por ele e o entregou aos cuidados de Eli. Este, observando a dedicação de Ana e seu comprometimento, orou por ela, rogando a Deus a bênção para a sua casa (1º Sm 2.20,21). É maravilhoso dedicarmos a Deus o que temos de mais precioso, pois suas recompensas são certas.

2. A formação profética de Samuel.
- Samuel aprendeu com Eli. Ele foi formado pelo velho sacerdote, assim como Paulo aprendeu aos pés de Gamaliel (At 22.3) e Timóteo com Paulo (2ª Tm 3.10). Deus chamou Samuel quando ele tinha cerca de 12 anos (1º Sm 3.1-4), ou seja, a mesma faixa-etária de Jesus quando foi levado a Jerusalém por seus pais (Lc 2.42). Assim, sob os cuidados de Eli, Samuel era forjado por Deus para o ministério profético.

- Muitos hoje não querem mais aprender com os mais experientes, pois julgam-se importantes e desprezam o aprendizado aos “pés de alguém”. Paulo e Timóteo, por exemplo, orgulhavam-se de ter aprendido com seus mestres. Mas, além de disposição para aprender, precisamos de disposição para ouvir a voz de Deus. Isso só é possível por meio de uma vida de oração e busca fervorosa pelo Senhor (Is 55.6). Deus quer falar conosco!

3. A disciplina de Samuel.
- Ainda jovem, Samuel já se mostrava disciplinado. Ao ouvir uma voz que o chamava pelo nome, pensando que fosse a de Eli, por três vezes dirigiu-se a ele com todo respeito e temor (1º Sm 3.4,5). Essa postura apontava que ele era o homem certo para ouvir a Palavra do Senhor. Por não ter uma experiência pessoal com Deus, ainda não sabia como responder ao chamado divino; por isso, Eli o orientou. Desde então Samuel passou a receber visões de Deus e orientações sobre sua Palavra.

- Se os nossos filhos servirem a Deus com a disposição de Samuel, educados pela sua família na presença do Pai, eles influenciarão de maneira impactante a sua geração (cf. Mt 5.13-16).

VII. O MINISTÉRIO PROFÉTICO NA ATUALIDADE

1. O dom da profecia.
- O dom de profecia, disponível a todos os crentes, manifesta-se de forma sobrenatural e momentânea; encoraja, exorta e consola a Igreja; edifica de forma coletiva e individual o povo de Deus (1ª Co 12.7-11; 1ª Tm 4.14).

- O dom de profecia é uma dádiva de Deus à sua Igreja. É maravilhoso saber que o Pai ainda fala diretamente com o seu povo.

2. O ministério de profeta no Novo Testamento.
- O emprego do termo “profeta”, no Novo Testamento, refere-se a determinados indivíduos chamados por Deus, a fim de entregar revelações específicas à Igreja; suas mensagens eram proclamadas com autoridade sobrenatural e reconhecidamente divina.
- Veja-se, por exemplo, o caso de Ágabo (At 11.28; 21.10).

- Segundo Atos 13.1 e 15.32, os profetas eram impulsionados extraordinariamente pelo Espírito Santo, para o exercício desse ministério. Não podemos confundir o ministério profético com o dom de profecia.

3. Onde estão os profetas?
- Alguns profetas também eram usados para predizer o futuro, como Ágabo em duas ocasiões (Atos 11.28; 21.11). Ele saiu de sua casa na Judeia para levar as mensagens de Deus. Em consequência da primeira, foi levantada uma oferta para ajudar a igreja em Jerusalém durante uma fome prevista e acontecida. Na segunda, a igreja foi avisada a respeito da prisão do apóstolo Paulo. Em nenhuma delas estava envolvida alguma nova doutrina. Nem foram dadas instruções quanto ao que a igreja devia fazer. Isto era assunto dos membros, mediante o Espírito Santo. Nunca houve algo semelhante à adivinhação, no ministério desses profetas.

- Hoje, o Senhor continua a falar à sua Igreja por meio do ministério profético. Ainda temos homens que, à semelhança de Àgabo, transmitem enunciados proféticos de maneira sobrenatural e extraordinária.

- Os que são usados regularmente pelo Espírito no exercício do dom de profecia na congregação, também são chamados profetas (1º Co 14.29,32,37). A Bíblia adverte contra os falsos profetas que alegam ser usados pelo Espírito Santo, mas devem ser submetidos à prova (1º Jo 4.1). (HORTON, Stanley. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, pp.290-91). [ Escola Dominical ] Lição 3: A Chamada Profética de Samuel 4° trimestre de 2019 – CPAD | Classe: Adultos

- Todavia, eles não possuem autoridade canônica da Bíblia Sagrada – a única regra infalível de fé e prática reconhecida pela Igreja de Cristo. Toda locução profética é passível de julgamento à luz da Bíblia Sagrada (1ª Co 14.29).

- A profecia é uma necessidade premente nos dias de hoje (1ª Co 14.5).

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

CONCLUSÃO.
Onde estão os crentes usados por Deus para falar extraordinariamente ao seu povo? Nestes últimos dias, precisamos de obreiros fiéis que busquem os dons do Espírito. Entretanto, estejamos vigilantes. Como já dissemos, todo enunciado profético tem de passar, necessariamente, pelo crivo da Bíblia Sagrada.

FONTE DE PESQUISA
1. ANDRADE, Claudionor de. Dicionário Teológico. CPAD.
2. BERGSTÉN, E. Teologia Sistemática. CPAD.
3. CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
4. EBD 4° Trimestre 2019 Lição 3 - A Chamada Profética de Samuel
5. HORTON, Stanley. A Doutrina do Espírito Santo no Antigo e Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD.
6. RENOVATO, Elinaldo. Dons Espirituais & Ministeriais. CPAD.
7. SOARES, Esequias. O Ministério Profético na Bíblia. CPAD.
8. STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.

Elabora pelo pastor e Dr. em teologia Elias Ribas
Blumenau SC


terça-feira, 8 de outubro de 2019

A HISTÓRIA EM APENAS UMA PALAVRA HEBRAICA



O dilúvio e a arca são ótimos símbolos de salvação para aqueles que acreditam em Deus. Para entender essa ideia, devemos nos aprofundar na versão em hebraico. No texto original, encontramos um verbo em particular כפר “k.p.r” (expiar) que compartilha a mesma raiz utilizada para “Yom Kipur”, o dia do Perdão. Este verbo é utilizado para expressar a ideia de "cobrir com betume" e “expiar por um pecado”. Assim, esta simples instrução prática de Deus soa quase como um depoimento teológico em hebraico. Entendendo o hebraico, fica claro que a história de Noé se trata essencialmente de uma história de redenção e expiação.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

O NASCIMENTO DE UM LÍDER PROFÉTICO EM ISRAEL




TEXTO ÁUREO: “E sucedeu que, passado algum tempo, Ana concebeu, e teve um filho, e chamou o seu nome Samuel, porque, dizia ela, o tenho pedido ao Senhor.” (1ª Sm 1.20).

VERDADE PRÁTICA
O surgimento de pessoas vocacionadas, como Samuel, pode ser o resultado da oração, consagração e ensino dos pais no lar.

LEITURA BÍBLICA
1ª Samuel 1.20-28 “E sucedeu que, passado algum tempo, Ana concebeu, e teve um filho, e chamou o seu nome Samuel, porque, dizia ela, o tenho pedido ao SENHOR. 21-E subiu aquele homem Elcana, com toda a sua casa, a sacrificar ao SENHOR o sacrifício anual e a cumprir o seu voto. 22-Porém Ana não subiu, mas disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então, o levarei, para que apareça perante o SENHOR e lá fique para sempre. 23-E Elcana, seu marido, lhe disse: Faze o que bem te parecer a teus olhos; fica até que o desmames; tão-somente confirme o SENHOR a sua palavra. Assim, ficou a mulher e deu leite a seu filho, até que o desmamou. 24-E, havendo-o desmamado, o levou consigo, com três bezerros e um efa de farinha e um odre de vinho, e o trouxe à Casa do SENHOR, a Siló. E era o menino ainda muito criança. 25-E degolaram um bezerro e assim trouxeram o menino a Eli. 26-E disse ela: Ah! Meu senhor, viva a tua alma, meu senhor; eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, para orar ao SENHOR. 27-Por este menino orava eu; e o SENHOR me concedeu a minha petição que eu lhe tinha pedido.
28-Pelo que também ao SENHOR eu o entreguei, por todos os dias que viver; pois ao SENHOR foi pedido. E ele adorou ali ao SENHOR.

INTRODUÇÃO. Antes de aparecer no cenário de Israel, Samuel já era consagrado diretamente ao Senhor (1ª Sm 1.11). Nesta lição, veremos que esse homem tinha tudo a seu favor para ser o que foi.
- Primeiramente, ele foi fruto de oração de sua mãe.
- Em seguida, passou toda a sua juventude sob a mentoria do sacerdote Eli, morando no Santuário Central.
- Veremos que Samuel era constante na Casa do Senhor e, por isso, foi grandemente abençoado.
- O nosso objetivo é que, a partir desta lição, você e o seu lar sejam grandemente abençoados.
- Vale a pena criar os filhos no temor do Senhor; que eles não se afastem da Casa de Deus!

- Deus levanta pessoas para o ministério. Ele vocaciona os que serão usados por Ele para fazer uma grande obra. Entretanto, uma obra desse porte requer também zelo da família que ensina o menino, ou a menina, no caminho do Senhor. É preciso que a criança cresça num ambiente em que a prática de oração é um hábito, que haja consagração sincera a Deus e ensino da Palavra no lar. Assim, ao longo dos tempos, Deus vai moldando o coração do infante para que ame as coisas dEle. Uma família que serve a Deus de todo o coração é um ambiente propício para o Pai levantar pessoas para a sua obra.
  
I. AUTORIA E DATA

1. Título e Autor.
1º e 2º Samuel receberam esse nome do personagem principal do início do Reino de Israel, Samuel; este foi profeta, sacerdote e juiz; foi a pessoa usada por Deus para fazer a transição dos juízes aos reis.

II. OS PERSIANAGEM DO TEXTO

Significado dos Nomes no hebraico.
1. Elcana significa: “que Deus criou”, ou “que Deus adquiriu”, “possessão de Deus”.
2. Ana: Significa: “graciosa” ou “cheia de graça”.
3. Penina significa: “pérola”; “pedra preciosa” ou ainda “joia”.
4. Samuel significa: שמואל (Shmu'el).
שמעו -> Shm'u, traduz-se como “ouviram”
אל -> 'El, traduz-se como “Deus”.
Juntando os dois ficaria “Ouviram Deus”, mas interpreta-se como “Deus ouviu” já que אל (El, Deus em hebraico) é singular e não plural.
- Aquele a quem Deus ouve ou ouvido por Deus.
5. Eli significa: Yawe ou Yahu; Eterno; Altíssimo; Criador. O sacerdote que possuía mais elevação do santuário de Silo.

III. CONTEXTO HISTÓRICO

Juízes 21.25. “Naqueles dias não havia rei em Israel; porém cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos.”
- O livro dos Juízes termina com o lembrete de que estes tristes acontecimentos tiveram lugar durante o período em que não havia rei em Israel: cada um fazia o que achava mais reto (v. 25). Embora a mão de Deus possa ser encontrada através de toda a história dos Juízes, o fracasso humano se destaca com nítido relevo.
- A o livro do profeta Samuel foi escrito após o livro de Juízes que viveram após a morte de Sansão. No cânon hebraico, os dois livros de Samuel formam um só. É um dos livros mais cristológicos, se não o mais cristológico do AT, pois o reino de Davi, todo ele, praticamente refere-se ao reino vindouro de Cristo (ver 25.1n [“Samuel criou duas instituições: a Monarquia e o Ensino. Aquela, na pessoa de Davi, tipifica a Cristo….”]. Bíblia Shedd.

1. A cidade de Siló.
V. 3 “Subia, pois, este homem, da sua cidade, de ano em ano, a adorar e a sacrificar ao SENHOR dos Exércitos em Siló; e estavam ali os sacerdotes do SENHOR, Hofni e Finéias, os dois filhos de Eli.”

- Siló está como nome próprio, uma palavra composta da reunião de dois vocábulos: shel e loh, significando “a quem alguma coisa pertence, a quem pertence o domínio, o que tem o reino” (Strong 07886). Porém, e por muito tempo, Siló foi a denominação dada a uma região de Israel.

“ E toda a congregação dos filhos de Israel, se ajuntou em Siló, e ali armaram a tenda da congregação, depois que a terra foi sujeita diante deles” (Js 18.1).

- Siló era o mais importante local de culto de toda a Palestina, ficava a 38 quilômetros ao Norte de Jerusalém, na região de Efraim. Multidões concorriam a Siló para adorar, sacrificar a Deus e consultar os sacerdotes, dentre eles Eli e também ao profeta Samuel. A arca da Aliança permaneceu nessa cidade por mais de um século, no talmude está escrito que na verdade, foram 369 anos de permanência da Arca da Aliança em Siló.

IV. O AMBIENTE FAMILIAR DE SAMUEL

1. Onde Samuel nasceu? No capítulo um de 1º Samuel, vemos que o lar onde ele nasceu não era perfeito. Estudiosos dos costumes bíblicos afirmam que nas famílias dos homens de Deus do passado havia os mesmos problemas de hoje: conflitos e maus tratos. Poligamia, rivalidade entre irmãos e oposição entre pais e filhos também estavam presentes nas famílias daquela época. Tais fatos, porém, não anularam o projeto de Deus para a família de Samuel.

- A Bíblia diz que Elcana, pai do jovem juiz, sacerdote e profeta, era levita da família de Coate (1º Cr 6.22-28), um homem de elevada posição social e chefe da família de Zofim, que deu origem ao nome da aldeia, Ramataim de Zofim, que significa altitude ou elevação dupla, isso por causa de Ramá (elevação). Foi em Ramá que Samuel nasceu, viveu e morreu (1º Sm 1.19; 7.17; 25.1). Assim como seu pai Elcana, Samuel também era levita e vivia no território da Tribo de Efraim (1º Sm 1.1).

3. Uma família piedosa. Apesar de todas as querelas presentes na família de Samuel, há um destaque especial para o seu lado piedoso: de ano em ano subiam todos à Casa do Senhor para O adorar. Siló era o centro religioso da nação, que distava de Betel 18 quilômetros ao norte. Essa família subia para prestar culto ao Senhor dos exércitos.

- Apesar das dificuldades, pais e filhos não devem deixar de ir à casa de Deus, pois ali, Deus fala conosco! No tocante à piedade, Paulo diz que ela é proveitosa para tudo (1ª Tm 4.8). A palavra “piedade”, do grego eusebeia, remete à reverência, respeito, temor e fidelidade a Deus. Assim, se no lar existe a verdadeira piedade, não haverá desrespeito aos pais nem abandono dos filhos em sua velhice (1ª Tm 5.4).

V. AS DUAS MULHERES DE ELCANA

1. A bigamia presente. O autor do livro de Samuel pontua que Elcana tinha duas mulheres, uma prática que feria o princípio bíblico, posto que esse nunca foi o ideal de Deus para a família (Gn 2.24; Mt 19.5,6); embora fosse tolerado pela lei (Dt 21.15-17) – alguns homens na Bíblia foram polígamos, mas tiveram consequências gravíssimas: Abraão, Jacó, Gideão, Davi, Salomão. A prática comprometedora de Elcana trouxe problema para si e para a sua mulher, Ana, a quem amava, pois Penina provocava sua rival, visto que ela tinha filhos, mas Ana, não. Crê-se que o casamento de Elcana com Penina se dera por causa da esterilidade de Ana.

- Por vezes nossos lares se tornam conflituosos devido à falta de prudência e sabedoria de um dos cônjuges. Por isso, é imperioso que o esposo e a esposa saibam proceder com verdade e sinceridade, relacionando-se um com o outro em amor (Ef 4.2) e pedindo sabedoria do alto para a solução de conflitos (Tg 1.5).

2. Elcana um homem temente a Deus.
V. 3 “Subia, pois, este homem, da sua cidade, de ano em ano, a adorar e a sacrificar ao SENHOR dos Exércitos em Siló; e estavam ali os sacerdotes do SENHOR, Hofni e Finéias, os dois filhos de Eli.”

- Morava na cidade de Rama (cf. vs. 1 e 19).
- Siló ficava a 38 quilômetros ao Norte de Jerusalém, na região de Efraim.

- Conquanto vivesse num ambiente ímpio, fica evidente que a espiritualidade de Elcana era viva. Mesmo que Hofni e Fineias fossem corruptos, ele era fiel em sua adoração e em oferecer sacrifícios. O mesmo ocorreu com Ana e Simeão nos dias de Cristo (Lc 2.25-38) e deve ser verdade em todos os tempos. A aliança com Cristo não deve depender das obras dos outros. CBASD, vol. 2, p. 481.

3. Ana era estéril. V. 2 “E este tinha duas mulheres: o nome de uma era Ana, e o da outra Penina. E Penina tinha filhos, porém Ana não os tinha.”

- Se a primeira mulher, a amada, fosse estéril, o homem poderia casar-se com uma segunda. - A lei judaica faz menção desses casos em Deuteronômio 21.15. A esterilidade era considerada um castigo de Deus – era desonra para a mulher não ter filhos.

4. Ana era mulher de Elcana da tribo de Levi. Elcana significa “que Deus criou”, ou “que Deus adquiriu”. Ele era casado com duas mulheres: Ana, que significa “graciosa, graça, favor” e Penina, que significa “pérola”.

5. Ana era a mulher mais amada.
V. 4-5 “E sucedeu que no dia em que Elcana sacrificava, dava ele porções a Penina, sua mulher, e a todos os seus filhos, e a todas as suas filhas. 5 Porém a Ana dava uma parte excelente; porque amava a Ana, embora o SENHOR lhe tivesse cerrado a madre.”

6. Ana é uma mulher encantadora por si só. Algumas mulheres só conseguem ser atraentes se estiverem bem vestidas e maquiadas. Porém, Ana, andava triste e ainda assim estava linda o bastante para ter o amor do seu esposo. O que significa que Ana tinha qualidades que superavam Penina com todos seus filhos juntos. Filho é necessidade naquele tempo, porém as qualidades de Ana superavam isso.

7. Penina uma rival irritante.
- Penina irritava Ana, porque tinha filhos enquanto Ana não os tinha.
V. 6 “E a sua rival excessivamente a provocava, para a irritar; porque o SENHOR lhe tinha cerrado a madre.”

- Significa que Penina valorizava o “ter” e não o “ser”. E por isso Elcana amava Ana, porque enquanto Penina apenas tinha, Ana era!

- Irritava fazia chacota e zombava porque Ana era estéril.

- Penina era um espinho na vida de Ana.

VI. ANA NÃO MURMURAVA, MAS MANTINHA SUA HUMILDADE

1. Ana uma mulher humilde. Descrita no primeiro capítulo como uma mulher forte, firme, decidida, apesar de toda provocação de Penina, Ana se mostrou humilde. Penina, sua rival, fazia de tudo para que Ana se irasse (1º Sm 1.6), perdesse o controle, mas o que esta fazia era subir à Casa de Deus (1º Sm 1.9,10).

- Uma mulher cristã, espiritual, sempre busca sabedoria para proceder com prudência, como mulher piedosa (Pv 31.30). Ela evita responder aos ataques de outras, mas dirigi-se à pessoa certa, derramando o seu coração diante de Deus (1º Sm 1.12,13).

2. Ana não exigiu nada do seu marido. Não pediu para ele orar junto com ela. Não exigiu dele fé para crer no milagre. Não exigiu que ele repreendesse Penina, mesmo sabendo que ele o faria porque a amava. Não coloque a culpa na fraqueza do marido ou ausência dele, busque ao Senhor você, o marido é santificado pela esposa. 1ª Co 7.14.

3. Ana não respondia Penina, não retrucou, não ofendeu, mas suportou calada. Não dê lugar ao diabo (Ef 4.27). Não desconte seus problemas nos outros, nem nos inimigos (Rm 12.21).

4. Ana estava calada diante das irritações de Penina. Sl 46.10 “Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus; serei exaltado entre os gentios; serei exaltado sobre a terra.”

A Penina na tua vida pode ser:
1. Na família. O marido ou esposa ou filho. O filho problemático (na droga, no roubo, etc.)
3. Na saúde. Enfermidades que assolam tua vida.
4. Financeira.
5. Na vocação do ministério.

VII. ANA ERA FERVOROSA E AGRADECIDA

1. Ana fez um voto. V. 11 “E fez um voto, dizendo: SENHOR dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas à tua serva deres um filho homem, ao SENHOR o darei todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha.

- Ana fez um voto ao Senhor, prometendo devolver o que mais queria, isso é gratidão e generosidade. Se contentou em apenas gerar o menino, humildade! A resposta de Deus foi imediata. Pois o sacerdote a abençoou, no verso 17.

- Ana pediu um filho para Deus. Nesse pedido ela fez um voto, mencionando duas promessas: primeira, se o pedido fosse atendido, ela dedicaria o seu filho como levita para sempre (1º Sm 1.22) – note que o ministério de levita durava até 50 anos (Nm 4.3); segunda, ele seria um nazireu de Deus (1º Sm 1.11) – observe que o nazireado tinha um tempo determinado também (Nm 6.2-5).

- Deus ouviu o pedido de Ana e agiu em seu favor; a expressão “lembrou-se dela” aponta para o socorro divino. Como é maravilhoso entregar tudo a Deus, levar-lhe nossas causas, pois Seu agir é certo! Deus ainda intervém!

2. Ana e sua amargura de alma.
Vs. 14-19: “E disse-lhe Eli: Até quando estarás tu embriagada? Aparta de ti o teu vinho. 15 Porém Ana respondeu: Não, senhor meu, eu sou uma mulher atribulada de espírito; nem vinho nem bebida forte tenho bebido; porém tenho derramado a minha alma perante o SENHOR. 16 Não tenhas, pois, a tua serva por filha de Belial; porquê da multidão dos meus cuidados e do meu desgosto tenho falado até agora. 17 Então respondeu Eli: Vai em paz; e o Deus de Israel te conceda a petição que lhe fizeste. 18 E disse ela: Ache a tua serva graça aos teus olhos. Assim a mulher foi o seu caminho, e comeu, e o seu semblante já não era triste. 19 E levantaram-se de madrugada, e adoraram perante o SENHOR, e voltaram, e chegaram à sua casa, em Ramá, e Elcana conheceu a Ana sua mulher, e o SENHOR se lembrou dela.”

- Toda a situação na qual vivia fez com que sua alma tivesse grande amargura. Aqui, a palavra é a mesma que aparece em Êxodo 15.23 e Rute 1.20. No caso de Ana, pode ser entendida como desapontamento, frustração. No santuário, ela orava ao Senhor apenas com os lábios, o que não era comum para os hebreus. Esse ato incomum fez Eli pensar que ela estivesse embriagada.

- Ana não usou de ignorância com o sacerdote Eli. Mas com reverência, ela explicou sua dor, de modo que o sacerdote lhe respondeu: “Vai em paz, e o Deus de Israel te conceda a tua petição que lhe pediste” (1º Sm 1.17). Assim, aprendemos que as nossas amarguras e ansiedades devem ser colocadas perante o soberano Senhor. Ele sabe como tratar conosco (1ª Pe 5.7).

2.1. Ana era submissa. Ela disse: “ Não, mu Senhor”. Submissa, obediente, temente a Deus. O que significa que não importa o que fazem com você, mas importa muito como você reage. Hb 13.7.

2.2. Ana creu na palavra do sacerdote; ainda que o sacerdote Eli não era um exemplo, pois ninguém é perfeito.

2.3. Ela colocou sua fé em ação. V. 18 “E disse ela: Ache a tua serva graça aos teus olhos. Assim a mulher foi o seu caminho, e comeu, e o seu semblante já não era triste.”

- A prova é que não ficou mais triste, e ainda se levantou de madrugada junto com seu esposo para adorar ao Senhor.

3. O Senhor é fiel naquilo que promete.
V. 19-20 “E levantaram-se de madrugada, e adoraram perante o SENHOR, e voltaram, e chegaram à sua casa, em Ramá, e Elcana conheceu a Ana sua mulher, e o SENHOR se lembrou dela. 20 E sucedeu que, passado algum tempo, Ana concebeu, e deu à luz um filho, ao qual chamou Samuel; porque, dizia ela, o tenho pedido ao SENHOR.”

- Ela era estéril e após orar ao Deus de Israel, teve sua madre aberta para conceber não apenas um, mas seis filhos.

- O apóstolo Paulo é claro ao dizer que a incredulidade do homem não aniquila a fidelidade de Deus, ou seja, Deus é verdadeiro, fiel e imutável, mesmo que o homem não creia n’Ele Deus permanece fiel (Rm 3.3).

- O que Deus prometeu para nossa vida são promessas irredutíveis, promessas que jamais podem ser anuladas, porque a palavra do Senhor Deus, não pode perder-se no tempo, não desgasta; não volta vazia; não fica reprimida; nem oprimida, por vontade de qualquer que seja; pode até passar os céus e terra, mas tudo que Deus diz, fica garantido por toda a eternidade. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão (Mc 13.31).

- O Segredo estar em persistimos de dia e de noite, crendo, que iremos receber; ainda que Deus tenha sido tardio para cumpri-las, mesmo que tudo a nossa volta demonstre sinal desfavorável, é fundamental acreditar que elas serão realizadas; ainda que todos digam que não tem mais jeito, Deus não precisa de ninguém para agir, Deus não trabalha no cronometro humano, Deus age de acordo com a nossa fé, na medida das nossas necessidades e na hora determinada por Ele, para que, de posse da benção, não venhamos nos perder nela, e, o que era para ser benção, torne-se maldição. E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles? (Lc 18.07).

4. Harmonia na família. Elcana consentiu com o voto de sua esposa.
V. 21 E subiu aquele homem Elcana com toda a sua casa, a oferecer ao SENHOR o sacrifício anual e a cumprir o seu voto. 22 Porém Ana não subiu; mas disse a seu marido: Quando o menino for desmamado, então o levarei, para que apareça perante o SENHOR, e lá fique para sempre. 23 E Elcana, seu marido, lhe disse: Faze o que bem te parecer aos teus olhos; fica até que o desmames; então somente confirme o SENHOR a sua palavra. Assim ficou a mulher, e deu leite a seu filho, até que o desmamou.
- Elcana foi profundamente tocado pela consagração de sua esposa e de todo o coração se uniu a ela em seu desejo.

V. 21 “E subiu aquele homem...” Sempre que vamos a casa de Deus estamos subindo porque Deus é Altíssimo, mas quando estamos saindo da casa do Senhor e estamos retornando para nossos lares, então usamos a expressão descendo.

V. 22 Quando o menino for desmamado. De acordo com 2 Macabeus 7.27, as mães hebreias costumavam desmamar seus filhos aos três anos de idade. Como Samuel ficaria para sempre na presença do Senhor, é provável que Ana tenha prolongado o período de desmamar para uma idade mais avançada, de 4 a 6 anos. Bíblia Shedd.

...e lá fique para sempre. Ana dedicou Samuel ao Senhor. Depois que ele foi desmamado, foi levado ao tabernáculo para servir sob a tutela do sacerdote Eli.

- Mesmo quando criança, Samuel recebeu sua própria túnica. Então uma vestimenta normalmente reservada a um sacerdote enquanto ele ministrava diante do Senhor na tenda de reunião em Siló. Pois era onde a arca da aliança era mantida (1ª Sm 2.18; 3.3). Tradicionalmente, os filhos do sacerdote sucederiam o ministério de seu pai. Entretanto os filhos de Eli, Hofni e Finéias, eram iníquos porque eram imorais e mostravam desprezo pela oferta do Senhor (1ª Sm 2.17, 22).

VIII. A DEDICAÇÃO DE SAMUEL

1. O nascimento de Samuel. O versículo 20 diz que, passado algum tempo, Ana concebeu, teve um filho, e o nomeou de Samuel, que pode significar “ouvido de Deus” (do heb. Shemu´á-el) ou “seu nome é poderoso” (do heb. Shemu-´el). Atente para o sufixo el, tanto no caso de Shemu´á-el quanto no de Shemu-´el. A ênfase aqui recai para um nome poderoso, ou seja, ao poder do Eterno, que deve ser adorado para sempre. Isso mostra que Samuel cresceu, fortaleceu-se e confiou no Deus Todo-Poderoso, como indica o seu próprio nome.

2. Ana cumpriu o voto que fez. A partir do versículo 21, nota-se que Elcana, marido de Ana, subiu à casa de Deus para, juntamente com toda a sua casa (com a exceção de Ana, que só subiria após desmamar o menino) apresentar sacrifícios anuais e cumprir o seu voto. Pelo texto da Septuaginta, Elcana cumpriu seus votos e também entregou os dízimos do produto da terra (Dt 12.26,27). Esse procedimento consistia em entregar os dízimos do produto da terra, conforme se esperava que todo levita fizesse (Nm 18.26; Ne 10.38).

- Após ser desmamado, aproximadamente três anos mais tarde, Samuel foi levado por seus pais à Casa de Deus, e entregue ao sacerdote Eli como cumprimento do voto feito por sua mãe. Assim, o casal cumpriu conforme o prometido: “Quando a Deus fizeres algum voto, não tardes em cumpri-lo” (Ec 5.4a).

2.1. Após receber a benção, ela o levou a casa do Senhor como prometeu. Mas também levou mais uma oferta ao Senhor além do menino. Isso é uma mulher mais do que agradecida a Deus.

Vs. 24-28 E, havendo-o desmamado, tomou-o consigo, com três bezerros, e um efa de farinha, e um odre de vinho, e levou-o à casa do SENHOR, em Siló, e era o menino ainda muito criança. 25 E degolaram um bezerro, e trouxeram o menino a Eli. 26 E disse ela: Ah, meu senhor, viva a tua alma, meu senhor; eu sou aquela mulher que aqui esteve contigo, para orar ao SENHOR. 27 Por este menino orava eu; e o SENHOR atendeu à minha petição, que eu lhe tinha feito. 28 Por isso também ao SENHOR eu o entreguei, por todos os dias que viver, pois ao SENHOR foi pedido. E adorou ali ao SENHOR.”

2.2. Para fazer o que prometera (1.11). Ana desistiu daquilo que ela mais queria – seu filho – e o apresentou a Eli para que servisse na casa do Senhor. Ao dedicar seu único filho a Deus, Ana estava dedicando sua vida e seu futuro inteiros a Deus. Porque a vida de Samuel pertencia a Deus, Ana, na verdade, não estava desistindo dele. Na verdade, ela estava o devolvendo a Deus, que é quem havia concedido Samuel a Ana no começo. Estes versos ilustram o tipo de ofertas devemos dar a Deus. [Life Application Study Bible Kingsway].

2.3. Para lá ficar para sempre. “Por isso também ao SENHOR eu o entreguei, por todos os dias que viver...

- Ana quis dizer que Samuel seria nazireu durante toda a vida… Um fragmento do livro de 1ª Samuel encontrado na quarta caverna de Khirbet Qumran, publicado em 1954, declara especificamente que Samuel era nazireu. CBASD, vol. 2, p. 483.

V. 27 Por este menino orava eu; e o SENHOR me concedeu a petição que eu Lhe fizera [Pelo que também o trago como devolvido ao Senhor…].

3. Dedicação de Samuel. Ana lembrou a Eli de que esteve perante a sua presença, orando ao Senhor para que “se lembrasse dela”. Assim, Ana dedicou Samuel a Eli para o serviço no templo, devolvendo-o para o Deus Todo-Poderoso. Era uma dedicação irrevogável.

- Como é bom quando os pais se dedicam as coisas de Deus e, consequentemente, mostram aos seus filhos, na prática, uma vida de devoção sincera. Ao chegarem ao templo, em reverência, oram a Deus; em casa, fazem o culto doméstico; primam por viver o Evangelho de Jesus Cristo. Os filhos que crescem, vendo tal dedicação sincera, naturalmente, são estimulados a temerem a Deus e a amá-lo de todo o coração. Mostremos, portanto, reverência, humildade e honra ao Senhor nosso Deus!

CONCLUSÃO.
Com esta lição, somos estimulados a apresentar a Deus as nossas petições. Uma vez abençoados, voltarmos à sua Casa, conforme o exemplo de Ana, para agradecê-lo pelas orações respondidas. Nesse sentido, nossa vida deve ser um testemunho aberto aos nossos filhos acerca da dedicação, reverência e humildade ao Deus Todo-Poderoso. Ana teve dois privilégios: ter um filho e, além disso, vê-lo ungido por Deus para o ministério. Por intermédio de sua família, Deus pode levantar novos vocacionados.

Pr. Elias Ribas
Dr. Em teologia
Assembleia de Deus Blumenau - SC